Poesia Estrangeira - Academia Brasileira de Letras
Poesia Estrangeira - Academia Brasileira de Letras
Poesia Estrangeira - Academia Brasileira de Letras
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Tradução <strong>de</strong> Geraldo Holanda Cavalcanti<br />
nesta estação que é a nossa,<br />
em teu cerrado silêncio<br />
está a tua força. Como<br />
a relva que o vento anima<br />
estremeces e ris,<br />
mas tu, tu és terra.<br />
És raízes ferozes.<br />
És a terra que espera.<br />
21 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1950<br />
Virá a morte e terá teus olhos –<br />
esta morte que nos acompanha<br />
<strong>de</strong> manhã até a noite, insone,<br />
surda, como um velho remorso<br />
ou um vício absurdo. Teus olhos<br />
serão uma palavra inútil,<br />
um grito sustado, um silêncio.<br />
Assim os vês cada manhã<br />
quando te <strong>de</strong>bruças, solitária,<br />
frente ao espelho. Ó cara esperança,<br />
nesse dia saberemos nós, também,<br />
que és a vida e és o nada.<br />
Tem para todos, a morte, um olhar próprio.<br />
Virá a morte e terá teus olhos.<br />
Será como cessar um vício,<br />
como ver no espelho<br />
ressurgir um rosto morto.<br />
como escutar um lábio cerrado.<br />
Afundaremos mudos na voragem.<br />
22 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1950<br />
236