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Sueli Brito Lira de Freitas – EAPE/SEEDF RESUMO Este artigo ... - 2

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XVI ENDIPE - Encontro Nacional <strong>de</strong> Didática e Práticas <strong>de</strong> Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012<br />

O ENSINO DA GEOMETRIA NAS SÉRIES INICIAIS PODE SER RESSIGNIFICADO<br />

A PARTIR DA FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES NO<br />

PRÓ-LETRAMENTO MATEMÁTICA?<br />

<strong>Sueli</strong> <strong>Brito</strong> <strong>Lira</strong> <strong>de</strong> <strong>Freitas</strong> <strong>–</strong> <strong>EAPE</strong>/<strong>SEEDF</strong><br />

<strong>RESUMO</strong><br />

<strong>Este</strong> <strong>artigo</strong> tem por objetivo analisar os relatórios da aplicação da Tarefa Individual-TI<br />

do Fascículo Espaço e Forma a fim <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar indícios <strong>de</strong> contribuição da formação<br />

continuada à ativida<strong>de</strong> do professor em sala <strong>de</strong> aula. <strong>Este</strong> trabalho é fruto <strong>de</strong> pesquisa<br />

realizada pelo Grupo <strong>de</strong> Pesquisa Pró-Letramento Matemática, do Distrito Fe<strong>de</strong>ral,<br />

GRUPRÓ, integrante da Coor<strong>de</strong>nadoria <strong>de</strong> Pesquisa da Educação Básica-COPEB, que<br />

pertence à Escola <strong>de</strong> Aperfeiçoamento dos Profissionais da Educação-<strong>EAPE</strong>, da<br />

Secretaria <strong>de</strong> Educação do Distrito Fe<strong>de</strong>ral. Consi<strong>de</strong>rando as limitações do ensino <strong>de</strong><br />

geometria nas salas <strong>de</strong> aulas, das séries iniciais, algumas questões nos inquietaram: a<br />

formação por meio do Pró-Letramento Matemática traria uma contribuição pedagógica<br />

aos professores? Esta contribuição chegaria às salas <strong>de</strong> aula? O relatório da TI nos daria<br />

algumas pistas <strong>de</strong> como estaria sendo realizado o trabalho com as crianças? A pesquisa<br />

buscou apoio teórico em Pires e Campos (2000), Fonseca (2001), Muniz e Iunes (2005)<br />

entre outros estudiosos. O caminho metodológico foi a análise <strong>de</strong> documentos (LUDKE<br />

e ANDRÉ, 1986). Foram lidos e analisados os relatórios escritos sobre a aplicação das<br />

Tarefas Individuais propostas na formação referentes ao tema Espaço e Forma <strong>de</strong> duas<br />

professoras cursistas que atuam em turmas <strong>de</strong> 1º e 3º ano do ensino fundamental <strong>de</strong> 9<br />

anos. No <strong>artigo</strong> utilizamos excertos dos relatórios seguidos <strong>de</strong> comentários. Conclui-se<br />

que os relatórios das professoras-cursistas apresentam indícios <strong>de</strong> que a formação<br />

oferecida pelo Programa Pró-Letramento Matemática no DF contribuiu com a reflexão e<br />

atuação <strong>de</strong>ssas professoras no ensino e na aprendizagem da geometria nas séries<br />

iniciais.<br />

Palavras-chave: Pró-Letramento Matemática, Tarefas Individuais, formação<br />

continuada.<br />

<strong>Este</strong> <strong>artigo</strong> apresenta resultados <strong>de</strong> um subprojeto da pesquisa maior <strong>de</strong>nominada<br />

“Pró-letramento Matemática no DF: concepções <strong>de</strong> formação, influências e práticas<br />

pedagógicas”. O projeto maior tem por objetivo analisar o Programa Pró-Letramento<br />

Matemática a partir dos documentos para estudo que chegam aos professores cursistas e<br />

tutores bem como os documentos gerados por eles.<br />

O curso Pró-Letramento é realizado na Escola <strong>de</strong> Formação <strong>de</strong> Profissionais da<br />

Educação, da Secretaria <strong>de</strong> Estado <strong>de</strong> Educação do DF. Essa escola instituiu em<br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2010 a Coor<strong>de</strong>nadoria <strong>de</strong> Pesquisa na Educação Básica <strong>–</strong> COPEB com o<br />

intuito <strong>de</strong> gerar pesquisa na/para/com a re<strong>de</strong> pública <strong>de</strong> ensino do Distrito Fe<strong>de</strong>ral.<br />

Nosso grupo, com interesse em realizar pesquisa durante a formação, criou o Grupo <strong>de</strong><br />

Pesquisa do Pró-Letramento <strong>–</strong> GRUPRÓ.<br />

Esse subprojeto teve por objetivo analisar os relatórios da aplicação da Tarefa<br />

Individual-TI do Fascículo 3, Espaço e Forma, a fim <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar indícios <strong>de</strong><br />

contribuição da formação continuada ao trabalho do professor em sala <strong>de</strong> aula.<br />

Junqueira&Marin Editores<br />

Livro 2 - p.000505


O estudo do Fascículo <strong>de</strong> Espaço e Forma foi <strong>de</strong>senvolvido com os professores<br />

cursistas, no mês <strong>de</strong> agosto, em quatro encontros <strong>de</strong> 3 horas.<br />

A formação, no DF, <strong>de</strong>terminou que os professores cursistas fariam duas<br />

ativida<strong>de</strong>s por fascículo: uma na turma <strong>de</strong> formação e outra para ser <strong>de</strong>senvolvida com<br />

as crianças em classe, seguida <strong>de</strong> relatório da professora consi<strong>de</strong>rando os seguintes<br />

critérios elaborados pelas tutoras<br />

o planejamento da aula relatado; a mediação do professor no <strong>de</strong>correr da aplicação da<br />

