Apostila de Literatura 3º M,N
Apostila de Literatura 3º M,N
Apostila de Literatura 3º M,N
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
LITERATURA<br />
AULA 5: RENASCIMENTO - CLASSICISMO<br />
EIXOS: M4,M5; H12,H13,H14,H15,H16,H17; C2,C3,C4,C5<br />
OBJETIVOS<br />
• De que forma a lírica camoniana apresenta a superação <strong>de</strong> interesses<br />
individuais sobre os do coletivo?<br />
• Os Lusíadas se compõem em três planos. Quais são suas funções? Por<br />
que os <strong>de</strong>uses são tão importantes para o enredo?<br />
• De que maneira Camões atualiza a estética <strong>de</strong> Petrarca e como,<br />
posteriormente, influenciará as futuras escolas literárias?<br />
TÓPICOS – PESQUISA<br />
• Camões – Lírico<br />
• Camões – Épico<br />
• Temas poéticos:<br />
• Mulher x mulher<br />
• Amor x amor<br />
• Desconcerto do mundo - conflito<br />
entre ser e o <strong>de</strong>ver ser<br />
• Mutabilida<strong>de</strong> das coisas<br />
• Sauda<strong>de</strong><br />
• Fado<br />
• Maneirismo<br />
• Forma x universais<br />
• Antítese<br />
• Paradoxo – oximoro<br />
• Hipérbato<br />
• Fusionismo<br />
• Neoplatonismo<br />
• Cantos Líricos<br />
CARACTERÍSTICAS DA EPOPEIA<br />
FORMA<br />
Dez cantos<br />
• 8816 versos<br />
• 1102 estrofes<br />
• Decassílabos heroicos - 3 sáficos<br />
• Oitava rima<br />
As armas e os barões assinalados, A<br />
Que da oci<strong>de</strong>ntal praia Lusitana, B<br />
Por mares nunca <strong>de</strong> antes navegados, A<br />
Passaram ainda além da Taprobana, B<br />
Em perigos e guerras esforçados, A<br />
Mais do que prometia a força humana, B<br />
E entre gente remota edificaram C<br />
Novo Reino, que tanto sublimaram; C<br />
ESTILO<br />
Estilo elevado ; grandiloquente<br />
Arte = eloquência<br />
Engenho = talento<br />
PARTES<br />
PROPOSIÇÃO: canto I, estrofe 1,2 e 3 - exposição do assunto;<br />
apresenta heróis (Herói coletivo: povo português > representado por<br />
Vasco da Gama):<br />
E também as memórias gloriosas<br />
Daqueles Reis, que foram dilatando<br />
A Fé, o Império, e as terras viciosas<br />
De África e <strong>de</strong> Ásia andaram <strong>de</strong>vastando;<br />
E aqueles, que por obras valerosas<br />
Se vão da lei da morte libertando;<br />
Cantando espalharei por toda parte,<br />
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.
INVOCAÇÃO: canto I, estrofe 4 e 5 - pe<strong>de</strong> inspiração às musas, dirige-<br />
-se às Tági<strong>de</strong>s, musa do rio Tejo:<br />
E vós, Tági<strong>de</strong>s minhas, pois criado<br />
Ten<strong>de</strong>s em mim um novo engenho ar<strong>de</strong>nte,<br />
Se sempre em verso humil<strong>de</strong> celebrado<br />
Foi <strong>de</strong> mim vosso rio alegremente,<br />
Dai-me agora um som alto e sublimado,<br />
Um estilo grandíloquo e corrente,<br />
Porque <strong>de</strong> vossas águas, Febo or<strong>de</strong>ne<br />
Que não tenham inveja às <strong>de</strong> Hipocrene.<br />
• DEDICATÓRIA: canto I, estrofes 6 a 18 - A epopeia é <strong>de</strong>dicada ao rei<br />
D. Sebastião:<br />
E vós, ó bem nascida segurança<br />
Da Lusitana antígua liberda<strong>de</strong>,<br />
E não menos certíssima esperança<br />
De aumento da pequena Cristanda<strong>de</strong>;<br />
Vós, ó novo temor da Maura lança,<br />
Maravilha fatal da nossa ida<strong>de</strong>,<br />
Dada ao mundo por Deus, que todo o man<strong>de</strong>,<br />
Para do mundo a Deus dar parte gran<strong>de</strong>;<br />
• NARRAÇÃO: canto I, início na estrofe 19 até canto X, estrofe 144 - é o<br />
