A MAGIA E O TRANSE: UMA PROPOSTA PARA A ... - UniverCidade
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CENTRO UNIVERSITÁRIO DA CIDADE<br />
ESCOLA DE COMUNICAÇÂO E ARTES<br />
CURSO DE ARTES DRAMÁTICAS<br />
Projeto Experimental<br />
A <strong>MAGIA</strong> E O <strong>TRANSE</strong>: <strong>UMA</strong> <strong>PROPOSTA</strong> <strong>PARA</strong> A UNICIDADE<br />
DO ATOR<br />
Por BRISA ORENGA CALERI<br />
Orientador<br />
PROF. MS. VITOR MANUEL CARNEIRO LEMOS<br />
Trabalho Apresentado como Projeto Experimental para Conclusão do Curso Superior e<br />
Tecnologia em Artes Dramáticas da Escola de Comunicação e Artes<br />
Do Centro Universitário do Rio de Janeiro Orientador<br />
Professor Mestre Vitor Manuel Carneiro Lemos<br />
Rio de Janeiro<br />
Setembro / 2005
SUMÁRIO<br />
1 – INTRODUÇÃO.................................................................................................... 3<br />
2 – ARTAUD E <strong>MAGIA</strong>............................................................................................ 6<br />
3 – A TÉCNICA DE <strong>MAGIA</strong> PILAR DO MEIO...................................................... 9<br />
3.1 – ELEMENTOS FUNDAMENTAIS <strong>PARA</strong> A EXECUÇÃO DO......................<br />
PILAR DO MEIO<br />
10<br />
3.1.1 – A PALAVRA.................................................................................................. 10<br />
3.1.2 – A RESPIRAÇÃO............................................................................................ 10<br />
3.1.3 – A VISUALIZAÇÃO....................................................................................... 11<br />
3.2 – A PRÁTICA DO PILAR DO MEIO................................................................. 11<br />
4 – O ATOR E O <strong>TRANSE</strong>........................................................................................ 16<br />
5 – RELATÓRIO DE ATIVIDADES........................................................................ 18<br />
6 – CONCLUSÃO...................................................................................................... 21<br />
7 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................. 23<br />
8 – ANEXOS.............................................................................................................. 24<br />
2
1. INTRODUÇÃO<br />
A partir do século XX, o teatro torna-se uma questão, desda criação de uma<br />
metodologia para o trabalho do ator quanto dos encenadores que iniciavam uma nova<br />
forma de ver a arte ocidental. Rastreando esses questionamentos, encontramos a<br />
problematização dos elementos constituintes do espetáculo, sobretudo da figura do ator. E<br />
algumas sobre o trabalho do ator e a construção de um personagem no teatro desta época<br />
tornam-se tema . A busca de uma metodologia de trabalho que oriente o processo criativo<br />
do ator passa a ser a preocupação de alguns nomes que marcam o teatro no último século e<br />
que, em comum, entendem que a unicidade do ator é condição fundamental para se<br />
estabelecer a vida em cena. E se entendermos que atenuar as fronteiras entre vida e arte é<br />
uma entre muitas características do teatro contemporâneo, podemos afirmar seguramente<br />
que é necessário combater a fragmentação ocidental, buscando meios de estabelecer um<br />
diálogo o mais permanente possível entre corpo e mente, para atender certas expectativas<br />
que se lançam sobre o ator que deseja atender a uma certa parcela da produção teatral<br />
contemporânea.<br />
O próprio teatro Oriental apresentando uma nova linguagem física, baseada nos<br />
signos, e não mais nas palavras cria um teatro lógico e discursivo.Servindo de inspiração<br />
para muitos nomes como; Stanislavski, Grotowski, Artaud, Brescht e Eugênio Barba.<br />
Diversas técnicas originalmente concebidas como terapia vêm sendo aplicadas como<br />
ferramenta e treinamento de atores. Nosso interesse nesta pesquisa se encontra justamente<br />
aí. Investigar as possibilidades de uma “ técnica de magia” conhecida como Pilar do<br />
Meio, para estabelecer no ator um estado propício para uma atuação, dentro do recorte<br />
exposto no primeiro parágrafo.Estado este que definiremos como transe,que decorrente<br />
da prática contínua da técnica baseia-se em uma experiência estritamente pessoal .<br />
È possível identificar a ansiedade, a tensão e a insegurança, como obstáculos<br />
presentes ao processo criativo e que interferem definitivamente na fragmentação da<br />
presença do ator em cena, e intensificando-se à medida em que os riscos inerentes à<br />
criação e à atuação também são acentuados. O interesse pelo tema nasceu da busca por<br />
superar esta adversidade que se apresentava constante neste processo de subir no palco.<br />
Inicialmente, entramos em contato com o Zen-budismo, especificamente com a prática do<br />
3
Zazen 1 . A prática da meditação e seus resultados positivos aumentaram o nosso interesse<br />
pelo assunto, aproximando-nos de outras técnicas, até o primeiro contato com o Pilar do<br />
Meio.<br />
O Pilar do Meio é uma técnica de meditação utilizada e difundida pelo psicólogo e<br />
estudioso místico inglês Israel Regardie 2 e sua prática provoca uma determinada alteração<br />
psíquica que leva o praticante a um estado de transe. Segundo o Dicionário Aurélio,<br />
transe é um<br />
“estado de alteração acentuada da consciência, da percepção ou de outras faculdades<br />
mentais, acompanhado de mudança das sensações físicas (...) e que pode ser causado ou<br />
induzido por diversos meios ou fatores como (...) estímulos psicológicos ou<br />
sensoriais.”(AURELIO, )<br />
Uma segunda apresentação deste termo, voltada para criação do ator é apresentada por<br />
Grotowski no seu livro, “Em busca de um Teatro Pobre”:<br />
“Temos de recorrer a uma linguagem metafórica para dizer que o fato decisivo neste<br />
processo é a humildade, uma predisposição espiritual: não para fazer algo, mas para<br />
impedir-se de fazer algo, senão o excesso se torna uma imprudência, em vez de um<br />
sacrifício. Isto significa que o ator deve representar num estado de transe. O transe, como<br />
eu entendo , é a possibilidade de concentrar-se numa forma teatral particular, e pode ser<br />
obtido com um mínimo de boa vontade. “<br />
A prática sucessiva da técnica do Pilar do Meio revelou conseqüências psicofísicas<br />
manifestadas a partir do transe: aumento da sensibilidade, estimulação dos sentidos,<br />
ampliação da atenção, olhar brilhante e expressivo, vitalidade, serenidade e vibração<br />
energética em todo o corpo. Com base nessa experiência, nasceu a questão: seria esse<br />
transe, proporcionado pelo Pilar do Meio, uma forma de se adquirir um estado de atenção<br />
propício ao trabalho do ator? Seria esse transe um estado capaz de reduzir a ansiedade, a<br />
tensão e a insegurança que impede a unicidade do ator em cena, estimulando a<br />
sensibilidade durante o processo de criação, determinando possibilidades para uma<br />
atuação associada a uma experiências real diante do público?<br />
1 O Zazen é uma prática de meditação zen-budista difundida originalmente no Japão no séc. VI. A técnica<br />
consiste em sentar-se imóvel, de pernas cruzadas, com a coluna ereta, olhando fixamente para um ponto.<br />
2 Israel Regardie, nascido na Inglaterra em 1907, foi morar em Washington (EUA) e morreu em 1985, em<br />
Sedona (Arizona, EUA). A técnica do Pilar do Meio era prática integrante dos rituais mágicos da ordem<br />
iniciática inglesa Aurora Dourada e foi divulgada por Regardie, que fora membro da instituição.<br />
4
A unicidade como sendo um estado de presença do corpo , no sentido de integrar<br />
percepções sensoriais , espaciais e relacionais no momento em que se dá a<br />
atuação.Aliando corpo e mente entraremos em contato com efeitos psicofísicos, que fazem<br />
parte da técnica aqui apresentada, que servirão de ferramenta para preparar o ator para<br />
cena.<br />
O estudo sobre o dramaturgo, poeta, ator e encenador Antonin Artaud, criador do<br />
Teatro da Crueldade, revelou grande sintonia com o tema desenvolvido nesta pesquisa,<br />
visto que em sua obra, é recorrente à abordagem de conceitos extraídos da magia e<br />