TI; o aparecimento da participação da criança: a fala das crianças, as ações materiais e<br />

corporais; a conclusão que evi<strong>de</strong>ncia a reflexão pedagógica; a avaliação da ativida<strong>de</strong>:<br />

o que a/o cursista tem a dizer da TI proposta.(<strong>SEEDF</strong>/<strong>EAPE</strong>. EXCERTO TEXTO<br />

TAREFAS INDIVIDUAIS-TI, 2011a)<br />

As tutoras <strong>de</strong>ssa formação estavam cientes do <strong>de</strong>safio que seria o trabalho com<br />

conteúdos da geometria. As pesquisas realizadas nesta área por alguns pesquisadores<br />

entre eles, PIRES et al, (2000), em São Paulo e FONSECA et al, (2001), em Belo<br />

Horizonte mostram que os professores <strong>de</strong>senvolvem poucas ativida<strong>de</strong>s concernentes à<br />

geometria e que tradicionalmente focam nas figuras, principalmente as planas.<br />

Consi<strong>de</strong>rando as limitações do ensino <strong>de</strong> geometria nas salas <strong>de</strong> aulas, das séries<br />

iniciais, algumas questões nos inquietaram: a formação por meio do Pró-Letramento<br />

Matemática traria uma contribuição pedagógica aos professores? Esta contribuição<br />

chegaria às salas <strong>de</strong> aula? O relatório da TI nos daria algumas pistas <strong>de</strong> como estaria<br />

sendo realizado o trabalho com as crianças?<br />

A formação e a geometria<br />

A formação do Pró-Letramento no DF teve a intenção <strong>de</strong> dar condições aos<br />

professores para <strong>de</strong>senvolverem os conteúdos curriculares, bem como possibilitar a<br />

elaboração <strong>de</strong> boas sequências didáticas com vistas à aprendizagem dos alunos. Em<br />

âmbito nacional o programa visa à melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizagem da<br />

leitura/escrita e matemática nas séries iniciais do ensino fundamental.<br />

A vivência <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s práticas na sala <strong>de</strong> formação veio acompanhada da<br />

perspectiva <strong>de</strong> se conhecer e compreen<strong>de</strong>r os conteúdos necessários à aprendizagem<br />

geométrica, e ao mesmo tempo, que o próprio professor percebesse, a partir da<br />

experimentação, que a aprendizagem é um processo individual promovido por boas<br />

propostas didáticas que provoquem o sujeito a pensar nas próprias ações e repensá-las<br />

consi<strong>de</strong>rando que apren<strong>de</strong>r é um processo vivo, dinâmico que só po<strong>de</strong> ser gerido pelo<br />

próprio sujeito da aprendizagem, mas que o professor tem papel fundamental nesta<br />

provocação.<br />

XVI ENDIPE - Encontro Nacional <strong>de</strong> Didática e Práticas <strong>de</strong> Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012<br />

Junqueira&Marin Editores<br />

Livro 2 - p.000506<br />

2


A vivência das ativida<strong>de</strong>s relacionadas à geometria possibilitou um bom<br />

momento para os professores cursistas pensarem e conversarem sobre as representações<br />

que cada um tinha sobre os conceitos geométricos ali abordados. Sobre isso, Saltini<br />

consi<strong>de</strong>ra que<br />

Dar início a pensamentos inicialmente intuitivos/simbólicos e posteriormente<br />

lógicos é a missão básica da educação. O real e o mundo concreto só se<br />

<strong>de</strong>scobrem com a ajuda <strong>de</strong> nossas hipóteses e com ações sobre eles. O<br />

pensamento é em resumo, aquilo que faz viver o que não existe, ou melhor<br />

dizendo, tudo o que vejo é resultado do que penso e daquilo que construo em<br />

minha mente. (SALTINI, 1999, p. 16)<br />

A geometria está em nossas vidas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> antes da entrada à escola. Des<strong>de</strong> bebês<br />

vivenciamos situações relacionadas a aprendizagens geométricas como o <strong>de</strong>slocamento<br />

ao engatinhar pela casa. O contato com o próprio corpo, a consciência <strong>de</strong> si e do outro<br />

trazem a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecer e dominar o espaço em que vive a partir das relações<br />

consigo mesmo e com o outro. Segundo Saltini, “estruturas <strong>de</strong> cognição formam-se a<br />

partir das ações sobre o meio, porém é o distanciamento <strong>de</strong>sse mesmo meio que ativa a<br />

operação mental e, então recriamos o que nos falta” (SALTINI, 1999, p. 16).<br />

No dia a dia da sala <strong>de</strong> aula os professores têm uma gran<strong>de</strong> preocupação <strong>de</strong> que<br />

seus alunos aprendam os números e as operações em <strong>de</strong>trimento ao ensino <strong>de</strong> conteúdos<br />

geométricos, por exemplo. Isto po<strong>de</strong> se justificar em parte, pela formação recebida.<br />

Muitos professores tiveram formação precária na área <strong>de</strong> geometria numa época em que<br />

o movimento da Matemática Mo<strong>de</strong>rna (anos 60/70) priorizava um currículo algébrico.<br />

Mesmo nos dias atuais é comum encontrar, na formação <strong>de</strong> pedagogos, disciplina que<br />

trata do bloco <strong>de</strong> números e operações como obrigatória na carga horária do curso, mas<br />

a que aborda o ensino da geometria é oferta opcional.<br />

A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> os professores das séries iniciais receberem formação neste<br />

campo é primordial porque é preciso conhecer o significado sociocultural do ensino da<br />

geometria atrelado a proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais-PCN (1997) e dos<br />

currículos com o foco num ensino que consi<strong>de</strong>ra a geometria das formas e<br />

representações; geometria das medidas e proporções e geometria da orientação e<br />

