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César Dacorso Filho<br />

Príncipe da<br />

<strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong><br />

do Brasil<br />

CAPA DE NELSON CARLOS DE GODOY COSTA<br />

2


TRAÇOS DA<br />

VIDA DO<br />

PRIMEIRO BISPO BRASÍLEIRO<br />

DA<br />

IGREJA METODISTA DO BRASIL<br />

3


ÍNDICE<br />

Dedicatória........................................................ 7<br />

Prefácio .......................................................... 9<br />

Palavra necessária ........................................ 17<br />

Nasce um menino ........................................... 21<br />

Menino pobre e feliz ....................................... 26<br />

Caixeirinho sem or<strong>de</strong>nado .............................. 36<br />

Fatos extraordinários ........................................ 47<br />

Horizontes do metodismo ............................. 49<br />

Aprendiz <strong>de</strong> tipógrafo ....................................... 55<br />

Na Viação Férrea do R. G. do Sul .................... 65<br />

A conversão <strong>de</strong> César Dacorso Filho ............. 76<br />

Reminiscências e sauda<strong>de</strong>s .......................... 85<br />

No Colégio "União" ....................................... 90<br />

No Colégio "Granbery" .................................... 105<br />

No Pastorado .................................................. 113<br />

Não é bom que o homem esteja só ................ 119<br />

Os anos do seu Pastorado ............................ 123<br />

No Episcopado ................................................. 129<br />

Sua Consagração ............................................. 132<br />

Na presidência do Concílio Geral .................... 135<br />

4


Dois <strong>de</strong> Setembro ....................................... 138<br />

Declaração Histórica ...................................... 139<br />

Primeiro quatriênio ......................................... 140<br />

Segundo quatriênio........................................... 179<br />

Terceiro quatriênio............................................ 255<br />

Quarto quatriênio ............................................ 283<br />

Pela quinta vez eleito Bispo.............................. 329<br />

O "Avante por Cristo"........................................ 337<br />

Em 1952 ........................................................... 351<br />

Amiza<strong>de</strong>s bonitas ............................................. 362<br />

O Instituto Ministerial Geral .............................. 368<br />

Convite aos moços ......................................... 372<br />

Antes do Final................................................... 375<br />

Treze anos <strong>de</strong>pois ............................................ 377<br />

O Passamento .................................................. 380<br />

César Dacorso vive .......................................... 383<br />

Sauda<strong>de</strong> ........................................................ 385<br />

5


À excelentíssima senhora<br />

Maria José Guimarães Dacorso<br />

Minha senhora,<br />

Este livro pertence-vos.<br />

É um apanhado rápido e imperfeito da<br />

vida exuberante do homem magnífico a quem<br />

muito inspirastes na obra sem igual que realizou<br />

na construção da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil.<br />

6


PREFÁCIO<br />

Livro por excelência é a Bíblia. No entanto,<br />

é sem número a publicação, ininterrupta, <strong>de</strong> outros,<br />

em cujas páginas se encontram todos os assuntos,<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a mais <strong>de</strong>spida insignificância, até aos mais<br />

complexos e mais merecedores estudos. Ninguém há,<br />

hoje, que possa acompanhar, em todas as línguas, os<br />

livros que aparecem aos milhares, com mais ou menos<br />

divulgação. Já, no Eclesiastes, dizia o sábio não haver<br />

limites <strong>para</strong> fazer livros (Ec 12.12). Deles há, cujo valor<br />

se po<strong>de</strong>rá dizer nulo. Outros, no entanto, se nomeiam<br />

por bons livros. E assim concorrem os escritores com<br />

o que, porventura, sabem e po<strong>de</strong>m, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes,<br />

contudo, da necessida<strong>de</strong>, interesse e gosto dos<br />

leitores. Livro sem leitor é <strong>de</strong>sperdício. Leitores <strong>para</strong><br />

livros sem valor, outra perda.<br />

Convidou-me o Rev. Nelson <strong>de</strong> Godoy<br />

Costa <strong>para</strong> prefaciar um seu livro; <strong>de</strong>u-me a honra <strong>de</strong><br />

apreciá-lo, com recomendações, mediante breve<br />

antelóquio.<br />

Entendo que o preâmbulo a um livro é<br />

quase luxo, e como tal dispensável. O bom livro<br />

dispensa a apresentação, porque é bom; o ruim,<br />

porque não a merece. De maneira que, a meu ver,<br />

andar o livro sozinho com a só virtu<strong>de</strong> do seu<br />

merecimento, parece mais acertado.<br />

7


10<br />

Na apresentação <strong>de</strong> um livro, dá-se o fato, umas<br />

vezes, <strong>de</strong> o prefaciador antecipar sobremaneira o seu<br />

conteúdo, com exageros tais <strong>de</strong> louvores, que a obra <strong>de</strong> si<br />

mesma, ao ser lida, se <strong>de</strong>smerece. Outras vezes suce<strong>de</strong> o<br />

contrário: adianta <strong>de</strong>mais a crítica, sem maiores fundamentos,<br />

a ponto <strong>de</strong> arriscar o <strong>de</strong>vido alcance do que ainda se tem <strong>de</strong><br />

ler. É certo que, segundo Castilho António, "a crítica sisuda é<br />

o crisol dos bons livros" (Vol. 66, p. 130), e, consoante Rui<br />

Barbosa, "se não po<strong>de</strong> ser pelo apoio, seja pela censura, que<br />

também é colaboração" (Vol. XXIII, Tomo I, p. 12). No<br />

entanto, a preliminar <strong>de</strong> um livro qualquer não me parece<br />

<strong>de</strong>ve ter esse resultado, seja ela do próprio autor, seja <strong>de</strong>.<br />

algum amigo, ou até dos seus editores.<br />

A abertura <strong>de</strong> um livro, por sua página <strong>de</strong><br />

apresentação, sabe a cortesia, e não <strong>de</strong>ve ir além <strong>de</strong> breve<br />

palavra <strong>para</strong> enlabolar conhecimento; aliás, é o que se dá<br />

com as pessoas: ou se apresentam elas mesmas, ou são<br />

apresentadas por parente ou conhecido, e... <strong>de</strong>ixá-las que<br />

melhormente se conheçam, e, porventura, se estimem, lá<br />

entre si, quando reciprocamente se estudarem.<br />

Bem sei que Rui Barbosa, com a sua introdução a<br />

"O Papa e o Concílio", duas vezes maior que a tradução,<br />

tornou famoso o seu livro, e procurado e incontestavelmente<br />

útil. E há proêmios que não passam <strong>de</strong> meia página, sem,<br />

contudo, <strong>de</strong>sluzir o seu propósito. Há disso, não o po<strong>de</strong>mos<br />

escon<strong>de</strong>r; não passa, todavia, <strong>de</strong> casos singulares.<br />

Tenho razões <strong>para</strong> que me não furte à honra <strong>de</strong><br />

apresentar o livro do Rev. Nelson <strong>de</strong> Godoy Costa, com<br />

relação à vida do Rev. mo Bispo Dr. César Dacorso Filho.<br />

Trata-se <strong>de</strong> biografia, género <strong>de</strong> literatura que<br />

sempre me pareceu dos mais recomendáveis <strong>para</strong> o proveito<br />

da vida humana. Há biografias e biografias, isto é, dignas,<br />

sobejas <strong>de</strong> lições que se repitam, e


11<br />

também <strong>de</strong>sprezíveis, que se não <strong>de</strong>vem nomear. Quando<br />

digo ser a biografia espécie <strong>de</strong> literatura a meu ver<br />

recomendável, é evi<strong>de</strong>nte que me refiro à biografia cujos fatos<br />

constituem a história <strong>de</strong> uma vida nobre, merecedora,<br />

proveitosa. Esta, que apresento, escrita pelo Rev. Nelson <strong>de</strong><br />

Godoy Costa, tem pelo menos três motivos, que lhe<br />

assinalam merecimento e consi<strong>de</strong>ração, a saber: o autor é<br />

Ministro do Evangelho, filho <strong>de</strong> Ministro do Evangelho, e<br />

escreve a respeito <strong>de</strong> um Ministro do Evangelho e bispo da<br />

<strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil.<br />

Tomou a si o Rev. Nelson <strong>de</strong> Godoy Costa a<br />

empresa <strong>de</strong> apresentar ao povo ledor do Brasil a história da<br />

vida do Rev. mo Bispo César. Que empresa! Ninguém lha<br />

pediu, ninguém lha impôs. Êle <strong>de</strong> si a tomou, <strong>de</strong> coração, <strong>de</strong><br />

alma, porque viu na pessoa e vida do Sr. Bispo uma história<br />

do maior merecimento por suas lições e exemplos, história<br />

digna <strong>de</strong> ser contada muitas vezes, isto é, divulgada <strong>para</strong><br />

incentivo dos crentes, dos obreiros, dos Ministros.<br />

Nelson <strong>de</strong> Godoy Costa teve a felicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um berço<br />

cristão. O Sr. seu pai, o Rev. João Afonso da Costa, e a Sra.<br />

sua mãe, D. Elisa, nobre casal dos primeiros tempos do<br />

Evangelho no Brasil, metodistas, vários filhos, gran<strong>de</strong> família,<br />

foi o ambiente em que se <strong>de</strong>senvolveu o menino, hoje<br />

Ministro-pastor da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil, escritor e poeta,<br />

autor <strong>de</strong> vários livros. Escreveu agora a biografia do Rev. mo<br />

Bispo César. Suas páginas falam a um tempo dos sentimentos<br />

do autor, seu caráter bem formado em lar cristão, e<br />

dos merecimentos do biografado, igualmente cristão, cuja<br />

carreira tem lances <strong>de</strong> valor, merecedores da mais <strong>de</strong>tida<br />

consi<strong>de</strong>ração, por sua origem, pelo seu sentido, por suas<br />

lições.<br />

Há opiniões contrárias à publicação <strong>de</strong> biografias<br />

<strong>de</strong> pessoas que ainda vivem. Contar publicamente a


12<br />

Vida <strong>de</strong> alguém só <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> já se ter baixado à tumba. É<br />

como pensam. Pois <strong>de</strong>ixá-los pensar; não haverá mal por<br />

isso, nem bem. Nelson <strong>de</strong> Godoy Costa pensa<br />

diferentemente; dai o volume que escreveu da vida do<br />

Rev.m0 César. A ele, Rev. Nelson, não lhe importa que o seu<br />

biografado ainda aí esteja em pleno exercício ministerial, com<br />

tremendas responsabilida<strong>de</strong>s, no <strong>de</strong>sempenho do episcopado<br />

na <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil.<br />

Sobre o ponto não discordo do nobre colega. Tenho <strong>para</strong> mim<br />

que a biografia <strong>de</strong> um jovem qualquer, sobrevivente, em pleno<br />

torvelinho da vida, por muito expressiva que parecesse, a<br />

todos os respeitos, seria, ainda assim, prematura e, talvez,<br />

não lograsse o bem, porventura, imaginado. Não é, porém, a<br />

história <strong>de</strong> nenhum jovem <strong>para</strong> assombro e comentário dos<br />

leitores. O livro do Rev. Nelson é outra cousa. Não trata <strong>de</strong><br />

agiografia. Não é vida <strong>de</strong> santo que se recapitula <strong>para</strong><br />

proveito dos leitores. Se o fosse então era razoável que<br />

esperasse a morte. Também não se cogita em só profundar a<br />

etopéia <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> figura; seria um estudo e não uma<br />

exposição. Trata-se da biografia <strong>de</strong> uma vida que perdura,<br />

normal, expressiva por entre sombras e luz,<br />

perseverantemente lutadora e vitoriosamente proveitosa;<br />

biografia sincera, discutível e admirável, <strong>de</strong> cidadão patrício e<br />

fiel.<br />

Biografias constituem literatura diferente <strong>de</strong> todas quantas se<br />

po<strong>de</strong>m consultar; diferente porque fala da vida <strong>de</strong> pessoas, e<br />

a vida não é cousa que se invente, com mais ou menos brilho<br />

<strong>de</strong> palavras, <strong>para</strong> ser contada em conversa, em revistas,<br />

livros ou avulsos; é, sim, cousa real, cuja significação<br />

impressiona mais ou menos, conforme terá sido mo<strong>de</strong>lada<br />

com mais ou menos acerto, segundo os princípios da boa<br />

educação e seus interesses imediatos e remotos.<br />

A vida <strong>de</strong> qualquer pessoa, consi<strong>de</strong>rada em todos os seus<br />

aspectos, é um mundo <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s assuntos. Se


13<br />

for nobre, se bem aproveitada com virtu<strong>de</strong>s, pelo trabalho,<br />

pela firmeza <strong>de</strong> caráter, pela perseverança no bem, na<br />

paciência, com verda<strong>de</strong>, fielmente, ai, sim, é digna <strong>de</strong> ser lida<br />

<strong>para</strong> inspiração da nossa.<br />

O livro do Rev. Nelson <strong>de</strong> Godoy Costa é <strong>de</strong>sse teor. Suas<br />

páginas balançam o berço do menino César, respiram o clima<br />

do seu lar, fulguram a inteligência e aplicação do adolescente,<br />

traçam os primeiros quadros da vida que se inicia na igreja,<br />

as responsabilida<strong>de</strong>s dos primeiros empregos, as doçuras<br />

das primeiras recompensas. Vale a pena ler esse passado<br />

que se ausenta.<br />

Outras páginas se lêem no livro do Rev. Nelson, páginas <strong>de</strong><br />

outro clima, <strong>de</strong> outro sabor. Falam do jovem estudante, fora<br />

do lar, longe da cida<strong>de</strong> natal, já em lutas com a escassez <strong>de</strong><br />

recursos <strong>para</strong> o estudo, fronteando já durezas da injustiça<br />

que, não raro, assinalam <strong>para</strong> o túmulo. E outras e outras,<br />

cheias todas da história que <strong>de</strong>sperta, <strong>de</strong>ita lições e firma<br />

exemplos. Não é <strong>para</strong> <strong>aqui</strong>, na prefação apenas do livro, o<br />

repetir as páginas que Nelson <strong>de</strong> Godoy Costa escreveu.<br />

Tenho por certo, no entanto, que os leitores terão pressa em<br />

conhecê-las, porque tratam <strong>de</strong> uma vida que vingou renome,<br />

sem vaida<strong>de</strong>, e, não raro, esplendor, sem falácias que<br />

embaciam. Eu <strong>de</strong> mim tenho pressa em recomendar o livro do<br />

Rev. Nelson <strong>de</strong> Godoy Costa, <strong>para</strong> reforço, por certo, das<br />

impressões já <strong>de</strong>finidas e preciosas da vida e obras do<br />

consagrado Bispo César, em todos os aspectos do seu<br />

testemunho, no seio da família, no convívio social, em face<br />

dos princípios, nos apelos do <strong>de</strong>ver, como homem <strong>de</strong> fé,<br />

homem do trabalho, compreensivamente, zeloso e pontual.<br />

Des<strong>de</strong> menino acompanho a vida do Sr. Bispo César; <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

menino, quando o conheci numa Conferência em Piracicaba,<br />

venho seguindo e admi-


14<br />

rando a formação <strong>de</strong>sse caráter, cuja têmpera daria páginas e<br />

páginas <strong>de</strong> um volume à parte, inspirati-vamente copioso e<br />

copiosamente inspirador.<br />

Tenho por preciosa a tarefa <strong>de</strong> longo prazo <strong>de</strong> que<br />

<strong>de</strong>u cabo o Rev. Nelson <strong>de</strong> Godoy Costa. Para a <strong>Igreja</strong><br />

<strong>Metodista</strong> do Brasil, que muito <strong>de</strong>ve ao Rev. mo Bispo César<br />

por sua consagração e firmeza, o livro que se anuncia terá<br />

largo proveito. O que nele se ler há <strong>de</strong> contar-nos fatos que<br />

melhormente se expliquem, pelo comentário propositado, em<br />

tomo da vida que se agigantou em tantos dos seus aspectos<br />

na Causa do Senhor.<br />

Neste ponto, eu parece-me que não <strong>de</strong>sacerto<br />

figurando a vida ministerial do Sr. Bispo César, nas suas<br />

fases <strong>de</strong> Ministro-pastor, quer principiante, quer diácono, quer<br />

presbítero, ou finalmente no episcopado, há mais <strong>de</strong> vinte<br />

anos, com <strong>aqui</strong>lo <strong>de</strong> Castilho António a respeito do padre<br />

Manuel Bernar<strong>de</strong>s, quando o comparou com o padre António<br />

Vieira (Vol. 47, p. 70): "Lendo-os com atenção, sente-se que<br />

Vieira, ainda falando do céu, tinha os olhos nos seus ouvintes;<br />

Bernar<strong>de</strong>s, ainda falando das criaturas, estava absorto no<br />

Criador." Aqui é que me parece acertar a realida<strong>de</strong> com a vida<br />

do Rev. mo Bispo César. Pois não é certo que tudo nele, <strong>de</strong>le e<br />

com ele, é <strong>para</strong> a Causa do Senhor? O seu tempo, os seus<br />

dons, as suas forças, as suas experiências? O que imagina, o<br />

que giza e estuda, o que estuda e <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>, o que <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> e<br />

executa? Não é, porventura, em nome da Causa do Senhor, e<br />

por ela?<br />

Deixemos, pois, falar a linguagem dos fatos, em<br />

torno da vida do Rev. mo Bispo, Dr. César Dacorso Filho,<br />

segundo a orientação do seu biógrafo, Rev. Nelson <strong>de</strong> Godoy<br />

Costa


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

E peçamos a Deus, sinceramente, a leitura da<br />

biografia do seu gran<strong>de</strong> servo, Bispo César, seja fonte <strong>de</strong><br />

inspiração <strong>para</strong> os jovens, contínua satisfação dos seus<br />

companheiros até <strong>aqui</strong>, e, no geral, gran<strong>de</strong> bênção <strong>para</strong> a<br />

Causa do Senhor nosso Deus, em todos os seus múltiplos<br />

aspectos, na vasta seara evangélica do Brasil.<br />

António <strong>de</strong> Campos Gonçalves<br />

— Rio <strong>de</strong> Janeiro, 1953 —<br />

15


PALAVRA NECESSÁRIA<br />

Este livro é uma tentativa.<br />

Porque a vida empolgante <strong>de</strong> César Dacorso Filho somente<br />

po<strong>de</strong>rá ser escrita mais tar<strong>de</strong>, quando <strong>de</strong> modo mais positivo,<br />

os resultados surpreen<strong>de</strong>ntes, sempre surpreen<strong>de</strong>ntes, se<br />

fizerem sentir em bênçãos incontáveis <strong>para</strong> a <strong>Igreja</strong> a que<br />

amou <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a infância e a que entregou a vida, inteiramente.<br />

Gran<strong>de</strong> na inteligência e no saber, gran<strong>de</strong> na modéstia e na<br />

bonda<strong>de</strong>, gran<strong>de</strong> no trabalho e no serviço, imensamente<br />

gran<strong>de</strong> no amor com que amou e ama a <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do<br />

Brasil, imensamente gran<strong>de</strong> na consagração com que se<br />

entregou a ela, porque primeiramente amou o Senhor Jesus e<br />

se entregou a Êle, César Dacorso Filho precisa <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s<br />

escritores e gran<strong>de</strong>s biógrafos <strong>para</strong> grafarem sua vida.<br />

Não há modéstia nem falsa modéstia nesta palavra<br />

necessária.<br />

Este livro é um convite.<br />

É um convite sincero, cordial, insistente aos escritores, aos<br />

biógrafos, <strong>para</strong>, à luz <strong>de</strong> melhores documentos, oferecerem<br />

ao mundo a biografia do homem extraordinário a quem a<br />

<strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil <strong>de</strong>ve quase que inteiramente a<br />

gran<strong>de</strong>za <strong>de</strong> seu esplendor e a magnitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua glória.<br />

Aos prezadíssimos colegas, Revs. António Patrício Fraga,<br />

Eduardo Mena Barreto Jaime, António <strong>de</strong> Campos Gonçalves,<br />

Oswaldo Luiz da Silva, Elias Escobar Gavião, Messias Amaral<br />

dos Santos, José Rui Rodrigues <strong>de</strong> Almeida, Luiz Machado<br />

Morais e ao Sr. Darcy <strong>de</strong> Almeida, pela preciosa colaboração,<br />

nosso reconhecimento.<br />

17


PRIMEIRA PARTE<br />

NASCE UM MENINO<br />

19


CAPÍTULO PRIMEIRO<br />

NASCE UM MENINO<br />

Na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Santa Maria, no Estado do Rio<br />

Gran<strong>de</strong> do Sul, nasceu no dia 10 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1891 um<br />

menino. Os que correram aos aposentos do recém-nascido<br />

viram um garotinho forte e bem disposto, e sua mãe contente,<br />

sorri<strong>de</strong>nte e feliz por ter dado ao mundo um homem.<br />

Esse homem seria aos quarenta e três anos,<br />

muito moço ainda, o primeiro bispo brasileiro da <strong>Igreja</strong><br />

<strong>Metodista</strong> do Brasil.<br />

A casa que abrigou seus primeiros dias <strong>de</strong> vida<br />

existe ainda. É na rua Coronel Ni<strong>de</strong>rauer, e tinha o número<br />

trinta, que talvez, hoje, seja outro. Fica junto ao templo<br />

luterano e <strong>de</strong>fronte ao Colégio Complementar.<br />

Foi o pastor luterano, amigo íntimo do pai do<br />

recém-nascido, quem lhe pôs a língua em condições <strong>de</strong> falar,<br />

pois o menino tinha a língua "pegada" como diz o povo.<br />

21


22<br />

Deram-lhe o nome <strong>de</strong> César. César era o nome do pai, César<br />

Daeorso, italiano, <strong>de</strong> origem francesa. Parece <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />

huguenotes perseguidos que se refugiaram no povoado<br />

pequenino chamado Carloforte, na ilhota <strong>de</strong> São Pedro, perto<br />

da ilha italiana <strong>de</strong> Sar<strong>de</strong>nha.<br />

Seu nome primitivo, Daeorso, <strong>de</strong>veria ser De la<br />

Course. Outros dizem que Daeorso vem <strong>de</strong> "da Córsega", ilha<br />

próxima à da Sar<strong>de</strong>nha, pátria <strong>de</strong> Napoleão primeiro.<br />

O menino nasceu e cresceu à sombra <strong>de</strong> um<br />

templo protestante, e por sua origem remota talvez tenha<br />

outra ligação com o protestantismo. Seus pais, entretanto,<br />

sempre foram católicos, bem como todos seus irmãos. Sua<br />

mãe e alguns manos alimentavam simpatias pelo Evangelho,<br />

mas nunca se <strong>de</strong>cidiram por êle.<br />

No Brasil é este um fato muito comum: membros<br />

da mesma familia pertencendo a duas ou três religiões<br />

diferentes, ou por motivo <strong>de</strong> origem ou pelos casamentos<br />

mistos, que às vezes criam problemas <strong>de</strong>licadíssimos no seio<br />

da própria família, com reflexos sobre a <strong>Igreja</strong>.<br />

Seu progenitor<br />

O pai <strong>de</strong> César não teve muitas oportunida<strong>de</strong>s na<br />

vida <strong>para</strong> frequentar escolas, mas inteligente e esforçado<br />

apren<strong>de</strong>u muito da leitura <strong>de</strong> livros, revistas e. jornais.<br />

Conhecia os clássicos italianos, como Tasso, Dante, Ariosto;<br />

lia escritores mo<strong>de</strong>rnos, como De


23<br />

Amicis. Assinava a melhor revista da Rália, que era La<br />

Illustrazione Italiana. Gostava da matemática, praticava o<br />

<strong>de</strong>senho. Sendo pobre, às vezes em extremas dificulda<strong>de</strong>s,<br />

jamais <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> lamentar a impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> instruir seus<br />

filhos. Nos dias <strong>de</strong> sua mocida<strong>de</strong> foi marinheiro. Parece que<br />

também trabalhou em minas. Depois <strong>de</strong>dicou-se à arquitetura.<br />

Chamado <strong>para</strong> o Rio Gran<strong>de</strong> do Sul por um amigo, Ângelo<br />

Obino, transportou-se logo <strong>para</strong> o Rrasil. Passou<br />

primeiramente por Montevi<strong>de</strong>o, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> chegou ao Rio<br />

Gran<strong>de</strong> do Sul. Era em 1875 mais ou menos.<br />

Costumava contar aos filhos, que ouviam atentos<br />

e curiosos, as dificulda<strong>de</strong>s que encontrou em nossa terra,<br />

viajando sempre a cavalo, tendo <strong>de</strong> percorrer distâncias sem<br />

fim em campos inteiramente <strong>de</strong>spovoados. Lembrava-se<br />

também das gentilezas dos estancieiros gaúchos, que lhe<br />

escondiam o animal em que viajava <strong>para</strong> obrigá-lo a contar,<br />

<strong>de</strong>morando-se horas e horas com eles, as novida<strong>de</strong>s da<br />

Europa, ouvidas sempre com crescente entusiasmo.<br />

Conhecia quase todo o Rio Gran<strong>de</strong> do Sul.<br />

Trabalhou como construtor em Bagé, Santa Maria,<br />

Rio Pardo, São Martinho. Foi em Campestre <strong>de</strong> Santo Antão,<br />

perto <strong>de</strong> São Martinho, que conheceu a companheira <strong>de</strong> seus<br />

dias. Resolveu fixar-se em Santa Maria, e naquela cida<strong>de</strong><br />

sulina constituiu seu lar.<br />

I<strong>de</strong>ntificou-se com seus moradores e costumes<br />

inteiramente a ponto <strong>de</strong> não dispensar o cavalo, o churrasco,<br />

o chimarrão.


24<br />

Po<strong>de</strong>-se dizer que foi êle quem construiu a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Santa<br />

Maria. São <strong>de</strong> suas mãos a estação da estrada <strong>de</strong> ferro, os<br />

quartéis, o teatro, os prédios principais.<br />

Quando foi construído e inaugurado o teatro "13<br />

<strong>de</strong> Maio" a cida<strong>de</strong> prestou-lhe homenagens, oferecendo-lhe<br />

um prumo <strong>de</strong> metal amarelo e uma colher <strong>de</strong> prata, <strong>de</strong><br />

pedreiro, presentes que seus filhos guardam com carinho.<br />

Construiu também o hospital da cida<strong>de</strong> e na ocasião <strong>de</strong> sua<br />

entrega a população agra<strong>de</strong>cida homenageou-o.<br />

Êle mesmo <strong>de</strong>senhava, fazia as plantas, estudava<br />

orçamentos, dirigia as construções, trabalhando ombro a<br />

ombro com os mais humil<strong>de</strong>s operários. Homem <strong>de</strong> boa fé,<br />

trabalhou muito, aten<strong>de</strong>u consultas <strong>de</strong> outros construtores do<br />

Estado, foi presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong>s, trabalhou intensamente,<br />

trabalhou a vida inteira e não chegou a possuir mais do que<br />

duas casas mo<strong>de</strong>stas.<br />

Numa <strong>de</strong>ssas, porém, foi que César nasceu. A<br />

casa <strong>de</strong> número trinta, da rua Coronel Ni<strong>de</strong>rauer, frente ao<br />

Colégio Complementar, junto ao templo protestante.<br />

Assim foi o pai <strong>de</strong> César Dacorso Filho. Ca-ráter<br />

transparente, homem da honra<strong>de</strong>z e do trabalho. Faleceu em<br />

24 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, véspera do Natal <strong>de</strong> 1931. Matou-o o câncer<br />

no estômago e no fígado.<br />

Sua progenitora<br />

A rnãe <strong>de</strong> César Dacorso Filho nasceu em<br />

Campestre <strong>de</strong> Santo Antão. Naquela localida<strong>de</strong>


25<br />

casou-se. Descen<strong>de</strong> dos ilustres Pereira da Silva que<br />

chegaram a ser ministros do Gabinete Imperial.<br />

Seu pai foi um <strong>de</strong>sgarrado da família. Mocinho,<br />

fugiu <strong>de</strong> casa e foi sentar praça no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul. Mais<br />

tar<strong>de</strong> adquiriu proprieda<strong>de</strong>s em Campestre <strong>de</strong> Santo Antão,<br />

on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>dicou à agricultura e on<strong>de</strong> faleceu.<br />

Sua mãe tinha fortes traços <strong>de</strong> indígena.<br />

A senhora mãe <strong>de</strong> César Dacorso Filho foi uma<br />

mulher do trabalho. Dedicou-se inteiramente ao lar. Sem o<br />

auxílio <strong>de</strong> empregadas criou todos os filhos. Desvelou-se por<br />

eles e por eles se consumiu. Tinha um nome bonito e<br />

expressivo. Chamava-se Constância.<br />

Dos <strong>de</strong>z filhos do casal, Maria faleceu ao nascer.<br />

Docelina e Isolina faleceram casadas. Vitorio morreu em<br />

Santa Maria; era casado. João, solteiro, alistou-se no exército<br />

italiano por ocasião da primeira gran<strong>de</strong> guerra e morreu ao<br />

que se pensa, na batalha <strong>de</strong> San Michelle. Paulo, casado,<br />

vive no Rio <strong>de</strong> Janeiro. Guilhermina faleceu quase noiva.<br />

Alice vive em Santa Maria; é casada. Humberto, casado,<br />

mora em Porto Alegre.<br />

É notável a mistura <strong>de</strong> sangue na família: francês,<br />

italiano, austríaco, português, uruguaio.<br />

Interessante a varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> profissões: ministro<br />

do Evangelho, militar, pedreiro, alto comércio, contabilista.<br />

Todos têm tendência <strong>para</strong> música. César possui<br />

excelente voz <strong>de</strong> "baixo".


CAPÍTULO SEGUNDO<br />

MENINO POBRE E FELIZ<br />

Foi em Santa Maria que César Dacorso Filho<br />

viveu os dias <strong>de</strong> sua infância. Da casa em que nasceu muito<br />

pouco se recorda. Sua lembrança mais remota pren<strong>de</strong>-se à<br />

segunda casa on<strong>de</strong> morou.<br />

Seu pai havia contratado as obras da estação e<br />

do armazém da estrada <strong>de</strong> ferro Itararé, do outro lado da<br />

cida<strong>de</strong>. Adquiriu por isso ura terreno nas proximida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

on<strong>de</strong> <strong>de</strong>via iniciar a construção. Era um terreno irregular, com<br />

uma face <strong>para</strong> a estrada <strong>de</strong> ferro, outra face <strong>para</strong> a rua e<br />

outra <strong>para</strong> o riacho. Ali edificou.<br />

Naquela casa o menino morou até os onze anos.<br />

Ocupava o dia cuidando das cabras leiteiras. Brincava no<br />

riacho, subia os salseiros que margeavam o rio pequenino.<br />

Distraía-se ouvindo o vozerio dos<br />

26


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

boleeiros <strong>de</strong> "vitórias" que iam buscar os passageiros na<br />

estação construída por seu pai e já entregue ao público.<br />

Das recordações <strong>de</strong>sse tempo a mais forte é a<br />

dos últimos dias da revolução que ensanguentou o Rio<br />

Gran<strong>de</strong> do Sul, logo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 1892 e que durou até 1897;<br />

das tropas que passaram por sua casa; <strong>de</strong> uma batalha em<br />

que o general revolucionário, Pina, tomou a cida<strong>de</strong>; <strong>de</strong> um<br />

quartel improvisado em frente a sua casa, quando um<br />

sargento ofereceu a seus pais um pedação <strong>de</strong> churrasco bem<br />

gordo. Lembra-se ainda do transporte dos feridos ao longo do<br />

leito da estrada <strong>de</strong> ferro, e, afinal do embarque das tropas<br />

<strong>para</strong> Canudos.<br />

AOS CINCO ANOS<br />

Aos cinco anos César principiou a acompanhar o<br />

progenitor <strong>para</strong> o trabalho. Vigiava o churrasco ao fogo,<br />

enquanto o pai, colher à mão trabalhava. Nessas idas e<br />

vindas começou a conhecer a cida<strong>de</strong>. Em casa enchia a cuia<br />

e pre<strong>para</strong>va o chimarrão <strong>para</strong> o pai. Era amigo e serviçal.<br />

Lembra-se <strong>de</strong> alguns inci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>ssa época <strong>de</strong><br />

sua vida. Uma vez escapou da morte, milagrosamente. Foi<br />

assim: Estava brincando com sua irmãzinha no fundo da<br />

casa, no tempo da revolução, quando uma bala perdida<br />

passou raspando-lhe as orelhas e foi cravar-se no barranco.<br />

27


NELSON DE GODOY COSTA<br />

Outra noite brincava com seus irmãozinhos na<br />

sala <strong>de</strong> visitas. Seus pais gozavam o frescor da noite em<br />

frente a casa. Foi quando o cãozinho começou a latir<br />

avisando <strong>de</strong> que alguém <strong>de</strong>scia o morro, o aterro da estrada<br />

<strong>de</strong> ferro, sorrateiramente. Seus pais voltaram <strong>para</strong> o lado e<br />

viram um homem que fugiu.<br />

Naquela noite verificou-se um crime na rua Nova e<br />

o assassino, preso no dia seguinte, confessou ter tentado<br />

assassinar o casal, que distraido tomava o frescor da noite lá<br />

fora.<br />

Para o menino essa foi a segunda vez em que,<br />

talvez, escapou da morte.<br />

Sempre foi vítima <strong>de</strong> cacos <strong>de</strong> vidro nos pés.<br />

Certa vez, brincando nas obras da estação pisou num caco<br />

<strong>de</strong> vidro que lhe cortou profundamente o pé. Quase morreu<br />

com a hemorragia.<br />

Apanhava pregos <strong>de</strong> seu pai e pregava no chão<br />

fazendo com eles <strong>de</strong>senhos; gostava <strong>de</strong> encarapitar-se nos<br />

trens lastros em manobras; rebuscava pelos campos ninhos<br />

<strong>de</strong> galinhas poe<strong>de</strong>iras, colhia flores silvestres, jogava gu<strong>de</strong>.<br />

Era a infância <strong>de</strong> um menino pobre e feliz.<br />

AOS SETE ANOS<br />

Aos sete anos foi <strong>para</strong> a escola pública. Era um<br />

casarão que ainda existe ao alto da rua Riachuelo, Lembra-se<br />

muito bem <strong>de</strong> seu primeiro professor, homem <strong>de</strong> muita cultura<br />

e honestida<strong>de</strong>, chamado Benvindo Pires <strong>de</strong> Sales. Era<br />

baiano.PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

28


Para ir à escola César saía <strong>de</strong> casa com seu<br />

mano Paulo. Aqui aparece seu mano como seu companheiro.<br />

Sempre foram muito amigos e muito unidos. Passavam pela<br />

casa <strong>de</strong> um amiguinho, António Losa, hoje, negociante,<br />

capitalista e político em Santa Maria, e, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> meia hora<br />

<strong>de</strong> caminho chegavam à escola. Seu primeiro livro foi a<br />

cartilha <strong>de</strong> Hilário Ribeiro e custou-lhe quinhentos réis, hoje,<br />

cinquenta centavos.<br />

Nessa escola César teve três professores:<br />

Benvindo Pires <strong>de</strong> Sales, Nestor <strong>de</strong> Oliveira e Antero José <strong>de</strong><br />

Almeida.<br />

SEUS PRIMEIROS AMIGUINHOS<br />

Nesse tempo <strong>de</strong> escola foi que César teve seus<br />

primeiros amiguinhos. Seus nomes precisam ser guardados<br />

nesta biografia: José Borba, poeta; Luiz Fernan<strong>de</strong>s Calage,<br />

escritor, sociólogo, historiador e jornalista, hoje resi<strong>de</strong>nte em<br />

São Paulo; Mário Brasil, engenheiro; Anacleto Corrêa,<br />

engenheiro, funcionário da Viação Férrea do Rio Gran<strong>de</strong> do<br />

Sul.<br />

Esses foram os primeiros amiguinhos <strong>de</strong> César,<br />

os amigos <strong>de</strong> sua infância, todos meninos pobres como êle,<br />

querendo estudar, querendo apren<strong>de</strong>r, ansiando vencer na<br />

vida. Como César eram sonhadores, i<strong>de</strong>alistas, meninos <strong>de</strong><br />

valor, meninos que influenciaram César, e foram por êle<br />

influenciados num consórcio admirável <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ais gran<strong>de</strong>s <strong>para</strong><br />

a vida.<br />

29


NELSON DE GODOY COSTA<br />

Chegaram a ter, no seu mundo <strong>de</strong> sonhos i<strong>de</strong>ias<br />

exquisitas. Certa vez César e Mário Corrêa inventaram uma<br />

língua universal e na organização do dicionário gastavam<br />

todos os centavos que lhes vinham às mãos. Não sabiam<br />

que já existia o Esperanto.<br />

A vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> estudar persistia. Certa vez preten<strong>de</strong>ram<br />

alugar uma sala pequenina e um lampião <strong>para</strong><br />

po<strong>de</strong>rem estudar. Mas... on<strong>de</strong> o dinheiro?<br />

Outra vez planejaram uma viagem pelo mundo.<br />

Era a melhor forma <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r. Em Luiz Fernan<strong>de</strong>s Calage<br />

a i<strong>de</strong>ia se fixou <strong>de</strong> tal modo que mais tar<strong>de</strong> fugiu <strong>de</strong> casa, foi<br />

<strong>para</strong> Porto Alegre com intenção <strong>de</strong> seguir <strong>para</strong> o Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro.<br />

César atormentava o pai pedindo-lhe que lhe<br />

comprasse livros. O pai <strong>de</strong>u-lhe, além dos escolares, toda a<br />

coleção <strong>de</strong> Felisberto <strong>de</strong> Carvalho, e um livro <strong>de</strong> poesias <strong>de</strong><br />

Fanfa Ribas. Na falta <strong>de</strong> mais livros e se<strong>de</strong>nto <strong>de</strong> mais livros o<br />

menino lia os jornais que vinham protegendo os engradados<br />

<strong>de</strong> mármore <strong>de</strong>stinados aos mausoléus; lia a "Fe<strong>de</strong>ração", lia<br />

"O Correio do Povo", lia muito, lia sempre.<br />

Hoje César lembra-se com sauda<strong>de</strong>s daqueles<br />

dias <strong>de</strong> penúria e <strong>de</strong> ambição. Às vezes com seus<br />

coleguinhas dilatava o campo <strong>de</strong> seus passeios e realizava<br />

excursões às serras do Pinhal, <strong>de</strong> on<strong>de</strong>, lá do alto fazia<br />

tombar pedras enormes, brincando alegremente. Outras<br />

vezes nas encostas, ao pé <strong>de</strong> alguma sanga, nas mesmas<br />

serras, César e seus companheirinhos pre<strong>para</strong>vam café e<br />

tomavam com pão e pedaços <strong>de</strong> salame.<br />

30


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

Folgando percorriam estradas extensas. Quem<br />

po<strong>de</strong>ria ver nessas caminhadas os primeiros passos daquele<br />

que, Bispo da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil, seria o viajor <strong>para</strong><br />

quem as estradas não teriam segredos, as distâncias não<br />

teriam fim?<br />

César lembra-se com sauda<strong>de</strong>s daquela vez em<br />

que, brincando com os mosqueteiros em miniatura, subiu a<br />

um salseiro, e distraindo-se caiu <strong>de</strong> cheio no arroio. Era<br />

domingo e ele teve <strong>de</strong> atravessar a cida<strong>de</strong> toda, cheia <strong>de</strong><br />

gente endomingada, até chegar em casa, completamente<br />

encharcado isto é, molhadinho como um pintainho.<br />

Recorda-se <strong>de</strong> sua infância, <strong>de</strong> quantas e quantas<br />

vezes, quase em andrajos, <strong>de</strong>scalço, chapéu furado <strong>de</strong> tão<br />

velho, tiritando <strong>de</strong> frio, acompanhou o pai ao trabalho, ou<br />

nesse mesmo triste estado brincou com os amiguinhos. E,<br />

quanta vez sentiu do mesmo modo as solas dos pés<br />

escaldando na areia batida <strong>de</strong> sol das ruas da cida<strong>de</strong> on<strong>de</strong><br />

nasceu.<br />

Na casa <strong>de</strong> Mário Corrêa havia um canal longo e<br />

sempre cheio <strong>de</strong> água, com um botezinho <strong>para</strong> os meninos<br />

brincarem. César gostava do bote pequenino. Um dia tomou-o<br />

sozinho e lá se foi pelo canal a fora; em meio porém do<br />

passeio o botezinho cismou com o passageiro, virou <strong>de</strong><br />

pernas <strong>para</strong> o ar e o menino saiu do fundo do canal coberto<br />

<strong>de</strong> lama, com lama nos bolsos, no rosto, nos cabelos.<br />

Havia também lá uma "estrada <strong>de</strong> ferro" feita <strong>de</strong><br />

pau, com vagão — um caixote <strong>de</strong> querosene aberto ao lado,<br />

que era ao mesmo tempo carro <strong>de</strong> passageiros<br />

31


NELSON DE GODOY COSTA<br />

e <strong>de</strong> carga. Anos mais tar<strong>de</strong>, viajando pelo Brasil e pelo<br />

estrangeiro nos trens mais confortáveis, César se lembraria,<br />

ao certo, com profunda sauda<strong>de</strong> — olhos perdidos nas<br />

paisagens americanas e europeias, daquela paisagem<br />

brasileira nas plagas sulinas, do trenzinho que só andava na<br />

<strong>de</strong>scida, on<strong>de</strong> muitas vezes sofreu "sérios aci<strong>de</strong>ntes" todos,<br />

felizmente sem muita gravida<strong>de</strong>...<br />

SANTA MARIA<br />

Santa Maria era por esse tempo uma cida<strong>de</strong>zinha<br />

do interior, muito espalhada, ruas sem calçamento. Seus<br />

moradores eram como uma só família. A vida em casa do<br />

menino corria tranquila. O pai cortava-lhe o cabelo. A mãe<br />

costurava-lhe a roupinha. Êle fazia compras, levava recados.<br />

Bem <strong>de</strong>pressa ficou conhecendo toda gente. É<br />

verda<strong>de</strong> que vivia um tanto isolado porque seu mano mais<br />

velho e que era tão seu amigo, fora morar com os padrinhos,<br />

Teodósio e Leocádia Pereira <strong>de</strong> Barros, e seus irmãos mais<br />

novos eram muito pequenininhos. Tinha entretanto, suas<br />

irmãs, das quais sempre foi muito amigo.<br />

Nas horas <strong>de</strong> solidão, quando sentia mais fundas<br />

as sauda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> seu mano Paulo, procurava fazer alguma<br />

coisa: punha em or<strong>de</strong>m os pedaços <strong>de</strong> tábua que sempre os<br />

havia muitos, espalhados pelo terreiro; capinava o quintal,<br />

consertava as cercas. Apren<strong>de</strong>u até a passar roupa a ferro.<br />

32


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

Infância penosa <strong>de</strong> menino por vezes triste e por<br />

vezes solitário. Escola <strong>de</strong> trabalho que lhe formou o hábito,<br />

pelo qual hoje César agra<strong>de</strong>ce a Deus, louvando-O, <strong>de</strong><br />

somente <strong>de</strong>scansar nas horas <strong>de</strong> refeição e <strong>de</strong> sono.<br />

Foi naquela época que instalaram luz elétrica e<br />

telefone em sua cida<strong>de</strong>. Viu pela primeira vez um automóvel.<br />

Queria muito ver um automóvel. E foi um <strong>de</strong>sapontamento: o<br />

que viu era feio, velho, sujo e <strong>de</strong>sengonçado. Queria muito ir<br />

ao cinema; queria saber o que era <strong>aqui</strong>lo, embora no seu<br />

tempo fosse ainda cinematógrafo. O pai fèz-lhe a vonta<strong>de</strong>.<br />

Levou-o. 0 menino foi. Viu. Gostou, mas tremeu durante o<br />

tempo todo.<br />

CONHECE UMA ESCOLA DOMINICAL<br />

0 Rev. W. Morris, missionário americano da <strong>Igreja</strong><br />

Episcopal tinha uma escola dominical que funcionava num<br />

salão da rua do Comércio. César, curioso por tudo quanto<br />

fosse <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r principiou a frequentar as aulas fêz<br />

algumas amiza<strong>de</strong>s e teria continuado por longo tempo, se<br />

seus pais não o tivessem impedido <strong>de</strong> continuar ali, afastados<br />

por motivos <strong>de</strong>sagradáveis, escandalizados com<br />

procedimento <strong>de</strong> certos alunos.<br />

QUEREM FAZÊ-LO MILITAR E QUEREM FAZÊ-LO<br />

PADRE<br />

Amigos <strong>de</strong> seu pai quiseram enviar o menino <strong>para</strong><br />

a Escola Militar. É possível que o gauchinho<br />

33


NELSON DE GODOY COSTA<br />

viesse a ser um gran<strong>de</strong> oficial do Exército; irias<br />

como se êle tinha horror à farda, e, naquele tempo um medo<br />

pavoroso <strong>de</strong> soldado?...<br />

Também o vigário da cida<strong>de</strong>, admirando aquele<br />

menino sizudo, com ares <strong>de</strong> homenzinho, chegou a falar com<br />

o pai sobre a conveniência <strong>de</strong> levá-lo <strong>para</strong> um seminário.<br />

Tinham motivo as palavras do sacerdote. César ia muitas<br />

vezes à missa, acompanhava as procissões. Sua alma<br />

pequenina prendia-se àquela movimentação. Sempre o<br />

menino sentiu-se empolgado pela gran<strong>de</strong>za, com a beleza<br />

das festas religiosas e cívicas realizadas no Sul, muito mais<br />

<strong>de</strong>slumbrantes que em outros pontos do país.<br />

Esses esforços eram o interesse <strong>de</strong> amigos pelo<br />

menino pobre e inteligente, pelo futuro do menino pobre e<br />

pequenino, mas que, como <strong>de</strong>veria <strong>de</strong>clarar anos mais tar<strong>de</strong>,<br />

no seu discurso <strong>de</strong> recepção à Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Letras <strong>de</strong> São<br />

Paulo, tinha aprendido a fitar as alturas dos An<strong>de</strong>s<br />

inatingíveis.<br />

Fitava-as, pequenino.<br />

Homem, atingiu-as.<br />

------ 0O0 ------<br />

Teve as doenças <strong>de</strong> criança, sarampo,<br />

coqueluche. Uma grave: febre tifo.<br />

Seu mano Paulo, certa vez, inadvertidamente,<br />

apanhou na rua um papel bonito. Estava infeccionado.<br />

Contraiu tremenda moléstia <strong>de</strong> olhos que transmitiu a<br />

34


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

todos da casa. Foi um período angustioso aquele.<br />

Seu pai carregava um filhinho em cada braço; os maiores<br />

acompanhavam como podiam e iam ao médico, dr. Pantaleão<br />

Pereira Pinto, amicíssimo da família.<br />

César sofreu a mais não po<strong>de</strong>r com essa<br />

nfermida<strong>de</strong>.<br />

35


CAPÍTULO TERCEIRO<br />

CAIXEIRINHO SEM ORDENADO<br />

Em meados <strong>de</strong> 1902 seu pai, com enorme sacrifício,<br />

arrematou em hasta pública uma chácara no fim da rua<br />

Marquês <strong>de</strong> Herval, hoje rua Serafim Valandro. Para lá<br />

mudou-se a família.<br />

Um dos primeiros cuidados <strong>de</strong> seu pai foi plantar<br />

um vasto parreiral, a cuja sombra, muitas vezes o menino <strong>de</strong><br />

onze anos viria dormir nas horas <strong>de</strong> maior calor, como é<br />

costume dos sulinos.<br />

Continuava assíduo às aulas do professor Antero<br />

<strong>de</strong> Almeida. Seus amiguinhos eram os mesmos: José Borba,<br />

Álvaro Corrêa, Luiz Fernan<strong>de</strong>s Calage. Seu pai empreitou a<br />

construção do hospital, o que o sobrecarregou <strong>de</strong> dívidas. Foi<br />

um verda<strong>de</strong>iro <strong>de</strong>sastre financeiro.<br />

36


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

Como se tornasse muito crítica a situação<br />

económica da família o menino principiou a trabalhar como<br />

caixeirinlio na casa <strong>de</strong> secos e molhados <strong>de</strong> Teodósio Pereira<br />

<strong>de</strong> Barros, compadre <strong>de</strong> seu pai e on<strong>de</strong> até então estivera<br />

como caixeiro, seu mano mais velho, Paulo.<br />

A casa existe ainda à avenida Rio Branco,<br />

bastante modificada e nela resi<strong>de</strong>m os padres que oficiam na<br />

catedral vizinha.<br />

No armazém o caixeirinlio principiante, aproveitando<br />

todos os momentos vagos, esforçava-se em<br />

melhorar a letra, fazendo longas cópias em um livro enorme,<br />

antiquado, abandonado, <strong>de</strong> folhas azuis.<br />

Naqueles dias <strong>de</strong>ram-se dois inci<strong>de</strong>ntes na vida<br />

do menino. Distraído, o menino era realmente uma criança,<br />

atirou uma caixa <strong>de</strong> fósforos sobre uma pilha <strong>de</strong> caixas e<br />

maços <strong>de</strong> fósforos, numa prateleira. A caixa, não se sabe<br />

como, incendiou-se. Por felicida<strong>de</strong> o fogo não se alastrou; do<br />

contrário a casa do patrão teria se queimado toda. Nunca o<br />

menino levou tamanho susto.<br />

Outro fato foi este. César dormia num <strong>de</strong>pósito do<br />

armazém, muito <strong>para</strong> os fundos juntamente com seu mano<br />

Paulo. Paulo foi fazer "serão" na tipografia do "Gaspar<br />

Martins", jornal, on<strong>de</strong> trabalhava e César <strong>de</strong>itou-se <strong>de</strong>ixando<br />

o lampião aceso, com intenção <strong>de</strong> esperar acordado o irmão.<br />

Dormiu, porém. E que sono! Paulo precisou arrombar a porta<br />

do <strong>de</strong>pósito <strong>para</strong> po<strong>de</strong>r entrar e nem mesmo assim o<br />

irmãozinho acordou.<br />

37


NELSON DE GODOY COSTA<br />

É que ainda não sofria <strong>de</strong> insónia como sofre hoje,<br />

quando se <strong>de</strong>sperta ao mais leve ruído.<br />

Guarda a alegria <strong>de</strong> ter sido um caixeirinho<br />

honesto. Nunca tirou um centavo da gaveta. Nunca furtou<br />

uma bala. Nunca enganou os fregueses.<br />

o0o<br />

Em 1903 seu patrão mudou-se <strong>para</strong> Tupaceretâ,<br />

povoado muito espalhado, como geralmente são os do Sul,<br />

entre Santa Maria e Cruz Alta. Levou toda a mercadoria.<br />

O caixeirinho, com a alegria e a novida<strong>de</strong> da<br />

mudança, entregou-se à trabalheira <strong>de</strong> encaixotar e<br />

<strong>de</strong>sencaixotar peças <strong>de</strong> fazenda e <strong>de</strong> renda, caixas <strong>de</strong> renda,<br />

<strong>de</strong> botões; <strong>de</strong> ensacar e <strong>de</strong>sensacar farinha <strong>de</strong> mandioca,<br />

feijão, arroz; <strong>de</strong> carregar ferragens e tudo o mais. E lá se foi<br />

também <strong>para</strong> Tupaceretâ.<br />

No povoado as coisas corriam bem <strong>para</strong> o patrão.<br />

A casa tinha um movimento enorme. Para ela o menino,<br />

embora sua ida<strong>de</strong>, principiou a comprar couro, partidas <strong>de</strong><br />

erva-mate e <strong>de</strong> farinha <strong>de</strong> mandioca. Trabalhava <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

madrugada até alta noite. Levantava-se varria a casa, limpava<br />

o lampião, enchia-o <strong>de</strong> querosene, dispunha tudo <strong>para</strong> o<br />

trabalho do dia. Depois do almoço ia ao correio.<br />

Armazém movimentado, havia sempre muitos<br />

cavalos presos ali pelo cabresto, enquanto seus donos<br />

compravam ou simplesmente palestravam. César, toda a vez<br />

em que ia buscar a correspondência, ou ia<br />

38


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

à estação, ou negociar partidas <strong>de</strong> erva-mate, sal ou<br />

aguar<strong>de</strong>nte, ou farinha <strong>de</strong> mandioca pegava um daqueles<br />

cavalos, montava e saia pelas ruas a fora, galopando como<br />

se fosse um gran<strong>de</strong> cavaleiro. Certo dia apanhou um cavalo<br />

fogosíssimo <strong>de</strong> um homem chamado Miguel Chaves, um<br />

cavalo branco, enorme, <strong>de</strong> crinas abundantes e cauda<br />

amarrada. Saiu mas imediatamente percebeu que o cavalo<br />

não era <strong>para</strong> brinca<strong>de</strong>iras. Nem quis apear <strong>para</strong> apanhar a<br />

correspondência; pediu a alguém que lha <strong>de</strong>sse. E antes que<br />

lha entregassem o cavalo disparou a toda a velocida<strong>de</strong>.<br />

Felizmente "<strong>de</strong>simbestou" por uma campina que se espraiava<br />

ali por perto. 0 menino agarrado ao "Santo António"<br />

conseguiu manter-se na sela, não caiu, e acabou gostando da<br />

corrida. Pô<strong>de</strong> afinal dominar o animal e voltar ao correio.<br />

Estava suando e teve o cuidado <strong>de</strong> não <strong>de</strong>ixar que na loja<br />

percebessem sua aventura.<br />

Outra vez brigou com um garoto <strong>de</strong> seu tamanho<br />

no caminho do correio. O garoto "levou a pior" e vendo que<br />

César <strong>de</strong>veria voltar pelo mesmo caminho correu à casa<br />

armou-se <strong>de</strong> uma valente faca, chamou um companheiro e foi<br />

esperar ao longo <strong>de</strong> uma cerca muito comprida, uma cerca <strong>de</strong><br />

arame. Talvez por precaução ficaram do lado <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro da<br />

cerca...<br />

Quando César chegou lá os dois o xingaram e o<br />

<strong>de</strong>safiaram <strong>para</strong> nova briga. Não chegaram a se pegar porque<br />

entre eles estava a cerca. Discutiram um pouco <strong>de</strong> tempo<br />

trocando "gentilezas"; <strong>de</strong>pois resolveram fazer as pazes. E<br />

seguiram juntos. César<br />

39


NELSON DE GODOY COSTA<br />

guardou entretanto <strong>de</strong>sse atrito uma gran<strong>de</strong><br />

mágoa: chamaram-no <strong>de</strong> "roseta" apelido eme os serranos<br />

dão aos fronteiriços no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul.<br />

o0o<br />

Um falo que não <strong>de</strong>ixava <strong>de</strong> impressionar o<br />

menino caixeiro era este: <strong>de</strong> tempos em tempos um gaúcho<br />

do campo batia altas horas da noite à porta do armazém.<br />

César lha abria. Arriscava-se a um imprevisto abrindo a um<br />

<strong>de</strong>sconhecido, tão tar<strong>de</strong> da noite. O <strong>de</strong>sconhecido entrava,<br />

tirava a guaiaca (cinta larga <strong>de</strong> couro com bolsas) com um<br />

enorme revólver e punha sobre o balcão. Fazia um pedido<br />

gran<strong>de</strong> e pagava tudo. Colocava <strong>de</strong> novo a guaiaca à cintura.<br />

Pegava a compra. Saía. Ia-se embora.<br />

Aquele homem nunca <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser <strong>para</strong> o<br />

menino eme o atendia amedrontado, altas horas da noite, um<br />

individuo suspeito. Parecia um criminoso. Era o único<br />

<strong>de</strong>sconhecido, <strong>de</strong> lugar ignorado, que aparecia daquela<br />

maneira àquelas horas mortas da noite.<br />

Uma vez êle foi quando a esposa do patrão<br />

estava no armazém. Ela ficou tão mal impressionada, que,<br />

sem que o homem notasse enquanto fazia o pedido, mandou<br />

sua sobrinha, uma menina chamada Elvira pôr um revólver<br />

sobre uma barrica sob o balcão.<br />

Interessante, a figura sinistra que vinha através da<br />

escuridão da noite a uma casa comercial situada em lugar<br />

ermo, nunca tentou fazer mal algum. Respeitava aquele<br />

menino na sua <strong>de</strong>bilida<strong>de</strong> e na sua coragem.<br />

40


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

Certo dia, hora quente do dia, César está acabando<br />

<strong>de</strong> servir chimarrao a seu patrão c a um amigo, quando<br />

entra um homem ares sinistros, empunhando facão<br />

ameaçador. Rodopia c cai no chão pesadamente. Todos<br />

pensam que é criminoso fugindo da polícia, fulminado <strong>de</strong><br />

síncope cardíaca. E agora aquele cadáver em pleno<br />

armazém! 0 menino toma a iniciativa. Grita. Aco<strong>de</strong> um velho<br />

policial ao acaso ali perto.<br />

Não era criminoso coisa alguma, nem tão pouco<br />

<strong>de</strong>funto. Simplesmente um pobre homem do campo, bêbado<br />

até o nariz, vagando pelas ruas, sem <strong>de</strong>stino.<br />

o0o<br />

Foi em Tupaceretâ que ouviu histórias e mais<br />

histórias sobre as revoluções rio-gran<strong>de</strong>nses, e a exaltação<br />

<strong>de</strong> seus heróis, Gumercido Saraiva, Jóca Tavares, Saldanha<br />

da Gama, Canabarro, Bento Gonçalves. Foi lá que ouviu a<br />

respeito da guerra do Paraguai e seus valentes, Osório,<br />

Câmara, Pelotas. Conheceu o cabo João do Vale<br />

comandante do pelotão que fuzilou Solano Lopes, o ditador<br />

do Paraguai.<br />

Foi lá que lhe contaram da visita que o Imperador<br />

D. Pedro II fêz ao Rio Gran<strong>de</strong> do Sul; das Missões e do<br />

trabalho que os jesuítas realizaram ao longo do rio Uruguai.<br />

Sua mente enchia-se <strong>de</strong> quadros estupendos. Sua<br />

imaginação fervia. Tinha vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> realizar gran<strong>de</strong>s coisas.<br />

Até hoje, mais <strong>de</strong> meio século, essas histórias do passado riogran<strong>de</strong>nse<br />

produzem viva impressão na vida do lutador.<br />

41


NELSON DE GODOY COSTA<br />

Naquele tempo, nos dias <strong>de</strong> Tupaceretâ, tinha<br />

doze anos.<br />

o0o<br />

O trabalho era <strong>de</strong>mais e continuava sempre<br />

aumentando; não lhe sobrava tempo nem <strong>para</strong> melhorar a<br />

letra. Sempre porém, em todo o instante que podia <strong>de</strong>vorava,<br />

em leitura <strong>de</strong> menino se<strong>de</strong>nto <strong>de</strong> saber, os jornais que o<br />

patrão recebia <strong>de</strong> Santa Maria e da capital do Estado.<br />

Em Tupaceretâ nunca foi a uma igreja, nunca viu<br />

um padre ou um pastor protestante. Esqueceu-se do que<br />

tinha aprendido na escola dominical do Rev. William Morris. 0<br />

domingo era um dia igual os outros <strong>para</strong> o trabalho.<br />

A esposa do patrão d. Leocádia, filha do cónego<br />

Neves, ex-vigário <strong>de</strong> São Martinho, senhora muito religiosa,<br />

armava às vezes uma espécie <strong>de</strong> altar que enchia <strong>de</strong><br />

imagens tiradas da gaveta da cómoda. Diante <strong>de</strong>le ajoelhavase<br />

e orava. Certo dia em suas mãos César viu uma linda<br />

Biblia.<br />

Um ano assim passou em Tupaceretâ. Trabalhos<br />

e mais trabalhos. Impressões fundas formando o lastro <strong>de</strong> sua<br />

vida.<br />

Ao fim <strong>de</strong> 1903 seu pai chamou-o a Santa Maria<br />

<strong>para</strong> estudar mais um pouco. Seu pai sempre quis que César<br />

estudasse. Muitas vezes lhe disse com os olhos molhados:<br />

"Se eu pu<strong>de</strong>sse tu te formarias nalguma coisa".<br />

42


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

Para substituí-lo no balcão seu mano Paulo veio<br />

<strong>de</strong> Santa Maria.<br />

Em companhia <strong>de</strong> um pedreiro espanhol chamado<br />

Avelino o caixeirinho tomou o trem <strong>para</strong> casa. Levava no<br />

bolso um "boliviano" moeda <strong>de</strong> prata muito comum ao tempo<br />

no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul e que valia oitenta centavos, presente<br />

do patrão. A patroa mais liberal <strong>de</strong>ra-lhe uma nota <strong>de</strong> dois<br />

cruzeiros. Eram a sua fortuna. Havia mais: no bolso, pesando<br />

um relógio gran<strong>de</strong>, ordinário, chamado cebolão, presente <strong>de</strong><br />

seu mano, sempre seu amigo.<br />

EM SANTA MARIA NOVAMENTE<br />

Lá pelas quatro horas da tar<strong>de</strong> o trem <strong>de</strong>ixou-o em<br />

Santa Maria. O companheiro <strong>de</strong> viagem, solícito, teve o<br />

cuidado <strong>de</strong> arranjar-lhe um carro tirado por animais. Em<br />

caminho o boleeiro parou numa taberna <strong>para</strong> ... matar a<br />

se<strong>de</strong>... O pequeno viajante saltou aproveitando a <strong>para</strong>da.<br />

Tinha comido tanto pão com salame em toda a viagem que<br />

não podia mais <strong>de</strong> se<strong>de</strong>. Comprou uma gasosa.<br />

Seus pais não o esperavam naquele dia. Numa<br />

das ruas perto da casa viu o pai que ia indo distanciado.<br />

Contemplou ao longe, longamente o pai que não o viu.<br />

Pulsou-lhe o coração numa profunda sensação <strong>de</strong> amor filial.<br />

Chegou à casa. Atirou-se aos braços <strong>de</strong> sua mãe<br />

abraçando-a e beijando. Beijou seus irmãozinhos. Pouco<br />

<strong>de</strong>pois chegou também o pai. E entre efusões<br />

43


NELSON DE GODOY COSTA<br />

<strong>de</strong> carinho mútuo, do carinho paternal, do carinho filial, ouviu<br />

a notícia <strong>de</strong> que não voltaria mais <strong>para</strong> Tupaceretâ.<br />

Começou a chorar.<br />

Por quê?<br />

No lar não era melhor? Na companhia <strong>de</strong> seus<br />

pais que sempre o estimaram tanto? Que queriam que o<br />

menino apren<strong>de</strong>sse mais alguma coisa? E que o livrariam<br />

naturalmente dos maus hábitos, que na companhia <strong>de</strong><br />

estranhos ia sem saber adquirindo.<br />

0O0<br />

Lembrava-se às vezes <strong>de</strong> Tupaceretâ. Foi lá que<br />

recebeu a primeira carta na vida. Era <strong>de</strong> seu amiguinho<br />

António Lozza, que também trabalhava numa casa comercial<br />

em Porto Alegre.<br />

Em Tupaceretâ assistia à matança <strong>de</strong> bois em<br />

pleno campo, perto da casa. Aquela cena diária o<br />

impressionava fortemente.<br />

E, meio envergonhado lembrava-se da única vêz<br />

em que foi "embrulhado" no balcão, e juntamente por uma<br />

mulher! Ela comprou um vidro <strong>de</strong> óleo <strong>para</strong> o cabelo (a<br />

vaidosa!) e disse ao menino que <strong>de</strong>pois viria pagar. E não<br />

veio até hoje...<br />

OUTRA VÊZ COM OS LIVROS<br />

Foi <strong>para</strong> a Escola Complementar. Nela reviu seus<br />

professores, Antero José <strong>de</strong> Almeida, e Nestor <strong>de</strong><br />

44


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

Oliveira e reavivou a antiga camaradagem com<br />

seus amiguinhos Luiz Fernan<strong>de</strong>s Callage, José Borba e<br />

Álvaro Corrêa. Arranjou mais um, Felinto Lopes Bembom.<br />

Na Escola Complementar os estudos eram mais<br />

<strong>de</strong>senvolvidos. César estudou gramática e geometria. Ao lado<br />

dos estudos os brinquedos eram também mais interessantes.<br />

No recreio jogava gu<strong>de</strong>, fazia corridas, brincava <strong>de</strong> barra com<br />

os coleguinhas.<br />

Ao lado da escola havia um campo on<strong>de</strong> o menino<br />

ia muitas vezes procurar folhas <strong>de</strong> trevo <strong>de</strong> quatro ou cinco<br />

pétalas, ou erva santa, porque acreditava que davam sorte...<br />

Se davam sorte ou não davam não podia dizer,<br />

mas é certo que vizinha <strong>de</strong> sua casa morava uma menina<br />

chamada Corina Canduro, e sempre iam juntos à escola.<br />

Como era curto o caminho da escola! Certo dia a menina viu<br />

o menino triste. Seria paixão? Não; tinha perdido o lápis.<br />

Muito carinhosa <strong>de</strong>u-lhe prontamente o seu. Essa menina<br />

César nunca mais a viu. não sabe se ainda vive. Lembra-se<br />

porém <strong>de</strong>la, e principalmente <strong>de</strong> seu coraçãozinho, que sendo<br />

pequenino já sabia ser bonito.<br />

Eram, também seus vizinhos e seus amiguinhos<br />

dois irmãos, Júlio e Setembrino <strong>de</strong> Campos.<br />

Desse tempo restaram algumas impressões na<br />

alma do menino. Seus companheiros mostraram-lhe o lugar<br />

on<strong>de</strong> um estudante matou outro com profunda facada. Duas<br />

vezes escapou <strong>de</strong> ser picado por<br />

45


NELSON DE GODOY COSTA<br />

serpentes; a primeira foi num campo e a segunda<br />

no quintal da casa <strong>de</strong> Felinto Lopes Bembom. Quase que o<br />

Felinto não ficou mais sendo bem bom...<br />

Outra impressão que nunca mais se apagou <strong>de</strong><br />

sua lembrança foi o castigo imerecido que sofreu por parte da<br />

negligência <strong>de</strong> um professor. Teve <strong>de</strong> ficar duas horas na<br />

cafua da escola. Cafua era um quarto escuro, completamente<br />

fechado. Nunca mais se esqueceu da injustiça do professor.<br />

Tinha também suas gran<strong>de</strong>s alegrias. Certa noite<br />

tentou escrever uma poesia. Escreveu e mostrou-a a seu pai.<br />

E até hoje não sabe por que naquela mesma noite disse ao<br />

pai que já estava espantado com a poesia essa coisa<br />

assombrosa:<br />

Queria ser presi<strong>de</strong>nte da França.<br />

46


CAPÍTULO QUARTO<br />

FATOS EXTRAORDINÁRIOS<br />

Dois inci<strong>de</strong>ntes dos quais até hoje guarda lembrança<br />

mais viva, pois dizem respeito a fatos singulares que<br />

testemunhou na casa em que morava. Seu pai tinha feito um<br />

"puxado", (suplemento à casa), no fundo <strong>para</strong> servir <strong>de</strong> quarto<br />

a César e a seu mano Paulo que logo voltaria <strong>de</strong> Tupaceretâ.<br />

Enquanto seu irmão não vinha César dormia<br />

sozinho no quartinho. Todas as noites, tar<strong>de</strong> da noite, ouvia o<br />

ruido surdo <strong>de</strong> correntes que se arrastavam ao longo da<br />

pare<strong>de</strong> junto a qual dormia. Parecia-lhe ser algum cão fugido<br />

que à procura <strong>de</strong> ossos por ali farejava arrastando as<br />

correntes.<br />

Muito mais tar<strong>de</strong>, anos <strong>de</strong>pois, leu a biografia <strong>de</strong><br />

John Wesley e concluiu que em sua casa dava-se fenómeno<br />

<strong>de</strong> igual natureza. Também muito mais tar<strong>de</strong> por<br />

esclarecimentos <strong>de</strong> outros ligou ao fato <strong>de</strong> ter <strong>de</strong>senterrado<br />

junto ao tronco <strong>de</strong> uma laranjeira que ficava perto da pare<strong>de</strong>,<br />

ao lado da qual dormia, um<br />

47


NELSON DE GODOY COSTA<br />

estribo, um machado e o cano <strong>de</strong> uma garrucha,<br />

objetos <strong>de</strong> alguém talvez ali assassinado.<br />

O segundo fenómeno que testemunhou por esse<br />

tempo foi um andar lento, <strong>de</strong>morado, <strong>de</strong> tamancos do quarto<br />

<strong>de</strong> sua mãe <strong>para</strong> o seu quarto. Acordou com o rumor.<br />

Observou-o por longo tempo pensando que era sua mãe.<br />

Lembrou-se, porém, que sua mãe não usava tamancos <strong>de</strong>ntro<br />

<strong>de</strong> casa. Procurou ver quem era que andava <strong>de</strong>ntro da casa<br />

<strong>de</strong> um lado <strong>para</strong> outro. Não viu ninguém. Gritou.<br />

Sua mãe já estava acordada ouvindo o mesmo<br />

barulho. Chamou-o. Acen<strong>de</strong>ram o lampião, revistaram a casa<br />

toda e nada encontraram.<br />

Atribuíram o acontecido a uns papéis velhos,<br />

muito velhos, cheios <strong>de</strong> orações que certa moça, <strong>de</strong> sejando<br />

libertar-se das garras <strong>de</strong> sua tia muito má, Maria Jerônima <strong>de</strong><br />

Quadros, tinha pedido a uma feiticeira.<br />

Essa moça, Ritinha, presa em casa, não podia ir<br />

ao centro da cida<strong>de</strong>, pedira à mãe <strong>de</strong> César que mandasse<br />

atirar os papéis na direção do altar-mór da <strong>Igreja</strong> da Matriz. A<br />

boa senhora, muito ocupada sempre, esqueceu-se porém e<br />

os papéis ficaram por ali rolando.<br />

A verda<strong>de</strong> é que no dia seguinte, logo <strong>de</strong> manhã,<br />

a senhora mandou o menino atirar os famigerados papéis na<br />

direção do altar-mór.<br />

César foi mais que <strong>de</strong>pressa. Atirou-os da porta<br />

com tanta força, que até hoje receia tenham os papéis<br />

atingido, profanado alguma imagem.<br />

48


CAPÍTULO QUINTO<br />

HORIZONTES DO METODISMO<br />

No ano <strong>de</strong> 1900 a <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> abriu trabalho<br />

em Santa Maria. O Rev. J. W. Price alugou uma sala na rua<br />

do Comércio, entre a praça do Mercado e a rua Marquês <strong>de</strong><br />

Herval.<br />

A <strong>Igreja</strong> Episcopal já se havia adiantado, porém e<br />

quando a <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> chegou todos os elementos<br />

simpáticos ao Evangelho já tinham sido arrebanhados por<br />

aquela igreja que persistiu no seu esforço <strong>de</strong> proselitismo.<br />

Em fins <strong>de</strong> 1901 o Rev. J. W. Price recebeu um<br />

pastor ajudante, o jovem António Fatrício Fraga, que em 1902<br />

foi <strong>para</strong> o Colégio Granbery, <strong>de</strong> Juiz <strong>de</strong> Fora, pre<strong>para</strong>r-se<br />

convenientemente <strong>para</strong> o Santo Ministério, em vista <strong>de</strong> sua<br />

<strong>de</strong>cidida vocação confirmada nos meses em que auxiliou o<br />

missionário.<br />

49


NELSON DE GODOY COSTA<br />

O pai <strong>de</strong> César <strong>de</strong>scobriu a sala <strong>de</strong> cultos da<br />

<strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> e imediatamente principiou a frequentá-la.<br />

Levou seus filhos. César, seus irmãos menores, suas<br />

irmãzinhas iam muito contentes, porque foram recebidos com<br />

todo o carinho pelo casal, que lhes ensinava cantar os hinos<br />

que pela sua beleza sempre causaram funda impressão na<br />

alma pequenina. Assistiam às reuniões com verda<strong>de</strong>iro<br />

prazer; em certos dias da semana distraíam-se em leituras <strong>de</strong><br />

livros interessantes e em outros dias entregavam-se a<br />

trabalhos manuais <strong>de</strong> que gostavam imensamente.<br />

César tinha nove anos. Era um menino forte e<br />

gordinho. Lembra-se com viva emoção da primeira poesia,<br />

seu primeiro recitativozinho na primeira festa <strong>de</strong> Natal da<br />

<strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>. Principiou trémulo na frente <strong>de</strong> toda aquela<br />

gente mas <strong>de</strong>pois sua voz foi se firmando e terminou bem<br />

com sorrisos <strong>de</strong> aprovação <strong>de</strong> todo o auditório. Desceu<br />

vitorioso do palco.<br />

Terminados os recitativos veio a hora dos presentes,<br />

a hora melhor <strong>para</strong> a gurizada. Cada criança atirava<br />

um anzol improvisado sobre uma colcha que cobria parte <strong>de</strong><br />

uma porta aos fundos, e dizia seu nome. Chegou a vez <strong>de</strong><br />

César. A mãozinha gordinha atirou o anzol, tirou um<br />

cartuchinho <strong>de</strong> doces e um Novo Testamento pequenino.<br />

Mais tar<strong>de</strong> a sala <strong>de</strong> cultos passou <strong>para</strong> uma casa<br />

na esquina das ruas Duque <strong>de</strong> Caxias e Coronel Ni<strong>de</strong>rauer,<br />

com frente <strong>para</strong> a praça do Mercado.<br />

Em 1906 o moço António Patrício Fraga tornou<br />

50


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

a Santa Maria como pastor suce<strong>de</strong>ndo a J. W. Price.<br />

Encontrou César com a ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> treze anos assíduo aos<br />

trabalhos, firme na <strong>Igreja</strong>, sempre entusiasta revelando já o<br />

extraordinário trabalhador que seria mais tar<strong>de</strong>, que sempre<br />

foi em toda a vida.<br />

A <strong>Igreja</strong> Episcopal continuava em luta aberta. É o<br />

próprio Rev. António Patrício Fraga, hoje aposentado, <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong> longo ministério, quem nos diz: bastava uma pessoa<br />

principiar a assistir os cultos na <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> <strong>para</strong> se<br />

tornar vítima <strong>de</strong> tantos convites, acompanhados <strong>de</strong> tantas<br />

argumentações, que só não "ban<strong>de</strong>ava" se fosse realmente<br />

forte.<br />

César sofreu esses "ataques". Tratando-se <strong>de</strong> um<br />

menino esperançoso, que em tudo se revelava extraordinário,<br />

os convites multiplicavam-se tornavam-se insistentes,<br />

impertinentes. 0 menino, porém, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o princípio foi<br />

metodista <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>.<br />

Enquanto Fraga estava em Juiz <strong>de</strong> Fora,<br />

estudando, aconteceu na igreja qualquer coisa <strong>de</strong> que o pai<br />