centro <strong>de</strong> ações da obra; narra os feitos heroicos e as ações dos Deuses.<br />
Já no largo Oceano navegavam,<br />
As inquietas ondas apartando;<br />
Os ventos brandamente respiravam,<br />
Das naus as velas côncavas inchando;<br />
Da branca escuma os mares se mostravam<br />
Cobertos, on<strong>de</strong> as proas vão cortando<br />
As marítimas águas consagradas,<br />
Que do gado <strong>de</strong> Próteo são cortadas<br />
• EPÍLOGO: canto X, estrofes 145 a 156 - é o encerramento do poema. Tom<br />
melancólico e lamentação. Traços maneiristas.<br />
Nô mais, Musa, nô mais, que a Lira tenho<br />
Destemperada e a voz enrouquecida,<br />
E não do canto, mas <strong>de</strong> ver que venho<br />
Cantar a gente surda e endurecida.<br />
O favor com que mais se acen<strong>de</strong> o engenho<br />
Não no dá a pátria, não, que está metida<br />
No gosto da cobiça e na ru<strong>de</strong>za<br />
Düa austera, apagada e vil tristeza.<br />
CANTO HISTÓRICO VIAGEM DEUSES - Cantos líricos<br />
I Moçambique<br />
Oceano Índico<br />
II Moçamba/ Mombaça,<br />
Guia - emboscada<br />
III Dinastia Borgonha<br />
Dinastia Avis<br />
Revolução <strong>de</strong> Avis<br />
Geografia <strong>de</strong> Portugal<br />
IV Batalha <strong>de</strong> Aljubarrota<br />
D.Manuel - experiências<br />
náuticas<br />
Chegada a Melin<strong>de</strong><br />
Conta a história <strong>de</strong><br />
Portugal a pedido do rei<br />
V Tromba marítima<br />
Escorbuto - perda <strong>de</strong><br />
vitamina C<br />
Concílio dos Deuses<br />
Baco tenta enganar os<br />
portugueses<br />
Vênus intervém<br />
Inês <strong>de</strong> Castro<br />
Ainda em Melin<strong>de</strong> Velho do Restelo<br />
Gigante Adamastor<br />
VI Veloso: os 12 da Inglaterra Saem <strong>de</strong> Melin<strong>de</strong> Baco convence Netuno e<br />
Éolo - tempesta<strong>de</strong>s<br />
Vênus salva os<br />
portugueses<br />
VII Chegada à Índia:<br />
Samorin<br />
1º contatos<br />
Descrição das Índias<br />
VIII Símbolos da ban<strong>de</strong>ira <strong>de</strong><br />
Portugal<br />
Pedro da Gama explica<br />
ao Catual os símbolos<br />
da ban<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Portugal<br />
Comércio<br />
Relações tumultuadas<br />
Camões lamenta<br />
IX Fuga da Índia llha dos amores<br />
X Regresso Máquina do mundo<br />
Favores das ninfas<br />
Previsões sobre o futuro<br />
português<br />
Epílogo: lamentações <strong>de</strong><br />
Camões
TEXTOS – EXEMPLOS<br />
CAMÕES - LÍRICO<br />
Amor é fogo que ar<strong>de</strong> sem se ver,<br />
é ferida que dói, e não se sente;<br />
é um contentamento <strong>de</strong>scontente,<br />
é dor que <strong>de</strong>satina sem doer.<br />
É um não querer mais que bem querer;<br />
é um andar solitário entre a gente;<br />
é nunca contentar-se <strong>de</strong> contente;<br />
é um cuidar que ganha em se per<strong>de</strong>r.<br />
É querer estar preso por vonta<strong>de</strong>;<br />
é servir a quem vence, o vencedor;<br />
é ter com quem nos mata, lealda<strong>de</strong>.<br />
Mas como causar po<strong>de</strong> seu favor<br />
nos corações humanos amiza<strong>de</strong>,<br />
se tão contrário a si é o mesmo Amor?<br />
Transforma-se o amador na coisa amada<br />
Por virtu<strong>de</strong> do muito imaginar;<br />
Não tenho logo mais que <strong>de</strong>sejar,<br />
Pois em mim tenho a parte <strong>de</strong>sejada.<br />
Se nela está minha alma transformada,<br />
Que mais <strong>de</strong>seja o corpo <strong>de</strong> alcançar?<br />