referências ao transe. Ao descrever em O Teatro e Seu Duplo sua experiência com o<br />
Teatro de Bali e sua estada com os Taraumaras, Artaud apresenta fundamentos espirituais<br />
e técnicos que se comunicam diretamente com este projeto.<br />
Assim, partiremos de sua obra para constituir a fundamentação teórica deste<br />
trabalho. Também farão parte de nossa bibliografia trabalhos voltados para a técnica que<br />
será aqui investigada: o Pilar do Meio. Paralelamente, trabalharemos sobre o poema<br />
“Alienar o Ator” de Antonin Artaud, a partir da técnica, relatando sua interferência em<br />
nosso processo criativo sobretudo no que diz respeito ao transe.<br />
Esta pesquisa poderá ser de grande valia para atores, tanto iniciantes, quanto os<br />
mais experientes, visto que as questões que nos mobilizam tratam de problemas que<br />
cercam todos aqueles que buscam do ator em cena a apresentação de uma experiência<br />
humana. A prática da meditação, aqui apresentada, oferece uma vantagem particular: não<br />
requer iniciação, podendo ser executada por qualquer um que esteja interessado em seus<br />
benefícios, sejam pessoais ou profissionais, como pretendemos mostrar neste projeto<br />
experimental.<br />
5
2. ARTAUD E A <strong>MAGIA</strong><br />
A tradição ocidental tende a ignorar alguns aspectos da subjetividade e identifica a<br />
razão como a única via para o conhecimento. No entanto, o início do século XX, ficou<br />
marcado por uma reação de artistas e pensadores a esta tendência racionalista ocidental.<br />
Um deles é Antonin Artaud, que defenderá um teatro cuja linguagem alcance o que as<br />
palavras não podem exprimir.<br />
Antonin Marie Joseph Artaud encontra-se em todas as encruzilhadas do<br />
pensamento contemporâneo: teatro, cinema, música, dança, pintura, metafísica, poesia e<br />
psiquiatria. Nasceu em 4 de setembro de 1896, em Marselha (França). Sua primeira<br />
passagem por um sanatório, em sua cidade, por crise de depressão, foi em 1915. Em 4 de<br />
março de 1948, foi encontrado morto em seu quarto no Hospício de Ivry, num bairro de<br />
Paris. A sua morte teria sido resultada da ação de um câncer no ânus ou da ingestão<br />
desmedida de entorpecentes. Em particular, do cloral: droga sintética introduzida no<br />
6
século passado, precursora dos barbitúricos que reproduziam os efeitos do ópio e da<br />
morfina.<br />
Artaud procurou enfatizar em seu teatro a linguagem do inconsciente, originária do<br />
pensamento não lógico, não verbal, simbólico, metafórico, que se caracteriza pela<br />
fragmentação, distorção, justaposição e descontextualização.Seu teatro não era<br />
necessariamente, um teatro contra a palavra mas queria dar as palavras mais ou menos a<br />
importância que elas representavam no sonho. Enquanto a tendência do consciente é a de<br />
fundir, o inconsciente, por estar mais perto da totalidade, reúne opostos, expressa<br />
ambivalências e contradições. E para Artaud “O teatro quer dizer tudo aquilo que está no<br />
ar do palco, que tem uma densidade no espaço” (...).<br />
O ator neste projeto é a ponte entre o consciente e o inconsciente, entre o físico e o<br />
metafísico, entre o homem e o Cosmo. Como no teatro “artaudiano” ,no qual o ator ao<br />
entrar em contato com uma força,que ultrapasse as suas indo para além dele é definida,<br />
em alguns de seus escritos, como Vida Superior, e em outros, como sendo o estado de<br />
transe. Alain Virmaux ,em seu livro Artaud e o Teatro, apresenta o transe “artaudiano”<br />
como:<br />
(...) o transe religioso das populações primitivas se casa perfeitamente bem com os<br />
objetivos assinalados ao teatro da crueldade. Entrar em transe através de métodos<br />
calculados: essa visão se opõe à idéia corrente segundo a qual o transe é uma histeria<br />
descontrolada, perturbação cega de um organismo que não se governa mais. O estudo das<br />
sociedades primitivas provou que as coisas não se passavam assim e confirmou a intuição<br />
de Artaud (...) Trata-se na verdade de mudar de pele , de se deixar habitar pelas forças<br />
mágicas, como no transe dos ritos de possessão. Ao que o ator de hoje , amedrontado , se<br />
recusa. Todo o esforço de Artaud visa derrubar essa barreira do medo. É preciso portanto<br />
admitir que , mesmo rejeitando às vezes a palavra, o transe está no âmago de sua visão e<br />
de sua prática de teatro.(...)O transe não é negado, mas ele não se apodera do ator, agora<br />
dotado de um estatuto rigoroso e de um método científico. Ele fará nascer o transe, mas<br />
não se imergirá nele: saber de antemão os pontos do corpo que é preciso tocar é induzir o<br />
espectador em transes mágicos.”.(ARTAUD apud VIRMAUX, 1970, p.47)<br />
Para Artaud, o ator recorrendo a pontos do corpo identificados e usados pela<br />
acupuntura, poderia ter acesso às suas emoções mais escondidas e colocá-las em cena.<br />
Com total consciência dessa “ferramenta criativa”, que se encontra mapeada por todo o<br />
corpo, o ator poderia acessar canais emocionais, estabelecendo comunicação com o ponto<br />
correspondente a cada emoção específica 3 . O conhecimento pleno desses pontos levaria o<br />
3 “Importante é tomar consciência dessas localizações do pensamento afetivo. Um meio de<br />
reconhecimento é o esforço; e os mesmos pontos sobre os quais incide o esforço físico são aqueles sobre os<br />
quais incide a emanação do pensamento afetivo. Os mesmos servem de trampolim para a emanação de um<br />
sentimento.” (ARTAUD, op. cit., p.168)<br />
7
ator a um domínio completo sobre seu corpo e as maneiras de atingir e conduzir o<br />
espectador.<br />
No ponto de vista da forma, Artaud, acentua a necessidade que tem o teatro de<br />
beber nas fontes de uma poesia eternamente apaixonante, e sensível para as porções mais<br />
afastadas e distraídas do público, através do retorno aos velhos “Mitos primitivos”.<br />
Defende que a encenação e não o texto se encarregue de materializar e especialmente<br />
atualizar velhos conflitos, o que significa que esses temas serão transportados diretamente<br />
para o teatro e materializados em movimentos, expressões e gestos antes de serem<br />
veiculados pelas palavras.<br />
“È preciso que se entenda que , nessa quantidade de movimentos e de imagens num tempo<br />
determinado, introduzimos tanto o silêncio e o ritmo quanto uma certa vibração e uma<br />
certa agitação material, composta por objetos e gestos realmente feitos e realmente<br />
utilizados . E pode-se dizer que o espírito dos mais antigos hieróglifos presidirá a criação<br />
dessa linguagem teatral pura”. (ARTAUD,1964,p.157)<br />
Essa linguagem procura estabelecer uma profunda identificação do objeto “<br />
teatro” com muitas possibilidades , manifestações formais e mais amplas; fazendo surgir a<br />
idéia de uma, “ poesia no espaço” que muitas vezes é confundida com bruxaria.<br />
Da mesma forma que a palavra magia é vista pejorativamente, carregada de um<br />
referencia atreladas a fábula infantis ou misticismo . Só que quando associada á um<br />
método com fundamentos sólidos, previamente definidos conhecido como Pilar do Meio<br />
esta palavra parece ganhar sentidos tanto práticos quanto teóricos. A prática vai de<br />
encontro com os Mitos que são apresentados no teatro artaudiano, por ser iniciado por<br />
um Ritial. No decorrer da prática constante desse ritual mágico, desse método, pode-se<br />
atingir um outro estado de consciência . A ruptura existente entre a consciência e o que<br />
está além dela é o “estado de transe”, e até onde se pode chegar com esse estado<br />
transposto para o palco , será a busca.<br />
“Nos graus mais avançados do transe, a linha da consciência começa e permanece sem<br />
ruptura e, em alguns casos, se desenvolve uma curiosa consciência dual. Nessa<br />
consciência dual, o sensitivo fica mais ou menos consciente do ambiente físico que o<br />
envolve, ao mesmo tempo em que está plenamente consciente e ativo nos planos<br />
interiores”. (BUTLER, op. cit.,1998, p. 216)<br />
8
Já a tradição inspirada na obra de Stanislávski toma a questão da consciência como<br />
a parte objetiva do trabalho do ator, julgando que dessa forma estados internos podem se<br />
