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primeiros campeonatos de surf em Portugal - Quimera Editores

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Paulo Inocentes no<br />

1.º Campeonato Nacional<br />

nos visitavam como “Little Hawai”, lugar <strong>de</strong> referência na Europa para os <strong>surf</strong>istas <strong>de</strong><br />

todo o mundo. Com as chuvas, a ribeira abria um canal nos fundos <strong>de</strong> rebentação, que<br />

permitia, quando o mar crescia, fazer uma direita <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a concha <strong>de</strong> rocha situada a<br />

norte do pequeno areal <strong>de</strong> Ribeira até ao “Ali-Babá”, a praia <strong>de</strong> difícil acesso, a sul <strong>de</strong><br />

Ribeira. Era nesta última que ficavam os acompanhantes e <strong>de</strong> lá é que se entrava na<br />

água. A constância e a qualida<strong>de</strong> das ondas, aliadas à mística do local, justificavam<br />

plenamente a escolha — naquela data a praia, mal i<strong>de</strong>ntificada para qu<strong>em</strong>, não a conhe-<br />

cendo, a procurasse, estava envolta <strong>em</strong> vegetação e canavial, que só findava no areal.<br />

Os casebres eram habitados todo o ano, e qu<strong>em</strong> lá vivia <strong>de</strong>ixava os patos <strong>de</strong> criação à<br />

solta na ribeira, as galinhas nos canaviais, os cães por todo o lado. A presença <strong>de</strong>stes<br />

animais, das gaivotas e <strong>de</strong>mais passaritos que por ali havia, o silêncio do local, repleto<br />

da presença forte do mar, o areal povoado <strong>de</strong> pulga-do-mar, tudo conferia a Ribeira<br />

uma aura especial.<br />

Depois eram necessários apoios. Alberto Pais, João Rocha, Paulo Esteves e Nuno<br />

Jonet foram à Direcção-Geral dos Desportos. Recebidos pelo senhor director-geral,<br />

foram ouvidos, mas o <strong>surf</strong>, no enten<strong>de</strong>r daquele responsável, não era um <strong>de</strong>sporto...<br />

E não apoiou o evento. Mais sorte teve este grupo <strong>de</strong> <strong>surf</strong>istas junto da Direcção-Geral<br />

<strong>de</strong> Turismo: a responsável achou <strong>de</strong> interesse o evento e vislumbrou futuro para a<br />

modalida<strong>de</strong>. Quando voltámos à Avenida António Augusto <strong>de</strong> Aguiar, on<strong>de</strong> funcionava<br />

aquela Direcção-Geral, para concretizar o apoio, o Alberto levou uma rosa para ofere-<br />

cer. Mais do que apoio financeiro, quase simbólico, era importante o reconhecimento<br />

da estrutura oficial <strong>em</strong> relação à modalida<strong>de</strong>.<br />

Na Ericeira, contactou-se com a Junta <strong>de</strong> Freguesia, o presi<strong>de</strong>nte era o velho Caré,<br />

dono <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> da vila. Primeiro <strong>de</strong>sconfiado, <strong>de</strong>pois convencido, o velho Caré colo-<br />

cava o palanque na praia e espetava as ban<strong>de</strong>irolas das festas. “Depois, é com vocês!”,<br />

<strong>de</strong>clarou. Solicitar apoio <strong>em</strong> nome <strong>de</strong> uma fe<strong>de</strong>ração facilitou os contactos com as<br />

autorida<strong>de</strong>s marítimas. Já não eram só “estrangeiros ga<strong>de</strong>lhudos”, havia pessoal do<br />

<strong>de</strong>sporto, e eram portugueses. Bombeiros e GNR, tudo b<strong>em</strong>. Até tinham curiosida<strong>de</strong><br />

<strong>em</strong> ver o que iria acontecer.<br />

Depois, a entrega das medalhas e o jantar, on<strong>de</strong> seriam? O local tinha <strong>de</strong> acolher<br />

cerca <strong>de</strong> c<strong>em</strong> pessoas. O Hotel da Ericeira estava ocupado por retornados das ex-<br />

-colónias, além disso o seu recheio fora parcialmente <strong>de</strong>struído e pilhado, <strong>de</strong>vido<br />

à ocupação. Restava o Parque <strong>de</strong> Santa Marta. No dia da Espiga, lá se foi no carro<br />

do Alberto, à procura da pessoa responsável. Estava num piquenique para os lados<br />

do Lizandro. E foi no Lizandro que se acertou o “banquete”. O Alberto sinalizou do<br />

seu bolso.<br />

Em Lisboa, resolvia-se o probl<strong>em</strong>a do cartaz e as T-shirts. Que imag<strong>em</strong> para o car-<br />

taz, uma fotografia do estrangeiro? Não, o primeiro campeonato nacional tinha <strong>de</strong> ser<br />

português até no cartaz. A foto escolhida seria a <strong>de</strong> uma manobra <strong>em</strong> Carcavelos do<br />

Tó-Pê Rocha. A tipografia tinha <strong>de</strong> ser <strong>em</strong> conta; lá se arranjou uma, habituada a fazer<br />

panfletos <strong>de</strong> propaganda política. A fotografia ficou escura no papel, mas não havia<br />

marg<strong>em</strong> <strong>de</strong> manobra para outro ensaio... As T-shirts foram com um <strong>de</strong>senho escolhido<br />

pelo Tó-Pê, haviam <strong>de</strong> se esgotar no campeonato, e bisar-se a produção.<br />

O dia ia-se aproximando, importava resolver o probl<strong>em</strong>a da dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso<br />

à Ericeira para o pessoal que não tinha viatura. Alugou-se um autocarro à Carris.<br />

178 179<br />

Taça do 1.º Campeão<br />

Nacional, 1977<br />

À direita, <strong>em</strong> cima:<br />

medalha atribuída a todos<br />

os participantes do<br />

1.º Campeonato Nacional<br />

Em baixo: medalha alusiva<br />

aos vinte anos do<br />

1.º Campeonato

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