<strong>de</strong>slocamento.<br />

XVI ENDIPE - Encontro Nacional <strong>de</strong> Didática e Práticas <strong>de</strong> Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012<br />

Para Poincaré (1995) há dois tipos <strong>de</strong> matemáticos: os lógicos e os intuitivos. Os<br />

lógicos se ocupam da álgebra e os intuitivos da geometria, portanto, há uma gran<strong>de</strong><br />

diferença entre apren<strong>de</strong>r álgebra ou geometria. Apoiado nos estudos <strong>de</strong> Kant, Poincaré<br />

afirmava que a aprendizagem da álgebra se sustentava num ‘olhar para <strong>de</strong>ntro’ e a<br />

Junqueira&Marin Editores<br />

Livro 2 - p.000507<br />

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aprendizagem <strong>de</strong> conceitos geométricos se sustentava num ‘olhar para fora’ (MUNIZ e<br />

IUNES, p. 261, 2004).<br />

Pensando na construção dos conceitos geométricos sustentada num ‘olhar para<br />

fora’ po<strong>de</strong>mos afirmar que a observação e ação sobre os objetos do mundo são<br />

imprescindíveis para se apren<strong>de</strong>r geometria. Então é necessário pensar numa prática<br />

pedagógica que o aluno possa observar e agir sobre o mundo para que aconteça a<br />

aprendizagem.<br />

Muniz e Iunes (2004, p. 262) apresentam a questão: “como conceber uma<br />

proposta pedagógica da ação, da representação, da reflexão, permitindo que os conceitos<br />

geométricos sejam produtos mentais produzidos pelos próprios alunos em sua efetiva<br />

ação sobre seu mundo?” Para pensar nessa proposta os autores abordam três níveis da<br />

aprendizagem geométrica: o sensorial, o simbólico e o conceitual.<br />

O primeiro nível é o da percepção, ou seja, baseia-se nas experiências físicas e<br />

sensoriais vividas no mundo que nos cerca: sentir uma bola pelo tato, pelo olhar e/ou<br />

pelo movimento, por exemplo. Uma criança ou um adulto po<strong>de</strong> experimentar estas<br />

sensações.<br />

O segundo nível é o simbólico, das representações mentais. Baseia-se na<br />

elaboração mental da experiência vivida, como se interioriza o espaço nas estruturas<br />

mentais. As formas geométricas aparecem como forma <strong>de</strong> representação do mundo e <strong>de</strong><br />

seus objetos. A representação via <strong>de</strong>senho infantil mostra uma das dimensões da<br />

geometria.<br />

Por fim, o nível conceitual surge com o que fica <strong>de</strong> mais significativo da<br />

experiência vivenciada. A ação internalizada passa a fazer parte da estrutura conceitual<br />

que lhe dará condições <strong>de</strong> viver novas experiências. Essas se constituem ferramentas<br />

para resolver problemas o que justifica a importância do ensino da geometria nos anos<br />

iniciais.<br />

Procedimentos metodológicos<br />

Essa pesquisa <strong>de</strong> cunho qualitativo baseou-se no método <strong>de</strong> análise documental.<br />

Segundo Caulley (LUDKE E ANDRÉ, p. 38, 1996), ‘a análise documental busca<br />

i<strong>de</strong>ntificar informações factuais nos documentos a partir das questões ou hipóteses <strong>de</strong><br />

interesse’.<br />

XVI ENDIPE - Encontro Nacional <strong>de</strong> Didática e Práticas <strong>de</strong> Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012<br />

A unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> análise foram excertos que indicavam indícios da contribuição da<br />

formação continuada para o ensino-aprendizagem da geometria retirados dos relatórios<br />

Junqueira&Marin Editores<br />

Livro 2 - p.000508<br />

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<strong>de</strong> aplicação da TI do Fascículo 3 <strong>de</strong> duas professoras cursistas que atuavam no 1° e no<br />

3° ano do ensino fundamental. A letra P refere-se sempre a fala da professora e a letra C<br />

acompanhada <strong>de</strong> um número refere-se a fala <strong>de</strong> diferentes crianças i<strong>de</strong>ntificadas pela<br />

professora e a letra C, sem número, representa a fala <strong>de</strong> crianças não i<strong>de</strong>ntificadas<br />

nominalmente pela professora.<br />

Acreditamos que os registros dos professores com a participação dos alunos são<br />

documentos que nos permitem ter acesso a prática pedagógica e ao mesmo tempo<br />

refletir sobre o significado da formação que estamos realizando. As imagens através das<br />

fotos e <strong>de</strong>senhos produzidos pelos alunos para realizar a ativida<strong>de</strong> também contribuem<br />

com a análise.<br />

XVI ENDIPE - Encontro Nacional <strong>de</strong> Didática e Práticas <strong>de</strong> Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012<br />

A geometria proposta no Programa Pró-Letramento em Matemática e o trabalho<br />

das tutoras no DF<br />

O Fascículo 3, Espaço e Forma, do Pró-Letramento Matemática, elaborado pela<br />

Universida<strong>de</strong> do Vale do Rio dos Sinos baseou-se nas orientações do PCN/1997 com<br />

<strong>de</strong>staque aos seguintes aspectos conceituais e procedimentais: localização e<br />

movimentação no espaço a partir <strong>de</strong> diferentes pontos <strong>de</strong> referência; observação e<br />

reconhecimento <strong>de</strong> formas geométricas presentes na natureza e nos objetos criados pelo<br />

ser humano; exploração e criação <strong>de</strong> situações que envolvam formas geométricas.<br />

Para <strong>de</strong>senvolver o trabalho <strong>de</strong> formação com os cursistas, a equipe <strong>de</strong> tutoras do<br />

Pró-Letramento Matemática, do Distrito Fe<strong>de</strong>ral, baseou-se na formação do<br />