<strong>de</strong> César não gostou. Afastou-se do trabalho <strong>para</strong> nunca mais<br />

frequentá-lo com assiduida<strong>de</strong>. Hoje César lamenta<br />

profundamente que estando seu pai tão interessado na igreja<br />

e procurando interessar seus filhos e encaminhá-los, não<br />

recebesse uma visita do pastor.<br />

Será isso que leva hoje o primeiro bispo brasileiro<br />

da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil a pedir, a insistir, a exigir dos<br />

pastores metodistas que visitem assiduamente,<br />

cuidadosamente os membros da <strong>Igreja</strong> e os candidatos à<br />

profissão <strong>de</strong> fé? Nos seus olhos paira a<br />

51


NELSON DE GODOY COSTA<br />

visão tristonha <strong>de</strong> seu pai abandonando<br />

tristemente a igreja e pelo pastor abandonado,<br />

criminosamente.<br />

"Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a sua vida<br />

pelas suas ovelhas".<br />

Foi naquela escola dominical dirigida carinhosamente<br />

por d. Elisa, a esposa do Rev. J. W. Price, que aos<br />

olhos do menino surgiram os primeiros horizontes do<br />

Metodismo.<br />

BRINCANDO DE FAZER CULTOS<br />

Todas as crianças gostam <strong>de</strong> brincar e conseguem<br />

justamente muitas vezes a brinca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> sua<br />

predileção. César não se lembra bem como foi, mas o fato é<br />

que uma Biblia veio <strong>para</strong>r-lhe as mãos. Diante do livro<br />

misterioso perdia-se em cogitações. Procurava lê-lo e<br />

compreen<strong>de</strong>r-lhe o mistério. Um dia enten<strong>de</strong>u que a Biblia<br />

podia ajudá-lo a dirigir culto; foi <strong>para</strong> o gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>pósito <strong>de</strong><br />

material <strong>de</strong> construção que seu pai tinha construído ao lado<br />

da casa. Chamou seus irmãozinhos que o acompanharam<br />

curiosos e com eles formou uma congregação. Subiu a uma<br />

pilha <strong>de</strong> tábuas e daquele púlpito anunciou os hinos, fêz<br />

oração, proferiu o sermão.<br />

Foi bem sucedido porque seus irmãozinhos<br />

gostaram do brinquedo e repetiu-o muitas vezes. Hoje<br />

gostaria <strong>de</strong> ser um <strong>de</strong> seus maninhos naquela congregação,<br />

cantando hinos, ouvindo as orações, escutando os sermões,<br />

naqueles cultinhos <strong>de</strong> brinquedo da infância tão querida, tão<br />

saudosa e distanciada <strong>para</strong> nunca mais.<br />

52


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

UM BOM PASTOR<br />

Foi então <strong>para</strong> Santa Maria um dos ministros que por sua<br />

educação esmerada, sua pieda<strong>de</strong> admirável, seu esforço<br />

invencível mais se erguem no conceito e na admiração <strong>de</strong><br />

César Dacorso Filho.<br />

É o Rev. José Leonel Lopes.<br />

Logo que chegou transferiu a sala das reuniões <strong>para</strong> a rua do<br />

Acampamento. O menino agora levado pela admiração que<br />

votava ao pastor e não só era assíduo aos trabalhos, como<br />

ainda muitas vezes ia à sua residência, uma linda chácara no<br />

Alto da Eira, com ameixeiras que constituíam as <strong>de</strong>lícias do<br />

pequeno visitante.<br />

Não só se <strong>de</strong>liciava com as ameixas. Serviçal, oferecia-se<br />

<strong>para</strong> ajudá-lo e o Rev. Leonel Lopes sabendo que êle tinha<br />

letra bonita pedia-lhe que o auxiliasse na transcrição das atas<br />

das Conferências Trimensais.<br />

Foi o único pastor que visitava a família, apesar da frieza<br />

religiosa dos Dacorso. Reunia todos na sala, ensinava-lhes<br />

hinos, orava com todos. César Dacorso Filho agra<strong>de</strong>ce a<br />

Deus pela influência que esse pastor exerceu sobre sua vida.<br />

Quando me propus a escrever a biografia <strong>de</strong> César Dacorso<br />

Filho não pensava que um dia viria a ser pastor <strong>de</strong> uma<br />

mulher extraordinária. Esta senhora é a viúva do Rev. José<br />

Leonel Lopes. Resi<strong>de</strong> em Piracicaba, minha paróquia. É d.<br />

Jovita <strong>de</strong> Araújo Lopes uma encantadora anciã pequenina,<br />

magrinha,<br />

53


NELSON DB GODOT COSTA<br />

<strong>de</strong>licada, já vitoriosa sobre sua vida em setenta e seis anos.<br />

Na primeira visita pastoral que lbe fiz procurei<br />

ouvi-la. Dona Jovita lembra-se com sauda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Santa Maria,<br />

do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul. Recorda-se muito do Bispo César. E<br />

guarda carinhosa a glória <strong>de</strong> ter sido professora <strong>de</strong> César<br />

Dacorso Filho na Escola Dominical. Diz emocionada: "Era um<br />

menino educado, comportado circunspéto e que sempre sabia<br />

muito bem a lição".<br />

No Concílio Regional, em janeiro <strong>de</strong> 1953, o Bispo<br />

veio à Piracicaba. Encontrou dona Jovita numa das recepções<br />

do Instituto Piracicabano, à hora da fotografia oficial.<br />

Perguntei-lhe sorrindo: "Conhece-o dona Jovita? Respon<strong>de</strong>ume<br />

emocionada: "É o nosso Bispo. O Bispo César foi além.<br />

Emocionado, sorrindo disse: "É minha mãezinha!<br />

Corri, apanhei uma ca<strong>de</strong>ira, coloquei-a na primeira<br />

fila. E entre os gran<strong>de</strong>s da <strong>Igreja</strong> foi fotografada aquela<br />

mulher extraordinária que tinha sabido ser esposa <strong>de</strong> um<br />

gran<strong>de</strong> pastor, <strong>de</strong> um bom pastor, o Bev. José Leonel Lopes.<br />

54


CAPÍTULO SEXTO<br />

APRENDIZ DE TIPÓGRAFO<br />

A situação financeira da família Dacorso voltou a tornar-se<br />

difícil, novamente, e o menino não pô<strong>de</strong> continuar na Escola<br />

Complementar por mais <strong>de</strong> um ano. Principiou a trabalhar<br />

numa tipografia que publicava "0 Combatente" jornal antigo<br />

em Santa Maria, dirigido então por Oto Brinckman e redigido<br />

por João Belém, escritor <strong>de</strong> nome no Sul, autor da História do<br />

município <strong>de</strong> Santa Maria.<br />

O menino trabalhava com gosto e por isso mesmo trabalhava<br />

bastante. Era natural que esperasse receber alguma coisa no<br />

fim do mês. Veio o fim do mês. Nada recebeu.<br />

No mês seguinte trabalhou mais ainda. E, ainda o diretor<br />

aumentou-lhe a carga, dando-lhe a entrega do jornal numa<br />

parte da cida<strong>de</strong>. Ainda mais: tiveram <strong>de</strong> mudar a tipografia<br />

<strong>para</strong> um prédio pouco a cima na rua do Comércio e o menino<br />

quase se matou <strong>de</strong><br />

55


NELSON DE GODOY COSTA<br />

tanto carregar caixas vazias c caixas cheias <strong>de</strong> tipos.<br />

No fim do mês recebeu um or<strong>de</strong>nado fabuloso:<br />

<strong>de</strong>z cruzeiros!<br />

UM MENINO RESOLVE MUDAR DE VIDA<br />

Era muito pouco dinheiro <strong>para</strong> tanto trabalho. Era<br />

muito <strong>de</strong>saforo também. O menino resolveu voltar <strong>para</strong> o<br />

comércio. Des<strong>de</strong> que não podia ser intelectual no jornalismo<br />

seria comerciante. . .. Empregou-se, sentindo a injustiça e o<br />

"tubaronismo" do diretor do jornal. Foi trabalhar na casa <strong>de</strong><br />

secos e molhados <strong>de</strong> Arnaldo Ferreira da Silva, natural da<br />

Can<strong>de</strong>lária, estabelecido entre as ruas Duque <strong>de</strong> Caxias c do<br />

Comércio, hoje Dr. Bozano.<br />

No balcão, às vezes César lembrava-se da<br />

tipografia do "Combatente". Lembrava-se por exemplo<br />

daquele fato que até hoje não explica. Foi assim: Certo dia o<br />

dono da tipografia mandou-o lavar uns quadros, juntamente<br />

com o companheiro <strong>de</strong> trabalho, um menino chamado Nobre.<br />

César estava aborrecido e em dado momento, meio irritado<br />

disse a Nobre: "tomara que esses vidros se quebrassem!"<br />

Pois não é que ao colocar um vidro com todo o cuidado sobre<br />

uma pedra, o vidro quebrou-se <strong>de</strong> alto a baixo!<br />

0 fato testemunhado por outros companheiros<br />

causou funda impressão. Causou funda impressão também a<br />

zanga do patrão. Ficou furioso por causa <strong>de</strong> um simples vidro!<br />

Ficou como louco!<br />

56


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

Pu<strong>de</strong>ra! O coitado entrou marcado neste mundo. Cabeça<br />

enorme, barriga <strong>de</strong> mono, pernas pequeníssimas,<br />

ressequidas, pés torcidos, pelo que usava muletas. Usava<br />

cavanhaque e o linguajar era sujo e vulgar. Nada porém,<br />

importava a César. Esses sofrimentos iam robustecendo a<br />

alma do menino, pre<strong>para</strong>ndo-o <strong>para</strong> vencer sofrimentos<br />

maiores, mesmo no episcopado, do menino que apren<strong>de</strong>u<br />

<strong>de</strong>pressa todo o trabalho da tipografia, que o executou<br />

prontamente, com honestida<strong>de</strong>. E que jamais tirou, jamais<br />

furtou sequer um tipo.<br />

Em meio aos trabalhos do balcão lembrava-se também do "O<br />

Bicho". "O Bicho" era um jornalzinho que tentou publicar com<br />

o auxílio <strong>de</strong> Luiz Fernan<strong>de</strong>s Calage, quando estudante da<br />

escola complementar. O Luiz tinha meio quilo <strong>de</strong> tipos<br />

imprestáveis, distribuídos em caixas <strong>de</strong> fósforos pregadas<br />

numa tábua. 0 prelo feito na casa <strong>de</strong> César eram duas tábuas<br />

ligadas por dobradiças. Um amigo <strong>de</strong>u-lhes tinta sobrada <strong>de</strong><br />

umas latas jogadas no lixo.<br />

Quando ganhavam um níquel iam correndo comprar papel e<br />

imprimiam o jornal. Chegaram ao heroísmo <strong>de</strong> ter clichés <strong>de</strong><br />

pau. O jornalzinho chegou a sair umas <strong>de</strong>z vezes. Foi uma<br />

vitória! Depois, coitado, faliu. Mas faliu por falta <strong>de</strong><br />

assinaturas e <strong>de</strong> leitores. Não foi por outra coisa!<br />

Hoje César gostaria <strong>de</strong> possuir a coleção <strong>de</strong>sse jornalzinho<br />

<strong>para</strong> se <strong>de</strong>liciar com o que, quase redator exclusivo,<br />

publicava. Um artigo que escreveu e que<br />

57


NELSON DE GODOY COSTA<br />

naquele tempo causou viva admiração ao seu companheiro<br />

<strong>de</strong> imprensa, o Lizoca, Luiz Fernan<strong>de</strong>s Calage, lembra-se<br />

muito bem, foi sobre a Liberda<strong>de</strong>.<br />

----- 0O0 ----<br />

Quase todo o ano <strong>de</strong> 1905 César passou como caixeiro <strong>de</strong><br />

Arnaldo Ferreira no velhissimo sobrado da esquina da rua<br />

Duque <strong>de</strong> Caxias com a rua Dr. Bozano, naquele tempo, rua<br />

do Comércio.<br />

Era seu companheiro <strong>de</strong> serviço um rapaz chamado João,<br />

filho <strong>de</strong> um alemão, Henrique Pauster, rapaz que frequentava<br />

os cultos e chegou a ser membro da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>, ao<br />

tempo do Rev. J. W. Price. Muito mais velho que César<br />

<strong>de</strong>veria ser um bom exemplo <strong>para</strong> o menino; infelizmente não<br />

o foi antes o prejudicou bastante. César levou <strong>para</strong> o<br />

episcopado a lição <strong>de</strong> que maus membros <strong>de</strong> igrejas, crentes<br />

péssimos há em todas as paróquias. Tinha aprendido em<br />

menino a lição. A esses crentes o Bispo tratou com<br />

paternida<strong>de</strong>, mas com energia verda<strong>de</strong>ira. Cânones com essa<br />

gente 1<br />

O novo caixeirinho passou a dormir num armazém contíguo à<br />

loja, em cima <strong>de</strong> uma armação <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, perto <strong>de</strong> on<strong>de</strong><br />

dormia o companheiro <strong>de</strong> balcão. João saía todas as noites.<br />

Fechava o armazém por fora e o pobre menino ficava<br />

trancado lá <strong>de</strong>ntro das oito horas em diante, nunca vendo<br />

quando o moço chegava, muito tar<strong>de</strong>, naturalmente. Aos<br />

domingos César tinha folga e ia <strong>para</strong> casa <strong>de</strong> seus pais.<br />

58


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

No serviço levantava-se muito cedo, quando ainda era<br />

escuro, ia à casa do patrão buscar a chave da loja. O patrão<br />

morava a uns duzentos melros, na praça dos Protestantes.<br />

César voltava, abria a loja, uma mistura <strong>de</strong> armarinhos e<br />

secos e molhados, varia e espanava-a muito bem. Depois que<br />

o patrão chegava e que o João ia tomar café, por último ia o<br />

menino. Na casa do patrão tomava as refeições.<br />

Na loja arrumava as mercadorias, picava fumo <strong>para</strong> o patrão,<br />

servia-o com chimarrão, entregava as compras e entregandoas<br />

punha-se em longas caminhadas sob uma soalheira<br />

incrível com uma arroba <strong>de</strong> açúcar às costas, ou um embrulho<br />

enorme <strong>de</strong> fazendas docndo-lhe os braços.<br />

Nesse tempo nada estudou. Trabalhava <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a madrugada<br />

até altas horas da noite, sem <strong>de</strong>scanso <strong>de</strong> um momento.<br />

Depois caía vencido <strong>de</strong> sono. Era vergonhosamente<br />

explorado. Seu patrão pagava-lhe apenas <strong>de</strong>z cruzeiros por<br />

mês!<br />

Foi nesse tempo que principiou colecionar selos; seu<br />

companheiro também colecionava. Reunindo aqueles<br />

primeiros selos, guardando-os com cuidado o menino já<br />

pensava numa gran<strong>de</strong> coleção. Hoje possui-na.<br />

As injustiças do patrão, o mau exemplo do companheiro, as<br />

<strong>de</strong>sonestida<strong>de</strong>s do comércio testemunhadas a todo o instante<br />

não macularam, felizmente, o pequenino coração que se abria<br />

<strong>para</strong> o gran<strong>de</strong> sol da vida.<br />

59


NELSON DE GODOY COSTA<br />

Tinha, é verda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ixado um pouco a religião. Quase não ia<br />

à igreja. Certo dia porém, encontrando o Rev. José Leonel<br />

Lopes a poria do correio, corou, ficou envergonhado. Por<br />

quê?<br />

É que em sua alma pequenina havia acenos insistentes <strong>para</strong><br />

o bem contra o qual o mal não po<strong>de</strong>ria.<br />

Dedicado ao serviço, não abandonava a loja. Só uma vez saiu<br />

<strong>para</strong> ir à casa; foi ver um irmão que se havia queimado.<br />

Um dia absorto no trabalho esqueceu-se <strong>de</strong> que estava no<br />

alto <strong>de</strong> uma escada encoslada à prateleira. Per<strong>de</strong>u o<br />

equilíbrio, rodopiou, foi ao chão. Não se machucou mas<br />

causou um susto em toda a freguesia.<br />

0O0<br />

Certa manhã varria a loja quando se <strong>de</strong>u formidável estrondo<br />

no fundo da casa. César assustou-se, correu <strong>para</strong> <strong>de</strong>ntro a<br />

ver o que era, procurou por toda a parte e não achou nada.<br />

Que teria sido? Depois <strong>de</strong> muito tempo <strong>de</strong>scobriu. Era um<br />

garrafão cheio <strong>de</strong> melado até a boca, muito bem arrolhado. O<br />

melado azedou e estourou. O patrão era doido por melado,<br />

mas miserável, esquecia-se <strong>de</strong> que os outros gostavam<br />

também e nunca lhes oferecia. O garrafão estourou, o melado<br />

entornou e o menino sorriu <strong>de</strong>liciado.<br />

Depois <strong>de</strong> algum tempo César achou que era <strong>de</strong>saforo ficar<br />

trancado á chave no armazém, enquanto seu companheiro<br />

gozava plena liberda<strong>de</strong> lá fora até<br />

60


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

quando queria. Arranjou uma chave em casa. Mas a chave<br />

não servia na fechadura. Por azar <strong>de</strong>ixou-a em cima da cama,<br />

na armação on<strong>de</strong> dormia. 0 patrão foi ali <strong>de</strong>itar-se <strong>para</strong> a<br />

sesta, segundo seu costume, e encontrou a chave. Chamou o<br />

menino e principiou a interrogá-lo: "<strong>de</strong> quem era aquela<br />

chave, quem tinha trazido-a ali, por que estava em cima da<br />

cama." Um longo interrogatório por uma coisa pequenina,<br />

sem importância. César a princípio achou ser <strong>de</strong>saforo e quis<br />

negar, mas lembrou-se <strong>de</strong> que era homem. Respon<strong>de</strong>u firme:<br />

"a chave é minha e trouxe-a <strong>de</strong> casa."<br />

Até hoje não sabe se o patrão <strong>de</strong>sconfiou que a chave fora<br />

arranjada com o propósito gorado <strong>de</strong> entrar na loja bem tar<strong>de</strong><br />

da noite, como se o menino fosse um homem...<br />

0O0<br />

César nunca pô<strong>de</strong> guardar lembranças agradáveis <strong>de</strong> seu<br />

companheiro <strong>de</strong> trabalho, que procurava tudo <strong>para</strong> aborrecêlo.<br />

Sempre estava a esquentar a cabeça <strong>de</strong> César. Num dia<br />

em que o menino estava picando fumo <strong>para</strong> o patrão,<br />

aborrecido pela natureza do serviço que não gostava <strong>de</strong><br />

fazer, o João principiou a aborrecê-lo. Esquenta e mais<br />

esquenta-lhe a cabeça, César que estava com um facão<br />

ameaçou <strong>de</strong> cortar-lhe o <strong>de</strong>do que o João apontava-lhe<br />

provocando-o. Quando César dava-lhe o golpe o outro<br />

encolhia o <strong>de</strong>do. Mas chegou a vez do menino acertar e o<br />

<strong>de</strong>do ficou pendurado. Quando César viu o sangue<br />

61


NELSON DE GODOY COSTA<br />

esguichando ficou tranzido <strong>de</strong> dor e <strong>de</strong> susto. O<br />

companheiro, porém, foi honesto. Reconheceu que a culpa<br />

era <strong>de</strong>le mesmo e <strong>de</strong> mais ninguém. Serviu-lhe a lição:<br />

provocar a ira aos outros nunca dá bom resultado.<br />

o0o<br />

Um fato que causou funda impressão na alma do<br />

menino foi a fuga <strong>de</strong> seus dois amiguinhos, Luiz Fernan<strong>de</strong>s<br />

Calage e José Borba. Os garotos foram <strong>para</strong> Porto Alegre,<br />

procurando alcançar o Rio <strong>de</strong> Janeiro. Queriam conhecer o<br />

mundo. César lembrando-se das vezes em que, juntos<br />

sonhavam com a conquista do mundo, sentiu <strong>de</strong>veras não ter<br />

ido junto com eles na aventura. Poucos dias <strong>de</strong>pois tudo foi<br />

por água a baixo. Os dois sonhadores regressaram<br />

acompanhados <strong>de</strong> investigadores policiais.<br />

Inspirado por esse acontecimento, um verda<strong>de</strong>iro<br />

acontecimento na vida do menino, César escreveu o seu<br />

primeiro artigo. Quantos <strong>de</strong>pois daquele iria escrever nunca o<br />

soube, e quantos escreveu. Uma coisa sabe, porém: lamentar<br />

o <strong>de</strong>saparecimento daquele primeiro artiguinho que êle<br />

mesmo reputava, êle mesmo, uma gran<strong>de</strong> peça literária.<br />

Já então andava calçado. Seus sapatos eram <strong>de</strong><br />

lona como os atuais chinelos <strong>de</strong> "roda". Tinha vonta<strong>de</strong> imensa<br />

<strong>de</strong> ter um terninho, uma "fatiota" como se diz no Sul, <strong>de</strong> certa<br />

fazenda que morava nas prateleiras da loja. Nunca<br />

entretanto, conseguiu bas-<br />

62


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

tante dinheiro <strong>para</strong> isso e o miserável do patrão jamais<br />

pensou em dar-lhe um terninho <strong>de</strong> presente.<br />

0O0<br />

Mistérios do coração <strong>de</strong> uma criança... Havia uma<br />

menina vizinha. Era linda e chamava-se Felicida<strong>de</strong>. Às vezes<br />

passava pela porta da loja. E, então o menino ficava todo<br />

refestelado, todo contente, porque gostava muito <strong>de</strong>la.<br />

Passava, ia embora e os olhos <strong>de</strong>le a acompanhavam até<br />

sumir na esquina ou entrar em casa. Sabia que a queria mas<br />

nunca soube se algum dia foi querido...<br />

■0O0<br />

O velho Henrique, pai do companheiro <strong>de</strong> balcão,<br />

todas as manhãs vinha ao armazém, e sem mais nem menos,<br />

dirigia-se ao barril <strong>de</strong> pinga, enchia um copito e o entornava<br />

na garganta. Nunca perguntou a César quanto custava ou<br />

quanto tinha <strong>de</strong> pagar, e <strong>aqui</strong>lo intrigava muito ao menino. Por<br />

que faria? Pensaria ter direito pelo fato do filho ser caixeiro,<br />

ou abusava <strong>de</strong> César ser um garoto, ou o dono tinha dado<br />

licença o que era difícil, aquele miserável, <strong>de</strong> quem um dia o<br />

garrafão <strong>de</strong> melado estourou, <strong>de</strong>rramou...<br />

A primeira vêz que César viu elefantes foi na<br />

chegada <strong>de</strong> um circo <strong>de</strong> cavalinhos. Ficaram "hospedados"<br />

numa estrebaria abandonada na casa do velho Henrique, e<br />

no domingo cedo o João veio<br />

63


NELSON DE GODOY COSTA<br />

64<br />

chamá-lo <strong>para</strong> ver os bichos. Estava todo importante<br />

com o convite. Pu<strong>de</strong>ra! eram seus hóspe<strong>de</strong>s...<br />

Paulo, o irmão mais velho <strong>de</strong> César estava colocado<br />

como telegrafista e escriturário na Viação Férrea do<br />

Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, trabalhando no escritório do chefe<br />

do Tráfego. Conseguiu que César fosse admitido<br />

como praticante <strong>de</strong> telegrafista e escriturário ao<br />

mesmo tempo.<br />

Contentíssimo o caixeirinho <strong>de</strong>ixou imediatamente a<br />

loja do Arnaldo, sem lhe dar qualquer satisfação,<br />

mesmo porque o patrão estava viajando naquele dia.<br />

Seu pai é que <strong>de</strong>pois foi <strong>de</strong>licadamente apresentar<br />

<strong>de</strong>sculpas e ajustar as contas.<br />

Quando chegou à casa não trazia <strong>de</strong> todos os<br />

trabalhos e canseiras, das humilhações e <strong>de</strong>sapontamentos,<br />

não trazia mais do que sete cruzeiros sujos<br />

e magros.


CAPÍTULO SÉTIMO<br />

NA VIAÇÃO FÉRREA DO RIO GRANDE DO<br />

SUL<br />

65<br />

No dia dois <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1906 o excaixeirinho<br />

do armazém do Arnaldo foi admitido como<br />

praticante <strong>de</strong> telegrafia.<br />

Ficou trabalhando no escritório do chefe do<br />

Tráfego, on<strong>de</strong> havia um aparelho <strong>para</strong> o chefe, <strong>para</strong> o<br />

sub-chefe e <strong>para</strong> o inspetor da Primeira Seção.<br />

Aproveitando a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estar num escritório<br />

<strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>, o menino se<strong>de</strong>nto <strong>de</strong> saber foi se<br />

enfronhando nas horas vagas dos serviços <strong>de</strong> escrita<br />

e outros que ali se faziam.<br />

No dia 1.° <strong>de</strong> agosto foi promovido a<br />

telegrafista. Praticou telegrafia quanto pô<strong>de</strong>, mas aos<br />

poucos foi <strong>de</strong>ixando, pois era chamado <strong>para</strong> cuidar do<br />

ponto do pessoal do tráfego, da expedição da<br />

correspondência,


NELSON DE GODOY COSTA<br />

66<br />

da correção dos horários dos trens, do diagrama dos<br />

trens que corriam diariamente, do cálculo da quilometragem<br />

vencida pelos comboios, das folhas <strong>de</strong><br />

pagamento e do arquivo por êle mesmo organizado.<br />

O chefe do Tráfego era um alemão <strong>de</strong> poucos amigos.<br />

Inspirava repulsa e medo ao jovem funcionário que<br />

sempre evitava aten<strong>de</strong>r-lhe a campainha. O sub-chefe<br />

era um gaúcho distintíssimo que, principiando a<br />

carreira como simples contínuo conseguiu pelo seu<br />

valor ir subindo a telegrafista, conferente, agente,<br />

inspetor. Chamava-se Alfredo Leopoldo d'Ávila. O<br />

Inspetor da primeira seção era o Dr. Otacílio Pereira,<br />

glória da engenharia gaúcha, hoje chefe da Viação<br />

Férrea.<br />

No escritório o menino <strong>de</strong> 16 anos trabalhava com<br />

prazer. No fim do segundo mês recebeu seu<br />

or<strong>de</strong>nadozinho <strong>de</strong> praticante; trinta e cinco cruzeiros.<br />

Caprichava na letra. Tem-na muito bonita. Procurava<br />

ter tudo em or<strong>de</strong>m. Na alegria do trabalho chegou a<br />

fazer serão por conta própria. Seguidamente ficava<br />

além das horas <strong>de</strong> serviço regular <strong>para</strong> aten<strong>de</strong>r, com<br />

satisfação, os chefes. Organizou um arquivo que mereceu<br />

elogios fartos dos superiores. 0 papel solicitado,<br />

qualquer que fosse, on<strong>de</strong> quer que se encontrasse, <strong>de</strong><br />

qualquer data, era-lhes em poucos momentos posto às<br />

mãos.<br />

Seu mano Paulo, companheiro <strong>de</strong> escritório,<br />

esmerava-se também no cuidado <strong>para</strong> com as<br />

obrigações.


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

67<br />

Seu salário foi melhorando aos poucos, até<br />

que, quando <strong>de</strong>ixou a Viação Férrea, já estava recebendo<br />

cento e setenta e cinco cruzeiros, que, com as<br />

gratificações, era maior do que o <strong>de</strong> muitos<br />

escriturários e agentes <strong>de</strong> estação.<br />

César não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> estremecer ao<br />

lembrar-se, ainda hoje, que quase foi causador <strong>de</strong> um<br />

encontro <strong>de</strong> trens. Foi assim: os comboios corriam<br />

entre as estações <strong>de</strong> Couto e Rio Pardo e o jovem<br />

tinha transmitido um telegrama em que a palavra loc<br />

(locomotiva) aparecia diversas vezes, sempre seguida<br />

<strong>de</strong> números. A linha estava muito ruim e o telegrafista<br />

que recebia o telegrama a todo o momento<br />

interrompia, pedindo confirmação. Repete que repete<br />

César saltou uma linha produzindo a confusão. Mais<br />

tar<strong>de</strong> viu a fita do aparelho <strong>de</strong> Rio Pardo enviada <strong>para</strong><br />

exame. Sua falta era gran<strong>de</strong>, realmente quase um<br />

crime. Sentia que não tinha <strong>de</strong>sculpas embora<br />

soubesse que po<strong>de</strong>ria ter acontecido com qualquer<br />

telegrafista, mesmo o mais cuidadoso.<br />

Sabia igualmente que era melhor<br />

escriturário do que telegrafista, ou pelo menos que<br />

gostava mais daquele serviço embora fosse bom<br />

telegrafista e seu exame <strong>para</strong> promoção tivesse como<br />

assistente o próprio sub-chefe.<br />

Outro fato <strong>de</strong> que o jovem <strong>de</strong> Santa Maria<br />

não se esquece foi o seguinte: num dia <strong>de</strong> chuva não<br />

foi almoçar em casa, que era longe. Ficou no<br />

escritório, e como fazia muito frio, resolveu encher a<br />

estufa <strong>de</strong>


NELSON DE GODOY COSTA<br />

68<br />

carvão <strong>de</strong> pedra <strong>para</strong> aquecer o escritório. Certamente<br />

seus chefes ficariam contentes com o espirito serviçal<br />

do auxiliar. Foi pondo carvão, foi enchendo, e mais e<br />

mais até que quando percebeu a chaminé já estava<br />

rubra e das tábuas do forro saia fumaça. Não teve<br />

outra alternativa senão gritar pedindo socorro.<br />

Acudiram em tempo e evitaram que o escritório pegasse<br />

fogo. Foi um susto bem gran<strong>de</strong>.<br />

AFINAL ESCRITURÁRIO<br />

Em 1.° <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1909 foi nomeado escriturário do<br />

Serviço Central do Tráfego. Tinha 18 anos. O tempo<br />

em que passou na Viação foi um dos mais <strong>de</strong>cisivos<br />

em sua vida.<br />

O escritório em que trabalhava ficava nas proximida<strong>de</strong>s<br />

da estação da estrada <strong>de</strong> ferro e o jovem<br />

escriturário morava do outro lado da cida<strong>de</strong>. Para<br />

aten<strong>de</strong>r ao trabalho caminhava cerca <strong>de</strong> oito mil<br />

metros por dia em duas idas e voltas.<br />

Quem conhece o inverno sulino, o frio, a lama, ou<br />

quem conhece o calor esturricante do verão compren<strong>de</strong>rá<br />

facilmente o sacrifício que essas caminhadas<br />

representavam.<br />

César fazia contudo essas verda<strong>de</strong>iras jornadas com<br />

alegria na alma. Estava firmando-se nas cordas da<br />

Vida. Tinham ficado <strong>para</strong> atrás as horas esta-fantes <strong>de</strong><br />

simples caixeirinho <strong>de</strong> balcão. Não! Êle sentia que<br />

sua vida não seria a <strong>de</strong> um apagado


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

69<br />

caixeirinho <strong>de</strong> balcão. Não teria mais a companhia<br />

prejudicial <strong>de</strong> um mau companheiro, <strong>de</strong> um moço mais<br />

velho que ele, e, que apesar <strong>de</strong> pertencer a uma igreja<br />

evangélica lhe dava maus conselhos e maus<br />

exemplos. Não viveria a vida toda subordinado a um<br />

patrão miserável que só pensava em si e que não<br />

tinha uma palavra <strong>de</strong> estímulo ou <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cimento<br />

<strong>para</strong> com aqueles que se matavam <strong>para</strong> que êle se<br />

enriquecesse. Foi essa a impressão robustecida provada<br />

pela expressão lida no rosto <strong>de</strong> seu pai ao<br />

chegar à casa naquela tar<strong>de</strong> trazendo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> tantas<br />

canseiras, tantos trabalhos e tantas humilhações<br />

aqueles sete cruzeiros sujos e magros.<br />

Não, não seria assim! A Viação Férrea era um passo a<br />

mais. E seus pés se esten<strong>de</strong>riam, alcançariam<br />

maiores distâncias, erguer-se-iam, atingiriam alturas<br />

maiores.<br />

Atirou-se novamente aos estudos. Estudar sempre foi<br />

o seu gran<strong>de</strong> sonho; estudar, conhecer, saber, sim,<br />

saber muito! Principiou a frequentar as aulas noturnas<br />

dadas pelo vice-cônsul italiano, Ancarani; <strong>de</strong>pois<br />

passou <strong>para</strong> a escola do professor Cícero Barreto, à<br />

rua Dr. Bozano. Mais tar<strong>de</strong> tomou lições com o Bev.<br />

António Patrício Fraga, pastor da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> a<br />

esse tempo. Havia um missionário adventista, muito<br />

bom, Dr. Gregory. 0 moço fez amiza<strong>de</strong> com êle,<br />

ganhou-lhe o coração, e principiou a estudar inglês.<br />

Esses estudos que eram seu prazer e suas mais


NELSON DE GODOY COSTA<br />

70<br />

caras esperanças exigiam-lhe sacrifícios; êle porém os<br />

faria, faria ainda maiores se fosse preciso. Que era<br />

andar ainda mais seis quilómetros todos os dias e ir<br />

<strong>para</strong> a casa jantar às nove horas da noite e <strong>de</strong>pois<br />

continuar sobre os livros até altas horas?<br />

Principiou a guardar algumas economias <strong>de</strong> seu<br />

pequeno salário e com elas comprava livros, histórias,<br />

romances, gramáticas; leu toda a coleção <strong>de</strong> Samuel<br />

Smiles. O primeiro romance que leu foi "O Moço<br />

Loiro". Leu muitos livros <strong>de</strong> Alexandre Herculano e <strong>de</strong><br />

toda a literatura portuguesa.<br />

Livros vinham dia a dia enriquecendo sua pobre<br />

prateleira. A princípio guardava-os em casa. Depois<br />

conseguiu, com seu mano Paulo, muito seu amigo<br />

sempre, alugar um quarto no centro da cida<strong>de</strong>. O<br />

inverno era rigoroso e as caminhadas penosas <strong>para</strong> o<br />

serviço. O quarto não tinha luz elétrica. Um lampião <strong>de</strong><br />

querosene barato iluminava o moço e o livro.<br />

NOVOS E BONS AMIGOS<br />

Fêz novas amiza<strong>de</strong>s', ganhou novos e bons amigos.<br />

Um <strong>de</strong>les era um moço chamado Oswaldo Nascimento<br />

seu vizinho; entre o filho do construtor e o filho do<br />

quitan<strong>de</strong>iro alicerçou-se uma amiza<strong>de</strong> bonita,<br />

fortalecida pela mesma predileção pelos livros, a<br />

mesma vonta<strong>de</strong> imperiosa <strong>de</strong> saber. Outra e talvez<br />

mais bela afinida<strong>de</strong> ligou-o a dois irmãos, João e<br />

Efraim Salém. Foi a afinida<strong>de</strong> espiritual que pren<strong>de</strong>u<br />

em suas forças benditas os três rapazes crentes, sin-


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

71<br />

ceros e piedosos e César Dacorso Filho hendiz até<br />

hoje essa amiza<strong>de</strong> que lhe foi bem extraordinário na fixação<br />

<strong>de</strong> seu caráter cristão.<br />

Eram uma companhia agradável com quem César<br />

gostava <strong>de</strong> andar, a quem gostava <strong>de</strong> visitar e <strong>de</strong><br />

quem gostava <strong>de</strong> ser visitado.<br />

Económico, muito económico <strong>de</strong>s<strong>de</strong> menino, principiou<br />

a <strong>de</strong>positar na Caixa Económica algumas economias.<br />

Com alegrias cantando <strong>de</strong>ntro da alma começou a<br />

ajudar seus pais; ajudou sua irmã que ia casar-se e<br />

ainda sobraram-lhe cruzeiros que a êle mesmo, mais<br />

tar<strong>de</strong> o ajudaram muito, muito mesmo.<br />

A GRANDE DECISÃO<br />

Chegou afinal a gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão. Jovem sensato,<br />

trabalhador, fitando a Vida como quem realmente<br />

conhece nela o seu sentido <strong>de</strong> extraordinária<br />

divinda<strong>de</strong> inspirada pelo próprio Autor, César ouviu o<br />

chamado transce<strong>de</strong>ntal da vocação. Aten<strong>de</strong>u-o pronta<br />

e resolutamente. A voz chamava-o <strong>para</strong> o Ministério<br />

Santo da pregação do Evangelho e da administração<br />

da <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong> Cristo na terra.<br />

César seria pastor.<br />

Em outro capitulo falaremos <strong>de</strong>moradamente <strong>de</strong> sua<br />

conversão. Aten<strong>de</strong>remos ao <strong>de</strong>sejo natural <strong>de</strong> nossos<br />

amáveis leitores em saber da conversão do primeiro<br />

Bispo brasileiro da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil.


NELSON DE GODOY COSTA<br />

72<br />

Em 18 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1910 pediu <strong>de</strong>missão da<br />

Viação Férrea do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul. Ia matricular-se<br />

como candidato ao Santo Ministério no Colégio União,<br />

<strong>de</strong> Uruguaiana, no mesmo Rio Gran<strong>de</strong> do Sul.<br />

Continuava estudando inglês agora com o Rev. James<br />

Terrell, missionário em Santa Maria.<br />

Tinha conquistado na Viação Férrea e na cida<strong>de</strong>, entre<br />

homens <strong>de</strong> valor, um gran<strong>de</strong> círculo <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong>s.<br />

Quando foi apresentar suas <strong>de</strong>spedidas recebeu dos<br />

chefes o seguinte certificado: "Certifico que o Sr.<br />

César Dacorso Filho foi admitido na Viação Férrea do<br />

Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> praticante <strong>de</strong><br />

telegrafia, em 2 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1906; promovido a<br />

telegrafista em 1.° <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1907 e nomeado em<br />

1.° <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1909, escriturário do Serviço Central do<br />

Tráfego, cargo que ocupou até a presente data em<br />

que lhe é concedida exoneração a seu pedido.<br />

"É grato consignar que <strong>de</strong>monstrou sempre ati-vida<strong>de</strong>,<br />

inteligência e zelo no cumprimento dos serviços que<br />

lhe foram confiados, merecendo por tais predicados os<br />

louvores e a confiança <strong>de</strong> seus superiores.<br />

Santa Maria, 18 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1910. O chefe do<br />

Tráfego, M. Renaduce Visto. O diretor interino, F.<br />

von Rock Hoje, como seus superiores outrora, superior<br />

na hierarquia eclesiástica, César Dacorso Filho<br />

po<strong>de</strong> exigir dos superinten<strong>de</strong>ntes distritais e dos<br />

pastores zelo no cumprimento do pastorado. Êle dá<br />

o exemplo. Escrevia em 25 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1941: "...<br />

continuo sob


73<br />

pressão tremenda <strong>de</strong> trabalho. Diariamente das 6,30<br />

da manhã até alta noite me entrego ao esforço <strong>de</strong> melhorar<br />

a administração, a organização, a espiritualida<strong>de</strong><br />

da <strong>Igreja</strong> por meio <strong>de</strong> cartas circulares e outros<br />

trabalhos. Estou cansado".<br />

Em outra ocasião escreveu: "O episcopado vai se<br />

tornando cada vez coisa mais trabalhosa e<br />

absorvente. Agora estou trabalhando sem cessar das<br />

5,30 da manhã às onze da noite <strong>para</strong> dar conta <strong>de</strong><br />

minhas obrigações. Eu mesmo me admiro como posso<br />

aguentar tanta coisa".<br />

Po<strong>de</strong> exigir! Porque, quando subordinado, ofereceu<br />

aos seus superiores exemplo admirável no<br />

cumprimento do <strong>de</strong>ver.<br />

PENSA INICIAR-SE EM POLÍTICA...<br />

... O CORAÇÃO ENSAIA ALGUNS PASSOS...<br />

Ao tempo <strong>de</strong> seu trabalho na Viação Férrea principiou<br />

a tomar interesse pela política. Seu entusiasmo<br />

cresceu quando chegou a campanha <strong>para</strong> a<br />

presidência da República ferida entre Rui Barbosa e o<br />

Marechal Hermes da Fonseca. O jovem <strong>de</strong> 18 anos<br />

abraçou calorosamente a causa <strong>de</strong> Rui. Fez extraordinária<br />

propaganda, conseguiu qualificar vários eleitores<br />

<strong>para</strong> a Águia <strong>de</strong> Haia.<br />

Dezoito anos. O coração ensaia alguns passos. ..<br />

Teriam sido os primeiros? E aquela menininha bonitinha<br />

que passava pela frente do armazém do<br />

Arnaldo?... Mas... seriam naquele tempo os primeiros<br />

passos...


NELSON DE GODOY COSTA<br />

74<br />

Agora o coração tinha mesmo <strong>de</strong>spertado e César<br />

gostou, gostou com simplicida<strong>de</strong>, mas gostou<br />

verda<strong>de</strong>iramente <strong>de</strong> uma jovem bonita chamada<br />

Francisca e conhecida entre os íntimos pelo seu<br />

apelido, Chiquinha. Crente, piedosa e simples,<br />

Chiquinha exerceu notável influência na vida espiritual<br />

<strong>de</strong> funcionário da Viação Férrea. Colaborou<br />

eficazmente no melhoramento <strong>de</strong> sua vida espiritual,<br />

nas ativida<strong>de</strong>s da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>, na sua profissão <strong>de</strong><br />

fé. Tudo iria <strong>para</strong> adiante naquela amiza<strong>de</strong> bonita;<br />

acontece porém, que os pais da jovem residiam em<br />

Porto Alegre c ela voltou <strong>para</strong> a capital sul<br />

riogran<strong>de</strong>nse, e embora muitos cantem naquele hino<br />

que "a distância não apaga o amor" a verda<strong>de</strong> é que o<br />

amor apagou-se na distância. A jovem esqueceu-se do<br />

moço <strong>de</strong> Santa Maria e substituiu-o por um moço <strong>de</strong><br />

Porto Alegre.<br />

Por que fêz isso? Não era ela quem lhe passava<br />

bilhetinhos apaixonados quando César a cumprimentava<br />

ou se <strong>de</strong>spedia <strong>de</strong>la nos encontros rápidos e<br />

medrosos, bilhetinhos que falavam <strong>de</strong> um amor que<br />

nunca haveria <strong>de</strong> morrer?<br />

Às vezes o moço passava pela residência da menina e<br />

procurava falar-lhe. Multiplicaram-se os encontros à<br />

porta da casa da moça e uma vêz foram<br />

surpreendidos pelo Rev. António Patrício Fraga e<br />

esposa, <strong>de</strong> quem a jovem era irmã e cunhada. Surpreen<strong>de</strong>ram<br />

os pombinhos mas não lhes disseram<br />

coisa alguma. Por que dizer? O amor não é uma coisa<br />

tão boa e namorar não é tão gostoso?


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

75<br />

Essa foi a ingrata que o <strong>de</strong>ixou pelo moço da capital.<br />

O coração humano é eternamente um mistério<br />

in<strong>de</strong>cifrável. César, esquecido pela jovem <strong>de</strong> Porto<br />

Alegre, procurou outro amor. Era uma cunhadinha do<br />

mesmo Rev. António Patrício Fraga. As coisas principiaram<br />

bem, foram melhorando, melhorando mais;<br />

melhoraram ainda mais e quando <strong>de</strong> tão bem já iam<br />

em noivado, a cunhadinha do reverendo <strong>de</strong>spediu-o.<br />

Coração eternamente in<strong>de</strong>cifrável! em frente ao<br />

escritório on<strong>de</strong> o escriturário trabalhava havia uma<br />

linda jovem que nutria verda<strong>de</strong>ira paixão por êle.<br />

César bem queria correspondcr-lhe o afeio. Como<br />

porém, se eslava comprometido com a oulra, a oulra<br />

que o <strong>de</strong>spediu...


CAPÍTULO OITAVO<br />

A CONVERSÃO DE CÉSAR DACORSO FILHO<br />

76<br />

Penetremos mais a vida religiosa da família Dacorso,<br />

os pais e irmãos <strong>de</strong> César Dacorso Filho. Seu pai,<br />

chefe e responsável pela família era católico<br />

liberalíssimo, <strong>de</strong>sgostoso <strong>de</strong> padres e da <strong>Igreja</strong>. Não<br />

frequentava a <strong>Igreja</strong>, não confessava, não comungava.<br />

Batizava os filhos, acreditando cumprir um <strong>de</strong>ver religioso<br />

e com eles acompanhava algumas vezes uma<br />

ou outra procissão.<br />

Lia muito Cavour, Mazzini e outros semi--adversários<br />

do Catolicismo, e por isso tinha regular conhecimento<br />

da História do Romanismo. Não conhecia a Bíblia.<br />

Somente veio a conhecê-la muitos anos mais tar<strong>de</strong>,<br />

quando o filho convertido lhe fêz presente <strong>de</strong> uma.<br />

Prontamente principiou a lê-la e formou o hábito <strong>de</strong> lêla<br />

todos os domingos <strong>de</strong> manhã. E, imediatamente o<br />

livro miraculoso realizou um milagre: o homem<br />

<strong>de</strong>ixou o costume arraigado <strong>de</strong>


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

77<br />

trabalhar aos domingos. Apren<strong>de</strong>u a guardar o dia<br />

do Senhor.<br />

Seu caráter moral era altamente cristão. Dificilmente<br />

se encontra homem <strong>de</strong> tanta honestida<strong>de</strong>, tanto amor<br />

ao trabalho, e <strong>de</strong> tão acentuada moral cristã. Não<br />

bebia ou pelo menos seu filho nunca o viu embriagado<br />

ou soube que tinha tomado bebida alcoólica.<br />

Não jogava, não tinha companhias censuráveis, não<br />

passava as noites fora <strong>de</strong> sua casa. Muitas vezes o<br />

filho ouviu-o <strong>de</strong>clarar sua repulsa e con<strong>de</strong>nação feitas<br />

em relação aos <strong>de</strong>slizes <strong>de</strong> outros.<br />

Os Dacorso haviam residido junto ao templo luterano,<br />

<strong>de</strong> cujo pastor seu pai era amicíssimo. É possível que<br />

<strong>de</strong>ssa amiza<strong>de</strong> alguma coisa benéfica resultasse <strong>para</strong><br />

o chefe e <strong>para</strong> a família. Os pastores sempre são<br />

pastores.<br />

Na família Dacorso não havia propriamente a prática<br />

da religião, nem sequer possuíam quadros com<br />

imagens.<br />

Mais ou menos pelo ano <strong>de</strong> 1900 apareceu na cida<strong>de</strong>,<br />

num salão alugado, à rua do Comércio, hoje Dr.<br />

Bozano, um trabalho da <strong>Igreja</strong> Episcopal. O pastor era<br />

um missionário, homem <strong>de</strong> bonda<strong>de</strong> imensa e<br />

chamava-se William Morris. As pregações acompanhadas<br />

ou precedidas pelos comentários a respeito<br />

da bonda<strong>de</strong> do evangelista causaram sensação na<br />

cida<strong>de</strong>. César Dacorso levado pela curiosida<strong>de</strong> foi ver<br />

o que era e levou os filhos; encaminhou os filhos,


NELSON DE GODOY COSTA<br />

78<br />

porque apreciou imensamente, mas êle mesmo nunca<br />

frequentou com assiduida<strong>de</strong>.<br />

Foi assim que o menino teve o primeiro con-tato com o<br />

Evangelho. Principiou a ir à Escola Dominical. Recebia<br />

cartões ilustrados com lindas figurinhas e colecionavaos.<br />

Gostava imensamente da Escola Dominical; aos<br />

cultos da noite, porém, não ia.<br />

Aconteceu infelizmente e exatamente na Escola<br />

Dominical um fato sem importância, mas que foi bastante<br />

<strong>para</strong> que César Dacorso proibisse os filhos <strong>de</strong><br />

irem ao templo. Alguém furtou uma bolsa com dinheiro<br />

a uma aluna da Escola; proibiu-os <strong>para</strong> evitar que um<br />

dia fossem lambem acusados o (pie não admitia nem<br />

<strong>de</strong> leve.<br />

Proibidas as crianças, César per<strong>de</strong>u o contato com a<br />

<strong>Igreja</strong>.<br />

Mais tar<strong>de</strong> e também numa sala alugada, apareceu na<br />

mesma rua o trabalho evangélico pela <strong>Igreja</strong><br />

<strong>Metodista</strong>, tendo como pastor o Rev. J. W. Price. As<br />

pregações feitas com simplicida<strong>de</strong> e unção conquistaram<br />

a simpatia <strong>de</strong> César Dacorso, que principiou a<br />

assisti-las com assiduida<strong>de</strong> por algum tempo. Ainda<br />

<strong>de</strong>ssa vez afastou-se e afastou-se <strong>para</strong> sempre.<br />

Nunca mais César o viu em uma igreja evangélica,<br />

senão anos <strong>de</strong>pois <strong>para</strong> ouvir as pregações do filho,<br />

pastor, em Juiz <strong>de</strong> Fora ou em Belo Horizonte, a<br />

capital do Estado <strong>de</strong> Minas Gerais, <strong>de</strong> que Juiz <strong>de</strong><br />

Fora é a principal cida<strong>de</strong>.


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

79<br />

A senhora sua mãe era católica. Durante algum tempo<br />

manifestou certas tendências espíritas. Não<br />

costumava ir ao templo. Seu filho não sabe <strong>de</strong> uma só<br />

vez a que ela tivesse ido à missa comum. Da missa do<br />

galo, porém, gostava e ia com os filhos mais velhos e<br />

com algumas vizinhas. Mandava também dizer missa<br />

pelos parentes falecidos, mas não ia ouvi-las. Não<br />

acompanhava procissões, não ia a festas religiosas.<br />

Este é um fenómeno a que nós po<strong>de</strong>ríamos dizer<br />

comum no Catolicismo brasileiro. Quando se pergunta<br />

a alguém qual a sua religião, geralmente respon<strong>de</strong> ser<br />

católico. É católico, entretanto, que não vai à missa,<br />

não confessa, não comunga, não gosta <strong>de</strong> padres.<br />

Quer ser contudo alguma coisa, quer ter uma religião<br />

<strong>para</strong> andar bem com Deus e contenta-se em<br />

respon<strong>de</strong>r, em dizer que é católico.<br />

Outros sofrem a falta <strong>de</strong> instrução religiosa. A <strong>Igreja</strong><br />

Católica não se interessa na educação religiosa do<br />

povo e a <strong>Igreja</strong> Evangélica ainda não esten<strong>de</strong>u por<br />

todo o Brasil seus centros <strong>de</strong> irradiação cristã. Combatida<br />

pela <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong> Roma, impedida em muitas <strong>de</strong><br />

suas iniciativas, está lutando terrivelmente <strong>para</strong> propagar<br />

o Evangelho re<strong>de</strong>ntor <strong>de</strong> Cristo ao brasileiro.<br />

A senhora mãe <strong>de</strong> César Dacorso Filho só veio a<br />

conhecer um templo evangélico em ida<strong>de</strong> avançada e<br />

quando seu filho era pastor. Não chegou, entretanto a<br />

fazer sua profissão <strong>de</strong> fé.<br />

Seus irmãos dispersaram-se da Escola Dominical e<br />

nunca mais se interesaram-se pelo Evangelho


NELSON DE GODOY COSTA<br />

80<br />

à exceção <strong>de</strong> sua mana Alice que nutre acentuadas<br />

simpatias pelo serviço do Exército <strong>de</strong> Salvação. O<br />

irmão mais velho, seu companheiro <strong>de</strong> infância, Paulo,<br />

muito seu amigo, levado pela gratidão aos padres que<br />

sempre o ajudaram muito nos estudos, sempre foi<br />

favorável ao catolicismo, mas é tão católico como<br />

qualquer outro menos católico. Outro irmão abraçou o<br />

Espiritismo. Os <strong>de</strong>mais membros da família são<br />

indiferentes.<br />

CÉSAR<br />

César perseverou na sala metodista, assíduo e fiel.<br />

Naquele recanto <strong>de</strong> paz e <strong>de</strong> inspiração <strong>para</strong> os seus<br />

sonhos juvenis recebia atenção carinhosa do pastor,<br />

Rev. J. W. Price e os cuidados <strong>de</strong> sua esposa d. Elisa,<br />

sempre solícita e atenta aos interesses dos meninos.<br />

Principiou a tomar parte nos programas e ajudar nos<br />

trabalhos da <strong>Igreja</strong>. O lugar <strong>de</strong> culto mudou-se <strong>para</strong> a<br />

praça do Mercado, <strong>de</strong>pois <strong>para</strong> a rua do<br />

Acampamento e <strong>de</strong>pois <strong>para</strong> a rua Venâncio Aires. O<br />

menino acompanhou a casa <strong>de</strong> oração sempre com<br />

alegria e bem disposto.<br />

Ao Rev. J. W. Price suce<strong>de</strong>ram os Revs. José Leonel<br />

Lopes, António Patrício Fraga, Fre<strong>de</strong>rico Martins. A<br />

todos esses pastores César prestou <strong>de</strong>cidida<br />

cooperação e fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>. É possível que o menino sem<br />

o lar <strong>para</strong> ajudá-lo tivesse um ou outro momento <strong>de</strong><br />

hesitação, mas se os houve não chegaram a influir em<br />

seus propósitos.


81<br />

Nesse tempo leu quase toda a Bíblia, sem, entretanto<br />

compreen<strong>de</strong>r o que ela queria dizer-lhe. Além da<br />

Escola Dominical principiou a assistir com prazer os<br />

cultos. Começou também adquirir na Casa<br />

Publicadora <strong>Metodista</strong> livros que lia com verda<strong>de</strong>ira<br />

satisfação.<br />

Jovens distintos da <strong>Igreja</strong> acercaram-se do jovem<br />

ardoroso; ofereceram-lhe a amiza<strong>de</strong> <strong>de</strong>spre-tenciosa,<br />

pura dos moços crentes e a amiza<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses jovens<br />

auxiliou gran<strong>de</strong>mente a César em firmar-se na vida<br />

religiosa. Foi convidado a participar da Liga Epworth,<br />

hoje Socieda<strong>de</strong> <strong>Metodista</strong> <strong>de</strong> Jovens, nela trabalhou<br />

com entusiasmo.<br />

Outra bênção <strong>para</strong> o calor religioso do jovem foi o<br />

conhecimento <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s homens da <strong>Igreja</strong>. Conheceu<br />

pessoalmente homens profundamente<br />

piedosos que infundiram, que causaram em sua alma<br />

<strong>de</strong> adolescente profunda e inapagável impressão.<br />

Entre esses varões piedosos contavam-se os Revs.<br />

Eduardo Mena Barreto Jaime, Cassiano Monteiro,<br />

Eduardo Joiner.<br />

Na Liga Epworth principiou dirigir cultos. Sua alma<br />

vibrava nesses momentos <strong>de</strong> exercício espiritual.<br />

Resolveu, ante as reações admiráveis sobre sua vida<br />

espiritual, ampliar o campo das experiências religiosas<br />

através do serviço. Principiou pregar por conta própria<br />

nalguns bairros <strong>de</strong> Santa Maria. Era sua querida<br />

cida<strong>de</strong> a primeira a ser evangelizada pelo adolescente<br />

convertido; sua Santa Maria.<br />

Num dia afinal, dia imensamente feliz <strong>para</strong> o seu<br />

coração, <strong>para</strong> toda sua vida, entregou-se <strong>de</strong>finitivamente<br />

à <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong> Cristo. Recebeu-o por batismo


82<br />

e profissão <strong>de</strong> fé o Rev. António Patrício Fraga. Tomou<br />

essa resolução felicíssima sem consultar pessoa<br />

alguma; consultou seu Deus e Deus lhe disse que faria<br />

bem em professar sua fé em Jesus como seu salvador<br />

pessoal. Tinha <strong>de</strong>zesseis anos.<br />

Em 1908 foi à capital do Estado sulino assistir à<br />

Conferência Anual. Hospedou-se na residência do<br />

Rev. Claud Livingstone Smith, hoje falecido e naquele<br />

tempo ainda solteiro. Os trabalhos conferenciais foram<br />

um <strong>de</strong>slumbramento <strong>para</strong> o jovem e ardoroso<br />

metodista. Acompanhava empolgado a atuação dos<br />

lí<strong>de</strong>res, principalmente o trabalho dos bispos.<br />

Sonharia em ser Rispo algum dia?<br />

Naqueles dias que imprimiram tão fundas marcas em<br />

sua alma conheceu também os pais do Rev. Adolfo<br />

Melchior TJngaretti.<br />

Regressou a Santa Maria verda<strong>de</strong>iramente empolgado,<br />

extraordinariamente impressionado pelos trabalhos<br />

da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>.<br />

Desenvolvendo cada dia mais suas ativida<strong>de</strong>s no<br />

serviço do Reino, foi professor da Escola Dominical,<br />

superinten<strong>de</strong>nte, membro da Junta <strong>de</strong> Ecônomos,<br />

presi<strong>de</strong>nte da Liga Epworth, <strong>de</strong>positário. Aceitou com<br />

alegria e <strong>de</strong>sincumbiu-se admiravelmente <strong>de</strong> todos os<br />

cargos que lhe confiaram.<br />

CHAMADO PARA O MINISTÉRIO<br />

César Dacorso Filho amava entranhadamente a <strong>Igreja</strong><br />

<strong>Metodista</strong>. Nela cresceu e acompanhou-lhe, amoroso,<br />

o crescimento em sua cida<strong>de</strong> natal. Cresceu


PBÍNCIPE DA IGREJA<br />

83<br />

também <strong>de</strong>ntro da vida eterna. Aceitou com o coração<br />

exultante os cargos todos que lhe confiaram e neles<br />

pôs a sua alma <strong>para</strong> o perfeito cumprimento.<br />

Depois seus olhos sempre se<strong>de</strong>ntos <strong>de</strong> maiores<br />

alturas no serviço do Reino <strong>de</strong> Cristo no coração dos<br />

homens dilataram-se mais <strong>para</strong> a frente, atingiram<br />

maiores alturas. César dirigiu seus olhares <strong>para</strong> on<strong>de</strong><br />

seu coração estava olhando; e seu coração estava<br />

olhando <strong>para</strong> o Ministério Santo.<br />

Nesse i<strong>de</strong>al recebeu as primeiras influências do Rev.<br />

J. W. Price, o missionário bondoso <strong>de</strong> quem nunca se<br />

esqueceu. Ajudou-o na resolução final o Rev. António<br />

Patrício Fraga.<br />

César Dacorso Filho seria ministro do Evan-gelho,<br />

<strong>de</strong>ntro da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>. Tinha encontrado seu i<strong>de</strong>al<br />

na vida, a razão <strong>de</strong> ser <strong>de</strong> sua vinda ao mundo. Não<br />

seria mais o caixeirinho perdido horas e horas atrás <strong>de</strong><br />

um balcão, o companheiro <strong>de</strong> um mau moço, a vítima<br />

<strong>de</strong> um comerciante ganancioso. Nem mesmo seria<br />

mais o escriturário da Viação Férrea do Rio Gran<strong>de</strong> do<br />

Sul; se o fosse seria um gran<strong>de</strong> escriturário. César<br />

seria ministro do Evangelho do Senhor Jesus.<br />

Gran<strong>de</strong> e extraordinário i<strong>de</strong>al! Para consegui-lo teria<br />

<strong>de</strong> lutar ainda muito. Uma força animava-o, porém,<br />

confortadoramente: a certeza do chamado divino. Para<br />

atendê-lo enfrentaria e venceria as maiores<br />

dificulda<strong>de</strong>s, êle o menino acostumado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a mais<br />

tenra infância a suportar as caras feias da Vida e a<br />

vencê-las com um sorriso <strong>de</strong> confiança nos i<strong>de</strong>ais da<br />

própria e gran<strong>de</strong> Vida.


NELSON DE GODOY COSTA<br />

84<br />

Prosseguiu animado nos estudos da velha "Disciplina",<br />

a Teologia <strong>de</strong> Biney e algumas disciplinas do curso<br />

ginasial com o mesmo pastor amigo, Rev. António<br />

Patrício Fraga.<br />

E tendo a alma a cantar muitos hinos <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>ira<br />

esperança aceitou prazciroso o convite do Rev. James<br />

M. Terrell <strong>para</strong> prosseguir nos estudos no colégio<br />

"União" <strong>de</strong> Uruguaiana. E graças aos seus esforços<br />

conseguiu matricular-se na segunda série daquele<br />

famoso educandário metodista do Sul do Brasil.


CAPÍTULO NONO<br />

REMINISCÊNCIAS E SAUDADES<br />

Hoje aposentado, <strong>de</strong>sfrutando o justo repouso dos longos<br />

anos <strong>de</strong> pastorado íeliz e alivo ainda, aceitando todas as<br />

ocasiões <strong>para</strong> trabalhar nos vários convites das diversas<br />

<strong>de</strong>nominações, além dos da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>, o Rev.<br />

António Patrício Fraga volta às vezes os olhos da<br />

sauda<strong>de</strong> <strong>para</strong> a primeira paróquia <strong>de</strong> seu ministério <strong>para</strong><br />

a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Santa Maria no ano <strong>de</strong> 1900 e recorda as<br />

lutas <strong>para</strong> a implantação do trabalho metodista na cida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> César Dacorso Filho.<br />

Foi realmente difícil. A <strong>Igreja</strong> Episcopal não recebeu com<br />

bons olhos a <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>, e sempre insistiu na<br />

política <strong>de</strong> proselitismo. Arrebanhava todos os elementos<br />

que podia. Se alguém principiava assistir aos cultos na<br />

<strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> era metralhado <strong>de</strong> tantos convites que,<br />

ou ban<strong>de</strong>ava <strong>para</strong> a <strong>Igreja</strong> Episcopal ou escandalizado<br />

abandonava as igrejas protestantes.<br />

85


NELSON DE GODOY COSTA<br />

Nesse tempo Fraga era pouco mais que adolescente e<br />

ajudante do Rev. Price. E foi nesse tempo que conheceu<br />

aquele menino forte e gordinho <strong>de</strong> uns nove ou <strong>de</strong>z anos,<br />

que assistia com entusiasmo e interesse a Escola<br />

Dominical.<br />

Prestou atenção no menino. Viu nele alguma coisa <strong>de</strong><br />

extraordinário que o distinguia <strong>de</strong> outros meninos <strong>de</strong> sua<br />

ida<strong>de</strong>. Estariam os olhos do pastor ajudante procurando<br />

<strong>de</strong>scobrir no menino extraordinário o membro da <strong>Igreja</strong>, o<br />

pastor, o primeiro bispo da <strong>Igreja</strong> Melodisla do Brasil?<br />

É possível. Quando Fraga regressou <strong>de</strong> Juiz <strong>de</strong> Fora<br />

<strong>para</strong> on<strong>de</strong> linha ido continuar seus estudos no colégio<br />

Granbery, ficou imensamente alegre ao encontrar agora<br />

com catorze ou quinze anos o mesmo menino forte,<br />

disposto e principalmente firme na <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>, à<br />

frente <strong>de</strong> todas suas ativida<strong>de</strong>s, sempre entusiasta, pleno<br />

<strong>de</strong> vida sempre.<br />

Coube-lhe a alegria <strong>de</strong> recebê-lo à comunhão da <strong>Igreja</strong><br />

por batismo e profissão <strong>de</strong> fé. Quando estava colocando<br />

as mãos molhadas da água do batismo sobre a cabeça<br />

do adolescente promissor e pleno <strong>de</strong> fé, teria passado<br />

pela sua cabeça <strong>de</strong> pastor o pensamento <strong>de</strong> que um dia<br />

outras mãos colocar-se-iam sobre a mesma cabeça <strong>para</strong><br />

sagrá-lo Bispo?<br />

É possível. Às vezes pelo cérebro dos pastores passam<br />

sonhos que <strong>de</strong>scem dos céus.<br />

Continuam as reminiscências <strong>de</strong> António Patrício Fraga;<br />

o pastor:<br />

86


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

"Foi nesse tempo que começou a sentir-se chamado <strong>para</strong><br />

o Santo Ministério. Começou a estudar comigo a<br />

"Disciplina" e ao mesmo tempo iniciou seus estudos <strong>de</strong><br />

inglês com um missionário sabatista.<br />

Era funcionário da Viação Férrea do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul e<br />

eu sabia por informações graciosas e espontâneas que<br />

era funcionário exemplar e muito querido <strong>de</strong> seus<br />

superiores.<br />

Tendo sido convidado <strong>para</strong> estudar no colégio "União" <strong>de</strong><br />

Uruguaiana, não relutou em <strong>de</strong>ixar seu bom emprego.<br />

Aceitou o convite. Eu queria saber se realmente César<br />

era vocacionado e amava os estudos, e em certa ocasião<br />

disse-lhe que talvez viesse a arrepen<strong>de</strong>r-se <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar<br />

uma colocação tão promissora, on<strong>de</strong> era tão estimado.<br />

César respon<strong>de</strong>u-me com firmeza e convicção que pelos<br />

estudos <strong>de</strong>ixaria o emprego, alegremente."<br />

"Estudou no colégio "União" <strong>de</strong> Uruguaiana; <strong>de</strong>pois<br />

transferiu-se <strong>para</strong> o colégio Granbery, em Juiz <strong>de</strong> Fora.<br />

Sempre ouvi dizer que nos dois colégios foi ótimo aluno,<br />

estudante admirável.<br />

"Saiu do Granbery <strong>para</strong> entrar no ministério ativo. Sua<br />

primeira paróquia foi Palmyra, hoje Santos Dumont. Os<br />

ministros olhavam <strong>para</strong> o jovem César com gran<strong>de</strong>s e<br />

fundadas esperanças, pois <strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo seu nome<br />

principiou a projetar-se no ministério metodista.<br />

87


NELSON DE GODOY COSTA<br />

"Há um fato bonito que revela seu caráter metodista bem<br />

formado. Em agosto <strong>de</strong> 1933, no Concílio Regional do<br />

Norte, em Juiz <strong>de</strong> Fora, numa reunião do gabinete<br />

episcopal, discutindo os superinten<strong>de</strong>ntes sobre qual<br />

seria o homem que po<strong>de</strong>ria pastorear a paróquia <strong>de</strong><br />

Carangola, o Bispo Rev. Dr. J. W. Tarboux disse que<br />

havia um homem <strong>para</strong> aquela paróquia difícil. Era César<br />

Dacorso Filho. Porque consultado, o Bispo César<br />

respon<strong>de</strong>u prontamente: "Estou às or<strong>de</strong>ns, po<strong>de</strong><br />

mandar". F foi <strong>para</strong> Carangola.<br />

Doze anos mais tar<strong>de</strong>, o Bispo César, escrevendo a ii m<br />

pastor sobre problemas <strong>de</strong> nomeação, dizia:<br />

"... estava em Juiz <strong>de</strong> Fora, com quatro filhos estudando<br />

no Instituto Granbery, quando fui mandado <strong>para</strong><br />

Carangola, cida<strong>de</strong> da mata, igreja <strong>de</strong> vinte e uma<br />

pessoas, que se reunia numa casa que ameaçava ruína.<br />

Nunca me tive por diminuído ao sair <strong>de</strong> uma igreja gran<strong>de</strong><br />

ou rica <strong>para</strong> ir <strong>para</strong> uma igreja pequena ou pobre, ou<br />

engran<strong>de</strong>cido ao sair <strong>de</strong> uma igreja pequena ou pobre<br />

<strong>para</strong> uma igreja gran<strong>de</strong> ou rica." Prossigamos ouvindo as<br />

reminiscências <strong>de</strong> António Patrício Fraga, o pastor:<br />

"César Dacorso Filho foi <strong>para</strong> Carangola, a igreja<br />

pequenina e pobre <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> pastorear a igreja <strong>de</strong> Juiz<br />

<strong>de</strong> Fora, gran<strong>de</strong> e rica. Era, contudo o homem, o<br />

brasileiro mais cre<strong>de</strong>nciado <strong>para</strong> ser o Bispo da <strong>Igreja</strong><br />

<strong>Metodista</strong> do Brasil, em substituição ao Bispo Tarboux<br />

que não podia<br />

88


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

continuar na ativida<strong>de</strong> por motivo <strong>de</strong> falta <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong>.<br />

"Eu profetizei isto. Escrevi <strong>para</strong> César Dacorso Filho<br />

dizendo que êle sairia <strong>de</strong> Carangola <strong>para</strong> o episcopado.<br />

Realizou-se minha profecia. Em janeiro <strong>de</strong> 1934 foi eleito<br />

o primeiro Bispo da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil.<br />

"O Rev. m0 Bispo César Dacorso Filho é filho da <strong>Igreja</strong><br />

<strong>Metodista</strong>. Nela cresceu, nela foi educado <strong>para</strong> ocasião<br />

propícia. É ótimo administrador, exemplo vivo e eloquente<br />

<strong>de</strong> esforço, zelo e sacrifício. Sua autorida<strong>de</strong> é respeitada<br />

porque César Dacorso Filho é, primeiramente um<br />

exemplo."<br />

Estas apenas algumas reminiscências do homem que<br />

conheceu o menino <strong>de</strong> Santa Maria.<br />

89


CAPÍTULO DÉCIMO<br />

NO COLÉGIO "UNIÃO" DE URUGUAIANA<br />

Os dias corriam em Santa Maria e César tinha mais<br />

<strong>de</strong>cidida cada vêz a vonta<strong>de</strong> imensa <strong>de</strong> estudar. Gostava<br />

<strong>de</strong> Geografia e História. Estudava-as com afinco.<br />

Principiou tomar lições <strong>de</strong> inglês com o Rev. J. M. Terrell.<br />

Estudava muito, estudava sempre.<br />

Um amigo <strong>de</strong> infância José Borba o animava nessa luta<br />

com palavras encoraj adoras.<br />

Outra força que o estimulou muito agora nos estudos dos<br />

gran<strong>de</strong>s escritores foi o êxito <strong>de</strong> seu companheiro <strong>de</strong><br />

infância também, Roque Calage, que, seguindo o estilo<br />

<strong>de</strong> Éça <strong>de</strong> Queiroz principiou brilhar na imprensa. A<br />

imprensa sempre foi uma das paixões <strong>de</strong> César Dacorso<br />

Filho. Atirou-se nas pisadas do amigo e fêz sucesso<br />

embora, como <strong>de</strong> outras vezes, não tivesse quem o<br />

ajudasse ou orientasse.<br />

90


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

Nesse ano fundou-se um ginásio <strong>de</strong> padres em Santa<br />

Maria. E, quando em datas festivas os alunos saíam<br />

pelas ruas bem vestidos em vistosos uniformes os olhos<br />

<strong>de</strong> César olhavam compridos <strong>para</strong> o batalhão em<br />

marcha. Iam além, viam meninos agraciados pela<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> serem no amanhã homens úteis à pátria,<br />

à mesma pátria que também era <strong>de</strong> César, a quem êle<br />

queria servir, ansiava por engran<strong>de</strong>cer, e <strong>para</strong> o que não<br />

tinha recebido a graça <strong>de</strong> uma oportunida<strong>de</strong>.<br />

Não tinha sim, principalmente quando seu sonho era tão<br />

gran<strong>de</strong>, seu i<strong>de</strong>al tão elevado. César sonhava com o<br />

ministério santo do Evangelho <strong>de</strong> Cristo, daquele Crislo a<br />

quem êle, menino conhecera na Escola Dominical e que<br />

agora nos seus dias <strong>de</strong> jovem o acompanhava,<br />

encorajava-o na luta. César bem o sabia porque a gran<strong>de</strong><br />

Presença era uma realida<strong>de</strong> iniludível em sua vida.<br />

A resposta aos seus anseios, às suas preces chegou<br />

inesperadamente. O Rev. J. M. Terrell convidou-o <strong>para</strong><br />

estudar <strong>para</strong> o santo ministério em Uruguaiana, no<br />

colégio "União", que fazia pouco tempo tinha passado<br />

<strong>para</strong> a <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> e estava sob a direção do Rev. J.<br />

W. Price.<br />

0 dia em que recebeu o convite foi um dos dias mais<br />

felizes <strong>de</strong> sua vida. Despediu-se <strong>de</strong> seus superiores na<br />

Viação Férrea do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, on<strong>de</strong> era<br />

estimadíssimo. Despediu-se <strong>de</strong> seus pais extremosos.<br />

Despediu-se <strong>de</strong> seus amigos, companheiros <strong>de</strong> infância<br />

<strong>de</strong> meninice, <strong>de</strong> adolescência e <strong>de</strong> sonhos <strong>para</strong> a vida.<br />

Despediu-se <strong>de</strong> sua querida <strong>Igreja</strong>.<br />

91


NELSON DE GODOY COSTA<br />

Quanta <strong>de</strong>spedida! Quanta tristeza e quanta alegria! Pois<br />

não ia êle o menino sonhador matricular-se num gran<strong>de</strong><br />

colégio, estudar e estudar muito <strong>para</strong> afinal saber muito?<br />

Despediu-se <strong>de</strong> Santa Maria e se foi <strong>para</strong> a cida<strong>de</strong><br />

fronteira do gran<strong>de</strong> Estado sulino.<br />

Havia uma gran<strong>de</strong> barreira a transpor. César queria e<br />

precisava ganhar tempo nos estudos. Queria matricularse<br />

na segunda série ginasial e a barreira era o atraso na<br />

arithmética e o completo <strong>de</strong>sconhecimento da álgebra.<br />

Mais uma vêz lançou mão <strong>de</strong> sua força <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong><br />

extraordinária e sua vonta<strong>de</strong> e sua inteligência atiraramse<br />

sobre as disciplinas necessárias e conseguiram a<br />

classificação.<br />

No colégio União teve mestres admiráveis. O General<br />

José Valentim Benício da Silva, então segundo tenente<br />

ensinou-lhe álgebra e geometria. Adriano Ribeiro, irmão<br />

do primeiro ministro da Educação que o Brasil República<br />

teve, ensinou-lhe português, juntamente com o professor<br />

Lavoiser Escobar, tenente da Armada, ex-secretário da<br />

Embaixada do Brasil em Viena.<br />

Esses dois gran<strong>de</strong>s professores foram seus mestres num<br />

idioma que César sempre amou e <strong>de</strong> que mais tar<strong>de</strong> foi<br />

mestre também, o idioma pátrio.<br />

D. Luíza Vurlod, que se casou mais tar<strong>de</strong> com o Rev.<br />

Adolfo Ungaretti, e suas manas, Tereza e A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong>, que<br />

eram professoras igualmente, completavam o corpo<br />

docente do colégio.<br />

92


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

Para custear suas <strong>de</strong>spesas César trabalhava mesmo<br />

nas férias. Foi secretário, tesoureiro, regente <strong>de</strong> alunos,<br />

pintor <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>s. Não tinha medo <strong>de</strong> serviço que lhe<br />

surgisse à frente, e nenhum serviço lhe fêz frente.<br />

Tempo felicíssimo o <strong>de</strong> estudante no "União"!<br />

Num belo dia tentou com o auxílio do professor Lavoisier,<br />

o ex-secretário da Embaixada do Brasil em Viena, fazer a<br />

primeira tradução do inglês. Escolheu logo Shakespeare<br />

— "To be or not to be. .." A tradução saiu às mil<br />

maravilhas e foi publicada no "Únitas" jornalzinho do<br />

colégio, redatoriado peto hoje ministro aposentado da<br />

<strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil, Rcv. Oswaldo Luiz tia Silva.<br />

