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os herdeiros do milenarismo do Contestado Celso Vianna ... - USP

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Portanto se trataria, como propõe Maria<br />

Isaura Pereira de Queiroz (1993-94, p. 37),<br />

de opor a realidade ao imaginário, o especu-<br />

lar, imagem de algo (Castoriadis, 1982, p.<br />

13)? Como afirma Jorge Luis Borges (1985,<br />

p. 449), no seu conto “Pierre Menard, Autor<br />

<strong>do</strong> Quixote”, “Menard, contemporâneo de<br />

William James, não define a história como<br />

uma indagação da realidade, mas como sua<br />

origem. A verdade histórica, para ele, não<br />

é o que aconteceu, é o que julgam<strong>os</strong> que<br />

aconteceu”. O problema, portanto, é de uma<br />

certa concepção de imaginário na análise<br />

<strong>do</strong> social-histórico.<br />

Castoriadis (1982, p. 175) aponta para a<br />

dificuldade que a antropologia e a psicaná-<br />

lise encontram em diferenciar <strong>os</strong> registr<strong>os</strong> e<br />

a ação <strong>do</strong> simbólico e <strong>do</strong> imaginário, pois<br />

“[...] as significações imaginárias sociais<br />

– pelo men<strong>os</strong> as que são verdadeiramente<br />

últimas – não denotam nada, e conotam<br />

mais ou men<strong>os</strong> tu<strong>do</strong>; e é por isso que elas<br />

são tão frequentemente confundidas com<br />

seus símbol<strong>os</strong>, não somente pel<strong>os</strong> pov<strong>os</strong><br />

que as utilizam, mas pel<strong>os</strong> cientistas que<br />

as analisam e que chegam, por isso, a<br />

considerar que seus significantes se sig-<br />

nificam por si mesm<strong>os</strong> (uma vez que não<br />

remetem a nenhum real, nenhum racional<br />

que pudéssem<strong>os</strong> designar), e a atribuir a<br />

esses significantes como tais, ao simbolis-<br />

mo toma<strong>do</strong> em si mesmo, um papel e uma<br />

eficácia infinitamente superiores às que<br />

certamente p<strong>os</strong>suem”.<br />

Tem<strong>os</strong>, assim, a noção central de ima-<br />

ginário radical, que se distingue <strong>do</strong> ima-<br />

ginário efetivo, “pois este se caracteriza<br />

pelo vínculo rígi<strong>do</strong> entre significante e<br />

significa<strong>do</strong>, o símbolo e a coisa. O imagi-<br />

nário é, portanto, algo ‘inventa<strong>do</strong>’, quer se<br />

trate de uma invenção ‘absoluta’ [...], ou de<br />

um deslizamento, de um deslocamento de<br />

senti<strong>do</strong>, onde símbol<strong>os</strong> já disponíveis são<br />

investid<strong>os</strong> de outras significações que não<br />

suas significações ‘normais’ ou ‘canônicas’”<br />

(Castoriadis, 1982, p. 154).<br />

O autor critica a visão funcionalista e<br />

afirma o prima<strong>do</strong> <strong>do</strong> simbólico <strong>do</strong> social-<br />

histórico. Assim, considera que “tu<strong>do</strong> o que<br />

se n<strong>os</strong> apresenta, no mun<strong>do</strong> social-histó-<br />

rico, está indissociavelmente entrelaça<strong>do</strong><br />

com o simbólico”; <strong>os</strong> inumeráveis produ-<br />

t<strong>os</strong> materiais não são símbol<strong>os</strong>, mas são<br />

imp<strong>os</strong>síveis fora de uma rede simbólica.<br />

Enfim, o imaginário é criação incessante<br />

e essencialmente indeterminada; daí sua<br />

visão da história que é “essencialmente<br />

poiésis, e não poesia imitativa, mas criação<br />

e gênese ontológica no e pelo fazer e o re-<br />

presentar/dizer d<strong>os</strong> homens” (Castoriadis,<br />

1982, p. 14).<br />

A concepção de imaginário de Casto-<br />

riadis conduz a um componente político<br />

muito importante. Usem<strong>os</strong> suas palavras<br />

ainda uma vez:<br />

“Enquanto instituinte e enquanto instituída,<br />

a sociedade é intrinsecamente história – ou<br />

seja, autoalteração. A sociedade instituída<br />

não se opõe à sociedade instituinte como<br />

um produto morto a uma atividade que o<br />

originou; ela representa a fixidez/estabilida-<br />

de relativa e transitória das formas-figuras<br />

instituídas em e pelas quais somente o<br />

imaginário radical pode ser e se fazer ser<br />

como social-histórico. A autoalteração per-<br />

REVISTA <strong>USP</strong>, São Paulo, n.82, p. 88-103, junho/ag<strong>os</strong>to 2009 99

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