expressar.<br />
“ Consciência parece ser quase sinônimo de razão. A questão da transição entre criação e<br />
representação é , pela primeira vez , tratada segundo a perspectiva da ação física, ou seja ,<br />
um critério objetivo para tratar a subjetividade.”( ICLE, 2006, p. 8)<br />
Artaiud fala de uma subjetividade nascida através de uma “ forças pura” produzida pelo<br />
inconsciente , também vivenciada através da prática aqui apresentada.<br />
(...) é aqui que o teatro , longe de copiar a vida, põe-se em comunicação, se puder, com as<br />
forças puras . E quer se aceite isso ou não, há um modo de falar que chama de forças tudo<br />
aquilo que provoca o nascimento, no inconsciente , de imagens enérgicas e , no exterior,<br />
do crime gratuito .( ARTAUD, op.cit., p.106)<br />
O estado descrito como unicidade, que estaremos apresentando nessa pesquisa, carrega o<br />
mesmo sentido apresentado por um dos alunos de Decroux, no qual ele relata, o mestre<br />
queria (...) era um estado no qual o ator estudante estivesse relaxado,porém alerta ,<br />
extremamente presente no momento e suspenso sobre o fio da navalha que separa o<br />
movimento da imobilidade”. Dando continuidade à essa idéia Leabhart ( o estudante)<br />
concluiu que ; “enquanto de certa forma o ator se deixa levar , ele está também sob<br />
controle.” No qual Decroux define como “ uma consciência duplicada que descobrimos<br />
ser característica da experiência de possessão”.<br />
9
3. A TÉCNICA DE <strong>MAGIA</strong> PILAR DO MEIO<br />
A Ordem Hermética da Aurora Dourada, conhecida também como Golden Dawn,<br />
foi uma das ordens precursoras do renascimento do paganismo 4 no fim do século XIX e<br />
início do XX, influenciando muitos dos sistemas de estudo de ocultismo e magia atuais.<br />
Foi fundada em 1897 por William Robert Woodman (1828-1891), médico e maçon, por W.<br />
W. Westcott (1848-1925), coronel britânico, médico legista e maçon, e por S. L.<br />
MacGregor Mathers (1854-1928), estudioso de ocultismo. Teve como membros Oscar<br />
Wilde, Aleister Crowley, Gerald Gardner, entre outros. Surgida na Inglaterra, ainda pode<br />
ser encontrada através de novas linhagens, mas não mais sob a estrutura original.<br />
Suas práticas ritualísticas foram baseadas em uma coleção de documentos<br />
originais, manuscritos em inglês, que eram passados dos mestres para os discípulos. Eram<br />
estudos que abrangiam a Cabala Hermética, a Astrologia, o Tarô, a Geomancia e a<br />
Alquimia. Mathers e Dr. Westcott desenvolveram um material possível de ser posto em<br />
prática e passado adiante com base nos esboços ritualísticos contidos nesses manuscritos<br />
cifrados.<br />
4 Significado da palavra “paganismo” segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa: 1. o conjunto<br />
dos não batizados; etnicismo, gentilidade, gentilismo 2. religião em que se cultuam muitos deuses;<br />
etnicismo, gentilidade, gentilismo, politeísmo.<br />
10
Pertencia a essa Ordem o inglês Israel Regardie, que difundiu na Inglaterra a<br />
técnica conhecida como Pilar do Meio, criada dentro dessa escola de magia. Consiste em<br />
um estudo prático e ritualístico, que provoca uma alteração psíquica.<br />
“ Resumidamente, a teoria mágica por trás do exercício do Pilar do Meio é que, pela ação<br />
apropriada sobre o mecanismo psíquico individual da personalidade humana, alguns de<br />
seus aspectos podem ser despertados para a atividade, e isso por sua vez fará com que a<br />
energia externa objetiva possa ser puxada para dentro da “esfera de sensações (...) da<br />
personalidade, dessa maneira carregando-a com vitalidade.” (BUTLER, op.cit., p.337)<br />
Esta vitalidade, ao longo da prática, é acumulada, gerando ao mesmo tempo um<br />
estado de serenidade mental bem como uma presença e uma entrega corporal constantes.<br />
A técnica trata de um treinamento da mente / corpo pelo qual poderemos ter consciência<br />
de correntes e de forças cuja sensação é quase elétrica. O efeito será a integração do corpo<br />
e da mente.<br />
3.1. Elementos fundamentais para a execução do pilar do meio<br />
Para se alcançar o estado de transe, na técnica aqui sugerida, faremos uso de três<br />
ferramentas fundamentais: a palavra, a respiração e a visualização . Vamos a elas:<br />
3.1.1. A palavra<br />
A palavra possui um valor muito significativo e de extrema importância durante<br />
toda a técnica. Elas produzem a sonoridade de um mantra .O mantra , entoado em várias<br />
linhas meditativas, é formado por uma repetição contínua de palavras que possuem uma<br />
capacidade de tranqüilizar a mente, liberando níveis psíquicos que ajudam a manter um<br />
bem estar emocional , mental e corporal. As palavras em hebraico utilizadas na técnica do<br />
Pilar do Meio visam levar o praticante a acessar o seu inconsciente. O significado de cada<br />
palavra não constitui o ponto principal, mas a intensidade com que é pronunciada<br />
repetidamente, acompanhada de vibração ritmada e da imaginação.<br />
3.1.2. A respiração<br />
A respiração é de suma importância na técnica do Pilar do Meio, pois é o ritmo da<br />
inspiração e da expiração que será responsável por ativar a imaginação durante toda a<br />
11
prática. Seria impossível subestimar a importância e a eficácia desse processo, muito<br />
utilizado por Reich 5 e pela Bioenergética 6 , por exemplo, para relaxar a musculatura<br />
tencionada, o que possibilita ao praticante uma maior unicidade entre corpo e mente. O<br />
mesmo se verifica com a técnica do Pilar do Meio.<br />
3.1.3. A visualização<br />
O uso da faculdade imaginativa de forma voluntária e consciente é também um<br />
elemento essencial na prática mágica. De forma geral, o uso do pensamento consciente<br />
representa uma faculdade central a ser desenvolvida nos sistemas de magia, quando se<br />
busca a manifestação de resultados pessoais.<br />
A visualização na prática do Pilar do Meio, constitui um processo no qual, através<br />
do uso da imaginação persistente e focada sobre imagens desenhadas ao redor do corpo, na<br />
forma de estrelas, são responsáveis por ligar os aspectos subjetivo ao objetivo, ou seja ,<br />
com o desenho acessamos o inconsciente. A visualização, apresentando-se como uma<br />
forma de pensamento consciente, opõe-se ao pensamento mecânico, conforme descrito no<br />
trecho a seguir:<br />
O pensamento consciente, em contraposição ao pensamento mecânico, é uma força<br />
extraordinária da qual dispomos quando o cérebro se relaxa ou deixa de estar<br />
tencionado. De certa forma, desta maneira, se pode constatar que o pensamento mecânico<br />
é aquele que comumente ocupa nossa mente sem que sequer tenhamos consciência de que<br />
estamos pensando. Acreditamos que pensamos, mas talvez fosse mais apropriado<br />
dizermos “somos pensados”. É como se a nossa mente tivesse absoluta independência de<br />
nossa vontade. (SUÁREZ, 2004, p. 21)<br />
A visualização é uma ferramenta utilizada nas práticas de meditação, cujo objetivo<br />
é esvaziar a mente dos pensamentos mecânicos (cotidianos), e abrir caminhos para<br />
despertar pensamentos conscientes produzidos por nossa vontade.<br />
3.2. A PRÁTICA DO PILAR DO MEIO<br />
5 Wilhelm Reich (1897-1957) foi um médico e cientista natural que, por quase quarenta anos, desenvolveu<br />
uma ampla pesquisa sobre os processos energéticos primordiais, vitais.<br />
6 A bionergética é uma técnica terapêutica que ajuda o indivíduo a reencontrar-se com o seu corpo, e a tirar o<br />
mais alto grau de proveito possível da vida que há nele. Ela é um estudo para a auto-descoberta. (LOWEN,<br />
1982, capa)<br />
12
A respiração, o som vibrante de palavras em hebraico e a visualização voluntária<br />
de símbolos, correspondem ao aspecto objetivo da prática do Pilar do Meio. Entretanto,<br />
existe o aspecto subjetivo, uma vez que nesse processo o rito é uma exteriorização, em<br />
forma simbólica, dos níveis emocional, mental e espiritual do praticante. Precisa-se ter em<br />
mente a natureza dual desse rito mágico, se desejarmos alcançar a totalidade do benefício<br />
do trabalho. O principal nesse processo será permitir a mente trafegar por esses símbolos.<br />
C. Jung já demonstrou a fundamental importância dos símbolos. Leia-se a definição que<br />