----- 0O0 ----<br />

É ainda ao tempo <strong>de</strong> estudante no colégio União que<br />

aconteceu um fato miraculoso na vida do adolescente.<br />

Um dia <strong>de</strong> calor César e Ângelo Rostirola, também<br />

candidato ao santo ministério, resolveram tomar um<br />

banho no rio Uruguai. As águas do gran<strong>de</strong> rio atraíam os<br />

estudantes. E lá se foram. Depois <strong>de</strong> boa caminhada<br />

através <strong>de</strong> um "potreiro" chegaram às barrancas do rio.<br />

Impensadamente, impru<strong>de</strong>ntemente, César atirou-se às<br />

águas. Como fêz <strong>aqui</strong>lo, César até hoje não sabe. Não<br />

sabe, sim! Pois o rio não dava altura <strong>para</strong> tomar pé! E,<br />

mais absurdo ainda: não sabia nadar! Era morte certa.<br />

Afogado iria <strong>para</strong> o fundo do rio oferecer <strong>de</strong>licioso<br />

banquete aos peixes. Não sabe como foi. Uma força<br />

estranha atirou-o contra o barranco, on<strong>de</strong> conseguiu<br />

agarrar-se e salvar-se.<br />

93


NELSON DE GODOY COSTA<br />

Fato semelhante ocorreu muitos anos <strong>de</strong>pois quando<br />

mão invisível salvou-o <strong>de</strong> morte horrível e certa. Foi no<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro. Ao tentar tomar um trem em movimento<br />

<strong>para</strong> viagem inadiável, César foi por êle arrastado ao<br />

longo da plataforma. Olhos <strong>de</strong>sesperados, mãos aflitivas<br />

tentaram embal<strong>de</strong> salvá-lo. Seria cadáver daí a minutos<br />

esmagado pela composição, se um po<strong>de</strong>r sobrenatural,<br />

invisível não o tivesse levantado e atirado à plataforma do<br />

carro.<br />

94


CAPÍTULO DÉCIMO PRIMEIRO<br />

NO COLÉGIO "GRANBERY" DE JUIZ DE FORA<br />

Se a vida lhe correu suave e risonha, em meio aos muitos<br />

trabalhos, no colégio União <strong>de</strong> Uruguaiana, não foi assim<br />

em Juiz <strong>de</strong> Fora. 0 Granbery não recebeu com sorriso<br />

acolhedor o estudante gaúcho sonhador e esperançoso.<br />

César Dacorso Filho <strong>de</strong>ixou o colégio sulino <strong>de</strong><br />

Uruguaiana <strong>para</strong> cursar a escola <strong>de</strong> Teologia em Juiz <strong>de</strong><br />

Fora. Seu i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> moço crente e vocacionado era o<br />

santo ministério, e nesse propósito procurou o famoso<br />

colégio mineiro.<br />

O Granbery estava sofrendo naquele tempo mudanças<br />

constantes nos cursos <strong>de</strong> estudos, feitas pelo governo<br />

fe<strong>de</strong>ral. O moço vocacionado sofreu em consequência,<br />

reviravoltas seguidas no período <strong>de</strong> seu preparo.<br />

95


NELSON DE GODOY COSTA<br />

Isso, entretanto, não foi o pior. O pior foram as<br />

dificulda<strong>de</strong>s financeiras. Pobre, muito pobre, nunca<br />

recebeu ali o auxílio da <strong>Igreja</strong>. Nem dos pais que não<br />

podiam. Nem <strong>de</strong> outros que podiam. De ninguém. Atirouse<br />

ao trabalho, e trabalhando pagava a comida, o quarto,<br />

a luz, o ensino.<br />

Principiou rachando lenha e varrendo salas <strong>de</strong> aulas;<br />

<strong>de</strong>pois trabalhou na rouparia, na livraria, na secretaria.<br />

Lutava tremendamente, mas <strong>para</strong> vencer a gran<strong>de</strong> luta<br />

havia uma força maior: a vocação. Aos domingos<br />

<strong>de</strong>scansava viajando <strong>para</strong> Lima Duarte, San los Dumonl<br />

e Barbacena, on<strong>de</strong> pregava com entusiasmo e alegria.<br />

É que logo que se matriculou no Granbery, em princípio<br />

<strong>de</strong> 1911 começou a visitar aquelas cida<strong>de</strong>s que se<br />

ligavam em paróquia, das quais era pastor o<br />

provisionado, Sr. Frans Stumpf, atualmente (1952)<br />

<strong>de</strong>ntista em Petrópolis, e naquele tempo resi<strong>de</strong>nte em<br />

Juiz <strong>de</strong> Fora. Superintendia o distrito o Rev. João<br />

Evangelista Tavares, residindo também em Juiz <strong>de</strong> Fora.<br />

César viajava um domingo <strong>para</strong> Santos Dumont, um<br />

domingo <strong>para</strong> Barbacena, e <strong>de</strong> três em três meses <strong>para</strong><br />

Lima Duarte. Nas três cida<strong>de</strong>s pregava. Era mínimo o<br />

número <strong>de</strong> crentes. Em Lima Duarte e nas redon<strong>de</strong>zas,<br />

Coqueiros e Laranjeiras, havia umas quatro famílias. Em<br />

Santos Dumont, umas cinco famílias; em Barbacena<br />

umas três famílias. Realizavam-se os cultos nas casas<br />

dos crentes e eram quase que somente <strong>para</strong> eles.<br />

96


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

César tomava o trem em Juiz <strong>de</strong> Fora aos sábados e<br />

regressava às duas horas da madrugada <strong>de</strong> segundafeira.<br />

Ia <strong>de</strong> trem a Santos Dumont e a Barbacena. A Lima<br />

Duarte ia a cavalo. Tomava o animal na estação <strong>de</strong><br />

Benfica e viajava sessenta quilómetros, comendo no<br />

lombo do animal o lanche que trazia, <strong>para</strong> economizar<br />

tempo na longa caminhada.<br />

Em Barbacena hospedava-se em casa do Cel. Paulino<br />

Nunes <strong>de</strong> Mello, crente <strong>de</strong> convicções positivas, antigo na<br />

fé. Em Santos Dumont era hóspe<strong>de</strong> do Sr. Alfredo<br />

Men<strong>de</strong>s Duarte, ou do Sr. António Andra<strong>de</strong>, nobres<br />

cristãos. Era seu hospe<strong>de</strong>iro em Lima D u a i l e o Sc.<br />

Francisco Ferreira da Paz Fortuna.<br />

Bealizando esses trabalhos pastorais o moço sentia-se<br />

confortado e penetrava aos poucos o mistério do<br />

pastorado metodista.<br />

Chegando a Juiz <strong>de</strong> Fora, o jovem sulino ficou alojado na<br />

"casa dos crentes" mais tar<strong>de</strong> <strong>de</strong>molida <strong>para</strong> dar lugar ao<br />

majestoso prédio "J. M. Lan<strong>de</strong>r". Passou <strong>de</strong>pois <strong>para</strong><br />

uma "república" na rua Direita, organizada pelo<br />

superinten<strong>de</strong>nte, Bev. Dr. João Evangelista Tavares, <strong>para</strong><br />

os candidatos ao ministério. Mais tar<strong>de</strong> mudaram-se<br />

todos os seminaristas <strong>para</strong> um sobradinho existente nos<br />

fundos do antigo templo, à rua da Imperatriz. Ainda uma<br />

vêz foram transferidos os moços <strong>para</strong> um "barraco" que<br />

havia atrás da atual residência do professor Adolfo<br />

Schlottfelt, perto do colégio. Ali o moço ficou até sair do<br />

Granbery.<br />

97


NELSON DE GODOY COSTA<br />

Na "república" da rua Direita foram seus companheiros<br />

<strong>de</strong> quarto Juvenal <strong>de</strong> Sousa Pereira, hoje ministro da<br />

<strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil, e José Henrique da Mata, exministro<br />

da referida <strong>Igreja</strong>. César não po<strong>de</strong> esquecer-se<br />

daquela "república". O coração não permite. É que ao<br />

lado, numa casa <strong>de</strong> modas pertencente a um francês,<br />

trabalhava uma jovem chamada Maria José Guimarães.<br />

Hoje aquela jovem assina-se: Maria José Guimarães<br />

Dacorso.<br />

O moço muito logo distinguiu-se nos estudos. As notas<br />

que <strong>de</strong>ixou nos registos do colégio honram-no<br />

sobremaneira. Nunca permitiu em classe alguma que<br />

outro estudante lhe arrancasse <strong>de</strong>finitivamente o primeiro<br />

lugar. Favorecido por inteligência invulgar e dotado <strong>de</strong><br />

força <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> miraculosa que foi sempre o fator <strong>de</strong><br />

todas as suas vitórias, estudou com gosto e alegria.<br />

Teve em J. L. Bruce, João Massena, J. W. Tarboux,<br />

Brandt Horta e outros, professores magníficos. A atuação<br />

admirável do jovem estudante chamou a atenção do<br />

missionário E. Vann, que procurou, infelizmente sem<br />

resultado, conseguir uma bolsa <strong>de</strong> estudos nos Estados<br />

Unidos. Tomado <strong>de</strong> admiração pelo jovem estudante, o<br />

professor Lambuth, filho do Bispo Lambuth, <strong>de</strong>u-lhe aulas<br />

particulares <strong>de</strong> inglês que o ajudaram muito a dominar<br />

perfeitamente aquele idioma.<br />

César sofria, entretanto, terrivelmente, a falta <strong>de</strong> dinheiro.<br />

Nunca teve dinheiro <strong>para</strong> coisa alguma.<br />

98


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

Chegou a passar fome nas férias, tendo apenas <strong>para</strong> o<br />

almoço e jantar algumas bananas e um ou outro mamão.<br />

Quando <strong>de</strong>ixou o Granbery, tinha <strong>de</strong> roupa que servisse<br />

um par <strong>de</strong> calças e um par <strong>de</strong> sapatos principiando a<br />

estragar-se, êle o moço tão bem colocado na Viação<br />

Férrea do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, com salários sempre<br />

melhorando, naturalmente.<br />

Naquela Juiz <strong>de</strong> Fora universitária, colmeia <strong>de</strong><br />

professores, mundo <strong>de</strong> escolares, o jovem admirado<br />

como estudante exemplar, glorificado pela inteligência,<br />

respeitado pela força <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> verda<strong>de</strong>iramente<br />

miraculosa, era um estranho. Custa acreditar! Ninguém o<br />

conhecia nas suas dificulda<strong>de</strong>s mais íntimas. Ninguém<br />

sabia que seus bolsos andavam sempre vazios. Ou<br />

parecia não saber...<br />

No meio <strong>de</strong>ssa luta verda<strong>de</strong>iramente tilânica uma alegria<br />

imensa enchia a alma <strong>de</strong> César. Uma alegria, verda<strong>de</strong>ira<br />

glória! a <strong>de</strong> nunca ter apelado <strong>para</strong> ninguém, <strong>de</strong> nunca ter<br />

estendido a mão <strong>para</strong> quem quer que seja; <strong>de</strong> nunca ter<br />

feito sentir a este ou àquele a miséria que o corroía.<br />

Alguns companheiros <strong>de</strong> pobreza, que curtiam quase que<br />

as mesmas aperturas terríveis, testemunhavam com<br />

palavras, só com palavras, que <strong>de</strong> outro modo não<br />

podiam, as suas simpatias <strong>para</strong> com César. Era uma<br />

forma <strong>de</strong> se confortarem mutuamente.<br />

Ao invés <strong>de</strong> ser um revoltado, um recalcado, César é um<br />

vitorioso. Alegra-se com seu passado difícil. O que é<br />

<strong>de</strong>ve-o a si unicamente, <strong>de</strong>ve-o tão somente a si e a mais<br />

ninguém humano. De uma coisa<br />

99


NELSON DE GODOY COSTA<br />

100<br />

lamenta-se, entretanto: do que <strong>de</strong>ixovi <strong>de</strong> ser por causa<br />

da penúria <strong>de</strong> seus dias <strong>de</strong> mocida<strong>de</strong>.<br />

César saiu do Granbery com a alma <strong>de</strong>spedaçada,<br />

profundamente <strong>de</strong>sgostoso com a direção. A esposa do<br />

diretor não nutria nenhuma carida<strong>de</strong> <strong>para</strong> com os<br />

seminaristas, porque estudavam <strong>de</strong> favor. Dizia <strong>para</strong><br />

quem quisesse ouvir que <strong>aqui</strong>lo ali não era casa <strong>para</strong><br />

encher a barriga <strong>de</strong> vagabundos.<br />

Era do regulamento que os alunos da terceira série em<br />

diante podiam estudar nos dormitórios. César e outros<br />

companheiros estavam atirados no "barraco", verda<strong>de</strong>iro<br />

pardieiro, sem luz alguma. César apelou <strong>para</strong> a esposa<br />

do diretor pedindo-lhe que lhes <strong>de</strong>sse um lampião <strong>de</strong><br />

querosene, ou mesmo velas, que precisavam estudar em<br />

todos os momentos que a folga do trabalho permitia.<br />

A resposta veio pronta seca e ríspida: "compre se quiser."<br />

César foi então falar com o próprio diretor. Sendo homem<br />

talvez fosse mais compreensivo; infelizmente, porém, êle<br />

já estava instruído pela mulher. E, embora pareça<br />

incrível, respon<strong>de</strong>u <strong>de</strong>ssa maneira: "Na cida<strong>de</strong> há muitas<br />

pensões. Por que não se muda <strong>para</strong> uma <strong>de</strong>las?"<br />

E no entanto êle sabia muito bem que César era um<br />

moço sem eira nem beira, que pobre até ao extremo,<br />

como po<strong>de</strong>ria comprar roupas, comprar livros e pagar<br />

pensão lá fora. Êle sabia perfeitamente que naquele<br />

instante estava atirando o moço vocacionado à rua e à<br />

fome,


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

101<br />

César compreen<strong>de</strong>u. Brioso, arranjou sua mala, preparou<br />

seus livros e foi à casa do Rev. Dr. João Evangelista<br />

Tavares, o superinten<strong>de</strong>nte do distrito, expor sua situação<br />

e pedir-lhe que <strong>de</strong>ixasse ir <strong>para</strong> Palmyra, como pastor<br />

suplente. Prontamente <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ouvi-lo e pon<strong>de</strong>rar o Dr.<br />

Tavares concordou.<br />

Era à tardinha quando César voltou ao Granbery e<br />

notificou o diretor <strong>de</strong> que se retiraria do colégio no dia<br />

seguinte. O homem, <strong>para</strong> mais esmagar o pobre moço<br />

que tinha o coração <strong>de</strong>spedaçado pelo curso <strong>de</strong>cepado<br />

ao meio, obrigou-o a assinar uma promissória <strong>de</strong> cento e<br />

cinquenta cruzeiros (naquele tempo, mil réis).<br />

Esquecia-se tão rapidamente das vezes tantas em que o<br />

moço o servira com tamanha boa vonta<strong>de</strong>; <strong>para</strong> quem<br />

trabalhara suando sangue, sem ver vintém, um centavo<br />

sequer! E agora o <strong>de</strong>spachava, punha-o na rua cortandolhe<br />

o <strong>de</strong>stino, impiedosamente.<br />

César não procurou vingança. Houve porém quem o<br />

vingasse. Poucos anos passados César viu-o partir do<br />

Brasil meio corrido, chorando, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter sido<br />

<strong>de</strong>sfeiteado em plena Conferência Anual. E vítima <strong>de</strong><br />

tuberculose terminou seus dias em Nova Iorque. A<br />

impressão que esse acontecimento cavou na alma <strong>de</strong><br />

César foi horrível. Em sua mente principiou tomar vulto<br />

uma i<strong>de</strong>ia: tornar in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte a <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>.<br />

Como? Se êle era apenas um pregador local...<br />

Coincidência ou não, o certo é que o primeiro


NELSON DE GODOY COSTA<br />

102<br />

nome <strong>de</strong> ministro brasileiro que aparece na assinatura<br />

das atas da proclamação da autonomia da <strong>Igreja</strong><br />

<strong>Metodista</strong>, e isto vários anos mais tar<strong>de</strong>, é este: César<br />

Dacorso Filho.<br />

Na tar<strong>de</strong> era que César <strong>de</strong>ixou o Granbery, <strong>de</strong>spedido <strong>de</strong><br />

modo tão triste daquela casa <strong>de</strong> ensino fundada <strong>para</strong><br />

pre<strong>para</strong>r ministros, <strong>para</strong> a qual ele tinha vindo do Rio<br />

Gran<strong>de</strong> do Sul com as mais belas esperanças, um<br />

companheiro <strong>de</strong> quarto não pô<strong>de</strong> conter as lágrimas.<br />

Chorou amarguradamente.<br />

Em Palmyra, no pastorado, César lembrava-se do<br />

Granbery com fundas sauda<strong>de</strong>s. Na alma não se<br />

aninhavam rancores <strong>de</strong> ninguém. íí verda<strong>de</strong> que sentia<br />

profunda tristeza <strong>de</strong> ler <strong>de</strong>ixado <strong>de</strong> ser estudante. Seria<br />

estudioso, sim, estudaria sempre, a vida inteira, mas<br />

estudante no Granbery não seria nunca mais.<br />

Lembrava-se daquela Juiz <strong>de</strong> Fora presa entre dois<br />

extremos, o rio e a montanha. Nas horas <strong>de</strong> maior<br />

canseira saía do colégio e ia espairecer, sentado em<br />

frente a igreja Matriz. O parque Halfeld era uma <strong>de</strong>lícia<br />

<strong>para</strong> seus olhos. Estendia em outros dias seus passeios<br />

até as Três Pontes ou ao bairro do Botanagua. Duas ou<br />

três vezes em dias <strong>de</strong> folga, chegou a ir ao Morro do<br />

Imperador, o passeio mais distante, na altura <strong>de</strong> quase<br />

mil metros, com <strong>de</strong>slumbrante vista sobre a cida<strong>de</strong> lá em<br />

baixo, espraiada, agarrando-se às encostas subindo as<br />

colinas, crescendo sem <strong>para</strong>r. .. Costa Carvalho, Passos,<br />

Santa Terezinha, Fábrica, outros bairros tantos. O bairro<br />

<strong>de</strong> São Mateus não era ainda a cida<strong>de</strong> crescendo<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> outra


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

103<br />

cida<strong>de</strong>; não tinha ainda as avenidas amplas<br />

arborizadas que tem hoje transitadas por ônibus<br />

circulares e automóveis luxuosos à porta <strong>de</strong> palacetes,<br />

mas já era uma promessa à realida<strong>de</strong> majestosa que<br />

hoje afirma. Juiz <strong>de</strong> Fora era uma beleza e os olhos<br />

sonhadores do estudante sulino <strong>de</strong>liciavam-se na contemplação<br />

da cida<strong>de</strong> mineira.<br />

Em meio às provações por vezes terríveis da vida<br />

colegial nasciam compensações <strong>para</strong> o moço<br />

vocacionado. Eram o <strong>de</strong>slumbramento que lhe causavam<br />

as pregações do Rev. Dr. João Evangelista<br />

Tavares, do Dr. Elias Escobar Júnior, do Dr. J. W.<br />

Tarboux, do Rev. William Bowman Lee.<br />

Com respeito ao Rev. Lee, há um falo interessantíssimo<br />

que marcou o primeiro encontro do<br />

gran<strong>de</strong> pregador com o jovem estudante. Realizava o<br />

extraordinário missionário uma série <strong>de</strong> conferências<br />

no antigo templo <strong>de</strong> Juiz <strong>de</strong> Fora, nos dias da chegada<br />

<strong>de</strong> César àquela cida<strong>de</strong>. Certa noite no púlpito, o Rev.<br />

Lee <strong>de</strong>u com os olhos em César. Perguntou imediatamente<br />

ao companheiro quem era aquele moço<br />

que o fitava. O Rev. Tavares informou: "um gaúcho<br />

candidato ao ministério que veio estudar no Instituto<br />

Granbery". O Rev. Lee acrescentou falando forte ao<br />

ouvido do pastor: "Aquele será o primeiro bispo da<br />

<strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil". Faltavam ainda vinte e três<br />

anos <strong>para</strong> 1934.<br />

Em Palmyra César lembrava-se da primeira<br />

Conferência Anual que se realizou em Petrópolis, e


NELSON DE GODOY COSTA<br />

104<br />

a que fêz questão <strong>de</strong> ir. Ficou conhecendo todos os<br />

ministros fora do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, pois a<br />

Conferência compreendia os que hoje constituem os<br />

concílios regionais do Norte e do Centro, abrangendo<br />

os Estados <strong>de</strong> São Paulo norte <strong>de</strong> Paraná, Minas<br />

Gerais, Goiás, Mato Grosso, Rio <strong>de</strong> Janeiro, Espírito<br />

Santo, Rahia, Distrito Fe<strong>de</strong>ral.<br />

Logo <strong>de</strong>pois foi a uma Conferência Distrital em<br />

Cataguazes, on<strong>de</strong> obteve sua carta <strong>de</strong> pregador local.<br />

Lembrava-se dos bons tempos em que pregava em<br />

Juiz <strong>de</strong> Fora, no antigo bairro da Tapera, aos soldados<br />

nas choupanas. Era então pastor o Rev. Dr. Elias<br />

Escobar Júnior, que <strong>para</strong> aquele serviço, mediante<br />

combinação, pagava-lhe apenas a passagem <strong>de</strong><br />

bon<strong>de</strong>. Às vezes era seu companheiro nas pregações<br />

aos soldados nas choupanas o bondoso José<br />

Henrique Vieira da Mata Júnior, amigo e também<br />

candidato ao ministério.<br />

Assim foi a vida <strong>de</strong> César no Granbery. Vida <strong>de</strong><br />

estudante pobre, muito pobre, tendo <strong>de</strong> trabalhar <strong>para</strong><br />

se manter, e pior do que isso, explorado no trabalho.<br />

Trabalhar era comum aos candidatos ao ministério,<br />

aos moços pobres. Lenhadora, on<strong>de</strong> a serra e o<br />

machado punham calos nas mãos dos que iam, <strong>de</strong>pois<br />

doloridas ainda, pegar a pena; rouparia, com o trabalho<br />

semanal <strong>de</strong> revisar o rol <strong>de</strong> roupa antes <strong>de</strong><br />

entregar às lavan<strong>de</strong>iras, receber a roupa lavada e<br />

entregar aos estudantes.<br />

Trabalhar era comum aos moços pobres. Copa,


105<br />

on<strong>de</strong> os futuros ministros aprendiam a arear talheres,<br />

lavar pratos e copos e arranjar mesas. Atendiam<br />

campainhas e telefones. Tomavam conta, como<br />

regentes, <strong>de</strong> alunos maiores e menores nos<br />

dormitórios e nas salas <strong>de</strong> estudo. Vigiavam os alunos<br />

insubordinados que ficavam privados do passeio aos<br />

sábados e domingos. Passavam a ferro a roupa dos<br />

professores e dos alunos ricos. Tudo isto era trabalho<br />

comum no Granbery e em qualquer colégio gran<strong>de</strong><br />

como o Granbery com tantos alunos internos. Não era<br />

comum, não <strong>de</strong>veria ser, pelo menos, a humilhação, e<br />

muito menos a perseguição.<br />

Foi assim que César passou seus dias no Granbery.<br />

Sem recreação, sem ginástica, sem coisa alguma que<br />

aliviasse seu corpo cansado e o espirito, muitas vezes<br />

nos limites perigosíssimos do abatimento.<br />

Jamais <strong>de</strong>u um chute numa bola em campos<br />

esportivos. Nunca fêz um passeio com dinheiro que<br />

fosse dinheiro isto é que representasse importância;<br />

jamais passou férias realmente alegres, passeios verda<strong>de</strong>iramente<br />

passeios. Teve umas férias boas, é verda<strong>de</strong>;<br />

realizou um bom passeio, quando no fim do<br />

primeiro ano passou duas semanas na casa dos pais<br />

<strong>de</strong> seu amigo José Henrique Vieira da Mata Júnior. A<br />

alegria das férias gostosas e o prazer do bom passeio<br />

cresceram quando recebeu <strong>de</strong> presente umas roupas<br />

que tinham pertencido ao tio do companheiro e que lhe<br />

serviram muito bem.<br />

Quando lhe sobravam alguns centavos (naquele<br />

tempo, tostões) ia às 10 horas da noite, <strong>de</strong>pois<br />

do


NELSON DE GODOY COSTA<br />

106<br />

estudo, à Leiteria Halfeld e tomava um copo <strong>de</strong> leite ou<br />

uma coalhada <strong>de</strong>liciosa. Uma noite esse prazer quase<br />

lhe custou a vida. Não sabe como se viu envolvido<br />

num tiroteiro feito pela polícia, uma arruaça tremenda.<br />

Ouviu sonidos <strong>de</strong> balas que passavam raspando,<br />

ricocheteando, mas nenhuma o apanhou. Quando<br />

conseguiu safar-se da barulheira voltou <strong>para</strong> casa<br />

mais morto do que vivo, <strong>de</strong> susto, e sem saber,<br />

contente <strong>de</strong> ter visto balas tão <strong>de</strong> perto.<br />

Distanciado <strong>de</strong> Juiz <strong>de</strong> Fora, lembrava-se da cida<strong>de</strong><br />

mineira, dos bons companheiros <strong>de</strong> sonhos <strong>para</strong> o<br />

ministério, José Henrique Vieira da Mata Júnior,<br />

Lafaiete Dias Ferraz, Osório do Couto Caire, Zacarias<br />

<strong>de</strong> Sousa, Júlio Torres, Carlindo Pimentel Coelho,<br />

Raul Fernan<strong>de</strong>s da Silva.<br />

Foi no Granbery que numa tar<strong>de</strong>, trémulo <strong>de</strong> emoção,<br />

ouviu o gran<strong>de</strong> Sílvio Romero. E foi César, que com<br />

Pedro Martins, hoje jurisconsulto, Inimá Siqueira, hoje<br />

general, Floriano Ritencourt, hoje engenheiro e outros<br />

granberienses entusiastas fundou o grémio literário<br />

que tomou o nome do extraordinário brasileiro.<br />

O Granbery daquele tempo tinha o encerramento das<br />

aulas feito com um programa lítero-religioso,<br />

diariamente. Dois alunos apresentavam composições<br />

próprias que podiam ser em prosa ou verso. César,<br />

uma vêz escalado, apresentou um tema sugestivo "O<br />

trabalho" e sobre êle discorreu tão bem com tanta<br />

eloquência que seu trabalho foi publicado. De outra<br />

vêz não tendo tempo <strong>de</strong> pre<strong>para</strong>r novo assunto, subiu


PKÍNCIPE DA IGREJA<br />

107<br />

ao palco pediu <strong>de</strong>sculpas ao auditório que esperava<br />

novo êxito literário e leu com sua voz cheia e forte uma<br />

página <strong>de</strong> Taunay o gran<strong>de</strong> escritor brasileiro. Foi-lhe<br />

um novo êxito.<br />

Estudante exemplar, foi, no fim do primeiro ano<br />

con<strong>de</strong>corado com uma bonita medalha <strong>de</strong> ouro.<br />

Recebeu-a na festa <strong>de</strong> encerramento do ano letivo,<br />

numa noite esplendorosa, no teatro da rua Espírito<br />

Santo, mais tar<strong>de</strong> <strong>de</strong>molido <strong>para</strong> novas construções.<br />

César Dacorso Filho não guarda ressentimentos do<br />

Granbery. Hoje e <strong>de</strong>pois daqueles dias sombrios os<br />

diretores são outros, plenos <strong>de</strong> um sentido profundo<br />

<strong>de</strong> vida e <strong>de</strong> humanida<strong>de</strong>.<br />

No Granbery estudaram todos seus filhos, anos mais<br />

tar<strong>de</strong> quando foi pastor em Juiz <strong>de</strong> Fora. No Granbery<br />

pronunciou discursos admiráveis <strong>de</strong> vida e cristianismo<br />

procurando ajudar os seminaristas e outros estudantes<br />

todos.<br />

Pôs sua alma no Granbery.<br />

Os sofrimentos ficaram <strong>para</strong> trás, <strong>para</strong> trás os<br />

<strong>de</strong>sapontamentos, <strong>para</strong> trás as humilhações. Maior<br />

que o tempo, maior que tudo está ali alguém: o<br />

homem, CÉSAR.<br />

0O0<br />

Nem tudo é sombra neste capítulo <strong>de</strong> provações na<br />

vocação <strong>de</strong> um moço. Há algum raio <strong>de</strong> luz alegre


NELSON DE GODOY COSTA<br />

108<br />

sobre êle. São experiências inesquecíveis. Certa vêz<br />

viajava, ainda no tempo <strong>de</strong> estudante, <strong>de</strong> São José<br />

das Torres <strong>para</strong> Registro, quando caiu com cavalo e<br />

tudo num atoleiro, afundando-se até o pescoço. Com<br />

muito custo conseguiu sair. Montou cavalo outra vêz e<br />

seguiu <strong>para</strong> a estação; não podia per<strong>de</strong>r aquele trem,<br />

o último do dia. Tocou o animal quanto pô<strong>de</strong> e quando<br />

chegou à estação <strong>de</strong> Registro o trem já ia partindo.<br />

César não per<strong>de</strong>u tempo; entregou o animal, correu,<br />

alcançou o trem, tomou-o na carreira. Mas em que<br />

estado estava sua roupa! sua roupa só, não, êle todo!<br />

da cabeça aos pés era só lama! lama do atoleiro on<strong>de</strong><br />

caiu com cavalo e tudo.<br />

E o chefe do trem, <strong>de</strong>ixá-lo-ia viajar daquele jeito?<br />

Explicou ao chefe. O funcionário consentiu. E naquele<br />

estado triste e grotesco ao mesmo tempo viajou,<br />

chegou a Juiz <strong>de</strong> Fora e foi até o Granbery.<br />

Outra vêz estava ven<strong>de</strong>ndo livros em Palmyra.<br />

Quando estudante César praticou muito o serviço <strong>de</strong><br />

colportagem. Bateu à porta da casa <strong>de</strong> um professor<br />

do grupo escolar, chamado Veríssimo. Depois que<br />

bateu lembrou-se <strong>de</strong> que o homem era católico vermelho<br />

e intolerante. Já tinha batido, porém e esperou<br />

firme. O homem era, contudo, cavalheiro, e convidou o<br />

estudante <strong>para</strong> entrar, mas foi logo dizendo ao saber o<br />

fim da visita do jovem:<br />

"Sou católico praticante, <strong>de</strong>voto da Virgem Maria. E<br />

<strong>para</strong> que o senhor saiba como eu sou católico dos<br />

bons, veja isto. Rápido arrancou do cós das calças


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

109<br />

um enorme crucifixo brilhante. César espantado,<br />

assustado com o vozerio do homem e mais com o<br />

gesto rápido c inesperado pensou que o homem ia<br />

arrancar um punhal e malá-lo ali mesmo. Foi só um<br />

susto porém, porém um susto enorme. O moço<br />

dominou-sc e dirigiu a palestra. Conversaram e<br />

tornaram-se amigos <strong>de</strong>pois.<br />

Naquele dia do suslão César ainda ven<strong>de</strong>u-lhe um<br />

Novo Testamento.<br />

Em outra ocasião, ven<strong>de</strong>ndo livros em Barbacena,<br />

chegou à casa <strong>de</strong> um homem espírita. Bateu, foi recebido<br />

com a conhecida e proverbial bonda<strong>de</strong> dos<br />

mineiros. Entrou c ofereceu Bíblias, Novos Testamentos,<br />

Evangelhos e livros <strong>de</strong> hinos. O bom mineiro<br />

escutou a conversa <strong>de</strong> César c ao fim pcrguntou-lhc<br />

por que eslava ven<strong>de</strong>ndo lais livros. César rcspondcu-<br />

Ihe prontamente: "Porque são a Palavra <strong>de</strong> Deus e<br />

<strong>para</strong> eu po<strong>de</strong>r viver".<br />

"Ah! disse o homem, que coisa boa! compro lodos, fico<br />

com todos eles. César não esperou segunda or<strong>de</strong>m,<br />

imediatamente contou todos os livros e <strong>de</strong>positou aos<br />

pés do homem toda a carga que levava. O homem<br />

prontamente pagou. César saiu, quase correndo <strong>de</strong><br />

tanta alegria inesperada. Que fez o espírita <strong>de</strong> tantos<br />

livros ninguém sabe. Nem César voltou lá.<br />

Esta última experiência, enviada juntamente com as<br />

outras pela gentileza do jovem ministro Rev. Messias<br />

Amaral dos Santos, que iniciou seu pas-


NELSON DE GODOY COSTA<br />

110<br />

torado na mesma paróquia do jovem César, ouvimo-la<br />

do próprio Bispo César Dacorso Filho, em sua<br />

residência, à rua Marechal Moura n.° 70, apartamento<br />

102, em Botafogo no Rio <strong>de</strong> Janeiro, quando em<br />

companhia do Rev. Dr. Elias Escobar Gavião, pastor<br />

em <strong>Vila</strong> <strong>Isabel</strong>, o visitamos levando <strong>para</strong> leitura e<br />

aprovação os primeiros originais <strong>de</strong> sua biografia.<br />

Contou-a sorrindo gostosamente nas recordações <strong>de</strong><br />

sua primeira paróquia o Bispo que regressava cansado<br />

<strong>de</strong> longa viagem à sua atual paróquia: todo o<br />

imenso Estado <strong>de</strong> Minas Gerais, Espírito Santo, Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro e Bahia, o Estado histórico, em cuja capital,<br />

Salvador, está imortalizada sua mais recente<br />

conquista, glória do Metodismo brasileiro, o novo<br />

campo metodista, novíssimo e vitorioso com a graça<br />

<strong>de</strong> Deus, on<strong>de</strong> fincou um marco <strong>de</strong> glórias<br />

imarcessíveis <strong>para</strong> a <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil.


SEGUNDA PARTE<br />

111


112


CAPÍTULO PRIMEIRO<br />

NO PASTORADO<br />

CÉSAR DACORSO FILHO, O PASTOR<br />

113<br />

César Dacorso Filho, antes <strong>de</strong> ser Bispo, antes <strong>de</strong><br />

tudo é pastor.<br />

Principiou trabalhar no ministério quando <strong>de</strong>ixou o<br />

Granbery, como pastor suplente, nomeado, pelo Rcv.<br />

Dr. João Evangelista Tavares, superinten<strong>de</strong>nte do<br />

distrito <strong>de</strong> Juiz <strong>de</strong> Fora, <strong>para</strong> Palmyra, no Estado <strong>de</strong><br />

Minas Gerais.<br />

Sobre seu primeiro campo temos algumas informações<br />

graças à gentileza do jovem pastor Rev.<br />

Messias Amaral dos Santos, que colhendo<br />

cuidadosamente informes com antigos membros<br />

daquela paróquia, muito nos auxiliou.<br />

Fixando residência em Palmyra, aquela cida<strong>de</strong><br />

mineira, e não mais Juiz <strong>de</strong> Fora, tornou-se o centro<br />

<strong>de</strong> suas viagens a Barbacena e a Lima Duarte. Ir a


NELSON DE GODOY COSTA<br />

114<br />

Barbacena lhe era fácil; a Estrada <strong>de</strong> Ferro Central do<br />

Brasil tinha trens diários. A Lima Duarte a viagem<br />

custava-lhe um pouquinho mais, entretanto. Nos<br />

tempos <strong>de</strong> seca sobravam-lhe poeira e calor; nos dias<br />

<strong>de</strong> chuva não lhe faltava chão escorregadio em meio à<br />

lama abundante.<br />

A viagem a cavalo longa e estafante <strong>de</strong>ixava seus<br />

ossos moídos e <strong>de</strong>sarticulados. Nem podia dormir<br />

bem. De regresso, ia chegando à casa e pedindo à<br />

esposa o banho. A companheira solícita já o esperava<br />

com um bacião <strong>de</strong> água quente com sal. O banho<br />

fazia bem ao viajante estafado que <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> uma<br />

chícara <strong>de</strong> café bem forte procurava a cama <strong>para</strong><br />

completar o repouso merecido.<br />

Becebia da paróquia, <strong>para</strong> subsídio, vinte e cinco<br />

cruzeiros, importância acrescida com <strong>de</strong>z cruzeiros<br />

que vinham do superinten<strong>de</strong>nte distrital. Era isso o que<br />

tinham <strong>para</strong> seu sustento! Conseguiram, contudo,<br />

permissão da superintendência <strong>para</strong> lecionar. César e<br />

sua esposa principiaram a dar aulas e pu<strong>de</strong>ram fazer<br />

frente à luta económica.<br />

Naqueles tempos não havia tabelas <strong>de</strong> sustento<br />

pastoral, verbas <strong>para</strong> aluguel <strong>de</strong> residência, verbas<br />

<strong>para</strong> viagens e expediente pastoral. O ministério<br />

indígena heróico e <strong>de</strong>stemido enfrentou na luta económica<br />

batalhas muito mais tremendas do que no trato<br />

com as almas, com os problemas da vida espiritual<br />

dos crentes. Hoje com sustento garantido pela tabela<br />

da Junta Geral e Begional <strong>de</strong> Missões, com residência<br />

confortável e por vezes luxuosa, com viagens


115<br />

<strong>de</strong> avião, hospedando-se em hotéis <strong>de</strong> primeira<br />

classe, quando não em residências ricas <strong>de</strong> membros<br />

<strong>de</strong> <strong>Igreja</strong> ou <strong>de</strong> muitos amigos da causa evangélica, os<br />

pastores brasileiros <strong>de</strong>viam ter <strong>para</strong> com os<br />

companheiros sacrificados dos primeiros dias um culto<br />

<strong>de</strong> verda<strong>de</strong>ira gratidão que se expressaria em<br />

consagração cada vêz mais <strong>de</strong>cidida à causa<br />

sacrossanta do Evangelho.<br />

Quem escreve este livro viu muitas vezes, menino<br />

ainda, seu pai, o Rev. João Afonso Costa, montar<br />

cavalo <strong>para</strong> viagem <strong>de</strong> dois dias seguidos, levando a<br />

comida que seria seu almoço e jantar no dia seguinte,<br />

porque na longa estrada não encontraria ninguém,<br />

senão um rancho <strong>de</strong> sapé em meio do caminho, que<br />

seria lugar <strong>de</strong> seu pouso, e on<strong>de</strong> os viajantes<br />

costumavam <strong>de</strong>positar cadáveres trazidos do sertão.<br />

Sabia que seu pai viajava mui las c muitas vèzcs em<br />

noites <strong>de</strong> tempesta<strong>de</strong> por estradas negras <strong>de</strong> trevas<br />

iluminadas apenas pelo fulgurar momentâneo do<br />

relâmpago. Completamente <strong>de</strong>sarmado em caminhos<br />

transitados <strong>de</strong> ladrões e assassinos, no bolso apenas<br />

um canivete pequenino com que <strong>de</strong>scascava frutas no<br />

sertão.<br />

Como seu pai ainda vivo, outros muitos heróis que já<br />

passaram Ludgero Luis Corrêa <strong>de</strong> Miranda e seu<br />

irmão Bernardo <strong>de</strong> Miranda; José Celestino <strong>de</strong><br />

Andra<strong>de</strong>, Bento Braga <strong>de</strong> Araújo, Guilherme da Costa,<br />

Felipe <strong>de</strong> Carvalho, António Cardoso da Fonseca,<br />

José Leonel Lopes, José da Costa Reis, Justiniano<br />

Rodrigues <strong>de</strong> Carvalho, António José <strong>de</strong> Mello, Afonso<br />

Beviláqua, Jorge Luís Becher, Alfredo Milton Duarte,<br />

Manuel <strong>de</strong>


NELSON DE GODOY COSTA<br />

116<br />

Assis Monteiro, Otoniel BuenoB Eteocle Afini, José di<br />

Giácomo, José Benedito Nuíies, Leopoldo Gabriel<br />

Ramos, chamado o pregado? do sertão; Belmiro<br />

Andra<strong>de</strong>, a constituição <strong>de</strong>licada que se extinguiu<br />

prematuramente; Guaracy Silveira, o escritor, o<br />

jornalista, o orador que levou a pregação do Evangelho<br />

dos templos <strong>para</strong> o gran<strong>de</strong> mundo lá fora, <strong>para</strong><br />

os gran<strong>de</strong>s do Brasil, numa expressão máscula <strong>de</strong> fé e<br />

coragem. Pastores brasileiros apenas não. Alongarnos-íamos<br />

se principiássemos falar dos missionários,<br />

como Cyrus Bassett Dawsey, vivo, o santo da zona<br />

Noroeste do Estado <strong>de</strong> São Paulo; <strong>de</strong> William Bowman<br />

Lee, falecido, o viajor <strong>de</strong>stemido das serras do Mar lá<br />

pelas alturas <strong>de</strong> Cunha, Jericó e Cume; <strong>de</strong> James<br />

Lillibowrne Kennedy, falecido, sacrificando-se nos<br />

sertões <strong>de</strong> Minas Gerais.<br />

Heróis do Metodismo! Mártires e santos da mais santa<br />

<strong>de</strong> todas as missões, escreveram com sangue<br />

vermelho e vivo as páginas da História <strong>Metodista</strong> do<br />

Brasil.<br />

Quando César Dacorso Filho iniciou seu pastorado<br />

eram assim as coisas. Iniciou-as, todavia com fé, com<br />

a mesma coragem, a mesma força <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> tantas<br />

vezes solicitada a manifestar-se nos momentos<br />

muitos, dificílimos <strong>de</strong> sua vida <strong>de</strong> estudante.<br />

Principiou imediatamente a pregar em Sítio, em João<br />

Aires, Ewbank da Câmara e num arraial chamado São<br />

José da Torre, a seis quilómetros da antiga estação <strong>de</strong><br />

Registro, hoje Bias Forte.<br />

No seu pastorado alugaram-se pela primeira vêz


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

117<br />

as salas <strong>de</strong> culto, em virtu<strong>de</strong> do crescimento do trabalho<br />

metodista. Foi também no seu pastorado que a<br />

<strong>Igreja</strong> <strong>de</strong> Barbacena recebeu a doação <strong>de</strong> um terreno<br />

on<strong>de</strong> hoje localiza seu templo e que a <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong><br />

Palmyra adquiriu a primeira proprieda<strong>de</strong> vendida<br />

<strong>de</strong>pois <strong>para</strong> a compra da atual.<br />

Era seu costume distribuir folhetos a mancheias nos<br />

trens. Em toda a parte visitava todos os membros da<br />

<strong>Igreja</strong>, os candidatos à profissão <strong>de</strong> fé, os amigos do<br />

Evangelho. Incansável, <strong>de</strong>u gran<strong>de</strong> impulso à paróquia<br />

em todos os sentidos. Revia nas viagens os lugares<br />

por on<strong>de</strong>, estudante, havia passado ven<strong>de</strong>ndo livros<br />

<strong>de</strong> hinos, evangelhos, Novos Testamentos, Bíblias.<br />

Crescendo em experiência, em consagração, <strong>de</strong>senvolveu<br />

extraordinariamente todas as paróquias que<br />

pastoreou. Fôssemos narrar com <strong>de</strong>talhes sua<br />

assombrosa ativida<strong>de</strong> e não concluiríamos este bosquejo<br />

biográfico, o primeiro <strong>de</strong> muitos que sem dúvida<br />

virão em biografias alentadas sobre a vida do Bispo<br />

César Dacorso Filho.<br />

Foi licenciado pregador no concilio distrital <strong>de</strong><br />

Cataguazes em 24 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1913. Em 1915, no<br />

concílio regional realizado em Piracicaba, foi admitido<br />

em experiência ao ministério ativo. Três anos <strong>de</strong>pois<br />

no concílio regional <strong>de</strong> Juiz <strong>de</strong> Fora, em 18 <strong>de</strong> agosto<br />

<strong>de</strong> 1918, foi or<strong>de</strong>nado diácono. Recebeu or<strong>de</strong>ns<br />

sacras <strong>de</strong> presbítero no concílio regional <strong>de</strong><br />

Cataguazes. em 5 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1920.<br />

Pastoreou as paróquias <strong>de</strong> Santos Dumont,


NELSON DE GODOY COSTA<br />

118<br />

Barbacena, Lima Duarte, Juiz <strong>de</strong> Fora, Cataguazes,<br />

Caiana, Faria Lemos e Belo Horizonte, no Estado <strong>de</strong><br />

Minas Gerais.<br />

A senhorita Jair <strong>de</strong> Araújo Lopes e a senhora Jael<br />

Lopes do Amaral que foram suas paroquianas em Belo<br />

Horizonte, na paróquia central, contam-nos que o Rev.<br />

César Dacorso Filho dirigia o coro com notável<br />

eficiência, e fazia parte <strong>de</strong>le, cantando com voz empolgante<br />

<strong>de</strong> baixo. Acrescentam que um <strong>de</strong> seus hinos<br />

prediletos que cantava com entusiasmo contagiante é<br />

o "Honra ao Cor<strong>de</strong>iro".<br />

No Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro o Rev. César Dacorso<br />

Filho dirigiu as paróquias <strong>de</strong> Anta, Teresópolis,<br />

Petrópolis e Fagun<strong>de</strong>s. No Rio <strong>de</strong> Janeiro, capital, as<br />

paróquias <strong>de</strong> São João e do Catête.<br />

Eleito Bispo e <strong>de</strong>signado <strong>para</strong> a Região Eclesiástica<br />

do Norte, dirigiu, aten<strong>de</strong>ndo a conveniência e<br />

necessida<strong>de</strong> da própria Região, a paróquia <strong>de</strong> Jardim<br />

Botânico. 0 Rev. José Ruy Rodrigues <strong>de</strong> Almeida, o<br />

primeiro a aten<strong>de</strong>r nosso pedido <strong>de</strong> informações, diz<br />

com alegria ter o Rev. César Dacorso Filho realizado<br />

esplêndido pastorado, auxiliando gran<strong>de</strong>mente a Junta<br />

<strong>de</strong> Ecônomos no levantamento <strong>de</strong> numerário <strong>para</strong> os<br />

cofres da paróquia, conseguindo que os orçamentos<br />

fossem cobertos e todos os apelos atendidos, além <strong>de</strong><br />

inúmeros outros passos largos no progresso da igreja.<br />

Conclui dizendo do ser gran<strong>de</strong> o número <strong>de</strong> pessoas<br />

que iam ao templo da rua Jardim Botânico pelo prazer<br />

<strong>de</strong> ouvi-lo e pela atenção e estima votadas ao Rev. m0<br />

Bispo.


CAPÍTULO SEGUNDO<br />

'NÃO É BOM QUE O HOMEM ESTEJA SÓ<br />

119<br />

Iniciando seu pastorado e nomeado <strong>para</strong> a cida<strong>de</strong><br />

mineira <strong>de</strong> Palmyra, que atualmentc se chama Santos<br />

Dumont, o moço vitorioso sobre tantas provações em<br />

sua vida, ainda em formação, e que já lhe <strong>de</strong>ra fundas<br />

feridas na alma, pensou em levar <strong>para</strong> sua companhia<br />

a jovem que havia cuidadosamente escolhido em Juiz<br />

<strong>de</strong> Fora. Era a jovem que trabalhava na casa <strong>de</strong><br />

modas pertencente a um francês à rua Direita, on<strong>de</strong><br />

César morava numa "república" no tempo <strong>de</strong><br />

estudante no Granbery. Era justamente aquela jovem.<br />

Maria José correspon<strong>de</strong>u ao amor sincero e cristão do<br />

jovem pastor. Casaram-se. O enlace realizou-se no dia<br />

5 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1913, em Cotegipe, distrito <strong>de</strong> Rancharia,<br />

município <strong>de</strong> Juiz <strong>de</strong> Fora, na


NELSON DE GODOY COSTA<br />

120<br />

residência do Sr. Heitor Menegale. Celebrou a cerimónia<br />

religiosa o Rev. Dr. João Evangelista Tavares.<br />

Paraninfaram a solenida<strong>de</strong> o Sr. Heitor Menegale e<br />

sua senhora, Maria Amália Guimarães Menegale.<br />

No mesmo dia viajaram <strong>para</strong> Santos Dumont, on<strong>de</strong><br />

iniciaram a nova fase <strong>de</strong> sua existência.<br />

A jovem esposa tinha feito seus estudos no extinto<br />

colégio Mineiro, on<strong>de</strong>, com trabalhos, pagou seu<br />

preparo. Conseguiu excelentes notas e mereceu uma<br />

bolsa <strong>de</strong> estudos nos Estados Unidos que não pô<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sfrutar pelo fato <strong>de</strong> sua mãe não permitir, pois não<br />

suportava a ausência dos filhos. Aperfeiçoou-se em<br />

<strong>de</strong>senho e pintura.<br />

Nesse lar, em meio a bênçãos divinas nasceram os<br />

seguintes filhos:<br />

Térlulo Márcio, hoje cirurgião <strong>de</strong>ntista e aviador com<br />

"brevet" internacional. Resi<strong>de</strong> em São Paulo, capital,<br />

on<strong>de</strong> exerce a profissão. Casado com a Sra.<br />

Margarida Rocha, o casal tem quatro filhos, Roberto<br />

Márcio, Paulo César, Margarida Maria e António Luís.<br />

ítalo Pórcio, cirurgião <strong>de</strong>ntista, oficial da reserva do<br />

Exército e técnico <strong>de</strong> Educação Física. Leciona no<br />

colégio Granbery <strong>de</strong> Juiz <strong>de</strong> Fora. É casado com a<br />

Sra. Iná Costa e pai <strong>de</strong> quatro filhos, Sérgio, Regina<br />

Maria, Rogério e Sônia Maria.<br />

Gíscalo Floro, engenheiro químico, funcionário da<br />

Companhia Si<strong>de</strong>rúrgica Nacional e vice-diretor do<br />

Departamento Geral <strong>de</strong> Vendas. Resi<strong>de</strong> no Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro, on<strong>de</strong> faz parte da Comissão Nacional<br />

<strong>de</strong>


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

121<br />

Enxofre. Colabora em revistas científicas. Casado com<br />

a Sra. Eloína Gomes dos Santos. Seus filhos: Paulo<br />

Márcio e Marília.<br />

Clélia Tuia, nascida e falecida em Petrópolis com um<br />

ano <strong>de</strong> vida.<br />

Próculo Galba, engenheiro civil pela Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

São Paulo, engenheiro agrónomo pela mesma escola;<br />

oficial da reserva do Exército Brasileiro. Resi<strong>de</strong> na<br />

capital paulista. Trabalha no Departamento Estadual<br />

<strong>de</strong> Estradas <strong>de</strong> Rodagem.<br />

Sula Brila, casada com o Sr. Milton Milazzo, gerente<br />

do Banco Nacional <strong>de</strong> Minas Gerais, na agência do<br />

bairro do Catête, no Rio <strong>de</strong> Janeiro. São seus filhos,<br />

Clélia Tuia, Carlos Alberto, César Augusto, Cláudio<br />

Luís, Milton, Maria Helena, Maria Heloísa, Marco<br />

Aurélio c Fausto Roberto. Têm curso <strong>de</strong> estudos<br />

ginasial c normal.<br />

Vera Lívia, casada com o Sr. Eliseu Brites, almoxarife<br />

da Escola <strong>de</strong> Medicina <strong>de</strong> Ribeirão Preto. É<br />

funcionária estadual. Completou o ginásio, o colégio e<br />

um curso técnico <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho. Resi<strong>de</strong> em Ribeirão<br />

Preto, no Estado <strong>de</strong> São Paulo. Uma filhinha, Vera<br />

Lívia adorna o lar.<br />

Ceres Ofélia é aluna da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia da<br />

Universida<strong>de</strong> do Brasil. Resi<strong>de</strong> com seus pais no Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro.<br />

0O0<br />

Esta página é sem comentário, dispensa comentários.


NELSON DE GODOY COSTA<br />

122<br />

Porque não há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comentários <strong>para</strong><br />

quem admira até o máximo a capacida<strong>de</strong> sôbrehumana<br />

do pastor metodista em pre<strong>para</strong>r tão<br />

extraordinariamente seus filhos <strong>para</strong> a vida.


CAPÍTULO TERCEIRO<br />

OS ANOS DE SEU PASTORADO<br />

123<br />

Logo que César Dacorso Filho chegou a Juiz <strong>de</strong> Fora<br />

principiou, entusiasta e ardoroso a auxiliar na obra da<br />

pregação do Evangelho, ao Rev. Dr. João Evangelista<br />

Tavares, pastor da cida<strong>de</strong>. Quando o Dr. Tavares<br />

<strong>de</strong>ixou o pastorado daquela cida<strong>de</strong> e foi substituído<br />

pelo Dr. Elias Escobar Júnior, que era também<br />

advogado, César continuou firme nos trabalhos <strong>de</strong><br />

auxiliar, ao mesmo tempo que ajudava ao pregador<br />

local Sr. Frans Stumpf em visitas regulares a Lima<br />

Duarte, Santos Dumont e Barbacena. 0 ano era <strong>de</strong><br />

1911.<br />

Durante os anos <strong>de</strong> 1912 e 1913 serviu como pastor<br />

suplente, as paróquias <strong>de</strong> Lima Duarte, Santos<br />

Dumont e Barbacena, no Estado <strong>de</strong> Minas Gerais. A


NELSON DE GODOT COSTA<br />

124<br />

elas e ao seu serviço já nos referimos citando experiências<br />

do jovem vocacionado.<br />

Foi <strong>de</strong>pois <strong>para</strong> o Rio <strong>de</strong> Janeiro e na paróquia do<br />

Catête trabalhou como ajudante <strong>de</strong> seu amigo <strong>de</strong> Juiz<br />

<strong>de</strong> Fora, o Dr. João Evangelista Tavares; <strong>de</strong>morou-se<br />

lá em 1913 e 1914. Na mesma capital do Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro, serviu a paróquia <strong>de</strong> São João, até 1916,<br />

quando durante seis meses foi superinten<strong>de</strong>nte do<br />

Instituto Central do Povo. Em seguida viajou <strong>para</strong><br />

Anta, no Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro, on<strong>de</strong> permaneceu<br />

até 1918.<br />

Em 1918 foi removido <strong>para</strong> Petrópolis, no Estado do<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro, a cida<strong>de</strong> das hortências, cida<strong>de</strong> oficial<br />

on<strong>de</strong> está o Museu Histórico, on<strong>de</strong> repousam os<br />

corpos <strong>de</strong> nossos imperadores, e cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> férias do<br />

Presi<strong>de</strong>nte da República, no palácio Rio Negro. Na<br />

cida<strong>de</strong> montanhosa César Dacorso Filho dirigiu a<br />

paróquia metodista nos anos <strong>de</strong> 1919, 20 e 21.<br />

Da cida<strong>de</strong> serrana foi transferido <strong>para</strong> Belo Horizonte,<br />

a capital do Estado <strong>de</strong> Minas Gerais, em cuja paróquia<br />

central correu a boa carreira até 1928. De Belo<br />

Horizonte foi mandado a combater o bom combate em<br />

Juiz <strong>de</strong> Fora, a cida<strong>de</strong> famosa pela sua potência<br />

industrial, chamada Manchester Mineira, a cida<strong>de</strong><br />

universitária, a cida<strong>de</strong> moral. Dela testemunha o<br />

primeiro Bispo brasileiro da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil:<br />

"É a cida<strong>de</strong> mais moral do Brasil! É a que tem o mais<br />

profundo senso <strong>de</strong> família." Esse teste-


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

125<br />

munho espontâneo que tem o valor <strong>de</strong> um documento<br />

nós ouvimos no Instituto Ministerial Geral realizado no<br />

Instituto Granbery em 1953.<br />

Estava César Dacorso Filho em Juiz <strong>de</strong> Fora quando<br />

se <strong>de</strong>u aquele fato referido pelo Rev. António Patrício<br />

Fraga, do Bispo Tarboux precisar <strong>de</strong> um homem <strong>para</strong><br />

Carangola e enviar <strong>para</strong> lá o pastor <strong>de</strong> Juiz <strong>de</strong> Fora.<br />

Cumpre esclarecer que esses anos não po<strong>de</strong>m ser<br />

contados com rigor cronológico <strong>de</strong> doze meses.<br />

Deveriam antes ser <strong>de</strong>nominados anos metodistas,<br />

porque as conferências anuais <strong>de</strong>pendiam da vinda<br />

dos bispos presi<strong>de</strong>ntes dos Estados Unidos, e sem<br />

essa precisão periódica os exercícios eclesiásticos ora<br />

eram maiores ora menores, muito menores.<br />

Uma coisa po<strong>de</strong>mos afirmar. Entre outras muitas<br />

vantagens <strong>de</strong> tantas remoções, tantas transferências,<br />

tantas mudanças, César ficou "craque" em encaixotar<br />

e <strong>de</strong>sencaixotar livros, em arrumar tralhas <strong>de</strong> cozinha,<br />

em condicionar louça, em aten<strong>de</strong>r os vizinhos que,<br />

sabendo que o pastor metodista ia mudar-se, vinham<br />

comprar muita coisinha pela meta<strong>de</strong> do preço ou por<br />

muito menos que a meta<strong>de</strong>, levando muita coisa ainda<br />

<strong>de</strong> presente como contrapeso. Porque com tanta<br />

mudança naquele tempo, sem verba <strong>para</strong> transporte,<br />

muitas e muitas vezes o pobre pastor metodista ficava<br />

sem seus móveis, a parte dos livros que conservava<br />

carinhosamente reduzido ao colchão e ao cal<strong>de</strong>irão.


NELSON DE GODOY COSTA<br />

126<br />

César Dacorso Filho não foi pastor apenas durante<br />

esses longos anos. Sempre foi pastor. É pastor <strong>de</strong><br />

pastores. Pastor <strong>de</strong> toda a <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil.


TERCEIRA PARTE<br />

127


128


CAPÍTULO PRIMEIRO<br />

129<br />

NO EPISCOPADO COMO SE PROCESSOU SUA<br />

ELEIÇÃO AO EPISCOPADO<br />

No dia 4 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1934, às 20,30 horas, no salão<br />

nobre do "Porto Alegre College" o Bispo Rev. John<br />

William Tarboux <strong>de</strong>clara aberta a primeira sessão do<br />

Segundo Concílio Geral da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil.<br />

César Dacorso Filho faz parte da <strong>de</strong>legação do<br />

Concílio Regional do Norte. É pastor da paróquia <strong>de</strong><br />

Carangola e superinten<strong>de</strong>nte do distrito do mesmo<br />

nome. Está presente. Respon<strong>de</strong> a chamada <strong>de</strong> seu<br />

nome.<br />

Os trabalhos conciliares processam-se regularmente<br />

até que chegam à décima nona sessão, no dia 13<br />

<strong>de</strong>sse mês <strong>de</strong> janeiro. As ativida<strong>de</strong>s do dia iniciam-se


NELSON DE GODOY COSTA<br />

130<br />

com culto <strong>de</strong>vocional dirigido pelo próprio Bispo, Dr.<br />

Tarboux, às 8,30 horas. Vai processar-se a eleição do<br />

segundo bispo da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil, conforme<br />

a resolução da comissão <strong>de</strong> Episcopado e Itinerância,<br />

que, reunida no dia 8, sob a presidência do Rev.<br />

Epaminondas Moura, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> louvar a Deus pelos<br />

serviços admiráveis realizados pelo Bispo Rev. Dr. J.<br />

"YV. Tarboux, assim se expressa: Fazemos as<br />

seguintes recomendações:<br />

a) que sejam eleitos dois Bispos;<br />

b) que se faça a eleição no dia 13 do corrente, na<br />

sessão da manhã, antes <strong>de</strong> se tratar <strong>de</strong> qualquer outro<br />

assunto;<br />

c) que antes haja um concerto <strong>de</strong> orações <strong>para</strong> esse<br />

fim.<br />

No dia 13 <strong>de</strong> janeiro realizam-se várias reuniões <strong>de</strong><br />

oração <strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo. Há intensa vibração espiritual. As<br />

<strong>de</strong>legações estão completas.<br />

Chega á hora regulamentar da sessão. Inicia-se<br />

conforme foi <strong>de</strong>terminado a eleição. Vem o primeiro<br />

escrutínio. O Bispo Rev. J. W. Tarboux é reeleito por<br />

unanimida<strong>de</strong>.<br />

Proce<strong>de</strong>-se à eleição do segundo bispo. Será<br />

brasileiro? será missionário? Se nacional ou estrangeiro<br />

não importa. Será o escolhido por Deus.<br />

São necessários três escrutínios <strong>para</strong> maioria<br />

absoluta.<br />

No primeiro escrutínio, César Dacorso Filho, 14 votos.


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

131<br />

No segundo escrutínio, César Dacorso Filho,<br />

16 votos.<br />

No terceiro escrutínio, César Dacorso Filho,<br />

20 votos.<br />

É a maioria absoluta em 36 votos. César Dacorso<br />

Filho está eleito. É o segundo Bispo da <strong>Igreja</strong><br />

<strong>Metodista</strong> do Brasil e o primeiro Bispo brasileiro.<br />

Há expressivas vibrantes manifestações <strong>de</strong><br />

fraternida<strong>de</strong> cristã. A alegria transborda dos corações<br />

metodistas. A <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil tem agora o<br />

seu primeiro Bispo brasileiro!<br />

O menino <strong>de</strong> Santa Maria acaba <strong>de</strong> ser elevado<br />

pelo seu próprio valor às maiores culminâncias<br />

da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil. Não po<strong>de</strong> conter as<br />

lágrimas. Chora feliz e agra<strong>de</strong>cido, humil<strong>de</strong>mente, a<br />

Deus.<br />

Cantam todos a doxologia <strong>de</strong> n.° 177 e ainda<br />

o hino <strong>de</strong> número 306.<br />

O Bispo Rev. Dr. J. W. Tarboux convida o<br />

Bispo Rev. César Dacorso Filho a tomar assento na<br />

plataforma. Agra<strong>de</strong>ce ao Concílio por tê-lo conservado<br />

no episcopado e entrega a presidência ao seu novo<br />

colega, o primeiro Bispo brasileiro da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong><br />

do Brasil.<br />

Os trabalhos conciliares continuam.


CAPÍTULO SEGUNDO<br />

SUA CONSAGRAÇÃO<br />

César Dacorso Filho é consagrado Bispo<br />

132<br />

Às vinte horas do mesmo dia 13 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1934<br />

realiza-se a solenida<strong>de</strong> da consagração <strong>de</strong> César<br />

Dacorso Filho ao episcopado.<br />

O Bispo Rev. Dr. J. W. Tarboux dirige o culto <strong>de</strong><br />

adoração, e, a seguir, convida <strong>para</strong> o auxiliarem na<br />

cerimónia os Revs. J. L. Kennedy, e H. C. Tucker, que<br />

juntamente com o Bispo Rev. J. W. Tarboux são os<br />

mais antigos missionários no Brasil.<br />

Convida os Revs. José António <strong>de</strong> Figueiredo,<br />

Oswaldo Luiz da Silva e J. W. Daniel,<br />

superinten<strong>de</strong>ntes respectivamente dos distritos do Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro, São Paulo e Porto Alegre, representando<br />

as três Regiões Eclesiásticas em que está constituído<br />

o trabalho metodista no Brasil.<br />

Convida o Rev. Dr. Derly <strong>de</strong> Azevedo Chaves, díretor<br />

da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Teologia, anexa ao colégio Granbery<br />

<strong>de</strong> Juiz <strong>de</strong> Fora, e o Rev. Dr. Sante Uberto Barbieri,<br />

reitor do "Porto Alegre College".


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

133<br />

Convida o Rev. João Inácio Gerrilhanes, pastor<br />

da paróquia central <strong>de</strong> Porto Alegre.<br />

Inicia-se a solenida<strong>de</strong>. O ritual realiza-se segundo<br />

os Cânones da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil. Fazse<br />

a leitura da Bíblia Sagrada na primeira carta <strong>de</strong><br />

Paulo, o apóstolo a Timóteo, capítulo 3:1-7, que assim<br />

principia: "Fiel é esta palavra. Se alguém aspira ao<br />

episcopado <strong>de</strong>seja uma obra boa..."<br />

César Dacorso Filho ouve a leitura da Palavra<br />

<strong>de</strong> Deus, ouve as orações que se dirigem aos céus.<br />

Respon<strong>de</strong> as perguntas do cerimonial que lhe faz o<br />

Bispo presi<strong>de</strong>nte.<br />

Depois pôe-se <strong>de</strong> joelhos e sente que o Bispo<br />

presi<strong>de</strong>nte e os presbíteros colocam as mãos sobre<br />

sua cabeça.<br />

É o momento impressionante da imposição das<br />

mãos.<br />

O Bispo presi<strong>de</strong>nte diz:<br />

"0 Senhor <strong>de</strong>rrame sobre ti o Espírito Santo<br />

<strong>para</strong> o cargo e obra <strong>de</strong> Bispo da <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong> Deus, que<br />

te é agora entregue pela imposição <strong>de</strong> nossas mãos<br />

em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém.<br />

E lembra-te <strong>de</strong> <strong>de</strong>spertar a graça <strong>de</strong> Deus que existe<br />

em ti, porque Deus não nos <strong>de</strong>u o espírito <strong>de</strong> temor,<br />

mas <strong>de</strong> fortaleza, <strong>de</strong> amor e <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>ração." Ainda<br />

ajoelhado César Dacorso Filho recebe<br />

das mãos do Bispo presi<strong>de</strong>nte a Bíblia sagrada<br />

e ouve<br />

as seguintes palavras:


NELSON DE GODOY COSTA<br />

134<br />

"Aplica-te à leitura, à exortação e à instrução. Medita<br />

nas coisas contidas neste livro. Sê diligente nelas <strong>para</strong><br />

que o resultado seja manifesto a todos os homens.<br />

Vela sobre ti e sobre o teu ensino, porque fazendo isto<br />

te salvarás tanto a ti mesmo como aos que te ouvem.<br />

Sê <strong>para</strong> o rebanho <strong>de</strong> Cristo um pastor e não um lobo,<br />

apascenta-o e não o <strong>de</strong>struas. Am<strong>para</strong> os fracos, cura<br />

os doentes, consola os tristes, acolhe os <strong>de</strong>sprezados,<br />

busca os perdidos. Sê misericordioso ao ponto <strong>de</strong><br />

nunca seres remisso. Ministra a disciplina contanto<br />

que não te esqueças da misericórdia, a fim <strong>de</strong> que<br />

quando vier o gran<strong>de</strong> Pastor, recebas a coroa eterna<br />

da glória, por Jesus Cristo nosso Senhor. Amém."<br />

Ouvem-se orações. César Dacorso Filho pôe-se <strong>de</strong><br />

pé. O Bispo presi<strong>de</strong>nte encerrando a solenida<strong>de</strong>,<br />

pronuncia a Bênção Apostólica:<br />

"A paz <strong>de</strong> Deus, que exce<strong>de</strong> toda a compreensão,<br />

guar<strong>de</strong> os vossos corações e mentes no conhecimento<br />

e no amor <strong>de</strong> Deus e <strong>de</strong> seu filho Jesus Cristo, nosso<br />

Senhor; e a bênção <strong>de</strong> Deus onipotcnte, Pai, Filho e<br />

Espírito Santo seja convosco e convosco permaneça<br />

<strong>para</strong> sempre. Amém." Está concluída a solenida<strong>de</strong>.<br />

César Dacorso Filho acaba <strong>de</strong> ser consagrado, em<br />

cerimónia impressionante, Bispo da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong><br />

do Brasil.


CAPÍTULO TERCEIRO<br />

NA PRESIDÊNCIA DO CONCÍLIO GERAL<br />

135<br />

No dia seguinte o primeiro Bispo brasileiro assume a<br />

presidência do segundo Concílio Geral da <strong>Igreja</strong><br />

<strong>Metodista</strong> do Brasil, que se encontra na 19. a sessão.<br />

O Bispo Rev. Dr. J. W. Tarboux solicita e consegue<br />

permissão <strong>para</strong> se ausentar do concílio, por motivo <strong>de</strong><br />

enfermida<strong>de</strong>. Despe<strong>de</strong>-se <strong>de</strong> toda a <strong>de</strong>legação que o<br />

acompanha até ao cais do porto. Dirige-se diretamente<br />

<strong>para</strong> os Estados Unidos e em sua viagem é<br />

acompanhado até o Rio <strong>de</strong> Janeiro pelo Rev. José<br />

António <strong>de</strong> Figueiredo.<br />

Acompanham-no também as sauda<strong>de</strong>s, a gratidão e<br />

as orações dos ministros e leigos no concílio.<br />

O novo Bispo, Rev. César Dacorso Filho presi<strong>de</strong> as<br />

sessões até o encerramento do Concílio Geral no dia<br />

19 <strong>de</strong> janeiro.


NELSON DE GODOY COSTA<br />

136<br />

Pronuncia ao final palavras <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cimento pela sua<br />

eleição ao episcopado e hipoteca toda a sua lealda<strong>de</strong><br />

à <strong>Igreja</strong> que por meio <strong>de</strong> seus <strong>de</strong>legados conferiu-lhe<br />

tão elevado mandato.<br />

Levantam-se todos os conciliares. O Bispo presi<strong>de</strong>nte<br />

ora a Deus. E todos <strong>de</strong> mãos dadas cantam o hino <strong>de</strong><br />

número 381 ao fim do qual o Rev. Jorge Luiz Becker<br />

invoca a Bênção Apostólica.<br />

Está encerrado o segundo Concilio Geral da <strong>Igreja</strong><br />

<strong>Metodista</strong> do Brasil que elegeu o primeiro Bispo<br />

brasileiro.


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

137


O Primeiro Bispo Brasileiro<br />

NELSON DE GODOY COSTA<br />

DOIS DE SETEMBRO DE 1930 VALOR<br />

DOCUMENTÁRIO<br />

138<br />

Comissão Constituinte da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil:<br />

Revs. Oswaldo L. da Silva; A. M. Ungaretti; César<br />

Dacorso Filho; W. B. Lee; Guaracy Silveira; W. H.<br />

Moore: Dr. Elias Escobar, Dr. Oswaldo Lin<strong>de</strong>nberg,<br />

Rev. Epaminondas Moura; D. Eunice Andrew, D. Otilia<br />

Chaves', D. Francisca F, Carvalho, Rev. J. I.<br />

Cerilhanes, Rev. Efraim Wagner.


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

UMA DECLARAÇÃO HISTÓRICA<br />

139<br />

Nesse acontecimento <strong>de</strong> suprema significação <strong>para</strong> a<br />

História da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil César Dacorso<br />

Filho tem atuação <strong>de</strong> realce.<br />

Acompanha ao púlpito o Rev. mo Bispo E. Mouzon que<br />

leu a proclamação e constituição da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong><br />

do Brasil.<br />

É o secretário da memorável reunião. É o primeiro<br />

ministro brasileiro a assinar a proclamação.<br />

REGISTRO HISTÓRICO<br />

DECLARAÇÃO<br />

Consi<strong>de</strong>rando que a Comissão Conjunta <strong>de</strong>u todos os<br />

passos necessários <strong>para</strong> a convocação do Concilio<br />

Geral da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil e convocou o<br />

mesmo <strong>para</strong> a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, em 2 <strong>de</strong><br />

setembro do ano <strong>de</strong> Nosso Senhor Jesus Cristo <strong>de</strong><br />

1930.<br />

Nós, os membros da Comissão Conjunta, ren<strong>de</strong>ndo<br />

graças a Deus por sua direção e pelo espírito <strong>de</strong><br />

cooperação que reinou em nossas <strong>de</strong>liberações, <strong>de</strong>claramos<br />

aberto o primeiro Concílio Geral da <strong>Igreja</strong><br />

<strong>Metodista</strong> do Brasil, e <strong>de</strong>claramos que os membros e<br />

ministros da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> Episcopal do Sul, no<br />

Brasil, passam por este ato a ser membros e ministros<br />

da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil: que a <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>


140<br />

Episcopal do Sul <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> existir no Brasil, e que a<br />

<strong>Igreja</strong> Autónoma por esta proclamação fica constituída.<br />

Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, 2 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1930.<br />

(aa.) Edwin D. Mouzon - Ester Case - W. Erskine<br />

Williams - J. L. Clark - F. S. Love - W. H. Moore -<br />

César Da-corso Filho - Epaminondas Moura<br />

-Otília Chaves - Osvaldo Lin-<br />

<strong>de</strong>nberg - W. B. Lee - Guarací Silveira -<br />

Oswaldo Luiz da Silva<br />

Elias Escobar Júnior - Francisca Ferreira <strong>de</strong><br />

Carvalho - (1. I). Parker<br />

A. M. Ungaretti - J. I. Cerilhanes<br />

-Eunice F. Andrew - Efraim Wagner.<br />

----- oOo-----<br />

SESSÃO SOLENE DA PROCLAMAÇÃO E<br />

PROMULGAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO DA IGREJA<br />

METODISTA DO BRASIL<br />

Às 19 horas e meia, do dia 2 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1930, no<br />

salão <strong>de</strong> cultos da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> Central <strong>de</strong> São<br />

Paulo, a Comissão Constituinte reuniu-se sob a<br />

presidência do Rev. m0 Bispo Edwin D. Mouzon.<br />

Acompanhado dos Revs. César Dacorso Filho e Epaminondas<br />

Moura o Bispo Mouzon subiu ao púlpito e<br />

leu a proclamação e constituição da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong><br />

do Brasil, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> chamado o rol e <strong>de</strong>clarada aberta<br />

a l. a sessão do Concílio Geral do Brasil.


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

141<br />

O Bispo chamou ao púlpito o Rev. Guarací Silveira,<br />

indicado por voto dos membros nacionais da Comissão<br />

Constituinte <strong>para</strong> receber <strong>de</strong> suas mãos a Constituição<br />

e presidir à l. a sessão do Concílio Geral até a eleição do<br />

presi<strong>de</strong>nte pro-tempore.<br />

O Bispo fez um tocante discurso <strong>de</strong> <strong>de</strong>spedida. Guarací<br />

Silveira respon<strong>de</strong>u manifestando a gratidão da <strong>Igreja</strong><br />

<strong>Metodista</strong> do Brasil e pedindo que êle levasse a<br />

manifestação <strong>de</strong>sses sentimentos aos irmãos dos<br />

Estados Unidos. W. H. Moore serviu <strong>de</strong> intérprete.<br />

Cantando a <strong>Igreja</strong> o hino <strong>de</strong> <strong>de</strong>spedida 518, os<br />

membros da Comissão Americana se retiraram, acompanhados<br />

pelos membros do Concílio Geral.<br />

Ao regresarem, a <strong>Igreja</strong> cantou o hino 139. Guarací<br />

Silveira, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> orar, chamou à or<strong>de</strong>m o Concílio<br />

Geral e convidou o Bispo James Cannon Júnior <strong>para</strong><br />

ocupar o lugar <strong>de</strong> honra no púlpito.<br />

O Rev. César Dacorso Filho ocupou a secretaria.<br />

Os Revs. Derlí <strong>de</strong> A. Chaves e Oswaldo Luiz da Silva<br />

ocu<strong>para</strong>m lugares no púlpito.<br />

Ouviram-se as saudações do Rev. Otoniel Mota, Rev.<br />

António Ernesto e Sr. Jo<strong>aqui</strong>m Ribeiro, aos quais o<br />

presi<strong>de</strong>nte agra<strong>de</strong>ceu.<br />

Iniciados os trabalhos, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> cântico <strong>de</strong> hinos,<br />

Epaminondas Moura propôs que a sessão do dia<br />

seguinte tivesse início às 14 horas. Assim foi resolvido.<br />

Por proposta foi encerrada a sessão. Depois do Pai<br />

Nosso e doxologia o Bispo Cannon Júnior invocou a<br />

bênção apostólica.<br />

César Dacorso Filho sec. pro-tempore


CAPÍTULO QUARTO<br />

primeiro quatriênio INICIANDO A LONGA CAMINHADA<br />

PANORAMAS DE UM EPISCOPADO<br />

142<br />

César Dacorso Filho recebe uma carga tremenda sobre<br />

seus ombros moços e fortes, o episcopado da <strong>Igreja</strong><br />

<strong>Metodista</strong> do Brasil.<br />

Não receia, porém. A <strong>Igreja</strong> o escolheu e, principalmente, o<br />

Espírito do Senhor está sobre êle. Agora vai lançar mãos<br />

do arado sem olhar <strong>para</strong> trás. Olha <strong>para</strong> a frente. Atira o<br />

olhar <strong>para</strong> as distâncias infindas on<strong>de</strong> está o futuro da<br />

<strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>, futuro que tem sua eleição <strong>para</strong> o<br />

episcopado um novo marco significativo.<br />

Sua paróquia agora não é mais Garangola, nem seu<br />

distrito o distrito <strong>de</strong> Carangola no Estado <strong>de</strong> Minas Gerais.<br />

Sua paróquia e seu distrito multiplicaram-se muitas vezes<br />

abrangendo uma <strong>de</strong>zena <strong>de</strong> Estados brasileiros.