CFORM/UnB, no estudo do fascículo, no Currículo <strong>de</strong> Educação Básica da <strong>SEEDF</strong>, nas<br />

orientações do Prof. Dr. Cristiano Alberto Muniz, da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Educação/UnB e em<br />

outras fontes pesquisadas.<br />

Após estudos sobre geometria, as tutoras planejaram os encontros seguindo a<br />

lógica da problematização-ação-reflexão. A proposta articulou as ativida<strong>de</strong>s lúdicas com<br />

a construção dos conceitos básicos. Os objetivos traçados para a formação do eixo<br />

Espaço e Forma foram:<br />

Reconhecer situações que favoreçam o estudo da geometria da localização e<br />

movimentação/<strong>de</strong>slocamento no espaço.<br />

Associar figuras planas e espaciais.<br />

Evi<strong>de</strong>nciar a importância do manuseio e exploração <strong>de</strong> figuras planas e espaciais,<br />

pela criança, para percepção das características das mesmas.<br />

Comparar planificações <strong>de</strong> formas tridimensionais.<br />

Construir figuras tridimensionais a partir <strong>de</strong> mol<strong>de</strong>s.<br />

I<strong>de</strong>ntificar as características das figuras planas (bidimensionais) e espaciais<br />

(tridimensionais).<br />

Explorar a habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> observação e reconhecimento <strong>de</strong> formas geométricas<br />

presentes na natureza e nos objetos criados pelo ser humano, bem como suas<br />

características (arredondados ou não, simétricos ou não...).<br />

Estabelecer comparações entre objetos do espaço físico e objetos geométricos.<br />

Perceber como o trabalho com geometria po<strong>de</strong> favorecer o <strong>de</strong>senvolvimento do<br />

senso estético.<br />

Junqueira&Marin Editores<br />

Livro 2 - p.000509<br />

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Analisar a importância da construção <strong>de</strong> maquete e planta baixa para o<br />

reconhecimento do espaço vivido, percebido e representado.<br />

Construir o tangran e perceber suas possibilida<strong>de</strong>s matemáticas e artísticas.<br />

Ampliar e reduzir figuras em papel quadriculado (<strong>SEEDF</strong>/<strong>EAPE</strong>,<br />

PLANEJAMENTO DOS ENCONTROS DA FORMAÇÃO EM 2011, MIMEO).<br />

A formação realizada nas salas <strong>de</strong> aula, com os cursistas procurou <strong>de</strong>senvolver<br />

uma proposta que pu<strong>de</strong>sse provocar reflexão sobre suas próprias aprendizagens com o<br />

bloco Espaço e Forma e sobre o fazer pedagógico que gera a aprendizagem das crianças<br />

nas escolas da re<strong>de</strong> pública do DF. Nas quatro aulas <strong>de</strong>dicadas ao estudo <strong>de</strong> geometria<br />

os professores cursistas foram convidados a observar e a agir sobre materiais, discutindo<br />

temas, levantando questões, enfim agindo a partir <strong>de</strong> uma problematização com vistas à<br />

reflexão da construção <strong>de</strong> conceitos geométricos.<br />

A aplicação da TI e as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem da geometria<br />

A formação do Pró-Letramento prevê que o professor participante realize<br />

ativida<strong>de</strong>s em sala <strong>de</strong> aula, com seus alunos, sobre os temas propostos no fascículo e<br />

que estas experiências sejam relatadas. Essas ativida<strong>de</strong>s são chamadas <strong>de</strong> tarefa<br />

individual <strong>–</strong>TI. Para o fascículo Espaço e Forma os professores realizaram uma TI com<br />

seus alunos <strong>de</strong> acordo com o ano em que atuavam. A TI escolhida para discussão nesse<br />

<strong>artigo</strong> foi aplicada em turmas <strong>de</strong> 1º ao 3º ano do ensino fundamental <strong>de</strong> 9 anos.<br />

TI proposta: usar diversas embalagens para as crianças realizarem classificações e<br />

comparações, observando as formas que as compõem sem se preocupar com<br />

nomenclaturas matemáticas. Organizar em grupos as embalagens e comparar com<br />

objetos da sala. Fazer relatório. Anexar registros das crianças e/ou fotos<br />

(SEDF/<strong>EAPE</strong>, Planejamento do 2º encontro, 2011).<br />

Escolhemos duas professoras que aplicaram a ativida<strong>de</strong> acima para discorremos<br />

sobre nossas observações e reflexões baseando-nos nas questões iniciais.<br />

A primeira professora <strong>de</strong>senvolveu a proposta acima em seis aulas, mas vamos<br />

trazer excertos <strong>de</strong> algumas aulas e comentá-los.<br />

ocorreu:<br />

XVI ENDIPE - Encontro Nacional <strong>de</strong> Didática e Práticas <strong>de</strong> Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012<br />

Na 2ª aula o objetivo foi separar as embalagens (classificação). O diálogo assim<br />

P: Perguntei a cada um como haviam separado as embalagens.<br />

C 6: “separei garrafas e <strong>de</strong>tergentes porque são <strong>de</strong> plástico”;<br />

C 3: “Papel higiênico tem a mesma forma do copo <strong>de</strong> iogurte”;<br />

C 5: “Caixa <strong>de</strong> ovo e <strong>de</strong> morango são quase iguais, as latas são iguais”;<br />

C 7: “os 3 (três) <strong>de</strong>tergentes, as garrafas <strong>de</strong> coca e pepsi, são a mesma coisa; latinha<br />

com latinha, remédio com remédio, iogurte com iogurte” (EXCERTO, Relatório da TI<br />

2, FASCÍCULO 3, Professora A, 2011).<br />

A professora propôs uma exploração das embalagens bastante interessante. Cada<br />

aula abordou um objetivo que foi sendo incorporado aos anteriores nas explorações que<br />

as crianças fizeram. A leitura inicial foi <strong>de</strong> cada embalagem e aos poucos ampliou<br />

fazendo comparações trazendo à tona os sete processos mentais num trabalho em que<br />