Em si somente po<strong>de</strong> <strong>de</strong>scansar,<br />
Pois consigo tal alma está ligada.<br />
Mas esta linda e pura semidéia,<br />
Que,como o aci<strong>de</strong>nte em seu sujeito,<br />
Assim como a alma minha se conforma,<br />
Está no pensamento como idéia;<br />
O vivo e puro amor <strong>de</strong> que sou feito,<br />
Como a matéria simples busca a forma.<br />
Busque Amor novas artes, novo engenho,<br />
Para matar-me, e novas esquivanças;<br />
Que não po<strong>de</strong> tirar-me as esperanças,<br />
Que mal me tirará o que eu não tenho.<br />
Olhai <strong>de</strong> que esperanças me mantenho!<br />
Ve<strong>de</strong> que perigosas seguranças!<br />
Que não temo contrastes nem mudanças,<br />
Andando em bravo mar, perdido o lenho.<br />
Mas, conquanto não po<strong>de</strong> haver <strong>de</strong>sgosto<br />
On<strong>de</strong> esperança falta, lá me escon<strong>de</strong><br />
Amor um mal, que mata e não se vê.<br />
Que dias há que n'alma me tem posto<br />
Um não sei quê, que nasce não sei on<strong>de</strong>,<br />
Vem não sei como, e dói não sei porquê.<br />
Alma minha gentil, que te partiste<br />
Tão cedo <strong>de</strong>sta vida <strong>de</strong>scontente,<br />
Repousa lá no Céu eternamente,<br />
E viva eu cá na terra sempre triste.<br />
Se lá no assento etéreo, on<strong>de</strong> subiste,<br />
Memória <strong>de</strong>sta vida se consente,<br />
Não te esqueças daquele amor ar<strong>de</strong>nte<br />
Que já nos olhos meus tão puro viste.<br />
E se vires que po<strong>de</strong> merecer-te<br />
Alguma cousa a dor que me ficou<br />
Da mágoa, sem remédio, <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r-te,<br />
Roga a Deus, que teus anos encurtou,<br />
Que tão cedo <strong>de</strong> cá me leve a ver-te,<br />
Quão cedo <strong>de</strong> meus olhos te levou.
Mudam-se os tempos, mudam-se as vonta<strong>de</strong>s,<br />
Muda-se o ser, muda-se a confiança;<br />
Todo o mundo é composto <strong>de</strong> mudança,<br />
Tomando sempre novas qualida<strong>de</strong>s.<br />
Continuamente vemos novida<strong>de</strong>s,<br />
Diferentes em tudo da esperança;<br />
Do mal ficam as mágoas na lembrança,<br />
E do bem, se algum houve, as sauda<strong>de</strong>s.<br />
O tempo cobre o chão <strong>de</strong> ver<strong>de</strong> manto,<br />
Que já coberto foi <strong>de</strong> neve fria,<br />
E em mim converte em choro o doce canto.<br />
E, afora este mudar-se cada dia,<br />
Outra mudança faz <strong>de</strong> mor espanto:<br />
Que não se muda já como soía.<br />
Os bons vi sempre passar<br />
No mundo graves tormentos;<br />
E para mais me espantar,<br />
Os maus vi sempre nadar<br />
Em mar <strong>de</strong> contentamentos.<br />
Cuidando alcançar assim<br />
O bem tão mal or<strong>de</strong>nado,<br />
Fui mau, mas fui castigado:<br />
Assim que só para mim<br />
Anda o mundo concertado.<br />
CAMÕES – ÉPICO<br />
Episódio: Inês <strong>de</strong> Castro<br />
Tu, só tu puro Amor, com força crua,<br />
Que os corações humanos tanto obriga<br />
Deste causa à molesta morte sua,<br />
Como se fora pérfida inimiga.<br />
Se dizem, fero Amor, que a se<strong>de</strong> tua<br />
Nem com lágrimas tristes se mitiga,<br />
É porque queres, áspero e tirano<br />
Tuas aras banhar em sangue humano.<br />
Episódio: Gigante Adamastor<br />
Porém já cinco Sóis eram passados<br />
Que dali nos partíramos, cortando<br />
Os mares nunca doutrem navegados,<br />
Prósperamente os ventos assoprando,<br />