143<br />

É preciso viajar. Viajará, esgotar-se-á nos trens, nos<br />

automóveis, nos aviões, em qualquer meio <strong>de</strong> transporte,<br />

em qualquer modo <strong>de</strong> locomoção, mas sempre chegará à<br />

hora certa no lugar marcado.<br />

Seu espírito observador <strong>de</strong>screve os lugares por on<strong>de</strong><br />

anda à procura das ovelhas da casa metodista.<br />

No Rio Gran<strong>de</strong> do Sul em companhia do pastor Rev. A. P.<br />

Pinheiro e Sr. Dr. Aristeu Pereira e do Sr. José Worm faz<br />

uma excursão pela campanha. Visita São Lucas, Rincão<br />

Seco, Fundo dos Valos; passa por Fortaleza e Portão. Seu<br />

espírito observa tudo. Nota que São Lucas é um povoado a<br />

cinco léguas <strong>de</strong> Cruz Alta, on<strong>de</strong> a <strong>Igreja</strong> possui duas<br />

doações, templo e presbitério <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira em estado<br />

precário, lugar que já foi se<strong>de</strong> <strong>de</strong> paróquia c on<strong>de</strong> a <strong>Igreja</strong><br />

precisa florescer novamente. Ao contrário, em Rincão Seco<br />

o trabalho floresce. Fundo dos Valos é uma nota <strong>de</strong><br />

tristeza <strong>para</strong> o metodismo gaúcho. De tudo o que houve<br />

restam ruínas e o Bispo explica: segundo o testemunho <strong>de</strong><br />

velhos crentes a igreja passou sete anos em ver o pastor.<br />

Lamenta este fato que induz a todos os responsáveis pela<br />

obra metodista no Brasil à convicção da necessida<strong>de</strong> cada<br />

vêz maior <strong>de</strong> se apurarem responsabilida<strong>de</strong>s nos concílios<br />

regionais pelos revezes que a igreja sofrer. Recolhe <strong>para</strong> o<br />

arquivo da paróquia <strong>de</strong> Cruz Alta livros antigos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

valor histórico.<br />

Em Porto Alegre esta é apenas uma faceta <strong>de</strong> sua intensa<br />

ativida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> março a 5 <strong>de</strong> abril: dirige uma<br />

assembleia religiosa no Colégio Americano, dirige uma<br />

assembleia religiosa na escola paroquial


144<br />

da <strong>Igreja</strong> Institucional, prega em dois cultos públicos na<br />

<strong>Igreja</strong> Institucional, conce<strong>de</strong> entrevistas, visita, presi<strong>de</strong> aos<br />

trabalhos do concílio distrital, presi<strong>de</strong> aos trabalhos do<br />

instituto distrital, dirige a parte religiosa <strong>de</strong>sses trabalhos,<br />

auxilia na direção <strong>de</strong> dois cultos públicos na <strong>Igreja</strong><br />

Institucional, faz uma preleção sobre o Dia da Decisão, no<br />

instituto distrital, presi<strong>de</strong> a sessão solene em homenagem<br />

ao Dr. Atila Casses no Instituto Porto Alegre, presi<strong>de</strong> a<br />

eleição da nova diretoria da socieda<strong>de</strong> metodista <strong>de</strong><br />

jovens, presi<strong>de</strong> a celebração da Santa Ceia, dirige uma<br />

reunião <strong>de</strong> confissão e consagração <strong>para</strong> ministros, visita<br />

Canoas ponto <strong>de</strong> pregação da paróquia Institucional, faz<br />

apelos <strong>para</strong> missões.<br />

É assim ininterruptamente. Viaja sem <strong>para</strong>r. On<strong>de</strong> há uma<br />

paróquia metodista existe uma voz chamando-o. Ouve<br />

vozes muitas vozes, vozes vindas <strong>de</strong> todos os recantos da<br />

pátria. A <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil quer crescer, precisa<br />

consolidar sua organização e o Bispo aten<strong>de</strong> a todas as<br />

vozes que o chamam, que reclamam sua presença.<br />

Pe<strong>de</strong> contudo, que não lhe estendam convites <strong>para</strong><br />

reuniões e trabalhos em que é dispensável. Seu tempo<br />

está se tornando <strong>de</strong>masiadamente escasso <strong>para</strong> as<br />

exigências do episcopado, às quais <strong>de</strong> maneira alguma<br />

<strong>de</strong>seja e po<strong>de</strong> evitar.<br />

Agora está em Ouro Preto antiga capital do Estado <strong>de</strong><br />

Minas Gerais, a cida<strong>de</strong> lendária. A atenção do Bispo na<br />

cida<strong>de</strong> do Sonho e da Melancolia, como a <strong>de</strong>nominou<br />

Gilberto <strong>de</strong> Alencar, volta-se <strong>para</strong> as possibilida<strong>de</strong>s da<br />

<strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>. O escritor mineiro


145<br />

viu-a do alto da escadaria <strong>de</strong> pedra do adro <strong>de</strong> São<br />

Francisco, melancolicamente, a cida<strong>de</strong> que "não quer<br />

morrer, que não morrerá, se cada rua, cada edifício, cada<br />

recanto, cada pedra das calçadas tem a sua história que<br />

transmite <strong>de</strong> geração a geração, ro-mantizada sempre por<br />

misteriosas e poéticas versões. O pastor e Bispo<br />

contempla-a nas esperanças da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> que se<br />

firma na fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>zena <strong>de</strong> crentes. Os<br />

pouquinhos se unem. Há em 1935 3 batistas, 3<br />

presbiterianos e 13 metodistas. Trabalha-se, entretanto,<br />

intensivamente <strong>para</strong> a construção do templo metodista;<br />

contam com o produto da venda <strong>de</strong> antiga proprieda<strong>de</strong>,<br />

com o esforço da E.D.<br />

Hoje naquela cida<strong>de</strong> há uma paróquia viva. Não mais um<br />

missionário batisla vai <strong>de</strong> mês em mês pregar. Mora um<br />

pastor metodista.<br />

Congratula-se com a paróquia <strong>de</strong> Santa Maria e seu pastor<br />

pelo estabelecimento do sustento próprio. Sempre<br />

interessado no melhoramento da vida económica dos<br />

pastores insiste em que as paróquias com o<br />

<strong>de</strong>spertamento financeiro procurem elevar o subsídio dos<br />

pastores pagos por elas, dando imediato conhecimento<br />

disso ao secretário regional <strong>de</strong> missões.<br />

Sempre atento aos problemas económicos da <strong>Igreja</strong><br />

<strong>Metodista</strong> do Brasil, pe<strong>de</strong> atenção dos concílios, juntas,<br />

fe<strong>de</strong>rações <strong>para</strong> o seguinte: "viaja o bispo, viajam os<br />

secretários gerais e regionais, viajam os superinten<strong>de</strong>ntes<br />

distritais, viajam os pastores, viajam os presi<strong>de</strong>ntes e<br />

secretários das fe<strong>de</strong>rações, viajam outros oficiais e<br />

funcionários gerais, regionais e distritais; viajam <strong>para</strong><br />

visitas, <strong>para</strong> institutos, <strong>para</strong>


NELSON DE GODOY COSTA<br />

146<br />

Congressos, <strong>para</strong> concílios, <strong>para</strong> reuniões <strong>de</strong> juntas e<br />

conselhos superiores. Tenho a impressão <strong>de</strong> que<br />

estamos viajando <strong>de</strong>mais sem que os gastos que<br />

assim fazemos tenham compensação conveniente."<br />

Sente que estão se fazendo apelos financeiros<br />

acumulados a todas as organizações das paróquias e<br />

das regiões. Acha que assim é errado e que se <strong>de</strong>vem<br />

consi<strong>de</strong>rar os apelos <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong> real e <strong>de</strong> caráter<br />

intransferível e que nas próprias paróquias se <strong>de</strong>ve<br />

estudar a distribuição <strong>para</strong> que umas organizações<br />

atendam a uns apelos e outras a outros porque só<br />

assim evitaremos o <strong>de</strong>sequilíbrio na administração financeira<br />

da <strong>Igreja</strong>.<br />

César Dacorso Filho revelou-se <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o primeiro ano<br />

<strong>de</strong> seu pastorado notável organizador. Prosseguiu<br />

durante seu episcopado ativamente. A <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong><br />

do Brasil <strong>de</strong>ve ao seu primeiro Bispo brasileiro a<br />

invejável organização que é admirada e seguida por<br />

outras <strong>de</strong>nominações.<br />

Apaixonado pela <strong>de</strong>fesa dos princípios e atos da <strong>Igreja</strong><br />

<strong>Metodista</strong>, congratula-se pela imprensa com os Revs.<br />

João Augusto do Amaral, Osvaldo Machado, António<br />

<strong>de</strong> Campos Gonçalves, José António <strong>de</strong> Figueiredo,<br />

José Rodrigues Ferreira, Elias Escobar Gavião e<br />

Adriel <strong>de</strong> Sousa Mota pela <strong>de</strong>fesa que <strong>de</strong>sses mesmos<br />

princípios têm feito em suas paróquias.<br />

Jornalista <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os dias <strong>de</strong> sua meninice, interessa-se<br />

pelo equipamento físico <strong>para</strong> a redação do "Expositor<br />

Cristão", que é o órgão oficial da


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

147<br />

<strong>Igreja</strong>, elogiando pelas colunas do mesmo<br />

EXPOSITOR a campanha iniciada e pedindo <strong>para</strong> ela<br />

a cooperação <strong>de</strong> todos os metodistas.<br />

Exorta ao bom <strong>de</strong>sempenho do trabalho <strong>de</strong> um pastor<br />

visando facilitar o do substituto. Cita os cânones em<br />

que o artigo 145 <strong>de</strong>termina que um pastor <strong>de</strong>ixe ao<br />

seu sucessor um relatório minucioso das condições<br />

financeiras, espirituais e morais da paróquia, bem<br />

como o índice dos membros da <strong>Igreja</strong>, como tudo o<br />

mais que lhe facilite <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início os trabalhos<br />

pastorais.<br />

Insiste. "É bem <strong>de</strong> ver que tal relatório não é um<br />

pedaço <strong>de</strong> papel com uma ou outra informação geral.<br />

Deve incluir as estatísticas do ano anterior, o índice<br />

dos membros da <strong>Igreja</strong>, sistema <strong>de</strong> finanças, meios <strong>de</strong><br />

condução, socieda<strong>de</strong>s, escolas dominicais, juntas e<br />

outras organizações com as respectivas di-retorias,<br />

dívidas, programa <strong>de</strong> viagens, horário, livros, arquivo,<br />

proprieda<strong>de</strong>s, jornais e revistas da <strong>Igreja</strong>, pessoas<br />

autorizadas que em caso <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m<br />

suplementar informações, bem como um mapa da<br />

paróquia com indicação das igrejas, congregações,<br />

pontos <strong>de</strong> pregação e todos os lugares on<strong>de</strong> moram<br />

membros da <strong>Igreja</strong>."<br />

É meticuloso, é exigente e rigoroso. A <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong><br />

do Brasil pesa sobre seus ombros e seu <strong>de</strong>stino em<br />

muito está nas suas mãos, e por isto e porque ela se<br />

encontra em fase <strong>de</strong> organização, êle tem <strong>de</strong> acudir a<br />

tudo até as coisas que parecem mínimas.


CAPÍTULO QUINTO<br />

A IGREJA METODISTA DO BRASIL SENTE<br />

QUE TEM UM CONDUTOR<br />

PASTOR DE TODO O BRASIL<br />

148<br />

A <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil sente que possui um<br />

condutor. Seis anos passaram <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a memorável<br />

reunião no templo da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> da Liberda<strong>de</strong>,<br />

em São Paulo, quando sentiu sobre seus ombros<br />

moços a pesada responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se dirigir, porque<br />

sentiu em suas azas o frémito da liberda<strong>de</strong>. Autónoma,<br />

iniciou resolutamente a caminhada <strong>para</strong> a conquista<br />

do Brasil <strong>para</strong> Cristo. E sentia que César Dacorso<br />

Filho podia ir à frente porque seus olhos luminosos<br />

viam distâncias e seu pulso não tremia ante as indagações<br />

do futuro.<br />

Por meio do Sr. Victor Goldschmidt, pregador local da<br />

<strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> Episcopal, resi<strong>de</strong>nte em Montevi<strong>de</strong>u<br />

enten<strong>de</strong>-se com o Rev. Earl M. Smith, presbítero<br />

presi<strong>de</strong>nte do distrito do Uruguai, da-


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

149<br />

quela <strong>Igreja</strong>, no sentido <strong>de</strong> estabelecer trabalho nas<br />

cida<strong>de</strong>s fronteiriças do Uruguai, fronteiras às cida<strong>de</strong>s<br />

brasileiras. Chegam as conversações a bom entendimento<br />

e o Bispo informa aos pastores metodistas<br />

brasileiros que po<strong>de</strong>m abrir trabalho nas cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

Riveira Artigas e Santa Rosa. E os pastores <strong>de</strong><br />

Livramento, Quaraí e Uruguaiana entram prontamente<br />

em ação.<br />

Acompanha com interesse o <strong>de</strong>senvolvimento da<br />

Fe<strong>de</strong>ração das Socieda<strong>de</strong>s <strong>Metodista</strong>s <strong>de</strong> Senhoras;<br />

pronuncia o sermão inaugural <strong>de</strong> um congresso em<br />

Juiz <strong>de</strong> Fora; assiste a quase todas suas sessões e<br />

nota que entra num período <strong>de</strong> prosperida<strong>de</strong>.<br />

Um <strong>de</strong> seus muitos planos <strong>de</strong> viagem <strong>para</strong> um mês é<br />

este (julho <strong>de</strong> 1936) <strong>de</strong> 7 a 13, Rio <strong>de</strong> Janeiro, concílio<br />

distrital; <strong>de</strong> 14 a 19, Cataguazes, concílio distrital; <strong>de</strong><br />

20 a 25 as paróquias <strong>de</strong> Leopoldina, Porto Novo, Dr.<br />

Astolfo e São Sebastião da Estrela, e São Pedro,<br />

visitação; <strong>de</strong> 29 a 1 <strong>de</strong> agosto, Petrópolis.<br />

São assim geralmente suas viagens. A <strong>Igreja</strong><br />

<strong>Metodista</strong> está crescendo e os campos exigem a presença<br />

do Bispo dinâmico que vai ao Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />

Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Paraná,<br />

Santa Catarina, Rio Gran<strong>de</strong> do Sul.<br />

Sua ativida<strong>de</strong> não se restringe ao Brasil. Ligado pelos<br />

laços <strong>de</strong> amor fraternal à <strong>Igreja</strong> Mãe, vai em 17 <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>zembro aos Estados Unidos, pelo vapor Western-<br />

World, <strong>para</strong> tomar parte no Concílio Geral Missionário<br />

que se reunirá em Nova Orleans em 5 <strong>de</strong>


NELSON DE GODOY COSTA<br />

150<br />

janeiro <strong>de</strong> 1937, e, na Cruzada dos Bispos que se<br />

prolongará por todo o território ocupado pela <strong>Igreja</strong><br />

<strong>Metodista</strong> Episcopal do Sul. A Cruzada terá a duração<br />

<strong>de</strong> um mês e o Bispo espera estar <strong>de</strong> regresso ao<br />

Brasil em princípio da segunda quinzena <strong>de</strong> março.<br />

Escritor e jornalista, tece <strong>para</strong> o jornal da <strong>Igreja</strong><br />

consi<strong>de</strong>rações interessantes sobre sua viagem e<br />

<strong>de</strong>ssa maneira a comunida<strong>de</strong> metodista brasileira<br />

po<strong>de</strong> seguir-lhe interessada os passos em paises<br />

estranhos.<br />

E porque são <strong>de</strong>veras interessantíssimas oferecemos<br />

aos nossos amáveis leitores páginas como esta<br />

fotografando um aspecto <strong>de</strong> sua atuação em Norte<br />

América:<br />

O dia 23 <strong>de</strong> janeiro, um sábado, foi <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso <strong>para</strong><br />

o nosso team. Passamo-lo em Shreveport, La. Dia frio<br />

e chuvoso. Aproveitei a folga <strong>para</strong> escrever um pouco.<br />

Ao meio dia o Bispo Dobbs nos ofereceu o almoço no<br />

Fountain Room do hotel em que estávamos. Tive por<br />

isso <strong>de</strong> <strong>de</strong>clinar <strong>de</strong> alta distinção — um convite do juiz<br />

T. F. Bell e esposa <strong>para</strong> eu almoçar com eles.<br />

No dia 24 <strong>de</strong> janeiro, o team se <strong>de</strong>sfez. Era domingo.<br />

Cada um <strong>de</strong> seus componentes tinha que ir <strong>para</strong> uma<br />

ou duas igrejas pregar. O Bispo Kern foi <strong>para</strong> Min<strong>de</strong>n e<br />

Homer, o Bispo Ainsworth foi <strong>para</strong> Ruston, o Dr. Rawls<br />

foi <strong>para</strong> Monroe. Eu fui <strong>para</strong> Mansfield (3.800<br />

habitantes) on<strong>de</strong> há somente uma igreja metodista,<br />

com 564 membros. Lá preguei ao meio-dia. Foi<br />

buscar-me, em seu automóvel, o pastor,


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

151<br />

Rcv. J. J. Rashmusscn. Levou-me <strong>para</strong> o hotel, em<br />

Shreveport, cm seu automóvel, o casal S. D. Moak. De<br />

Shreveport a Mansfield a distância é <strong>de</strong> 40 milhas.<br />

Mansfield é lugar histórico: nos seus arredores se feriu<br />

uma das mais sangrentas batalhas da Guerra Civil. À<br />

noitinha visitei o Bispo Dobbs. Depois falei por 15<br />

minutos na Primeira <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>, on<strong>de</strong> se<br />

realizava um programa musical. Jantei com o Rev.<br />

Dana Dawson.<br />

No dia 25 <strong>de</strong> janeiro, os Bispos Kern, Ainsworth, o Dr.<br />

Rawls e eu nos encontramos no hotel, por volta <strong>de</strong><br />

meio-dia. Almoçamos juntos e tomamos, <strong>de</strong>pois, um<br />

ônibus <strong>para</strong> Tyler, Tex. Vencemos as 110 milhas <strong>de</strong><br />

viagem em 3,30 horas, com diversas <strong>para</strong>das pelas<br />

cida<strong>de</strong>zinhas intermediárias. Passamos pelo mais rico<br />

campo <strong>de</strong> petróleo, em exploração, que há no mundo.<br />

Esten<strong>de</strong>-se por três municípios. Informou-nos um<br />

cidadão que ali existem cerca <strong>de</strong> 21.800 poços. As<br />

torres metálicas formam florestas. Alguns poços precisam<br />

bombas, outros vertem naturalmente. Estes precisam<br />

po<strong>de</strong>rosas torneiras ou coisa que as valha.<br />

Passamos também por uma escola <strong>para</strong> gagos.<br />

Chegamos a Tyler às 5 hs. pm. Lá encontramos o<br />

Bispo Boaz e a Sra. Cram. Ficamos todos no Hotel<br />

Blackstone. Estava recomposto o team.<br />

Tyler tem cerca <strong>de</strong> 30.000 habitantes. É se<strong>de</strong> <strong>de</strong> um<br />

distrito eclesiástico <strong>de</strong> 23 paróquias, das quais 4 estão<br />

na cida<strong>de</strong> e subúrbios. Serve ali como superinten<strong>de</strong>nte<br />

distrital o Rev. J. Z. Tover. Na principal igreja, Marvin,<br />

cujo pastor é o Rev. F. M. Richardson e


NELSON DE GODOY COSTA<br />

152<br />

cujos membros andam em 2.200, se realizaram<br />

nossas reuniões. É diretor conferenciai, da Cruzada, o<br />

Rev. J. W. Mills.<br />

Todo o team jantou, na noite <strong>de</strong> 25, na residência do<br />

Rev. F. M. Ricbardson.<br />

Todas as reuniões em Tyler foram no dia 26 na <strong>Igreja</strong><br />

Marvin. Os Bispos foram convidados a tomar parte no<br />

almoço do Club dos Leões. O jantar dos leigos foi na<br />

própria <strong>Igreja</strong> Marvin. Às 9,30 hs. pm., partimos <strong>de</strong><br />

automóvel <strong>para</strong> Palestine, on<strong>de</strong> tomamos trem à meianoite.<br />

No dia 27 amanhecemos em Houston, Tex., cida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

quase 400.000 habitantes e porto marítimo. Ali<br />

<strong>para</strong>mos no Hotel Rice até às 9,30 hs. pm. quando<br />

partimos <strong>para</strong> Harlingen, Tex.<br />

O Club Houston nos ofereceu em sua se<strong>de</strong> o<br />

breakfast. Os jornalistas nos importunaram muito,<br />

querendo nossos retratos e entrevistas. Encontrei miss<br />

Lydia Ferguson, bondosa como sempre.<br />

Houston c se<strong>de</strong> <strong>de</strong> um distrito <strong>de</strong> 25 paróquias, das<br />

quais 23 estão <strong>de</strong>ntro da cida<strong>de</strong>. Serve como<br />

superinten<strong>de</strong>nte distrital o Rev. H. M. Whaling Jr. Na<br />

primeira <strong>Igreja</strong> se realizaram nossas reuniões. Tem ela<br />

4.300 membros. Seu templo, custou "apenasmente",<br />

1.500.000 <strong>de</strong> dólares. É seu pastor o Rev. Paul W.<br />

Quilliam. Perto está a <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong> São Paulo, também<br />

metodista, com 2.400 membros e um templo que<br />

custou "somente" 1.000.000 <strong>de</strong> dólares. Desta igreja é<br />

pastor o Rev. S. S. Mackenney, que serve <strong>de</strong> diretor<br />

conferenciai.


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

153<br />

Em Houston nos <strong>de</strong>ixou o Bispo Ainsworth, chamado<br />

com urgência <strong>para</strong> Macon, Ga., mas nos veio ao<br />

encontro o Bispo J. M. Moore. As reuniões foram na<br />

Primeira <strong>Igreja</strong>.<br />

A Harlinglon chegamos na madrugada <strong>de</strong> 28 <strong>de</strong><br />

janeiro. Hospedamos-nos no Hotel Madison. Dia<br />

escuro e chuvoso.<br />

Harlington tem, quando muito, 20.000 habitantes. Vive<br />

<strong>de</strong> cultivar laranjas e grape fruits. É se<strong>de</strong> <strong>de</strong> um distrito<br />

<strong>de</strong> 18 paróquias, cuja superintendência está nas<br />

hábeis mãos do Rev. Charles Nixom. Na cida<strong>de</strong> há<br />

somente uma paróquia metodista, a Primeira <strong>Igreja</strong>,<br />

on<strong>de</strong> se realizou a l. a reunião, <strong>de</strong> manhã, se reuniu o<br />

grupo dos homens e se fêz o culto <strong>de</strong> consagração, <strong>de</strong><br />

tar<strong>de</strong>. É seu pastor o Rev. Bolton Boom. Tem 886<br />

membros.<br />

A reunião das Senhoras, <strong>de</strong> tar<strong>de</strong>, foi na Primeira<br />

<strong>Igreja</strong> Batista. O jantar dos leigos foi noutro hotel, perto<br />

do em que estávamos hospedados. A reunião da noite<br />

foi no Auditório e teve o concurso <strong>de</strong> um coro <strong>de</strong> mais<br />

<strong>de</strong> 100 figuras. Ali serve como diretor conferenciai o<br />

Rev. Grady Tymmons, um cará ter <strong>de</strong> anjo.<br />

À tar<strong>de</strong>, não obstante o mau tempo, o Rev. Nixom me<br />

levou e ao Bispo J. M. Moore, em seu automóvel, a ver<br />

as gran<strong>de</strong>s plantações <strong>de</strong> grape fruits dos arredores<br />

da cida<strong>de</strong>.<br />

Partimos às 10,20 hs. pm. <strong>para</strong> San Anthony, Tex.,<br />

on<strong>de</strong> chegamos no dia seguinte, 29, precisamente às<br />

7,00 hs. am.


154<br />

San Anthony tem cerca <strong>de</strong> 275.000 habitantes. O<br />

povo, ali, pela influência mexicana e espanhola, já<br />

apresenta, em geral, outras características, especialmente<br />

cabelos pretos. Também nos costumes: fronteira<br />

ao Hotel St. Anthoy, on<strong>de</strong> nos hospedamos, está<br />

uma praça como as que temos no Brasil, coisa rara<br />

nas cida<strong>de</strong>s americanas, nas que já visitei, pelo<br />

menos.<br />

Em San Anthony há 13 paróquias metodistas e nos<br />

seus arredores há mais 6. Essas 19 paróquias formam<br />

um distrito, agora sob a superintendência do Rev. F.<br />

M. Freeman. Na principal igreja — <strong>Igreja</strong> do Parque<br />

Travis — tivemos nossas reuniões. Tem 3.254<br />

membros. É seu pastor o Rev. J. Grady Timmons, já<br />

mencionado. O Bispo Kern foi seu pastor.<br />

Ali me encontrei com miss Leia Putnam, miss Zula<br />

Terry, Sra. e Snha. Joiner (viúva e filha do finado Rev.<br />

Eduardo Joiner), casal R. A. Taylor, que trabalhou em<br />

Passo Fundo. Com eles passei momentos <strong>de</strong><br />

recordações do Brasil. Miss Putnam ficará mais um<br />

ano <strong>aqui</strong>, em tratamento <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Na casa da Sra.<br />

Joiner só se fala português. A Snha. Joiner, Virgínia,<br />

que era ainda muito pequena, quando voltou <strong>para</strong> os<br />

Estados Unidos, fala tão bem o português como<br />

qualquer brasileiro. Também ali me procurou uma<br />

venerável matrona, brasileira <strong>de</strong> nascimento, filha <strong>de</strong><br />

um engenheiro americano que esteve no Brasil <strong>de</strong><br />

1865 a 1870, amigo <strong>de</strong> D. Pedro II e que se casou<br />

com uma patrícia nossa do Estado do Paraná.<br />

Veio em pequena <strong>para</strong> os Estados Unidos. Disse-me<br />

que sua mãe muitas vezes lhe contava be


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

155<br />

lezas <strong>de</strong> nossa terra e que um dos maiores <strong>de</strong>sejos<br />

que nunca pô<strong>de</strong> satisfazer era conhecer o berço natal.<br />

0 jantar dos leigos foi na A.CM.<br />

Em San Anthony nosso "team" <strong>de</strong> novo se <strong>de</strong>sfez <strong>para</strong><br />

se recompor em El Paso, Tex., no dia 2 <strong>de</strong> fevereiro.<br />

Na cida<strong>de</strong> ficamos eu e o Dr. Rawls, no dia 30 <strong>de</strong><br />

janeiro.<br />

Já posso anunciar o resto <strong>de</strong> meu itinerário nos<br />

Estados Unidos: El Paso, Phoenix, Los Angeles, São<br />

Francisco, São Luiz, Spríngfield e Nashville. A<br />

Nashville <strong>de</strong>vo chegar no dia 13 <strong>de</strong> fevereiro. Depois<br />

disso se eu pu<strong>de</strong>r irei a Atlanta e Chattanooga. Pelo<br />

vapor Delnorte, <strong>de</strong> Nova Orleans, partirei <strong>para</strong> o Brasil<br />

em 20 <strong>de</strong> fevereiro. Espero estar em casa em 10 <strong>de</strong><br />

março.<br />

Referi-me em artigo anterior a um grupo <strong>de</strong> leigos que<br />

em Nova Orleans procurou o Colégio dos Bispos.<br />

Desejo agora expor seu espírito otimista. Um <strong>de</strong>les<br />

falou assim: Soubemos que os senhores preten<strong>de</strong>m<br />

levantar 400.000 dólares <strong>para</strong> cancelamento da dívida<br />

do Board of Missions. É muito pouco. Os senhores<br />

<strong>de</strong>vem levantar dois milhões <strong>para</strong> cancelamento <strong>de</strong>ssa<br />

dívida e incrementação do trabalho missionário.<br />

A <strong>Igreja</strong> está pronta a dar essa importância. Quando<br />

ouvi isso lembrei-me da chora<strong>de</strong>ira do "non possumus"<br />

que muitas vezes ouço aí nas nossas igrejas e da<br />

<strong>de</strong>claração inflamada <strong>de</strong> Gaspar da Silveira Martins:<br />

"Querer é po<strong>de</strong>r". De fato precisamos muito


NELSON DE GODOY COSTA<br />

156<br />

no Brasil nos revestir <strong>de</strong> otimismo e da vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

trabalhar.<br />

Aqui encontrei dois estados que cunharam moedas <strong>de</strong><br />

valor insignificante, Oklahoma e Louisiana. São elas<br />

<strong>de</strong> alumínio e <strong>de</strong> cobre ou <strong>de</strong> coisa que o valha e<br />

circulam nas mesmas condições das moedas da<br />

República.<br />

Isso me fêz lembrar a dinheirama grossa <strong>de</strong> Minas,<br />

São Paulo e Rio Gran<strong>de</strong> nos dias da revolução. Cá e<br />

lá más fadas há. Com pouca diferença os caminhos<br />

que os homens acham nos momentos <strong>de</strong> apuro são os<br />

mesmos em toda a parte.<br />

Alegro-me quando ouço os Bispos Boaz e Ainsworth<br />

pregando sobre questões sociais. Eles entram direta e<br />

energicamente no assunto. Não temem contradita, não<br />

po<strong>de</strong>m mais tolerar um cristianismo indiferente aos<br />

sofrimentos humanos e injustiças sociais, inferior ao<br />

judaísmo dos profetas do Velho Testamento. Alegrome<br />

quando ouço os discursos dos Bispos Kern, J. M.<br />

Moore e Dobbs: "mais precisamos <strong>de</strong> Cristo mesmo do<br />

que todos os requisitos <strong>de</strong> cultura e civilização", "...o<br />

progresso da humanida<strong>de</strong> sob o po<strong>de</strong>r do mo<strong>de</strong>rno<br />

paganismo oci<strong>de</strong>ntal, sob o domínio <strong>de</strong> um<br />

materialismo egoísta é o maior perigo da<br />

humanida<strong>de</strong>".<br />

Des<strong>de</strong> que cheguei a Nova Iorque em 30 <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>zembro, até hoje só vi sol dois dias. O céu está<br />

sempre chumbado. Um chuvisco impertinente cai<br />

implacável noite e dia. E notícias dolorosas das


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

157<br />

enchentes e inundações em todo o vale do Mississipi,<br />

<strong>de</strong> centenas <strong>de</strong> afogados, <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> famílias sem<br />

abrigo, <strong>de</strong> mobilização do Exército como elemento <strong>de</strong><br />

socorro me chegam ao coração a todo o instante.


CAPÍTULO SEXTO<br />

PROSSEGUEM AS ATIVIDADES NOS ESTADOS<br />

UNIDOS<br />

REGRESSO<br />

158<br />

No mesmo dia em que cheguei a Nashville, Tenn., 13<br />

<strong>de</strong> fevereiro, conferenciei com o Dr. Wasson, que<br />

havia regressado do Oriente no dia 28 <strong>de</strong> janeiro, e<br />

com o Dr. Rawls.<br />

O dia 14 era domingo. Às 11 hs., assisti ao culto na<br />

histórica <strong>Igreja</strong> McKendree. Depois ajan-tarei com o<br />

Dr. Rawls. Na companhia <strong>de</strong> miss Perkinson, miss<br />

Terry e do casal Wasson tomei chá, ao anoitecer, na<br />

casa do Dr. Moreland. À noite, preguei na <strong>Igreja</strong><br />

McKendree, on<strong>de</strong> encontrei miss Denison. Após o<br />

culto houve uma recepção.<br />

No dia 15, ainda em Nashville, meu programa,<br />

fielmente executado, foi o seguinte: novas<br />

conferências com os Drs. Wasson e Rawls;<br />

comparecimento à


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

159<br />

reunião dos pastores do distrito, aos quais sau<strong>de</strong>i;<br />

visita à Casa Publicadora e aos redatores do Christian<br />

Advocate; visita à viúva Ransom; outra conferência<br />

com o Dr. Rawls; culto no Colégio Scarritt, em que fui<br />

apresentado e interpretado, na pregação, pelo Dr.<br />

Moreland. Os Drs. Quillian, Morelock e Cream, com<br />

quem eu precisava conferenciar não estavam na<br />

cida<strong>de</strong>. Almocei no Hotel Tulane, na companhia dos<br />

Drs. Moreland e Williams, este da Junta <strong>de</strong> Educação;<br />

jantei no Colégio Scarritt, por <strong>de</strong>ferência <strong>de</strong> miss<br />

Denison. A família Hubbard já havia <strong>de</strong>ixado Nashville,<br />

em excursão <strong>de</strong> 2.000 milhas, <strong>para</strong> visitar parentes.<br />

Até às 10,4,5 hs. <strong>de</strong> 16 ainda estive em Nashville.<br />

Cedo fui ao Board of Missions, on<strong>de</strong> tive mais<br />

conferências com o Dr. Rawlings, Dr. Wasson, miss<br />

McKinnon, Sra. Turpin — um jornalista me fotografou e<br />

pediu entrevista, encontrei o Dr. Yang, etc. Àquela<br />

hora tomei trem <strong>para</strong> Chattanooga, Tenn. Os Drs.<br />

Wasson, Moreland, Yang, miss Denison e miss<br />

Virgínia, uma encantadora criatura, candidata a trabalho<br />

missionário no Brasil, tiveram a gentileza <strong>de</strong> ir à<br />

estação ao meu botafora.<br />

Às 14,25 hs. eu chegava a Chattanooga. Ali me<br />

esperavam, na estação, o Dr. Hounshell, o fundador<br />

da União dos Estudantes <strong>para</strong> o Trabalho <strong>de</strong> Cristo, no<br />

Brasil, o Dr. Perry, cunhado do Dr. Tucker, e o Dr.<br />

Thomas, membro da Board of Missions e advogado <strong>de</strong><br />

renome. Hospe<strong>de</strong>i-me na casa do Dr. Hounshell,


NELSON DE GODOY COSTA<br />

160<br />

uma vivenda admirável nas cristas do Lookout Mount.<br />

Visitei, num hotel, a comissão que estudava o lugar da<br />

Conferência Geral e escolheu Birmingham, Ala. Falei<br />

pelo telefone com o Dr. Carr, em Atlanta. Percorri toda<br />

a Rock City e os lugares dos monumentos da Guerra<br />

Civil. Depois do jantar, numa tertúlia familiar e cristã, a<br />

que compareceram o Dr. Thomas, o casal Ambrey<br />

Folts e o casal W. G. Brown, palestramos até às 21<br />

horas. Meu propósito, em ir a Chattanooga, era<br />

precisamente visitar os casais Hounshell e Perry. A<br />

Sra. Perry estava em Nashville.<br />

Às 9 hs. do dia 17, batiam à porta da casa do Dr.<br />

Hounshell. Era o Dr. Carr que, <strong>de</strong> automóvel e na<br />

companhia <strong>de</strong> Wilbur Smith e Rev. W. Glenn Borchers,<br />

me havia ido buscar <strong>para</strong> Atlanta, Ga. Viagem<br />

aprazível. Ao longo da estrada, em quantida<strong>de</strong><br />

inconcebível, toalhas, colchas, etc, finamente<br />

bordadas, à venda — trabalho e inteligência das<br />

senhoras e moças do campo. Em certo ponto, uma<br />

cida<strong>de</strong>zinha, <strong>para</strong>mos, compramos frutas e o Rev. W.<br />

Glenn Borchers, em frente a uma <strong>de</strong> suas igrejas, tirou<br />

fotografias do grupo. Às 12,40 hs. entravamos na casa<br />

do Dr. Carr, construída nos terrenos da Universida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> Emory. Ali me hospe<strong>de</strong>i.<br />

Às 18 horas eu e o Dr. Carr fomos jantar no refeitório<br />

ou coisa que o valha, da <strong>Igreja</strong> Memorial <strong>de</strong> Glenn (ou<br />

da capela da Universida<strong>de</strong>, não estou bem certo).<br />

Havia umas 250 pessoas presentes. Era um concilio<br />

paroquial. Após o mastigo, o Dr. C. C. Jarrell,


161<br />

superinten<strong>de</strong>nte distrital, fez as perguntas<br />

disciplinares. Por fim me foi dada a palavra,<br />

apresentado pelo Dr. J. E. Ellis, que pouco antes eu<br />

encontrara. Falei por uns 20 minutos. Na companhia<br />

dos Drs. Carr e Ellis, visitei ainda nessa noite, o Dr.<br />

Lavens Thomas III, professor <strong>de</strong> Educação Religiosa<br />

da Universida<strong>de</strong>.<br />

A <strong>Igreja</strong> Memorial <strong>de</strong> Glenn é uma paróquia fundada<br />

há coisa <strong>de</strong> 15 anos, <strong>para</strong> servir à Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Emory e vizinhanças. Tem um bonito templo. Conta<br />

agora com 820 membros dos quais, quase 100<br />

recebidos no último exercício eclesiástico. Levantou,<br />

no último exercício eclesiástico, cerca <strong>de</strong> 14.000<br />

dólares ou sejam 238 contos (Pano <strong>de</strong> amostra, dado<br />

por uma igreja <strong>de</strong> muitos estudantes, muita gente<br />

pobre, professores mal pagos, etc. <strong>para</strong> certas igrejas<br />

nossas. É que ali os ecônomos trabalham <strong>de</strong> fato e o<br />

pastor toma parte nas ativida<strong>de</strong>s financeiras. É seu<br />

pastor o Rev. Nat Long.<br />

No dia 18 preguei na capela da Universida<strong>de</strong> aos<br />

professores e estudantes <strong>de</strong> teologia. Entre os<br />

presentes se encontravam também o Dr. Ellis, miss<br />

Glenn, a senhorinha Dulce Ferraz, <strong>de</strong> tradicional<br />

família paulista, Sra. Stewart (filha do pranteado Dr.<br />

Eduardo Carlos Pereira), além <strong>de</strong> pastores e outros<br />

estudantes e professores que não <strong>de</strong> teologia. Às 13<br />

horas, em sala reservada da cafeteria da<br />

Universida<strong>de</strong>, tive almoço com um grupo <strong>de</strong> amigos e<br />

irmãos missionários, professores, alunos, pastores,<br />

etc. Depois do respasto, falei aos presentes por meia<br />

hora. Em seguida, me pus à disposição <strong>de</strong> todos, <strong>para</strong><br />

res-


NELSON DE GODOY COSTA<br />

162<br />

pon<strong>de</strong>r perguntas. Respondi umas <strong>de</strong>z. Apresentoume<br />

na capela o Dr. Carr. E também no cafeteira.<br />

Jantei com o Rev. W. Glenn Borchers. O Dr. EUis tirou<br />

diversas fotografias <strong>de</strong> grupos em que eu me<br />

encontrava. Com êle e Dr. Carr visilei o Museu<br />

Wesleyano.<br />

Com os irmãos cujos nomes <strong>de</strong>clinei passei horas<br />

sobremaneira gratas em Atlanta. O Rev. W. G.<br />

Borchers e Wilbur Smith estão ultimando seus estudos<br />

<strong>para</strong> seguirem <strong>para</strong> o Brasil. 0 Dr. Ellis regressará em<br />

junho. 0 Dr. Carr, talvez antes.<br />

Muito me lembrei da visita que fiz a Atlanta, em 192G,<br />

quando ainda frequentavam a Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Emory<br />

os Revs. Derly A. Chaves e David Me<strong>de</strong>iros.<br />

Às 18 horas o Dr. Ellis partiu <strong>para</strong> Macon, Ga. Eu<br />

<strong>de</strong>veria partir às mesmas horas <strong>para</strong> Nova Orleans,<br />

mas, por causa do atraso do trem, só consegui fazê-lo<br />

às 19,30 hs.<br />

A Nova Orleans cheguei às 9 hs. do dia 19. Reunia-se<br />

na cida<strong>de</strong> uma convenção nacional <strong>de</strong> professores.<br />

Todos os hotéis estavam tomados. Depois <strong>de</strong> andar<br />

<strong>de</strong> Pilatos <strong>para</strong> Hero<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> Hero<strong>de</strong>s <strong>para</strong> Pilatos por<br />

mais <strong>de</strong> 1 hora, à procura <strong>de</strong> lugar on<strong>de</strong> eu pu<strong>de</strong>sse<br />

passar uma noite, encontrei um quartinho num hotel<br />

<strong>de</strong> 3. a classe... Quem lucrou foi o chauffeur que me<br />

levou 2 dólares... No mesmo dia, na Delta Line, no<br />

Vice-Consulado Brasileiro e na Alfan<strong>de</strong>ga pus minha<br />

papelada em or<strong>de</strong>m <strong>para</strong> tomar no dia seguinte o<br />

vapor Delnorte, <strong>para</strong> o Brasil, <strong>de</strong> regresso.


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

163<br />

Com o vice-consul brasileiro, um moço paulista <strong>de</strong> rara<br />

distinção, que me recebeu em seu gabinete, palestrei<br />

por espaço <strong>de</strong> meia hora.<br />

Na Delta Line encontrei o Rev. Hubbard que com a<br />

família tomaria também o Delnorte <strong>para</strong> o Brasil, <strong>de</strong><br />

regresso.<br />

Nosso vapor <strong>de</strong>veria partir às 13 hs., do dia 20, mas<br />

só partiu às 16 horas.<br />

Assim terminei minha excursão pelos Estados Unidos.<br />

Nesse maravilhoso país <strong>de</strong> estudo e trabalho, visitei<br />

28 cida<strong>de</strong>s, fiz 20.512 quilómetros <strong>de</strong> estrada <strong>de</strong> ferro,<br />

766 quilómetros <strong>de</strong> automóvel e 367 quilómetros <strong>de</strong><br />

ônibus, em viagens; falei duas vezes no Concílio Geral<br />

Missionário; 29 vezes, cm plenários; 19, em reuniões<br />

<strong>de</strong> senhoras, da Cruzada dos Bispos, preguei em 6<br />

cultos dominicais; discursei em 3 clubes; dirigi a<br />

palavra a uma classe <strong>de</strong> escola dominical; fiz<br />

saudações em uns 15 jantares <strong>de</strong> leigos; fiz uma palestra<br />

num colégio, duas numa universida<strong>de</strong>, uma num<br />

Concílio paroquial; passei 22 noites em hotéis, 27<br />

noites em trens e 3 em lares amigos.<br />

REGRESSO O Delnorte <strong>de</strong>via <strong>de</strong>ixar Nova<br />

Orleans às 13 hs. do dia 20 <strong>de</strong> fevereiro. Devido ao<br />

serviço <strong>de</strong> carga, <strong>de</strong>ixou às 16 hs. Creio que não ha<br />

em toda parte do mundo horário que menos se cumpre<br />

do que os marcados <strong>para</strong> a partida dos navios. Pouco<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> meio-dia eu já me achava no cais da rua<br />

Man<strong>de</strong>ville. Ali encontrei a família Hubbard que seria<br />

minha companheira <strong>de</strong> viagem.


NELSON DE GODOY COSTA<br />

164<br />

Nova Orleans está a coisa <strong>de</strong> 100 milhas da<br />

embocadura do Mississipi. Mal se po<strong>de</strong>rá dizer porto<br />

marítimo. Recebe entretanto navios <strong>de</strong> todos os calados<br />

e <strong>de</strong> todos os mares. É o segundo, em movimento,<br />

<strong>de</strong> toda a República.<br />

Logo que o Delnorte partiu verifiquei que o nível das<br />

águas do Mississipi estava muito acima do nível da<br />

cida<strong>de</strong>. É que elas eram contidas <strong>de</strong> um e outro lado<br />

do rio por sólidas barragens. Mais uma obra<br />

monumental da engenharia americana. A elevação<br />

das águas se <strong>de</strong>via às muitas chuvas e enchentes dos<br />

últimos dias.<br />

Por volta das 19 hs. o navio parou e se pôs a apitar.<br />

Não podia vencer a cerração. Já por três vezes,<br />

andando estivera quebrando galhos <strong>de</strong> árvores<br />

submersas e em perigo <strong>de</strong> embicar nas barrancas. Lá<br />

pela madrugada do dia seguinte é que se mexeu <strong>de</strong><br />

novo. Por volta das 10 horas do dia 21 entrava no<br />

golfo mexicano.<br />

Nada a dizer <strong>de</strong> todo o percurso da viagem, <strong>de</strong> então<br />

até ao Rio, senão que foi esplêndido.<br />

Na tardinha do dia 22 avistávamos os passageiros, o<br />

farol <strong>de</strong> Tortugas, último ponto da terra americana. No<br />

dia 23 tínhamos ao sul, à pequena distância, as costas<br />

<strong>de</strong> Cuba. No dia 24, ao norte, não muito longe, a ilha<br />

<strong>de</strong> Anágua. No dia 25 já avistávamos, à direita, São<br />

Domingos. No dia 26, à direita, Porto Rico, e, à<br />

esquerda, o grupo <strong>de</strong> São Thomaz. No dia 27<br />

costeamos pelo norte <strong>de</strong>


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

165<br />

Gua<strong>de</strong>lupe. Depois disso só avistamos terra no dia 7<br />

<strong>de</strong> março — eram as costas pernambucanas — e no<br />

dia 10 era o Cabo Frio, e no dia 11, era o Rio.<br />

O Delnorle era um navio <strong>de</strong> carga, construído<br />

apressadamente, mas seguramente, durante a Gran<strong>de</strong><br />

Guerra, <strong>para</strong> transportar alimentação e munições <strong>para</strong><br />

a Europa. Foi. mais tar<strong>de</strong>, adaptado <strong>para</strong> transportar<br />

limitado número <strong>de</strong> passageiros, 30, se não me<br />

engano. Uma <strong>de</strong>ssas conveniências que somente as<br />

companhias <strong>de</strong> navegação sabem explicar.<br />

Nessa viagem éramos 32 passageiros: <strong>para</strong> o Rio, 4;<br />

<strong>para</strong> Santos, 15; <strong>para</strong> Buenos Aires. 13. Foi preciso<br />

socar os <strong>de</strong> dois camarotes <strong>para</strong> conseguir lugar <strong>para</strong><br />

os 2 exce<strong>de</strong>ntes. Eu fiz cama num divã: era um dos<br />

exce<strong>de</strong>ntes. Doutro modo teria que ficar ainda nos<br />

Estados Unidos pelo menos uma semana.<br />

Vivemos os 19 dias comunisticamente. No navio só<br />

havia uma classe, a chamada dos turistas. Não havia,<br />

pois, lugar <strong>para</strong> nobrezas nem <strong>para</strong> plebeísmos.<br />

Ministros, comerciantes, operários, passamos a<br />

temporada marítima num ambiente <strong>de</strong> camaradas.<br />

Tínhamos piscina, rádio, shuffle-board, pinguepongue,<br />

quebra-cabeças, jogo <strong>de</strong> damas, etc. E todas<br />

as manhãs o jornal datilografado pelo rádiotelegrafista,<br />

com noticiário geral.<br />

Pouco <strong>de</strong>pois da partida, <strong>de</strong>scobri entre as<br />

passageiras miss Bessie Aleen, missionária presbiteriana<br />

em Castro (Paraná); mais tar<strong>de</strong>, miss Leia E.<br />

Taylor, secretária do Departamento <strong>de</strong> Missões<br />

da


NELSON DE GODOY COSTA<br />

166<br />

<strong>Igreja</strong> dos Discípulos <strong>de</strong> Cristo, que ia, acompanhada<br />

<strong>de</strong> sua mãe, visitar trabalhos <strong>de</strong> sua <strong>de</strong>nominação na<br />

Argentina e no Paraguai; finalmente, miss A<strong>de</strong>le Lain,<br />

missionária batista em Pernambuco.<br />

Tivemos dois cultos. Eu dirigi o primeiro no domingo,<br />

28. O Rev. Hubbard dirigiu o segundo, no domingo, 7.<br />

Tivemos a assistência <strong>de</strong> quase todos os passageiros.<br />

O navio, ao contrário <strong>de</strong> outros que atrasam ou<br />

adiantam o relógio <strong>de</strong> hora em hora, conforme<br />

marcham <strong>para</strong> oeste ou <strong>para</strong> este, acerta-o diariamente,<br />

ao meio-dia, no ponto em que se acha. Parece<br />

que é melhor assim.<br />

Refeições: — almoço às 8 hs., caldo às 11 hs., jantar<br />

às 13 hs., chá às 15 hs., ceia às 18 hs., sanduíche às<br />

22 hs. Assim se faz em quase todos os navios. Isso é<br />

que é comer! Aos magros e aos comilões <strong>de</strong> todas as<br />

partes se po<strong>de</strong> recomendar uma viagem por mar. Se<br />

não enjoarem...<br />

Eu e a família Hubbard ocupávamos inteiramente uma<br />

das mesas do refeitório.<br />

No dia 22 <strong>de</strong> fevereiro, data natal <strong>de</strong> George<br />

Washington, foi servido, na ceia, um enorme bolo. Em<br />

cima do dito estava escrito com letras <strong>de</strong> açúcar<br />

colorido: George Washington. Eu nunca menti. Atribuise<br />

ao gran<strong>de</strong> presi<strong>de</strong>nte essa <strong>de</strong>claração — Eu nunca<br />

menti. Um seu patrício passageiro, por humorismo,<br />

com certeza, disse que essa foi a menor mentira que<br />

ele disse.


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

167<br />

Todas as semanas fazíamos exercício <strong>de</strong> salvamento.<br />

Durante a viagem li dois livros — The Search for a<br />

New Strategy in Protestantism e Vultos do meu<br />

Caminho.<br />

Principiando com a ceia, houve, na noite do dia 27, um<br />

tachy party a bordo.<br />

No dia 5 foram iniciados nos mistérios <strong>de</strong> Netuno os<br />

passageiros que cruzavam o Equador pela primeira<br />

vêz. Pobre gente! Tomou bolo <strong>de</strong> criar marca, bebeu<br />

água salgada, teve os pés besuntados com queijo <strong>de</strong><br />

Limburger, foi barbeada com navalha <strong>de</strong> pau, sofreu o<br />

banho <strong>de</strong> um enorme bal<strong>de</strong> <strong>de</strong> água fria, etc.<br />

Alguns dos passageiros ficamos surpreendidos<br />

quando soubemos que a bordo não havia barbeiro.<br />

Havíamos <strong>de</strong>ixado propositadamente <strong>para</strong> cortar o<br />

cabelo no navio... Não havia mais remédio — tínhamos<br />

que <strong>de</strong>sembarcar no Rio com uma cabeleira<br />

daquelas...<br />

Dizem que a marinha mercante do Brasil ocupa<br />

atualmente o 7.° lugar. Fiquei satisfeito por ver navios<br />

brasileiros em Miami, Nova Orleans, por encontrá-los<br />

na rota dos Estados Unidos, na rota da Europa, e por<br />

sabê-los frequentes em Boston e Nova Iorque.<br />

— Não sei como agra<strong>de</strong>cer aos irmãos e amigos dos<br />

Estados Unidos e do Brasil as gentilezas e atenções<br />

que me dispensaram por motivo <strong>de</strong> minha viagem.


168<br />

Lá dos bispos, dos secretários e funcionários da Board<br />

of Missions, <strong>de</strong> secretários e funcionários <strong>de</strong> outros<br />

Boards, <strong>de</strong> muitos dos superinten<strong>de</strong>ntes distritais, <strong>de</strong><br />

inúmeros pastores, <strong>de</strong> leigos, <strong>de</strong> presi<strong>de</strong>ntes<br />

conferenciais e locais das socieda<strong>de</strong>s missionárias <strong>de</strong><br />

senhoras, dos missionários em férias, <strong>de</strong> reitores <strong>de</strong><br />

colégios e universida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> clubes, <strong>de</strong><br />

jornalistas, <strong>de</strong> velhos conhecidos da minha ida à<br />

Conferência Geral <strong>de</strong> 1926, do estabelecimento da<br />

autonomia da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil, e até <strong>de</strong><br />

meus correspon<strong>de</strong>ntes filatélicos recebi tantas<br />

<strong>de</strong>monstrações <strong>de</strong> boa vonta<strong>de</strong>, <strong>de</strong> carinho, que não<br />

basta dizer-lhes simplesmente: — Muito obrigado.<br />

Aqui estão suas cartas, seus telegramas, seus dizeres<br />

<strong>de</strong> boas vindas à terra americana, <strong>de</strong> alegria por<br />

minha presença, <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cimentos, que não mereço,<br />

pelo que procurei fazer entre eles, <strong>de</strong> apreço, que<br />

também não mereço, por minha pessoa, juntamente<br />

com os mimos que me ofertaram — lembranças que<br />

me <strong>de</strong>svanecem sobremodo, que falam <strong>de</strong> sua<br />

generosida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua gran<strong>de</strong>za dalma. Uma palavra<br />

especial <strong>de</strong> imorredoura gratidão envio aos meus<br />

queridos companheiros <strong>de</strong> team, homens e mulheres<br />

piedosos, que tudo fizeram por me facilitar as viagens<br />

e trabalhos na Cruzada dos Bispos. Cá, foram as<br />

palestras animadoras, as cartas <strong>de</strong> estímulo, os<br />

telegramas <strong>de</strong> <strong>de</strong>spedidas, a presença no cais, ajudas<br />

multiformes, quando eu estava <strong>para</strong> partir, por parte <strong>de</strong><br />

muitíssimos irmãos e amigos; foram, <strong>de</strong>pois, as<br />

comunicações que alegram, que me enviaram, quando<br />

eu já estava em plena campanha; foram, finalmente,<br />

as saudações no


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

169<br />

cais, as cartas <strong>de</strong> felicitações, os telegramas <strong>de</strong> boas<br />

vindas, quando eu regressava, gestos todos que <strong>de</strong>nunciam<br />

sua bonda<strong>de</strong> infinita. Também não basta que<br />

eu lhes diga simplesmente: Muito obrigado.<br />

A viagem do Bispo brasileiro a Norte América é<br />

sobremodo interessante <strong>para</strong> a <strong>Igreja</strong> recentemente<br />

estabelecida no Brasil. Em 13 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong>sse ano o<br />

"Expositor Cristão" tece consi<strong>de</strong>rações, das quais<br />

escolhemos <strong>para</strong> nossa biografia uma parte.<br />

A VISITA DO BISPO CÉSAR DACORSO FILHO AOS<br />

ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA DO NORTE A<br />

visita do ilustre lí<strong>de</strong>r da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil aos<br />

Estados Unidos da América do Norte <strong>para</strong> participar<br />

da "Cruzada dos Bispos" constituiu ocasião notável na<br />

história do Metodismo Norte Americano. Entre os<br />

muitos planos organizados <strong>para</strong> a gran<strong>de</strong> campanha<br />

missionária que ora se vai processando na <strong>Igreja</strong><br />

<strong>Metodista</strong> do Sul, ousamos <strong>de</strong>clarar que nenhum<br />

acontecimento atraiu tanta atenção ou serviu <strong>de</strong> tanto<br />

estímulo como a visita dos distintos representantes<br />

que vieram <strong>de</strong> outros países <strong>para</strong> dar-nos a honra <strong>de</strong><br />

sua presença, o conforto <strong>de</strong> seu testemunho <strong>de</strong> fé em<br />

Cristo Jesus e as notícias animadoras do progresso<br />

que se há realizado pelo po<strong>de</strong>r do evangelho.<br />

Tivemos o prazer <strong>de</strong> ouvir o primeiro discurso<br />

pronunciado peio Bispo César perante uma gran<strong>de</strong><br />

multidão <strong>de</strong> senhoras missionárias na primeira igreja<br />

<strong>de</strong> Nova Orleans. Falou em inglês, <strong>de</strong> modo tão claro<br />

e com tanta convicção e eloquência que o povo custou


NELSON DE GODOY COSTA<br />

170<br />

a crer que fosse essa a primeira vêz que o Bispo usara<br />

o inglês em discurso público. Falou do progresso realizado<br />

pelo Brasil nos últimos anos, das riquezas do<br />

país em boa parte ainda não realizadas, do futuro<br />

muito promissor que se espera <strong>para</strong> a nação brasileira,<br />

e mui particularmente do seu povo que já produziu<br />

valores reconhecidos pelo mundo inteiro. Falou o<br />

Bispo no dia seguinte perante uma congregação que<br />

enchia o auditório da igreja central da cida<strong>de</strong>. O outro<br />

orador <strong>de</strong>ssa ocasião foi o Dr. E. Stanley Jones, talvez<br />

o missionário mais famoso dos nossos dias.<br />

Ficou resolvido que a "Cruzada" fosse levada a efeito<br />

por dois "teams" viajando um no território a leste do rio<br />

Mississipi e o outro no que fica ao oeste <strong>de</strong>ssa linha<br />

divisória. O Bispo César foi indicado <strong>para</strong> o segundo<br />

"team" viajando com os Bispos Kern, Moore, Smith, e<br />

Boaz, Dr. Clark e Sra. Cram. Este "team" viajou pela<br />

maior parte do "far-west" do nosso país, indo até a<br />

Califórnia, on<strong>de</strong> realizou conferências nas cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

Los Angeles e São Francisco, voltando <strong>de</strong>pois a São<br />

Luís e pelos estados centrais até chegar em Nashviile.<br />

Já recebemos informações diretas <strong>de</strong> várias cida<strong>de</strong>s<br />

visitadas e em todas foi <strong>de</strong>ixada uma impressão<br />

profunda pela visita do ilustre representante do Brasil.<br />

Já muitas vezes, ao subscritor <strong>de</strong>stas linhas, foi<br />

dirigida a pergunta: "Por que não po<strong>de</strong>mos provi<strong>de</strong>nciar<br />

<strong>para</strong> que haja visitas mais frequentes dos<br />

ilustres irmãos do Metodismo brasileiro?" Há entre a<br />

nossa gente <strong>aqui</strong> um <strong>de</strong>sejo profundo, ar<strong>de</strong>nte e sincero<br />

que se estreitem cada vêz mais os laços <strong>de</strong> amor


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

171<br />

cristão entre os dois povos e, mui especialmente, entre<br />

os membros <strong>de</strong>sse ramo da igreja <strong>de</strong> Cristo, nas duas<br />

Américas.<br />

Ha três valores especiais produzidos pela visita do<br />

Bispo César, valores estes que queremos ter o prazer<br />

<strong>de</strong> citar aos prezados amigos no Brasil. O primeiro foi<br />

sugerido pelas linhas acima: isto é, o estreitamento<br />

dos laços <strong>de</strong> fraternida<strong>de</strong> e amiza<strong>de</strong> entre os dois<br />

povos. Des<strong>de</strong> a <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência do<br />

Brasil, em 1822, quando o governo d<strong>aqui</strong> se apressou<br />

em colocar-se ao lado do Brasil cooperando em efetivar<br />

as garantias <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> e in<strong>de</strong>pendência proclamadas,<br />

o nosso povo manteve sempre uma<br />

simpatia particular <strong>para</strong> com o Brasil e <strong>para</strong> com o<br />

povo brasileiro. Felizmente essa simpatia e amiza<strong>de</strong><br />

têm se fortalecido durante mais <strong>de</strong> um século e<br />

continua a crescer até os nossos dias. O Brasil, pelos<br />

seus representantes em mais <strong>de</strong> uma ocasião, salvou<br />

os interesses da paz pan-americana pondo a força <strong>de</strong><br />

seu prestígio e <strong>de</strong> seu amor à paz no lado da boa<br />

vonta<strong>de</strong> internacional. É fato <strong>de</strong> muita significação que<br />

a gran<strong>de</strong> nação brasileira continua hoje no rol das<br />

legítimas <strong>de</strong>mocracias nesse mundo tão atormentado<br />

pelas i<strong>de</strong>ias fascistas e comunistas. A visita do Bispo<br />

César contribuiu <strong>para</strong> fortalecer o espírito <strong>de</strong> paz e <strong>de</strong><br />

boa vonta<strong>de</strong> que, há longos anos, reina entre as duas<br />

nações amigas.<br />

Teve significação também sua viagem em revelar os<br />

valores do movimento autónomo entre as igrejas<br />

"novas" em muitos países. Há pouco mais <strong>de</strong>


172<br />

NELSON DE GODOY COSTA<br />

seis anos que a nova <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil foi<br />

estabelecida. Se jamais houve quaisquer dúvidas,<br />

seriam facilmente dissipadas, por certo, ao consi<strong>de</strong>rar<br />

o gran<strong>de</strong> progresso alcançado durante esse curto<br />

período <strong>de</strong> tempo pelo Metodismo brasileiro.<br />

Reconhecido o fato que o acréscimo <strong>de</strong> membros<br />

nesses 6 anos é 47% maior do que em qualquer outro<br />

período igual do passado, difícil é negar que a<br />

tendência "in<strong>de</strong>pendista" tem as suas raízes lançadas<br />

em terreno produtivo, ou, mudando <strong>de</strong> figura, que o<br />

"edifício autónomo", vai se construindo sobre as mais<br />

sólidas bases. Citando tais provas e fatos, e perante<br />

milhares <strong>de</strong> pessoas em nosso país, o Bispo César<br />

conseguiu esclarecer a mente <strong>de</strong> muitos sobre essa<br />

tendência, a mais significativa, do movimento<br />

missionário mo<strong>de</strong>rno.<br />

Ainda há outro fruto da obra do Bispo César que<br />

convém notar. A sua interpretação dos princípios do<br />

evangelho do nosso Salvador veio mostrar-nos um<br />

fato não <strong>de</strong>vidamente notado — que cada país e povo<br />

têm a sua própria contribuição a fazer à compreensão<br />

total das verda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Jesus. Assim como no terreno<br />

da cultura — arte, literatura, ciência e filosofia, — cada<br />

nação contribui com sua parte no <strong>de</strong>senvolvimento da<br />

cultura universal, assim também estamos apren<strong>de</strong>ndo<br />

semelhante lição no terreno mais alto e sublime que é<br />

o da religião cristã. Cremos com convicção que ao<br />

Protestantismo sempre faltou algo nas suas<br />

interpretações e práticas por ser uma religião adotada<br />

quase exclusivamente durante séculos pelos povos<br />

anglo-saxônicos e germânicos. Faltou, talvez,


PRÍNCIPE DA IGREJA1<br />

173<br />

uma certa qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> interpretação que somente a<br />

raça latina podia dar. Disse-me um pregador bem<br />

instruído, após ouvir um discurso do Bispo César:<br />

"Parece-me que êle está olhando <strong>para</strong> o evangelho<br />

por um novo prisma. Assim como êle ganha novas<br />

i<strong>de</strong>ias nossas, assim também vamos apren<strong>de</strong>ndo<br />

<strong>de</strong>le."


CAPÍTULO SÉTIMO<br />

NOVAMENTE EM SUA PARÓQUIA, O BRASIL<br />

174<br />

Novamente em sua paróquia, o Brasil o Bispo<br />

brasileiro prossegue no trabalho que não sofreu solução<br />

<strong>de</strong> continuida<strong>de</strong>. De oito a treze <strong>de</strong> abril está<br />

presidindo a sétima reunião do Concílio Regional do<br />

Norte, realizada no templo da <strong>Igreja</strong> Central <strong>de</strong> Juiz <strong>de</strong><br />

Fora e que se <strong>de</strong>sdobrou em <strong>de</strong>z sessões. Além dos<br />

trabalhos regulares fala ao concílio sobre a Cruzada<br />

dos Bispos em que tomou parte.<br />

Passando pela capital paulista a caminho do Concílio<br />

Regional do Centro, visita o Ex. mo Sr. Governador do<br />

Estado, Dr. J. J. Cardoso <strong>de</strong> Melo Neto. Acompanhamno<br />

os Revs. Guarací Silveira, Clau<strong>de</strong> Livingstone<br />

Smith, Afonso Romano Filho, e Nelson <strong>de</strong> Godoy<br />

Costa. Saudando o Ex. mo Sr. Governador discursa o<br />

Rev. Guarací Silveira.<br />

Nesse mesmo dia e acompanhado dos mesmos<br />

pastores, o Bispo brasileiro visita a Associação<br />

Paulista <strong>de</strong> Imprensa.


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

175<br />

Sua alivida<strong>de</strong> prossegue intensa nesses meses. É<br />

impossível acompanhar-lhe os passos. Nosso livro<br />

cresceria assustadoramente. Vamos encontrá-lo na<br />

paróquia <strong>de</strong> Ubá, Rio Branco e São Geraldo em companhia<br />

do superinten<strong>de</strong>nte distrital Rev. Dr. Elias<br />

Escobar Gavião e do pastor, Rev. Alberto Fernan<strong>de</strong>s<br />

Eiras.<br />

Vai a Teixeiras, Rio Branco, toma o ônibus <strong>para</strong><br />

Guiricema, cida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> o templo sofreu terrível<br />

fuzilaria <strong>de</strong> uma horda <strong>de</strong> assalariados do padre<br />

Belchior, e <strong>de</strong>pois da fuzilaria a ação da picareta, das<br />

alavancas e da dinamite. Encontra o templo agora<br />

refeito e oferecendo aspecto muito mais agradável.<br />

Ruma a seguir <strong>para</strong> a fazenda do Cap. Jo<strong>aqui</strong>m Júlio<br />

Toffano, passando pelo sítio do Sr. Lopes Faria e pela<br />

fazenda do Valão, <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong> da irmã D. Isaura da<br />

Cruz Botelho. Atravessa o arraial <strong>de</strong> Tuitinga e pelas<br />

seis horas da tar<strong>de</strong> chega a fazenda Boa Vista do<br />

Gap. Toffano. Prega a mais <strong>de</strong> quinhentas pessoas, e<br />

apresentam-se setenta candidatos. No dia seguinte vai<br />

a Sopé <strong>de</strong> Ubá e dali a Catagúazes. Nesses lugares<br />

visita, prega, batiza, anima, corrige, conforta. Sua<br />

passagem <strong>de</strong>ixa sulcos luminosos.<br />

Encontra-se agora em Juiz <strong>de</strong> Fora; trabalha na igreja<br />

central, na igreja <strong>de</strong> São Mateus, no Colégio Granbery.<br />

Vai a Catagúazes novamente, observa que o distrito<br />

<strong>de</strong> Carangola melhora dia a dia apresentando surto<br />

animador.


NELSON DE GODOY COSTA<br />

176<br />

Em caminho visita as proprieda<strong>de</strong>s em Vermelho,<br />

Camargo e São Domingos. Em São Domingos monta<br />

o "aeroplano" célebre burro que serviu a vários<br />

pastores e superinten<strong>de</strong>ntes distritais e agora por certo<br />

sentia-se muito honrado em carregar um Bispo.<br />

Nessa mesma viagem vai a Carangola, paróquia <strong>de</strong><br />

on<strong>de</strong> saiu a seis anos passados <strong>para</strong> assumir o<br />

episcopado. E é interessante notar suas observações<br />

nestes dias: "Passei todo o dia 26 <strong>de</strong> agosto em<br />

Carangola. Preguei à noite a uma congregação que<br />

transbordava do salão em que temos culto. Batizei<br />

quatro criancinhas. Durante o dia fiz algumas visitas e<br />

examinei quase todos os livros na companhia do<br />

pastor. O arquivo está <strong>de</strong>vidamente organizado com<br />

todos os livros usados <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o inicio da paróquia; não<br />

tem a paróquia nenhum membro <strong>de</strong> <strong>para</strong><strong>de</strong>iro<br />

<strong>de</strong>sconhecido. A gran<strong>de</strong> necessida<strong>de</strong> é <strong>de</strong> um templo<br />

na cida<strong>de</strong>. 60% dos crentes contribuintes".<br />

Vai a Caiana, Manhuaçu, Faria Lemos, São Manoel.<br />

De suas pregações resultam quase cem candidatos à<br />

profissão <strong>de</strong> fé.<br />

Dá instruções sobre o problema das visitas pastorais.<br />

É pastor também e conhece a fundo o problema.<br />

Enten<strong>de</strong> que as visitas apressadas feitas pelo pastor<br />

às igrejas, congregações, pontos <strong>de</strong> pregação são às<br />

vezes mais prejudiciais do que alentadoras. Em cada<br />

uma <strong>de</strong>las <strong>de</strong>ve haver tempo suficiente <strong>para</strong> as visitas<br />

às casa dos crentes, dos candidatos, instrução dos<br />

candidatos, ministração dos


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

177<br />

sacramentos, organização dos livros e tudo o<br />

mais que se fizer necessário.<br />

Seu critério na escolha <strong>de</strong> superinten<strong>de</strong>ntes não po<strong>de</strong><br />

ser mais justo. Olha <strong>para</strong> a produtivida<strong>de</strong>,<br />

organização, tino administrativo, apego aos cânones,<br />

amor ao Metodismo. O homem que per<strong>de</strong> sua inteira<br />

confiança é imediatamente afastado do cargo.<br />

Segue os passos dos representantes da <strong>Igreja</strong><br />

<strong>Metodista</strong> do Brasil no estrangeiro: "Depois <strong>de</strong> dois<br />

concílios que se estão realizando na Inglaterra o Rev.<br />

Epaminondas Moura visitará Paris. A caminho do<br />

Brasil <strong>para</strong>rá por duas semanas em Portugal <strong>para</strong><br />

realizar conferências em Lisboa e Porto, respectivamente<br />

na igreja presbiteriana e metodista.<br />

Chegará ao Brasil no dia 27 <strong>de</strong> setembro pelo vapor<br />

Hibbland Chiftain.<br />

Visita Santa Maria a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua infância e a<br />

encontra <strong>de</strong> luto. Terrível ciclone <strong>de</strong>rrubou <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong><br />

casa, abriu <strong>de</strong>z novos túmulos no cemitério, hospitalizou<br />

centenas <strong>de</strong> pessoas. Dentre os mortos<br />

encontram-se um ecónomo, sua esposa e filhinha. A<br />

casa foi pelos ares e seus corpos se encontraram se<strong>para</strong>dos<br />

mais <strong>de</strong> cinquenta metros uns dos outros. Da<br />

casa e dos móveis acharam-se pouco pedaços<br />

espalhados em gran<strong>de</strong> área. O coração do Bispo brasileiro<br />

volta a ser o do menino <strong>de</strong> Santa Maria. Chora a<br />

dor <strong>de</strong> sua cida<strong>de</strong> natal.<br />

Viaja <strong>para</strong> Passo Fundo, no mesmo Estado sulino, em<br />

companhia do Rev. António Rolim. Ao


NELSON DE GODOY COSTA<br />

178<br />

<strong>de</strong>ixar Soleda<strong>de</strong> começa chover copiosamente. Percorrida<br />

pouca distância o ônibus que não era mais que<br />

uma carcassa <strong>de</strong> ônibus principia a andar com muita<br />

dificulda<strong>de</strong>. Muitas vezes por pouco <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> tombar.<br />

Em dois lugares o Bispo e os passageiros têm que<br />

<strong>de</strong>scer e empurrar o calhambeque <strong>de</strong>baixo <strong>de</strong> chuva<br />

impiedosa e amassando barro a vonta<strong>de</strong>. Gastam 12<br />

horas <strong>para</strong> vencer 94 quilómetros e ao fim da viagem o<br />

chaufeur cobra cinquenta cruzeiros, e ante o olhar <strong>de</strong><br />

espanto dos passageiros molhados, enlameados e<br />

cansados diz que é baratíssimo!...<br />

O Bispo brasileiro chega à casa, sai do banho e a vida<br />

continua.


PANORAMAS DE UM EPISCOPADO<br />

segundo quatriênio<br />

179


180


CAPITULO PRIMEIRO<br />

PANORAMAS DE UM EPISCOPADO<br />

181<br />

REELEITO BISPO NO TERCEIRO CONCÍLIO GERAL<br />

Na oitava sessão do terceiro Concílio Geral reunido<br />

em Juiz <strong>de</strong> Fora, no dia 10 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1988, pela<br />

or<strong>de</strong>m dos trabalhos proce<strong>de</strong>-se à eleição dos bispos<br />

da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil.<br />

É reeleito primeiro Bispo o Rev. J. W. Tarboux. É<br />

reeleito segundo Bispo o Rev. César Dacorso Filho.<br />

Emocionado faz uma preleção sobre os problemas do<br />

episcopado, especialmente no caso da <strong>Igreja</strong><br />

<strong>Metodista</strong> do Brasil, do que podia falar com<br />

conhecimento <strong>de</strong> causa pelos seus quatro anos <strong>de</strong><br />

trabalho. Agra<strong>de</strong>ce ao Concílio pela sua reeleição <strong>para</strong><br />

tão pesado encargo.<br />

Conclui seu relatório a esse Concílio, apresentado<br />

antes <strong>de</strong> sua reeleição pronunciando as seguintes<br />

palavras: "A <strong>Igreja</strong> elegendo-me <strong>para</strong> seu episcopado<br />

me pôs nas mãos po<strong>de</strong>res extraordinários e me abriu<br />

as portas a honrarias incomuns. Preciso dizer que não<br />

abusei <strong>de</strong> tais po<strong>de</strong>res. Fui acessível a todos.


NELSON DE GODOY COSTA<br />

182<br />

Procurei ser sincero em tudo. Guiou-me o propósito <strong>de</strong><br />

servir a <strong>Igreja</strong> e <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r-lhe a qualquer preço os<br />

interesses supremos. Acertando ou errando, favorecendo<br />

os homens ou <strong>de</strong>sfavorecendo-os, foi assim<br />

que agi, invariavelmente.<br />

"As honrarias <strong>de</strong> que fui alvo <strong>de</strong>ntro e fora <strong>de</strong> nosso<br />

circulo eu as transfiro à <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil, que<br />

é só quem tem direito a elas.<br />

"Perante vós nesse Concilio supremo afirmo que as<br />

alturas do episcopado não me atraem mais nem<br />

menos que a obscurida<strong>de</strong> <strong>de</strong> qualquer pastorado em<br />

remota paróquia das matas ou dos sertões brasileiros,<br />

e <strong>de</strong>ponho minha palavra <strong>de</strong> honra que não tenho <strong>aqui</strong><br />

nenhum interesse pessoal a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r e nenhuma aspiração<br />

pessoal por que me propugnar.<br />

"A todos meus bons e queridos irmãos que comigo<br />

cooperaram constante, fervorosa e lealmente, minha<br />

inapagável gratidão.<br />

"À <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil, a aureola <strong>de</strong> triunfos a<br />

que ela faz jus, como dispenseira dos ensinos e dos<br />

exemplos do Cristianismo".<br />

Estas palavras, pronuncia-as ao concluir seu relatório<br />

e antes <strong>de</strong> ser reeleito Bispo.<br />

É assim o homem. Gran<strong>de</strong>za <strong>de</strong> alma.