Junqueira&Marin Editores<br />

Livro 2 - p.000510<br />

6


cada grupo <strong>de</strong> crianças observava, manipulava, comparava, classificava e <strong>de</strong>pois<br />

comunicava o que fez para a professora e os colegas.<br />

O processo <strong>de</strong> classificar pressupõe comparar e observar as características das<br />

embalagens, <strong>de</strong> suas formas, se há retas ou curvas... o que futuramente ajudará na<br />

construção das <strong>de</strong>finições das figuras geométricas.<br />

Na 3ª aula, a professora teve por objetivo comparar as embalagens com objetos<br />

da sala <strong>de</strong> aula:<br />

XVI ENDIPE - Encontro Nacional <strong>de</strong> Didática e Práticas <strong>de</strong> Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012<br />

P- Na rodinha, as crianças mostraram as embalagens que trouxeram. Em seguida<br />

mostrei uma caixa <strong>de</strong> tinta <strong>de</strong> cabelo e perguntei: “Tem alguma coisa na nossa sala<br />

que se parece com essa embalagem?”<br />

Eles respon<strong>de</strong>ram:<br />

Crianças - armário, quadro, gavetas, caixas, cartazes, murais, apagador, mesa, a sala,<br />

estante (prateleiras da estante), porta, espelho, calendário, pare<strong>de</strong>, pasta (EXCERTO,<br />

Relatório da TI 2, FASCÍCULO 3, Professora A, 2011).<br />

A proposta não ficou só entre as embalagens era preciso observá-las e compará-<br />

las com outros objetos da sala chamando a atenção para as formas do lugar em que<br />

estavam, ou seja, uma nova leitura do ambiente que ocupavam. Olhar a forma <strong>de</strong> uma<br />

caixa <strong>de</strong> tinta para cabelo e comparar com a mesa, o armário, o espelho da sala <strong>de</strong> aula.<br />

Na 4ª aula o objetivo foi comparar as embalagens com o que viram na rua, no<br />

percurso <strong>de</strong> casa até a escola<br />

P- Nesta 4ª aula o <strong>de</strong>senvolvimento do trabalho foi no dia 26/08 (6ª feira), cumprindo<br />

o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> casa da aula anterior. Algumas embalagens foram mostradas para que<br />

dissessem o que viram <strong>de</strong> parecido no percurso. Segue:<br />

- C: Lata <strong>de</strong> Fanta: “pau pequeno <strong>de</strong> plantas”;<br />

- C : Caixa <strong>de</strong> leite: “prédio, poste, rua”;<br />

- C: Caixa <strong>de</strong> remédio: “carro e prédio <strong>de</strong> comércio”;<br />

- C: Álcool: “poste, caixa d’água”;<br />

- C: Sabonete líquido sem tampa: “casa com chaminé” (EXCERTO, Relatório da TI 2,<br />

FASCÍCULO 3, Professora A, 2011).<br />

Surgiram várias comparações e a imaginação ganhou espaço neste olhar <strong>de</strong><br />

observação e <strong>de</strong>scoberta. Ver uma caixa <strong>de</strong> remédio em sala <strong>de</strong> aula e pensar nas<br />

semelhanças com o carro, que viu na rua, ver um sabonete líquido sem tampa e pensar<br />

numa casa com chaminé... É isto mesmo! Buscar nas formas as semelhanças e po<strong>de</strong>r<br />

explicá-las. Esta construção <strong>de</strong> que a geometria das formas está na vida, em tudo ao<br />

nosso redor e que a escola não po<strong>de</strong> se apegar apenas ao ensino <strong>de</strong> nomenclaturas.<br />

Em nenhum momento a professora usou nomenclaturas específicas para explorar<br />

as formas e estabelecer comparações. Em todos os momentos as crianças estavam<br />

construindo i<strong>de</strong>ias matemáticas com a exploração das caixas: tamanho, forma, linhas<br />

retas, curvas, enfim estavam vivenciando e refletindo conceitos geométricos.<br />

Na 5ª aula o objetivo era comparar as embalagens entre si. Segue o trecho:<br />

P- A proposta do trabalho foi comparação <strong>de</strong> embalagens. Segue algumas<br />

comparações e opiniões das crianças:<br />

Junqueira&Marin Editores<br />

Livro 2 - p.000511<br />

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- C: Caixa <strong>de</strong> leite com caixa <strong>de</strong> sabão em pó: “tamanho”;<br />

- C 3: Garrafa <strong>de</strong> coca com caixa <strong>de</strong> leite: “a garrafa é um círculo e a caixa é um<br />

retângulo”;<br />

- C: Fôrma <strong>de</strong> bolo <strong>de</strong> plástico: “círculo” (EXCERTO, Relatório da TI 2,<br />

FASCÍCULO 3, Professora A, 2011).<br />

A exploração, primeiramente, <strong>de</strong> cada embalagem e, <strong>de</strong>pois, a comparação entre<br />

elas com os objetos da sala e da rua provocou uma observação e percepção <strong>de</strong> mundo da<br />

criança mostrando uma relação muito natural entre ela e a matemática que está nas<br />

formas.<br />

Percebemos na leitura <strong>de</strong>ste relatório comparando com os relatórios anteriores,<br />

<strong>de</strong>sta professora, uma atitu<strong>de</strong> diferenciada em relação à forma como organizou o<br />

trabalho pedagógico: a professora estava construindo uma nova prática em que as<br />

crianças tiveram voz, portanto, ela perguntava, as crianças respondiam e o trabalho<br />

seguia com o envolvimento <strong>de</strong> todos. No entanto, é preciso ir além e um novo <strong>de</strong>safio<br />

surge: propor à professora a problematização das falas das crianças, confrontar,<br />