ele oferece a seguir:<br />
“O símbolo é uma forma extremamente complexa. Nela se reúnem opostos numa síntese<br />
que vai além das capacidades de compreensão disponíveis no presente e que ainda não<br />
pode ser formulada dentro de conceitos. Inconsciente e consciente aproximam-se. Assim, o<br />
símbolo não é racional, porém as duas coisas ao mesmo tempo. (...) Os símbolos têm vida.<br />
Atuam. Alcançam dimensões que o conhecimento racional não pode atingir. Transmitem<br />
intuições altamente estimulantes, prenunciadoras de fenômenos ainda desconhecidos. (...)<br />
O símbolo é uma linguagem universal infinitamente rica, capaz de exprimir por meio de<br />
imagens muitas coisas que transcendem as problemáticas específicas dos indivíduos”.<br />
(JUNG,1977, p.72)<br />
A técnica do Pilar do Meio deve ser precedida pelo Ritual de Banimento do<br />
Pentagrama Menor, que é a técnica de operação mágica conhecida como “a preparação do<br />
recinto”. No Ritual do Banimento, temos antes de tudo o que é conhecido como Cruz<br />
Cabalística. Ela é feita da seguinte forma: toca-se a fronte com a mão direita e diz-se<br />
Atah; baixa-se a mão e, enquanto estiver tocando o peito, diz-se a Malkuh; toca-se o<br />
ombro direito, dizendo-se Vê-Geburah. Traz-se a mão transversalmente ao corpo e toca-se<br />
o ombro esquerdo, dizendo-se Vê-Gedulah; unem-se as mãos no peito e diz-se Le Olahm;<br />
e, no final, I A O. Esse ritual é usado como meio de determinar e purificar a área na qual o<br />
trabalho de magia deverá ser feito.<br />
Enquanto se executam os gestos, o praticante deve visualizar claramente a mão<br />
como se estivesse traçando uma linha de luz branca desde o alto da cabeça, descendo ao<br />
peito, e dali até os pés. Deve-se visualizar também uma linha de luz desde o ombro direito<br />
até o esquerdo, enquanto se diz Ve-gvurah, Ve-gdulah, formando assim, uma cruz. Além<br />
disso, a pronúncia das palavras deve ser de longa duração e vigorosa, procurando-se sentir<br />
que o som se espalha e vibra por todo o corpo.<br />
Quando a cruz tiver sido desenhada no espaço, da maneira acima descrita,<br />
começaremos a parte seguinte do trabalho. Ainda virados para o Leste, como fizemos<br />
quando começamos a primeira cruz, erguemos a mão direita de um ponto do nosso lado<br />
esquerdo a meio caminho entre o quadril e o joelho. Levamos o braço direito até o ponto<br />
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acima da cabeça e novamente o trazemos para o ponto correspondente ao nosso lado<br />
direito. Pode-se ver que descrevemos um V invertido.<br />
A seguir, movemos a mão direita para um ponto logo acima do ombro esquerdo,<br />
horizontalmente até chegar ao ombro direito. Como se desenhássemos uma estrela<br />
brilhante na frente de nosso corpo. Novamente, cada movimento da mão tem que ser<br />
visualizado como se emitisse uma linha branca brilhante, de forma que, ao completar o<br />
movimento, reluza no ar, diante de nós (mentalmente), um pentagrama de luz branca. Este<br />
pentagrama agora tem que ser carregado com energia e isto é feito movendo-se<br />
rapidamente a mão para o meio da figura como que num golpe, ao mesmo tempo vibrando<br />
o nome Yod-Heh-Va-He. Virando-nos para o Sul, com a mão estendida, traçando uma<br />
linha de luz, novamente construímos um pentagrama de luz, desta vez entoando a palavra<br />
Ah-Doh-Nai. Viramo-nos para o Oeste, novamente o pentagrama é traçado e o nome Eh-<br />
He-Yeh é vibrado. Direcionamo-nos para o Norte, entoando Ah-Gla. Novamente<br />
retornamos para o Leste, onde ficamos com os braços estendidos na forma de cruz.<br />
Assim, encarando o Leste, dizemos “diante de mim, Rafael” e visualizamos uma<br />
forte luz adiante. A seguir dizemos “atrás de mim, Gabriel”. Depois, falamos “em minha<br />
mão direita, Miguel” e, finalmente, “em minha mão esquerda, Ariel”. Concluímos com as<br />
palavras “à minha volta, os pentagramas e, sobre mim, brilha a estrela de seis pontas”.<br />
Nesse momento, inicia-se o Pilar do Meio. É necessário postar-se de costas para o<br />
diagrama da Árvore da Vida. O pilar direito estará, então, na mão esquerda e o pilar da<br />
esquerda, na direita. O pilar médio, compreendendo as sefiras Kether, Daath, Tifereth,<br />
Yesod e Malkuth, estará alinhado com a coluna e os pés. Deve-se visualizar, pairando<br />
sobre a cabeça, uma esfera de luz branca brilhante e imaginar que a força cósmica está no<br />
interior dela. Entoar repetidamente o nome Eh-He-Yeh, até sentir que a atenção está<br />
totalmente voltada para essa região superior da cabeça. Visualizar, depois, um feixe<br />
brilhante descendo da esfera até a nuca, onde começará a brilhar uma nova esfera<br />
luminosa. Nesse ponto o nome é Yod-Heh-Va-Heh-Eh-loh-him. Da mesma forma, a<br />
atenção e a entoação da palavra devem persistir nesse ponto durante o tempo necessário.<br />
Esse mesmo processo vai se repetindo, esfera por esfera, ao longo do corpo, até<br />
chegar na direção dos pés. O raio de luz deve ser visualizado descendo do centro da nuca e<br />
atingindo depois o centro de Tifereth, localizado na região do coração, ou seja, um pouco<br />
acima do plexo solar. Nesse ponto o nome é Yod-Heh-Va-Heh-Aloah-Ve-Daath. Depois, o<br />
raio de luz desce para o centro Yesod, localizado na altura da região pélvica, e o nome<br />
14
Cha-Dai-El-Kai é entoado. Por fim, o raio desce até os pés, onde termina dentro de<br />
Malkuth. O nome pronunciado nesse momento é Adonai-Há-Aretz.<br />
Tendo completado o percurso, deve-se, em seguida, passar para uma nova etapa do<br />
processo. Visualiza-se um percurso de luz branca brilhante que sai da lateral do pé direito<br />
e percorre toda a lateral do corpo, passando pelo topo da cabeça até chegar ao pé esquerdo.<br />
Esse procedimento se repete por seis vezes. Depois se visualiza o mesmo movimento<br />
circular, mas dessa vez subindo dos pés pelas costas, chegando ao topo da cabeça e<br />
retornando aos pés pela parte anterior do corpo, repetindo-se esse percurso visualizado por<br />
seis vezes como na etapa anterior. Importante observar que o percurso da luz visualizada<br />
deve ser calmamente acompanhado do ritmo respiratório, colocando corpo, respiração e<br />
mente no mesmo ritmo.<br />
A seguir visualiza-se um raio de luz branca brilhante que sobe até o topo da cabeça<br />
e desce envolvendo o corpo continuamente. Por último, visualiza-se um raio de luz branca<br />
que, como uma serpente, passa do pé até o topo da cabeça, fazendo um movimento<br />
helicoidal, que se repete também pelo mesmo tempo dos anteriores. Para finalizar<br />
totalmente o processo, novamente é evocada a palavra “Yod-Heh-Va-Heh-Aloah-Ve-<br />
Daath”, que será pronunciada com um som vibrante, no momento da expiração, até acabar<br />
totalmente o ar. Esse processo se repete até o praticante atingir o estado da exaustão.<br />
No final da técnica, o corpo e a mente estarão nitidamente modificados em relação<br />
ao estado inicial da prática. Esse trabalho deve ser feito rigorosamente durante pelo menos<br />
um mês para se conquistar esse estado de consciência alterada, transe, com uma maior<br />
facilidade e domínio para se apresentar na cena. Como comentado anteriormente,<br />
realmente qualquer pessoa pode praticar porém algumas terão mais facilidade que outras<br />
durante o processo. Caso a pessoa já faça algum trabalho de meditação, ou continua<br />
fazendo, talvez sinta mais facilidade que alquem que nunca praticou . O processo de<br />
entrar em contato com a respiração é o primeiro passo, e por isso qualquer um pode<br />
praticar , basta apresentar uma vontade e uma persistência.<br />
Ao realizarmos a técnica do Pilar do Meio (durante esse período descrito<br />
anteriormente), observamos alguns aspectos que serão de extrema importância mencionar,<br />
para entendermos melhor seus efeitos, na apresentação dramatizada do poema de Artaud.<br />
A técnica de magia Pilar do Meio, como já apontado anteriormente, faz com que o corpo e<br />
a mente atinjam um outro nível de consciência. Ao provocar uma descarga energética<br />
constante e sem interrupções por todo o corpo, a mente vislumbra um espaço de completa<br />
15