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

183<br />

ACUDINDO A CAMPOS QUE BRANQUEIAM E<br />

SEMEANDO OUTROS CAMPOS<br />

Seu trabalho é ininterrupto.<br />

Impossível, como já o dissemos, acompanhá-lo passo<br />

a passo na ativida<strong>de</strong> intensa. Estamos colhendo <strong>para</strong><br />

oferecer e documentar essa vida admirável pérolas<br />

esparsas. O Bispo brasileiro é sem dúvida alguma, o<br />

estabilizador da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil e ao seu<br />

tirocínio <strong>de</strong> condutor e à sua visão <strong>de</strong> profeta a I.M.B.<br />

<strong>de</strong>ve a organização extraordinária que é e com que se<br />

apresenta <strong>para</strong> a pregação do Evangelho <strong>de</strong> Jesus.<br />

O Bispo brasileiro sente que o episcopado está<br />

criando <strong>de</strong> dia <strong>para</strong> dia mais ligações <strong>de</strong>ntro e fora da<br />

<strong>Igreja</strong>. Nas mesmas proporções <strong>de</strong>senvolve-se seu<br />

trabalho <strong>de</strong> pena e secretaria. Diminui também com<br />

isso a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> assistência direta aos distritos<br />

e paróquias. Diminui também a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua<br />

presença aos congressos, institutos, reuniões <strong>de</strong><br />

conselhos superiores, instituições, campanhas <strong>de</strong><br />

evangelização. Diminui ainda a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

aten<strong>de</strong>r convites <strong>para</strong> as reuniões <strong>de</strong> caráter<br />

inter<strong>de</strong>nominacional e social. Ampliando-se cada vêz<br />

mais o território e as possibilida<strong>de</strong>s da <strong>Igreja</strong> e suas<br />

ativida<strong>de</strong>s, ampliam-se também por outro lado e na<br />

mesma escala as responsabilida<strong>de</strong>s. Não há tempo<br />

que chegue <strong>para</strong> ele.<br />

Contudo viaja, viaja muito, viaja quanto po<strong>de</strong>; presi<strong>de</strong><br />

as reuniões do Conselho Central, dos concílios


NELSON DE GODOY COSTA<br />

184<br />

regionais, dos concílios distritais, está presente às<br />

reuniões das juntas gerais, dos conselhos superiores,<br />

aos congressos das socieda<strong>de</strong>s, aos institutos; ajuda<br />

nos esforços <strong>de</strong> evangelização; visita e inspeciona<br />

paróquias, aten<strong>de</strong> a convites <strong>de</strong> cortesia.<br />

Está em constante correspondência com os<br />

secretários executivos <strong>para</strong> o estrangeiro da "Board of<br />

Missions" e do "Woman's Council".<br />

Cuida dos missionários em férias, dando-lhes<br />

certidões <strong>para</strong> po<strong>de</strong>rem obter "visto" das autorida<strong>de</strong>s<br />

brasileiras acreditadas no país, quando prontos <strong>para</strong><br />

voltarem ao Brasil.<br />

Pe<strong>de</strong> ao Rev. Dr. James Ellijah Ellis que estu<strong>de</strong> a lei<br />

brasileira <strong>de</strong> imprensa <strong>para</strong> pôr os periódicos<br />

metodistas <strong>de</strong> acordo com elas, e, ao Rev. Dr. Guarací<br />

Silveira que estu<strong>de</strong> as leis trabalhistas sobre caixas <strong>de</strong><br />

pensão e aposentadoria e sobre seguros <strong>de</strong> vida <strong>para</strong><br />

pôr <strong>de</strong> acordo com elas os obreiros metodistas.<br />

Dirige cerca <strong>de</strong> cem reuniões <strong>de</strong> oração, várias<br />

reuniões <strong>de</strong> consagração. Leva o Evangelho aos<br />

<strong>de</strong>tentos nas ca<strong>de</strong>ias e penitenciárias; fala cerca <strong>de</strong><br />

cem vezes sobre vários assuntos; faz apelos <strong>para</strong><br />

missões.<br />

Em qualquer cida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> está visita membros da<br />

igreja, colégios, escolas, hospitais, redações <strong>de</strong><br />

jornais, autorida<strong>de</strong>s.<br />

É assim o homem. Infatigável.


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

185<br />

Presi<strong>de</strong> ao 3.° Concílio Geral realizado em Juiz <strong>de</strong><br />

Fora, Minas Gerais <strong>de</strong> 6 a 19 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1938, a<br />

respeito do qual já nos referimos. Revela zelo<br />

apaixonado pela obra.<br />

Tendo encontrado em alguns lugares congregações e<br />

membros esquecidos, negligenciados e abandonados<br />

pelos seus pastores, em anos consecutivos, organiza<br />

com o auxílio dos superinten<strong>de</strong>ntes distritais, e estes<br />

por sua vêz, com o auxílio dos concílios paroquiais,<br />

um plano <strong>de</strong> visitação pastoral <strong>para</strong> cada paróquia,<br />

com força <strong>de</strong> nomeação e publica-o anualmente no<br />

"Atas e Documentos'*.<br />

Em 1938, opinando pela existência <strong>de</strong> uma só<br />

Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Teologia diz: "Minha opinião é que haja<br />

uma só Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Teologia, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong><br />

qualquer Colégio, sob a direção <strong>de</strong> um conselho<br />

superior, nomeado pelo Concílio Geral, com estatutos<br />

próprios, mantida pelas três regiões eclesiásticas por<br />

um plano que lhes garanta direitos e interesses, e no<br />

lugar que mais convier à <strong>Igreja</strong> em geral. Creio que <strong>de</strong><br />

tal modo a pre<strong>para</strong>ção ministerial será mais variada,<br />

mais profunda, enquanto mais económica, mais<br />

fortalecedora da coesão da <strong>Igreja</strong>, <strong>de</strong>sfazendo regionalismos<br />

inconvenientes por <strong>de</strong>sagregantes, mais uniformizadora<br />

<strong>de</strong> nossas ativida<strong>de</strong>s e mais<br />

entrelaçadora <strong>de</strong> nossos próprios ministros."<br />

Receia as especializações que produzem peritos em<br />

excesso <strong>para</strong> tais ou quais posições e peso morto <strong>para</strong><br />

as pobres finanças da <strong>Igreja</strong>, enquanto as paróquias<br />

ficam à míngua <strong>de</strong> pastores.


186<br />

Ainda pensando na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Teologia, lembra a<br />

conveniência <strong>de</strong> se estabelecerem contatos com<br />

seminários da Europa, notadamente da França e Itália,<br />

<strong>para</strong> que os futuros ministros da Palavra absorvam<br />

não somente o pensamento teológico e anglosaxônico,<br />

mas também o latino mais condizente com o<br />

génio brasileiro.<br />

Sempre que po<strong>de</strong> e por on<strong>de</strong> passa procura visitar as<br />

igrejas e os ministros <strong>de</strong> outras <strong>de</strong>nominações. Prega<br />

em templos presbiterianos, batistas, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes,<br />

congregacionais, episcopais. Fala aos estudantes da<br />

Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Teologia da <strong>Igreja</strong> Cristã Presbiteriana<br />

em Campinas, <strong>de</strong>ixando no espírito dos académicos e<br />

dos professores impressão profunda <strong>de</strong> pieda<strong>de</strong> e<br />

cultura.<br />

Oficia a cada junta regional por ocasião dos concílios<br />

regionais tudo o que sabe ser <strong>de</strong> seu interesse,<br />

enviando-lhe pareceres e sugestões. Mantém correspondência<br />

constante com os secretários<br />

executivos. Age da mesma forma <strong>para</strong> com as juntas<br />

gerais.<br />

Não cessa <strong>de</strong> incentivar por todos os meios ao seu<br />

alcance o aumento das contribuições <strong>para</strong> a manutenção<br />

do ministério, o que reputa ponto <strong>de</strong> honra<br />

<strong>para</strong> sua administração. Para o Bispo brasileiro o<br />

primeiro passo a dar <strong>de</strong>pois da autonomia da <strong>Igreja</strong> è<br />

o da in<strong>de</strong>pendência financeira do ministério. Esta é<br />

uma <strong>de</strong> suas gran<strong>de</strong>s lutas.<br />

Reinicia as viagens. Está em Itararé, no Estado <strong>de</strong><br />

São Paulo. Embora <strong>de</strong>sajudado pela escassas <strong>de</strong><br />

tempo e falta <strong>de</strong> melhores informações, aproveita o


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

187<br />

ensejo <strong>para</strong> verificar que a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ficar em suas<br />

cogitações como campo <strong>de</strong> futura ocupação.<br />

Prossegue viagem <strong>para</strong> Marechal Mallet, no Estado do<br />

Paraná. Acompanhado pelo pastor fala e ora com um<br />

grupo <strong>de</strong> presos, visita, observa, estuda, conclui pelas<br />

possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> progresso.<br />

Vai a Porto União no Estado <strong>de</strong> Santa Catarina, prega<br />

em três noites, dirige uma festa <strong>de</strong> amor, e presi<strong>de</strong> ao<br />

Concílio do distrito <strong>de</strong> Santa Catarina em seis<br />

sessões; vai a Caçador no mesmo Estado.<br />

Chega a Cruz Alta, no Estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul,<br />

<strong>de</strong>mora-se três dias e entre outras várias ativi-da<strong>de</strong>s<br />

presi<strong>de</strong> ao Concílio do distrito em cinco sessões.<br />

Viaja <strong>para</strong> São Borja no mesmo Estado; visita, batiza,<br />

ministra a santa comunhão, presi<strong>de</strong> ao Concílio<br />

Distrital em cinco sessões.<br />

Prossegue viagem <strong>para</strong> Santa Maria. Em sua terra<br />

natal <strong>de</strong>sdobra-se em ativida<strong>de</strong>s. Agora existe lá um<br />

gran<strong>de</strong> Colégio Centenário. Fala às alunas. De sua<br />

cida<strong>de</strong> não sabe se mata sauda<strong>de</strong>s ou alimenta-as.<br />

Sabe que vive sauda<strong>de</strong>s fundas e intensas da cida<strong>de</strong><br />

querida.<br />

Chega a Porto Alegre, a capital do Estado sulino. Em<br />

meio a tantas outras ocupações assiste a uma reunião<br />

da Junta <strong>de</strong> Ecônomos e <strong>para</strong> <strong>de</strong>scansar visita o<br />

terreno que a igreja <strong>de</strong> Wesley preten<strong>de</strong> adquirir.<br />

0O0


NELSON DE GODOY COSTA<br />

188<br />

Em 1938 organiza a primeira <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> no<br />

Estado <strong>de</strong> Goiás, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pires do Rio.<br />

---- oOo-----<br />

Procurando elevar ao máximo o padrão dos concílios<br />

distritais sugere programas. Este é um exemplo:<br />

a) estudos da experiência <strong>de</strong> João Wesley em 24 <strong>de</strong><br />

maio; b) reuniões <strong>de</strong> oração e testemunho com<br />

preferência a qualquer outras; c) um jejum, quando<br />

cada ministro e <strong>de</strong>legado vá um lugar on<strong>de</strong> possa<br />

estar sozinho, concentrar-se em meditação a respeito<br />

<strong>de</strong> si mesmo, seus <strong>de</strong>veres e responsabilida<strong>de</strong>s, sua<br />

posição em face <strong>de</strong> Jesus Cristo. Talvez seja útil convidar<br />

a igreja hospe<strong>de</strong>ira a acompanhar o Concílio<br />

nesta parte; d) culto público em que falem ao coração<br />

e à alma dos presentes, abrindo caminho <strong>para</strong> que<br />

Deus também lhes fale. Nada <strong>de</strong> controvérsias, nada<br />

<strong>de</strong> doutrinas, nada <strong>de</strong> referências às outras religiões.<br />

Tudo a respeito do tesouro inexaurível <strong>de</strong> amor,<br />

perdão, nova vida que Deus pôs diante <strong>de</strong> nós; e) um<br />

sentimento manifesto <strong>de</strong> que precisamos <strong>de</strong> alguma<br />

coisa, que vamos alcançar pela fé, pelo arrependimento,<br />

pela santificação em todos os trabalhos do<br />

Concílio.<br />

Um programa assim basta <strong>para</strong> <strong>de</strong>finir um homem.<br />

Seu gran<strong>de</strong> alvo <strong>para</strong> toda a <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil<br />

é este: "Penitenciemo-nos com arrependi-


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

189<br />

mento sincero. Clamemos até alcançar perdão e uma<br />

nova vida. Choremos nossos pecados, nosso<br />

passado, nossas falhas, nosso mundanismo, nosso<br />

egoísmo, até que tenhamos gozo em viver <strong>para</strong> Deus<br />

e somente <strong>para</strong> Êle."<br />

É o místico.<br />

----- 0O0 ----<br />

Em 1938, restabelecendo-se <strong>de</strong> grave enfermida<strong>de</strong><br />

originada por excesso <strong>de</strong> trabalho, escreve a um<br />

pastor:<br />

"Graças a Deus estou livre da "bicha". Não tenho mais<br />

febre. A incisão que recebi no primeiro granuloma<br />

cicatriza. O último granuloma absorvido pelo próprio<br />

organismo <strong>de</strong>saparece. Já dou passeios pela<br />

vizinhança. Preciso apenas <strong>de</strong> continuar em repouso e<br />

fortificar-me.<br />

As manifestações <strong>de</strong> simpatia e carinho, as orações<br />

feitas a meu favor nos dias amargos porque passei<br />

foram <strong>para</strong> mim um gran<strong>de</strong> conforto e talvez o melhor<br />

remédio".<br />

Sady Machado da Silva, ministro da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong><br />

do Brasil na Região Eclesiástica do Sul oferece estes<br />

versos aos itinerantes da <strong>Igreja</strong> na pessoa do Bispo<br />

brasileiro.


NELSON DE GODOY COSTA<br />

O ITINERANTE<br />

190<br />

Dedicado aos itinerantes da I.M.B., no dia <strong>de</strong> sua<br />

autonomia, na pessoa do Rev. mo Bispo Dr. César<br />

Dacorso Filho, e em memória do saudoso Bispo,<br />

Rev. m Dr. J. W. Tarboux .<br />

Cabeça erguida, face sorri<strong>de</strong>nte, Cadência firme<br />

sempre, olhar jucundo, Palestra amável, sã, por<br />

atraente, Semblante que se impõe com ar profundo.<br />

Na semeadura da boa semente,<br />

Alegre vai andando pelo mundo;<br />

De Deus, sendo, como é, um seu vi<strong>de</strong>nte,<br />

Ferindo o mal, o <strong>de</strong>ixa moribundo.<br />

Na luta pelo bem, jamais põe trégua; Itinerando sai, <strong>de</strong><br />

légua em légua, Arando a terra do Senhor na Vinha.<br />

De amor e fé armado é que peleja,<br />

Dizendo a quem admirado o veja:<br />

"O mundo eu tomo por paróquia minha".


CAPÍTULO SEGUNDO<br />

NA FAINA DO EPISCOPADO<br />

191<br />

Auxilia os pastores na direção das paróquias,<br />

recomendando-lhes, à aproximação do fim do exercício<br />

eclesiástico, especial cuidado na escolha <strong>de</strong> seus<br />

oficiais <strong>para</strong> o próximo ano. Bom será <strong>de</strong> antemão<br />

consultar as pessoas que preten<strong>de</strong> indicar sobre suas<br />

disposições <strong>de</strong> cumprirem fielmente os <strong>de</strong>veres que a<br />

lei estabelece <strong>para</strong> o cargo em vista, e bom será não<br />

indicar, on<strong>de</strong> fôr possível, uma pessoa <strong>para</strong> mais <strong>de</strong><br />

um cargo, assim como não indicar muitas pessoas da<br />

mesma família <strong>para</strong> diferentes cargos. Lembra que na<br />

<strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil não há postos <strong>de</strong>corativos<br />

ou honorários, mas postos que exigem muito trabalho<br />

e muita consagração.<br />

Pastor antes que Bispo, insiste na visitação pastoral a<br />

todos os membros arrolados na paróquia e por carta<br />

aos que resi<strong>de</strong>m além <strong>de</strong> seus limites. Tal trabalho<br />

<strong>de</strong>ve ter preferência a quase todos os outros e


192<br />

é o meio mais seguro <strong>de</strong> conservar a união das<br />

paróquias e <strong>de</strong> evitar a perda <strong>de</strong> membros da <strong>Igreja</strong>.<br />

No bicentenário wesleyano envia caloroso apelo a<br />

todos os ministros e leigos que dêem às<br />

comemorações o maior brilho possível e <strong>de</strong>pois<br />

alegra-se com as informações recebidas. Dois diários<br />

<strong>de</strong> vulto, além da imprensa interiorana, um no Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro outro em Porto Alegre, estam<strong>para</strong>m o retrato<br />

<strong>de</strong> João Wesley e <strong>de</strong>ram pormenorizadas notícias do<br />

Metodismo.<br />

Em 1938 entra nas suas cogitações o estabelecimento<br />

do trabalho metodista na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Salvador, capital<br />

da Bahia e em Goiânia, capital <strong>de</strong> Goiás, a cida<strong>de</strong><br />

menina do Brasil. São as duas maiores oportunida<strong>de</strong>s<br />

que vê presentemente e estuda com a Junta Geral <strong>de</strong><br />

Educação Cristã a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> todas as escolas<br />

dominicais unidas sustentarem o missionário que <strong>de</strong>ve<br />

ser brasileiro, que irá <strong>para</strong> Salvador. Na reunião do<br />

Conselho Central <strong>de</strong>sse mesmo ano estuda a<br />

ocupação <strong>de</strong> Curitiba a capital do Estado do Paraná<br />

por um missionário americano.<br />

Jornalista antes <strong>de</strong> ser pastor e agora pastor e<br />

jornalista trabalha pelo "Expositor Cristão" e luta pelo<br />

seu sustento próprio apresentando planos pertinentes<br />

ao gerente do jornal metodista que envolvem toda a<br />

<strong>Igreja</strong> na campanha.<br />

Sofre a pressão tremenda do tempo. É o elemento que<br />

mais lhe falta. Correspondência vultosa, concílios,<br />

juntas, relações com a <strong>Igreja</strong> Mãe, problemas<br />

numerosos que surgem sempre nas paróquias,<br />

conselhos superiores, leis nacionais, entrevistas,<br />

aprovação <strong>de</strong>


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

193<br />

planos convites <strong>para</strong> isto e <strong>para</strong> <strong>aqui</strong>lo, viagens, tudo se<br />

acumula sobre êle como verda<strong>de</strong>iras montanhas que não o<br />

<strong>de</strong>ixam <strong>para</strong>r um segundo. Nem sabe como sozinho tem<br />

aguentado tanta coisa. Deus o tem valido, certamente. Não<br />

é entretanto, o trabalho regular que muitas vezes amofina<br />

seu espírito, mas a má fé, a petulância, o politiquismo, o<br />

interesse subalterno doirado <strong>de</strong> justiça que aparece num<br />

ou noutro lugar <strong>para</strong> <strong>de</strong>sanimar os moços, <strong>para</strong> causar<br />

escândalo à <strong>Igreja</strong>. Espera, todavia, que os homens<br />

criteriosos da <strong>Igreja</strong>, ministros e leigos, saibam distinguir o<br />

trigo do joio.<br />

Questão que sempre o amargurou é a dos pensionados e<br />

jubilados. Apesar <strong>de</strong> claras as leis são drásticas nesse<br />

respeito e o Bispo brasileiro não po<strong>de</strong> afrouxá-las. Embora<br />

não concor<strong>de</strong> com elas não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> cumpri-las e<br />

fazer outros cumprirem também. Enten<strong>de</strong> que o<br />

aposentado e o jubilado, este com qualquer tempo <strong>de</strong><br />

serviço <strong>de</strong>vem receber pela mesma tabela dos ministros<br />

ativos. Não compreen<strong>de</strong> como um ministro <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> servir<br />

35 anos a <strong>Igreja</strong> e um ministro que involuntariamente se<br />

invalidou no serviço ativo <strong>de</strong>vam receber menos que um<br />

ministro ativo. Admite diferença apenas na quota <strong>para</strong><br />

aluguel <strong>de</strong> casa. Verda<strong>de</strong> é que não concorda que um<br />

jubilado mantido nas mesmas condições <strong>de</strong> um ativo,<br />

exerça qualquer trabalho <strong>para</strong> ganhar mais. Se po<strong>de</strong><br />

trabalhar, trabalhe <strong>para</strong> a <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong>ntro da tabela.<br />

Nesse sentido estuda leis pelo órgão oficial e apresenta<br />

sugestões à Comissão <strong>de</strong> Legislação. Sente<br />

7


NELSON DE GODOY COSTA<br />

194<br />

com tristeza que a <strong>Igreja</strong> é insensível ao seu<br />

pensamento.<br />

No segundo quatriênio <strong>de</strong> seu episcopado as leis eram<br />

assim. Hoje, entretanto o pensamento do Bispo<br />

brasileiro tem tido acolhida favorável e nossos<br />

aposentados e jubilados estão mais bem assistidos<br />

embora sua situação não seja ainda a <strong>de</strong>sejável.<br />

Sempre foi favorável às reuniões <strong>de</strong> confraternização<br />

das igrejas das diversas <strong>de</strong>nominações. Sente <strong>de</strong><br />

certo que <strong>para</strong> isso é preciso que elas estejam<br />

pre<strong>para</strong>das em espírito e em obras, longe <strong>de</strong><br />

facciosismos e proselitismos.<br />

Certa vêz dois pastores se <strong>de</strong>senten<strong>de</strong>ram. Um <strong>de</strong>les<br />

fez queixa ao Bispo. Procurando resolver essa<br />

dificulda<strong>de</strong> surgida entre dois lí<strong>de</strong>res da <strong>Igreja</strong>, o Bispo<br />

brasileiro que é pastor <strong>de</strong> pastores, respon<strong>de</strong> ao<br />

pastor queixoso numa carta em que <strong>de</strong>ixa ver seu<br />

espírito conciliador. Vale a pena ler um trecho:<br />

"Lamento <strong>de</strong>veras os inci<strong>de</strong>ntes que o prezado irmão<br />

menciona, ocorridos com o Rev ------------------------ ,<br />

superinten<strong>de</strong>nte do distrito. Levarei sua carta comigo<br />

ao Concílio Regional, <strong>para</strong>, com a prudência que o<br />

caso requer, saber mais <strong>de</strong> perto a respeito <strong>de</strong>le.<br />

Queira ter paciência e procurar sempre o caminho<br />

mais suave e fraternal <strong>para</strong> resolver qualquer<br />

divergência não só com o superinten<strong>de</strong>nte distrital,<br />

mas também com qualquer outro colega e mesmo<br />

membro da <strong>Igreja</strong> em suas paróquias.<br />

Eu sei que o Rev...., tem maneiras <strong>de</strong> nortista, bem<br />

diferentes das <strong>de</strong> nós outros do Centro e do Sul.


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

195<br />

Isso não se lhe po<strong>de</strong> levar a mal porque c questão <strong>de</strong><br />

mentalida<strong>de</strong> e génio. Talvez nós outros sejamos tão<br />

diferentes <strong>para</strong> èle quanto êle o é <strong>para</strong> nós. Sempre<br />

me lembro das dcsinteligéncias que há no Rio Gran<strong>de</strong><br />

do Sul entre gaúchos e baianos (assim chamam lá a<br />

todos os nascidos do Rio <strong>de</strong> Janeiro <strong>para</strong> cima)<br />

<strong>de</strong>sinteligências que às vezes vão a conflitos. Eu compreendo,<br />

entretanto, que são tão bons os gaúchos,<br />

como os baianos e que a luta se <strong>de</strong>ve à educação e<br />

formação mental tão diferentes que tiveram. Com isto<br />

não quero ajuizar ura ponto sequer sobre as<br />

dificulda<strong>de</strong>s que o irmão tem tido com o Rev...., mas<br />

apenas mostrar uma possibilida<strong>de</strong> <strong>para</strong> o <strong>de</strong>sacordo<br />

que há entre os dois.<br />

Estamos nas vésperas da reunião do Concílio<br />

Regional quando po<strong>de</strong>remos remediar qualquer situação<br />

da natureza da que o distinto irmão expõe".<br />

Cartas assim são necessárias <strong>de</strong> quando em quando.<br />

A <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil não admite a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que<br />

superinten<strong>de</strong>ntes distritais sejam fiscais <strong>de</strong> pastores.<br />

Na <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil também não há lugar<br />

<strong>para</strong> indolentes. A marcha acelerada do trabalho exige<br />

ação enérgica <strong>de</strong> seus pastores e não admite vadios.<br />

De outro lado todo o cuidado na escolha dos membros<br />

do gabinete pastoral é pouco. São humanos os<br />

superinten<strong>de</strong>ntes, sujeitos as mesmas falhas no trabalho<br />

pastoral. Falham se ao invés <strong>de</strong> ajudar o pastor<br />

como companheiro e amigo tomam a posição <strong>de</strong><br />

superior, abusam do po<strong>de</strong>r e pioram a<br />

situação.


NELSON DE GODOY COSTA<br />

196<br />

Tem havido homens sem o tato necessário que precipitam<br />

e <strong>de</strong>stroem.<br />

Há pastores <strong>de</strong> brio e <strong>de</strong> profundo senso <strong>de</strong> vocação<br />

que querem ir <strong>para</strong> o campo convictos <strong>de</strong> que sua<br />

nomeação foi orientada pelo Espírito Santo, trabalhar<br />

com o coração aberto no mais <strong>de</strong>licado e difícil <strong>de</strong><br />

todos os trabalhos; e não que sua nomeação foi ditada<br />

pelo espírito inferior <strong>de</strong> um superinten<strong>de</strong>nte que no<br />

gabinete nem ao menos <strong>de</strong>u razão <strong>de</strong> sua vonta<strong>de</strong> ou<br />

<strong>de</strong> um que votou a ida do pastor <strong>para</strong> essa ou aquela<br />

paróquia que êle superinten<strong>de</strong>nte não conhecia e por<br />

isso mesmo não podia opinar se era ou não a paróquia<br />

<strong>para</strong> aquele pastor.<br />

Tudo, entretanto, é gradativo. E nos gabinetes<br />

episcopais, graças a Deus tem sido <strong>para</strong> o melhor.


CAPÍTULO TERCEIRO<br />

QUALIDADES EXTRAORDINÁRIAS DE LÍDER<br />

197<br />

Seus dons <strong>de</strong> condutor <strong>de</strong> homens são notáveis. Esta<br />

não é propriamente uma biografia do gran<strong>de</strong> homem:<br />

ó um pequeno esboço biográfico. É um retrato<br />

imperfeito. Embora não nos falte material <strong>para</strong> uma<br />

fotografia muito melhorada, <strong>de</strong>ixamos <strong>de</strong> fazê-lo, no<br />

que não nos <strong>de</strong>sculpamos muito embora contrarie<br />

nossa disposição.<br />

Cremos, contudo, que outras biografias virão; outros<br />

livros <strong>de</strong> fôlego surgirão sobre a personalida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

entusiasmo contagiante do Bispo brasileiro, inspiração<br />

e convite insistente <strong>para</strong> amarmos muito mais a <strong>Igreja</strong><br />

<strong>Metodista</strong> do Brasil.<br />

A <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil é uma realida<strong>de</strong><br />

esplendorosa. É uma verda<strong>de</strong> no Brasil. Por isso<br />

mesmo precisa ser dirigida por mãos fortes e<br />

<strong>de</strong>cididas.


NELSON DE GODOY COSTA<br />

198<br />

O Senhor da seara respon<strong>de</strong>u aos anseios da <strong>Igreja</strong><br />

representada no Concílio Geral enviando <strong>para</strong> o<br />

episcopado César Dacorso Filho.<br />

Os parágrafos <strong>de</strong>sta terceira parte do livro<br />

— No episcopado — são pérolas esparsas <strong>de</strong> uma<br />

gran<strong>de</strong> vida oferecendo instantâneos <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong><br />

homem à condução <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> <strong>Igreja</strong>.<br />

No <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s informa com<br />

precisão e sugere com felicida<strong>de</strong> o trabalho que os<br />

pastores' <strong>de</strong>vem fazer em certas circunstâncias: "no<br />

dia 23 do corrente, 2a.-feira, <strong>de</strong>vem bal<strong>de</strong>ar, aí, das<br />

21,49 às 22,05, da E. F. Paulista <strong>para</strong> a E. F. Mojiana,<br />

o Rev. mo Bispo Ivon Lee Holt e o Rev. J. E. Ellis. Se<br />

pu<strong>de</strong>r ir à estação, com o Rev. W. G. Borchers, <strong>para</strong><br />

conhecer o primeiro e ajudar aos dois será favor. (Está<br />

escrevendo a um pastor resi<strong>de</strong>nte em Campinas).<br />

No dia 25 do corrente, 4a.-feira, os mesmos viajantes<br />

<strong>de</strong>vem bal<strong>de</strong>ar aí, das 6,17 às 10,03, da Mojiana <strong>para</strong><br />

a Paulista, <strong>para</strong> Piracicaba (tinham vindo <strong>de</strong> Poços <strong>de</strong><br />

Caldas). Como dispõem <strong>de</strong> quase quatro horas eu<br />

gostaria que a igreja <strong>de</strong> Campinas oferecesse a eles o<br />

seguinte:<br />

a) um café gostoso e suculento;<br />

b) um passeio <strong>de</strong> automóvel pela cida<strong>de</strong> <strong>para</strong> o<br />

Bispo Holt conhecê-la nos pontos principais;<br />

c) um ponto <strong>de</strong> repouso <strong>para</strong> o tempo restante;<br />

d) visita no passeio as nossas proprieda<strong>de</strong>s;<br />

e) estatísticas minuciosas <strong>de</strong> C a m p i n a s<br />

— bancos, estabelecimentos <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> todos os<br />

graus, casas <strong>de</strong> assistência, indústria, comércio, insti-


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

199<br />

tuições culturais, imprensa, rádio, estradas, assim<br />

como indicações da vida da cida<strong>de</strong>, se industrial,<br />

agrícola ou pecuária.<br />

f) em se<strong>para</strong>do estatísticas religiosas da cida<strong>de</strong>:<br />

igrejas, membros, socieda<strong>de</strong>s, estabelecimentos <strong>de</strong><br />

ensino e assistência social, imprensa etc, particularizando<br />

muito bem as metodistas.<br />

Queira combinar muito bem tudo isso com o Rev.<br />

Borchers e outros elementos que o possam ajudar.<br />

Em data que será anunciada, possivelmente na lêrçafeira,<br />

dia 29 <strong>de</strong> maio, visitará Campinas o Rev. Stanley<br />

Jones, em companhia <strong>de</strong> outros. Seu trabalho aí será<br />

inter<strong>de</strong>nominacional, num clube ou num teatro,<br />

pre<strong>para</strong>do por uma comissão composta <strong>de</strong> elementos<br />

<strong>de</strong> todas as igrejas campineiras."<br />

Cuidadoso como pastor, exigente consigo mesmo,<br />

Bispo exige dos pastores rigor no cumprimento do<br />

<strong>de</strong>ver sagrado. Diz que é <strong>de</strong>ver do pastor, ao ser<br />

nomeado <strong>para</strong> uma paróquia corrigir todas as irregularida<strong>de</strong>s<br />

que nela encontrar. A nova legislação or<strong>de</strong>na<br />

que êle comunique ao Bispo ou ao superinten<strong>de</strong>nte<br />

distrital quais as irregularida<strong>de</strong>s que encontrou.<br />

Merece-lhe especial atenção e carinho o dia da<br />

recepção <strong>de</strong> membros à comunhão da <strong>Igreja</strong>. Recomenda<br />

aos pastores que escolham <strong>de</strong> tempo em<br />

tempo um domingo <strong>para</strong> recepção <strong>de</strong> membros e<br />

batismos <strong>de</strong> crianças. 0 programa especial do culto<br />

dará mais solenida<strong>de</strong> ao ritual. Assim os cultos<br />

regulares não se


NELSON DE GODOY COSTA<br />

200<br />

esten<strong>de</strong>rão por mais tempo e não sofrerão alteração<br />

na or<strong>de</strong>m canónica estabelecida <strong>para</strong> eles.<br />

Em 1939 vai aos Estados Unidos como <strong>de</strong>legado<br />

fraternal à Uniting Conference. Em 1940 vai novamente<br />

a Norte América como <strong>de</strong>legado fraternal à<br />

primeira Conferência Geral da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong><br />

daquele país.<br />

Eleito <strong>de</strong>legado ao Concílio Internacional Missionário<br />

que se realizou em Madras, índia, <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong><br />

comparecer por motivo <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e nomeia <strong>para</strong><br />

substituí-lo o Rev. Dr. Derly <strong>de</strong> Azevedo Chaves.<br />

Zeloso das proprieda<strong>de</strong>s da <strong>Igreja</strong> entra em con-lato<br />

com os secretários regionais <strong>de</strong> Missões, guias leigos<br />

regionais, superinten<strong>de</strong>ntes distritais, Mesas<br />

administrativas e pastores <strong>para</strong> apressarem a legalização<br />

das proprieda<strong>de</strong>s em situação irregular. A esse<br />

propósito escreve a um pastor:<br />

"Alegro-me com sua ativida<strong>de</strong> em favor da legalização<br />

<strong>de</strong> nossas proprieda<strong>de</strong>s em suas duas paróquias.<br />

Fiquei <strong>de</strong>veras impressionado quando verifiquei que<br />

em nosso território tínhamos 115 proprieda<strong>de</strong>s e<br />

<strong>de</strong>pósitos <strong>de</strong> dinheiro em estado precário <strong>de</strong><br />

legalização, e com os prejuízos vultosos que com isso<br />

já havíamos sofrido. Des<strong>de</strong> então não tenho <strong>de</strong>ixado<br />

<strong>de</strong> clamar aos quatro ventos pedindo esforços<br />

conjugados <strong>de</strong> todos em pôr essas proprieda<strong>de</strong>s e<br />

<strong>de</strong>pósitos em or<strong>de</strong>m".<br />

Em ocasiões <strong>de</strong> concílios as igrejas principiaram a<br />

manifestar-se pedindo este ou aquele pastor.<br />

Procurando cortar pela raiz esse mal que po<strong>de</strong>ria ter


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

201<br />

consequências <strong>de</strong>sagradáveis o Bispo brasileiro<br />

insiste com as igrejas e mesmo com os irmãos clérigos<br />

e leigos que se abstenham <strong>de</strong> opinar sobre as<br />

nomeações pastorais. Isso porque os gabinetes<br />

episcopais têm sempre uma luta tremenda <strong>para</strong><br />

colocar no pastorado os elementos disponíveis <strong>de</strong><br />

modo a ter um superinten<strong>de</strong>nte <strong>para</strong> cada distrito, um<br />

ministro que po<strong>de</strong> ministrar os sacramentos ao lado <strong>de</strong><br />

um suplente que não po<strong>de</strong> fazê-lo <strong>para</strong> ajudá-lo nesse<br />

particular, a favorecer o levantamento dos subsídios<br />

<strong>de</strong>ntro da tabela, a aproveitar do melhor modo<br />

possível o trabalho dos já cansados, envelhecidos e<br />

doentes. Além do que não po<strong>de</strong>m consi<strong>de</strong>rar somente<br />

interesses <strong>de</strong> caráter pessoal e local senão os da<br />

própria <strong>Igreja</strong> em geral e do ministério em conjunto.<br />

Pedidos, abaixo assinados, sugestões, pareceres,<br />

produzem constrangimento <strong>para</strong> os gabinetes<br />

episcopais, e não atendidos, contra gosto <strong>para</strong> os que<br />

os formulam. De mais a mais é Metodismo que as<br />

paróquias não escolham seus pastores e que os<br />

pastores não escolham suas paróquias.<br />

Esta medida evita muitos aborrecimentos <strong>para</strong> as<br />

igrejas e corta nas bases um prece<strong>de</strong>nte perigoso.<br />

Sua paróquia é o Brasil por isso viaja sem cessar.<br />

Encontra-se agora nesse <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1938 na capital<br />

do país. Realiza no templo do Catête o casamento do<br />

Sr. Manoel V. Flores com a senhorinha Vera <strong>de</strong><br />

Andra<strong>de</strong>. Êle é secretário <strong>de</strong> Educação Religiosa da<br />

<strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do México; a jovem, um dos<br />

ornamentos da mocida<strong>de</strong> metodista brasileira.


NELSON DE GODOY COSTA<br />

202<br />

No Rio sua ativida<strong>de</strong> é intensa nas várias igrejas e nos<br />

colégios metodistas.<br />

Em todos seus passos na organização da <strong>Igreja</strong><br />

autónoma revela qualida<strong>de</strong>s extraordinárias <strong>de</strong> lí<strong>de</strong>r.


CAPÍTULO QUARTO<br />

CAMPANHAS DE EVANGELIZAÇÃO<br />

203<br />

A or<strong>de</strong>m "I<strong>de</strong> e pregai" e a exclamação "Ai <strong>de</strong> mim se<br />

não evangelizar" gritam no coração do Bispo brasileiro.<br />

Por isso mesmo orienta com meticuloso cuidado seus<br />

homens, os pastores metodistas na evangelização<br />

inteligente e organizada.<br />

Recebe dos Estados Unidos bonita soma em dinheiro<br />

<strong>para</strong> ser aplicada exclusivamente em viagens <strong>de</strong><br />

evangelização. Distribui uma parte igualmente pelas<br />

três regiões e outra parte distribui <strong>de</strong> acordo com o<br />

esforço que cada uma <strong>de</strong>las <strong>de</strong>monstrar em plano,<br />

execução e aproveitamento.<br />

Com semelhante recurso em mão <strong>de</strong>seja que o ano se<br />

caracterize por um tremendo esforço <strong>de</strong> evangelização<br />

em todo o território da <strong>Igreja</strong>, da parte dos ministros e<br />

leigos.


NELSON DE GODOY COSTA<br />

204<br />

Acentua o tremendo empenho <strong>de</strong> evangelização<br />

porque não visa esforços isolados <strong>aqui</strong> e ali, <strong>de</strong>spendidos<br />

sem pre<strong>para</strong>ção, por conveniência <strong>de</strong> ocasião<br />

ou <strong>de</strong> pessoa, e porque não visa também pequenos<br />

movimentos sem frutos porque sem alma e sem vida,<br />

a que fiquem alheias as igrejas, que <strong>de</strong>ixam sem<br />

qualquer abalo ou impressão o povo, e porque não<br />

visa ainda um trabalho <strong>de</strong> exibições, especialmente<br />

no púlpito.<br />

O que <strong>de</strong>veras contempla é alguma coisa semelhante<br />

aos avivamentos metodistas <strong>de</strong> outrora alguma coisa<br />

que fira a sensibilida<strong>de</strong> e mova a consciência dos<br />

ouvintes, que vá ao fundo do coração dos pecadores,<br />

que venha <strong>de</strong> Deus por nosso meio, alguma coisa em<br />

que <strong>de</strong>saparecemos e a graça re<strong>de</strong>ntora opere a<br />

salvação <strong>de</strong> homens e mulheres. Alguma coisa assim<br />

que não temos tido mas <strong>de</strong> que precisamos muito.<br />

Crê que as campanhas <strong>de</strong>vem fazer-se por distritos,<br />

pela economia quanto possível <strong>de</strong> tempo, viagens e<br />

homens incumbidos da pregação. Uma campanha só,<br />

feita no tempo mais oportuno, <strong>de</strong> uma só vez, em cada<br />

distrito, abrangendo os pontos principais, estratégicos<br />

e mais promissores em cada paróquia.<br />

Com esse fim sugere:<br />

1) Dado que não posso estar presente a cada<br />

campanha, cada secretário regional <strong>de</strong> Missões<br />

articule c oriente com o superinten<strong>de</strong>nte distrital do<br />

melhor modo possível. Façam o programa, marquem a<br />

data e escolham o pregador.


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

205<br />

Visto que os fundos ao seu dispor se <strong>de</strong>stinam<br />

exclusivamente <strong>para</strong> viagens <strong>de</strong> evangelização, cada<br />

paróquia favorecida no empenho faça sua parte<br />

hospedando convenientemente o pregador, provi<strong>de</strong>nciando<br />

convites, cartões <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão, impressos <strong>para</strong><br />

os en<strong>de</strong>reços dos candidatos, serviço <strong>de</strong> colportagem,<br />

coro, visitação e tudo o mais.<br />

2) haja em cada paróquia favorecida no empenho<br />

intenso trabalho <strong>de</strong> pre<strong>para</strong>ção <strong>para</strong> a campanha:<br />

a) reuniões <strong>de</strong> oração e estudo bíblico <strong>de</strong><br />

evangelização; b) instrução aos membros da <strong>Igreja</strong><br />

sobre a parte que lhes toca antes, durante e <strong>de</strong>pois da<br />

campanha; c) nomeações <strong>de</strong> comissões.<br />

4) Façam-se anúncios das pregações, em cada<br />

lugar, por todos os meios disponíveis — rádio,<br />

imprensa, boletins, cartazes, cartas, cartões, etc.<br />

5) Adotem-se nas reuniões os horários e folhetos<br />

especiais, <strong>para</strong> essas ocasiões feitos pela Junta Geral<br />

<strong>de</strong> Missões.<br />

6) Uma comissão especial <strong>para</strong> visitar autorida<strong>de</strong>s,<br />

imprensa, escolas fábricas, socieda<strong>de</strong>s etc.<br />

7) A cada candidato sejam entregues: a) um cartão<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão <strong>para</strong> que o date, assine e o guar<strong>de</strong> com<br />

lembrança <strong>de</strong> sua conversão; b) um impresso <strong>para</strong><br />

preencher com o en<strong>de</strong>reço, o qual ele <strong>de</strong>volverá ao<br />

pastor <strong>para</strong> efeito do que estabelecem os cânones —<br />

artigo 142-8.<br />

8) Fiquem os candidatos terminada a campanha,<br />

sob as vistas e cuidados da igreja. Sejam


NELSON DE GODOY COSTA<br />

206<br />

visitados, estimulados, instruídos. Os homens com os<br />

homens, as senhoras com as senhoras, os jovens com<br />

os jovens. Sejam convidados <strong>para</strong> as respectivas<br />

socieda<strong>de</strong>s e escola dominical. Recebam abundante<br />

provisão <strong>de</strong> literatura. Tudo isso sob a direção do<br />

pastor. O ponto culminante <strong>de</strong> uma campanha c o da<br />

apresentação dos candidatos. Não menos importante<br />

e talvez mais importante ainda é o da cultivação e<br />

consolidação que eles <strong>de</strong>vem ter em seguimento da<br />

campanha.<br />

9) Feito o alistamento prescrito pelos cânones<br />

enha o pastor reuniões seguidas com os candidatos —<br />

reuniões <strong>de</strong> oração, <strong>de</strong> estudos bíblicos, <strong>de</strong> explicação<br />

<strong>de</strong> nossas regras, costumes e doutrinas.<br />

10) Se possível dê-se imediatamente a cada<br />

candidato o Novo Testamento.<br />

11) Simultaneamente com a campanha um colportor<br />

munido <strong>de</strong> Bíblias, Novos Testamentos, Evangelhos,<br />

livros da Imprensa <strong>Metodista</strong>, periódicos metodistas,<br />

etc, <strong>de</strong>ve percorrer o lugar.<br />

12) Dentre as instruções dadas previamente aos<br />

membros da <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong>vem estar as da recepção e<br />

colocação dos visitantes na sala da pregação, apresentação<br />

<strong>de</strong>les ao pregador e pastor, entrega a eles<br />

<strong>de</strong> folhetos e do hinário da campanha.<br />

13) Nem nas pregações nem na literatura distribuída<br />

durante a campanha entrem assuntos <strong>de</strong> controvérsia,<br />

senão exclusivamente o Evangelho da graça<br />

salvadora.


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

207<br />

14) Dos resultados <strong>de</strong> cada campanha se façam<br />

estatísticas.<br />

----- 0O0 ----<br />

Estas sugestões nascem do cérebro do organizador e<br />

do coração do pastor. Postas em prática,<br />

rigorosamente, cuidadosamente, os frutos aparecerão<br />

na conversão <strong>de</strong> pecadores e no aumento dos<br />

cidadãos do Reino dos Céus.


CAPÍTULO QUINTO<br />

PASTOR DE PASTORES NO CUIDADO<br />

PASTORAL<br />

208<br />

Pastor <strong>de</strong> pastores, nacionais ou missionários, a todos<br />

aten<strong>de</strong> com a mesma solicitu<strong>de</strong>. Envia cartas<br />

cre<strong>de</strong>nciais <strong>para</strong> serem apresentadas aos consulados<br />

brasileiros nos Estados Unidos ao Rev. C. L. Smith e<br />

família, Dr. An<strong>de</strong>rson Weaver e família, miss Gertru<strong>de</strong><br />

Kennedy, miss Ruth An<strong>de</strong>rson a fim <strong>de</strong> po<strong>de</strong>rem<br />

regressar ao Brasil. Dá aos brasileiros nolícias dos<br />

missionários em férias no torrão natal.<br />

Viajando <strong>para</strong> o Sul, entrevista-se a bordo do vapor<br />

Itaité, em Santos com os professores Afonso Romano<br />

Filho e Irineu Guimarães sobre problemas do gran<strong>de</strong><br />

Colégio Piracicabano. Em Porto Alegre <strong>de</strong>sdobra-se<br />

em trabalhos durante vários dias. Vai às minas <strong>de</strong> São<br />

Jerónimo, as maiores, dizem <strong>de</strong> toda


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

209<br />

a América do Sul. Para chegar a ela viaja pelo rio<br />

Jacuí, quatro horas e meia <strong>de</strong> vapor e uma hora <strong>de</strong><br />

ônibus.<br />

As minas <strong>de</strong> carvão <strong>de</strong> São Jerónimo ficam perto das<br />

<strong>de</strong> Butiá. Ambas fazem parte <strong>de</strong> uma enorme bacia<br />

carbonífera. Aquelas já se exploram por uma<br />

penetração em plano inclinado por braços <strong>de</strong> mais <strong>de</strong><br />

dois mil operários, dois ramais <strong>de</strong> estradas <strong>de</strong> ferro,<br />

dois portos <strong>de</strong> embarque e uma usina elétrica. No<br />

interior das minas três turmas <strong>de</strong> trabalhadores se<br />

suce<strong>de</strong>m ininterruptamente <strong>de</strong> oito em oito horas. Por<br />

cima, além das vastas oficinas, a casaria dos<br />

funcionários e operários, com clubes, cinema,<br />

farmácia, hospital <strong>de</strong> emergência, cooperativa.<br />

O Bispo brasileiro olha <strong>para</strong> as possibilida<strong>de</strong>s da<br />

<strong>Igreja</strong>: um homem forte e ativo, que <strong>para</strong> viajar não<br />

queira <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r muito <strong>de</strong> verbas votadas no Concílio<br />

Regional, colocado na <strong>Vila</strong> São Jerónimo ou na <strong>Vila</strong> do<br />

Triunfo, po<strong>de</strong>ria rapidamente criar um bom circuito<br />

com as vilas e povoados que enxameiam as margens<br />

dos rios Jacuí, Taquarí, Cahí e outros cm percursos<br />

relativamente pequenos: as vilas <strong>de</strong> São Jerónimo,<br />

Triunfo, Santo Amaro, Estrela além <strong>de</strong> outras e os<br />

povoados do Butiá, Arroio dos Ratos, Con<strong>de</strong>, Margem,<br />

Barretos, Granja Carola, Xarqueada, além <strong>de</strong> outros.<br />

Conclui suas aspirações: e se esse pregador tivesse<br />

uma pequena lancha movida a gasolina seu trabalho<br />

daria resultados ainda melhores.<br />

Agora encontra-se no Estado <strong>de</strong> São Paulo.


NELSON DE GODOY COSTA<br />

210<br />

Está na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Rio Preto. Prega, batiza, reúne-se<br />

com oficiais, assiste Concílio Paroquial, orientando,<br />

examina livros. A paróquia <strong>de</strong> Rio Preto é posto<br />

avançado do Metodismo na direção em que os<br />

gran<strong>de</strong>s Estados <strong>de</strong> Minas Gerais, Goiás e Mato<br />

Grosso se confinam. Ocupa zona vastíssima.<br />

De Rio Preto vai a Olímpia, posto avançado do<br />

Metodismo em direção do extremo do Triângulo<br />

Mineiro. De Olímpia ruma Ribeirão Preto, on<strong>de</strong> o<br />

célebre Colégio <strong>Metodista</strong> foi fechado <strong>para</strong> se abrir o<br />

Instituto <strong>Metodista</strong>. Ao passo que a <strong>Igreja</strong> fêz isso<br />

abriram-se mais dois ginásios na cida<strong>de</strong> que passa a<br />

ficar com sete ginásios. Há opiniões fortes em favor da<br />

volta do Colégio embora o Instituto esteja prestando<br />

bons serviços. Completa o itinerário em Franca a<br />

cida<strong>de</strong> que possui um dos melhores templos pela sua<br />

localização e disposição que apresenta.<br />

Ainda no Estado <strong>de</strong> São Paulo vai ao asilo-co-lônia<br />

Pirapitinguy, levando conforto aos leprosos. Na<br />

companhia dos Revs. \V. G. Borchers, metodista; José<br />

Borges dos Santos Júnior, presbiteriano; Orlando<br />

Ferraz, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte; <strong>de</strong> vários leigos, consagra o<br />

templo, fruto da cooperação das várias <strong>de</strong>nominações.<br />

Pirapitinguy está a 120 quilómetros <strong>de</strong> São Paulo por<br />

estrada <strong>de</strong> rodagem servido também por estrada <strong>de</strong><br />

ferro. Encontram-se ali cerca <strong>de</strong> dois mil internados<br />

que moram em casa muito boas, têm igrejas,<br />

biblioteca, cinema, banda <strong>de</strong> música, bares, hospitais,<br />

fábricas, criações. É um monumento do esforço<br />

humanitário do governo <strong>de</strong> São Paulo.


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

211<br />

Viajante das longas caminhadas, são inúmeros<br />

itinerários semelhantes a este: "Deus permitindo farei<br />

o seguinte itinerário cm continuação ao que já<br />

publiquei: outubro, 10 Carazinho; 11 e 12 Cruz Alta;<br />

13-15 Santa Maria; 16-19 Porto Alegre; 20 General<br />

Câmara; 21 Rio Pardo; 22 Cachoeira; 23 e 24 Santa<br />

Maria; 25 e 20 Livramento; 27 Rosário; 28-30 Quaraí.<br />

Outubro, 30. Novembro, 2 Alegrete; novembro, 8-10<br />

Uruguaiana; novembro, 11 Santa Maria. Itinerários<br />

como este <strong>para</strong> os Estados do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul,<br />

Minas Gerais, Rio <strong>de</strong> Janeiro, São Paulo inúmeras<br />

vezes são publicados no órgão oficial <strong>para</strong> conhecimento<br />

das cida<strong>de</strong>s interessadas e <strong>de</strong> toda a <strong>Igreja</strong> que<br />

acompanha com preces as ativida<strong>de</strong>s do viajante das<br />

longas caminhadas.<br />

Em todos e <strong>de</strong> todos os lugares recebe e expe<strong>de</strong><br />

correspondência que ultrapassa a centenas <strong>de</strong> cartas<br />

por mês. Tem <strong>para</strong> isso o cuidado <strong>de</strong> informar com<br />

precisão o lugar em que se encontra cada dia e o<br />

en<strong>de</strong>reço exalo do hotel ou residência em que se<br />

hospeda.<br />

Agora encontra-se cm companhia dos Revs. Daniel L.<br />

Betts e J. R. Saun<strong>de</strong>rs no Estado do Paraná. Estuda a<br />

região e o melhor ponto <strong>de</strong> localizar um obreiro<br />

visando o <strong>de</strong>sdobramento da paróquia <strong>de</strong> Porto União<br />

e União da Vitória. Vai à Ponta Grossa, linda cida<strong>de</strong> e<br />

dirige-se a Curitiba a capital, admirando-lhe o<br />

progresso extraordinário c concluindo ser esplêndido<br />

ponto <strong>de</strong> irradiação <strong>para</strong> o trabalho metodista.


NELSON DE GODOY COSTA<br />

212<br />

Algumas escolas dos Estados Unidos ofereceram<br />

bolsas a ministros e professores mediante certas<br />

condições. O Bispo brasileiro pensa que até o ponto<br />

em que não prejudique o trabalho pastoral no Brasil<br />

po<strong>de</strong> facilitar aos ministros o gozo <strong>de</strong>ssa oportunida<strong>de</strong>.<br />

Deixa, porém, bem claro que o fato <strong>de</strong> um ministro ter<br />

cursado uma universida<strong>de</strong> americana, obtido mais<br />

estes e aqueles diplomas não lhe dará direito a<br />

qualquer nomeação que não seja <strong>para</strong> o pastorado e<br />

essa em pé <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> com qualquer outro ministro.<br />

É claro, franco, preciso.<br />

Pensa na criação <strong>de</strong> pensionatos <strong>para</strong> moças e moços<br />

crentes — estudantes, funcionários públicos,<br />

empregados no comércio, etc, — no Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />

São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre.<br />

Para que a <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil seja conhecida<br />

nos Estados Unidos nomeia o Rev. Prof. Jalmar<br />

Bow<strong>de</strong>n agente <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>, pedindo <strong>para</strong> êle toda<br />

a cooperação dos crentes.<br />

Suas vistas se voltam <strong>para</strong> a evangelização nas<br />

penitenciárias. Louva o esforço que a paróquia <strong>de</strong><br />

Pedro Leopoldo vem fazendo na evangelização dos<br />

sentenciados da Penitenciária <strong>de</strong> Neves, Minas, on<strong>de</strong><br />

setenta <strong>de</strong>ntre eles já se resolveram pelo Evangelho.<br />

Pastor antes <strong>de</strong> Bispo tendo recebido nomeações <strong>para</strong><br />

os campos mais diversos, <strong>para</strong> on<strong>de</strong> foi sempre com o<br />

coração posto no trabalho, tem como medida salutar<br />

que nenhum ministro permaneça mais <strong>de</strong> quatro anos<br />

consecutivos na mesma paróquia; que nenhum pastor<br />

seja nomeado <strong>para</strong> paróquias on<strong>de</strong>


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

213<br />

tenha parentes. Quando se tratar da nomeação pastoral<br />

<strong>de</strong> um superinten<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>ve êle ausentar-se do<br />

gabinete. Do mesmo modo enten<strong>de</strong> que qualquer<br />

nomeação se <strong>de</strong>ve fazer com votação unânime do<br />

gabinete episcopal, salvo nos intervalos das reuniões<br />

dos concílios regionais.<br />

Enten<strong>de</strong> e o faz com justa razão que ser metodista é<br />

ser contribuinte liberal. Para isso pe<strong>de</strong> que não se<br />

esmoreça em parte alguma, por parte dos pastores,<br />

guias-leigos e ecônomos a campanha dos 100% dos<br />

membros da <strong>Igreja</strong> em cada igreja, contribuintes<br />

sistemáticos, mensais e se possível, dizimistas.<br />

Está em São Paulo. E em companhia dos Revs.<br />

Afonso Romano Filho, José <strong>de</strong> Azevedo Guerra, W. G.<br />

Borchers, Sérvulo Carolino Santana e Srs. Fernando<br />

Buonaduce, Eulálio Ferraz <strong>de</strong> Campos, e Sebastião<br />

Pereira visita a estação irradiadora Tupy, a mais<br />

possante do Brasil e o campo <strong>de</strong> aviação do Estado,<br />

hoje Congonhas e um dos maiores do mundo.<br />

Dá as primeiras notícias do "O Cenáculo", dizendo<br />

termos a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ler em português a<br />

excelente revista "The Upper Room", feita pelo Board<br />

of Missions <strong>para</strong> especialmente o culto doméstico.<br />

Informa já existir em espanhol que po<strong>de</strong>ria ser <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

logo usada no Brasil.<br />

Estamos procurando oferecer aos nossos amáveis<br />

leitores aspectos <strong>de</strong>ssa personalida<strong>de</strong> extraordinariamente<br />

bem formada. E concluindo este capítulo a que<br />

intitulamos "Pastor <strong>de</strong> pastores no cuidado pastoral"


NELSON DE GODOY COSTA<br />

214<br />

vamos transcrever um trecho <strong>de</strong> ouro <strong>de</strong> uma circular<br />

aos superinten<strong>de</strong>ntes distritais:<br />

"... De fato se há reunião em que <strong>de</strong>vemos e po<strong>de</strong>mos<br />

procurar <strong>de</strong> modo particular alguma coisa semelhante<br />

a que João wesley conseguiu em 24 <strong>de</strong> maio, é o<br />

concílio distrital. E <strong>de</strong> mim espero que os concílios<br />

distritais sejam na providência divina, o momento<br />

propício <strong>para</strong> a renovação <strong>de</strong> nossas energias morais<br />

e espirituais, dando à <strong>Igreja</strong> a visão clara do que ela<br />

<strong>de</strong>ve ser, precisa ser <strong>para</strong> ter lugar neste mundo, e a<br />

capacida<strong>de</strong> necessária <strong>para</strong> o cumprimento <strong>de</strong> sua<br />

missão.<br />

Não nos esqueçamos disto o Metodismo surge entre<br />

os homens como resultado <strong>de</strong> experiências religiosas<br />

profundas, alcançadas por almas piedosas. São<br />

reuniões <strong>de</strong> Oxford. É Wesley em Al<strong>de</strong>rsgate, a sentir<br />

o coração abrasado e uma convicção inflexível sobre<br />

Jesus Cristo.<br />

E não somente surge assim. Também vive assim nos<br />

seus dias áureos, quando realiza em toda a parte até<br />

nas menores congregações as reuniões <strong>de</strong> testemunho<br />

e as festas <strong>de</strong> carida<strong>de</strong>. É sua característica.<br />

Não é religião <strong>de</strong> intelectualismo <strong>de</strong> ortodoxismos, <strong>de</strong><br />

ritualismos ou <strong>de</strong> controvérsias. Ê religião da<br />

experiência da graça <strong>de</strong> Deus trazida por Jesus <strong>para</strong><br />

nossa salvação e nossa felicida<strong>de</strong>.<br />

É manifesta, apesar disso a nossa pobreza <strong>de</strong><br />

experiência nestes dias. Parece até que chegamos a<br />

per<strong>de</strong>r a visão do cenário maravilhoso que nossos<br />

antepassados espirituais nos legaram com exemplo e


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

215<br />

estímulo! Quantas e quantas preocupações<br />

subalternas terrenas imediatas nos vêm dominando<br />

com prejuízo da "se<strong>de</strong> do Deus vivo"; do propósito <strong>de</strong><br />

respon<strong>de</strong>r, como Samuel, aos apelos divinos: "Fala,<br />

Senhor, porque teu servo ouve" — da <strong>de</strong>cisão que<br />

<strong>de</strong>veríamos manter — "Eis-me <strong>aqui</strong>, envia-me a<br />

mim".


CAPÍTULO SEXTO<br />

VAI A CONFERÊNCIA GERAL DA IGREJA<br />

METODISTA DOS ESTADOS UNIDOS<br />

216<br />

Escritor primoroso, suas impressões <strong>de</strong> viagem aos<br />

Estados Unidos, on<strong>de</strong> toma parte na Conferência<br />

Geral da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>, constituem não apenas<br />

enriquecimento <strong>para</strong> este livro, mas principalmente<br />

prazer muito gran<strong>de</strong> <strong>para</strong> o leitor que encontrará nelas<br />

o espírito aguçado do jornalista observador <strong>de</strong> todas<br />

as coisas no gran<strong>de</strong> país do Norte, ao lado da <strong>de</strong>cisão<br />

do Bispo brasileiro em trazer <strong>para</strong> a sua <strong>Igreja</strong>* os<br />

melhores resultados da reunião americana.<br />

Ler estas impressões é distrair o espírito que<br />

acompanha o Príncipoe da <strong>Igreja</strong> Meto-


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

217<br />

dista do Brasil em sua, viagem por outras terras e<br />

oferecer à inteligência riquezas literárias <strong>de</strong> uma vida<br />

religiosa.<br />

NO MAR A BORDO DO "BRASIL"<br />

Mais trinta e seis horas e, pela quarta vez, pisarei terra<br />

dos Estados Unidos. Pensamentos muitos, variados,<br />

por vezes contraditórios, se <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>iam em meu<br />

cérebro, alguns com força <strong>de</strong> tempesta<strong>de</strong>. Resultantes,<br />

quase todos, das responsabilida<strong>de</strong>s que Deus,<br />

por meio da <strong>Igreja</strong>, lançou sobre mim, em meio ao<br />

tremendo turbilhão da vida, que, cada vez mais, com o<br />

perpassar do tempo, o estudo, a observação, a experiência<br />

e até e sobretudo as percussões íntimas da fraqueza<br />

humana, vou conhecendo. Entre eles assomou,<br />

como uma nota <strong>de</strong> alívio, trasvazar um pouco da<br />

cabeça carregada <strong>para</strong> o "Expositor Cristão", como fiz<br />

em princípios <strong>de</strong> 1939.<br />

Sejam minhas primeiras expressões <strong>de</strong> muita gratidão<br />

a lodos que foram, em Juiz <strong>de</strong> Fora e no Rio, no<br />

momento da partida, levar-me <strong>de</strong>spedidas e, com elas,<br />

votos <strong>de</strong> viagem feliz. Esten<strong>de</strong>m-sc, com o mesmo<br />

reconhecimento, aos que, por igual motivo, me escreveram<br />

cartas e passaram telegramas. E, mais ainda,<br />

aprestos e pre<strong>para</strong>ção do necessário <strong>para</strong> a travessia<br />

aos que, <strong>de</strong> diferentes maneiras, me ajudaram nos do<br />

mar e entrada no estrangeiro.


NELSON DE GODOY COSTA<br />

218<br />

O "BRASIL", da Frota da Boa Vizinhança, que me<br />

transporta do Rio <strong>para</strong> Nova Iorque, é o mesmo vapor<br />

que, por último, me transportou <strong>de</strong> Nova Iorque <strong>para</strong> o<br />

Rio. A tripulação é, ainda, quase toda, a mesma. As<br />

acomodações internas sofreram modificações. A<br />

or<strong>de</strong>m afrouxou alguma coisa, efeito natural <strong>de</strong> todas<br />

as rotinas. De qualquer maneira, <strong>de</strong>slocando 33 mil<br />

toneladas, é o "BRASIL" um dos gran<strong>de</strong>s<br />

transatlânticos.<br />

A vida <strong>de</strong> bordo, <strong>aqui</strong>, creio, é a <strong>de</strong> todos os navios <strong>de</strong><br />

passageiros, com poucas variantes. Bailes, "cocktails",<br />

um diàriozinho, piscina, jogos, cinema, leitura,<br />

vitrolas, rádios, banhos <strong>de</strong> sol, teatrinho, <strong>para</strong>das (!),<br />

palestras, escrevinhações, etc. Alguns passageiros se<br />

<strong>de</strong>moram, dormindo, <strong>de</strong>pois do meio-dia, sob as<br />

cobertas. Outros se vão tostando, escandalosamente,<br />

horas a fio, ao sol, sobretudo pela manhã.<br />

Os rapazes, acompanhados <strong>de</strong> "girls" que terminaram<br />

contratos nos cassinos do Rio e Buenos Aires, se<br />

<strong>de</strong>ixam ficar, até madrugada, no bar, bebendo e<br />

fumando. Dos jogos avultam o baralho, o dado, o Jack<br />

Pot, o bingo, a corrida <strong>de</strong> cavalos (pequeninos, <strong>de</strong><br />

ma<strong>de</strong>ira, bem entendidos). Nem sempre e nem todos,<br />

a dinheiro. Há, também, dos chamados inocentes<br />

como o saffleboard e o lançamento <strong>de</strong> argolas, bons<br />

passa-tempos.<br />

Deram-me, <strong>de</strong>sta vêz, uma cabina excelente,<br />

ventilada, ampla, clara. De um lado, a minha cama; do<br />

outro, a do Harvey Moore.


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

219<br />

Vai, <strong>de</strong> meio a tudo, uma verda<strong>de</strong>ira salada <strong>de</strong><br />

religiões. Somos vários ministros metodistas, presbiterianos,<br />

batistas, pentecostais, luteranos, sabatistas,<br />

vindos do Brasil, Uruguai e Argentina. Alguns são<br />

missionários que regressam à Pátria, em férias. Um<br />

capelão, católico, diz várias missas por dia. As freiras<br />

nos fazem companhia, entre os turistas. E, <strong>para</strong><br />

cúmulo, o meu camareiro, um italiano avolumado, se<br />

chama Profeta. Tivemos, no único domingo que<br />

passamos a bordo, um culto, no salão nobre da la.<br />

classe, dirigido por um pastor luterano. Os metodistas<br />

nos reunimos, todas as noites, na cabina do Bispo<br />

Gattinoni, <strong>para</strong> leitura bíblica e oração.<br />

Uma nota interessante — temos chimarrão, do bom, 4<br />

vezes por dia. Os metodistas, uruguaios e argentinos<br />

trouxeram cuias, bombas e erva em gran<strong>de</strong><br />

quantida<strong>de</strong>.<br />

Ainda bem!<br />

Dois livros li até <strong>aqui</strong>: Pedra Bonita, que me emprestou<br />

o Dr. Weaver, e Paulo <strong>de</strong> Tarso, que adquiri. O<br />

primeiro, escrito por José Lins do Rêgo, num estilo<br />

realista, exaustivo, <strong>de</strong> repetições <strong>de</strong>snecessárias, em<br />

que não entra qualquer propósito <strong>de</strong> respeito aos<br />

mo<strong>de</strong>los tradicionais da língua, é uma <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong><br />

costumes do "hinterland" nor<strong>de</strong>stino do Brasil, com as<br />

consequências do fanatismo, da política e da<br />

ignorância, carregadas, é <strong>de</strong> ver, dos exageros dos<br />

que escrevem e falam sobre <strong>de</strong>terminados tópicos. O<br />

segundo é da autoria do padre Roh<strong>de</strong>n, conhecido<br />

publicista católico. Já li diversas biografias do apóstolo


220<br />

das Gentes. Nenhuma, porém, me penetrou a alma<br />

com tamanha veemência como essa, feita pelo<br />

sacerdote gaúcho. É trabalho que obriga o leitor a<br />

pensar e <strong>de</strong>cidir. Nele há inspiração fecunda,<br />

espiritualida<strong>de</strong> vibrante, conhecimentos sólidos,<br />

português escorreito, estilo agradável. Recomendo-o,<br />

com a maior instância, a todos os evangélicos,<br />

maximé aos ministros. Pela segunda vêz eu o leio.<br />

Fizemos exercício contra incêndios duas vezes. Já<br />

atrasamos os relógios duas horas <strong>para</strong> correspon<strong>de</strong>rmos<br />

à diferença das longitu<strong>de</strong>s. Recebemos, com<br />

muita amargura, a notícia da invasão da Dinamarca e<br />

da Noruega, das batalhas navais ultimamente feridas<br />

entre ingleses e alemães.<br />

Vou à Conferência Geral da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> (dos<br />

Estados Unidos) sem gran<strong>de</strong>s esperanças com<br />

respeito ao que eu possa fazer a favor do Metodismo<br />

brasileiro. A Board of Missions do Sul já não toma<br />

iniciativas e <strong>de</strong>saparecerá ao término da gran<strong>de</strong><br />

assembleia <strong>de</strong> Atlântico City — contudo, manterá seus<br />

serviços até ao último instante. Ninguém sabe <strong>de</strong><br />

quem se comporá a Board of Missions da nova <strong>Igreja</strong>.<br />

Parece que, pelo menos, os secretários e oficiais<br />

outros das três velhas Board of Missions <strong>de</strong>veriam<br />

integrar a nova, no primeiro quatriênio, <strong>para</strong> se<br />

evitarem as dificulda<strong>de</strong>s e colapsos das mudanças<br />

radicais e repentinas em seus trabalhos. Se certa<br />

política <strong>de</strong> preferências pessoais, a que a própria<br />

<strong>Igreja</strong> não pô<strong>de</strong> ainda fugir, atuar na eleição da nova<br />

Board of Missions, seus secretários e oficiais outros,<br />

eliminar os elementos conhecedores dos


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

221<br />

campos missionários e introduzir elementos que os<br />

ignoram — tudo isso com a pretensa necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

uma remo<strong>de</strong>lação, novos métodos, i<strong>de</strong>ias mo<strong>de</strong>rnas,<br />

etc, produzirá, inevitavelmente, <strong>para</strong> nós e outros, no<br />

estrangeiro, embaraços mais ou menos graves.<br />

Acresce que a nova Board of Missions terá <strong>de</strong><br />

qualquer maneira, <strong>de</strong> ajustar os seus regulamentos e<br />

não empreen<strong>de</strong>rá, suponho, por necessida<strong>de</strong>,<br />

qualquer avanço, antes que eles estejam feitos e<br />

<strong>de</strong>vidamente aprovados. Também, que muitas das<br />

relações pessoais que prendiam a <strong>Igreja</strong>-Mãe às<br />

<strong>Igreja</strong>s autónomas, às Conferências Centrais, às<br />

missões, e cimentavam gran<strong>de</strong> confiança <strong>para</strong> o<br />

intercâmbio natural e imprescindível entre elas, po<strong>de</strong>m<br />

anular-se inteiramente e ficarem sem substitutas, por<br />

longo tempo, até que outras da mesma consistência<br />

se formem. Desejo que compreendam os meus irmãos<br />

do Brasil a situação que por esses e quejandos<br />

motivos tenho <strong>de</strong> enfrentar nos Estados Unidos, <strong>para</strong><br />

conseguir <strong>de</strong>liberação favorável a encargos <strong>de</strong> muito<br />

relevo que me cometeram. A única coisa que lhes<br />

posso hipotecar é — boa vonta<strong>de</strong>.<br />

CHEGANDO A NOVA IORQUE<br />

O "Brasil" chegou a Nova Iorque no dia 13 e atracou<br />

imediatamente. Chegou com um dia <strong>de</strong> antecedência,<br />

porque veio diretamente do Rio. Desta vêz


NELSON DE GODOY COSTA<br />

222<br />

não fêz escala em Trinidad. Era cedo quando entrou<br />

no porto.<br />

A viagem foi a melhor possível. A não ser o<br />

firmamento escuro, <strong>de</strong>sfeito em chuviscos, algumas<br />

vezes, nenhuma outra surpresa nos reservaram os<br />

elementos. De igual modo <strong>de</strong>correu a vida a bordo.<br />

Tudo andou na maciota.<br />

Encontramos Nova Iorque sob uma onda <strong>de</strong> frio<br />

intenso. As casas, as árvores e até automóveis,<br />

estavam cobertos <strong>de</strong> neve. Jamais na cida<strong>de</strong> fêz tanto<br />

frio em 13 <strong>de</strong> abril. Chegou a 24,8° Farenheit. Diz The<br />

New Times que o record, na mesma data, se marcou<br />

em 1874, com 25,0° Farenheit. O gelo matou uma<br />

pessoa. Ao mesmo tempo uma onda <strong>de</strong> calor percorria<br />

o Oeste do país, dizem os jornais.<br />

Mas o frio já se foi. E não há mais esperança que ele<br />

volte nesta primavera. Andando pelas ruas, tenho<br />

chegado a suar.<br />

Eu e a <strong>de</strong>legação argentino-uruguaia nos hospedamos<br />

no famoso Prince George Hotel. É <strong>aqui</strong> que<br />

invariavelmente se hospedam os ministros e missionários<br />

que vêm a Nova Iorque ou que passaram por<br />

Nova Iorque. É um edifício <strong>de</strong> 13 andares, com 1.000<br />

quartos confortáveis e todas as <strong>de</strong>mais comodida<strong>de</strong>s .<br />

que se possam <strong>de</strong>sejar, servido por gente <strong>de</strong>licada e<br />

atenciosa. Além disso está colocado no coração da<br />

cida<strong>de</strong>. É mesmo como diz um anúncio — "A home in<br />

the heart of things". Portanto, perto <strong>de</strong> tudo — das<br />

estações <strong>de</strong> estradas-<strong>de</strong>-ferro, dos trens subterrâneos,<br />

dos trens elevados, do parque, do correio central, da


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

223<br />

biblioteca, da cida<strong>de</strong> Rádio, dos edifícios mais altos,<br />

do célebre Macy's Store, da 5a. Avenida e até da<br />

China Town, on<strong>de</strong> a gente morre sem saber porque e<br />

do Bowery, on<strong>de</strong> a miséria geme pelos sapatos e<br />

roupas esburacadas e imundas.<br />

No dia 14, domingo, assisti ao culto da manhã e ao da<br />

noite na Marble Collegiate Church, tida como a igreja<br />

evangélica mais antiga do continente, organizada em<br />

1628. Gostei muito da or<strong>de</strong>m, silêncio, programa que<br />

não exce<strong>de</strong> <strong>de</strong> 1 hora, sermão simplíssimo que não<br />

passa <strong>de</strong> 20 minutos, orações breves e tocantes.<br />

Pertence à <strong>Igreja</strong> Protestante Reformada Holan<strong>de</strong>sa.<br />

Enquanto aguardo a data da Conferência Geral, visito<br />

a cida<strong>de</strong>, observo as coisas, estudo a situação.<br />

Natural, não tenho muitos informantes. Valho-me dos<br />

jornais em gran<strong>de</strong> maneira. Nem tudo que aprendo é,<br />

<strong>de</strong> certo, <strong>para</strong> ser publicado.<br />

Os diários trazem notícias <strong>de</strong> apelos formidáveis feitos<br />

pelas <strong>Igreja</strong>s, por via <strong>de</strong> concílios, ao presi<strong>de</strong>nte<br />

Roosevelt, <strong>para</strong> que retire o representante diplomático<br />

que êle nomeou <strong>para</strong> o Vaticano. Talvez as <strong>Igreja</strong>s<br />

encarem a questão pelo lado religioso, enquanto o<br />

presi<strong>de</strong>nte Roosevelt a encare pelo lado políticointernacional.<br />

Muitas vezes um homem <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>s<br />

se vê numa entalha<strong>de</strong>la <strong>de</strong>ssas, preso<br />

por ter cão e preso por não ter cão. Então, que<br />

fazer?<br />

Duas coisas me surpreen<strong>de</strong>m <strong>aqui</strong>: o alastra-mento da<br />

sífilis e o roubo <strong>de</strong> cigarros.


