Doença do refluxo gastroesofágico e sua relação com a asma
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16 Rev. bras. alerg. imunopatol. – Vol. 30, Nº 1, 2007 RGE e <strong>asma</strong><br />
áci<strong>do</strong>s. O RGE não-áci<strong>do</strong> estava presente em um<br />
<strong>refluxo</strong>s<br />
<strong>do</strong>s <strong>refluxo</strong>s registra<strong>do</strong>s.<br />
terço<br />
área pediátrica, alguns estu<strong>do</strong>s foram realiza<strong>do</strong>s na<br />
Na<br />
de estabelecer uma <strong>relação</strong> entre RGE e sintomas<br />
tentativa<br />
respiratórios 51,52 Em um estu<strong>do</strong> <strong>com</strong> 22 pacientes pediátri-<br />
.<br />
<strong>com</strong> história de apnéia e queda da saturação, utilizancos<br />
a impedâncio-pHmetria e a polissonografia observou-se<br />
<strong>do</strong><br />
86,0% <strong>do</strong>s episódios de RGE estavam associa<strong>do</strong>s <strong>com</strong><br />
que<br />
respiratórias. Somente 12,0% <strong>do</strong>s RGE<br />
anormalidades<br />
pH menor que 4. Assim, concluíram que os<br />
apresentavam<br />
respiratórios poderiam estar relaciona<strong>do</strong>s <strong>com</strong> o<br />
sintomas<br />
<strong>com</strong> pH maior que 4 e que o mesmo não seria detec-<br />
RGE<br />
pela pHmetria intra-esofágica ta<strong>do</strong> 51 .<br />
& Nurko Rosen 52 28 crianças e a<strong>do</strong>lescentes,<br />
avaliaram<br />
idade varian<strong>do</strong> entre 3 meses e 18 anos, todas <strong>com</strong><br />
<strong>com</strong><br />
respiratórios e sen<strong>do</strong> tratadas <strong>com</strong> medicações<br />
sintomas<br />
<strong>gastroesofágico</strong> (bloquea<strong>do</strong>r H2 e inibi<strong>do</strong>r da<br />
anti-<strong>refluxo</strong><br />
de próton). Do total <strong>do</strong>s 1822 episódios de <strong>refluxo</strong>s<br />
bomba<br />
o sensor da impedanciometria detectou 45,0%<br />
registra<strong>do</strong>s,<br />
<strong>refluxo</strong>s não-áci<strong>do</strong>s, os <strong>do</strong>is sensores da impedâncio-<br />
de<br />
31,0% de <strong>refluxo</strong>s áci<strong>do</strong>s e o sensor da pHme-<br />
-pHmetria<br />
23,0% de <strong>refluxo</strong>s áci<strong>do</strong>s. Além <strong>do</strong> tipo de <strong>refluxo</strong> foi<br />
tria<br />
a extensão <strong>do</strong> material refluí<strong>do</strong>. Constataram que<br />
avaliada<br />
<strong>do</strong>s <strong>refluxo</strong>s preenchiam toda coluna esofágica e<br />
40,0%<br />
13,0% destes estavam associa<strong>do</strong>s a sintomas,<br />
somente<br />
a maioria <strong>refluxo</strong>s <strong>com</strong> pH maior que 4. Assim, ob-<br />
sen<strong>do</strong><br />
que poderiam existir <strong>do</strong>is subtipos de <strong>do</strong>ença<br />
servaram<br />
uma associada ao RGE distal (acidez em esô-<br />
respiratória,<br />
distal) e aquela associada ao RGE presente em toda<br />
fago<br />
esofágica.<br />
coluna<br />
impedâncio-pHmetria <strong>com</strong>o méto<strong>do</strong> diagnóstico para<br />
A<br />
necessita ter defini<strong>do</strong>s os valores de normalidade<br />
DRGE<br />
os vários grupos etários pediátricos, pois os estu<strong>do</strong>s<br />
para<br />
estudaram somente pacientes pediátricos<br />
apresenta<strong>do</strong>s<br />
sintomas respiratórios, sem estu<strong>do</strong> con<strong>com</strong>itante ou<br />
<strong>com</strong><br />
de crianças e a<strong>do</strong>lescentes saudáveis prévio 51,52 Para adul-<br />
.<br />
o estu<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> por Sifrim et al tos, 50 mostrou tan-<br />
não<br />
vantagens da impedâncio-pHmetria quan<strong>do</strong> <strong>com</strong>para<strong>do</strong><br />
tas<br />
<strong>com</strong> a pHmetria.<br />
somente<br />
impedâncio-pHmetria, talvez seja futuramente, um<br />
A<br />
instrumento diagnóstico para os casos de pacien-<br />
possível<br />