Quando uma noite estando <strong>de</strong>scuidados,<br />
Na cortadora proa vigiando,<br />
Uma nuvem que os ares escurece<br />
Sobre nossas cabeças aparece.<br />
"Tão temerosa vinha e carregada,<br />
Que pôs nos corações um gran<strong>de</strong> medo;<br />
Bramindo o negro mar, <strong>de</strong> longe brada<br />
Como se <strong>de</strong>sse em vão nalgum rochedo.<br />
— "Ó Potesta<strong>de</strong>, disse, sublimada!<br />
Que ameaço divino, ou que segredo<br />
Este clima e este mar nos apresenta,<br />
Que mor cousa parece que tormenta?" —<br />
"Não acabava, quando uma figura<br />
Se nos mostra no ar, robusta e válida,<br />
De disforme e grandíssima estatura,<br />
O rosto carregado, a barba esquálida,<br />
Os olhos encovados, e a postura<br />
Medonha e má, e a cor terrena e pálida,<br />
Cheios <strong>de</strong> terra e crespos os cabelos,<br />
A boca negra, os <strong>de</strong>ntes amarelos.<br />
Episódio: Velho do Restelo<br />
Mas um velho d'aspeito venerando,<br />
Que ficava nas praias, entre a gente,<br />
Postos em nós os olhos, meneando<br />
Três vezes a cabeça, <strong>de</strong>scontente,<br />
A voz pesada um pouco alevantando,<br />
Que nós no mar ouvimos claramente,<br />
C'um saber só <strong>de</strong> experiências feito,<br />
Tais palavras tirou do experto peito:
—"Ó glória <strong>de</strong> mandar! Ó vã cobiça<br />
Desta vaida<strong>de</strong>, a quem chamamos Fama!<br />
Ó fraudulento gosto, que se atiça<br />
C'uma aura popular, que honra se chama!<br />
Que castigo tamanho e que justiça<br />
Fazes no peito vão que muito te ama!<br />
Que mortes, que perigos, que tormentas,<br />
Que cruelda<strong>de</strong>s neles experimentas!<br />
— "Dura inquietação d'alma e da vida,<br />
Fonte <strong>de</strong> <strong>de</strong>samparos e adultérios,<br />
Sagaz consumidora conhecida<br />
De fazendas, <strong>de</strong> reinos e <strong>de</strong> impérios:<br />
Chamam-te ilustre, chamam-te subida,<br />
Sendo dina <strong>de</strong> infames vitupérios;<br />
Chamam-te Fama e Glória soberana,<br />
Nomes com quem se o povo néscio engana!<br />
DEFINIÇÕES E ANÁLISES<br />
“Seguindo na esteira <strong>de</strong> Platão, o poeta consi<strong>de</strong>ra-se ‘caído’ no plano humano,<br />
o mundo ‘sensível’, esmagado pelas ‘reminiscências’ do mundo inteligível,<br />
on<strong>de</strong> moram as ‘i<strong>de</strong>ias’, a verda<strong>de</strong>ira realida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> que as coisas <strong>de</strong>ste mundo<br />
são apenas lembranças ou sombras”.<br />
“As excepcionais virtualida<strong>de</strong>s camonianas encontram plena realização na<br />
poesia <strong>de</strong> inspiração clássica. De certa forma, Camões seria clássico mesmo<br />
sem que existisse o Classicismo; por isso, a<strong>de</strong>riu vivamente à nova moda e<br />
superou-a em mais <strong>de</strong> um aspecto, com isso volvendo-se um poeta <strong>de</strong><br />
permanente valia e precursor da poesia barroca, visto ela conter meios <strong>de</strong><br />
alcançar respostar às suas inquietantes interrogações <strong>de</strong> homem culto e<br />
ultrassensível, vivendo uma quadra <strong>de</strong> profunda crise da história da cultura<br />
oci<strong>de</strong>ntal”.<br />
Fonte: A literatura portuguesa – Massaud Moisés<br />
“Ressuscitar a epopeia homérica na época do Renascimento – quando o espírito<br />
abstractor <strong>de</strong> um mundo já muito mercantil pouco se prestava à admiração <strong>de</strong><br />
heróis semidivinos; e quando a mitologia clássica, característica do gênero, era<br />