totalidade e passa a receber continuamente imagens de luzes brancas que se movimentam<br />
ao redor do corpo.<br />
Ao iniciarmos o processo da técnica, sentimos uma grande dificuldade de nos<br />
adequarmos ao som das palavras pronunciadas em hebraico. O som delas, no início, não<br />
tinha força alguma, muito menos um significado próprio. Eram pronunciadas de forma<br />
mecânica e sem intenção nenhuma. Soavam de maneira estranha aos nossos ouvidos e,<br />
inconscientemente, criávamos algumas resistências em relação aos seus fonemas e<br />
significados grandiosos. Esse processo foi analisado como sendo natural, do mesmo modo<br />
que qualquer tipo de aprendizado e tentamos não nos deixar contaminar pelas primeiras<br />
dificuldades.<br />
Depois de termos passado pela primeira etapa e sentido essas dificuldades com o<br />
som, na segunda etapa pareceu-nos que as palavras tinham adquirido um ritmo próprio.<br />
Observamos que essa mudança decorreu da repetição constante e do fato de nossa mente<br />
ter se acostumado com aquela pronúncia. As palavras, como eram pronunciadas<br />
repetidamente passavam, depois de um tempo. Nessa mesma etapa, as vozes pareciam sair<br />
das cinco esferas, pois o som era direcionado e ganhava uma forma que acabava não se<br />
limitando ao espaço da garganta.<br />
Na última fase, quando imaginávamos feixes de luzes percorrendo o corpo,<br />
observamos que ele ganhava movimentos próprios e involuntários, que acompanhavam as<br />
imagens e aumentavam com o tempo, gerando um desequilíbrio e tirando o corpo do eixo.<br />
As imagens e palavras ganhavam força ao longo da prática e o corpo passava por cinco<br />
momentos muito diferentes uns dos outros. No início, permanecia estático; depois adquiria<br />
uma leveza; com o tempo, alguns tremores e formigamentos nas mãos e nos pés, um<br />
desequilíbrio e, por último, um retorno ao eixo.<br />
Todas essas características são descritas por Israel Regardie como conseqüências<br />
naturais de um processo mágico e profundo, pois tanto o corpo quanto a mente estão<br />
imersos num outro nível de consciência, em um processo psicofísico. Com isso, a energia<br />
não só limpa a mente, como percorre o corpo provocando espasmos, como se este<br />
estivesse sendo vestido com uma nova identidade.<br />
A técnica de magia Pilar do Meio, como já apontado anteriormente, faz com que o<br />
corpo e a mente atinjam um outro nível de consciência. Ao provocar uma descarga<br />
energética constante e sem interrupções por todo o corpo, a mente vislumbra um espaço de<br />
completa totalidade e passa a receber continuamente imagens de luzes brancas que se<br />
movimentam ao redor do corpo.<br />
16
4. O ATOR E O <strong>TRANSE</strong><br />
O estado que se vivencia com a técnica de magia Pilar do Meio consiste num<br />
transe. Buscaremos um caminho que viabilize esse mesmo transe em cena, ao aliarmos ao<br />
poema escolhido para a experiência o uso das ferramentas exploradas na prática do Pilar<br />
do Meio.<br />
Como temos definido o transe como um estado que também se encontra além das<br />
palavras e expressa um sentido subjetivo que, neste trabalho, será usado no momento da<br />
atuação. Essa subjetividade pode estar aliada à fala, mas esta não vai ser o elemento<br />
principal e sim, uma ponte para expressar a sutileza, a presença e estabelecer o ritmo da<br />
cena. O ritmo será estabelecido através da repetição de algumas palavras do poema de<br />
Aratud, que serão apresentadas como um mantra, em alguns momentos, emitindo a mesma<br />
força apresentada na técnica já dita, em outros momentos, seguirá seu ritmo natural.<br />
A integração entre corpo e mente será um instrumento para o ator na sua atuação.<br />
Como apontamos na introdução, o ator, antes de entrar em cena, muitas vezes se depara<br />
com um estado de nervosismo, insegurança e ansiedade que, na maioria das vezes,<br />
atrapalha seu processo criativo. A utilização da técnica do Pilar do Meio poderá ser útil na<br />
medida em que propiciará ao ator liberar forças do seu inconsciente, no momento anterior<br />
ao início da cena, ativando assim o estado de transe consciente, que será utilizado para seu<br />
trabalho interpretativo. O uso dirigido de semelhante força é capaz de aliar o corpo e a<br />
mente para uma atividade conjunta, visando a exercer a vontade individual em prol de<br />
resultados práticos e objetivos.<br />
17
Falaremos sobre Artaud, daremos vida a algumas de suas palavras, mas não nos<br />
comprometeremos com a clareza dos seus significados e sim, com a pluralidade de suas<br />
possibilidades. O próprio Artaud nunca pareceu se preocupar com o fato de suas palavras<br />
serem compreendidas ou não, mas desejava que o espírito delas estivesse vivo. A<br />
compreensão das palavras não será o elemento determinante na cena, mas o estado de<br />
transe que dela podemos estabelecer com as demais ferramentas.<br />
O corpo, durante a prática, apresenta alguns movimentos involuntários.Esses<br />
movimentos apresentados no decorrer da prática serão utilizados na atuação. São esses<br />
movimentos que provocam um aumento da sensibilidade , estimulação dos sentidos e uma<br />
maior vitalidade corporal. Esses movimentos, apresentados no decorrer da atuação,<br />
remeterão o transe sugerido, no qual alguns movimentos involuntários ganham forma.<br />
O pensamento mecânico no qual nossa mente parece se aprisionar como única<br />
maneira de se expressar dentro de nossa mente, será tranqüilizado ao longo da prática do<br />
Pilar do Meio. Isso provocará um maior controle da mente gerando pensamentos<br />
conscientes e controlados. São esses pensamentos que nos possibilitarão ter domínio e<br />
conduzir o estado de transe no momento da cena.<br />
Estabeleceremos um diálogo entre a técnica de magia a que já nos referimos<br />
anteriormente, e da concepções de teatro de Artaud, fundamentados nas semelhanças entre<br />
ambas. Com essa aproximação, pretendemos encontrar meios de transpor, para a atuação ,<br />
o estado de transe, presente tanto na obra do referido dramaturgo quanto na mencionada<br />
técnica.<br />
18
5 . RELATÓRIO DE ATIVIDADES<br />
Executamos essa prática de magia durante dez meses e, com base nela, observamos<br />
a possibilidade de introduzir o texto de Artaud no final, a fim de testarmos seus efeitos<br />
sobre a representação. No início do trabalho, o texto foi lido e já apresentou algumas<br />
diferenças visíveis e significativas, enriquecendo nossa pesquisa.<br />
Conforme abordamos anteriormente, a experiência prática da técnica do Pilar do<br />
Meio, leva a resultados bastante concretos. Entre eles: aumento da sensibilidade,<br />
estimulação dos sentidos, ampliação da atenção, olhar brilhante e expressivo, vitalidade,<br />
serenidade e sensação de vibração energética em todo o corpo.<br />
Pode-se perceber que, pelo emprego constante da visualização dinâmica de luzes,<br />
da respiração ritmada e do emprego da palavra vibrada, o praticante é conduzido a um<br />
nível de percepção diferenciada e mais apurada. No início da prática, é comum observar a<br />
mente inquieta, dispersa e sobrecarregada.<br />
Descreveremos a seguir o que ocorreu conosco. Deparamo-nos com um primeiro<br />
desafio e julgamos que seria fundamental investigar essa nova experiência. Sentimos que,<br />
sem o primeiro passo, que seria ativar a imaginação, o trabalho não surtiria o efeito<br />
esperado. Passamos pela dificuldade de concentrar nosso pensamento exclusivamente nas<br />
imagens desenhadas pelo nosso corpo, na parte ritualística.<br />
Depois de um tempo, observamos o trajeto da respiração e vimos que a inspiração<br />
carregava a mente com um acúmulo de ar e com a expiração as imagens lentamente<br />
ganhavam forma. Ao carregar a mente, o ar acumulado “varria” os pensamentos<br />
19
involuntários e um espaço vazio surgia. Neste espaço “em branco”, as palavras<br />
acompanhadas de uma imagem correspondente ocupavam, gradativamente, aquele espaço.<br />
As imagens, na sua maioria, eram feixes de luz que, em cada etapa, adquiriam um<br />
percurso definido. As luzes ganhavam o movimento e o ritmo da respiração. As luzes,<br />
inicialmente, apareciam sempre na cor branca e depois foram ganhando as cores azulada<br />