<strong>com</strong> DRGE e <strong>do</strong>ença respiratória ainda sintomáticos,<br />
tes<br />
aqueles em tratamento <strong>com</strong> supressão ácida<br />
especialmente<br />
efetiva 53 .<br />
dificuldade a ser superada é o desenvolvimento<br />
Outra<br />
um software capaz de detectar padrões característicos e<br />
de<br />
artefatos eliminar 49 além da definição de valores de refe-<br />
,<br />
rência.<br />
<strong>do</strong> <strong>refluxo</strong> <strong>gastroesofágico</strong> e <strong>asma</strong><br />
<strong>Doença</strong><br />
<strong>relação</strong> entre <strong>do</strong>ença <strong>do</strong> <strong>refluxo</strong> <strong>gastroesofágico</strong> e as-<br />
A<br />
tem si<strong>do</strong> relatada <strong>com</strong> freqüência em grande número<br />
ma<br />
artigos nestes últimos 30 anos. As razões desta forte<br />
de<br />
ainda não são plenamente conhecidas associação 54 .<br />
estu<strong>do</strong>s têm mostra<strong>do</strong> a presença da DRGE em<br />
Vários<br />
asmáticos, no entanto, ainda não se sabe qual o<br />
pacientes<br />
verdadeiro papel na patogênese da <strong>asma</strong> ou na exa-<br />
seu<br />
de seus sintomas cerbação 32,46,47,55-58 .<br />
mecanismos propostos para explicar esta <strong>relação</strong><br />
Os<br />
são:<br />
Teoria <strong>do</strong> reflexo<br />
1-<br />
Stein Mansfield, 59 15 pacientes asmáticos,<br />
estudaram<br />
primeiramente solução salina no esôfago e rea-<br />
instilan<strong>do</strong><br />
a prova de função pulmonar. Utilizan<strong>do</strong> a mesma<br />
lizan<strong>do</strong><br />
de acesso, instilaram solução de áci<strong>do</strong> clorídrico (0,1 N)<br />
via<br />
mesmo tempo padroniza<strong>do</strong>. Os pacientes foram orien-<br />
pelo<br />
para que relatassem qualquer sensação referente à<br />
ta<strong>do</strong>s<br />
durante o procedimento. Observaram que em<br />
esofagite<br />
menor, em <strong>relação</strong> ao tempo padrão <strong>com</strong> a solução<br />
tempo<br />
to<strong>do</strong>s os pacientes queixavam de sintomas de eso-<br />
salina,<br />
e apresentavam ao mesmo tempo alteração na profagite<br />
de função pulmonar (aumento da resistência respiratóva<br />
total). Essa demonstração de constrição de vias aéreas<br />
ria<br />
revertida <strong>com</strong> uso de antiáci<strong>do</strong>. Desse mo<strong>do</strong>, os auto-<br />
era<br />
sugeriram a presença de um mecanismo reflexo esôfares<br />
desencadea<strong>do</strong> pela acidez, <strong>com</strong>o uma possígo-brônquico<br />
associação entre <strong>asma</strong> e RGE.<br />
vel<br />
et al Gastal 28 um estu<strong>do</strong> monitorizan<strong>do</strong> o pH intra-<br />
em<br />
<strong>com</strong> <strong>do</strong>is canais em pacientes <strong>com</strong> sintomas pulesofágico<br />
tais <strong>com</strong>o <strong>asma</strong>, tosse crônica e <strong>do</strong>r torácica, obmonares,<br />
que a presença <strong>do</strong> RGE distal em pacientes asservaram<br />
era maior <strong>do</strong> que nos outros pacientes e o RGE<br />
máticos<br />
encontrava-se mais nos pacientes <strong>com</strong> <strong>do</strong>r torá-<br />
proximal<br />
sem outros sintomas pulmonares, então, sugeriram<br />
cica<br />
a presença de áci<strong>do</strong> na porção distal <strong>do</strong> esôfago de-<br />
que<br />
o reflexo esôfago-brônquico, levan<strong>do</strong> consesencadeia<br />
à broncoconstrição.<br />
qüentemente<br />
1995, em um estu<strong>do</strong> semelhante, Cucchiara et al Em 43<br />
também a pHmetria <strong>com</strong> <strong>do</strong>is canais, examina-<br />
utilizan<strong>do</strong><br />
40 pacientes <strong>com</strong> DRGE e sintomas respiratórios e 20<br />
ram<br />
somente <strong>com</strong> DRGE. Observaram que os pacien-<br />
pacientes<br />
<strong>com</strong> sintomas respiratórios apresentavam índice de sintes<br />
respiratórios maior quan<strong>do</strong> o RGE estava presente<br />
tomas<br />