NELSON DE GODOY COSTA<br />

224<br />

Dizem no Brasil que 80% dos brasileiros estão<br />

afetados <strong>de</strong> sífilis. Eu pensava que nisso andava<br />

gran<strong>de</strong> vergonha <strong>para</strong> nós, confrontados com outros<br />

povos. Entretanto, a bordo do "Brasil", um passageiro<br />

me disse que 75% da população americana também<br />

está afetada <strong>de</strong> sífilis. Não cri no meu companheiro <strong>de</strong><br />

viagem, pois numa Conferência feita <strong>aqui</strong>, em 1927,<br />

um médico afirmou que era somente 15%. Entretanto<br />

The New York Times <strong>de</strong> 14 do corrente, publica a<br />

informação do Dr. S. S. Godwater, comissário <strong>de</strong><br />

hospitais, <strong>de</strong>sta metrópole, que eles estão tão cheios<br />

<strong>de</strong> sifilíticos, que já não po<strong>de</strong>m receber mais, salvo<br />

casos excepcionais. Dado que Nova Iorque tem 97<br />

hospitais, a percentagem da população afetada <strong>de</strong><br />

sífilis, pelo menos nesta cida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ve ser muito maior<br />

<strong>de</strong> 15. Note-se, a par disso, que não há <strong>aqui</strong> prostituição<br />

pública, comercializada, que eu saiba. Quando<br />

é que a civilização cristã há <strong>de</strong> dar solução a problema<br />

tão triste?<br />

O roubo <strong>de</strong> cigarros é coisa interessante. Um tal Joe<br />

Adónis, diz o New York Post <strong>de</strong> 18 do corrente,<br />

organizou um bando, em Brooklyn, <strong>para</strong> pilhar cigarros<br />

dos caminhões que os distribuíam pelas casas <strong>de</strong><br />

negócios, <strong>para</strong> venda. Depois êle se constituiu<br />

ven<strong>de</strong>dor e fornecedor, dos cigarros pilhados, a<br />

diversos estabelecimentos. Sabem a quanto monta<br />

esse negócio, <strong>de</strong> 1934 a 1937? Somente a 6 milhões<br />

<strong>de</strong> dólares (120 mil contos <strong>de</strong> réis) diz Edward P.<br />

Flynn no referido jornal. Tudo é gran<strong>de</strong> nesta terra, até<br />

o roubo <strong>de</strong> cigarros!


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

225<br />

O New York Times <strong>de</strong> domingo (14) traz extenso<br />

noticiário dos últimos movimentos comunistas,<br />

observados e sufocados, no Brasil.<br />

Vários <strong>de</strong>sastres ferroviários se verificaram nestes<br />

últimos dias. Geralmente, sem gran<strong>de</strong> consequências.<br />

Um, porém, tomou proporções gigantescas. Foi um<br />

expresso, <strong>de</strong> passageiros, <strong>de</strong> Nova Iorque <strong>para</strong><br />

Chicago. Ao fazer uma curva, em Little Talls, N. Y., o<br />

comboio <strong>de</strong>ixou os trilhos e se foi pelos ares, ocasionando<br />

quase 30 mortes e mais <strong>de</strong> uma centena <strong>de</strong><br />

feridos. Os jornais atribuem a calamida<strong>de</strong> a abuso <strong>de</strong><br />

velocida<strong>de</strong> ou ao estado da linha. Uma particularida<strong>de</strong><br />

das <strong>de</strong>scrições feitas pelos noticiaristas — nos poucos<br />

carros dormitórios que não tombaram, foram vistas<br />

várias pessoas <strong>de</strong> joelho, orando, até nas plataformas.<br />

Este povo ainda crê na onipotência e bonda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Deus, o que vale por tudo mais, até pelas previsões da<br />

engenharia mais adiantada. Em Campbellsburg, Ky.,<br />

um trem se enterrou numa barreira, a ponto <strong>de</strong> a<br />

locomotiva e treze carros sairem dos trilhos e <strong>de</strong> os<br />

passageiros serem atirados fortemente uns contra os<br />

outros. Isto me fêz lembrar da nossa Leopoldina<br />

impagável. Dois trens <strong>de</strong> passageiros se chocaram,<br />

um com a traseira do outro, em Wickliffe, Ohio, do que<br />

resultou feridas 10 pessoas. E isto me fêz lembrar da<br />

nossa Central in<strong>de</strong>fectível.<br />

O New York Post <strong>de</strong> 18 do corrente <strong>de</strong>screve, com<br />

minúcias, um programa musical sul-americano,<br />

realizado pela Schola Cantorum, no Carnegie Hall, do<br />

8


NELSON DE GODOY COSTA<br />

226<br />

qual fazia parte a peça do nosso maestro <strong>Vila</strong>lobos,<br />

<strong>de</strong>nominada "Choros n.° 10".<br />

No domingo, 21 <strong>de</strong> abril, a convite <strong>de</strong> um amigo que a<br />

filatelia me grangeou, fui assistir ao culto do meio-dia<br />

na <strong>Igreja</strong> Batista Emanuel, em Brooklyn. Ali os<br />

ministros usam uma espécie <strong>de</strong> toga, na hora do culto.<br />

Gostei muito <strong>de</strong> tudo que se fêz no templo. À tar<strong>de</strong> fui<br />

assistir a uma reunião <strong>de</strong>dicada à mocida<strong>de</strong> (havia<br />

mais velhos do que moços presentes), no Gospel<br />

Tabernacle, à Avenida Oitava n.° 692. O programa era<br />

dirigido pelo Rev. Percy Crawford, pregou. Durante o<br />

programa fazia o povo rir muitas vezes, pediu <strong>para</strong> os<br />

assistentes assobiarem um hino e terminou a reunião<br />

com hurras. Creio que estas coisas, num culto, <strong>aqui</strong>,<br />

não impressionam, por se casarem com o génio da<br />

população, mas a mim, que nunca as presenciara em<br />

cultos, quer no Brasil, quer nos Estados Unidos, em<br />

quantos a que assisti, me impressionaram um tanto.<br />

Isto me confirma na persuasão <strong>de</strong> que cada povo tem<br />

sua mentalida<strong>de</strong> própria, psicologia particular e<br />

tendências especiais. Não seria eu jamais capaz <strong>de</strong><br />

imaginar uma reunião religiosa assim no Brasil. Ainda<br />

bem que ela contrasta diametralmente com todos os<br />

cultos a que <strong>aqui</strong> tenho assistido, em igrejas<br />

metodistas, presbiterianas, batistas, etc, sempre<br />

realizados com a máxima solenida<strong>de</strong> e a maior<br />

concentração <strong>de</strong> espirito. Feriu-me, todavia, a atenção,<br />

informar-me uma senhora da <strong>Igreja</strong> Batista


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

227<br />

acima referida, que uma Convenção Batista realizada<br />

em Nova Iorque sancionou a dança por ser uma necessida<strong>de</strong><br />

sobretudo <strong>para</strong> a mocida<strong>de</strong>, porque não<br />

encontra diversões suficientes nos centros religiosos.


CAPÍTULO SÉTIMO<br />

EM PLENA CONFERÊNCIA GERAL<br />

228<br />

Chega a Atlantic City, abraça os amigos, assiste às<br />

reuniões pre<strong>para</strong>tórias, conhece a cida<strong>de</strong>.<br />

Cheguei a Atlantic City às 13 horas do dia 22 <strong>de</strong> abril.<br />

Na estação o Dr. J. F. Rawls, com a esposa, uma filha<br />

e um netinho me esperavam. Foi um prazer imenso<br />

abraçar esse amigo <strong>de</strong> tantos anos.<br />

Era um dia muito frio e ventoso.<br />

Des<strong>de</strong> então e enquanto não se abre a Conferência<br />

Geral, vou assistindo às reuniões das comissões que<br />

me interessam e ando pela cida<strong>de</strong> toda <strong>para</strong> bem<br />

conhecê-la.<br />

Atlantic City tem <strong>de</strong> 65 <strong>para</strong> 70 mil habitantes. Está<br />

cheia <strong>de</strong> ju<strong>de</strong>us, a julgar pelos anúncios das casas,<br />

jornais, livros, escritos em caráteres hebraicos. É uma<br />

cida<strong>de</strong> muito estreita, mas excessivamente comprida,


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

229<br />

ao longo da praia. Com exceção dos hotéis e mais<br />

pouquíssimos edifícios, as casas são baixas, <strong>de</strong> um ou<br />

dois pavimentos. Tudo muito limpo. É, antes <strong>de</strong> tudo e<br />

quase exclusivamente, uma estação balneária e <strong>de</strong><br />

veraneio. Por isso não há quase moradia que não<br />

alugue quarto a veranistas. Como todas as cida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong>sse tipo, a vida <strong>aqui</strong> é muito cara.<br />

A praia, neste lugar, é tudo. Os hotéis como que lhe<br />

são uma amurada. Ela se esten<strong>de</strong>, numa faixa estreita<br />

<strong>de</strong> areias brancas, a per<strong>de</strong>r-se <strong>de</strong> vista. É povoada por<br />

umas aves, espécie <strong>de</strong> gaivotas muito gran<strong>de</strong>s,<br />

mansas e protegidas por todos. Como um longo<br />

patamar dos hotéis, no lado da praia, o governo da<br />

cida<strong>de</strong> construiu um boardwalk, passeio feito <strong>de</strong><br />

ma<strong>de</strong>ira. Por baixo dos hotéis, dando frente <strong>para</strong> o<br />

boardwalk, estão os restaurantes, as montras <strong>de</strong> jóias,<br />

vestidos, chapéus, cigarros, charutos e cachimbos,<br />

produtos medicinais, lembranças, presentes,<br />

antiquários, salas <strong>de</strong> jogos, bebidas, passa-tempos,<br />

banhos, etc. Pelos boardwalk andam carrinhos <strong>de</strong> mão<br />

transportando gente rica, bicicletas ou, então, <strong>de</strong><br />

espaço a espaço, contra os anteparos ou em gran<strong>de</strong>s<br />

mirantes, se vêem homens e mulheres, sentados em<br />

bancos e ca<strong>de</strong>iras aquecendo-se ao sol. Logo abaixo,<br />

no areal, há <strong>de</strong> tudo que serve <strong>de</strong> diversão, até<br />

cavalos arreiados, <strong>de</strong> aluguel, <strong>para</strong> corridas.<br />

No verão a cida<strong>de</strong> regorgita <strong>de</strong> visitantes.<br />

O Auditorium, on<strong>de</strong> se reunirá a Conferência Geral, é<br />

um monumento que ocupa um quarteirão inteiro.<br />

Tem frente <strong>para</strong> o mar.


NELSON DE GODOY COSTA<br />

230<br />

Todos que viemos <strong>para</strong> esse gran<strong>de</strong> Concílio estamos<br />

em hotéis, muito se<strong>para</strong>dos e longe uns dos outros.<br />

Alguns, <strong>para</strong> evitar as <strong>de</strong>spesas <strong>de</strong>smedidas, estão<br />

passando <strong>para</strong> quartos alugados em casa <strong>de</strong> família.<br />

Já me encontrei com muitos amigos, das viagens<br />

anteriores. Os que estiveram no Brasil são incansáveis<br />

em pedir notícias daí.<br />

No mesmo dia da minha chegada assisti a uma<br />

reunião da Comissão sobre Ad. Ínterim Operações. Ali<br />

se discutiam as associações jurídicas numerosas em<br />

que estão constituídos os interesses ligados à nova<br />

Junta Geral <strong>de</strong> Missões.<br />

No dia seguinte assisti às duas reuniões <strong>de</strong> uma<br />

comissão em que se tratava das Conferências<br />

Centrais e <strong>Igreja</strong>s autónomas. Foi-me <strong>aqui</strong> facultado o<br />

uso da palavra. Dei algumas informações a respeito <strong>de</strong><br />

nossa <strong>Igreja</strong>. O Dr. Wasson, fortemente apoiado pelo<br />

Dr. Cram, apresentou uma seção sobre as <strong>Igreja</strong>s<br />

autónomas, <strong>para</strong> ser inserta na Disciplina. Era o que<br />

agora temos, mais ou menos, em relação à <strong>Igreja</strong>-<br />

Mãe, porém com um vínculo mais forte: os bispos das<br />

<strong>Igreja</strong>s autónomas seriam membros sem voto do<br />

Colégio dos Bispos d<strong>aqui</strong>, quando presentes. Creio<br />

que o propósito do Dr. Wasson era, pelo menos em<br />

parte, aten<strong>de</strong>r ao nosso memorial enviado à<br />

Conferência Unificadora, pedindo ligação mais íntima<br />

com o Metodismo americano. De qualquer maneira,<br />

sua proposta, liberal


231<br />

como era, ten<strong>de</strong>ria muito <strong>para</strong> uma aproximação maior<br />

das <strong>Igreja</strong>s autónomas à <strong>Igreja</strong>-Mãe e contribuiria não<br />

pouco <strong>para</strong> a formação <strong>de</strong> um Metodismo internacional<br />

mais coeso. Entretanto, ela encontrou um opositor<br />

formal na pessoa do Dr. Diffendorfer e acabou<br />

vencida. A proposta foi substituída por esta outra,<br />

vencedora: quando presentes, os bispos das <strong>Igreja</strong>s<br />

autónomas po<strong>de</strong>m ser convidados <strong>para</strong> as reuniões do<br />

Colégio dos Bispos. Agora, se o plenário da<br />

Conferência Geral sancionar isso, estamos sem<br />

qualquer representação oficial na <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> (dos<br />

Estados Unidos). Não temos representante oficial na<br />

Junta Geral <strong>de</strong> Missões, ou em qualquer outra junta<br />

geral; não temos representante oficial na Conferência<br />

Geral ou em qualquer outra Conferência; os nossos<br />

bispos, quando presentes, apenas po<strong>de</strong>m ser<br />

convidados <strong>para</strong> reuniões do Colégio dos Bispos, o<br />

que nada mais significa do que uma cortesia <strong>de</strong><br />

nenhuma consequência. Por isso me vi constrangido a<br />

<strong>de</strong>clarar à comissão que, sem calcular efeitos,<br />

teríamos que adotar a mesma medida em relação aos<br />

representantes da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> (dos Estados<br />

Unidos) quando estiverem no Brasil. Sobre este<br />

assunto peço <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já a atenção dos membros do<br />

Conselho Central e do Concílio Geral. Confesso que<br />

fiquei <strong>de</strong>sapontado e <strong>de</strong>sanimado com este primeiro<br />

embate. Vim supondo a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se criarem<br />

relações mais íntimas entre nós e os metodistas<br />

americanos e o que, logo <strong>de</strong> início vi, foi uma<br />

tendência <strong>para</strong> se<strong>para</strong>ção maior entre nós e eles.<br />

Ainda bem que os homens que nos


NELSON DE GODOY COSTA<br />

232<br />

conhecem muito <strong>de</strong> perto — os secretários da Junta<br />

Geral <strong>de</strong> Missões (<strong>de</strong> Nashville) — quebraram lanças,<br />

uníssonos com os nossos sentimentos e aspirações.<br />

Terminada essa reunião o Dr. Wasson me disse em<br />

particular: "Insistiremos no nosso ponto-<strong>de</strong>-vista.<br />

Faremos o possível por que as <strong>Igreja</strong>s autónomas<br />

tenham, cada uma, pelo menos, dois representantes<br />

na Conferência Geral." Agora estou na expectativa do<br />

rumo que as coisas, nesta questão, hão <strong>de</strong> tomar, com<br />

caráter <strong>de</strong>finitivo, pelo voto do plenário.<br />

Ao espírito vivo e admiravelmente observador as<br />

mínimas coisas não fogem.<br />

Atlantic City, como todas as cida<strong>de</strong>s balneárias e <strong>de</strong><br />

veraneio, tem suas particularida<strong>de</strong>s. É a vida <strong>aqui</strong><br />

mais, muito mais cara, no que noutros pontos do país.<br />

Mostrou-me o Dr. Morelock o seu espanto por lhe<br />

terem cobrado por um prato <strong>de</strong> sopa e um pedaço <strong>de</strong><br />

pie 85 cens. isto é, 17$. Vê-se mesmo, por tudo, que a<br />

cida<strong>de</strong> existe <strong>para</strong> argentários e dissipadores. E notase<br />

como os forasteiros que não são argentários nem<br />

dissipadores, andam atentos a todos os meios <strong>de</strong><br />

economia. Examinam as listas <strong>de</strong> preços dos<br />

restaurantes, das barbearias, das lavandarias; nos<br />

hotéis ficam só os primeiros dias e passam logo <strong>para</strong>


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

233<br />

quartos alugados em casas <strong>de</strong> família, etc. É gran<strong>de</strong> o<br />

número <strong>de</strong> astrólogos e quiromantes e gran<strong>de</strong> c a<br />

literatura astrológica à venda. Perto <strong>de</strong> meu hotel há<br />

duas casas em que se anunciam previsões do futuro,<br />

advinhações, etc. Uma <strong>de</strong>las apresenta u'a mão<br />

enorme com as linhas em que se lê a sorte <strong>de</strong> cada<br />

qual. A outra tem este ostentoso letreiro: The temple of<br />

Knowledge (O templo do Conhecimento). Deve tudo<br />

isso ser negocinho <strong>de</strong> ju<strong>de</strong>u... Mas no meu hotel<br />

também não há pavimento n.° 13... E o ascensorista<br />

me afirmou que também não há quarto n.° 13 ou com<br />

número que termine em 13. Vê-se assim que a<br />

superstição não campeia somente lá pelo Far West.<br />

Ontem, à tar<strong>de</strong>, me botei pela rua Pacífica a fora, a ver<br />

o movimento da cida<strong>de</strong>. A rua Pacífica é o que se<br />

po<strong>de</strong>ria dizer a rua chie da cida<strong>de</strong>. Descobri, em certa<br />

altura, um grandioso templo católico, a igreja <strong>de</strong> Saint<br />

Nicolas. E entrei por uma porta lateral. No interior nada<br />

vi que se <strong>de</strong>stacasse dos templos católicos do Brasil.<br />

Lá estavam as imagens, as cruzes, as lamparinas, os<br />

confissionários. Ao sair pela porta da frente não pu<strong>de</strong><br />

conter um riso à vista <strong>de</strong> um cartaz, posto do lado <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ntro, que dizia: "Cuidado com as carteiras e bolsas!"<br />

Ontem, à noite, fui jantar num restaurante <strong>de</strong> preços<br />

módicos que o bispo Guerra e eu <strong>de</strong>scobrimos na rua<br />

Atlântica. É dirigido por um italiano que já esteve no<br />

Brasil e na Argntina. O homem fala italiano, espanhol e<br />

inglês. Troquei com êle umas três palavras da língua<br />

<strong>de</strong> Dante, quantas conheço: Sabem qual


NELSON DE GODOY COSTA<br />

234<br />

foi o resultado? Quando eu lhe pagava a <strong>de</strong>spesa,<br />

convidou-me, sorri<strong>de</strong>nte, a passar <strong>para</strong> outra <strong>de</strong>pendência<br />

da casa e ali, fora do alcance dos olhos metodistas,<br />

tomar uri bichier di uino molto buono.<br />

Causou espanto, na cida<strong>de</strong>, o <strong>de</strong>saparecimento<br />

repentino do jogo nos hotéis, nas vésperas da Conferência<br />

Geral. Curiosos foram às autorida<strong>de</strong>s perguntar<br />

se elas haviam tomado alguma <strong>de</strong>cisão a<br />

respeito e elas respon<strong>de</strong>ram que não. Interrogações<br />

sobre o caso bailavam em muitas cabeças. Depois<br />

tudo se fêz claro. É que a comissão incumbida <strong>de</strong><br />

escolher o lugar da Conferência Geral <strong>de</strong>clarou que<br />

não a levaria <strong>para</strong> qualquer cida<strong>de</strong> em cujos hotéis<br />

houvesse jogo.<br />

Em nota anterior eu disse que a Conferência Geral se<br />

reuniria no Auditorium <strong>de</strong> Atlantic City. Posso hoje<br />

<strong>de</strong>screver um pouco as proporções <strong>de</strong>ssa gigantesca<br />

obra <strong>de</strong> engenharia, com as informações que obtive.<br />

Custou 15 milhões <strong>de</strong> dólares, ou 300 mil contos. As<br />

sessões da Conferência Geral se realizam na sala<br />

<strong>de</strong>stinada aos bailes, que tem capacida<strong>de</strong> <strong>para</strong> 5 mil<br />

pessoas, porque a sala principal, com capacida<strong>de</strong> <strong>para</strong><br />

40 mil pessoas, seria gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>mais <strong>para</strong> elas. Nesta<br />

sala fantasticamente gran<strong>de</strong>, cujas pare<strong>de</strong>s se<br />

aproximam ou se afastam 3 polegadas, com as variações<br />

da temperatura, estão as maiores vigas <strong>de</strong><br />

cimento armado que se conhecem e está também o<br />

maior órgão que até agora se construiu (<strong>de</strong> 33 mil<br />

tubos e motores que somam o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> 365 cavalos).<br />

A formidável estrutura absorveu 12 mil toneladas <strong>de</strong>


235<br />

aço, 65 mil barricas <strong>de</strong> cimento, 25 mil toneladas <strong>de</strong><br />

areia e 10 milhões <strong>de</strong> tijolos. Além das 2 salas mencionadas,<br />

há, no edifício gigante, inúmeras outras,<br />

além <strong>de</strong> todas as comodida<strong>de</strong>s que se po<strong>de</strong>m<br />

encontrar numa cida<strong>de</strong>, exceção feita <strong>de</strong> hotéis e<br />

meios <strong>de</strong> transporte.<br />

Pela primeira vêz vi, nos Estados Unidos, faz dois<br />

dias, um cidadão nitidamente preto casado com uma<br />

senhora nitidamente branca. Numa <strong>de</strong>legação da Ásia<br />

também vi um casal nas mesmas condições.<br />

Abriu-se a Conferência Geral no dia 24 <strong>de</strong> abril com<br />

comunhão geral e organização do trabalho. 14<br />

comissões nomeadas, além das já existentes, das<br />

juntas gerais das 3 ex-<strong>Igreja</strong>s e do Concílio dos<br />

Bispos, começaram a reunir-se pelas igrejas e hotéis,<br />

à tar<strong>de</strong> e à noite. Plenário, só <strong>de</strong> manhã, das 9 às<br />

12,30 horas. Além disso, se marcaram mais as<br />

seguintes reuniões diárias: às 7,55 horas, reunião <strong>de</strong><br />

oração; às 8,30 horas, culto; às 16,00 horas, hora <strong>de</strong><br />

evangelismo; às 20 horas, reunião especial, ora da<br />

mocida<strong>de</strong>, ora das senhoras, ora <strong>de</strong> temperança, ora<br />

<strong>de</strong> educação, etc. Além <strong>de</strong>sse programa há outras<br />

reuniões. Organizou-se também programa <strong>de</strong>vocional<br />

<strong>para</strong> os domingos. Os bispos das <strong>Igreja</strong>s autónomas<br />

fomos convidados a assentar-nos entre os bispos da<br />

<strong>Igreja</strong>-Mãe, no palco. Posteriormente fomos<br />

apresentados à Conferência Geral e ao público. Na<br />

reunião das 20 horas, dia 29, apresentaremos nossas<br />

mensagens. Pela assembleia se vêem <strong>de</strong>legações <strong>de</strong><br />

toda parte, com sua indumentária característica.<br />

Distinguem-se muitos turbantes.


NELSON DE GODOY COSTA<br />

236<br />

Os <strong>de</strong>legados da Escandinávia estão presentes,<br />

porque partiram <strong>para</strong> cá antes <strong>de</strong> receberem "o abraço<br />

amigo e protetor <strong>de</strong> Hitler". Não há nenhum da Áustria,<br />

Alemanha, Polónia, Itália, Checo-Eslováquia e Japão.<br />

Em compensação há muitos da índia e da China. São<br />

vários os <strong>de</strong>legados fraternais.<br />

ATENTO AOS INTERESSES DA IGREJA<br />

METODISTA DO BRASIL<br />

Vai animada a Conferência Geral. No plenário se<br />

per<strong>de</strong> a maior parte do tempo com questões <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m.<br />

Suspen<strong>de</strong>-se o regimento interno com muita facilida<strong>de</strong><br />

e a propósito <strong>de</strong> qualquer coisa. Os Bispos<br />

presi<strong>de</strong>ntes por vezes se embaraçam. Os relatórios<br />

apresentados são aprovados sem muita discussão e<br />

quase sem modificações.<br />

No dia em que fui apresentado, o Bispo Hughes,<br />

presi<strong>de</strong>nte, pediu que eu invocasse a bênção em<br />

minha língua, no fim da sessão. Quase uma centena<br />

<strong>de</strong> pessoas, incertas da língua que se fala no Brasil,<br />

me vieram perguntar se eu a havia proferido em<br />

espanhol ou português.<br />

Já está impresso o projeto sobre as <strong>Igreja</strong>s<br />

Autónomas, que, se fôr aprovado pelo plenário, será<br />

incluído como lei na Disciplina. Vem da<br />

comissão


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

237<br />

sobre Conferências Centrais e <strong>Igreja</strong>s Autónomas, a<br />

que me reporto nas minhas notas anteriores (n.° 3).<br />

Diz o projeto:<br />

"Art. 1.° — Uma <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong> governo próprio em cujo<br />

estabelecimento a <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> ajudou e com a<br />

qual ela está cooperando por meio da Junta Geral <strong>de</strong><br />

Missões e Extensão da <strong>Igreja</strong>, será conhecida como<br />

uma <strong>Igreja</strong> Autónoma Filiada. As relações entre a<br />

<strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> e uma <strong>Igreja</strong> Autónoma Filiada serão<br />

as <strong>de</strong>terminadas por ambas as <strong>Igreja</strong>s no acordo que<br />

fizerem. A Junta Geral <strong>de</strong> Missões e Extensão da<br />

<strong>Igreja</strong> será o agente da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> nos entendimentos<br />

com as <strong>Igreja</strong>s Autónomas Filiadas.<br />

Art. 2.° — Os acordos com as <strong>Igreja</strong>s <strong>Metodista</strong>s do<br />

Japão, da Coreia, do México e do Brasil, feitos pelas<br />

ex-<strong>Igreja</strong>s <strong>Metodista</strong> Episcopal e <strong>Metodista</strong> Episcopal<br />

do Sul, continuarão em vigor até que sejam mudados<br />

ou modificados pelas partes interessadas, em mútuo<br />

entendimento.<br />

Art. 3.° — A Junta Geral <strong>de</strong> Missões e Extensão da<br />

<strong>Igreja</strong> fica autorizada a harmonizar e uniformizar os<br />

atuais acordos e práticas em relação às quatro <strong>Igreja</strong>s<br />

do artigo anterior, esten<strong>de</strong>ndo a cada uma <strong>de</strong>las as<br />

provisões existentes no acordo atual com qualquer<br />

<strong>de</strong>las, se tal modificação fõr <strong>de</strong>sejada pela <strong>Igreja</strong><br />

Autónoma Filiada interessada e tida como<br />

aconselhável pela Junta Geral <strong>de</strong> Missões e Extensão<br />

da <strong>Igreja</strong>".<br />

Aprovado este projeto, nosso acordo com a ex-<strong>Igreja</strong><br />

<strong>Metodista</strong> Episcopal do Sul permanecerá em


238<br />

statu quo relativamente à <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> (dos<br />

Estados Unidos). Será uma vitória. Nós a <strong>de</strong>veremos<br />

aos Drs. Wasson e Cram. Teremos então representantes<br />

sem voto no Concilio Geral d<strong>aqui</strong>. Depois po<strong>de</strong>mos<br />

entrar em entendimentos com a Junta Geral <strong>de</strong><br />

Missões e Extensão da <strong>Igreja</strong> a respeito <strong>de</strong> qualquer<br />

modificação que nele queiramos fazer. Vejamos, pois,<br />

o que vai fazer o plenário com semelhante projeto.<br />

Tenho estado presente às reuniões em que trabalham<br />

as três Juntas Gerais <strong>de</strong> Missões (das três <strong>Igreja</strong>s que<br />

se uniram). Confesso que não vejo muito risonho o<br />

futuro das relações da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> com as <strong>Igreja</strong>s<br />

Autónomas e até com as Conferências Centrais.<br />

Percebo que a tendência, pelo menos do pessoal da<br />

Junta Geral <strong>de</strong> Missões da ex-<strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong><br />

Episcopal, é dominar absolutamente os campos<br />

missionários ou se<strong>para</strong>r-se <strong>de</strong>les. Uma <strong>de</strong>finição<br />

infeliz, dada por certa personalida<strong>de</strong>, das funções e<br />

dos fins da Junta Geral <strong>de</strong> Missões trouxe muita<br />

apreensão aos nacionais <strong>de</strong> além mar. A distinção que<br />

se faz entre os nacionais <strong>de</strong> além mar e os<br />

americanos (no episcopado, nos subsídios, nos<br />

direitos <strong>de</strong> representação, etc), quando a <strong>Igreja</strong> é uma<br />

só, a Conferência Geral também é uma só, trouxe aos<br />

elementos das Conferências Centrais muito amargor.<br />

m<br />

Veremos, até a próxima Conferência Geral, em<br />

que pairam as modas. As apropriações financeiras, o<br />

propósito <strong>de</strong> intervir nas nomeações <strong>de</strong> missionários<br />

que agora são feitas por bispos nacionais <strong>de</strong> além mar<br />

e a intenção <strong>de</strong> formar reuniões <strong>de</strong> missionários em


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

239<br />

se<strong>para</strong>do dos nacionais, nos campos estrangeiros, são<br />

as armas po<strong>de</strong>rosas que a Junta Geral <strong>de</strong> Missões vai<br />

empregar durante o quatriênio seguinte e <strong>de</strong> que vai<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r a legislação <strong>de</strong>finitiva em 1944.<br />

A extrema escassês <strong>de</strong> tempo <strong>para</strong> tudo que se tem<br />

<strong>de</strong> fazer nesta Conferência Geral, <strong>de</strong>ixa <strong>para</strong> a<br />

Conferência Geral seguinte também outros assuntos<br />

da maior importância. Entra, pois, o tempo como fator<br />

provi<strong>de</strong>ncial <strong>para</strong> que, com vagar e reflexão, se resolvam<br />

eles.<br />

Todavia, pelo que noto, as relações da <strong>Igreja</strong>-Mãe com<br />

os campos missionários, estão sujeitas a muitas<br />

alterações e talvez a uma uniformização, <strong>de</strong>pois da<br />

união dos três ramos.<br />

A opinião do Dr. Wasson, agora, é que nós, do Brasil,<br />

temos o melhor padrão.<br />

Já está marcada a noite <strong>de</strong> 6 <strong>de</strong> maio <strong>para</strong><br />

encerramento <strong>de</strong>finitivo da Conferência.<br />

Diversas refeições em comum. Os latino-ame-ricanos<br />

tiveram uma no New Terminal Restaurant. Os<br />

missionários ofereceram outra aos secretários da<br />

Junta Geral <strong>de</strong> Missões da ex-<strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> Episcopal<br />

do Sul e latino-americanos. Os secretários <strong>de</strong>ssa<br />

Junta honraram os bispos do Brasil e do México com o<br />

terceiro. Mais alguns.<br />

Houve uma sessão especial da Conferência Geral<br />

<strong>para</strong> se ouvirem os <strong>de</strong>legados fraternais. Havia 4<br />

presentes. Cada um apresentou sua mensagem. Foi<br />

então a minha vêz <strong>de</strong> <strong>de</strong>itar falação ao plenário.


NELSON DE GODOY COSTA<br />

240<br />

Dois dias <strong>de</strong>pois o Daily Christian Advocate publicou<br />

nossos discursos.<br />

A <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> fêz uma formidável exposição <strong>de</strong><br />

seus trabalhos em diversos salões <strong>de</strong> Auditorium.<br />

Tiramos centenas <strong>de</strong> fotografias. Os retratos são<br />

<strong>de</strong>pois vendidos à vonta<strong>de</strong> no saguão da entrada.<br />

Os jornais estão cheios <strong>de</strong> notícias da Conferência<br />

Geral.<br />

Os membros da Junta Geral <strong>de</strong> Missões serão eleitos<br />

pelas Conferências Jurisdicionais. A Junta não se<br />

organizará antes <strong>de</strong> 24 <strong>de</strong> junho. Uma vêz organizada,<br />

elegerá os secretários. Crê-se na possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se<br />

conservarem os mesmos secretários, <strong>para</strong> facilitarem<br />

a transição das três ex-<strong>Igreja</strong>s <strong>para</strong> a <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong><br />

(dos Estados Unidos).<br />

O aparecimento do senador Dyes, <strong>para</strong> fazer um<br />

discurso na Conferência, provocou tanta irritação que<br />

foi preciso mobilizar um <strong>de</strong>stacamento da polícia <strong>para</strong><br />

os arredores do Auditorium. Protestos e contraprotestos<br />

circularam entre os <strong>de</strong>legados, nenhum dos<br />

quais logrou ser ouvido em plenário — o que foi pior<br />

ainda. Um moço, na reunião da mocida<strong>de</strong> metodista,<br />

se <strong>de</strong>sabafou um tanto, com referências muito fortes<br />

ao inci<strong>de</strong>nte. Não consegui saber a causa dos<br />

ressentimentos. Como <strong>aqui</strong> nos encontramos em vésperas<br />

<strong>de</strong> eleições e a propaganda dos candidatos é<br />

muito intensa, é, possivelmente, política. A coisa é<br />

sempre a mesma: os políticos procuram pren<strong>de</strong>r a<br />

<strong>Igreja</strong> à cauda <strong>de</strong> seus interesses, por maneiras incon-


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

241<br />

fessáveis, porque precisam dos votos que ela tem,<br />

mas não se lembram dos sofrimentos que lhe causam.<br />

NÃO PERDE OS MÍNIMOS DETALHES<br />

Faz já uma semana, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que man<strong>de</strong>i as últimas<br />

notas. Des<strong>de</strong> então os trabalhos da Uniting<br />

Conference se vão realizando normalmnete, <strong>de</strong> acordo<br />

com o programa pré-estabelecido. Pela manhã, às<br />

7,50 hs., reunião <strong>de</strong> oração; às 8,30 hs., culto com<br />

pregação; das 9 hs. ao meio-dia, plenário. À tar<strong>de</strong>,<br />

reunião das comissões; às 16 hs., culto <strong>de</strong> caráter<br />

evangelístico. À noite, trabalhos especiais.<br />

Destes trabalhos especiais se sobresaíram a noite da<br />

mocida<strong>de</strong>, com uma dramatização, <strong>para</strong> mim exagerada<br />

como todas as dramatizações; a noite<br />

ecuménica; a noite dos agentes <strong>de</strong> publicações, com<br />

uma dramatização, com os excessos próprios <strong>de</strong> tais<br />

representações; a noite das Juntas <strong>de</strong> Educação; a<br />

noite das Missões Nacionais; a noite dos leigos.<br />

Nos intervalos do programa ou nas horas das<br />

refeições se realizam outras reuniões <strong>de</strong> caráter<br />

particular: dos mexicanos, dos sul-americanos, dos<br />

latino-americanos, etc.<br />

Eu assisto ao plenário e às reuniões da noite. À tar<strong>de</strong>,<br />

ora estou presente ao Colégio dos Bispos, ora


242<br />

à Comissão <strong>de</strong> Missões. No domingo e na 2. a -feira fui<br />

a um arrabal<strong>de</strong> <strong>de</strong> Kansas, Ka., além do Rio Missouri,<br />

chamado Argentina, falar numa igreja <strong>de</strong> mexicanos.<br />

Fizeram-me companhia os Bispos Guerra e Elphick,<br />

respectivamente do México e Chile, o Rev. 0'Neil<br />

(porto-riquense), <strong>de</strong> El-Paso, Texas, e o Dr. Sein,<br />

mexicano leigo distintíssimo como pregador e antialcoolista.<br />

Como Kansas City Mo. está no coração dos<br />

Estados Unidos e é, por isso, cida<strong>de</strong> marcadamente<br />

americana. Saio <strong>de</strong> vez em quando até aos bairros'<br />

mais remotos, durante o dia, e ando pelo centro até<br />

bem tar<strong>de</strong> da noite, fazendo observações <strong>de</strong><br />

costumes, condições, etc.<br />

Já está resolvido que haja uma só Junta <strong>de</strong> Missões<br />

na novel <strong>Igreja</strong> e que a primeira Conferência Geral<br />

seja em 1940.<br />

Alegro-me com o fato que muitas das cousas que<br />

introduzimos nos Cânones aí, há alguns anos, estão<br />

sendo adotadas agora <strong>aqui</strong>.<br />

Torno a observar que a quase totalida<strong>de</strong> dos homens<br />

e mulheres nas igrejas e reuniões (inclusive e<br />

principalmente a Uniting Conference) são <strong>de</strong> ida<strong>de</strong><br />

avançada — calvos, cabelos brancos. Não duvido que<br />

a mocida<strong>de</strong> esteja profundamente interessada em<br />

religião, <strong>aqui</strong>, mas a verda<strong>de</strong> é que eu não na vejo<br />

assim nas igrejas e reuniões em que me tenho<br />

encontrado. É relativamente pequeno o número <strong>de</strong><br />

mulheres na Uniting Conference.<br />

Já se nota diminuição no número <strong>de</strong> <strong>de</strong>legados e<br />

visitantes. Com o correr dos dias ou cansam e não<br />

voltam ao auditório, ou precisam retirar-se <strong>de</strong>-


243<br />

finitivamente e se vão embora. Talvez por isso já se<br />

anunciou que a Uniting Conference <strong>de</strong>ve terminar na<br />

4. a -feira, dia 11.<br />

Nas discussões se notam os choques das correntes e<br />

interesses diferentes (aí dizemos "politicazinhas"). Por<br />

vezes elas assumem aspectos irrisórios. Depois <strong>de</strong><br />

longo <strong>de</strong>bate na Comissão <strong>de</strong> Missões, um ministro<br />

que já trabalhou no Board of Missions e já esteve no<br />

brasil, se voltou <strong>para</strong> mim e me perguntou: "É o seu<br />

povo, numa Conferência Geral, tão estúpido como<br />

nós?" Diplomaticamente respondi: — "Não posso<br />

respon<strong>de</strong>r-lhe ".<br />

Per<strong>de</strong>-se muito tempo com coisas <strong>de</strong> somenos<br />

importância, tricazinhas <strong>de</strong> lei, anúncios, saudações,<br />

etc. Delegados há que faltam às reuniões. Algumas<br />

votações são frouxas. Enfim, a coisa, em geral, não<br />

difere muito <strong>de</strong> nós, no Brasil. Cá e lá más fadas há.<br />

Quanto à nossa parte: Mal <strong>de</strong> muitos, consolo <strong>de</strong><br />

alguns.<br />

Milhares <strong>de</strong> retratos se têm tirado da Uniting<br />

Conference, bispos, <strong>de</strong>legações, comissões. Tudo é<br />

pretexto <strong>para</strong> os fotógrafos, amadores, jornalistas,<br />

membros do Concílio, etc, baterem chapa. Os fotógrafos,<br />

naturalmente, preten<strong>de</strong>m bom negócio.<br />

Pouco <strong>de</strong>pois afixam no saguão do Auditório as<br />

provas, os preços e ficam à espera das encomendas.<br />

Já adquiri 3 e tomei a resolução <strong>de</strong> não adquirir mais<br />

nenhum, <strong>para</strong> não ficar com a bolsa ao vento. Cada<br />

um anda em 20$. Outra coisa: toda gente quer<br />

autógrafos. Já assinei em centenas <strong>de</strong> livros. Eu<br />

mesmo pretendo


244<br />

levar <strong>para</strong> o futuro Museu <strong>Metodista</strong> do Brasil um The<br />

Methodist Hymnal com as assinaturas <strong>de</strong> todos os<br />

bispos presentes. O livro tem capa gravada<br />

especialmente, <strong>para</strong> esta ocasião. Mais isto: os<br />

filatelistas presentes se procuram, fazem combinações<br />

<strong>de</strong> permutas, etc. Natural, nesta questão vou fazendo<br />

minhas <strong>aqui</strong>sições. Só um irmão da índia trouxe<br />

30.000 selos.<br />

Não quero terminar estas notas sem pedir instante,<br />

fortemente, a atenção dos que amam a I. M. B. <strong>para</strong><br />

estes tópicos da mensagem dos bispos:<br />

"Nosso serviço prestado aos campos missionários,<br />

<strong>de</strong>ve continuar e po<strong>de</strong> continuar com maiores possibilida<strong>de</strong>s,<br />

se o laço que nos liga às <strong>Igreja</strong>s jovens se<br />

conserva íntimo e forte. Há, entretanto, o perigo grave<br />

<strong>de</strong>las enfraquecerem, se esse laço enfraquecer.<br />

<strong>Igreja</strong>s autónomas e Conferências Centrais se têm<br />

estabelecido normalmente com o crescimento<br />

satisfatório do trabalho em outros países. Contudo,<br />

tomamos a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> dizer que o governo próprio<br />

adquirido por elas, po<strong>de</strong> chegar a ponto <strong>de</strong> <strong>de</strong>struir<br />

relações elementares e fundamentais que são vitais,<br />

<strong>para</strong> a <strong>Igreja</strong>-Mãe e isso será muito <strong>de</strong> lamentar.<br />

A <strong>Igreja</strong>-Mãe <strong>de</strong>ve ser <strong>para</strong> as <strong>Igreja</strong>s jovens mais do<br />

que um Board que faz apropriações, não importa <strong>de</strong><br />

que monta, ou mais cedo ou mais tar<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixará <strong>de</strong> ser<br />

até mesmo isso. Ela empregará fundos somente on<strong>de</strong><br />

e quando se interessar por motivos <strong>de</strong> sua própria<br />

existência. A consistência que produz unida<strong>de</strong> e força<br />

no Metodismo d<strong>aqui</strong> <strong>de</strong>ve abranger, tanto quanto<br />

possível, os Metodismos <strong>de</strong> além."


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

245<br />

Compreendo que tal é a opinião dos Bispos e que na<br />

linguagem em que se apresenta, admite mais <strong>de</strong> uma<br />

interpretação. Não sei se será a opinião da <strong>Igreja</strong>-Mãe<br />

e em que termos esta a vasaria. Sei que, no nosso<br />

caso, há por <strong>aqui</strong> mais <strong>de</strong> uma cabeça que julga ter a<br />

Comissão Conjunta se excedido, dando-nos, em 1930,<br />

na proclamação <strong>de</strong> nossa autonomia, mais do que<br />

podia e <strong>de</strong>via dar-nos.<br />

Falando <strong>de</strong> mim e por mim somente, julgo que se as<br />

relações da <strong>Igreja</strong>-Mãe com as <strong>Igreja</strong>s autónomas,<br />

Conferências Centrais e mesmo simples missões não<br />

se basearem em princípios <strong>de</strong> cooperação e<br />

confiança, os empreendimentos missionários correrão<br />

céleres <strong>para</strong> um eclipse completo. Numa época em<br />

que todos se revoltam contra o imperialismo<br />

económico, político, social, etc, quem po<strong>de</strong> admitir<br />

imperialismo eclesiástico?<br />

Alguns, aí, pensam que eu exagero quando insisto na<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cultivar o liberalismo das contribuições<br />

e conseguir que todos os membros da <strong>Igreja</strong> sejam<br />

contribuintes, como medida <strong>de</strong> precaução contra<br />

possíveis cortes e até contra possível suspensão <strong>de</strong><br />

auxílios financeiros da <strong>Igreja</strong>-Mãe. Aí está, com um<br />

documento insuspeito, uma das razões da minha<br />

afirmativa. Outras razões, porventura mais fortes, eu<br />

direi aos imprevi<strong>de</strong>ntes, em momento oportuno.


246<br />

CAPÍTULO OITAVO<br />

NOVAMENTE NO BRASIL — SUA PARÓQUIA<br />

— PROSSEGUE NAS ATIVIDADES EPISCOPAIS<br />

Não será <strong>de</strong>mais repetir que estamos procurando<br />

apresentar um Homem, uma Vida consagrada ao serviço<br />

da consolidação da <strong>Igreja</strong> que veio <strong>de</strong> Wesley e<br />

que encontra em César Dacorso Filho um continuador<br />

magnífico.<br />

Também não será <strong>de</strong>mais repetir que se torna<br />

impossível seguir os passos do Homem que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as<br />

5,30 da manhã até alta noite se entrega ao trabalho<br />

estafante da <strong>Igreja</strong>; da Vida que vive inteiramente <strong>para</strong><br />

a <strong>Igreja</strong>.<br />

As expressões que à primeira vista parecem dispersivas<br />

nos parágrafos múltiplos formam um todo <strong>de</strong><br />

história da Vida <strong>de</strong> um Homem e da História <strong>de</strong> uma<br />

<strong>Igreja</strong>.<br />

Pastor <strong>de</strong> pastores sabe que um pastor precisa ter boa<br />

saú<strong>de</strong> e lembra aos interessados que uma das


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

247<br />

condições requeridas dos candidatos ao ministério ativo<br />

é boa saú<strong>de</strong> e que as comissões <strong>de</strong> admissão e<br />

readmissão do Concílio Regional <strong>de</strong>vem proce<strong>de</strong>r com<br />

todo o rigor, exigindo mesmo exame médico. Esta<br />

medida fecha as portas a muito candidato, mas evita<br />

igualmente muitos problemas <strong>para</strong> a <strong>Igreja</strong> e <strong>para</strong> o<br />

próprio candidato.<br />

Não escapa ao seu interesse a publicida<strong>de</strong> da <strong>Igreja</strong><br />

fora do país. Solicita fotografias, planos, plantas,<br />

esboços, tudo quanto po<strong>de</strong> informar e serve <strong>de</strong><br />

propaganda no estrangeiro. O Rev. Wesley Moore Carr<br />

encontra-se lecionando assuntos missionários na<br />

Escola <strong>de</strong> Teologia da Emory University e o Bispo<br />

brasileiro provi<strong>de</strong>ncia <strong>para</strong> que o ilustre catedrático<br />

tenha todo o material possível referente ao Brasil.<br />

Cuida em que o Conselho Central seja bem sucedido e<br />

<strong>para</strong> isso pe<strong>de</strong> o preparo <strong>de</strong> todos os papéis sobre<br />

férias dos missionários, pedidos <strong>de</strong> missionários, pedido<br />

<strong>de</strong> auxílio financeiro com suas justificativas,<br />

<strong>de</strong>monstração da aplicação dos já recebidos, recomendações<br />

sobre coisas do que ainda a <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong><br />

da Board of Missions, aprovação e eleição que <strong>de</strong>vem<br />

ser feitas pelo Conselho Central, recomendação ao<br />

Board of Missions sobre a orientação que <strong>de</strong>ve ter em<br />

relação ao trabalho no Brasil, recomendação aos<br />

Concílios Regionais, indicação <strong>de</strong> missionários leigos<br />

<strong>para</strong> as instituições subvencionadas pela <strong>Igreja</strong>-Mãe.<br />

Estribado nos Cânones lembra que as juntas <strong>de</strong><br />

ecônomos têm nas paróquias tanta autonomia como as<br />

escolas dominicais e as socieda<strong>de</strong>s, não po<strong>de</strong>ndo


NELSON DE GODOY COSTA<br />

248<br />

uma intervir em outra <strong>de</strong>terminando-lhe aplicação <strong>de</strong><br />

dinheiro ou pondo-lhe embargo. Igualmente não são<br />

as juntas <strong>de</strong> eceônomos que <strong>de</strong>terminam as viagens<br />

pastorais, quer as custeiem quer não; as viagens <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m<br />

da orientação do gabinete, do<br />

superinten<strong>de</strong>nte e dos pastores tão somente.<br />

Cuidadoso da cultura dos pastores o Bispo brasileiro<br />

recomenda-lhes livros, cuja leitura lhe fêz bem.<br />

O "Dia da Bíblia" não foge às suas cogitações.<br />

Recomenda às congregações e igrejas uma comemoração<br />

festiva, com ofertas que, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

registradas, serão entregues ao 4.° Concílio Paroquial<br />

<strong>para</strong>, pelos trâmites legais, serem remetidas à<br />

Socieda<strong>de</strong> Bíblica do Brasil.<br />

Com respeito a política que sempre apaixonou a<br />

opinião pública, ameaçando penetrar a <strong>Igreja</strong> o<br />

condutor da <strong>Igreja</strong> informa clara e precisamente:<br />

"Insisto em acentuar que a <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil<br />

não se envolve em política, não tem candidatos a<br />

qualquer função pública ou não, não a<strong>de</strong>re a partidos,<br />

não toma compromissos <strong>de</strong> quem quer que seja que<br />

preten<strong>de</strong> posição eletiva, não <strong>de</strong>seja representante em<br />

qualquer casa do governo.<br />

"Por outro lado insisto em <strong>de</strong>clarar que seus membros<br />

<strong>de</strong>vem ser eleitores e votar nos homens que em boa<br />

consciência lhes pareçam os mais capazes <strong>de</strong> dirigir o<br />

país. De mim insisto em aconselhar que os crentes<br />

não votem em ministros <strong>para</strong> coisa alguma,


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

249<br />

exceto os que estão em disponibilida<strong>de</strong> e não exercem<br />

o pastorado."<br />

A <strong>Igreja</strong> é sua paróquia e os paroquianos são o seu<br />

constante <strong>de</strong>svelo. Insiste com os pastores que façam<br />

frequentemente, no mínimo uma vêz por mês, leitura<br />

do rol <strong>de</strong> membros da <strong>Igreja</strong> <strong>para</strong> a consi<strong>de</strong>ração das<br />

necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cada um, regularida<strong>de</strong> da visita<br />

pastoral, retíficação <strong>de</strong> seus en<strong>de</strong>reços, <strong>de</strong>scoberta<br />

dos <strong>de</strong>sconhecidos e <strong>de</strong> <strong>para</strong><strong>de</strong>iro ignorado,<br />

correspondência com os ausentes, transferência dos<br />

que se mudam, e arrolamento dos que forem encontrado<br />

não arrolados.<br />

Externa-se com franqueza a respeito da secularização<br />

do ministério, lembrando aos pastores que não<br />

po<strong>de</strong>m exercer ordinariamente profissão qualquer,<br />

estranha ao trabalho da <strong>Igreja</strong>, sem permissão do<br />

Concílio Regional, ou do superinten<strong>de</strong>nte. Fala <strong>de</strong>ssa<br />

maneira em 1939 mas em 1952 a Pastoral do Colégio<br />

dos Bispos foi categórica sobre o assunto levando<br />

vários pastores à disponibilida<strong>de</strong>.<br />

Sempre interessado na publicida<strong>de</strong> da <strong>Igreja</strong> nomeia o<br />

Rev. António <strong>de</strong> Campos Gonçalves representante da<br />

<strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil, no Rio <strong>de</strong> Janeiro, <strong>para</strong><br />

publicida<strong>de</strong>.<br />

Interessado na <strong>aqui</strong>sição <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>s recomenda<br />

aos pastores que procurem adquirir <strong>para</strong> a <strong>Igreja</strong> em<br />

lugares novos ou velhos on<strong>de</strong> as proprieda<strong>de</strong>s são<br />

ainda baratas lotes <strong>de</strong> terreno <strong>para</strong> templos, capelas<br />

ou residências pastorais.<br />

Dizem que quem uma vêz sentiu o cheiro <strong>de</strong>


NELSON DE GODOY COSTA<br />

250<br />

tinta <strong>de</strong> impressão nunca mais <strong>de</strong>ixa a oficina ou a<br />

mesa da sala <strong>de</strong> redação. O Bispo brasileiro, jornalista<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o tempo do "O Combatente" ou ainda melhor,<br />

do "O Bicho" em Santa Maria, o Bispo brasileiro ensina<br />

aos correspon<strong>de</strong>ntes do "Expositor Cristão" como<br />

redigir uma notícia, e mais, como fazer uma<br />

reportagem. E o notciário das paróquias melhora<br />

muito.<br />

Aos escritores da <strong>Igreja</strong> pe<strong>de</strong> literatura, muita literatura<br />

sobre excessos, proselitismos, clara em linguagem<br />

simples que possa ser lida e compreendida e<br />

divulgada em profusão.<br />

A um ministro nomeado <strong>para</strong> paróquia difícil escreve<br />

confortando: "seu novo campo, embora distante da<br />

Capital, é uma das esperanças do Metodismo. Seu<br />

trabalho ali será sobretudo, <strong>de</strong> consolidar a obra feita<br />

pelos seus antecessores. Em ... estamos operando na<br />

elite <strong>de</strong> acordo com as informações qu* tenho<br />

recebido. Além disso seu campo é nosso caminho<br />

<strong>para</strong> penetração forte em Goiás. Espero que o<br />

prezado irmão possa reforçar a igreja <strong>de</strong> modo que ela<br />

se torne uma das melhores e maiores da região. Seu<br />

campo <strong>de</strong>ve ser também um centro <strong>de</strong> irradiação <strong>para</strong><br />

formação <strong>de</strong> futuras paróquias. Seus vários dons lhe<br />

vão valer muito em certas rodas em muitos sentidos.<br />

Eu aparecerei por lá em... E lá quero encontrá-lo<br />

entusiasmado e feliz com a obra que lhe foi confiada.<br />

Para lá leve no coração felicida<strong>de</strong> cantante como o<br />

herói que prevê gran<strong>de</strong>s triunfos."<br />

O Bispo brasileiro promete aparecer e realmente


251<br />

aparece acompanhado pelo superinten<strong>de</strong>nte distrital.<br />

Tem uma recepção como raras vezes na vida teve, segundo<br />

suas próprias expressões em carta<br />

agra<strong>de</strong>cendo. Vai a Goiás, volta e na passagem é<br />

novamente recepcionado com as mais vivas<br />

<strong>de</strong>monstrações <strong>de</strong> amor cristão. Na paróquia em<br />

apreço, visita autorida<strong>de</strong>s, imprensa, templos, capelas,<br />

observa, aconselha, instrui, or<strong>de</strong>na. No Concílio<br />

Regional seguinte o pastor recebe nomeação <strong>para</strong><br />

paróquia maior, mais culta e <strong>de</strong> muito maior<br />

responsabilida<strong>de</strong>.<br />

O problema dos provisionados merece-lhe estudo<br />

longo e cuidadoso pelas colunas do órgão oficial da<br />

<strong>Igreja</strong>. Não <strong>de</strong>ixa a menor questão sem estudo sobre a<br />

posição em que fica o provisionado nomeado <strong>para</strong><br />

trabalho pastoral em face da tabela <strong>de</strong> subsídio <strong>para</strong><br />

pensionados.<br />

Conhecedor da força extraordinária que são os leigos,<br />

recomenda aos pastores a vantagem do aproveitamento<br />

<strong>de</strong>sses heróis, além dos cargos que lhe<br />

são confiados por lei, em serviços <strong>de</strong> evangelização,<br />

direção <strong>de</strong> cultos, visitação, imprensa, coros e outras<br />

ativi-da<strong>de</strong>s na igreja.<br />

A atenção <strong>para</strong> com o arquivo das paróquias não<br />

escapa ao zelo episcopal e recomenda todo o cuidado<br />

na coleta e conservação <strong>de</strong> todo o material<br />

documentário <strong>de</strong> cada paróquia, distrito ou região.<br />

Estuda com precisão o problema dos académicos <strong>de</strong><br />

teologia que têm cargos pastorais.<br />

Observa com respeito a isenção <strong>de</strong> impostos que em<br />

toda a parte on<strong>de</strong> as proprieda<strong>de</strong>s gozam <strong>de</strong>ssa


252<br />

isenção <strong>de</strong>vem ter todos os documentos que as garantam<br />

<strong>de</strong>sse privilégio, como o <strong>de</strong>spacho da<br />

prefeitura, a lei da imprensa, e o talão negativo, a<br />

certidão e tudo o mais necessário.<br />

Enten<strong>de</strong> que se <strong>de</strong>ve fazer bem feito o que se tem que<br />

fazer. Para que permaneça clara, registada,<br />

documentada recomenda que qualquer transação <strong>de</strong><br />

uma igfeja ou paróquia figure minuciosa nos livros dos<br />

ecônomos, nas atas do Concílio Paroquial, se é <strong>de</strong><br />

empréstimos, <strong>de</strong> <strong>aqui</strong>sição <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>s, <strong>de</strong><br />

construção.<br />

Não se <strong>de</strong>scuidando da visitação pastoral, insiste com<br />

os pastores que cumpram a risca o plano <strong>de</strong> visitação<br />

pastoral elaborado pelo gabinete episcopal.<br />

Viaja sem <strong>para</strong>r. Está agora no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul<br />

presidindo Concílio Regional. Escreve a um pastor:<br />

"estou em pleno Concílio Regional do Sul. Tudo vai<br />

mais ou menos bem. Houve prosperida<strong>de</strong> em todos os<br />

sentidos. Encontro-me nos confins do Brasil. D<strong>aqui</strong><br />

arrojo o olhar por sobre o rio Uruguai, até bem longe,<br />

Argentina a <strong>de</strong>ntro. Um tique <strong>de</strong> bra-sileirismo me<br />

corre as veias...<br />

Nesse mesmo fim <strong>de</strong> ano <strong>de</strong>sfruta o prazer <strong>de</strong> umas<br />

férias rápidas. Gosta das férias. Sente que tivessem<br />

sido tão pequenas. Escolhe <strong>para</strong> esses dias <strong>de</strong><br />

repouso um lugar magnífico, um hotel <strong>de</strong> segunda<br />

classe que vive sozinho em plena mata. Aí, sem<br />

paletó, sem gravata, sem colarinho, meio bugre, sobe<br />

montes, anda por entre árvores, ouve a passarada,<br />

ajuda a matar uma cobra, colhe abundância<br />

<strong>de</strong> ervas


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

253<br />

medicinais. Faz uso <strong>de</strong> uma água que dizem ser amais<br />

rádio-ativa do mundo. Esse lugar agradabilíssimo fica<br />

além <strong>de</strong> Franca, Estado <strong>de</strong> São Paulo e chama-se<br />

Águas Quentes.


CAPÍTULO NONO<br />

CAMINHANDO PARA O QUARTO CONCÍLIO<br />

GERAL<br />

254<br />

Aproximamo-nos do fim do segundo quatriênio, <strong>de</strong><br />

1938 a 1942 e também nos aproximamos do terceiro<br />

Concilio Geral.<br />

O Bispo brasileiro não <strong>de</strong>scansa, não tem tempo <strong>para</strong><br />

<strong>de</strong>scansar. Os campos reclamam sua constante<br />

atenção. Orienta ministros, orienta provisionados,<br />

orienta leigos. Visita membros das paróquias nas<br />

capitais, nas cida<strong>de</strong>s pequenas, nos sítios, nas<br />

fazendas.<br />

O problema dos ministros ativos no pastorado, como<br />

professores em colégios evangélicos, exige sua<br />

atenção e resulta em longo e exaustivo estudo pelas<br />

colunas do jornal oficial da <strong>Igreja</strong>. Outra questão que<br />

resulta em longas consi<strong>de</strong>rações pelo mesmo jornal<br />

são as campanhas <strong>de</strong> evangelização que tem <strong>de</strong> ser<br />

realizadas com a maior inteligência e produzir os melhores<br />

resultados,


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

255<br />

Viaja novamente. Visita o Estado <strong>de</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, <strong>de</strong><br />

Minas Gerais, <strong>de</strong> São Paulo. Vai ao Sul do país,<br />

<strong>de</strong>mora-se no Estado do Rio Gran<strong>de</strong>. Observar, colher<br />

impressões, inspecionar, aconselhar, exortar, corrigir,<br />

aplaudir, incentivar, melhorar, aprovar é seu programa<br />

<strong>de</strong> ação.<br />

Para relatar ao quarto Concílio Geral tem uma<br />

bagagem enorme <strong>de</strong> lutas, <strong>de</strong> canseiras, <strong>de</strong><br />

sofrimentos físicos e morais causados pela<br />

incompreensão <strong>de</strong> muitos. Tem <strong>de</strong>sapontamentos, tem<br />

noites sem dormir, tem lágrimas sentidas, tem<br />

ingratidão. Tem acima <strong>de</strong> tudo e o que em verda<strong>de</strong> lhe<br />

importa a alegria <strong>de</strong>smedida <strong>de</strong> saber que dia a dia<br />

ofereceu sua vida em holocausto à causa suprema do<br />

Reino <strong>de</strong> Deus na <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil.<br />

Isto é o que tem significação <strong>para</strong> o Bispo brasileiro.


256


PANORAMA DE UM EPISCOPADO<br />

terceiro quatriênio<br />

257


258


CAPÍTULO PRIMEIRO<br />

ROBUSTECIDO DE UMA FÉ SEM LIMITES<br />

259<br />

No quarto Concílio Geral reeleito Bispo<br />

Às 23,15 horas <strong>de</strong> 10 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1942, na quarta<br />

sessão do Concílio Geral, na cida<strong>de</strong> paulista <strong>de</strong><br />

Piracicaba, vai proce<strong>de</strong>r-se à eleição do Bispo.<br />

Num ambiente <strong>de</strong> profundo recolhimento espiritual<br />

canta-se o hino 608, coro 3.° dos Salmos e Hinos. 0<br />

Rev. Hugo Clarence Tucker ora a Deus.<br />

Votam quarenta e nove eleitores. Resultado: César<br />

Dacorso Filho, quarenta e dois votos. Isaías<br />

Fernan<strong>de</strong>s Sucasas seis votos. Ura voto em branco.<br />

No quinto Concílio Geral Isaías Fernan<strong>de</strong>s Sucasas<br />

seria eleito segundo bispo brasileiro.<br />

Ao ser proclamada a eleição <strong>de</strong> César Dacorso Filho o<br />

plenário manifesta sua alegria com intensas vibrações<br />

<strong>de</strong> júbilo cristão.


NELSON DE GODOY COSTA<br />

260<br />

Simples e humil<strong>de</strong>, o Bispo brasileiro agra<strong>de</strong>ce a seus<br />

companheiros <strong>de</strong> jornada evangélica e metodista pela<br />

sua confirmação no episcopado.<br />

Com o mesmo <strong>de</strong>sprendimento e com o mesmo<br />

entusiasmo inicia o novo quatriênio robustecido <strong>de</strong><br />

uma fé sem limites no po<strong>de</strong>r divino e no interesse dos<br />

Céus pelo seu Reino vitorioso no coração dos<br />

homens.<br />

Atencioso <strong>para</strong> com as relações com a <strong>Igreja</strong> Mãe<br />

noticia com prazer a visita do revmo. bispo Ivon Lee<br />

Holt, que acompanhado pelo rev. Marshall Steele irá<br />

ao Rio <strong>de</strong> Janeiro, Petrópolis, Juiz <strong>de</strong> Fora, Belo Horizonte,<br />

São Paulo, Piracicaba, Curitiba, Porto Alegre e<br />

outras cida<strong>de</strong>s brasileiras.<br />

O rev. dr. Stanley Jones <strong>de</strong>verá estar no Brasil<br />

possivelmente em companhia do dr. Baez <strong>de</strong><br />

Camargo, do México e o Bispo brasileiro provi<strong>de</strong>ncia<br />

<strong>para</strong> que sua visita seja coroada <strong>de</strong> pleno êxito.<br />

Agra<strong>de</strong>cendo a um ministro pelas felicitações recebidas<br />

ao ensejo do transcurso da magna data da<br />

<strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>, conclui sua carta, metodista admiravelmente<br />

:<br />

"É-me profundamente grato dizer que a <strong>Igreja</strong> marcha<br />

triunfante aos seus luminosos <strong>de</strong>stinos no seio do<br />

povo brasileiro. Sua influência <strong>de</strong>monstra que ela já se<br />

vai impondo como um dos maiores fatôres morais e<br />

espirituais <strong>de</strong> nossa gran<strong>de</strong>za. Sua posição será <strong>de</strong>finida<br />

em breve futuro como a mo<strong>de</strong>ladora <strong>de</strong> uma<br />

mentalida<strong>de</strong> cristã <strong>para</strong> nossos patrícios.<br />

"Continuemos todos pregando o Evangelho que


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

261<br />

é do coração e por isso se manifesta no caráter dos<br />

indivíduos, o Evangelho que vai com os indivíduos a<br />

toda a parte, os santifica em tudo o que fazem, o<br />

Evangelho que é vida e não distintivo, cerimónia,<br />

nome, o Evangelho que santifica o lar, a socieda<strong>de</strong>, a<br />

administração pública, a nação".<br />

O trecho da seguinte carta a um ministro revela seu<br />

profundo amor <strong>para</strong> com a <strong>Igreja</strong> e seu vivo interesse<br />

pelos seus <strong>de</strong>stinos eternos:<br />

"Acabo <strong>de</strong> receber sua atenciosa carta <strong>de</strong> 23 <strong>de</strong>ste,<br />

em que me dá conta das saudações que apresentou<br />

ao Exmo. Sr. Interventor Fe<strong>de</strong>ral no Estado <strong>de</strong> São<br />

Paulo, quando êle esteve nessa cida<strong>de</strong>, e da palestra<br />

cordial que teve com êle então.<br />

"Quero congratular-me com o caro irmão por estes<br />

fatos.<br />

"Na verda<strong>de</strong> tal atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> um pastor concorre <strong>para</strong><br />

que o nome da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil se firme no<br />

conceito dos dirigentes do país e <strong>para</strong> que ela se vá<br />

fazendo cada vez mais conhecida no meio nacional.<br />

"Estou sempre recomendando aos nossos ministros<br />

que não percam tais oportunida<strong>de</strong>s que não <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong><br />

ser da mais alta importância <strong>para</strong> os fins que temos <strong>de</strong><br />

evangelizar os brasileiros, colaborar com as<br />

autorida<strong>de</strong>s, em todas as coisas que po<strong>de</strong>m concorrer<br />

<strong>para</strong> a felicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> nossos patrícios".<br />

Viaja. Encontra-se agora em Santa Maria, sua cida<strong>de</strong><br />

natal. E com o coração aos pulos misto <strong>de</strong> alegria e<br />

sauda<strong>de</strong> percorre não a sala pequenina <strong>de</strong> sua<br />

primeira escola, mas as salas imensas e os longos


NELSON DE GODOY COSTA<br />

262<br />

corredores do majestoso colégio que a <strong>Igreja</strong> está<br />

construindo, o Colégio Centenário.<br />

Zeloso <strong>de</strong> sua correspondência numerosa classi-fíca-a<br />

pelos vários cargos da <strong>Igreja</strong> e por isso roga aos que<br />

lhe escrevem não tratarem numa só carta ou documento<br />

<strong>de</strong> mais <strong>de</strong> um assunto, facilitando-lhe assim<br />

a classificação.<br />

Interessado em que as viagens <strong>de</strong> membros da <strong>Igreja</strong><br />

se façam sem dificulda<strong>de</strong>s aconselha-os a muni-remse<br />

<strong>de</strong> carta <strong>de</strong> apresentação firmada pelos pastores. É<br />

que muitos embusteiros se dizem membros das<br />

paróquias metodistas ou <strong>de</strong> outra igreja evangélica e<br />

procuram explorar as instituições nossas, levando os<br />

pastores a tomar atitu<strong>de</strong> contra essa gente sem<br />

documentos.<br />

Alegra-se quando metodistas se <strong>de</strong>stacam, projelando<br />

seu nome. A exma. sra. Eunice Gabby Weaver tem<br />

notável atuação como representante do Brasil no<br />

Congresso <strong>de</strong> Proteção à Criança, realizado em<br />

Washington e o Bispo brasileiro felicita a distinta<br />

educadora.<br />

Para que o professor An<strong>de</strong>rson Weaver possa<br />

acompanhar sua ilustre esposa que vai aos Estados<br />

Unidos representar o Brasil a convite do exmo. sr. Presi<strong>de</strong>nte<br />

da República o Bispo brasileiro conce<strong>de</strong>-lhe<br />

permissão especial <strong>para</strong> viajar.<br />

Pre<strong>para</strong>ndo a <strong>Igreja</strong> <strong>para</strong> o "Dia <strong>de</strong> Comunhão<br />

Universal" incumbe o rev. Walter Gilwill Borchers <strong>de</strong><br />

orientar pela imprensa a celebração que todas as<br />

igrejas metodistas do Brasil, em uníssono com todas


263<br />

as igrejas católico-evangélicas do mundo <strong>de</strong>vem fazer<br />

da Comunhão universal em primeiro domingo <strong>de</strong><br />

outubro.<br />

Suas ovelhas merecem sempre bom alimento e por<br />

isso informa-lhes o programa radiofónico que diariamente<br />

irradia os capítulos do livro <strong>de</strong> Rodhen "Em<br />

espírito e em verda<strong>de</strong>". Constantemente recomenda<br />

aos ministros e leigos livros notadamente bons,<br />

interessado em que seja cada vez mais aprimorada a<br />

cultura da <strong>Igreja</strong>. Êle exemplifica. É estudioso <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />

mais tenra infância. Estuda sempre. Tem<br />

constantemente um livro <strong>de</strong> leitura cuidadosamente<br />

escolhida. Lê muito, lê sempre nos trens, nos<br />

automóveis, nos aviões, em viagem nos hotéis, em<br />

residências on<strong>de</strong> se hospeda.<br />

Em novembro <strong>de</strong> 1943 esclarece pela imprensa oficial<br />

a <strong>Igreja</strong> sobre o seguinte assunto <strong>de</strong>veras interessante:<br />

o Código Penal, Decreto-Lei 2.848 <strong>de</strong> 7 <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1940 diz: "Escarnecer <strong>de</strong> alguém publicamente<br />

por motivo <strong>de</strong> crença ou função religiosa ou<br />

prática <strong>de</strong> culto religioso, vilipendiar publicamente ato<br />

ou objeto <strong>de</strong> culto religioso. Pena — <strong>de</strong>tenção <strong>de</strong> um<br />

mês a um ano, multa <strong>de</strong> Crf 500,00 a Crf 1.000,00.<br />

O artigo 122 da Constituição diz:<br />

a) Todos são iguais perante a lei.<br />

b) Todos os indivíduos e confissões religiosas<br />

po<strong>de</strong>m exercer livremente seu culto, pública e livremente,<br />

associando-se <strong>para</strong> esse fim e adquirindo<br />

bens, observadas as disposições do direito comum, as<br />

exigências da or<strong>de</strong>m pública e dos bons costumes.<br />

Parece que estava adivinhando. Por ocasião do<br />

concílio regional seguinte na cida<strong>de</strong> paulista <strong>de</strong> Ouri-


NELSON DE GODOY COSTA<br />

264<br />

nhos sofre atentado em praça pública. A <strong>Igreja</strong> por<br />

seus advogados imediatamente toma providências,<br />

pren<strong>de</strong> e processa o agressor que foi con<strong>de</strong>nado.<br />

Suas visitas esten<strong>de</strong>m-se além dos campos evangélicos.<br />

Numa cida<strong>de</strong> sulina visita o prefeito, os juízes,<br />

o <strong>de</strong>legado <strong>de</strong> polícia, o chefe do posto <strong>de</strong> higiene, o<br />

<strong>de</strong>legado do alistamento militar, o instrutor do tiro <strong>de</strong><br />

guerra e os hospitais.<br />

Rigoroso ao extremo na questão das nomeações<br />

episcopais, constando-lhe que há quem balbucie<br />

futuras nomeações com promessa do bispo, do<br />

gabinete episcopal ou dalgum superinten<strong>de</strong>nte distrital,<br />

<strong>de</strong>clara que o bispo e o gabinete não fazem promessa<br />

<strong>de</strong>ssa natureza e não estudam nomeações senão<br />

quando se reúnem por ocasião dos concílios regionais.<br />

Diz: se há superinten<strong>de</strong>nte distrital que se aventure a<br />

tanto <strong>de</strong>ve ser imediatamente <strong>de</strong>nuneiado ao bispo<br />

pois não <strong>de</strong>ve fazer parte do gabinete.<br />

Pe<strong>de</strong> seguidamente aos pastores toda a atenção <strong>para</strong><br />

com o rol das paróquias. Concita ao interesse pelo<br />

ensino religioso nas escolas e dá paciente instrução a<br />

respeito da questão aborrecida das controvérsias<br />

<strong>de</strong>no-minacionais.<br />

Nomeia o rev. dr. Wesley Moore Carr <strong>para</strong> representálo<br />

na reunião da Comissão da Conferência Geral sobre<br />

conferências centrais, a ter lugar nos Estados Unidos.<br />

A Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Teologia merece seu constante<br />

carinho. É a menina dos olhos da <strong>Igreja</strong>. Dela levantarão<br />

vôo os que vão <strong>para</strong> a conquista do Brasil <strong>para</strong>


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

265<br />

Cristo. Nela apanharão suas re<strong>de</strong>s os novos pescadores<br />

<strong>de</strong> homens. Para a gran<strong>de</strong> campanha que se está processando<br />

em favor da Casa <strong>de</strong> Profetas pe<strong>de</strong> todo o<br />

empenho dos superinten<strong>de</strong>ntes distritais, pastores, oficiais,<br />

membros da igreja amigos da causa.<br />

Construções e cuidado com construções estão sempre em<br />

sua mente. Quer que os pastores estu<strong>de</strong>m com todo o<br />

cuidado o local on<strong>de</strong> preten<strong>de</strong>m construir templos capelas,<br />

residências pastorais. Nada <strong>de</strong> lugares inacessíveis,<br />

recantos altos, ruas secundárias. É sempre preferível<br />

esperar 10 anos e construir bem, e em lugares<br />

convenientes a construir logo e em lugares impróprios.<br />

Cogita da leitura sadia <strong>para</strong> o soldado expedicionário da<br />

segunda gran<strong>de</strong> guerra. Solicita aos crentes livros <strong>para</strong> a<br />

Biblioteca do Combatente que vai seguir com o Corpo<br />

Expedicionário. Está em correspondência e estudo <strong>para</strong> a<br />

nomeação <strong>de</strong> um capelão pela <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> <strong>para</strong> o<br />

Corpo Expedicionário Brasileiro.<br />

Viaja. Está na capital brasileira. Presi<strong>de</strong> reuniões da<br />

comissão revisora da Bíblia, comissões universitárias,<br />

conselho central, visita templos, presi<strong>de</strong> a atos litúrgicos,<br />

dá entrevistas, vai à Confe<strong>de</strong>ração Evangélica do Brasil, às<br />

Socieda<strong>de</strong>s Bíblicas, à secretaria geral da Ação Social,<br />

visita o ex-bispo <strong>de</strong> Maura.<br />

Lembra que já é tempo <strong>de</strong> se pensar em construir ou<br />

adquirir um edifício <strong>de</strong> vários andares no Rio <strong>de</strong> Janeiro<br />

<strong>para</strong> escritórios e residências <strong>de</strong> uso exclusivo da <strong>Igreja</strong>.


NELSON DE GODOY COSTA<br />

266<br />

A <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil confia na direçâo do gran<strong>de</strong><br />

Bispo. O Bispo confia inteiramente no Deus altíssimo. E<br />

Deus está verda<strong>de</strong>iramente interessado em que Seu Reino<br />

seja estabelecido no coração dos homens pela<br />

instrumentalida<strong>de</strong> das igrejas evangélicas.