<strong>de</strong>volver a pergunta, pedir explicações, promover o <strong>de</strong>bate. Provocar um repensar sobre<br />

o próprio pensamento e sobre o falado para que cheguem a algumas conclusões ou<br />

manifestem as discordâncias. A riqueza do <strong>de</strong>bate é ambiente fértil para a construção <strong>de</strong><br />

conceitos, para a ampliação <strong>de</strong> estruturas cognitivas que irão contribuir no processo <strong>de</strong><br />

aprendizagem.<br />

Ao final do relatório a professora do 1º ano realizou alguns registros<br />

importantes:<br />

Exploração da TI com as crianças<br />

Esta foi a TI, em que eu mais me aprofun<strong>de</strong>i. Desenvolvi várias ativida<strong>de</strong>s com o<br />

mesmo material por mais tempo. Até foto eu tirei. Só consegui colocá-las no trabalho<br />

porque tive a ajuda <strong>de</strong> uma colega, mas tudo bem. Mais uma coisa que aprendi.<br />

Acredito que foi a melhor TI, no sentido <strong>de</strong> exploração. A aplicação das TIs anteriores<br />

levou no máximo dois dias. Ainda não <strong>de</strong>scobri o porquê <strong>de</strong>senvolvi esta TI <strong>de</strong> forma<br />

diferente. Cheguei a conclusão que é melhor explorar uma única coisa em vários<br />

sentidos, como foi o trabalho com as embalagens, on<strong>de</strong> as crianças se envolveram<br />

trazendo suas embalagens, do que apresentar um conteúdo <strong>de</strong> uma única forma.<br />

O resultado disso tudo é a empolgação das crianças <strong>de</strong> continuarem trazendo<br />

embalagens todos os dias (EXCERTO, Relatório da TI 2, FASCÍCULO 3, Professora<br />

A, 2011).<br />

A leitura dos relatórios <strong>de</strong> todas as ativida<strong>de</strong>s realizadas pela professora com sua<br />

turma, nos mostra como o processo <strong>de</strong> ensino e aprendizagem foi sendo refletido, por<br />

ela, ao longo da formação. Nas primeiras TI percebemos uma professora que explicava<br />

e dizia como fazer, a fala e a ação das crianças quase não apareciam, não discutiam<br />

i<strong>de</strong>ias, as ativida<strong>de</strong>s relatadas focavam uma matemática pronta e acabada com mo<strong>de</strong>los<br />

próprios.<br />

XVI ENDIPE - Encontro Nacional <strong>de</strong> Didática e Práticas <strong>de</strong> Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012<br />

Ao longo do curso a professora muda sem perceber, e se questiona...”ainda não<br />

<strong>de</strong>scobri o porquê <strong>de</strong>senvolvi esta TI <strong>de</strong> forma diferente”. Ao realizar esta TI ela<br />

Junqueira&Marin Editores<br />

Livro 2 - p.000512<br />

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XVI ENDIPE - Encontro Nacional <strong>de</strong> Didática e Práticas <strong>de</strong> Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012<br />

<strong>de</strong>monstra outra postura: pergunta, ouve, registra, não se preocupa com nomenclaturas,<br />

explora em seis aulas uma ativida<strong>de</strong> para só <strong>de</strong>pois escrever o relatório, ou seja, não se<br />

mostra presa ao ‘tempo escolar’, mas envolve-se com o tempo da aprendizagem.<br />

Ao ler esse relatório percebemos a participação e envolvimento das crianças com<br />

a ativida<strong>de</strong>. Falam, expressam suas opiniões e a professora percebe a mudança: “O<br />

resultado disso tudo é a empolgação das crianças <strong>de</strong> continuarem trazendo embalagens<br />

todos os dias.” ((EXCERTO, Relatório da TI 2, FASCÍCULO 3, Professora A, 2011).<br />

Então, surge a fala da importância do registro do professor:<br />

Outro enfoque para esta TI foram as anotações. Eu peguei um papel e fui anotando<br />

tudo que as crianças iam falando. O registro faz toda a diferença. Na realização das<br />

outras TIs não anotei tanto quanto nesta. Isto fez a diferença (EXCERTO, Relatório<br />

da TI 2, FASCÍCULO 3, Professora A, 2011).<br />

O registro ganhou espaço no trabalho da professora e ela percebeu a importância<br />

<strong>de</strong> estar atenta ao que as crianças falavam e faziam: “O registro faz toda a diferença”<br />

(EXCERTO, Relatório da TI 2, FASCÍCULO 3, Professora A, 2011).<br />

A professora registrou a fala das crianças que é muito importante para que ela<br />

exercite um segundo momento que é <strong>de</strong> fazer seus próprios registros sobre o que as<br />

crianças <strong>de</strong>monstraram saber em cada momento da aula, o que apren<strong>de</strong>ram com as<br />

outras, o que apren<strong>de</strong>ram após uma mediação, que frutos estas aulas geraram em termos<br />

<strong>de</strong> aprendizagem da geometria. É possível também perceber aprendizagens <strong>de</strong> outras<br />

naturezas e registrar.<br />

A concepção <strong>de</strong> aprendizagem discutida na formação reforçava constantemente a<br />

importância da participação da criança: na fala, na escrita, no gesto, no calar, no não<br />

querer fazer. Mas a criança não só apren<strong>de</strong>, ela também ensina: aos colegas e à<br />

professora. No trabalho em grupo há gran<strong>de</strong>s oportunida<strong>de</strong>s das crianças apren<strong>de</strong>rem<br />

umas com as outras. A professora que observa, que registra, que acompanha com<br />

atenção o que as crianças fazem apren<strong>de</strong> com elas o que <strong>de</strong>ve fazer para ajudá-las a<br />

progredir cada vez mais.<br />

A avaliação da TI<br />

A realização <strong>de</strong>sta TI contribuiu muito para mim e para os alunos. Reforcei meu<br />

aprendizado <strong>de</strong> que o contexto, sendo participativo, é muito mais proveitoso e rico em<br />

assimilação <strong>de</strong> conhecimentos novos e aprofundamento dos que já existem. <strong>Este</strong><br />

trabalho no concreto para os alunos <strong>de</strong> 1º ano foi também muito proveitoso, porque<br />

com certeza, conceitos se interiorizaram e quando forem apresentados conceitos mais<br />

avançados e nomenclaturas geométricas, eles terão em mente o que foi trabalhado no<br />

concreto. Assim não terão dificulda<strong>de</strong> em conceitos geométricos (EXCERTO,<br />

