ursinhos, fraldinhas... por que as crianças se apegam tanto ... - Unitau
ursinhos, fraldinhas... por que as crianças se apegam tanto ... - Unitau
ursinhos, fraldinhas... por que as crianças se apegam tanto ... - Unitau
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
cidade. Apoiada pela mão do amigo Richard, a freira vai<br />
até New York para vê-lo iluminado, cumprindo sua<br />
missão de produzir sonhos e encantamentos no natal.<br />
Tratava-<strong>se</strong> de um gesto dela na direção da cultura, <strong>por</strong><br />
meio do qual ganhava cidadania e saía da longa clausura.<br />
Todo <strong>se</strong>r social precisa de um lugar onde pôr o<br />
<strong>que</strong> vai criando/encontrando e fazendo existir ao longo<br />
da vida. Este lugar, para Winnicott, é o acervo comum da<br />
humanidade, <strong>que</strong> ele denomina Cultura. Através da<br />
relação com o <strong>se</strong>u “Árvore”, o objeto transicional <strong>que</strong> foi<br />
mantido de modo tardio, m<strong>as</strong> posteriormente dispensado,<br />
a freira pôde constituir um símbolo do <strong>se</strong>u <strong>se</strong>lf, agora<br />
colocado no mundo através de <strong>se</strong>u gesto. Gesto de<br />
enlace, <strong>que</strong> continha a materialidade necessária. O<br />
mundo, ao recebê-lo, permitiu a ela integrar-<strong>se</strong> e<br />
enri<strong>que</strong>cer-<strong>se</strong>.<br />
Neste encontro primordial, <strong>as</strong> lembranç<strong>as</strong> sobre a<br />
família, sobre sua infância e a agonia da guerra foram<br />
surgindo. A amnésia cedia, gradualmente, frente ao<br />
trabalho psíquico de desfazer os efeitos da repressão. O<br />
res<strong>se</strong>ntimento pelo abandono lhe roubara lembranç<strong>as</strong><br />
precios<strong>as</strong> sobre o pai, sua doença e morte, permanecendo<br />
apen<strong>as</strong> o f<strong>as</strong>cínio pelo <strong>que</strong> simbolizava a sua ligação com<br />
ele: a estrela brilhante no céu. Por fim, a estrela pairava<br />
irradiante no alto do pinheiro enfeitado, ela <strong>se</strong> recordava<br />
menina, no colo do pai em <strong>se</strong>u derradeiro natal.<br />
Richard também sai enri<strong>que</strong>cido. Ele con<strong>se</strong>guiu<br />
superar a sua aridez afetiva, recuperando-<strong>se</strong> a tempo de<br />
viver um amor pleno, junto a alguém <strong>que</strong> lhe oferecia o<br />
<strong>que</strong> ele <strong>tanto</strong> necessitava, <strong>por</strong>ém <strong>se</strong> recusava a receber..<br />
Concluo, com uma reflexão da freira sobre a<br />
vida:<br />
“Acho <strong>que</strong> há uma árvore para cada um de nós<br />
na vida. Nós devemos é achá-l<strong>as</strong> e ter a coragem de<br />
abraçá-l<strong>as</strong>.”<br />
Ao término do filme, não resta dúvida ao<br />
espectador <strong>que</strong> foi possível aos <strong>se</strong>us protagonist<strong>as</strong><br />
realizar tal aventura.<br />
ABSTRACT<br />
The pre<strong>se</strong>nt study examines the emergency and the<br />
installation of the objects and transitional phenomena <strong>as</strong><br />
a habitual line among the early childhood children, from<br />
both <strong>se</strong>xes. However, when the mature proces<strong>se</strong>s occured<br />
by precocious los<strong>se</strong>s, flauis ri<strong>se</strong> up in the transitionality<br />
that generate distorced behaviours such <strong>as</strong> exaggerating<br />
adhesion or detachement of the primordial affective<br />
objects. The plot of the film “A árvore de Natal” <strong>se</strong>rves<br />
<strong>as</strong> an argument for the pre<strong>se</strong>ntation of the theme, becau<strong>se</strong><br />
the film is very illustrative about the pathologies of the<br />
transitionality under the writer’s point of view.<br />
KEY-WORDS: transitional objects and transitional<br />
phenomena, the true and the fal<strong>se</strong> <strong>se</strong>lf, symbol, the<br />
facilitating environment.<br />
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:<br />
GADDINI, R. The precursor of Transitional Objects and<br />
Phenomena. The Journal of The Squiggle Foundation.<br />
Londres, Spring, n. 1, 1985.<br />
TUSTIN, F. Autismo e Psico<strong>se</strong> Infantil. Rio de Janeiro:<br />
Imago, 1975.<br />
WINNICOTT, D. W. Objetos transicionais e fenômenos<br />
transicionais. In: ______. Textos <strong>se</strong>lecionados: da<br />
Pediatria à Psicanáli<strong>se</strong>. 3. ed. Rio de Janeiro: Francisco<br />
Alves Ed., 1988, cap. 18, p. 389-408.<br />
_______. A posição depressiva no de<strong>se</strong>nvolvimento<br />
emocional normal.In: ______. Textos <strong>se</strong>lecionados: da<br />
Pediatria à Psicanáli<strong>se</strong>. Rio de Janeiro: Francisco Alves<br />
Ed., 1988.<br />
_______(1959) O destino do objeto transicional. In:<br />
WINNICOTT, C. (Org). Explorações psicanalític<strong>as</strong> D.<br />
W. WINNICOTT. Porto Alegre: Artes Médic<strong>as</strong>, 1994, p.<br />
44 - 48.<br />
_______( 1968) O efeito da perda sobre <strong>as</strong> crianç<strong>as</strong>. In:<br />
SHEPHERD R.; JOHNS, J.; ROBINSON, H. T. (Org.).<br />
Pensando sobre crianç<strong>as</strong>. Porto Alegre: Artes Médic<strong>as</strong>,<br />
1997, cap. 7, p. 64-65.<br />
Tereza Elizete Gonçalves é Psicanalista, Mestre em<br />
Psicologia Clínica pela PUC-SP, Professora e<br />
Supervisora no Departamento de Psicologia da<br />
Universidade de Taubaté.