CAPÍTULO SEGUNDO<br />

A ESCOLA DOMINICAL E OUTRAS COGITAÇÕES DE<br />

SEU CORAÇÃO<br />

267<br />

Conhecendo muito bem a força po<strong>de</strong>rosa que a Escola<br />

Dominical representa perante a <strong>Igreja</strong> e sua atuação no<br />

próprio ambiente fora, à maneira <strong>de</strong> João Wesley incentiva<br />

o melhoramento do padrão <strong>de</strong> ensino através da<br />

consagração dos professores. A página que vamos ler<br />

prova <strong>de</strong> maneira feliz seu zelo episcopal.<br />

AOS OBREIROS DA ESCOLA DOMINICAL<br />

Não hesito atribuir aos professores que realmente o sejam,<br />

em geral, uma das funções mais conspícuas no<br />

encaminhamento da vida humana <strong>para</strong> finalida<strong>de</strong>s que lhe<br />

assinou o próprio Criador. Eles são como ajustadores no<br />

estado caótico em que ela <strong>de</strong>sponta, e, ao mesmo tempo,<br />

como estimuladores das forças que ela trás latentes. Não<br />

sei <strong>de</strong> melhores auxiliares que,


268<br />

<strong>de</strong>ssarte, ela encontre na terra. Com<strong>para</strong>m-se-lhes<br />

apenas os pais, os ministros e os médicos.<br />

Não se dispensam em parte nenhuma nem em tempo<br />

algum. Não há modalida<strong>de</strong> da vida humana <strong>de</strong> que se<br />

prescindam, nem <strong>de</strong>la existe estágio em que se<br />

dispensem. E, quando não os encontra ao alcance, tem,<br />

por força <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> apelar <strong>para</strong> si própria, em<br />

verda<strong>de</strong>iro auto-didatismo, se quer progredir e aten<strong>de</strong>r ao<br />

lugar que lhe toca na harmonia da Criação, e não<br />

estiolar-se e <strong>de</strong>saparecer.<br />

Tenho que nem os próprios professores, quaisquer que<br />

sejam, compreen<strong>de</strong>m sempre a importância que lhes<br />

cabe no <strong>de</strong>senvolvimento e formação da vida humana.<br />

Atentem, portanto, <strong>para</strong> o fato que são colaboradores <strong>de</strong><br />

Deus na construção mais <strong>de</strong>licada, mais linda e mais<br />

preciosa que é dado imaginar. Vejam, portanto, a massa<br />

mirífica e inexcedivelmente importante que têm nas mãos<br />

e o que <strong>de</strong>la po<strong>de</strong>m fazer. Sejam, portanto, em extremo<br />

sábios, pru<strong>de</strong>ntes e esforçados e edifiquem a melhor<br />

obra <strong>de</strong> suas possibilida<strong>de</strong>s. E, por mais que já se<br />

tenham a<strong>de</strong>strado em sua missão, não <strong>de</strong>ixem <strong>de</strong><br />

continuamente habilitar-se, como que, <strong>de</strong><br />

aperfeiçoamento em aperfeiçoamento, com os recursos<br />

<strong>de</strong> compreensão e execução <strong>de</strong> que são capazes.<br />

Se assim são os professores, em geral, que dizer dos<br />

professores da Escola Dominical, em particular? Há que<br />

atribuir-lhes funções mais do que conspícuas, porque<br />

sublimes. Se, na verda<strong>de</strong>, penetrados da posição que<br />

ocupam e que lhes foi confiada por Deus, através da<br />

<strong>Igreja</strong>, não estão simplesmente encaminhando a vida


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

269<br />

humana como um todo, ou qualquer <strong>de</strong> suas partes como<br />

elemento comum e indistinto, mas estão manipulando o<br />

que nela existe <strong>de</strong> mais íntimo, sutil e valioso, <strong>de</strong> mais<br />

elevado, excelso e transcen<strong>de</strong>nte, <strong>de</strong> mais digno, nobre e<br />

santo. Sim, estão manipulando os elementos morais e<br />

espirituais da vida humana, <strong>de</strong> que nela tudo mais<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>. Sim, estão argamassando as bases sobre que<br />

ela há <strong>de</strong> levantar-se e sustentar-se. Dentre os<br />

professores, nenhum mais se aproxima <strong>de</strong> Deus <strong>para</strong><br />

auscultar-lhe os <strong>de</strong>sígnios e conformar-se, no que fazem,<br />

com eles. Eis porque seu principal livro é a Palavra Divina<br />

e seu padrão, <strong>para</strong> si e <strong>para</strong> os alunos, é unicamente<br />

Jesus Cristo. E eis porque o resultado <strong>de</strong> seu labor se<br />

<strong>aqui</strong>lata, tanto no tempo como na eternida<strong>de</strong>. Dentre os<br />

professores, também, nenhum mais do que eles sabem<br />

— pelo menos <strong>de</strong>vem saber — pelo senso do espírito e<br />

pelo efeito da prática, o que querem dizer "religião" e<br />

"cristianismo", "fé" e "oração", "verda<strong>de</strong>" e "justiça",<br />

"amor" e "santida<strong>de</strong>" — enfim, "caráter" e<br />

"personalida<strong>de</strong>".<br />

De certo que a <strong>Igreja</strong> lhes presta, assim como a todos os<br />

outros obreiros da Escola Dominical, acentuado respeito<br />

e carinhosa estima e lhes dispensa ilimitado<br />

reconhecimento e infinita gratidão. Isto ela ò faz com<br />

tanto mais justiça quanto é inegável que nos homens e<br />

mulheres que mo<strong>de</strong>la <strong>para</strong> o mundo e pre<strong>para</strong> <strong>para</strong> o<br />

Reino do Céu, como pedra <strong>de</strong> toque <strong>de</strong> sua sagrada<br />

missão, muitíssimo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong>les.<br />

De mim não lhes regateio encómios e louvores, nem lhes<br />

calculo apreciação pela boa vonta<strong>de</strong>,


NELSON DE GODOY COSTA<br />

270<br />

<strong>de</strong>sprendimento e empenho com que servem à <strong>Igreja</strong> e,<br />

por meio <strong>de</strong>la, ao próprio Criador.<br />

Não só em ativida<strong>de</strong>s religiosas ocupa seu tempo. As<br />

ativida<strong>de</strong>s culturais tomam momentos <strong>de</strong> seu que fazer. É<br />

convidado <strong>para</strong> a mesa presi<strong>de</strong>ncial da Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong><br />

Letras <strong>de</strong> São Paulo na recepção do laureado poeta<br />

Salomão Jorge. Na mesma capital paulista assiste à<br />

recepção do bispo d. Salomão Ferraz na loja maçónica<br />

"Comércio e Ciências". Ainda na Paulicéia assiste à<br />

conferência do general Assis Brasil sobre os problemas<br />

da paz, na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito.<br />

Sempre enten<strong>de</strong>u que as séries <strong>de</strong> evangelização <strong>de</strong>vem<br />

ser um trabalho completo e que têm perdido muito <strong>de</strong> sua<br />

finalida<strong>de</strong> porque os responsáveis não se empregam até<br />

o fim na conquista <strong>de</strong> seu êxito. Segundo seu ponto <strong>de</strong><br />

vista uma das maiores faltas que as igrejas cometem<br />

quando das séries <strong>de</strong> conferências é que não aproveitam<br />

<strong>de</strong>vidamente o <strong>de</strong>spertamento que as séries produzem.<br />

Acabada a série, geralmente tudo volta ao statu quo. Não<br />

se tomaram o nome e o en<strong>de</strong>reço dos candidatos que se<br />

apresentaram. Ninguém os vai visitar <strong>para</strong> lhes alimentar<br />

a fé nascente. Ninguém os vai buscar <strong>para</strong> os cultos<br />

regulares na igreja. Ninguém os convida <strong>para</strong> as classes<br />

da escola dominical e reuniões das socieda<strong>de</strong>s. Ninguém<br />

lhes oferece um Novo Testamento ou lhe mostra um número<br />

do Expositor Cristão. Se aparecem num culto não<br />

recebem as <strong>de</strong>monstrações <strong>de</strong> carinho e fraternida<strong>de</strong> que<br />

<strong>de</strong>veriam receber. A <strong>Igreja</strong> precisa mudar <strong>de</strong> rumo. O<br />

trabalho mais importante <strong>de</strong> uma série


271<br />

<strong>de</strong> conferências é o que <strong>de</strong>ve seguir-se ao seu<br />

encerramento. O pastor e um bom número <strong>de</strong> membros<br />

da igreja dotados <strong>de</strong> espírito evangelizador po<strong>de</strong>m colher<br />

<strong>de</strong> qualquer série frutos numerosos se fizerem esse<br />

trabalho.<br />

Propaga a literatura metodista lembrando aos irmãos que<br />

um bom presente <strong>de</strong> Natal ou Ano Novo é uma<br />

assinatura do Expositor Cristão, Voz Missionária, Bem-<br />

Te-Vi, Cruz <strong>de</strong> Malta ou No Cenáculo.<br />

Sabe que o concurso da força leiga é uma preciosida<strong>de</strong> e<br />

recomenda a cada pastor que faça o recenseamento em<br />

suas igrejas no sentido <strong>de</strong> ver o que cada membro po<strong>de</strong><br />

fazer em trabalho constante e ativo.<br />

Continua viajando. Obe<strong>de</strong>ce a longos e exaustivos<br />

itinerários. Agora está na capital paulista, pregando na<br />

igreja <strong>de</strong> Pinheiros, no culto que marca o início da gran<strong>de</strong><br />

campanha <strong>para</strong> a compra <strong>de</strong> terreno em que vai construir<br />

o templo.<br />

Segue <strong>para</strong> Assis, na Alta Sorocabana, vai a Presi<strong>de</strong>nte<br />

Pru<strong>de</strong>nte, a capital da Alta Sorocabana. Prossegue <strong>para</strong><br />

Presi<strong>de</strong>nte Bernar<strong>de</strong>s. Ruma Cândido Mota. Vai a<br />

Ourinhos. Penetra o Estado do Paraná. Vai a<br />

Ban<strong>de</strong>irantes, <strong>de</strong>pois Londrina, a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> surto vertiginoso<br />

<strong>de</strong> progresso; <strong>de</strong>pois Cornélio Procópio, Cambará;<br />

volta ao Estado <strong>de</strong> São Paulo, em A vare, Botucatu,<br />

Sorocaba.<br />

Nessas cida<strong>de</strong>s prega, examina livros, reúne-se com<br />

oficiais, visita, batiza crianças e adultos, recebe pessoas<br />

à comunhão da <strong>Igreja</strong>, presi<strong>de</strong> concílios distritais, fala<br />

pelo rádio, conce<strong>de</strong> entrevistas a particulares


272<br />

que lhe solicitam direção <strong>para</strong> a vida espiritual, é<br />

entrevistado pela imprensa secular, fala a igrejas <strong>de</strong><br />

outras <strong>de</strong>nominações, presi<strong>de</strong> concentrações <strong>de</strong> escolas<br />

dominicais, <strong>de</strong>senvolve teses, presi<strong>de</strong> convenções regionais,<br />

ministra a Santa Ceia.<br />

Numerosos crentes <strong>de</strong> Leópolis e Marco Zero,<br />

congregações <strong>de</strong> Cornélio Procópio <strong>de</strong>sejam conhecer o<br />

Bispo brasileiro e, como bom pastor, excursiona a esses<br />

lugares levando o pão espiritual e a água que mata a<br />

se<strong>de</strong> da alma.<br />

Quando se <strong>de</strong>sincumbe <strong>de</strong>ssas ativida<strong>de</strong>s vai <strong>para</strong> o<br />

aposento do hotel ou da casa que o hospeda e principia a<br />

aten<strong>de</strong>r à volumosa correspondência que o espera em<br />

todos os lugares. A máquina <strong>de</strong> escrever corre até alta<br />

madrugada. Na manhã seguinte <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> cartas são<br />

<strong>de</strong>itadas na caixa do correio.<br />

Agora <strong>de</strong>ixa a zona Sorocabana e ruma a zona Noroeste<br />

do Estado <strong>de</strong> São Paulo. Visita Lins, Biriguí, Araçatuba,<br />

Guararapes, as cida<strong>de</strong>s on<strong>de</strong> o Metodismo plantou bases<br />

sólidas, edificando templos, construindo residências<br />

pastorais, abrindo colégios, levantando capelas,<br />

formando congregações ao lado <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s paróquias.<br />

Seu <strong>de</strong>stino agora é Marília a cida<strong>de</strong> mais nova e mais<br />

progressista da zona da Alta Paulista. Além dos trabalhos<br />

da <strong>Igreja</strong> aten<strong>de</strong> ao convite da Associação


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

273<br />

Comercial e no seu salão nobre profere uma conferência<br />

sobre a educação que convém ao Brasil. É irradiada.<br />

Com o coração sempre voltado <strong>para</strong> os membros da<br />

<strong>Igreja</strong> ensina que não se po<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar excluídos os<br />

que não forem legalmente ou por morte, ou por<br />

transferência ou a pedido, ou pela assembleia da igreja<br />

ou por julgamento. Fora disso qualquer outra atitu<strong>de</strong> será<br />

abuso inadmissível <strong>para</strong> com os direitos que êle tem.<br />

Reconhece a necessida<strong>de</strong> das cooperativas e aos<br />

pastores e oficiais pe<strong>de</strong> que se interessem na fundação<br />

<strong>de</strong> cooperativas estudando o <strong>de</strong>creto n.° 22.239, <strong>de</strong> 19 <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1932, revigorado pelo <strong>de</strong>creto n.° 581 <strong>de</strong> 1.°<br />

<strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1937.<br />

A <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> é luz <strong>para</strong> o Brasil e tem <strong>de</strong> fazer sentir<br />

essa luz no meio ambiente cada vez mais amplo. O Bispo<br />

brasileiro em todas as paróquias que visita e em todos os<br />

concílios que presi<strong>de</strong> insiste principalmente nesses<br />

pontos: cooperação com as autorida<strong>de</strong>s e instituições<br />

públicas; participação da igreja nas festas nacionais e<br />

comemorações cívicas; pre<strong>para</strong>ção da infância, meninice<br />

e mocida<strong>de</strong> metodistas em ca-ráter cristão, saú<strong>de</strong> e<br />

cultura.<br />

As igrejas aten<strong>de</strong>m a recomendação do Bispo.<br />

Movimentam-se no sentido <strong>de</strong> fazer sentir no mundo<br />

brasileiro sua expressão. Não são alguma coisa que <strong>de</strong>va<br />

isolar-se do mundo, e apenas con<strong>de</strong>nar o mundo, mas<br />

sim atuar no meio do mundo, aplaudi-lo no que está<br />

certo, acompanhá-lo no que está certo e


NELSON DE GODOY COSTA<br />

274<br />

corrigi-lo no erro.<br />

Pre<strong>para</strong>m programas da Semana da Pátria, participam da<br />

Semana da Criança e <strong>de</strong> outras "semanas". Nos concílios<br />

saúdam por telegrama os governadores<br />

<strong>de</strong> Estado, visitam em comissões as autorida<strong>de</strong>s locais,<br />

cumprimentam a imprensa, criam uma auréola <strong>de</strong> simpatia<br />

e <strong>de</strong> boa vonta<strong>de</strong> da parte do ambiente além suas<br />

fronteiras. Observando esses resultados o Bispo escreve<br />

mais tar<strong>de</strong>:<br />

Consi<strong>de</strong>rando os resultados ótimos que vêm <strong>de</strong>ixando as<br />

comemorações cívicas nas igrejas, assim como a<br />

participação das igrejas nos programas cívicos organizados<br />

pelo governo, e ainda as homenagens, protestos<br />

<strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong>, cumprimentos às autorida<strong>de</strong>s, em<br />

cultos ou por meio <strong>de</strong> cartas ou telegramas, concito os<br />

pastores e as igrejas que <strong>de</strong>senvolvam ainda mais esse<br />

costume louvável.<br />

A <strong>Igreja</strong> precisa formar homens que sejam a luz do<br />

mundo e o sal da terra. Se não conseguir isto estará<br />

falhando em uma das suas mais belas finalida<strong>de</strong>s.<br />

Conseguirá, porém. É que o Senhor está edificando Sua<br />

casa.


CAPÍTULO TERCEIRO<br />

VIAJA, VISITA, ESCREVE,<br />

PENSANDO SEMPRE NA IGREJA<br />

275<br />

A <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil cresce com o favor divino<br />

satisfatoriamente. Ano após ano os concílios regionais<br />

registram número consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong> novos membros.<br />

É verda<strong>de</strong> que muitos se tornam <strong>de</strong>sconhecidos ou <strong>de</strong><br />

<strong>para</strong><strong>de</strong>iro ignorado e o Bispo pe<strong>de</strong> aos pastores que<br />

não <strong>de</strong>ixem <strong>de</strong> publicar esses nomes no Expositor<br />

Cristão.<br />

Espalham-se os crentes. Os circuitos aumentam. Os<br />

pastores viajam visitando. O Bispo brasileiro orienta:<br />

"Não é canónico que um pastor receba suas <strong>de</strong>spesas<br />

<strong>de</strong> viagem do membro ou dos membros da <strong>Igreja</strong> ou<br />

congregação afastados da se<strong>de</strong> da paróquia, que êle<br />

visita e muito menos que êle visite só quando eles lhas<br />

possam pagar. Êle <strong>de</strong>ve recebê-las diretamente<br />

da


276<br />

junta <strong>de</strong> economos (cân. 181). Doutra maneira não se<br />

formariam os circuitos tão necessários em torno <strong>de</strong><br />

cada paróquia.<br />

As socieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvem-se. Falta uma: <strong>de</strong><br />

ho-nens e o Pispo recomenda que assim como <strong>de</strong>ve<br />

haver em cada igrejas socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> senhoras, <strong>de</strong><br />

jovens e <strong>de</strong> crianças <strong>de</strong>ve haver socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> homens.<br />

E os homens se agrupam em socieda<strong>de</strong>s.<br />

Sabendo muito bem que "<strong>de</strong>las é o Reino dos<br />

céus" seu interesse cada vez maior pela criança leva a<br />

insistir com os dirigentes da <strong>Igreja</strong> que cui<strong>de</strong>m da<br />

criança <strong>de</strong> sua formação física, moral e espirilual.<br />

cooperando com os lares e escolas nesse sentido.<br />

Olha <strong>para</strong> os pensionados e funcionários da<br />

Imprensa <strong>Metodista</strong>. Visando <strong>de</strong>senvolver ao máximo o<br />

Património Geral dos Pensionados assim como a participação<br />

que os empregados da Imprensa <strong>Metodista</strong><br />

têm nos lucros <strong>de</strong>ssa empresa, pe<strong>de</strong> a todos que têm<br />

débito <strong>para</strong> com a Imprensa que procurem saldá-lo.<br />

A <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> continua crescendo e exigindo<br />

cada dia maior cuidado <strong>de</strong> seu superinten<strong>de</strong>nte geral.<br />

Em 1945 as estatísticas sobre o último exercício eclesiástico<br />

acusam o seguinte resultado. Na Região eclesiástica<br />

do Norte 751 novos membros recebidos; na do<br />

Centro, 1002; na do Sul (15 meses) 510. Membros<br />

existentes: Norte, 11.462; Centro, 11.G98; Sul, 5.428;<br />

total: 28.588. Arrecadações: 4.014.092, cerca <strong>de</strong> quatro<br />

vezes a arrecadação <strong>de</strong> 1930.<br />

Nesse mesmo ano a um pastor que se dirige ao<br />

Bispo ferindo vários aspectos da sempre <strong>de</strong>batida e


277<br />

apaixonante questão das nomeações episcopais, tece<br />

entre outras, essas consi<strong>de</strong>rações em que esplen<strong>de</strong>m<br />

suas convicções <strong>de</strong> metodista e intinerante:<br />

"... Também não posso enten<strong>de</strong>r a interpretação que<br />

lhe <strong>de</strong>ram <strong>de</strong> suas transferências, pois <strong>para</strong> mim,<br />

metodista enragé, nem Penápolis, nem Araçatuba,<br />

nem Presi<strong>de</strong>nte Pru<strong>de</strong>nte, nem Uberlândia são<br />

melhores ou piores do que a Central <strong>de</strong> São Paulo,<br />

Piracicaba, Ribeirão Preto, Cornélio Procópio, Capão<br />

Bonito, Cândido Mota. Quando vim <strong>para</strong> o ministério<br />

metodista foi <strong>para</strong> servir em qualquer lugar on<strong>de</strong> me<br />

mandassem. Imbuí-me do espírito wesleiano: "minha<br />

paróquia é o mundo". Não distingo uma parte da outra;<br />

<strong>para</strong> qualquer lugar irei, na companhia <strong>de</strong> Deus,<br />

gozando <strong>de</strong> uma felicida<strong>de</strong> íntima que ninguém po<strong>de</strong><br />

julgar e pronto a fazer o melhor que me permitirem as<br />

forças. Eu estava no Rio, primeiro no Catete e <strong>de</strong>pois<br />

no Instituto Central do Povo, quando fui mandado <strong>para</strong><br />

Anta.<br />

Depois estava em Juiz <strong>de</strong> Fora com quatro filhos<br />

estudando no Instituto Granbery quando fui mandado<br />

<strong>para</strong> Carangola, cida<strong>de</strong> da mata, igreja <strong>de</strong> vinte e uma<br />

pessoas que se reunia numa casa que ameçava ruína.<br />

Nunca me tive por diminuído ao sair <strong>de</strong> uma igreja<br />

gran<strong>de</strong> ou rica <strong>para</strong> ir <strong>para</strong> uma igreja pequena ou<br />

pobre, ou engran<strong>de</strong>cido ao sair <strong>de</strong> uma igreja pequena<br />

ou pobre e ir <strong>para</strong> uma igreja gran<strong>de</strong> ou rica.<br />

"Foi precisamente <strong>de</strong> Carangola que saí <strong>para</strong> o<br />

episcopado. Nisso não vi promoção nem melhoria.<br />

Amanhã <strong>de</strong>ixando o episcopado e indo <strong>para</strong><br />

Presi<strong>de</strong>nte


NELSON DE GODOY COSTA<br />

278<br />

Bernar<strong>de</strong>s, Ban<strong>de</strong>irantes, Cambará ou Igarapava não<br />

me sentirei aviltado.<br />

"Altos e baixos, gran<strong>de</strong>s e pequenos, ricos e pobres,<br />

capitais e interior, cida<strong>de</strong>s e arraiais são características<br />

metodistas que se aplicam tanto aos campos<br />

pastorais como aos ministros, indiferentemente.<br />

"No gabinete episcopal, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> orarmos, nossa<br />

preocupação é acertar com os homens e seus lugares.<br />

Muitas vezes temos <strong>de</strong> mandar um dos mais cultos ministros<br />

<strong>para</strong> um lugar humil<strong>de</strong>, porque é êle no nosso<br />

melhor juízo, quem ali po<strong>de</strong> resolver circunstâncias.<br />

Muitas vezes também mandamos um ministro e até<br />

um provisionado <strong>de</strong> pouco saber <strong>para</strong> um lugar<br />

gran<strong>de</strong>, porque o julgamos capaz <strong>de</strong> resolver o que<br />

situações exigem. Nunca nos preocupamos, a não ser<br />

<strong>de</strong> maneira muito geral, <strong>de</strong> transferir um homem <strong>de</strong> cá<br />

<strong>para</strong> lá, só porque tem cursos, é mais social, etc.<br />

"De mais a mais eu faria retirar-se imediatamente do<br />

gabinete quem <strong>para</strong> lá fosse armado <strong>de</strong> inveja, <strong>de</strong><br />

animosida<strong>de</strong> contra colegas, ou com intrigas e politicagens.<br />

Para isso tenho tido o cuidado <strong>de</strong> escolher<br />

homens <strong>para</strong> superinten<strong>de</strong>ntes distritais — sei, com<br />

prejuízo <strong>de</strong> outros — que tenham compreensão e prática<br />

do verda<strong>de</strong>iro metodismo apostolar e missionário,<br />

isto é, que não cuidam <strong>de</strong> nome, posição, renda, lugar,<br />

mas se absorvem inteiramente no trabalho da <strong>Igreja</strong>.


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

279<br />

"Assim po<strong>de</strong> ver que não se formam castas nem<br />

classes <strong>de</strong> privilegiados no ministério metodista. 0<br />

lugar <strong>de</strong> um po<strong>de</strong> ser o lugar <strong>de</strong> todos. As vantagens<br />

<strong>de</strong>ste são as vantagens daquele. As dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> tal<br />

zona <strong>de</strong>vem ser suportadas por uns e outros sem<br />

distinção. No ministério metodista há somente ministros.<br />

"Em que pese tudo o que disse até <strong>aqui</strong>, é necessário<br />

notar que não nomeamos um homem doente ou velho<br />

<strong>para</strong> um circuito que êle não po<strong>de</strong> fazer; tudo ensina<br />

que <strong>para</strong> lá <strong>de</strong>ve ir um moço forte. Também não<br />

cairíamos na estultícia <strong>de</strong> mandar um provisionado <strong>de</strong><br />

poucas letras <strong>para</strong> uma igreja como a Central. Como<br />

disse, sem fazer distinções entre ministros procuramos<br />

colocar no lugar que em juízo são nos parece ser o<br />

melhor em que êle <strong>de</strong>ve estar. Isto, por outro lado não<br />

nos liberta <strong>de</strong> erros".<br />

Esta carta cem por cento metodista e cristã, do punho<br />

do Bispo da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> <strong>de</strong>fine o pensamento e a<br />

conduta do gabinete, ou melhormente, do próprio<br />

Bispo brasileiro no assunto, oferecendo segurança aos<br />

pastores quanto a sua nomeação e levando a<br />

realizarem o pastorado isentos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconfianças.<br />

Aos membros do concílio distrital em Juiz <strong>de</strong> Fora<br />

dirige uma epístola repassada <strong>de</strong> profundo sentido<br />

espiritual. Vale apena transcrevê-la integralmente :<br />

"D. D. Presi<strong>de</strong>nte e nobres membros do Concílio<br />

Distrital do distrito <strong>de</strong> Juiz <strong>de</strong> Fora.


280<br />

Saúdo-vos no excelso nome <strong>de</strong> Jesus Cristo, nosso<br />

Mestre Senhor e Re<strong>de</strong>ntor.<br />

Faço votos sinceros pelo êxito <strong>de</strong> vossa reunião.<br />

Presida o Espírito Santo às vossas discussões e<br />

<strong>de</strong>liberações. Muito eu <strong>de</strong>sejara estar ao vosso lado,<br />

nos dias <strong>de</strong> vossa estada em concílio distrital.<br />

Entretanto, os trabalhos da região do Centro, a que<br />

estou <strong>de</strong>votando a maior parte <strong>de</strong>ste ano, não me<br />

garantem tão gran<strong>de</strong> prazer. Como quer que seja,<br />

estarei em espírito em vosso meio. Pedirei a Deus por<br />

vós. Espero que vossos rlatórios e informações, dados<br />

em plenário, superem aos dos anos anteriores pela<br />

excelência dos serviços feitos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o último concílio<br />

regional, em vossas paróquias. Aos prezados irmãos<br />

do ministério mando esta palavra: — Consagrai-vos<br />

cada vez mais a vossa obra, como pastores do<br />

rebanho <strong>de</strong> Jesus Cristo.<br />

Amai vossos paroquianos como se fossem eles<br />

vossos filhos. Vigiai sobre eles como atalaias que têm<br />

<strong>de</strong> prestar contas da preservação <strong>de</strong>les, a Deus. Le<strong>de</strong>,<br />

rele<strong>de</strong>, e tresle<strong>de</strong> Ezequiel cap. 33 e 34, S. João 10 V.<br />

19-21; as Epístolas a Timóteo. Pensai nas coisas que<br />

são <strong>de</strong> cima, buscai as coisas que são <strong>de</strong> cima e não<br />

vos preocupeis e nem vos embaraceis com as coisas<br />

que são da terra. Entregai-vos a um misticismo sadio<br />

<strong>de</strong> leitura bíblica, oração e meditação. Procurai o<br />

testemunho do Espírito e a convicção da santida<strong>de</strong>.<br />

Criai em vossas igrejas o ambiente que caracterizava<br />

as igrejas metodistas, antigamente, na Inglaterra e nos<br />

E. Unidos. Não importa que o mundo vos chame <strong>de</strong><br />

loucos ou fanáticos contanto que tenhais a convicção


281<br />

<strong>de</strong> filhos <strong>de</strong> Deus, a esperança da Eternida<strong>de</strong> e a<br />

cidadania dos céus. Aos prezados irmãos leigos digo:<br />

— Am<strong>para</strong>i e prestigiai vossos pastores, na medida do<br />

possivel. Segui suas exortações, admoestações e<br />

<strong>de</strong>monstrações <strong>de</strong> pieda<strong>de</strong> cristã. Auxiliai-os na<br />

organização e administração <strong>de</strong> suas paróquias e nos<br />

seus esforços <strong>de</strong> evangelização. Sobretudo, revestivos<br />

do po<strong>de</strong>r do Espírito Santo, <strong>para</strong> que Jesus Cristo<br />

vos possa apresentar a si mesmo como <strong>Igreja</strong><br />

Gloriosa, sem mácula, sem ruga, nem coisa<br />

semelhante, mas santa e irrepreensível. Para<br />

discussão e <strong>de</strong>liberação <strong>de</strong> vosso concílio insisto nos<br />

pontos que vos mencionei, no ano passado, em<br />

Barbacena:<br />

1.°) Aumento sempre que fôr possível dos subsídios<br />

pastorais até que chegue, no mínimo, ao limite da<br />

tabela;<br />

2.°) plano que objetive a construção <strong>de</strong> residência<br />

paroquial <strong>para</strong> cada paróquia do distrito;<br />

3.°) participação ativa, brilhante das igrejas nas festas<br />

nacionais, comemorações cívicas, movimento <strong>de</strong><br />

caráter social e instituições públicas;<br />

4.°) visitas sempre que fôr possível às autorida<strong>de</strong>s,<br />

assim como telegrama ou ofício a elas, <strong>de</strong><br />

cumprimentos, por motivos <strong>de</strong> aniversários, datas<br />

festivas;<br />

5.°) trabalho organizado em cada paróquia <strong>para</strong><br />

am<strong>para</strong>r, encorajar e inspirar pais e filhos, na instrução<br />

e educação dos meninos e moças da igreja, a fim <strong>de</strong><br />

que venham com superiorida<strong>de</strong> a exercer funções<br />

altas,


NELSON DE GODOY COSTA<br />

282<br />

públicas e particulares, na socieda<strong>de</strong> brasileira. A<br />

todos peço leitura e atenção <strong>para</strong> as notas que<br />

continuamente publico no órgão oficial, assim como<br />

<strong>para</strong> avisos <strong>de</strong> outras autorida<strong>de</strong>s da <strong>Igreja</strong>, que<br />

aparecem no Expositor Cristão, Atas e Documentos,<br />

Cânones. Deus vos dê visões, sabedoria e força <strong>para</strong><br />

as oportunida<strong>de</strong>s da hora presente.<br />

Vosso em Cristo Jesus,


PANORAMAS DE UM EPISCOPADO<br />

quarto quatriênio<br />

283


284


CAPÍTULO PRIMEIRO<br />

PANORAMAS DE UM EPISCOPADO<br />

285<br />

O quinto Concílio Geral realiza-se em Piracicaba, no<br />

Estado <strong>de</strong> São Paulo. Na quarta sessão, dia 19 <strong>de</strong><br />

fevereiro <strong>de</strong> 1946, o Bispo brasileiro recebe através <strong>de</strong><br />

cinquenta e nove votos em sessenta cédulas a<br />

expressão <strong>de</strong> confiança da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil.<br />

Mo<strong>de</strong>stamente o Bispo diz, agra<strong>de</strong>cendo, preferir<br />

voltar ao pastorado, e acreditava mesmo nesse<br />

concílio rompesse o dia em que pu<strong>de</strong>sse voltar <strong>para</strong><br />

as li<strong>de</strong>s da paróquia, uma paróquia do interior, num<br />

gran<strong>de</strong> circuito. Está entretanto, ao dispor da <strong>Igreja</strong> e<br />

irá a qualquer lugar fazer o melhor que pu<strong>de</strong>r.<br />

Modéstia cristã apenas, suas palavras <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cimento.<br />

Bispo, não tem sobre seus ombros todas<br />

as paróquias, os longos circuitos, os mesmos campos<br />

<strong>de</strong> seu pastorado, agora muitas vezes multiplicados<br />

pelo <strong>de</strong>senvolviment espantoso da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do<br />

Brasil em seu episcopado?


NELSON DE GODOY COSTA<br />

286<br />

Não é agora pastor <strong>de</strong> todas as paróquias, <strong>de</strong> todas as<br />

igrejas, <strong>de</strong> todas as congregações, <strong>de</strong> todos os<br />

lugares mais afastados, mais difíceis, on<strong>de</strong> mora um<br />

metodista?<br />

É verda<strong>de</strong> que tem homens em cada paróquia,<br />

homens que estão se consumindo no trabalho, que se<br />

gastam em longas caminhadas nos sertões em sol,<br />

chuva, lama ou poeira, ou noite morta sobre livros nos<br />

gabinetes <strong>de</strong> estudo, <strong>de</strong> uma ou <strong>de</strong> outra maneira buscando<br />

o bem das almas, a vida da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> e a<br />

glória do Deus altíssimo.<br />

É verda<strong>de</strong> que tem em todo o território metodista<br />

homens que o amam e que são fiéis ao seu i<strong>de</strong>al <strong>de</strong><br />

Bispo porque é o i<strong>de</strong>al comum da causa. É verda<strong>de</strong><br />

que tem homens que lhe prestam ajuda <strong>de</strong> valor<br />

incalculável, mas é certo, tremendamente certo, que<br />

todo o peso tremendo da paróquia metodista brasileira<br />

paira sobre sua vida.<br />

No quatriênio que se finda presi<strong>de</strong> a todos os concílios<br />

regionais, todas as reuniões do gabinete geral, todos<br />

os concílios distritais, visita quase todas as paróquias<br />

algumas mais <strong>de</strong> uma vez.<br />

Antes <strong>de</strong> sua reeleição, concluindo o relatório<br />

episcopal, diz ser <strong>de</strong>vedor <strong>de</strong> gratidão infinda a todos<br />

quantos, sem distinção <strong>de</strong> cargos, foram seus colabo-


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

287<br />

radores na obra gigantesca <strong>de</strong> levar avante, sempre<br />

avante a obra esposada pela <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do<br />

Brasil. Do mesmo modo aos que conhecendo a<br />

fragilida<strong>de</strong> humana souberam suportá-lo nos seus<br />

erros e <strong>de</strong>ficiência.<br />

Protesta fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> à <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil e seu<br />

amor aos irmãos sem distinção em qualquer posto e<br />

em qualquer lugar em que Deus <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> doze anos<br />

<strong>de</strong> trabalho ininterrupto no episcopado venha colocálo.


CAPÍTULO SEGUNDO<br />

A IGREJA METODISTA DO BRASIL ELEGE<br />

DOIS NOVOS BISPOS<br />

288<br />

A <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil, graças ao favor divino, à<br />

consagração do Bispo brasileiro, através <strong>de</strong> uma<br />

direção segura, e graças ao <strong>de</strong>votamento <strong>de</strong> seus<br />

pastores e leigos cresce admiravelmente. Não tanto, é<br />

certo, quanto gostaríamos todos.<br />

Conta com 97 ministros ativos, 100 pastores provisionados.<br />

Tem 29.578 membros. Suas finanças sobem<br />

a seis milhões <strong>de</strong> cruzeiros atém dos muitos<br />

milhões do valor <strong>de</strong> suas proprieda<strong>de</strong>s.<br />

O quinto Concílio Geral pensa na necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se<br />

elegerem mais Bispos. A comissão <strong>de</strong> episcopado na<br />

primeira reunião realizada na terceira sessão toma<br />

conhecimento do relatório episcopal, impresso<br />

apresen-


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

289<br />

tado pelo revmo. Bispo César Dacorso Filho e aprovao<br />

unanimemente com voto <strong>de</strong> apreciação,<br />

reconhecimento e gratidão pelo seu trabalho e<br />

<strong>de</strong>dicação exemplares.<br />

O relatório número dois da referida comissão propõe<br />

ao plenário a eleição <strong>de</strong> três Bispos <strong>para</strong> o quatriênio<br />

que principia em 1946.<br />

São eleitos em primeiro escrutínio o rev. César<br />

Dacorso Filho; em segundo escrutínio o rev. Cyrus<br />

Bassett Dawsey; em terceiro escrutínio, o rev. Isaías<br />

Fernan<strong>de</strong>s Sucasas.<br />

Tem agora, a <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil três Bispos.<br />

CÉSAB DACORSO FILHO PRESIDE A SAGRAÇÃO<br />

DE BISPOS<br />

Às vinte horas do dia vinte e um <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1946,<br />

no templo da <strong>Igreja</strong> em Piracicaba, em ritual<br />

soleníssimo, o Bispo brasileiro presi<strong>de</strong> a sagração dos<br />

novos presbíteros ao episcopado, revs. Cyrus Bassett<br />

Dawsey e Isaías Fernan<strong>de</strong>s Sucasas.<br />

Em seguimento à solenida<strong>de</strong> o Bispo brasileiro<br />

pronuncia palavras <strong>de</strong> profunda unção e <strong>de</strong> intenso<br />

amor fraternal <strong>para</strong> seus novos companheiros <strong>de</strong> episcopado,<br />

dizendo da alegria íntima e cristã com que os<br />

recebe como colegas.<br />

INSTITUI-SE O COLÉGIO DOS BISPOS CÉSAR<br />

DACORSO FILHO ELEITO PRESIDENTE<br />

Os Anais do quinto Concílio Geral narram <strong>de</strong> maneira<br />

expressiva a instituição do Colégio dos Bispos.<br />

10


NELSON DE GODOY COSTA<br />

290<br />

"Às oito horas do dia vinte e dois <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1946<br />

reuniu-se o Colégio dos bispos da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do<br />

Brasil pela primeira vez na sua história, constituído<br />

pelos Bispos César Dacorso Filho, Cyrus Bassett<br />

Dawsey e Isaías Fernan<strong>de</strong>s Sucasas, no gabinete <strong>de</strong><br />

trabalhos do Bispo César Dacorso Filho, instalado no<br />

Colégio Piracicabano, on<strong>de</strong> se realiza o quinto Concílio<br />

Geral da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil. Após momentos<br />

<strong>de</strong> oração organizou-se o Colégio dos Bispos,<br />

sendo: presi<strong>de</strong>nte Bispo César Dacorso Filho; secretário<br />

Bispo Isaías Fernan<strong>de</strong>s Sucasas; vogal Bispo<br />

Cyrus Bassett Dawsey.<br />

Na mesma hora, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rações pon<strong>de</strong>radas<br />

e invocação da presença do Espírito Santo <strong>de</strong><br />

Deus, proce<strong>de</strong>u-se à eleição dos Bispos <strong>para</strong> as<br />

regiões eclesiásticas, sendo o Bispo César Dacorso<br />

Filho nomeado <strong>para</strong> a região do Norte.<br />

Essa Begião compreen<strong>de</strong> os Estados brasileiros do<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia,<br />

Pernambuco e outros Estados on<strong>de</strong> se abrir trabalho.<br />

Na mesma ocasião foi ainda o Bispo César Dacorso<br />

Filho <strong>de</strong>signado presi<strong>de</strong>nte da Junta Geral <strong>de</strong> Missões<br />

e da Comissão <strong>de</strong> Legislação.<br />

Além da região do Norte dirige a região do Centro<br />

durante o ano em que o Bispo Cyrus Bassett Dawsey<br />

passa em férias nos Estados Unidos, ano que se<br />

segue ao concílio geral.<br />

A referida região compreen<strong>de</strong> os Estados <strong>de</strong> São<br />

Paulo, norte <strong>de</strong> Paraná, Triângulo Mineiro, Mato Grosso<br />

e Goiás.


291<br />

Tem agora o Bispo brasileiro dois novos companheiros.<br />

Um, o Bispo Dawsey é o santo homem que<br />

toda a <strong>Igreja</strong> conhece, admira e estima verda<strong>de</strong>iramente.<br />

Seu ministério no Brasil <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primeiros<br />

tempos em meio <strong>de</strong> sertões noroestinos, quando os<br />

índios atacavam, matavam o branco, c um verda<strong>de</strong>iro<br />

apostolado. A zona vastíssima da Noroeste do Estado<br />

<strong>de</strong> São Paulo tem <strong>para</strong> com o Bispo Dawsey uma amiza<strong>de</strong><br />

profunda e verda<strong>de</strong>ira que chega aos limites da<br />

veneração. Sua maneira somente sua <strong>de</strong> perguntar:<br />

"como vai o senhor?" <strong>de</strong> sorrir conquistou o coração<br />

do brasileiro que sabe querer bem os homens<br />

sinceros.<br />

Elegendo-o bispo a <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil nâo<br />

apenas reconhece suas qualida<strong>de</strong>s pessoais, mas<br />

também presta significativa homenagem à <strong>Igreja</strong> Mãe<br />

que enviou <strong>para</strong> o Brasil homens como Cyrus Bassett<br />

Dawsey e que conserva no Brasil missionários verda<strong>de</strong>iramente<br />

consagrados à Causa e amigos sinceros<br />

dos brasileiros. Amam tanto o Brasil, que,<br />

aposentados, alguns querem permanecer na pátria<br />

que auxiliaram a evangelizar e on<strong>de</strong> <strong>de</strong>spen<strong>de</strong>ram o<br />

vigor <strong>de</strong> sua mocida<strong>de</strong>.<br />

Isaías Fernan<strong>de</strong>s Sucasas, brasileiro, filho <strong>de</strong> um<br />

casal verda<strong>de</strong>iramente cristão e o espírito altamente<br />

metodista, sr. José Fernan<strong>de</strong>s Sucasas e d.<br />

Encarnação <strong>de</strong>i Riego Sucasas, falecidos<br />

recentemente.<br />

Seu pai foi um gran<strong>de</strong> evangelista leigo, notável<br />

professor <strong>de</strong> Escola Dominical. A senhora sua mãe foi<br />

cristã exemplar.


NELSON DE GODOY COSTA<br />

292<br />

Educado em lar assim, Isaías Fernan<strong>de</strong>s Sucasas tem<br />

profundamente arraigados os princípios do Cristianismo<br />

que aos poucos se foram transformando<br />

numa experiência vital, intransferível e dinâmica.<br />

Bacharel em Teologia, um dos mais completos<br />

oradores do Metodismo brasileiro, ardoroso, infatigável<br />

no trabalho, sua consagração levou o Concílio Geral a<br />

conferir-lhe a dignida<strong>de</strong> e a lançar sobre sua mocida<strong>de</strong><br />

as tremendas responsabilida<strong>de</strong>s do Episcopado. Sua<br />

Região é a do Sul.<br />

Tem agora o Bispo brasileiro dois auxiliares <strong>de</strong> inteira<br />

confiança e comprovado valor. O trabalho que lhe<br />

cabe, as obrigações a cumprir, a parte do rebanho a<br />

apascentar, suas preocupações, seus<br />

<strong>de</strong>sapontamentos suas cargas, a porção da cruz que<br />

tem <strong>de</strong> levar, não os transfere a ninguém. São <strong>de</strong>le,<br />

pertencem-lhe exclusivamente.<br />

Continua com o mesmo entusiasmo, a mesma<br />

<strong>de</strong>dicação, a mesma disposição e com muito maior<br />

experiência a realizar meticulosamente o seu Episcopado.<br />

É o mesmo gran<strong>de</strong> extraordinário Bispo, cada<br />

vez maior!<br />

Não se <strong>de</strong>scuida dos livros. São companheiros<br />

inseparáveis <strong>de</strong> quartos <strong>de</strong> hotel, <strong>de</strong> ônibus, <strong>de</strong> automóveis,<br />

<strong>de</strong> intervalos <strong>de</strong> concílios, <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso <strong>de</strong><br />

congressos.<br />

Também as obrigações do cargo não o <strong>de</strong>ixam<br />

repousar muito tempo. Repousar é uma palavra que o<br />

Bispo brasileiro não conhece muito bem. E no


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

293<br />

entanto <strong>de</strong>via procurar conhecê-la. Seu corpo ressente-se<br />

dos excessos. A fadiga mina-lhe o físico.<br />

Estão aí, entretanto, o Conselho Central, o Colégio<br />

dos Bispos, o Gabinete Geral, a Junta Geral <strong>de</strong><br />

Missões, a Junta Geral <strong>de</strong> Educação Cristã, os congressos<br />

gerais <strong>de</strong> Homens, <strong>de</strong> Senhoras, <strong>de</strong> Jovens.<br />

Está a reunião dos diretores e presi<strong>de</strong>ntes dos Conselhos<br />

Superiores dos Colégios. Estão aí os concílios<br />

distritais pedindo sua presença, sua presidência, sua<br />

orientação sempre pertinente. Esperam pelo Bispo as<br />

inaugurações <strong>de</strong> capelas, a consagração <strong>de</strong> templos.<br />

E aceita o convite, aco<strong>de</strong> ao pedido, viaja, presi<strong>de</strong>,<br />

inaugura, consagra, orienta, dirige a palavra, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong><br />

a tese, estuda o assunto, discute a questão, resolve o<br />

problema.


CAPÍTULO SEGUNDO<br />

NA ACADEMIA DE LETRAS DE SÃO PAULO<br />

294<br />

Em 1946 o Bispo brasileiro é eleito membro da<br />

Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Letras <strong>de</strong> São Paulo. E no dia 12 <strong>de</strong><br />

outubro toma posse da ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Álvaro Reis. A festa<br />

é soleníssima. Presi<strong>de</strong>-a o dr. Saturnino Barbosa.<br />

Pronuncia a oração <strong>de</strong> <strong>para</strong>ninfo o académico rev.<br />

prof. Jorge Buarque Lyra. A banda <strong>de</strong> música da<br />

Guarda Civil está presente em <strong>de</strong>licados números <strong>de</strong><br />

música suave.<br />

Traçando o perfil do novo académico fala o prof. Jorge<br />

Buarque Lyra. Admira em César Dacorso Filho o<br />

escritor e diz:<br />

"Senhores, o tipo <strong>de</strong> escritor que eu tenho a honra <strong>de</strong><br />

introduzir neste Cenáculo é bem diferente do comum<br />

dos escritores.<br />

"Não é um escritor <strong>de</strong> fantasias e puerilida<strong>de</strong>s. Seus<br />

escritos têm vida, vida que hauriu na Fonte Su-


295<br />

prema da Sabedoria — em Deus! Sua vastíssima<br />

bibliografia compõe-se na sua quase totalida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

trabalhos esparsos, abrangendo exegese bíblica,<br />

comentários, polémicas, sermões, discursos, e<br />

algumas produções poéticas.<br />

"Ei-lo como escritor através <strong>de</strong>stes excertos: "Em<br />

cima, nas esferas <strong>de</strong> luz, em Deus, está nosso<br />

aperfeiçoamento, nossa re<strong>de</strong>nção. Em baixo, nas<br />

trevas da profundida<strong>de</strong>, nas constrições dos abismos,<br />

está nosso <strong>de</strong>finhamento, está nossa asfixia. Nas<br />

alturas, as expansões da vida; nas voragens as<br />

gargalheiras da morte. Para a liberda<strong>de</strong> subimos, <strong>para</strong><br />

a escravidão, <strong>de</strong>scemos. É a vertical a que jamais<br />

po<strong>de</strong>mos fugir".<br />

Paraninfando uma turma <strong>de</strong> bacharelandos em<br />

Teologia assim se exprimiu: "Os ministros do<br />

Evangelho são portadores <strong>de</strong> mensagens que<br />

nenhuns outros mestres po<strong>de</strong>m preten<strong>de</strong>r. Falam <strong>de</strong><br />

disciplinas que purificam o caráter, <strong>de</strong> matérias que<br />

santificam a personalida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> questões que divinizam<br />

a vida. As teses que discutem estão acima <strong>de</strong> todas as<br />

outras, porquanto são as que lhes dão, a elas, o<br />

esplendor da doçura, a graça <strong>de</strong> benefício e a bênção<br />

da utilida<strong>de</strong>. Quando pregam não invocam as<br />

hipóteses da ciência, nem os primores da arte, senão<br />

princípios eternos que nunca <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> retumbar<br />

pelos espaços do subjetivismo <strong>de</strong> cada indivíduo, nem<br />

<strong>de</strong> chamar cada pessoa à harmonia do pensamento<br />

com os atos e do <strong>de</strong>ver com a prática. Dizem do que é<br />

mais simples e todavia mais necessário, do que é<br />

compreensível e contudo mais imperioso, do que é<br />

mais razoável e, não obstante


NELSON DE GODOY COSTA<br />

296<br />

menos cumprido. Basta que sejam porta-vozes<br />

d'Aquele que criou o homem, que ama o homem, que<br />

salva o homem, <strong>para</strong> que mestres por excelência do<br />

homem, fiquem sobre todos os mestres que o<br />

homem tem".<br />

O MESTRE<br />

César Dacorso Filho não é apenas escritor. É mestre.<br />

Sempre gostou <strong>de</strong> ensinar.<br />

Ainda estudante lecionou português, história e álgebra<br />

no Instituto União <strong>de</strong> Uruguaiana, Rio Gran<strong>de</strong> do Sul.<br />

Residindo em Santos Dumont dirigiu durante um ano<br />

uma escola diurna e noturna. No Instituto Granbery<br />

lecionou história e português. Na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Teologia <strong>de</strong>u aulas <strong>de</strong> Hiperetologia (Problemas<br />

pastorais) e jornalismo. Nos Institutos Ministeriais faz<br />

preleções sobre várias disciplinas.<br />

0 JORNALISTA<br />

Na primeira parte <strong>de</strong>stes traços biográficos vimos<br />

como o menino César ainda na Escola Complementar,<br />

fundou com o auxílio <strong>de</strong> seu amiguinho Luiz<br />

Fernan<strong>de</strong>s Callage um jornalzinho — "O Bicho".<br />

César Dacorso Filho sempre gostou da imprensa e<br />

reconheceu o seu valor. Sua colaboração sobre os<br />

mais variados assuntos é assídua.


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

297<br />

Em Porto Alegre escreveu <strong>para</strong> "0 Testemunho",<br />

Em Uruguaiana, <strong>para</strong> "Unitas",<br />

Em Santos Dumont <strong>para</strong> "0 Mercantil",<br />

Em Cataguazes <strong>para</strong> "O Atalaia",<br />

Em Carangola <strong>para</strong> "Vida e Imortalida<strong>de</strong>",<br />

Em Juiz <strong>de</strong> Fora <strong>para</strong> "Jornal do Comércio", "Diário<br />

Mercantil Ilustrado" e "Correio <strong>de</strong> Minas",<br />

Em São Paulo <strong>para</strong> "Fé e Vida" Cruz <strong>de</strong> Malta, Revista<br />

<strong>de</strong> Cultura Religiosa, Almanaque Evangélico e<br />

Expositor Cristão,<br />

No Rio <strong>de</strong> Janeiro <strong>para</strong> a revista "0 Malho" c <strong>para</strong> "A<br />

Esquerda",<br />

Nos Estados Unidos <strong>para</strong> "The Missionary Voi-ce", <strong>de</strong><br />

Nashville.<br />

Em se<strong>para</strong>do publicou inúmeros folhetos.<br />

Escreve incessantemente.<br />

Foi colaborador e <strong>de</strong>pois redator <strong>de</strong> duas revistas <strong>para</strong><br />

estudo das Escolas Dominicais.<br />

Em Belo Horizonte foi diretor proprietário <strong>de</strong> um jornal<br />

"O Som do Evangelho".<br />

TRECHOS DE OURO DE UM DISCURSO<br />

Do discurso que César Dacorso Filho pronunciou na<br />

solenida<strong>de</strong> em que foi recebido na Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Letras<br />

<strong>de</strong> São Paulo oferecemos estes pedacinhos <strong>de</strong> luz e<br />

ouro ao prazer <strong>de</strong> nossos amáveis leitores:<br />

Este: "Nestes instantes <strong>de</strong> gala, nestes momentos <strong>de</strong><br />

brilho, quando me esten<strong>de</strong>is a mão generosa <strong>para</strong> a<br />

escalada, cuja possibilida<strong>de</strong> jamais me


NELSON DE GODOY COSTA<br />

298<br />

passou pelo pensamento, sofro mais do que nunca, a<br />

inquietação do homem que procura e não acha, tenta<br />

e não consegue, luta e não vence".<br />

Ou este: "Sempre lutei por estudar e pouco pu<strong>de</strong><br />

estudar. Lutei sempre por apren<strong>de</strong>r e pu<strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r<br />

pouco. O que pela vida em fora estu<strong>de</strong>i e aprendi,<br />

porção exígua na verda<strong>de</strong>, é resposta sobremaneira<br />

parca a anseios abundantes e ininterruptos, obtida em<br />

meio a prélios implacáveis e trabalhos extenuantes<br />

que, diz-me a consciência, caracterizariam o mais<br />

intrépido dos mouros. "Faltou-me tudo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />

princípio. Faltou-me a escola, faltou-me o mestre,<br />

faltou-me o livro. Faltou-me dinheiro, faltou-me proleção,<br />

faltou-me estímulo, faltou-me oportunida<strong>de</strong>. Só<br />

não me faltaram obrigações e canseiras.<br />

Ou então este: "Assim os anos da meninice me foram<br />

baldos e a maior parte dos anos da mocida<strong>de</strong> me<br />

foram baldos também — a perda mais lamentável que<br />

consigno na relação das minhas <strong>de</strong>rrotas. Ao contrário<br />

<strong>de</strong> tantos outros que seguem a lógica das coisas, e<br />

porisso primeiro estudam e apren<strong>de</strong>m, e <strong>de</strong>pois ainda<br />

estudando e apren<strong>de</strong>ndo trabalham e lutam, eu primeiro<br />

trabalhei e lutei, e <strong>de</strong>pois ainda trabalhando e<br />

lutando estu<strong>de</strong>i e aprendi".<br />

Dirigindo-se ao seu <strong>para</strong>ninfo assim se refere à<br />

coincidência <strong>de</strong> terem estudado no mesmo Colégio —<br />

o Granbery <strong>de</strong> Juiz <strong>de</strong> Fora — nas mesmas circunstâncias<br />

das <strong>de</strong> estudantes pobres:<br />

"Em troca da comida, do ensino e da luz, nós


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

299<br />

que não tínhamos, sequer, quem nos compreen<strong>de</strong>sse,<br />

nós que longe, muito longe dos pais queridos, nos<br />

aventurávamos sozinhos em mares <strong>de</strong>sconhecidos e<br />

escuros, <strong>de</strong>mos força dos braços e suor do rosto. Com<br />

mãos calejadas e duras abrimos livros e enchemos<br />

ca<strong>de</strong>rnos. Com frontes porejantes e membros doloridos,<br />

resultado do trabalho brutal <strong>de</strong>ixado a pouco,<br />

ouvimos professores. Com pálpebras pesadas e olhos<br />

emaciados pela sonolência fomos a longas <strong>de</strong>soras<br />

agarrados a leituras e locubrações.<br />

Depois enveredamos, ambos por gosto e vocação,<br />

pelo ministério.<br />

Hoje nos <strong>de</strong>frontamos nesta solenida<strong>de</strong>.


CAPÍTULO TERCEIRO<br />

AINDA SUA RECEPÇÃO NA ACADEMIA DE<br />

LETRAS DE SÃO PAULO<br />

300<br />

A propósito da recepção <strong>de</strong> César Dacorso Filho na<br />

Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Letras <strong>de</strong> São Paulo escrevemos <strong>para</strong> o<br />

Expositor Cristão as seguintes palavras:<br />

CÉSAR DACORSO FILHO, NôVO IMORTAL<br />

No dia 12 <strong>de</strong> outubro tomou posse da ca<strong>de</strong>ira que tem<br />

como patrono o Rev. Álvaro Reis, na Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong><br />

Letras <strong>de</strong> São Paulo, S. Excia., Bispo da <strong>Igreja</strong><br />

<strong>Metodista</strong> do Brasil, Dr. César Dacorso Filho.<br />

Eu tive a satisfação imensa <strong>de</strong> assistir a essa<br />

magnífica expressão <strong>de</strong> intelectualida<strong>de</strong>.<br />

É gran<strong>de</strong> honra <strong>para</strong> a Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Letras <strong>de</strong> São<br />

Paulo ter em seu seio a peresonalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escol <strong>de</strong><br />

César Dacorso Filho. Essa honra traduzia-se na


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

301<br />

alegria emocionante <strong>de</strong> seus membros, que se<br />

expressava em quase veneração <strong>para</strong> com o novo<br />

imortal.<br />

A solenida<strong>de</strong> irradiada pela Rádio América <strong>de</strong> São<br />

Paulo e pela Rádio Atlântica <strong>de</strong> Santos; alcançou<br />

gran<strong>de</strong> repercussão em todo o mundo evangélico brasileiro,<br />

on<strong>de</strong> pontifica a personalida<strong>de</strong> admirável <strong>de</strong><br />

César Dacorso Filho.<br />

Eu vibrei <strong>de</strong> santo orgulho e senti pulsações quentes<br />

<strong>de</strong> entusiasmo contagiante. Desejo dizer porque:<br />

Porque além da recepção e mais do que a recepção<br />

que traduziu simplesmente o reconhecimento, pela<br />

Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Letras <strong>de</strong> São Paulo, do admirável valor<br />

pessoal <strong>de</strong> César Dacorso Filho, a sessão soleníssima<br />

<strong>de</strong> recepção transformou-se em oportunida<strong>de</strong><br />

magnífica <strong>de</strong> pregação do cristianismo positivo <strong>de</strong><br />

Cristo.<br />

Pregação do Evangelho <strong>de</strong> Jesus <strong>para</strong> os intelectuais<br />

<strong>de</strong> São Paulo.<br />

A primeira pregação <strong>de</strong>sse evangelho sem igual <strong>de</strong><br />

que tanto precisam os intelectuais <strong>de</strong> São Paulo, <strong>de</strong><br />

todo o Brasil, foi feita pelo <strong>para</strong>ninfo Prof. Jorge<br />

Buarque Lira.<br />

O conhecido orador e escritor evangélico falou<br />

magistralmente. Nem po<strong>de</strong>ria ser <strong>de</strong> outra maneira, se<br />

o tema <strong>de</strong> sua brilhante oração foi a vida <strong>de</strong> César<br />

Dacorso Filho.


NELSON DE GODOY COSTA<br />

302<br />

A vida <strong>de</strong> César Dacorso Filho constitui uma das mais<br />

eloquentes e emocionantes pregações do Evangelho.<br />

Analisando-a, em seus <strong>de</strong>talhes, o académico Jorge<br />

Buarque Lira, que é também ministro do Evangelho,<br />

exibiu facetas rutilantes aos ouvidos encantados do<br />

auditório, aos olhos <strong>de</strong>slumbrados da assistência.<br />

Às vezes em períodos maciços <strong>de</strong> estrutura, às vezes,<br />

<strong>de</strong> leveza literária, focalizou, discutiu, analisou os<br />

esplendores da personalida<strong>de</strong> do seu <strong>para</strong>ninfando.<br />

Outra pregação do Evangelho que fez estremecerem<br />

as pare<strong>de</strong>s do salão nobre da Escola Normal "Caetano<br />

<strong>de</strong> Campos", na Praça da República, em São Paulo,<br />

foi feita pelo Bispo César Dacorso Filho.<br />

Levantou-se pálido e sereno. Eu já o vi <strong>de</strong> perto<br />

dominar as emoções que transbordam o coração<br />

imenso. E pu<strong>de</strong> perceber o que lhe ia no peito naquele<br />

instante.<br />

Sua voz se foi avolumando, tomou todo o salão.<br />

O Bispo César Dacorso Filho falava do moço graxeiro<br />

da Estrada <strong>de</strong> Ferro Mojiana chamado por Deus <strong>para</strong><br />

ser pregador do Evangelho <strong>de</strong> Jesus. "~ Era a<br />

biografia do Rev. Álvaro Reis.<br />

Não sei <strong>de</strong> outra biografia tão bem escrita. Narrando-a<br />

César Dacorso Filho não contava uma história,<br />

mas apresentava emocionado aos olhos


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

303<br />

encantados da assistência, aos ouvidos <strong>de</strong>slumbrados<br />

do auditório uma vida, a vida <strong>de</strong> quem se apaixonou<br />

por Cristo, a sua causa e soube viver nos arroubos<br />

<strong>de</strong>ssa paixão.<br />

Nessas duas Jóias, uma a biografia do homem vivo,<br />

outra — a vida do homem morto constituiu-se <strong>de</strong><br />

esplendores transce<strong>de</strong>ntais a famosa pregação do<br />

Evangelho que na noite <strong>de</strong> 12 <strong>de</strong> outubro, do coração<br />

da Praça da República, vibrou <strong>para</strong> o coração <strong>de</strong> lodo<br />

o Brasil.<br />

Graças a Deus pela vida <strong>de</strong> Álvaro Reis, o homem que<br />

soube viver o Evangelho <strong>de</strong> Jesus.<br />

Graças aos Céus pela vida <strong>de</strong> César Dacorso Filho, o<br />

homem que sabe viver o Evangelho vivo do<br />

("listo VÍVO.<br />

Jorge Buarque Lira, da Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Letras <strong>de</strong> São<br />

Paulo escreveu estes versos e <strong>de</strong>dicou-os ao Bispo da<br />

<strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil:<br />

AO REVMO. BISPO CÉSAR DACORSO FILHO A<br />

MAIS VIVA GLÓRIA DA IGREJA METODISTA DO<br />

BRASIL<br />

Qual estrela que brilha em noite escura, qual fonte<br />

luminosa engrinaldada, que se ergue, po<strong>de</strong>rosa,<br />

em gran<strong>de</strong> altura — assim brilha a tua alma<br />

alcandorada!


NELSON DE GODOY COSTA<br />

304<br />

César Dacorso Filho — vida pura <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong><br />

servidor da <strong>Igreja</strong> amada, pregador da Santíssima<br />

Escritura — alma santa, por Deus pre<strong>de</strong>stinada!<br />

Caráter <strong>de</strong> beleza peregrina,<br />

ornado <strong>de</strong> virtu<strong>de</strong>s singulares<br />

da Palavra Santíssima e Divina...<br />

fulgurando em teu peito varonil!... Por isso és o<br />

maior dos luminares Da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil!<br />

O DISTRITO DO RIO DE JANEIRO PRESTA<br />

HOMENAGEM AO BISPO BRASILEIRO<br />

Reportagem <strong>de</strong> António <strong>de</strong> Campos Gonçalves,<br />

jornalista e escritor metodista<br />

Na sua última passagem pelo Rio <strong>de</strong> Janeiro, recebeu<br />

o Bispo César Dacorso Filho, carinhosa homenagem<br />

por parte dos clérigos e leigos que integram o Distrito<br />

do Rio, por motivo <strong>de</strong> sua eleição <strong>para</strong> membro da<br />

Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Letras <strong>de</strong> São Paulo e o término do seu<br />

3.° mandato episcopal.<br />

Presentes na <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong> São João, no Instituto Central<br />

do Povo, clérigos e leigos, diretores <strong>de</strong> colégios,<br />

professores e membros prestigiosos da colónia americana<br />

no Brasil, assumiu a presidência da mesa o<br />

Rev. Messias, que explicando os motivos passou a pa-


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

305<br />

lavra ao Rev. José A. <strong>de</strong> Figueiredo que, em substancioso<br />

discurso saudou o Revmo. Bispo. Em nome dos<br />

leigos fizeram uso da palavra o Dr. Caetano Carlos da<br />

Cunha e Prof. Ismael da França Campos.<br />

O Bispo agra<strong>de</strong>ceu a homenagem em brilhante<br />

improviso.<br />

R. A. C.<br />

Pastores e leigos do Distrito do Rio promovem, no<br />

templo da igreja <strong>de</strong> São João, expressivas homenagens<br />

ao Revmo. Bispo Dr. César Dacorso Filho. Foi<br />

isto no dia 26 <strong>de</strong> novembro p. p., com apreciável<br />

concurso da família metodista da Capital, e outros<br />

elementos cooperadores.<br />

Em primeiro lugar culto a Deus por suas constantes e<br />

gran<strong>de</strong>s bênçãos concedidas a seu povo, mas<br />

principalmente pela bênção que se multiplica e se reparte<br />

por via do Rev." 10 Bispo César, cuja vida vem<br />

sendo dia a dia mais útil e mais necessária à Causa,<br />

através da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil; em segundo<br />

lugar homenagens ao Bispo César a um tempo por<br />

três fatos que se entrelaçam com apelos <strong>para</strong> a <strong>Igreja</strong>:<br />

aniversário natalício do Sr. Bispo, seus doze anos <strong>de</strong><br />

episcopado em tanta maneira vitorioso, e sua eleição<br />

ultimamente <strong>para</strong> a Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Letras <strong>de</strong> São Paulo.<br />

Três fatos chamando cada qual a seu modo pelas<br />

homenagens, justas, necessárias e inadiáveis, num<br />

prazo como este em que andamos, dos


306<br />

mais auspiciosos <strong>para</strong> a gran<strong>de</strong> obra <strong>de</strong> Deus. O que,<br />

porém, com mais vivo entusiasmo reuniu crentes <strong>para</strong><br />

culto <strong>de</strong> graças, na noite <strong>de</strong> 26 p. p. são os três<br />

quatrienios que se vão completando da consagrada<br />

superintendência o Dr. César Dacorso Filho, no alio<br />

posto <strong>de</strong> Bispo da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil.<br />

O programa correu com gran<strong>de</strong> entusiasmo. No<br />

púlpito: o Rev. im> Bispo, o Rev. José António <strong>de</strong><br />

Figueiredo e o Rev. Messias Cesário dos Santos a<br />

quem coube a presidência da solenida<strong>de</strong>. Dez<br />

pastores estiveram presentes, e o templo cheio. Três<br />

coros se fizeram ouvir: <strong>Vila</strong> <strong>Isabel</strong>, São João e<br />

Cascadura; órgão pela Srta. Dorita Smith e bandolim<br />

pelo jovem Josias Calhoud. A igreja entoou dois hinos:<br />

221 e 529 dos Salmos e Hinos. Além da oração <strong>de</strong><br />

abertura, invocativa, pronunciada pelo Rev. Isaías<br />

Sucasas, e leitura da Bíblia, fêz uso da palavra o Rev.<br />

Figueiredo pronunciando breve sermão e saudando o<br />

Rcv. m0 Bispo, em nome dos pastores do Distrito do Rio<br />

<strong>de</strong> Janeiro.<br />

Também o Sr. Caetano Carlos da Cunha, em nome<br />

dos leigos do Distrito, concorreu com breve discurso,<br />

assaz oportuno, ferindo <strong>de</strong> lance, algumas das fases<br />

mais características da vida consagrada e incansável<br />

o Sr. Bispo, passando às mãos <strong>de</strong>ste uma lembrança<br />

do Distrito do Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

Segue com a palavra o Dr. França Campos que<br />

surpreen<strong>de</strong> a igreja presente com significativa<br />

alocução, mediante cujas sentenças claras c vivas,<br />

encarece também a consagração do Rev. José<br />

António <strong>de</strong> Figueiredo, digno Superinten<strong>de</strong>nte do<br />

Distrito o


PRINCIPE DA IGREJA<br />

307<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro; faz-lhe entrega <strong>de</strong> um mimo em nome<br />

do Distrito e encerra com graças a Deus por vidas<br />

assim postas a seu serviço, ininterruptamente. Tem<br />

oportunida<strong>de</strong> o Rev. Figueiredo <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cer.<br />

Só agora toma a palavra o Rev. mo Bispo César.<br />

Levanta-se <strong>para</strong> agra<strong>de</strong>cer as homenagens c também<br />

dar graças a Deus. Agra<strong>de</strong>ce, realmente; mas não é<br />

só. Passa a consi<strong>de</strong>rações profundas sobre a majesta<strong>de</strong><br />

da Causa, o ministério, o pastorado, a consagração,<br />

as bênçãos. Pronuncia evi<strong>de</strong>ntemente uma<br />

belíssima oração, por todos os respeitos solene e profunda,<br />

com retrospectos e futurações, confissões e<br />

promessas, antevendo, por fé, o <strong>de</strong>sdobrar das açõcs<br />

da <strong>Igreja</strong> em todo o campo <strong>de</strong> seu vasto programa,<br />

sem trepidação nem timi<strong>de</strong>z. Homem <strong>de</strong> fé, homem <strong>de</strong><br />

ação, não sabe e nada quer, além da empolgante<br />

Causa <strong>de</strong> Deus, com redobrado empenho e vitórias<br />

<strong>para</strong> a sua glória. Recebe os cumprimentos por seu<br />

aniversário genetílaco, aceita as homenagens por sua<br />

eleição <strong>para</strong> a Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Letras <strong>de</strong> São Paulo e<br />

recolhe as alegrias dos crentes por seu episcopado <strong>de</strong><br />

doze anos abençoado e feliz, mas não se <strong>de</strong>ixa<br />

envai<strong>de</strong>cer: continua lado a lado com os irmãos vivamente<br />

empenhado no programa <strong>de</strong> Deus.<br />

Oração a Deus pronunciada pelo Rev. H. C. Tucker e<br />

a bênção apostólica, são as <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iras palavras da<br />

solenida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ntro em cuja cordialida<strong>de</strong> se alegraram<br />

os irmãos da gran<strong>de</strong> família metodista do Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro. A imprensa carioca esteve presente, bateu<br />

duas chapas e divulgou a notícia, ilustrada em clichés.


CAPÍTULO QUARTO<br />

VIAJA PARA ALÉM MAR<br />

308<br />

Em companhia do Rev. Isaías Fernan<strong>de</strong>s Sucasas<br />

viaja <strong>para</strong> os Estados Unidos. O novo Bispo é um<br />

moço estuante <strong>de</strong> vida, pleno <strong>de</strong> entusiasmo, <strong>de</strong> uma<br />

alegria <strong>de</strong> viver verda<strong>de</strong>iramente contagiante. A<br />

viagem em companhia do Bispo César Dacorso Filho<br />

far-lhe-á um bem consi<strong>de</strong>rável, bebendo juntamente<br />

com a experiência do presi<strong>de</strong>nte do Colégio dos<br />

Bispos as impressões fundas <strong>de</strong>ssa primeira viagem<br />

aos Estados Unidos e do contato com povos <strong>de</strong> outras<br />

raças que pensam do mesmo modo com respeito ao<br />

Reino <strong>de</strong> Cristo.<br />

Para o primeiro Bispo brasileiro a companhia do Rev.<br />

Isaías Fernan<strong>de</strong>s Sucasas é uma felicida<strong>de</strong> que lhe<br />

diz bem <strong>de</strong> perto ao coração.<br />

A <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong>ssa viagem é um mimo oferecido ao<br />

bom gosto <strong>de</strong> nossos amáveis leitores.<br />

Que a <strong>de</strong>screve é o primeiro Bispo brasileiro


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

309<br />

com o estilo que lhe é peculiar, vivo, interessante,<br />

pren<strong>de</strong>ndo inteiramente o leitor.<br />

Façamos companhia aos ilustres viajantes. Tomemos<br />

os mesmos aviões que tomam. Voemos <strong>para</strong> os<br />

Estados Unidos. Participemos do Concílio Mundial dos<br />

Bispos <strong>Metodista</strong>s.<br />

Eu e o Bispo Isaías partimos do Rio, <strong>de</strong> avião, às 4,50<br />

da madrugada <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> abril. Às 9,30 da manhã<br />

estávamos em Anápolis, no Estado <strong>de</strong> Goiás, e às<br />

4,00 da tar<strong>de</strong> chegamos a Belém, no Estado do Pará,<br />

on<strong>de</strong> dormimos. No dia 19, partimos <strong>de</strong> Belém às 5,00<br />

da manhã, chegamos à Port of Spain, na ilha <strong>de</strong><br />

Trindad, às 12,00 da manha, a La Guayra, na<br />

Venezuela, às 3,00 da tar<strong>de</strong> e a Trujilo, em São<br />

Domingos, às 6,00 da tar<strong>de</strong>. Aqui dormimos. No dia<br />

20, partimos <strong>de</strong> Trujilo às 7,30 da manhã e chegamos<br />

a Miami nos Estados Unidos, às 12,30 da manhã.<br />

Nesta cida<strong>de</strong> passamos a noite. No dia 21 partimos,<br />

<strong>de</strong> trem <strong>para</strong> Nova Iorque, às 4,00 da tar<strong>de</strong>, e a Nova<br />

Iorque chegamos no dia 22, às 7,00 da noite. De Nova<br />

Iorque prosseguimos, <strong>de</strong> trem, às 3,10 da madrugada,<br />

no dia 23, <strong>para</strong> chegar a Boston, 6 horas <strong>de</strong>pois.<br />

Das alturas admiramos a infinitu<strong>de</strong> e <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> das<br />

florestas que existem no norte do Brasil. Coisa que<br />

assombra a própria imaginação do homem!<br />

Nem em Belém, nem em Trujilo nos <strong>de</strong>ixamos<br />

"saquear" pelos exploradores dos viajantes e fizemos<br />

admirável vantagem sobre os companheiros <strong>de</strong> avião.<br />

Ainda assim caí com 15 cruzeiros por um café, <strong>de</strong>


NELSON DE GODOY COSTA<br />

310<br />

manhã. Mas, ao contrário do que esperávamos, tivemos<br />

<strong>de</strong> pagar, no aeroporto, 40 cruzeiros peia ida e<br />

volta, <strong>de</strong> automóvel, até ao centro da cida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>veríamos pernoitar.<br />

Em Miami nos esperava o Dr. S. M. Alfaro,<br />

portoriquense, ministro metodista, pastor da igreja<br />

hispano-americana, um gigante <strong>de</strong> bonda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> uma<br />

ativida<strong>de</strong> pouco vulgar. Êle já havia provi<strong>de</strong>nciado<br />

hotel <strong>para</strong> nós, nos ajudou na obtenção dos bilhetes<br />

da estrada <strong>de</strong> ferro e em seu automóvel nos levou a<br />

todos os lugares que <strong>de</strong>sejávamos e ainda a uma<br />

excursão noturna <strong>para</strong> conhecermos a cida<strong>de</strong><br />

iluminada. Jantamos na "<strong>Vila</strong> Brasil" com as filhas do<br />

finado Bispo Tarboux e no dia seguinte almoçamos<br />

com o Dr. S. M. Alfaro.<br />

Nosso trem chegou atrasado a Nova Iorque e,<br />

possivelmente por isso nos <strong>de</strong>sencontramos do Bispo<br />

C. B. Dawsey e Dr. A. W. Wasson, que nos esperavam<br />

na estação. Entretanto, nenhuma dificulda<strong>de</strong> tivemos,<br />

quer em encontrar hotel, quer em cuidar da bagagem,<br />

quer em obter os bilhetes da estrada <strong>de</strong> ferro.<br />

Antes, <strong>de</strong> passagem, por Washington, tivemos, com<br />

muitos outros passageiros, um momento <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

nervosismo. Saímos da estação <strong>para</strong> ver o Capitólio,<br />

porque havia muito tempo <strong>para</strong> isso. Quanto voltamos,<br />

nosso trem <strong>de</strong>veria estar noutra plataforma. Mas a<br />

hora da partida chegou e nosso trem não havia<br />

aparecido em parte alguma. Ninguém informava coisa<br />

certa sobre ele. Muita correria, um pouco <strong>de</strong> bate-bôca<br />

e, quase uma hora <strong>de</strong>pois, nós o <strong>de</strong>scobrimos ligado


311<br />

à cauda <strong>de</strong> outro trem, graças a um condutor. Nossa<br />

salvação foi que o trem se atrasou muito. Doutra maneira<br />

teríamos ficado em Washington e nossa<br />

bagagem leria ido <strong>para</strong> Nova Iorque sozinha.<br />

Nossa dificulda<strong>de</strong> tremenda foi com dinheiro. Não<br />

conseguimos comprar dólares no Banco do Brasil<br />

porque o dia em que faríamos, véspera <strong>de</strong> nossa<br />

saída, foi feriado bancário. Aventuramo-nos com<br />

dinheiro brasileiro, que talvez nos servisse até<br />

chegarmos à Miami. Por uma felicida<strong>de</strong> única,<br />

consegui ficar com uma nota <strong>de</strong> 10 dólares, <strong>de</strong> um<br />

americano, no momento em que ele, em Belém, com<br />

ela, ia pagar o hotel. Foi com essa nota que pagamos<br />

hotel em Trujilo. Doutra maneira, ali, on<strong>de</strong> ninguém<br />

aceita dinheiro brasileiro, teríamos <strong>de</strong> passar a noite<br />

ao relento, nalguma praça. Previ<strong>de</strong>ntemente<br />

telegrafamos ao Dr. A. W. Wasson que nos pusesse<br />

certa quantida<strong>de</strong> dólares, no aeroporto <strong>de</strong> Miami e,<br />

quando lá chegamos, o dinheiro americano já nos<br />

esperava. É com esse dinheiro que estamos viajando,<br />

comendo e pagando hotel. Doutro modo, estaríamos<br />

ainda em Miami olhando <strong>para</strong> as praias, <strong>de</strong> dia, e <strong>para</strong><br />

as estrelas, <strong>de</strong> noite. Lá em Miami me informei num<br />

banco on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>ria eu trocar cruzeiros por dólares. A<br />

moçoila que gentilmente me aten<strong>de</strong>u, me indicou a<br />

American Express Company. Lá fui. A troca só era<br />

possível na base <strong>de</strong> 3 dólares e 25 centavos por 100<br />

cruzeiros, um câmbio negro mais danado do que o que<br />

temos no Brasil. Visto isso, voltaremos <strong>para</strong> nossa<br />

terra com os cruzeiros com que daí saímos, menos<br />

230 que <strong>de</strong>mos


NELSON DE GODOY COSTA<br />

312<br />

pela nota 10 dólares. Como <strong>aqui</strong> receberemos apenas<br />

o custeio da viagem, do qual os dólares que<br />

recebemos em Miami foi adiantamento, vão "gorar" as<br />

encomendas dos irmãos e amigos...<br />

Logo que chegamos a Boston, nos instalamos no<br />

Hotel Statler, eu no quarto 1.051 e o Bispo Isaías no<br />

quarto 1.077. Depois per<strong>de</strong>mos muito tempo com a<br />

procura do Concílio dos Bispos, porque não havíamos<br />

ainda recebido o aviso do lugar e ninguém podia<br />

informar-nos on<strong>de</strong> era. Fomos à Casa Publicadora<br />

<strong>Metodista</strong>, por indicação <strong>de</strong> um homem que encontramos<br />

numa igreja episcopal, e ali ficamos sabendo<br />

que o Concílio dos Bispos se reunia numa<br />

<strong>de</strong>pendência do edifício da New England Mutual Life<br />

Insurance Company. De fato <strong>aqui</strong> encontramos o<br />

Concílio dos Bispos já em sessão. Estava falando<br />

sobre o México o Bispo Guerra, com o entusiasmo<br />

esfusiante que lhe é carateríslico. Lá <strong>para</strong> a esquerda<br />

víamos sentado o Bispo Dawsey. Com que alegria eu<br />

me encontrava <strong>de</strong> novo na presença <strong>de</strong> tantos amigos.<br />

Lá estavam lambem Bispos que eu ainda não<br />

conhecia. Estão em Boston, <strong>para</strong> o Concílio dos<br />

Bispos e Conferência Geral, Bispos da China, Malaia,<br />

índia, África, Europa Central, Escandinávia, México,<br />

Brasil, Prata, Costa Pacífica da América do Sul, etc.<br />

Além dos Estados Unidos. No mesmo dia. na reunião<br />

da tar<strong>de</strong>, empreguei todos os recursos — muito<br />

poucos — do meu inglês numa exposição sobre o<br />

Brasil. No dia seguinte, na reunião da manhã, o Bispo<br />

Dawsey dirigiu a parte <strong>de</strong>vocional.