Relatório da TI 2, FASCÍCULO 3, Professora A, 2011).<br />

Ao avaliar a aplicação da ativida<strong>de</strong> a professora fala da importância do material<br />

utilizado e do contexto participativo para favorecer o processo <strong>de</strong> aprendizagem. Sem<br />

dúvida o material a<strong>de</strong>quado e na mão das crianças faz toda diferença no trabalho<br />

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pedagógico: as crianças apren<strong>de</strong>m a fazer fazendo, umas com as outras e com a<br />

professora.<br />

A mesma TI aplicada numa turma <strong>de</strong> 3º ano<br />

A professora registrou o que aconteceu na aula a partir das propostas vivenciadas no<br />

Pró-Letramento Matemática, no entanto apareceu também o relato <strong>de</strong> uma ativida<strong>de</strong> que<br />

não foi prevista no planejamento da TI: representação da sala <strong>de</strong> aula usando as<br />

embalagens, mas esta ativida<strong>de</strong> foi vivenciada pela professora na sala <strong>de</strong> formação.<br />

No primeiro momento da aula o objetivo foi <strong>de</strong> explorar para classificar as<br />

embalagens. Veja a proposta e o relato:<br />

10<br />

[...] solicitei à turma que separasse as embalagens do jeito que achassem<br />

melhor. A maioria pegou rapidamente embalagens <strong>de</strong> diversos tipos e<br />

tamanhos e começou a formar grupos: embalagens <strong>de</strong> formas e tamanhos<br />

semelhantes foram colocadas perto uma da outra, mas ainda assim, tinha<br />

algumas embalagens ‘fora do lugar’. No momento seguinte, pedi à classe<br />

que formasse pequenos grupos, <strong>de</strong> acordo com as embalagens separadas.<br />

Questionei se todas as embalagens que foram agrupadas juntas possuíam<br />

a mesma forma. Alguns grupos <strong>de</strong>scobriram que haviam embalagens <strong>de</strong><br />

formas diferenciadas num mesmo grupo e colocaram as embalagens no<br />

lugar esperado (EXCERTO, Relatório da TI 2, FASCÍCULO 3,<br />

Professora B, 2011).<br />

A professora propôs uma exploração das embalagens bastante interessante. A<br />

dinâmica da aula incluiu cada objetivo previsto. Sentados em círculo com todo o<br />

material exposto as crianças foram agindo sobre os objetos, trazidos por elas,<br />

analisando, agrupando e socializando. À medida que a professora lançava novas<br />

questões ou realizava alguma abordagem provocava uma nova ação sobre o material.<br />

Inicialmente, a professora sugeriu que separassem como ‘acharem melhor’. As<br />

crianças realizaram a proposta, mas sob o olhar da professora algumas embalagens<br />

ficaram ‘fora do lugar’. Como garantir que aquelas embalagens estavam ‘fora do lugar’?<br />

Aqui faz-se necessário o diálogo professor <strong>–</strong> aluno para garantir a compreensão da<br />

proposta feita pela professora bem como a compreensão da ação realizada pelas<br />

crianças.<br />

XVI ENDIPE - Encontro Nacional <strong>de</strong> Didática e Práticas <strong>de</strong> Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012<br />

No trecho abaixo surge uma questão que diferencia poliedros e não-poliedros:<br />

Um dos grupos havia separado embalagens que lembram um cilindro e achei<br />

bastante interessante quando <strong>de</strong> imediato disseram: “Essas rolam...”<br />

Oportunizei às crianças que experimentassem pegar algumas <strong>de</strong>ssas<br />

embalagens e brincar com elas... Foi um momento muito bacana: crianças se<br />

divertindo e apren<strong>de</strong>ndo [...] (EXCERTO, Relatório da TI 2, FASCÍCULO 3,<br />

Professora B, 2011).<br />

Um ponto significativo no trabalho é quando as crianças falam das embalagens<br />

que rolam e a professora oportuniza que brinquem com as formas neste momento. Uma<br />

Junqueira&Marin Editores<br />

Livro 2 - p.000514


oa oportunida<strong>de</strong> para perceberem as características que diferenciam as formas umas<br />

das outras.<br />

Neste momento da aula o objetivo é comparar as embalagens com objetos da<br />

sala <strong>de</strong> aula. No relatório, a professora diz:<br />

11<br />

A proposta seguinte foi i<strong>de</strong>ntificar e comparar embalagens com objetos da<br />

sala <strong>de</strong> aula. Cada criança pegou uma embalagem e falou com qual objeto<br />

esta se parecia. Desenharam a embalagem e o objeto com o qual esta se<br />

parecia (EXCERTO, Relatório da TI 2, FASCÍCULO 3, Professora B, 2011).<br />

As crianças realizam a comparação das embalagens com objetos da sala e<br />

ilustram. Aqui seria um momento interessante para trazer as falas das crianças, apesar<br />

da professora anexar os <strong>de</strong>senhos que <strong>de</strong> fato são bem elaborados e em geral<br />

<strong>de</strong>monstram boa percepção espacial, representação mental da figura espacial para um<br />

plano e i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> proporção. Ainda aproveitando as embalagens, as crianças fizeram<br />

uma representação da sala <strong>de</strong> aula e uma <strong>de</strong>las <strong>de</strong>senhou a representação. Percebe-se<br />

pelo relato da professora o envolvimento da turma na realização da ativida<strong>de</strong>.<br />