(na primeira etapa) e dourada (nas outras). A respiração era direcionada para os pontos de<br />
tensão que apareciam no corpo, com isso, relaxando toda a musculatura. O corpo ganhava<br />
uma leveza e parecia “se alargar pelo espaço”.<br />
As esferas luminosas em movimento, localizadas nos centros da Árvore da Vida,<br />
no início não apareciam, não tinha forma. Só era possível conduzir a atenção para as<br />
regiões do corpo em que elas viriam a se localizar com o decorrer da prática. Nesse caso,<br />
o que mais contribuiu para as esferas luminosas ganharem vida foi a intensidade e a<br />
repetição das palavras. Como cada centro possui uma palavra correspondente, o tamanho e<br />
a intensidade de cada esfera, localizadas nos centos, ganhavam características próprias.<br />
Isso só foi notado após alguns meses de prática contínua.<br />
A partir daí o corpo passou a acompanhar as imagens, com movimentos<br />
involuntários repetitivos. Um tremor, surgido de início na região pélvica e posteriormente<br />
nas outras sefiras (na nomenclatura da técnica, são os cinco centros energéticos espalhados<br />
pelo corpo), acabava gerando um desequilíbrio. A mente era conduzida pelas imagens e<br />
pelo som das palavras.<br />
A prática fez com que o corpo e a mente, de forma suave, respondessem<br />
simultaneamente aos comandos da respiração e das imagens. Pareciam antecipar a<br />
próxima etapa: ora o corpo conduzia o processo, ora a mente assumia o controle.<br />
No final, o corpo, a mente, o som e as imagens, pareciam ser uma coisa só como se<br />
uns dependessem inteiramente dos outros. Observamos que a energia em forma de luz que<br />
percorria o corpo durante a prática, só existia em conseqüência dessa interação. Os<br />
símbolos ritualísticos do início pareciam ter um sentido concreto, como se realmente o<br />
espaço tivesse sido preparado para dar início àquela energia que, no decorrer da prática,<br />
despertava o inconsciente e no final, ao abrirmos os olhos, trazia de volta a consciência e a<br />
atenção para o estado presente.<br />
Para a apresentação final deste trabalho, tal técnica começou a ser praticada com<br />
uma finalidade: a encenação a partir de um poema de Artaud. Poderia ser um manifesto do<br />
ator e, se possível, deveria abordar o transe. Queríamos encontrar primeiramente uma carta<br />
na qual ele tratasse desse assunto. Depois de muita procura, chegamos à conclusão de que<br />
20
o caminho mais adequado não seria esse, pelo fato de que, na maioria das cartas, ele<br />
tratava de temas por demais específicos, desenvolvidos em função do interesse dele e dos<br />
destinatários. Não teria validade, portanto, para a finalidade de nosso trabalho.<br />
Optamos, então, pelo poema “Alienar o ator”, que nos pareceu quase um manifesto<br />
sobre a função do ator no teatro. Nesse “monólogo poético”, ele expressou suas<br />
inquietações e seus questionamentos, além de mostrar suas aparentes incoerências,<br />
inclusive no que diz respeito ao transe. Nesse poema encontramos, em grande parte, as<br />
características ‘artaudianas’ que procuramos apontar nesta monografia.<br />
O primeiro ensaio,com o poema lido após a prática, não teve a força que as<br />
palavras pronunciadas deveriam provocar, mesmo já apresentando algumas mudanças<br />
sonoras, como apontamos anteriormente. O sentido não era compreendido, as palavras<br />
pareciam confusas, embora já esboçassem um ritmo próprio, existia uma musicalidade.<br />
Com o tempo, imersos no estado de transe consciente, encontramos, enfim, uma forma de<br />
representação no qual julgamos, apropriada ao poema escolhido – simulamos em cena, por<br />
meio de gestos frenéticos e falas nervosas, o que imaginávamos ter sido o momento de<br />
criação do próprio poema pelo autor, como se o flagrássemos na angústia do processo<br />
criativo.<br />
Nosso objetivo não foi facilitar o entendimento do que o texto queria transmitir,<br />
mas, expressar a intensidade do texto de Artaud, por meio dos gestos e da sonoridade e,<br />
principalmente, o ritmo extraído das palavras. Depois de alguns ensaios, elas pareciam<br />
possuir uma musicalidade própria.<br />
O estado de transe se fazia presente e o ensaio se tornava cada vez mais produtivo.<br />
O poema ganhava uma forma, durante o ensaio, que contagiada com uma vivacidade,<br />
achamos desnecessário e incoerente marcá–la. A naturalidade e a força dos movimentos e<br />
das falas foram responsáveis por gerar essa unicidade do ator que buscávamos no início de<br />
nossa pesquisa.<br />
21
6- CONCLUSÃO<br />
O interesse pela pesquisa surgiu, não só como uma forma de expressar uma<br />
profunda gratidão pelos efeitos da técnica mencionada anteriormente, mas também pela<br />
possibilidade de me aprofundar em alguns conceitos do teatro artaudiano. Pois sempre<br />
considerei Artaud um mestre durante minha trajetória artística. Inspirada e conduzida por<br />
essa paixão, pelos dois temas abordados, encontrei uma possível forma de resolver<br />
angustias e questionamentos surgidos no decorrer dessa profissão de atriz. Com a<br />
monografia, acreditei ser possível construir esse diálogo prático e teórico entre a magia e<br />
Artaud, onde o ponto em comum entre eles seria o transe.<br />
O teatro de Artaud dialogou com a magia em busca de saída para criação de uma<br />
nova “vida”, que deveria ser vivenciada pelos atores no palco. Trata da alma humana<br />
como elemento fundamental para a arte de interpretar, como se o espírito falasse por meio<br />
do corpo e o corpo desse voz a níveis de realidade mais profundos. Seu teatro é como uma<br />
ponte que liga o místico à cena, levando até às últimas conseqüências a idéia da<br />
representação como encarnação de uma força superior – tão ressaltada por ele em seus<br />
escritos – que seria, em essência, tudo que não é facilmente compreendido por nossa<br />
mente, por vir do inconsciente.<br />
Como apresentamos na introdução deste trabalho, a preocupação com o resultado,<br />
a necessidade de aprovação, o medo de uma possível crítica, a cobrança que lançamos<br />
sobre o nosso próprio trabalho, tudo isso gera tensão, insegurança, nervosismo, ansiedade,<br />
fazendo com que nos distanciemos de nós mesmos, fragmentando nossa presença,<br />
comprometendo seriamente a qualidade da nossa atuação.<br />
22
O fato é que nós somos os principais responsáveis por fabricarmos todas essas<br />
inquietações. Depois de um tempo, esses problemas tornam-se corriqueiros e, na maioria<br />
das vezes, arrumamos uma forma de despistá-los, fingindo para nós mesmos que eles não<br />
existem. Mas não adianta, porque eles voltam. O que temos a fazer, em verdade, é<br />
aprender a dominar nossa mente, acalmando-a quando necessário, e voltando a ativá-la<br />
quando bem entendemos.<br />
A técnica de magia chamada Pilar do Meio pode constituir-se, entre tantas outras,<br />
numa via para resolver questões relacionadas com o quadro apresentado acima. O estado<br />
de transe proporcionado pelo Pilar do Meio proporcionará não apenas mais consciência,<br />
mas também uma boa projeção vocal, a estimulação dos sentidos e maior vitalidade<br />
corporal.<br />
O primeiro passo será aprender a ter controle sobre a mente e, conseqüentemente,<br />
sobre o corpo e, por último, sobre a cena. A mente assemelha-se a cavalos – se não<br />
puxamos a rédea, nos levam para qualquer lugar. Por isso ela tem uma porcentagem<br />
significativa de culpa nesse processo, pois nos “bombardeia” com imagens, pensamentos e<br />
questões . Somos quase marionetes desse turbilhão desenfreado que é a nossa mente.<br />
A prática de magia Pilar do Meio realmente nos levou a um estado de consciência<br />
alterada, que beneficiou a cena. Não tivemos o intuito de transportar para a representação<br />
o transe descrito por Artaud, porque seria uma tarefa pretensiosa, impossível. Dar conta do<br />
turbilhão inconsciente que habitava a mente do poeta seria uma tarefa inviável Por isso,<br />
optamos simplesmente por experimentar o estado de transe decorrente da técnica de<br />
magia no momento da representação do texto do poeta, a fim de ver até que ponto<br />
chegaríamos com esse experimento.<br />