uma expressão irrecuperável”. (…) Foi precisamente o <strong>de</strong>si<strong>de</strong>rato da<br />
ressurreição da epopeia clássica segundo o padrão homérico que Camões<br />
procurou satisfazer, levando a cabo um objetivo característico dos escritores<br />
humanistas”.<br />
“Os heróis <strong>de</strong> Camões raramente parecem <strong>de</strong> carne; faltam-lhes caráter e<br />
paixões. São, em geral, estátuas processionais, solenes e inacessíveis”.(…) Os<br />
<strong>de</strong>uses <strong>de</strong>sejam, palpitam, lutam, têm nervos, em contraste com os homens<br />
históricos, que parecem <strong>de</strong> bronze ou <strong>de</strong> mármore. Tudo se passa como se os<br />
<strong>de</strong>uses <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>assem ainda todas as forças, físicas ou psíquicas, que<br />
movimentam o mundo sublunar”.<br />
“A vitória dos homens sobre os <strong>de</strong>uses é uma i<strong>de</strong>ia a<strong>de</strong> quada ao impulso do<br />
Renascimento, que assistiu a um importante avanço no domínio do planeta por<br />
parte do homem. (…) Este orgulho humanista verifica-se sobretudo nos<br />
lineamentos gerais do poema; repare-se que o humano Gama alcança, com a<br />
posse <strong>de</strong> Tétis, símbolo do domínio dos mares, aquilo que fora negado a<br />
Adamastor, um titã semidivino”.<br />
Fonte: História da <strong>Literatura</strong> Portuguesa – A.J. Saraiva<br />
EXERCÍCIOS<br />
1. (Unesp) A(s) questão(ões) seguintes tomam por base a oitava estrofe do Canto VI <strong>de</strong><br />
OS LUSÍADAS, <strong>de</strong> Luís <strong>de</strong> Camões (1524?-1580), e o poema A ONDA, <strong>de</strong> Manuel<br />
Ban<strong>de</strong>ira (1886-1968).<br />
OS LUSÍADAS, VI, 8<br />
No mais interno fundo das profundas<br />
Cavernas altas, on<strong>de</strong> o mar se escon<strong>de</strong>,<br />
Lá don<strong>de</strong> as ondas saem furibundas,<br />
Quando às iras do vento o mar respon<strong>de</strong>,<br />
Netuno mora e moram as jucundas<br />
Nereidas e outros Deuses do mar, on<strong>de</strong><br />
As águas campo <strong>de</strong>ixam às cida<strong>de</strong>s<br />
Que habitam estas úmidas Deida<strong>de</strong>s.<br />
A O N D A<br />
a onda anda<br />
aon<strong>de</strong> anda<br />
a onda?<br />
a onda ainda<br />
ainda onda<br />
ainda anda<br />
aon<strong>de</strong>?<br />
aon<strong>de</strong>?<br />
a onda a onda
1. Os dois textos apresentados, separados no tempo por quase quatrocentos anos (a<br />
primeira edição <strong>de</strong> OS LUSÍADAS é <strong>de</strong> 1572), revelam características formais típicas<br />
<strong>de</strong> suas respectivas épocas, mas não <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> apresentar traços em comum. Releia-os<br />
com atenção e:<br />
a) mencione duas características formais típicas da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> que se observam no<br />
poema A ONDA;<br />
b) aponte um procedimento rítmico presente na estrofe <strong>de</strong> OS LUSÍADAS que é<br />
também empregado no poema <strong>de</strong> Manuel Ban<strong>de</strong>ira.<br />
2.(Unesp) Cessem do sábio Grego e do Troiano<br />
As navegações gran<strong>de</strong>s que fizeram;<br />
Cale-se <strong>de</strong> Alexandre e <strong>de</strong> Trajano<br />
A fama das vitórias que tiveram;<br />
Que eu canto o peito ilustre Lusitano,<br />
A quem Neptuno e Marte obe<strong>de</strong>ceram.<br />
Cesse tudo o que a Musa antiga canta,<br />