Registro da professora sobre o que sabem as crianças. Segue o relato:<br />

No momento <strong>de</strong> realização das ativida<strong>de</strong>s, percebi que as crianças conhecem<br />

e distinguem um quadrado <strong>de</strong> um retângulo, figuras que rolam e figuras que<br />

não rolam, formas e tamanhos, altura, base quadrada, base retangular, base<br />

circular [...](EXCERTO, Relatório da TI 2, FASCÍCULO 3, Professora B,<br />

2011).<br />

Esse trecho é extremamente importante porque mostra que a professora está<br />

atenta à participação das crianças. Essa consciência do que as crianças já sabem sobre o<br />

assunto é fundamental para o planejamento das próximas aulas com geometria.<br />

A leitura dos relatórios <strong>de</strong> todas as ativida<strong>de</strong>s realizadas pela professora, com<br />

sua turma, nos mostra que, para além da TI proposta, ela realizava outras ativida<strong>de</strong>s<br />

relacionadas ao curso, no entanto, sentimos falta do registro dos diálogos que<br />

certamente se estabeleceram nesta aula.<br />

Nos relatórios aparecem comentários da professora que se referem à importância<br />

das ativida<strong>de</strong>s, da participação da turma e da própria visão da professora em relação ao<br />

trabalho com o lúdico para gerar aprendizagem matemática.<br />

Consi<strong>de</strong>rações Finais<br />

Retornamos as nossas questões iniciais <strong>de</strong> pesquisa para proce<strong>de</strong>r às consi<strong>de</strong>rações<br />

finais <strong>de</strong>ste trabalho: a formação por meio do Pró-Letramento Matemática traria uma<br />

contribuição pedagógica aos professores? Esta contribuição chegaria às salas <strong>de</strong> aula? O<br />

relatório da TI nos daria algumas pistas <strong>de</strong> como estaria sendo realizado o trabalho com<br />

as crianças?<br />

XVI ENDIPE - Encontro Nacional <strong>de</strong> Didática e Práticas <strong>de</strong> Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012<br />

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Percebemos nos relatórios das duas professoras a presença das i<strong>de</strong>ias discutidas<br />

por MUNIZ e IUNES sobre os três níveis da aprendizagem geométrica: o sensorial, o<br />

simbólico e o conceitual. As duas primeiras aparecem com mais clareza, a última<br />

necessitando ser melhor <strong>de</strong>senvolvida.<br />

Nossas conclusões a partir da leitura e análise dos relatórios das duas professoras<br />

dão-nos condições <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r afirmativamente às três questões. Relatos da aula,<br />

imagens e produções das crianças que aparecem nos dois relatórios da aplicação da TI<br />

são, para nós, indícios <strong>de</strong> que as professoras estão levando para suas salas <strong>de</strong> aulas<br />

contribuições pedagógicas da formação do Pró-Letramento Matemática.<br />

Referências<br />

XVI ENDIPE - Encontro Nacional <strong>de</strong> Didática e Práticas <strong>de</strong> Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012<br />

[BRASIL] Ministério da Educação <strong>–</strong> Secretaria <strong>de</strong> Educação Fundamental. Parâmetros<br />

Curriculares Nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1997.<br />

FONSECA, M. da C. C. F. R. et al. O ensino <strong>de</strong> geometria na escola fundamental:<br />

três questões para a formação do professor dos ciclos iniciais. Belo Horizonte:<br />

Autêntica, 2001.<br />

LUDKE, M; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em Educação: abordagens qualitativas.<br />

São Paulo: EPU, 1986.<br />

MUNIZ C.A.; IUNES, S. Apren<strong>de</strong>ndo a apren<strong>de</strong>r: Fundamentos Teóricos e<br />

Metodológicos da Matemática II. p. 195-309. DF: UniCEUB; Convênio com a<br />

Secretaria <strong>de</strong> Educação - GDF, 2005.<br />

PIRES, C. M. C.; CAMPOS, T. M. M. Espaço e forma: a construção <strong>de</strong> noções<br />

geométricas pelas crianças das quatro séries iniciais do Ensino Fundamental. São Paulo:<br />

PROEM, 2000.<br />

POINCARÉ, H. O valor da ciência. Tradução Maria Helena Franco Martins; revisão<br />

técnica Il<strong>de</strong>u <strong>de</strong> Castro Moreira <strong>–</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro: Contraponto, 1995.<br />

Pró-Letramento: Programa <strong>de</strong> Formação Continuada <strong>de</strong> Professores dos<br />

Anos/Séries Iniciais do Ensino Fundamental: matemática, - Ed rev. e ampl.<br />

Incluindo SAEB/Prova Brasil matriz <strong>de</strong> referência/ Secretaria <strong>de</strong> Educação Básica <strong>–</strong><br />

Brasília: Ministério da Educação, Secretaria <strong>de</strong> Educação Básica. 2008. 308 p.<br />

SALTINI, C. J. P. Afetivida<strong>de</strong> e inteligência. Vol. 1: a emoção na educação. 3 ed. <strong>–</strong><br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro: DP&A, 1999.<br />

SCHMITZ, C. C.; LEDUR. E. A.; MILANI, M. N. Geometria <strong>de</strong> 1ª a 4ª série: uma<br />

brinca<strong>de</strong>ira séria. São Leopoldo: ED. UNISINOS, 1994.<br />

[<strong>SEEDF</strong>] <strong>EAPE</strong>. PRÓ-LETRAMENTO. As Tarefas Individuais-TI, 2011a, mimeo.<br />

______. Tarefa Individual, Fascículo 3, 2011b, mimeo.<br />

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Livro 2 - p.000516<br />

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