A técnica mostrou-nos a possibilidade de atuar com segurança, domínio e<br />
serenidade. O estado de transe tornou possível apresentarmos uma cena com a atenção<br />
totalmente voltada para o foco, concentrada na atuação.<br />
Ao longo dos ensaios, havíamos sentido a necessidade de realizar a cena de duas<br />
formas – com o texto ensaiado sem a prática e, depois, com ela – observando voz, corpo e<br />
mente. Como resultado da comparação, podemos afirmar ter havido, nos momentos em<br />
que estávamos imersos no transe, uma modificação significativa desses elementos, que<br />
passaram a atuar de maneira totalmente integrada.<br />
No ultimo ensaio, antes de apresentar à banca, filmaremos toda a prática do Pilar<br />
do Meio e no final apresentaremos o poema “Alienar o Ator”, de Antonin Artaud. Este<br />
23
egistro servirá como uma demonstração da técnica, aqui apresentada, e um documento de<br />
pesquisa.<br />
Acreditamos ser possível estabelecer um vínculo plausível entre a proposta de<br />
Artaud em alguns de seus escritos e a interpretação executada a partir de uma preparação<br />
com a técnica do Pilar do Meio, atingindo assim a unicidade do ator com o transe.Os<br />
gestos, os mantras, a consciência dos pontos do corpo e a necessidade de transmitir um<br />
teatro que ultrapasse o texto por si só , já estabelecem esta conexão mas também uma boa<br />
projeção vocal, a estimulação dos sentidos e maior vitalidade corporal.<br />
O primeiro passo será aprender a ter controle sobre a mente e, conseqüentemente ,<br />
sobre o corpo e, por último, sobre a cena. A mente assemelha-se a cavalos – se não<br />
puxarmos a rédea, nos levam para qualquer lugar. Por isso ela tem uma porcentagem<br />
significativa de culpa nesse processo, pois nos “ bombardeia” com imagens , pensamentos<br />
e problemas vinte e quatro horas por dia, sem contar durante o sono, quando continua<br />
vagando entre sonhos e imagens. Somos quase marionetes desse turbilhão desenfreiado<br />
que é a nossa mente.<br />
A prática de magia Pilar do Meio realmente leva a um estado de consciência<br />
alterada, que beneficia a cena . Não tivemos o intuito de transportar para a representação o<br />
transe descrito por Artaud, porque seria uma tarefa pretensiosa , impossível. Dar conta do<br />
turbilhão inconsciente que habita a mente do poeta seria uma tarefa de anos e, quem sabe ,<br />
inviável. Por isso optamos, simplesmente por experimentar o estado de transe decorrente<br />
da técnica de magia no momento da representação do texto do poeta, a fim de ver até que<br />
ponto chegaríamos com esse experimento.<br />
A técnica mostrou-nos a possibilidade de atuar com segurança, domínio e atenção.<br />
O estado de transe tornou possível apresentar uma cena com a atenção totalmente em<br />
alerta e focada na atuação, controlada e claramente estruturada.<br />
Ao longo dos ensaios ,surge a necessidade de realizar a cena de duas formas – com<br />
o texto ensaiado sem a prática e, depois, com ela- observando voz,corpo e mente. Como<br />
resultado da comparação, afirma-se que nos momentos do transe, uma modificação<br />
significativa , unindo todos esses elementos, (citados anteriormente) passaram a atuar de<br />
maneira integrada.<br />
No ultimo ensaio, antes de apresentar à banca, filmaremos toda a prática do Pilar<br />
do Meio e no final apresentaremos o poema “ Alienar o Ator”, de Antonin Artaud. Este<br />
registro servirá como uma demonstração da técnica, aqui apresentada, e um documento de<br />
pesquisa.<br />
24
7- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
WILLER, Cláudio. Escritos de Antonin Artaud. Porto Alegre: L&PM Editores, 1983.<br />
VIRMAUX, Alain. Artaud e o Teatro. São Paulo: Perspectiva, 1978.<br />
BUTLER, E.W., A magia e o mago. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1991.<br />
OIDA, YOSHI, O ator invisível. São Paulo: Beca, 2001.<br />
SUÁREZ, Cristina, Espacios desconocidos, lugares inimaginados. Buenos Aires: Lúmen,<br />
2003.<br />
ESSLIN, Martin. Artaud. São Paulo: Cultrix, 1978.<br />
REGARDIE, Israel., A arte da verdadeira cura. São Paulo: Isis, 1964.<br />
TEIXEIRA, Letícia. Conscientização do movimento – uma prática corporal. São Paulo:<br />
Caioá, 1998.<br />
CAMPIGLIA, Helena. Psique e medicina tradicional chinesa. Rio de Janeiro: Roca, 2004.<br />
ARTAUD, Antonin. O teatro e seu duplo. São Paulo: Max Limonad, 1987.<br />
GEWURZ, Elias. Los mistérios de la kábala. Moneda: Gómez Gómez HNOS, 1975.<br />
STREVA, Cristina. Jung e o Teatro: uma Perspectiva Analítica para Algumas Teorias<br />
Teatrais do Século XX. Orientadora: Profa.Dra. Vânia Granja. Rio de Janeiro: UNIRIO/<br />
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, 2005. 17 p. Dissertação ( Pósgraduação<br />
Latu Sensus em Educação Estética)<br />
JUNG, Carl G. ( org). O Homem e seus Símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 1977<br />
LOWEN, Alexander. Bioenergética. São Paulo: Summus, 1982<br />
26
8- ANEXOS<br />
Texto apresentado - Alienar o Ator<br />
O teatro<br />
é o estado,<br />
o lugar,<br />
o ponto,<br />
onde se aprende a anatomia humana,<br />
e através dela se cura e se rege a vida.<br />
Sim, a vida com seus transportes, seus relinchos, seus borborismos, seus buracos,<br />
seus pruridos, seus rubores, suas paradas de circulação, seus maestroms sanguinolentos,<br />
suas precipitações irritáveis de sangue, seus nós de humor,<br />
suas retomadas,<br />
suas hesitações.<br />
Tudo isso se discerne, se marca, se investiga e se ilumina<br />
sobre um membro, e é pondo em atividade, eu diria em<br />
atividade paroxística dos membros, como os membros desse<br />
formidável fetiche animado que é todo o corpo<br />
de todo um ator,<br />
que se pode ver<br />
como a nu,<br />
a vida,<br />
na transparência, na presença de suas forças primais nascidas,<br />
de suas potências inutilizadas,<br />
e que ainda não serviram, não, ainda não serviram para<br />
corrigir uma criação anárquica, da qual o verdadeiro teatro foi<br />
feito a fim de reerguer as irascíveis e petulantes gravitações.<br />
Sim a gravitação universal é um sismo, uma horrorosa<br />
precipitação passional<br />
que se corrige sobre os membros de um ator,<br />
não em frenesi,<br />
não em histeria, não em transe.<br />
(ARTAUD apud VIRMAUX, op.cit., p.325)<br />
27
Fichas de prática<br />
Data 07/ 06/2006<br />
Horário 19:00 – 20:00 h<br />
Ficha de prática 1<br />
Local Centro de meditação Namastê, no Rio de Janeiro<br />
Participantes Brisa e instrutor<br />
Atividade Prática da técnica do Pilar do Meio<br />
Objetivo No final da prática delimitaremos elementos que serão observados,<br />
durante a prática, no encontro seguinte.<br />
Descrição<br />
Após a explicação dada pelo instrutor sobre as três etapas da técnica, iniciamos a prática:<br />
com a luz apagada e uma música de relaxamento, começamos uma respiração forte e<br />
profunda e passamos a focar a atenção nesse processo , com o objetivo de acalmar a mente.<br />
Conceitos – as três etapas da prática<br />
1ª etapa – Ritualística de preparação do recinto chamado (Ritual do pentagrama menor)<br />
2ª etapa – Visualização das cinco sefiras ou cinco esferas de luz espalhadas pelo corpo<br />
(que correspondem aos cinco centros da Árvore da Vida), acompanhada da respiração e<br />
pronunciação das palavras em hebraico correspondentes a cada esfera.<br />
3ª etapa – Visualização de feixes luminosos que percorrem o corpo em movimento<br />
contínuo e, ao final, pronunciação vibrante e repetida (oito vezes) de uma palavra<br />
específica.<br />
Comentários<br />
Tive alguma dificuldade inicial na prática por não conseguir acalmar meus pensamentos;<br />
por não entender as palavras em hebraico e não conseguir visualizar todas as esferas e<br />
desenhos executados. As palavras eram repetidas muitas vezes provocando uma descarga<br />
energética por todo o corpo. Ao final, senti calma e leveza corporal<br />
Data 11/ 07/2006<br />
Horário 22:00h até 23:00h<br />
Ficha de prática 2<br />
Local Asbamtho- escola de acupuntura e shiatsu ( massagem oriental)<br />
Participantes Brisa e instrutor Erick<br />
Atividade Prática do Pilar do Meio<br />
28
Objetivo Prestar atenção nas palavras e na intensidade do som<br />