Que outro valor mais alto se alevanta.<br />
2. A oitava anterior constitui a terceira estrofe <strong>de</strong> OS LUSÍADAS, <strong>de</strong> Luís <strong>de</strong> Camões,<br />
poema épico publicado em 1572, obra máxima do Classicisismo português. O tipo <strong>de</strong><br />
verso que Camões empregou é <strong>de</strong> origem italiana e fora introduzido na <strong>Literatura</strong><br />
Portuguesa algumas décadas antes, por Sá <strong>de</strong> Miranda. Quanto ao conteúdo, o poema<br />
OS LUSÍADAS toma como ponto <strong>de</strong> referência um episódio da História <strong>de</strong> Portugal.<br />
Baseado nestes comentários e em seus próprios conhecimentos, releia a estrofe citada<br />
e indique:<br />
a) o tipo <strong>de</strong> verso utilizado (po<strong>de</strong> mencionar simplesmente o número <strong>de</strong> sílabas<br />
métricas);<br />
b) o episódio da História <strong>de</strong> Portugal que serve <strong>de</strong> núcleo narrativo ao poema.<br />
3. Uma leitura atenta da estrofe citada revela que o conteúdo dos primeiros seis versos<br />
é retomado e sintetizado nos últimos dois versos. Interprete a estrofe <strong>de</strong> acordo com<br />
esta observação.<br />
4. (Fuvest) Quando da bela vista e doce riso,<br />
tomando estão meus olhos mantimento,<br />
tão enlevado sinto o pensamento<br />
que me faz ver na terra o Paraíso.<br />
Tanto do bem humano estou diviso,<br />
que qualquer outro bem julgo por vento;<br />
assi, que em caso tal, segundo sento,<br />
assaz <strong>de</strong> pouco faz quem per<strong>de</strong> o siso.<br />
Em vos louvar, Senhora, não me fundo,<br />
porque quem vossas cousas claro sente,<br />
sentirá que não po<strong>de</strong> merecê-las.<br />
Que <strong>de</strong> tanta estranheza sois ao mundo,<br />
que não é d'estranhar, Dama excelente,<br />
que quem vos fez, fizesse Céu e estrelas.<br />
¢ Tomando mantimento - tomando consciência.<br />
£ Estou diviso - estou separado, apartado.<br />
¤ Sento - sinto.<br />
¥ Não me fundo - não me empenho.<br />
a) Caracterize brevemente a concepção <strong>de</strong> mulher que este soneto apresenta.<br />
b) Aponte duas características <strong>de</strong>sse soneto que o filiam ao Classicismo, explicando-as<br />
sucintamente.<br />
5. (Fuvest) Na LÍRICA <strong>de</strong> Camões,<br />
a) o metro usado para a composição dos sonetos é a redondilha maior.<br />
b) encontram-se sonetos, o<strong>de</strong>s, sátiras e autos.<br />
c) cantar a Pátria é o centro das preocupações.<br />
d) encontra-se uma fonte <strong>de</strong> inspiração <strong>de</strong> muitos poetas brasileiros do século XX.<br />
e) a Mulher é vista em seus aspectos físicos, <strong>de</strong>spojada <strong>de</strong> espiritualida<strong>de</strong>.<br />
6. (Mackenzie) Texto1:<br />
"Sôbolos rios que vão<br />
Por Babilônia, me achei,<br />
On<strong>de</strong> sentado chorei<br />
as lembranças <strong>de</strong> Sião<br />
E quanto nela passei."<br />
Texto 2:<br />
"Enquanto quis Fortuna que tivesse<br />
Esperança <strong>de</strong> algum contentamento,<br />
O gosto <strong>de</strong> um suave pensamento<br />
Me fez que seus efeitos escrevesse.<br />
Porém, temendo Amor que aviso <strong>de</strong>sse<br />
Minha escritura a algum juízo isento<br />
Escureceu-me o engenho ao tormento,<br />
Para que seus enganos não dissesse.<br />
Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos<br />
A diversas vonta<strong>de</strong>s! Quando ler<strong>de</strong>s<br />
Num breve livro casos tão diversos,