no esôfago distal, o mesmo não ocorreu<br />
isoladamente<br />
foi detecta<strong>do</strong> também em esôfago proximal. Assim<br />
quan<strong>do</strong><br />
autores confirmaram a hipótese da sensibilização <strong>do</strong><br />
os<br />
distal pelo áci<strong>do</strong>, desencadean<strong>do</strong> o mecanismo re-<br />
esôfago<br />
observa<strong>do</strong> por Gastal et al flexo 28 .<br />
– Teoria da microaspiração <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> gástrico<br />
2<br />
áci<strong>do</strong><br />
1946, Mendelson observan<strong>do</strong> pacientes submetidas<br />
Em<br />
anestesia obstétrica constatou <strong>com</strong>o uma das <strong>com</strong>plica-<br />
à<br />
a aspiração de conteú<strong>do</strong> gástrico ções 60 Entre os tipos de<br />
.<br />
aspira<strong>do</strong> analisa<strong>do</strong>, observou que a aspiração pul-<br />
material<br />
de conteú<strong>do</strong> líqui<strong>do</strong> gástrico desencadeava uma sínmonar<br />
semelhante à crise de <strong>asma</strong>.<br />
drome<br />
este acontecimento em animais de experi-<br />
Reproduzin<strong>do</strong><br />
relatou que após a exposição <strong>do</strong> pulmão ao conmentação,<br />
líqui<strong>do</strong> áci<strong>do</strong>, observava-se espasmo brônquico, conteú<strong>do</strong><br />
peribronquiolar e reação exsudativa pulmonar, segestão<br />
à observada em humanos em crise aguda de asmelhante<br />
Em um estu<strong>do</strong> <strong>com</strong> pacientes apresentan<strong>do</strong> sintomas<br />
ma.<br />
secundários à DRGE, observou-se que os pa-<br />
respiratórios<br />
que apresentavam cintilografia alterada mostravam<br />
cientes<br />
episódios prolonga<strong>do</strong>s de RGE, registra<strong>do</strong>s na pH-<br />
também<br />
intraesofágica. Desse mo<strong>do</strong>, Chernow et al metria 61 sugeri-<br />
a possibilidade de aspiração pulmonar <strong>com</strong>o causa de<br />
ram<br />
respiratórios. Jack et al sintomas 62 a monitoriza-<br />
utilizan<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> pH <strong>com</strong> <strong>do</strong>is canais, sen<strong>do</strong> um canal esofágico e oução<br />
traqueal, além de medidas de fluxo expiratório durante<br />
tro<br />
o exame, constataram que os pacientes asmáticos<br />
to<strong>do</strong><br />
simultaneamente quedas de pH na traquéia<br />
apresentavam<br />
alteração <strong>do</strong> pico de fluxo expiratório. Assim concluíram<br />
e<br />
a aspiração pulmonar de conteú<strong>do</strong> áci<strong>do</strong> poderia indu-<br />
que<br />
a broncoconstrição.<br />
zir<br />
DRGE ocorre em 32,0% a 80,0% <strong>do</strong>s pacientes adul-<br />
A<br />
asmáticos avalia<strong>do</strong>s <strong>com</strong> o emprego da pHmetria intratos <br />
esofágica 39,45 Estu<strong>do</strong>s semelhantes na área pediátrica<br />
.<br />
a presença da DRGE em 19,1% a 75,5% das cri-<br />
mostram<br />
asmáticas ou <strong>com</strong> <strong>do</strong>ença respiratória anças 46,50,55-57,63,64 .<br />
estu<strong>do</strong>s são mostra<strong>do</strong>s na tabela 1.<br />
Estes<br />
acor<strong>do</strong> <strong>com</strong> a tabela 1, observa-se ser a prevalência<br />
De<br />
DRGE muito variável. É provável que esta variabilidade<br />
da<br />
relacione <strong>com</strong> as diferenças nos índices de <strong>refluxo</strong> (por-<br />
se<br />
de tempo total que o pH permaneceu abaixo de<br />
centagem<br />
a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s para caracterizar a DRGE.<br />
4)<br />
dificuldade em definir a real prevalência da DRGE em<br />
A<br />
pediátricos asmáticos, se deve ao fato de não<br />
pacientes<br />
um critério único para definir RGE patológico. Muitos<br />
existir<br />
realizam seus próprios controles e os estabelecem<br />
autores<br />
padrão <strong>com</strong>o 32,46,47 utilizam critérios já existentes, <strong>com</strong>o<br />
ou<br />
o escore de Euler 40 ou índice de DeMeester 33 .