Descrição<br />
O Ritual inicial e a prática foram realizadas com uma música de relaxamento. O tempo da<br />
respiração (inicial) foi prolongado neste dia.<br />
Comentários<br />
Brisa - Hoje o meu pensamento já não me atrapalhou tanto, foi acalmando com o decorrer<br />
da prática. O fato de termos posto mais tempo no momento da respiração, no inicio ajudou.<br />
No meio me senti um pouco fraca e quase desmaiei, depois voltei para o eixo. No primeiro<br />
momento pensei ser conseqüência do efeito das palavras. Essa foi uma conclusão que nos<br />
pareceu possível, pois a minha atenção se voltou para a pronunciação das palavras usando<br />
todo o ar expirado até chegar na exaustão, ( na etapa final da prática) com a pronuncia das<br />
palavras vibradas.<br />
Data 15/ 07 / 2006<br />
Horário 22:00h até 23:00h<br />
Ficha de prática 3<br />
Local Asbamtho- escola de acupuntura e shiatsu ( massagem oriental)<br />
Participantes Brisa<br />
Atividade Prática do Pilar do Meio<br />
Objetivo Nossa atenção estava voltada para os efeitos da visualização, durante a<br />
prática.<br />
Descrição<br />
O Ritual inicial e a prática foram feitos sem a música e o tempo inicial da respiração<br />
prolongada foi mantida.<br />
Comentários<br />
Brisa - A visualização parecia seguir o mesmo ritmo da respiração e eram mais claras na<br />
segunda etapa do que na primeira. Na ultima etapa ao imaginar o percurso da luz ao redor<br />
do corpo observei que o segundo movimento surgia naturalmente em conseqüência do<br />
anterior como se um estivesse ligado ao outro, existia um fluxo próprio durante todo<br />
percurso visualizado.<br />
Ficha de prática 4<br />
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Data 20/ 07 / 2006<br />
Horário 22:30h até 23:30h<br />
Local Asbamtho- escola de acupuntura e shiatsu ( massagem oriental)<br />
Participantes Brisa<br />
Atividade Prática do Pilar do Meio<br />
Objetivo Tornar ativa a visualização com a ajuda da respiração<br />
Descrição<br />
O Ritual inicial e a prática foram feitos com música, pois achamos que ajuda a relaxar<br />
mais do que o silêncio.<br />
Comentários<br />
Brisa - Hoje tive mais facilidade de visualizar as imagens, elas pareciam mais claras e<br />
começava a ter um brilho. A respiração, acredito, ter sido a responsável por isso, pois na<br />
inspiração eu procurei limpar a mente e na expiração as imagens ganhavam forma .<br />
.<br />
Data 29/ 07 / 2006<br />
Horário 22:10h até 23:20h<br />
Ficha de prática 5<br />
Local Asbamtho- escola de acupuntura e shiatsu ( massagem oriental)<br />
Participantes Brisa<br />
Atividade Prática do Pilar do Meio com leitura do texto de Artaud no final da<br />
prática.<br />
Objetivo Projetar a voz ao máximo no momento da vibração e da repetição nos<br />
centros. O efeito será experimentado com a leitura de uma carta de Artaud<br />
Descrição<br />
O Ritual e a prática serão acompanhados da música de relaxamento até o final. Será<br />
desligada no momento da leitura.<br />
Comentários<br />
Brisa - Durante a prática senti ,um tremor por todo o corpo e um desconforto ao forçar a<br />
voz, no máximo na expiração. A voz forçava a garganta e irritava minhas cordas vocais.<br />
Em oposição a leitura, que foi feita imediatamente após a prática, as palavras eram<br />
articuladas e projetadas com clareza. O que não apresentou sentido foi a escolha do texto,<br />
por ser muito discursivo e teórico.<br />
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Data 06/ 08 / 2006<br />
Horário 21: 40h até 23:20h<br />
Ficha de prática 6<br />
Local Asbamtho- escola de acupuntura e shiatsu ( massagem oriental)<br />
Participantes Brisa<br />
Atividade Prática do Pilar do Meio com leitura do texto “ Alienar o Ator” –<br />
Artaud<br />
Objetivo Colocar na cena movimentos involuntários que surgirão com a prática<br />
encontrando um sentido para cada um deles.<br />
Descrição<br />
Hoje o que será valorizado e relatado, será o resultado final da prática ,finalizando com a<br />
leitura.<br />
Comentários<br />
( Brisa)<br />
A dificuldade apareceu em fazer uma real comunicação entre as palavras lidas com os<br />
movimentos de tremor aparecidos no decorrer da prática.Ao ler, me senti tranqüila e<br />
segura.( mesmo não dominando o texto) Parecia que cada palavra, ganhava seu significado<br />
no momento da representação.Era como se estivesse descobrindo as palavras e os<br />
movimentos naquele momento.<br />
.<br />
Data 10/ 08 / 2006<br />
Horário 21: 40h até 23:10h<br />
Ficha de prática 7<br />
Local Asbamtho- escola de acupuntura e shiatsu ( massagem oriental)<br />
Participantes Brisa<br />
Atividade Prática do Pilar do Meio com leitura do texto “Alienar o Ator” –<br />
Artaud, ao final da prática.<br />
Objetivo Objetivo: Improvisar ,depois da prática, buscando encontrar um ritmo<br />
para as palavras. A atenção será voltada para a musicalidade do texto e<br />
não seu significado.<br />
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Comentários<br />
Descrição: Hoje serão utilizados alguns objetos<br />
Para a cena: caneta e papel (no papel estará contido o texto lido)<br />
Brisa -<br />
Os gestos eufóricos pareciam acompanhar o texto .Os elementos ajudaram a criar o enredo<br />
do monólogo. O personagem ,sendo um escritor com algumas semelhanças de Artaud, no<br />
seu momento de criação.<br />
Data 15/ 08/ 2006<br />
Horário 20hs ás 21:30hs<br />
Local Residência<br />
Participantes Brisa<br />
Ficha de prática 8<br />
Atividade Pilar do meio com a leitura do texto “Alienar o Ator”<br />
Objetivo Ensaiar a cena, utilizando o estado final da prática para o improviso<br />
buscando um significado para os gestos.<br />
Comentários<br />
Brisa - No início o gesto aparecia para traduzir as palavras do Artaud, ficando redundante.<br />
Depois, tentei sair desse estado, mas mantive alguns movimentos que surgiram no ensaio<br />
anterior.<br />
Observações complementares:<br />
O estado de transe , apresentado depois da prática, parecia se estender até o final . A cena<br />
parecia reproduzir o estado confuso e paradoxal apresentado no texto.<br />
Data 21/ 08/ 2006<br />
Horário 22:10hs às 23: 40hs<br />
Local Asbamtho no Humaitá<br />
Participantes Brisa<br />
Ficha de prática 9<br />
Atividade Prática do Pilar do Meio e ensaio com o poema decorado, “ Alienar o<br />
Ator” de Antonin Artaud –(ensaio do poema, antes e depois da prática)<br />
Objetivo Comparar a cena antes da prática do Pilar do Meio e depois com o<br />
efeito dela sendo utilizado durante o ensaio do poema.<br />
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Comentários<br />
Brisa – O poema apresentado antes da prática ficou muito aprisionado ao sentido das<br />
palavras e os movimentos pareciam repetir o significado delas. A dificuldade estava pelo<br />
fato do meu corpo já ter se acostumado com essa força provocada pela prática , me<br />
encontrei criticando quase todo o tempo o que fazia durante esse ensaio. O julgamento era<br />
claro e isso atrapalhou o primeiro ensaio. Depois no segundo ensaio, me senti<br />
completamente libertada . Acredito ter sido, pelo fato do texto já estar decorado assim<br />
como me sentia mais criativa. Os movimentos só acrescentavam e davam continuidade as<br />
palavras .Com isso, acabei selecionando alguns movimentos para o próximo ensaio.<br />
Data 28/ 08/ 2006<br />
Horário 20:15hs às 22: 10hs<br />
Local Asbamtho<br />
Participantes Brisa<br />
Ficha de prática 10<br />
Atividade Prática do Pilar do Meio e ensaio com o poema, decorado, “ Alienar o<br />
Ator” de Antonin Artaud<br />
Objetivo Selecionar os gestos para cena na forma como será apresentado o<br />
monólogo.<br />
Comentários<br />
Brisa - Durante o ensaio da cena, senti dificuldade em marcar os movimentos e escolhi<br />
quatro gestos, que são mais significativo e que serão repetidos durante a representação.<br />
Resolvi definir alguns movimentos e juntei aos que já tinha separado no ensaio anterior O<br />
poema apresentou um ritmo progressivo e repetitivo, que retiramos da prática e colocamos<br />
na cena. Resolvi que, em alguns momentos, as palavras serão pronunciadas junto aos gestos<br />
e, noutros, com o corpo estático.<br />
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