Verda<strong>de</strong>s puras são e não <strong>de</strong>feitos.<br />
E sabei que, segundo o amor tiver<strong>de</strong>s,<br />
Tereis o entendimento <strong>de</strong> meus versos."<br />
Sobre os textos acima, é correto afirmar que:<br />
a) o primeiro faz parte <strong>de</strong> uma cantiga trovadoresca.<br />
b) ambos pertencem à obra <strong>de</strong> Camões, sendo o primeiro um exemplo <strong>de</strong> medida velha<br />
e o segundo, <strong>de</strong> medida nova.<br />
c) o primeiro foi extraído <strong>de</strong> um auto vicentino e o segundo, <strong>de</strong> um autor barroco.<br />
d) pertencem ao Cancioneiro Geral <strong>de</strong> Garcia <strong>de</strong> Resen<strong>de</strong>.<br />
e) têm aspectos evi<strong>de</strong>ntemente barrocos, fazendo parte, portanto, da lírica <strong>de</strong> Gregório<br />
<strong>de</strong> Matos.<br />
7. (Mackenzie) Sobre OS LUSÍADAS, é INCORRETO afirmar que:<br />
a) é dividido em cinco partes e <strong>de</strong>z cantos.<br />
b) o Canto I contém a introdução, a invocação, a <strong>de</strong>dicatória e o início da narrativa.<br />
c) a pedido do rei <strong>de</strong> Melin<strong>de</strong>, Vasco da Gama conta partes da história <strong>de</strong> Portugal.<br />
d) os <strong>de</strong>uses reúnem-se no Olimpo para <strong>de</strong>cidir a sorte dos portugueses.<br />
e) no Canto X, a fala do Velho <strong>de</strong> Restelo acusa os portugueses <strong>de</strong> vaida<strong>de</strong> e cobiça<br />
excessivas.<br />
8. (Unesp) Leia as estrofes seguintes e assinale a alternativa INCORRETA:<br />
"Mas um velho, <strong>de</strong> aspeito venerando,<br />
Que ficava nas praias, entre a gente,<br />
Postos em nós os olhos, meneando<br />
Três vezes a cabeça, <strong>de</strong>scontente,<br />
A voz pesada um pouco alevantando,<br />
Que nós no mar ouvimos claramente,<br />
Com saber só <strong>de</strong> experiências feito,<br />
Tais palavras tirou do esperto peito:<br />
"Ó glória <strong>de</strong> mandar, ó vã cobiça<br />
Desta vaida<strong>de</strong>, a quem chamamos Fama!<br />
Ó fraudulento gosto, que se atiça<br />
Com a aura popular, que honra se chama!<br />
Que castigo tamanho e que justiça<br />
Fazes no peito vão que muito te ama!<br />
Que mortes, que perigos, que tormentas,<br />
Que cruelda<strong>de</strong>s neles exprimentas!"<br />
(Camões)<br />
"Ó mar salgado, quanto do teu sal<br />
São lágrimas <strong>de</strong> Portugal!<br />
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,<br />
Quantos filhos em vão resaram!<br />
Quantas noivas ficaram por casar<br />
Para que fosses nosso, ó mar!"<br />
(Fernando Pessoa)<br />
a) Através do tema tratado nas estrofes citadas, po<strong>de</strong>mos dizer que as mesmas<br />
pertencem a dois gran<strong>de</strong>s poemas épicos da <strong>Literatura</strong> Portuguesa: OS LUSÍADAS e<br />
MENSAGEM.<br />
b) Nessas estrofes, os dois poemas relacionam-se ao mencionarem aspectos negativos<br />
das expedições portuguesas.<br />
c) No poema <strong>de</strong> Camões todas as estrofes apresentam oito versos em <strong>de</strong>cassílabos<br />
heróicos; no poema <strong>de</strong> Pessoa não há a mesma regularida<strong>de</strong>.<br />
d) Uma das estrofes d'OS LUSÍADAS revela a fala do Velho do Restelo criticando os<br />
sentimentos <strong>de</strong> glória e cobiça na empresa portuguesa.<br />
e) Os dois poemas não po<strong>de</strong>m ser relacionados porque, além <strong>de</strong> um ser épico e o outro<br />
lírico, um pertence ao Renascimento e o outro ao Mo<strong>de</strong>rnismo.