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

313<br />

No domingo, dia 25, fomos, os três bispos do Brasil,<br />

assistir ao culto na Primeira <strong>Igreja</strong> da Ciência Cristã —<br />

um templo monumental, que <strong>de</strong>ve comportar, no<br />

mínimo, umas 8 mil pessoas. Não gostei da maneira<br />

<strong>de</strong> dirigir o serviço religioso, nem da doutrina. Hinos,<br />

oração silenciosa, pai nosso e coleta. Não há<br />

propriamente pregação: uma mulher lê uns tantos<br />

textos e um homem os comenta e fazem isto muitas<br />

vezes. No interior do templo, por toda parte, citação <strong>de</strong><br />

Mary Eddy, a fundadora da Ciência Cristã, <strong>de</strong> mistura<br />

com textos bíblicos. Foi <strong>aqui</strong> que começou a Ciência<br />

Cristã e é <strong>aqui</strong> que ela tem o maior número <strong>de</strong><br />

a<strong>de</strong>ptos. Dizem que apela muito <strong>para</strong> os intelectuais.<br />

Talvez, por isso não apelou <strong>para</strong> mim...<br />

Em Nova Iorque passamos quatro dias cuidando <strong>de</strong><br />

nossas passagens <strong>para</strong> a volta. O pessoal da Board<br />

foi extremamente solícito em ajudar-nos nisso e, <strong>para</strong><br />

dizer a verda<strong>de</strong>, foi quem fêz quase tudo. Os<br />

escritórios da Board regorgitavam <strong>de</strong> gente. Eram os<br />

<strong>de</strong>legados estrangeiros que ali também estavam<br />

cuidando <strong>de</strong> passagens, <strong>de</strong> <strong>de</strong>spachos, etc. Víamos<br />

que os funcionários estavam cansados. Por tudo isso<br />

o serviço se fazia complicado e morosamente.<br />

Entrementes entrevistávamos o Dr. Wasson, miss Lee,<br />

mrs. Stowell, mrs. Hasemeyer, miss Bobinson e<br />

fazíamos conhecimento com outros. Ficamos sabendo<br />

que o Bispo Dawsey partira <strong>para</strong> o Brasil na sexta-feira<br />

anterior. No escritório do Dr. Wasson <strong>de</strong>mos, um dia,<br />

com o Rev. J. E. Ellis. Recebemos muita<br />

correspondência.


NELSON DE GODOY COSTA<br />

314<br />

Afora isso, fazíamos passeios pela Quinta Avenida e<br />

adjacências e escrevíamos.<br />

No dia 13 o Conselho Fe<strong>de</strong>ral das <strong>Igreja</strong>s banqueteou<br />

o Bispo Hafs Lilien, da Alemanha, num hotel. Esse<br />

Bispo foi vítima <strong>de</strong> Hitler e, por ser <strong>de</strong>sobediente ao<br />

ditador germânico, curtiu longo tempo na ca<strong>de</strong>ia.<br />

Entretanto, teve a coragem <strong>de</strong> dizer claramente que<br />

não está satisfeito com certos processos adotados<br />

pelos aliados, <strong>para</strong> a <strong>de</strong>snazificação dos alemães —<br />

quando respondia, no banquete, ao discurso <strong>de</strong><br />

apresentação, feito pelo Dr. Mott. Por convite do Dr.<br />

Wasson fomos participantes da recepção.<br />

Dali mesmo, na companhia do Dr. Tucker, que<br />

chegara <strong>de</strong> manhã e que já havíamos encontrado na<br />

estação da Pennsylvânia, nos tocamos <strong>de</strong> taxi —<br />

porque chovia a cântaros — <strong>para</strong> um templo episcopal<br />

da Avenida Park, on<strong>de</strong> se faria culto, às 3 horas da<br />

tar<strong>de</strong>, parte inicial <strong>de</strong> uma reunião do conselho<br />

superior da Socieda<strong>de</strong> Bíblica Americana. Lá nos<br />

meteram em "gowns" e fomos apresentados ao<br />

público. Pregou o Bispo Hafs Lilien.<br />

Terminado o culto, eu, o Bispo Isaías e o Dr. Tucker<br />

rumamos <strong>de</strong> taxi <strong>para</strong> a estação da Pennsylvânia.<br />

Quando <strong>de</strong>ixamos o carro, como o Dr. Tucker se<br />

esquecera <strong>de</strong> dar gorgeta, o chaufeur o xingou <strong>de</strong> toda<br />

maneira. Vale que ele nada ouviu e *avez só venha a<br />

saber do fato quando ler estas notas.<br />

Tomamos o trem e fomos <strong>para</strong> Filadélfia. Lá, mr,i.<br />

Estes e mrs. Tucker nos esperavam na estação. Mr&<br />

Estes nos levou, em seu automóvel, <strong>para</strong> sua casa,


315<br />

em Média, a uns 15 quilómetros <strong>de</strong> distância. Devo<br />

dizei que mrs. Estes é a mocinha que no Brasil<br />

conhecíamos por Elvira Tucker, filha do Dr. Tucker —<br />

hoje mãe <strong>de</strong> cinco homens, dos quais dois estão<br />

casado*. Média é um lugar pitoresco e agradável. O<br />

casal Estes, o casal Tucker e nós, os dois Bispos brasileiros,<br />

passamos o resto do dia e fomos até às 10 hs.<br />

da noite «m conversação muito agradável. No dia seguinte,<br />

14, mrs. Estes nos levou, na companhia dos<br />

seus venerandos pais e em seu automóvel, a ver<br />

Média, Swarthniore, Chester, Lima e Wilengford,<br />

belíssimas cida<strong>de</strong>s suburbanas <strong>de</strong> Filadélfia. O dia 15<br />

se tornou memorável <strong>para</strong> nós. O Dr. Tucker nos<br />

conduziu ao Liberty Hall, em Filadélfia. Ali,<br />

comovidamente visitamos a casa dos acontecimentos<br />

máximos da nacionalida<strong>de</strong> americana e vimos a sala,<br />

a mesa, as ca<strong>de</strong>iras, a pena, o tinteiro e tudo mais que<br />

serviu <strong>para</strong> a <strong>de</strong>claração da in<strong>de</strong>pendência dos<br />

Estados Unidos, em 1776, e <strong>para</strong> a primeira reunião<br />

do Congresso americano, em 1787. Vimos também o<br />

famoso sino que anunciou ao mundo a libertação do<br />

país. Pisar aquele soalho que Washington pisou era<br />

<strong>para</strong> nós como que pisar no santuário cívico do maior<br />

povo dos tempos mo<strong>de</strong>rnos. Na frente do Liberty Hall<br />

uma chapa metálica, cravada no passeio, mostra que<br />

ali o gran<strong>de</strong> Lincoln, erecto, como sempre viveu,<br />

hasteou, um dia, o pavilhão unificador dos americanos.<br />

Pouco <strong>de</strong>pois partimos, eu e o Bispo Isaías, <strong>para</strong><br />

Pittsburg. O casal Tucker está morando com o casal<br />

Estes. Demonstra uma sauda<strong>de</strong> invencível do Brasil<br />

e dos brasileiros.


316<br />

Média está se tornando a segunda Meca <strong>para</strong> os<br />

brasileiros que vêm aos Estados Unidos. A primeira<br />

está lá em Miami, na <strong>Vila</strong> Brasil.<br />

Chegamos a Pittsburg quando a noite já dominava.<br />

Fomos <strong>para</strong> o Fort Pitt Hotel. Ainda nos<br />

registrávamos na gerência, quando se nos <strong>de</strong>ram a<br />

conhecer mrs. Wisdom e mrs. Ford. Logo <strong>de</strong>pois apareceram<br />

mrs. Wisdom e o Rev. Ford. Os quatro se<br />

<strong>de</strong>sencontraram <strong>de</strong> nós na estação: esperavam-nos<br />

num lugar e saímos por outro. O casal Wisdom são os<br />

pais do Rev. Robert W. Wisdom, <strong>de</strong> Volta Redonda, e<br />

o casal Ford são os pais <strong>de</strong> miss Florence Ford, <strong>de</strong><br />

Santa Maria. Jantamos e nossos irmãos nos levaram a<br />

um belo passeio noturno <strong>de</strong> automóvel. No dia seguinte<br />

mrs. Wisdom nos foi buscar <strong>para</strong> que falássemos,<br />

<strong>de</strong> manhã, à escola dominical e à igreja, em<br />

Brookline. Gostamos do templo e do povo. Pareceunos<br />

uma igreja espiritual, ativa e missionária. Depois<br />

do culto almoçamos em casa <strong>de</strong>le e com a companhia<br />

do casal Ink, pais da esposa do Rev. Robert W.<br />

Wisdom. Durante a tar<strong>de</strong> levou-nos a magníficos<br />

passeios pela cida<strong>de</strong>. Assim é que tivemos o privilégio<br />

<strong>de</strong> visitar um museu monumental, a coisa mais<br />

admirável que, no género, já vimos. Jantamos na casa<br />

<strong>de</strong> mrs. Wisdom. Por fim, levou-nos à igreja <strong>de</strong><br />

Smithfield, on<strong>de</strong> também falamos à congregação. Foi<br />

verda<strong>de</strong>iro encanto nosso encontro com as famílias<br />

Wisdom, Ford e Ink, que estão tão relacionadas com<br />

nosso trabalho no Brasil. Ao casal Wisdom somos <strong>de</strong>vedores<br />

<strong>de</strong> gentilezas sem conta. São elementos<br />

<strong>de</strong>


317<br />

caráter nobre, cristão, que dignificam qualquer<br />

socieda<strong>de</strong> c qualquer igreja. Vimos claramente a<br />

alegria íntima <strong>de</strong> estarem conosco, companheiros <strong>de</strong><br />

seu querido filho na causa do Evangelho em nossa<br />

terra. Quando nos <strong>de</strong>spedíamos da mãe <strong>de</strong> mrs.<br />

Wisdom, uma velhinha <strong>de</strong> 91 anos e cega, presa ao<br />

leito, ela nos recomendou: "Diga a Bob (Rev. Robert<br />

W. Wisdom) que oro por êle todos os dias,<br />

especialmente <strong>para</strong> que Deus o faça po<strong>de</strong>roso na<br />

salvação <strong>de</strong> pecadores." Mrs. Ink me tem ajudado<br />

muito na mania filatélica. Êle e a esposa estiveram, faz<br />

pouco, em Rezen<strong>de</strong>, Barra Mansa, Volta Redonda,<br />

Petrópolis e Rio. Foram visitar a filha e o genro.<br />

Sentimos que nosso conta to com o casal Ford fosse<br />

apenas <strong>de</strong> horas. A igreja <strong>de</strong> Brookline <strong>de</strong>ve ser<br />

estimadíssima dos brasileiros. Na 2. a -feira, dia 17,<br />

regressamos <strong>para</strong> Nova Iorque.


CAPÍTULO QUINTO<br />

318<br />

NOS ESTADOS UNIDOS — CONCÍLIO, VIAGENS —<br />

E DEPOIS NO BRASIL<br />

Na 2. a -feira, dia 26 <strong>de</strong> abril, o Bispo Hartman e esposa<br />

ofereceram aos Bispos um almoço em Waysi<strong>de</strong> Iim<br />

(Indbury, Mass.) Waysi<strong>de</strong> Inn é uma casa histórica é<br />

uma espécie <strong>de</strong> museu. Lá se hospedavam<br />

Washington, Lafayettc e Longfellow. Vimos os quartos<br />

e as camas em que dormiam. Vimos também as<br />

coisas que os colonizadores ingleses usavam há cerca<br />

<strong>de</strong> 300 anos. Na volta estivemos junto à casa que pertenceu<br />

ou em que morou Emerson e à em que viveu<br />

Hawthorne (Concord, Mass.). Com certa emoção <strong>para</strong>mos<br />

um pouco em Old North Bridge <strong>para</strong> ver o lugar<br />

em que começou a lula pela in<strong>de</strong>pendência americana<br />

e, assim, vimos o monumento consagrado à memória<br />

dos "minute men" e o sepulcro que guarda as cinzas<br />

dos soldados ingleses que ali viveram suas últimas<br />

horas. Fomos e voltamos numa caravana <strong>de</strong> dois<br />

gran<strong>de</strong>s onibus e numa excursão <strong>de</strong> 5 horas.


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

319<br />

Na 4. a -feira, dia 28, começou a Conferência Geral, às<br />

9 da manhã, houve comunhão na igreja episcopal<br />

protestante. Nós, os Bispos, usando "gowns", uma<br />

espécie <strong>de</strong> <strong>para</strong>mento que não chega a ser batina,<br />

marchamos em procissão, dois a dois, saindo por uma<br />

poria da biblioteca c entrando pela porta fronteira do<br />

templo colossal, <strong>para</strong> tomar lugar no púlpito, igualmente<br />

colossal.<br />

Às 10 horas, se realizou a primeira sessão plenária no<br />

Mechanics Building, edifício antigo, muito gasto, mas<br />

que ainda se presta <strong>para</strong> reuniões gran<strong>de</strong>s. Lá havia<br />

uns 60 Bispos sentados no palco e uns 800 <strong>de</strong>legados<br />

sentados na plateia. As duas or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> galerias<br />

estavam apinhadas <strong>de</strong> visitantes. Em cada ca<strong>de</strong>ira do<br />

palco e da plateia já haviam posto um hinário, o<br />

primeiro número do "Daily Christian Advocate", — um<br />

colecionador, exemplares <strong>de</strong> relatórios, <strong>de</strong> programas,<br />

<strong>de</strong> convites, etc, enfim, todo material necessário <strong>para</strong><br />

cada membro da gran<strong>de</strong> assembleia. No mesmo<br />

prédio se apresentava uma exposição imensa do que<br />

cada junta e comissão da <strong>Igreja</strong> faz, público, etc. A<br />

"Methodist Publishing House" ocupa a parte central.<br />

Dos lados estão as comissões hospe<strong>de</strong>iras, <strong>de</strong><br />

informações. O correio, o telégrafo, a enfermaria, etc.<br />

Em cima, <strong>para</strong> um lado, está um restaurante.<br />

Entre os <strong>de</strong>legados há os que vieram da China, índia,<br />

Filipinas, África, Europa e América Latina. Não vimos<br />

nenhum do Japão — provavelmente efeito da guerra.<br />

Há mui los Bispos e <strong>de</strong>legados <strong>de</strong> côr.


NELSON DE GODOY COSTA<br />

320<br />

Convém dizer que nesta parte dos Estados Unidos, não<br />

há discriminação <strong>de</strong> côr. Ontem (1.° <strong>de</strong> maio) a sessão<br />

da manhã foi presidida pelo Bispo Show, <strong>de</strong> côr. Assim,<br />

nas ruas, nos hotéis, nos ônibus, no plenário, em toda<br />

parte, brancos e pretos, nacionais e estrangeiros se<br />

movimentam e vivem em plena fraternida<strong>de</strong>,<br />

indistintamente.<br />

A Conferência, até hoje, tem seguido o mesmo ritmo:<br />

pela manhã, plenário; à tar<strong>de</strong>, reuniões das juntas e<br />

comissões; <strong>de</strong> noite, alguma coisa <strong>de</strong> interesse.<br />

Até ontem, o que tivemos <strong>de</strong> noite, foi o seguinte: dia 28<br />

— leitura da mensagem dos bispos; dia 29 — programa<br />

<strong>de</strong> temperança, em que falou famoso ministro batista,<br />

Rev. Louie D. Newton, <strong>de</strong> Atlanta, Ga.; no dia 30 — um<br />

programa em que falou<br />

0 Dr. Roy L. Smith, redator-chefe do Christian Advocate,<br />

sobre a Europa e a paz do mundo, quando atacou <strong>de</strong><br />

frente a política do presi<strong>de</strong>nte Truman e recomendou a<br />

aproximação da Rússia, ao povo americano; dia 31 —<br />

programa da mocida<strong>de</strong>, em que falaram seis<br />

estudantes universitários, 5 rapazes e<br />

1 moça, sobre serviços que a <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong>ve prestar ao<br />

mundo.<br />

Não há reunião geral da Conferência em que não<br />

apareçam e cantem coros dos mais famosos das<br />

universida<strong>de</strong>s e igrejas <strong>de</strong>stas zonas.<br />

Todos os dias, <strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> abril a 8 <strong>de</strong> maio, na <strong>Igreja</strong><br />

<strong>Metodista</strong> <strong>de</strong> Copleu, às 4 da tar<strong>de</strong>, a Junta <strong>de</strong><br />

Evangelismo mantém um culto <strong>de</strong> evangelismo, quando<br />

fala um dos Bispos. Eles têm os seguintes temas: O


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

321<br />

espírito protestante (Corson), A autorida<strong>de</strong> das<br />

Escrituras (Broomfield), O sacerdócio dos crentes<br />

(Cushman), Justificação pela fé (Watkins), 0 direito do<br />

julgamento íntimo (Brashares), Se<strong>para</strong>ção entre a<br />

<strong>Igreja</strong> e o Estado (W. A. Smith), A <strong>Igreja</strong> e os<br />

sacramentos (King), A santida<strong>de</strong> da vida comum<br />

(Selecman), O Protestantismo e o mundo como uma<br />

paróquia (Baker). A mesma Junta realizou, em 27 <strong>de</strong><br />

abril, na <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> <strong>de</strong> Copley, um dia <strong>de</strong> jejum e<br />

oração <strong>para</strong> os membros da Conferência e convida-os<br />

a orar em lugar próprio, no Mechanics Building,<br />

especialmente meia hora antes da parte <strong>de</strong>-vocional<br />

do plenário.<br />

Aqui, por entre a multidão, vamos encontrando velhos<br />

amigos. Logo no princípio <strong>de</strong>mos com os Revs. Ellis,<br />

Sadí e Tucker. Depois com o Rev. Marshall Steel, Dr.<br />

Wasson e senhora, miss Skinner e outros. Mas temos<br />

sauda<strong>de</strong>s dos que já partiram <strong>para</strong> o além e dos que<br />

não pu<strong>de</strong>ram vir à Conferência. Da. Otília Chaves<br />

chegará <strong>aqui</strong>, <strong>para</strong> um Congresso <strong>de</strong> Senhoras, em 4<br />

<strong>de</strong> maio. O Bispo John M. Moore está muito doente.<br />

Recomendo aos irmãos do Brasil que escrevam cartas<br />

<strong>de</strong> cortesia e conforto <strong>para</strong> ele (4311 Rawlins St,<br />

Dallas 4, Texas). O Bispo Hoyt M. Dobbs está<br />

internado num hospital <strong>de</strong> tuberculosos. Também a êle<br />

escrevam os irmãos do Brasil cartas <strong>de</strong> cortesia e<br />

conforto (731 Eighth Court, West, Birmingham,<br />

Alabama).<br />

Em setembro passarão conosco, <strong>de</strong>z dias, duas<br />

personalida<strong>de</strong>s ilustres do metodismo mexicano — o


NELSON DE GODOY COSTA<br />

322<br />

Bispo Guerra e um ministro. Não só vão visitar-nos,<br />

mas também, a nosso convite, fazer trabalho <strong>de</strong><br />

evangelização entre nós. Desejo sugerir que nossas<br />

paróquias, no Rio, em Belo Horizonte, São Paulo e<br />

Porto Alegre, levantem ofertas <strong>para</strong> custeio <strong>de</strong> hotel e<br />

avião, <strong>para</strong> eles, enquanto no Brasil. Deixo esta<br />

questão também com os superinten<strong>de</strong>ntes distritais,<br />

assim como o programa <strong>de</strong> cada cida<strong>de</strong>.<br />

Também em setembro, se não me engano, receberemos<br />

a visita do Bispo Brooks e esposa, que<br />

<strong>aqui</strong> estão. É um casal <strong>de</strong> côr muito simpático, culto e<br />

gentil, com quem gostamos <strong>de</strong> estar. O Bispo Brooks,<br />

sob o patrocínio da Board of Missions and Church<br />

Exíension, irá fazer conferências em todos os campos<br />

missionários da América Latina.<br />

Por outro lado, estou sendo instantemente convidado<br />

a ir ao México <strong>para</strong> as comemorações do metodismo<br />

azteca.<br />

Depois que voltamos <strong>de</strong> Píttsburg, ainda tivemos três<br />

dias em Nova Iorque. Foram três dias afanosos, com<br />

os arranjos <strong>para</strong> o embarque da volta.<br />

No dia 21, ali pelas 2 horas da tar<strong>de</strong>, tomamos um<br />

taxi, à porta do hotel, e rumamos <strong>para</strong> a Board.<br />

Deveríamos lá, apanhar algumas encomendas — pedidos<br />

feitos do Brasil c presentes mandados <strong>para</strong> o<br />

Brasil — tantos pacotes, que apanhamos o que pu<strong>de</strong>mos<br />

e <strong>de</strong>ixamos o resto. No taxi não havia logar<br />

<strong>para</strong> mais nada. Pedimos aos amigos e irmãos que se<br />

entendam sobre o que ficou lá, porque a respeito <strong>de</strong><br />

muitas coisas ninguém nos escreveu uma palavra


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

323<br />

sequer — apenas ficamos sabendo que eram <strong>para</strong><br />

trazermos. Sobre as dificulda<strong>de</strong>s dos pedidos feitos do<br />

Brasil e presentes mandados <strong>para</strong> o Brasil, direi<br />

oportunamente uma palavrinha pelo "Expositor". Às 3<br />

horas já estávamos no cais. Às 4 horas terminava o<br />

praso <strong>para</strong> a entrada dos passageiros no navio. Às 5<br />

horas largava imponentemente o "Argentina", da<br />

Moore McCormack Lines, em viagem direta <strong>para</strong> o<br />

Rio. De alguma distância ainda contemplávamos Nova<br />

Iorque coberta <strong>de</strong> fumo e, <strong>de</strong>pois chispante <strong>de</strong> luzes.<br />

Até ao Rio fizemos uma viagem admirável, apesar do<br />

mar tempestuoso, só no primeiro dia, ler atirado à<br />

cama não poucos passageiros.<br />

Logo fizemos, a bordo, conhecimento com<br />

missionários que vinham <strong>para</strong> Mato Grosso, <strong>para</strong> o<br />

Uruguai e <strong>para</strong> a Argentina. Por isso, pu<strong>de</strong>mos ter<br />

culto aos domingos, meditação, todas as noites, <strong>de</strong> um<br />

trecho bíblico, seguida <strong>de</strong> orações. Um casal <strong>de</strong><br />

missionários fazia diariamente trabalho entre as<br />

crianças. Num dos cultos <strong>de</strong> domingo pregou o Bispo<br />

Sucasas. Noutro, eu falei sobre o soldado brasileiro<br />

(Memorial Day). O Rev. Bratcher, pai do atual<br />

secretário da Socieda<strong>de</strong> Bíblica Americana, também<br />

vinha a bordo e foi a principal figura na direção dos<br />

cultos <strong>de</strong> domingo. Era a segunda vêz que, entre os<br />

Estados Unidos, eu e êle viajávamos juntos.<br />

0 navio trazia muitos passageiros, talvez uns<br />

quinhentos. Entre eles, gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> patrícios


NELSON DE GODOY COSTA<br />

324<br />

nossos. Entre estes, estudantes que gozaram <strong>de</strong><br />

bolsas nas universida<strong>de</strong>s americanas.<br />

Em certa altura o navio fêz uma volta muito rápida.<br />

Disseram os oficiais <strong>de</strong> bordo que haviam visto uma<br />

bomba (mina explosiva) <strong>de</strong>sgarrada, que haviam<br />

pedido providência, pelo rádio, <strong>para</strong> que um navio <strong>de</strong><br />

guerra a fizesse explodir, etc. Po<strong>de</strong> ser que essa<br />

história seja verda<strong>de</strong>ira. Não falta, neste pobre mundo,<br />

quem queira ser original, herói ou coisa mais ou<br />

menos assim.<br />

Todos ficamos alegres quando, nas proximida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

Cabo Frio, começamos a ver terra novamente.<br />

Notamos nos companheiros <strong>de</strong> bordo um <strong>de</strong>sejo muito<br />

forte <strong>de</strong> conhecer o Rio, que diziam ser a cida<strong>de</strong> mais<br />

bela do mundo. Pu<strong>de</strong>mos, por isso, notar a sofreguidão<br />

com que procuravam lugares, nas amuradas<br />

don<strong>de</strong> pu<strong>de</strong>ssem, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> longe, <strong>de</strong>scortinar panoramas<br />

da entrada da baía da Guanabara.<br />

Esquecia-me <strong>de</strong> noticiar um acontecimento triste, <strong>de</strong><br />

bordo. Quando passávamos o Equador, houve, como<br />

sói acontecer, a festa <strong>de</strong> Netuno, com iniciação dos<br />

que pela primeira vêz cruzam a linha. A festa que seria<br />

bonita, tem coisas abrutalhadas. Um cidadão sofreu<br />

tanto que se irou e ficou mesmo possesso. Não sei<br />

como não chegou a vias <strong>de</strong> fato. Outro, que foi atirado<br />

violentamente <strong>de</strong>ntro da piscina, teve duas costelas<br />

fraluradas e foi <strong>para</strong> a enfermaria.<br />

E também esquecia-me <strong>de</strong> dizer que houve, antes da<br />

chegada do navio à Cida<strong>de</strong> Maravilhosa, um jantar<br />

oferecido pelo comandante aos passageiros que


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

325<br />

iam ficar <strong>aqui</strong>. Já uns dias antes havia êle oferecido<br />

aos passageiros um "cock-tail". Nessa ocasião cada<br />

passageiro recebe à mesa um chapéu carnavalesco,<br />

um brinquedo <strong>de</strong> criança e a sala da comedoria fica<br />

cheia <strong>de</strong> balõezinhos que, pouco <strong>de</strong>pois, começam a<br />

rebentar. E a música <strong>de</strong> bordo toca números<br />

especiais.<br />

E esquecia-me <strong>de</strong> dizer, ainda, que o "Argentina"<br />

publica, diariamente, um jornalzinho em papel muito<br />

bom, com as últimas notícias captadas pelo rádio.<br />

No dia 1.° <strong>de</strong> junho o vapor encostava ao cais.<br />

Agra<strong>de</strong>cemos a bonda<strong>de</strong> dos irmãos e amigos que ali<br />

nos foram esperar e dar boas vindas. O Bispo<br />

Sucasas no mesmo dia tomou trem <strong>para</strong> São Paulo, a<br />

caminho <strong>de</strong> Porto Alegre.


326


SÉTIMA PARTE<br />

327


328


PANORAMAS DE UM EPISCOPADO SEXTO<br />

CONCÍLIO GERAL<br />

PELA QUINTA VÊZ ELEITO BISPO<br />

CAPÍTULO PRIMEIRO<br />

329<br />

O sexto Concílio Geral da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil é<br />

em Porto Alegre, capital do Estado do Rio Gran<strong>de</strong> do<br />

Sul.<br />

Não é mais o Concílio pequenino <strong>de</strong> 1930. Nem o<br />

segundo, quando César Dacorso Filho foi eleito Bispo.<br />

A <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil cresceu admiravelmente e<br />

seu Concílio representativo compõe-se <strong>de</strong> setenta e<br />

quatro pessoas.<br />

É um Concílio gran<strong>de</strong>. Sempre foi um gran<strong>de</strong> Concílio.<br />

Na quinta sessão proce<strong>de</strong>-se à eleição dos Bispos.<br />

Presi<strong>de</strong>-a o Bispo da <strong>Igreja</strong> Mãe, Rev. Dr. Fred Pierre<br />

Corson. É o dia 17 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1950.<br />

Há orações silenciosas. Ora em voz audível o Rev.<br />

James Ellijah Ellis.


NELSON DE GODOY COSTA<br />

330<br />

Recolhidas as cédulas verifica-se a reeleição <strong>de</strong> César<br />

Dacorso Filho.<br />

Pela quinta vêz eleito Bispo!<br />

O venerando Bispo o viajante das longas caminhadas,<br />

o ban<strong>de</strong>irante das sondagens <strong>de</strong>licadíssimas do<br />

coração humano, o semeador, agra<strong>de</strong>ce ao Concílio a<br />

confiança que <strong>de</strong>posita nele elegendo-o pela quinta<br />

vêz ao episcopado e diz não ter dúvida que esta será<br />

a última vêz, e <strong>de</strong>clara que está naquele posto <strong>para</strong><br />

servir a <strong>Igreja</strong> e por meio <strong>de</strong>la, Deus.<br />

----- 0O0----<br />

Agora serão cinco anos <strong>de</strong> lutas até o próximo<br />

Concílio Geral. Sereno, confiante, <strong>de</strong>cidido, o gran<strong>de</strong><br />

Bispo prossegue no caminho.<br />

Concílios, congressos, conselhos superiores, institutos,<br />

viagens, legislação, construções, inaugurações,<br />

consagração, paróquias, superinten<strong>de</strong>ntes, pastores,<br />

oficiais, membros <strong>de</strong> igreja, candidatos à profissão <strong>de</strong><br />

fé, interessados, amigos do Evangelho, trabalho, trabalho,<br />

sempre trabalho e nos horizontes sem fim a<br />

seara do Mestre, que branqueja.


CAPÍTULO SEGUNDO<br />

H O M E N A GE M EM PLENA ATIVIDADE<br />

EPISCOPAL<br />

331<br />

A <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil <strong>de</strong>sejando prestar<br />

reconhecida homenagem ao primeiro Bispo brasileiro,<br />

dá seu nome a uma das salas da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Teologia.<br />

A homenagem dirigida pelo Rev. António <strong>de</strong> Campos<br />

Gonçalves encontra pleno apoio <strong>de</strong> toda a <strong>Igreja</strong>, que<br />

prontamente concorreu com a importância <strong>de</strong> <strong>de</strong>z mil<br />

cruzeiros que foram oferecidos ao conceituado<br />

estabelecimento <strong>de</strong> ensino superior da mesma <strong>Igreja</strong>.<br />

A fixação da placa em homenagem ao primeiro Bispo<br />

brasileiro é a expressão do reconhecimento <strong>de</strong> todos<br />

os metodistas <strong>para</strong> com a vida <strong>de</strong> exemplar<br />

consagração que tem sido o maior estímulo à gran<strong>de</strong>za<br />

e à glória da própria <strong>Igreja</strong>.<br />

O primeiro Bispo brasileiro recebe essa homenagem<br />

que lhe presta a <strong>Igreja</strong> com naturalida<strong>de</strong> e singeleza<br />

<strong>de</strong> coração.


NELSON DE GOOOY COSTA<br />

332<br />

<strong>Metodista</strong> <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>, filho da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do<br />

Brasil, sua vida po<strong>de</strong> muito bem dividir-se em três<br />

períodos distintos. O primeiro até 1912 em sua cida<strong>de</strong><br />

natal, <strong>de</strong>ntro da luta <strong>de</strong> menino pobre, riquíssimo <strong>de</strong><br />

uma força <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong> verda<strong>de</strong>iramente espantosa,<br />

abrangendo o gran<strong>de</strong> acontecimento que foi sua conversão<br />

e seu ingresso na <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> e o início <strong>de</strong><br />

maneira mais positiva dos estudos, no Colégio União<br />

<strong>de</strong> Uruguaiana.<br />

O segundo período <strong>de</strong> sua vida passa-se nas regiões<br />

do Centro e do Norte, concluídos os estudos no<br />

Colégio Granbery e iniciado o pastorado. Vai <strong>de</strong> 1912<br />

a 1934.<br />

O ano <strong>de</strong> 1934 assinala sua ascenção ao episcopado<br />

e multiplicada porção <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>s sobre sua<br />

vida. E <strong>de</strong> 1934 <strong>para</strong> cá, numa inspiração constante a<br />

vida do primeiro Bispo brasileiro se vem multiplicando<br />

em exemplos, estímulos e verda<strong>de</strong>iros <strong>de</strong>safios a toda<br />

a <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil, à luta cada vêz mais<br />

renhida contra as forças do mal em <strong>de</strong>fesa das legiões<br />

do Bem, pregação do Evangelho puríssimo <strong>de</strong> Cristo<br />

como se encontra nas páginas do Novo Testamento e<br />

como foi vivido pelos apóstolos; arrependimento <strong>de</strong><br />

pecados e nova atitu<strong>de</strong> <strong>para</strong> com Deus, o Pai por<br />

mediação <strong>de</strong> Jesus Cristo o Salvador.<br />

César Dacorso Filho é filho da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>. Em 1<br />

<strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1908 seu nome aparece pela primeira<br />

vez em letras impressas no jornal <strong>de</strong> Porto Alegre, "O<br />

Testemunho" num programa <strong>de</strong> festa <strong>de</strong> Natal,<br />

realizada em Santa Maria em 1907. O número


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

333<br />

<strong>de</strong> fevereiro do mesmo jornal trazia a notícia <strong>de</strong> que<br />

César tinha sido reeleito tesoureiro da Liga Epworth.<br />

No mesmo jornal, em 15 <strong>de</strong> julho do mesmo ano, aparece<br />

novamente seu nome: tinha sido eleito <strong>de</strong>legado<br />

leigo à reunião da Missão Sul Brasileira, que sob a<br />

presidência do Bispo Rev. E. E. R. Hoss, teve início a<br />

3 <strong>de</strong> julho do ano em apreço.<br />

Novamente aparece seu nome no "0 Testemunho".<br />

Está noticiando sua eleição <strong>para</strong> o cargo <strong>de</strong> tesoureiro<br />

da Junta <strong>de</strong> Ecônomos <strong>de</strong> sua querida igreja <strong>de</strong> Santa<br />

Maria.<br />

O menino <strong>de</strong> Santa Maria cresceu à sombra da <strong>Igreja</strong><br />

<strong>Metodista</strong>. Principiou <strong>de</strong>clamando titubeante nas<br />

festas <strong>de</strong> Natal. Exerceu ainda muito jovem os cargos<br />

<strong>de</strong> maior responsabilida<strong>de</strong> como o <strong>de</strong> tesoureiro da<br />

Junta <strong>de</strong> Ecônomos. Isto é, sua consagração <strong>de</strong>u-lhe<br />

naturalmente lugar <strong>de</strong> realce no seio da congregação.<br />

É triste pensar que em muitas igrejas e congregações<br />

os pastores lutam tremendamente com a falta <strong>de</strong><br />

elementos <strong>de</strong> boa vonta<strong>de</strong> <strong>para</strong> o trabalho. Há em<br />

muitos lugares acentuada má vonta<strong>de</strong> e a resposta<br />

aos convites, ao pedido do pastor é sempre a mesma:<br />

"eu não sei" ou pior: "eu não quero". Ouvi um pastor<br />

dizer a uma jovem que lhe recusou o convite alegando<br />

não saber: "Aceite meu convite, faça o trabalho. No fim<br />

do ano a senhora terá aprendido, saberá fazer e terá<br />

feito o serviço <strong>de</strong> secretária da Escola Dominical.<br />

O jovem <strong>de</strong> Santa Maria aceitava com alegria os<br />

convites <strong>para</strong> o trabalho e tinha alegria imensa em ser<br />

útil à <strong>Igreja</strong>. E <strong>de</strong>s<strong>de</strong> moço revelou dons incomuns


NELSON DE GODOY COSTA<br />

334<br />

e capacida<strong>de</strong> invejável <strong>para</strong> a tarefa imensa que os anos<br />

colocariam, que a própria <strong>Igreja</strong> a quem êle começou a<br />

servir em Santa Maria colocaria convidando-o a servi-la<br />

não apenas em sua cida<strong>de</strong> natal no Estado do Rio<br />

Gran<strong>de</strong> do Sul mas em todos os Estados do Brasil.<br />

E César Dacorso Filho aceitou prazeirosamente o<br />

convite.<br />

Homenagem como a que lhe prestou a <strong>Igreja</strong> colocando<br />

seu nome em uma das salas da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Teologia, e<br />

outras muitas, o primeiro Bispo brasileiro recebe<br />

mo<strong>de</strong>stamente, sem nenhuma vaida<strong>de</strong>.<br />

Simples no trato, mo<strong>de</strong>sto no trajar-se, sente-se à<br />

vonta<strong>de</strong> tanto nos meios aristocráticos, ao lado das<br />

pessoas mais representativas no Brasil e no mundo<br />

evangélico, quanto nos meios mais mo<strong>de</strong>stos, junto com<br />

a gente humil<strong>de</strong>, pobre e atrasada dos sertões. É que<br />

olha não a aparência mas atenta <strong>para</strong> o coração e aos<br />

gran<strong>de</strong>s do mundo prefere os gran<strong>de</strong>s <strong>para</strong> a vida.<br />

No exercício do episcopado revela inteligência fora do<br />

comum, e <strong>de</strong>smedida <strong>de</strong>dicação. Organizou paróquias,<br />

multiplicou distritos, centuplicou pontos <strong>de</strong> pregação, <strong>de</strong>u<br />

toda a assistência aos membros da <strong>Igreja</strong>, intensificou o<br />

esforço em favor da evangelização, pois o evangelismo<br />

sempre foi sua gran<strong>de</strong> paixão.<br />

Zeloso pastor <strong>de</strong> almas, as ovelhas e os cor<strong>de</strong>i-rinhos<br />

constituem seu constante cuidado. No cuidado do<br />

rebanho é insistente, enérgico e rigoroso. Não admite<br />

relaxamento no cuidado da <strong>Igreja</strong>. Nós já temos<br />

percebido no transcurso <strong>de</strong>stas páginas sua


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

335<br />

extrema <strong>de</strong>dicação <strong>para</strong> com a <strong>Igreja</strong> que o acolheu<br />

menino e a quem, homem, o Bispo brasileiro dá toda<br />

sua vida.<br />

Nesse quatriênio como nos outros a sua ativida<strong>de</strong> é<br />

intensa. A própria vertiginosida<strong>de</strong> da carreira da <strong>Igreja</strong><br />

rumo aos seus <strong>de</strong>stinos eternos exige aos gritos a<br />

inteira oferta da existência. E como a luz que ilumina<br />

embora se sacrifique, o Bispo dia após dia ofe-rece-se<br />

em holocausto à <strong>Igreja</strong> e o faz feliz, imensamente,<br />

porque primeiramente ofereceu-se ao Salvador.<br />

Sua ativida<strong>de</strong> não se limita à Região Eclesiástica do<br />

Norte. É o presi<strong>de</strong>nte do Colégio dos Bispos e sua<br />

atuação continua tendo como campo o Brasil. A região<br />

do Norte merece-lhe o cuidado imediato. E o Bispo<br />

viaja sem <strong>para</strong>r, à procura <strong>de</strong> novos pontos on<strong>de</strong><br />

erguer a ban<strong>de</strong>ira do Metodismo. Ao lado <strong>de</strong> outras a<br />

<strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> tem um <strong>de</strong>ver a cumprir e seu <strong>de</strong>ver<br />

ela não pe<strong>de</strong> a ninguém que o cumpra. Procura<br />

cumpri-lo fielmente.<br />

O Ban<strong>de</strong>irante prossegue na marcha. A região do<br />

Norte é ainda um campo inexplorado. Léguas e léguas<br />

a cavalo em caminhadas dificílimas se vão os pastores<br />

aten<strong>de</strong>ndo pontos <strong>de</strong> pregação, moradas <strong>de</strong><br />

paroquianos. Viagens longas, <strong>de</strong>moradas, exaustivas,<br />

o primeiro Bispo está com os pastores e sua<br />

companhia suaviza as jornadas, enche <strong>de</strong> alegria o<br />

trabalho, aumenta os frutos colhidos.<br />

Muitas vezes apenas pedras ver<strong>de</strong>s, pedras ver<strong>de</strong>s<br />

simplesmente, como foi com Fernão Dias País Leme,<br />

o caçador <strong>de</strong> esmeraldas. E o coração do Bispo


NELSON DE GODOY COSTA<br />

336<br />

ban<strong>de</strong>irante sangra <strong>de</strong>sapontado e triste. Outras vezes<br />

porém brotam pedras <strong>de</strong> valor inestimável, pedras<br />

raras que constituem honra e glória <strong>para</strong> a <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong>.<br />

E o coração do Bispo ban<strong>de</strong>irante pulsa pleno<br />

<strong>de</strong> júbilo, transbordantemente.<br />

Ban<strong>de</strong>irante do Evangelho <strong>de</strong> Jesus na <strong>Igreja</strong><br />

<strong>Metodista</strong> do Brasil.


CAPÍTULO TERCEIRO<br />

DEPOIS DO SEXTO CONCÍLIO GERAL O AVANTE<br />

POR CRISTO<br />

337<br />

Uma das consequências felizes do sexto Concílio Geral<br />

é o gigantesco movimento que se processa em toda a<br />

<strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil sob o nome <strong>de</strong> "AVANTE<br />

POR CRISTO".<br />

Visa a renovação espiritual da <strong>Igreja</strong> e a extensão <strong>de</strong><br />

seu programa cada vez em maior intensida<strong>de</strong> no meio<br />

do povo brasileiro, procurando realizar "Mais <strong>de</strong> Cristo<br />

na vida e mais vidas <strong>para</strong> Cristo".<br />

Esta Cruzada empolga a <strong>Igreja</strong> inteiramente. Os<br />

resultados se fazem sentir com segurança. Multipli-camse<br />

os pontos <strong>de</strong> pregação, intensifica-se extraordinariamente<br />

o serviço <strong>de</strong> visitação pastoral, constroemse<br />

capelas, edificam-se residências pastorais, erguemse<br />

templos, batizam-se centenas <strong>de</strong> pessoas e<br />

centenas <strong>de</strong> pessoas são recebidas por profissão <strong>de</strong> fé<br />

à comunhão da <strong>Igreja</strong>.<br />

No quatriênio que terminou em 1950 a <strong>Igreja</strong>


NELSON DE GODOY COSTA<br />

338<br />

recebeu 10.975 pessoas. É preciso receber muito mais<br />

no quatriênio que 1951 inicia. A <strong>Igreja</strong> recebe com<br />

entusiasmo a nova Cruzada e procura cumprir seu<br />

programa. Pastores, oficiais, simples membros da paróquia<br />

todos querem participar da gigantesca arrancada<br />

e ter o seu quinhão <strong>de</strong> lutas e <strong>de</strong> glória.<br />

À frente do movimento empolgante encontram-se<br />

os três Bispos. A palavra orientadora dos condutores da<br />

<strong>Igreja</strong> autónoma sempre oportuna e necessária constitui<br />

incentivo <strong>de</strong> valor inestimável. Ao seu lado <strong>de</strong>senvolvem<br />

gran<strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> os secretários da Junta Geral <strong>de</strong><br />

Educação Cristã, rev. Charles Wesley Clay; da Junta<br />

Geral <strong>de</strong> Missões, rev. Augusto Schwab; da Junta Geral<br />

<strong>de</strong> Ação Social, rev. Wilbur Smith.<br />

Empenhados no movimento que tomou toda a<br />

<strong>Igreja</strong> os três Bispos assinam e fazem publicar uma<br />

proclamação em que procuram, como sempre o fizeram<br />

com o máximo empenho esclarecer, orientar, dissipar<br />

qualquer dúvida quanto aos objetivos do movimento<br />

singular e bendito que se processa no seio da <strong>Igreja</strong><br />

<strong>Metodista</strong> do Brasil.<br />

E porque enten<strong>de</strong>mos que constitui um documento<br />

<strong>de</strong> alto valor histórico a proclamação episcopal <strong>de</strong>sejamos<br />

inseri-la neste livro que é afinal um documento<br />

histórico a respeito da vida do homem que <strong>de</strong>u sua<br />

existência ao que a <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil é hoje em<br />

toda sua plenitu<strong>de</strong>.


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

AVANTE, POR CRISTO!<br />

339<br />

Proclamação dos bispos<br />

<strong>Metodista</strong>s do Brasil. Clérigos e leigos:<br />

Por ocasião do último Concílio Geral Deus nos<br />

inspirou o que, tudo nos leva a crer, será um movimento<br />

singular e glorioso <strong>para</strong> o Metodismo do Brasil.<br />

Referimo-nos ao planejamento e execução do "Avante,<br />

por Cristo!"<br />

Des<strong>de</strong> então, já por espaço <strong>de</strong> um ano, temos<br />

<strong>de</strong>dicado o melhor <strong>de</strong> nós, fé e oração, tempo, inteligência<br />

e trabalho, a programá-lo, <strong>de</strong> modo a tornar-se<br />

o mais operoso e frutífero possível, tanto no que concerne<br />

à vida interior da <strong>Igreja</strong> como à projeção da <strong>Igreja</strong><br />

no seio do povo brasileiro. Temô-lo feito em várias<br />

reuniões, algumas pequenas como as do Gabinete<br />

Geral, outras gran<strong>de</strong>s como a que tivemos em São<br />

Paulo, <strong>de</strong> 9 a 11 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1950, quando conseguimos<br />

congregar bispos, secretários gerais e regionais,<br />

superinten<strong>de</strong>ntes distritais e outros. Temô-lo feito submissos,<br />

em todas elas, à direção que nos dá o Santo<br />

Espírito, e ao auxílio que Êle nos presta através <strong>de</strong><br />

muitas emoções, variadas experiências, tocantes testemunhos,<br />

farta iluminação e gran<strong>de</strong> fortalecimento.<br />

Louvamos-te, Santo Espírito, porque <strong>de</strong>sces sobre nós<br />

com tamanha clarividência!<br />

Os concílios regionais ultimamente realizados lhe<br />

<strong>de</strong>ram prolongadas horas <strong>de</strong> estudo, reflexão e<br />

ajustamento.


NELSON DE GODOY COSTA<br />

340<br />

O Gabinete Geral e a Junta Geral <strong>de</strong> Educação Cristã<br />

não têm poupado esforços, nem o "Expositor Cristão"<br />

tem economizado espaço no afã <strong>de</strong> fazê-lo conhecido<br />

<strong>de</strong> todos, pastores e membros da <strong>Igreja</strong>.<br />

Conforta-nos dizer que esse movimento, pelo que até<br />

<strong>aqui</strong> temos observado, correspon<strong>de</strong> aos anseios mais<br />

profundos <strong>de</strong> nossos amados irmãos em toda parte.<br />

De suas linhas mestras, <strong>de</strong> suas diretrizes principais,<br />

sobretudo <strong>de</strong> seus objetivos já estão sobejamente<br />

informados os superinten<strong>de</strong>ntes distriais e pastores. Por<br />

meio <strong>de</strong>les, já <strong>de</strong>vem estar, também, em boa extensão,<br />

as igrejas e membros da <strong>Igreja</strong> em geral. Aos<br />

superinten<strong>de</strong>ntes distritais e pastores se têm dado<br />

pastas com programas e sugestões, se têm remetido<br />

circulares e mais que, sobre o assunto, nos tem ocorrido.<br />

O "Expositor Cristão", por sua vez, tem sido e<br />

continua sendo clara veiculação do que, sobre êle,<br />

temos <strong>de</strong> dizer. Insistimos com esses <strong>de</strong>dicados irmãos<br />

e companheiros que continuem colecíonando, em tais<br />

pastas, tudo que, a respeito, ainda venham a receber e<br />

a ler em nossos periódicos. De mais a mais, a Bíblia, os<br />

Cânones e a Mensagem dos Bispos, material<br />

indispensável <strong>para</strong> a <strong>Igreja</strong>, sempre normativo, estão<br />

nas suas mãos.<br />

Não estabelecemos planos rígidos ou inflexíveis. Tudo<br />

que até agora temos feito, é, em certo sentido, muito<br />

elástico. Cada paróquia, cada igreja e, até, cada<br />

membro da <strong>Igreja</strong> fará sua contribuição <strong>para</strong> a gran<strong>de</strong><br />

cruzada, nos limites <strong>de</strong> sua possibilida<strong>de</strong> — queremos


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

341<br />

dizer, nos limites <strong>de</strong> sua capacida<strong>de</strong> e circunstâncias. O<br />

que instantemente pedimos é sincerida<strong>de</strong>, empenho,<br />

cooperação na campanha a que se <strong>de</strong>ve lançar o Metodismo<br />

brasileiro, totalmente.<br />

Fique, porém, patente à consciência <strong>de</strong> todos isto: mais<br />

do que nós e dos superinten<strong>de</strong>ntes distritais, o resultado<br />

<strong>de</strong> nossa luta <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> dos pastores e suas igrejas.<br />

0 "Avante, por Cristo!" visa intensificação da vida<br />

religiosa dos metodistas. Portanto, é preciso que as<br />

energias morais e espirituais <strong>de</strong>les se <strong>de</strong>spertem mais e<br />

mais e, por outro lado, que se quebrem e <strong>de</strong>sfaçam<br />

apátias, enervamentos, friezas, mal-estar e irritações<br />

por ventura existentes entre eles. Jejuns, oração,<br />

estudos bíblicos, festas <strong>de</strong> amor, Santa Ceia, testemunhos<br />

públicos, frequência aos cultos, participação<br />

nas Socieda<strong>de</strong>s e Escolas Dominicais se impõem a<br />

todos como recursos da graça dos céus, <strong>para</strong> que<br />

consigam semelhantes resultados.<br />

O "Avante, por Cristo!" visa a evangelização do povo<br />

brasileiro — digamos isto sem rebuços. Por conseguinte,<br />

é necessário que os metodistas se lancem à<br />

ceifa com o <strong>de</strong>nodo <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>iros missionários <strong>de</strong><br />

Jesus Cristo. Como é vasto o campo em que po<strong>de</strong>m<br />

operar vantajosamente! Como é oportuna a colheita que<br />

<strong>de</strong>vem fazer <strong>para</strong> os celeiros eternos! Nunca neste país<br />

se viu o povo tão à míngua do Pão da Vida e, ao<br />

mesmo tempo, tão <strong>de</strong>sejoso <strong>de</strong> recebê-lo. Reuniões <strong>de</strong><br />

oração, reuniões <strong>de</strong> ação <strong>de</strong> graças, pregações ao ar<br />

livre, visitação sistemática, distribuição <strong>de</strong> litera-


342<br />

NELSON DE GODOY COSTA<br />

tura, convites insistentes, testemunhos pessoais, serviços<br />

<strong>de</strong> alto-falantes, <strong>de</strong> rádio e <strong>de</strong> imprensa são meios<br />

po<strong>de</strong>rosos, ditados diretamente ou por <strong>de</strong>dução pelos<br />

Evangelhos, <strong>para</strong> se conquistarem corações e almas<br />

<strong>para</strong> o Reino dos Céus. Não <strong>de</strong>ixemos, também, <strong>de</strong><br />

subir às favelas, <strong>de</strong> <strong>de</strong>scer às praias, <strong>de</strong> ir aos hospitais,<br />

às ca<strong>de</strong>ias, on<strong>de</strong> há tantas pessoas que gemem sob o<br />

peso da miséria ou sob o guante da dor, e que gostosamente<br />

aceitariam a mão auxiliadora e amorosa do<br />

Filho <strong>de</strong> Deus. Não nos esqueçamos, ainda, dos quartéis,<br />

on<strong>de</strong> a mocida<strong>de</strong> se a<strong>de</strong>stra <strong>para</strong> a guerra, <strong>para</strong><br />

que ela não perca a visão que lhe dá o Príncipe da Paz.<br />

Oxalá o povo <strong>de</strong> Deus não negligencie, nesta hora<br />

crítica, mas momentosa, além <strong>de</strong> oportuníssima, os<br />

instrumentos e lugares que lhe estão à mão <strong>para</strong> uma<br />

obra larga e fecunda que resulte na conversão real <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>zenas e <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> nossos patrícios à fé<br />

cristã.<br />

O "Avante, por Cristo!" visa uma alta expressão da<br />

carida<strong>de</strong> evangélica ensinada e exemplificada por nosso<br />

Salvador. O amor ao próximo ilumina muitas páginas<br />

das Sagradas Escrituras, <strong>de</strong>clara uma das feições mais<br />

características dos discípulos <strong>de</strong> Jesus e constitui das<br />

provas mais evi<strong>de</strong>ntes da nova vida gerada no homem<br />

pelo Santo Espírito, pela fé em Cristo Jesus. Por toda a<br />

vastidão <strong>de</strong> nossa pátria sobe clamor <strong>de</strong> pobres, <strong>de</strong><br />

doentes, <strong>de</strong> analfabetos, <strong>de</strong> velhos <strong>de</strong>sam<strong>para</strong>dos, <strong>de</strong><br />

órfãos abandonados e <strong>de</strong> outros sofredores. Quem lhes<br />

irá ao encontro? Jesus, que sempre foi. Mas que agora<br />

<strong>de</strong>ve e precisa ir na pessoa <strong>de</strong> seus


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

343<br />

remidos. Mais escolas, mais hospitais, mais asilos, mais<br />

orfanatos, mais <strong>de</strong> tudo que mitiga a dor, mais <strong>de</strong> tudo<br />

que ajuda o fraco, consequentemente.<br />

0 "Avante, por Cristo!" visa aparelhamento mais<br />

eficiente <strong>para</strong> a <strong>Igreja</strong>, <strong>para</strong> que ela possa, com mais<br />

facilida<strong>de</strong> e mais resultados, cumprir sua gran<strong>de</strong> missão.<br />

Isso quer dizer mais templos, mais capelas, mais<br />

prédios <strong>de</strong> educação religiosa, mais residências paroquiais,<br />

mais proprieda<strong>de</strong>s <strong>para</strong> fins educativos e assistenciais,<br />

mais recursos <strong>de</strong> transporte e propaganda,<br />

mais literatura, mais pregadores, mais paróquias <strong>de</strong><br />

sustento próprio, mais dinheiro posto ao serviço do<br />

Senhor.<br />

O "Avante, por Cristo!" conquistará, assim, um gran<strong>de</strong><br />

alvo, se cada metodista, no Brasil, compreen<strong>de</strong>r bem<br />

seu lugar e sua função na <strong>Igreja</strong> e no mundo,<br />

começando por nós, bispos e chegando ao mais<br />

humil<strong>de</strong> e mo<strong>de</strong>sto crente <strong>de</strong> nossa <strong>de</strong>nominação. SIM,<br />

é preciso, é imprescindível que, na <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do<br />

Brasil, ninguém fique sem fazer o máximo que po<strong>de</strong><br />

fazer, neste ou naquele campo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>.<br />

Depois <strong>de</strong> pru<strong>de</strong>nte e elaborada pre<strong>para</strong>ção, pelos<br />

processos a nosso alcance, <strong>para</strong> essa memorável<br />

jornada <strong>de</strong> reavivamento e expansão do Evangelho, no<br />

Brasil, que será mantida, com vigor crescente, nos<br />

quatro anos que vão seguir, proclamamos, sob os<br />

auspícios <strong>de</strong> Deus, nosso Pai, e em nome <strong>de</strong> Jesus<br />

Cristo, nosso Senhor e Salvador, seu início — início <strong>de</strong><br />

u'a marcha triunfante — em 4 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1951,<br />

primeiro domingo do mês, domingo em que geralmente


NELSON DE GODOY COSTA<br />

344<br />

se celebra a Santa ceia nas igrejas, a Santa Ceia que<br />

comemora o sacrifício <strong>de</strong> Quem se <strong>de</strong>u pelo mundo e<br />

pela humanida<strong>de</strong>. <strong>Metodista</strong>s, sentido! <strong>Metodista</strong>s,<br />

avançai, por Cristo!<br />

(Assinados)<br />

César Dacorso Filho,<br />

Bispo Superinten<strong>de</strong>nte da Região Eclesiástica do<br />

Norte<br />

Cyrus Bassett Dawsey,<br />

Bispo Superinten<strong>de</strong>nte da Região Eclesiástica do<br />

Centro<br />

Isaías Fernan<strong>de</strong>s Sucasas,<br />

Bispo Superinten<strong>de</strong>nte da Região Eclesiástica do Sul


CAPÍTULO QUARTO<br />

VAI A INGLATERRA — REGRESSA —<br />

ENFERMIDADE — INTERVENÇÃO CIRÚRGICA<br />

345<br />

Em 1951 vai à Inglaterra como membro do Concílio<br />

Ecuménico das <strong>Igreja</strong>s <strong>Metodista</strong>s do mundo.<br />

Cansado, esgotado <strong>de</strong> muitos e muitos trabalhos sente<br />

que precisa ir. Irmãos, parentes e amigos vêem nessa<br />

viagem ocasião <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso, mudança <strong>de</strong> ares, <strong>de</strong> alimentação,<br />

possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> refazer-se. O Bispo vê a<br />

necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> representação brasileira no Concílio<br />

que se reuniria na histórica cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Oxford, a uns<br />

cem quilómetros <strong>de</strong> Londres. A gran<strong>de</strong> assembleia<br />

wesleyana terá a representação brasileira na pessoa<br />

do Bispo brasileiro, que aten<strong>de</strong>rá aos laços do afeto e<br />

do <strong>de</strong>ver.<br />

Regressa do Concílio Ecuménico plenamente satisfeito<br />

pela cultura, sincerida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>voção dos<br />

homens que o compõem. Sente que em seu ambiente<br />

respirava alguma coisa das reuniões <strong>de</strong> Wesley. Em<br />

todo o Concílio imperou o espírito wesleyano. Foi<br />

uma reu-


NELSON DE GODOY COSTA<br />

346<br />

nião <strong>de</strong> congraçamento das <strong>Igreja</strong>s <strong>Metodista</strong>s e <strong>de</strong><br />

revivificação da fé e das ativida<strong>de</strong>s metodistas. Preten<strong>de</strong><br />

mais e mais aproximar umas das outras as <strong>Igreja</strong>s<br />

<strong>Metodista</strong>s <strong>de</strong> todo o mundo e reafirmar os padrões<br />

doutrinários. Assim expressou-se finalizando a entrevista<br />

concedida ao Expositor Cristão por intermédio do<br />

Sr. João Gonçalves.<br />

O Bispo brasileiro regressa é verda<strong>de</strong> menos cansado<br />

<strong>de</strong> Oxford. A viagem fêz-lhe bem. Fizeram-lhe bem o<br />

encontro com amigos <strong>de</strong> outras terras e outros ares.<br />

Seu organismo, entretanto, se ressente <strong>de</strong> fadiga<br />

acumulada e os trabalhos a que se entregou <strong>de</strong> novo<br />

em sua terra agravam-Ihe o mal.<br />

Em janeiro <strong>de</strong> 1952 está em Porto Alegre, capital do<br />

Estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, on<strong>de</strong> se realiza o<br />

Concílio daquela Região. Alquebrado <strong>de</strong> forças, todos<br />

percebem que o gran<strong>de</strong> servo sofre muito fisicamente.<br />

Mesmo assim é admirável seu ânimo forte. Inicia o<br />

tratamento médico mais intensamente. Está<br />

hospedado no Colégio Americano.<br />

No fim do concílio sente agravar-se o mal. É urgente,<br />

inadiável a intervenção cirúrgica. Interna-se no<br />

Hospital São Francisco e submete-se à acurado tratamento<br />

pre<strong>para</strong>tório. Do Rio <strong>de</strong> Janeiro e <strong>de</strong> São<br />

Paulo chegam <strong>de</strong> avião sua esposa e seus filhos. O<br />

primeiro Bispo brasileiro submete-se à <strong>de</strong>licadíssima<br />

intervenção cirúrgica e às consequentes tranfusões <strong>de</strong><br />

sangue.<br />

Durante a enfermida<strong>de</strong> sempre seu ânimo é forte, sua<br />

coragem inquebrantável, sua fé admirável.


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

347<br />

Confia no po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> Cristo. Está cônscio da presença<br />

do Senhor. Com simplicida<strong>de</strong> comovedora dá a todos<br />

um testemunho belíssimo <strong>de</strong> fé e paciência em Cristo.<br />

Amigos solícitos cercam-lhe o leito procurando<br />

adivinhar suas predileções, crendo auxiliar na cura. E<br />

entre os companheiros inseparáveis está o chimarrão<br />

gaúcho, amargo, fervendo, <strong>de</strong>licioso...<br />

Em sua convalescência que foi longa não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong><br />

trabalhar. Aten<strong>de</strong> do próprio leito <strong>de</strong> sofrimento sua<br />

vasta correspondência. Depois, em junho escreve ao<br />

rev. Eduardo Mena Barreto Jaime: "Agora só me resta<br />

um pouquinho <strong>de</strong> formigamento e bambeza nas<br />

pernas e nos pés. Isso porém, não me impe<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

trabalho algum, nem <strong>de</strong> qualquer saída <strong>de</strong> casa. Estou<br />

fazendo regularmente minha correspondência e todo o<br />

trabalho a mais do escritório. Tenho pregado, falado<br />

pelo rádio. Já visitei e fui a Belo Horizonte. Na próxima<br />

quarta-feira, dia 11 irei a Cabo Frio, Estado do Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro <strong>para</strong> o primeiro concílio distrital. De 20 a 26<br />

estarei em São Paulo.<br />

"Estou sentindo muita falta do ambiente gaúcho, dos<br />

velhos amigos, do chimarrão, do salame do Rio<br />

Gran<strong>de</strong>, da espinheira divina (erva medicinal) das<br />

campinas intérminas".<br />

Assim escreve e assim trabalha, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar o<br />

hospital, viajando <strong>para</strong> o Rio <strong>de</strong> Janeiro on<strong>de</strong> resi<strong>de</strong>,<br />

ainda convalescendo <strong>de</strong> grave enfermida<strong>de</strong>.<br />

Ainda em Porto Alegre nas vésperas <strong>de</strong> ser operado,<br />

sob o mais rigoroso cuidado médico, seu pensamento<br />

está no Concílio Regional do Norte, que <strong>de</strong>ve


NELSON DE GODOY COSTA<br />

348<br />

.realizar-se <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> poucos dias. Em sua alma está a<br />

<strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil.<br />

Seu corpo enfraquecido e enfermo está <strong>de</strong>tido no leito.<br />

0 pensamento livre voa <strong>para</strong> o Concílio Regional do<br />

Norte, que nesse ano é presidido pelo rev. João<br />

Augusto do Amaral, pastor em Petrópolis.<br />

No coração do primeiro Bispo brasileiro fotografada<br />

em gran<strong>de</strong> imagem está a <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil.<br />

Agra<strong>de</strong>cido a Deus pelo restabelecimento do Bispo<br />

venerando o Distrito do Rio <strong>de</strong> Janeiro realizou no<br />

templo do Catete um culto <strong>de</strong> ações <strong>de</strong> graça.<br />

Verda<strong>de</strong>ira multidão feita <strong>de</strong> crentes das várias igrejas<br />

da capital ex-paroquianos, amigos, admiradores, representações<br />

eclesiásticas, muitos pastores dos quais<br />

quinze fizeram uso da palavra, em momento oportuno,<br />

em congratulações, um programa <strong>de</strong> música suave, <strong>de</strong><br />

orações, singelo solene, compreensivo.<br />

O que realmente foi esse momento <strong>de</strong> gratidão a Deus<br />

<strong>de</strong>screve a pena do rev. António <strong>de</strong> Campos<br />

Gonçalves :<br />

CULTO DE AÇÕES DE GRAÇA No templo da igreja<br />

do Catete, no Rio, houve um culto <strong>de</strong> ações <strong>de</strong> graça<br />

pelo restabelecimento da saú<strong>de</strong> do Revmo. Bispo<br />

César Dacorso Filho, o primeiro bispo nacional da<br />

<strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil. Promovido pelo Distrito do<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro, <strong>de</strong> que é Superinten<strong>de</strong>nte o Rev. José<br />

Rui Rodrigues <strong>de</strong> Almeida, ele se realizou, à noite, no<br />

dia 14 <strong>de</strong> maio p.passado, quarta-feira.


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

349<br />

Houve programa: órgão e violino, pelos paroquianos<br />

D. Zila e Dr. Lobato; canto: a igreja três vezes, uma<br />

vez o coro, e um solo pela Sra. D. Leda Cunha Melo,<br />

ultimamente cooperadora no Catete; oração pelo Rev.<br />

Messias Cesário dos Santos, leitura bíblica pelo pastor<br />

da igreja, Rev. António Bágio, preleção gratu-latória<br />

por um dos Ministros do Rio, e palavra oficial do<br />

Superinten<strong>de</strong>nte do Distrito, Rev. José Rui.<br />

Foi gran<strong>de</strong> o concurso <strong>de</strong> povo, não só da paróquia do<br />

Catete, mas <strong>de</strong> todas as paróquias do Distrito do Rio,<br />

e também <strong>de</strong> Niterói. Dos 18 entre Ministros, Ministrospastôres,<br />

e provisionados com paróquia, 15 fizeram<br />

uso da palavra, congratulando-se com o Revmo. Bispo<br />

pelo restabelecimento <strong>de</strong> sua saú<strong>de</strong>. Também a igreja<br />

<strong>de</strong> Niterói teve sua expressão <strong>de</strong> júbilo, e a<br />

Confe<strong>de</strong>ração Evangélica do Brasil se fêz representar<br />

na palavra do Secretário-executivo <strong>de</strong> sua Comissão<br />

Central <strong>de</strong> Literatura. Por fim falou também o Revmo.<br />

Bispo César, discorrendo claro e firme sobre a sua<br />

enfermida<strong>de</strong> e sobre as provas nítidas e constantes da<br />

mão bondosa <strong>de</strong> Deus, em providências inequívocas<br />

em torno dos seus dias <strong>de</strong> maiores provações.<br />

Demos, <strong>de</strong> relance, o volume do programa, que,<br />

digamos, correu suave, num clima festivo e solene a<br />

um tempo, compreensivamente.<br />

Graças a Deus, louvores e adoração. Nada mais<br />

razoável <strong>de</strong>pois das bênçãos em gran<strong>de</strong> cópia concedidas<br />

ao Sr. Bispo pela restauração já <strong>de</strong> sua saú<strong>de</strong>, e<br />

à <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil igualmente pelo retorno do<br />

seu gran<strong>de</strong> administrador às ativida<strong>de</strong>s episcopais.


NELSON DE GODOY COSTA<br />

350<br />

A Exma. família do Sr. Bispo esteve presente, outros<br />

parentes, ex-paroquianos, crentes em geral, cooperadores<br />

e amigos. Todos se reuniram <strong>para</strong> dar<br />

graças a Deus. Templo repleto, teve por fim o Revmo.<br />

Bispo ensejo <strong>de</strong> receber, à saída, os cumprimentos <strong>de</strong><br />

todos, a expressão pessoal <strong>de</strong> contentamento, as congratulações.<br />

Continuemos dando graças a Deus pela vida do seu<br />

gran<strong>de</strong> servo, por sua provada consagração, por sua<br />

expressiva influência na administração da <strong>Igreja</strong><br />

<strong>Metodista</strong> do Brasil.


CAPÍTULO QUINTO<br />

ESTAMOS EM 1952 O FILATELISTA<br />

351<br />

Estamos em 1952. O primeiro Bispo brasileiro<br />

completamente vitorioso sobre a enfermida<strong>de</strong> e a<br />

operação <strong>de</strong>licadíssima está firme na direção do<br />

Colégio dos Bispos e da Região Eclesiástica do Norte.<br />

As exigências do episcopado encontram pela frente<br />

seu ânimo inquebrantável.<br />

Entre muitas ativida<strong>de</strong>s do segundo semestre,<br />

notemos apenas estas: presi<strong>de</strong> reunião da diretoria da<br />

Socieda<strong>de</strong> Bíblica do Brasil, presi<strong>de</strong> oito sessões do<br />

concílio do distrito <strong>de</strong> Petrópolis, em Rezen<strong>de</strong>; prega<br />

nos templos do Rio <strong>de</strong> Janeiro, vai a Belo Horizonte<br />

presidir o concílio distrital; vai a Mantena presidir o<br />

concílio do distrito do Vale do Rio Doce; presi<strong>de</strong> em<br />

Vitória, capital do Estado do Espírito Santo o concílio<br />

daquele distrito.


NELSON DE GODOY COSTA<br />

352<br />

Viaja pelos Estados <strong>de</strong> Minas Gerais, Rio <strong>de</strong> Janeiro,<br />

Espirito Santo no <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> seu episcopado que<br />

cada dia envolve maiores ativida<strong>de</strong>s, cria novos<br />

campos, levanta novos templos, convida à comunhão<br />

da <strong>Igreja</strong> novas almas, multiplica serviços das mais<br />

diversas naturezas, visando todos a realida<strong>de</strong> do<br />

Reino <strong>de</strong> Cristo no coração dos homens.<br />

Em outubro viaja <strong>para</strong> o exterior. Vai a Santiago do<br />

Chile representar a <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil na<br />

Conferência Central do Sul das Repúblicas hispanoamericanas.<br />

Em regresso passa pelo Paraguai. Dessa<br />

viagem resultou o possível estabelecimento <strong>de</strong> uma<br />

Missão da <strong>Igreja</strong> no Paraguai e o encaminhamento <strong>de</strong><br />

nossa cooperação com o Metodismo no Prata, numa<br />

colónia missionária na Bolívia, já aprovada pelas<br />

Juntas Gerais <strong>de</strong> Missões e <strong>de</strong> Ação Social; nossa<br />

aproximação da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> nos países hispanoame-ricanos<br />

e nossa representação fraternal na<br />

Conferência Central.<br />

FILATELISTA<br />

Nos concílios distritais, regionais, gerais o Bispo<br />

costuma trazer quantida<strong>de</strong> volumosa <strong>de</strong> selos <strong>de</strong><br />

todos os preços simples ou comemorativos que ven<strong>de</strong><br />

aos pastores e leigos. Os mesmos compradores <strong>de</strong><br />

selos novos oferecem ao Bispo selos usados na<br />

correspondência pastoral que é gran<strong>de</strong> também.


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

353<br />

O primeiro Bispo brasileiro é apaixonado filatelista.<br />

Possui bonita coleção <strong>de</strong> selos, uma das maiores do<br />

Brasil.<br />

Foi menino, aos sete anos que principiou a colecionar.<br />

Naquele tempo ainda se encontravam selos<br />

com a efígie <strong>de</strong> D. Pedro II, e os primeiros da República.<br />

Não havia naquele tempo a exploração macabra<br />

e <strong>de</strong>sanimadora nos domínios da filatelia.<br />

Quem inspirou o menino a colecionar foi seu irmão<br />

mais velho que por sinal não colecionava. Seu<br />

primeiro álbum foi feito <strong>de</strong> um papel <strong>de</strong> embrulho e lhe<br />

custou duzentos réis (vinte centavos, hoje) dinheiro<br />

que pediu à sua mãe. Logo <strong>de</strong>pois foi <strong>para</strong> a escola e<br />

lá enconlrou meninos que colecionavam e principiou a<br />

trocar as duplicatas. Tudo naquele tempo, naturalmente,<br />

era feito com muito pouco conhecimento do<br />

assunto.<br />

Mais tar<strong>de</strong> começou a trocar selos com colecionadores<br />

estrangeiros. Chama a esse entretenimento<br />

sua "mania" e diz que os colecionadores o<br />

estimularam muito nessa mania.<br />

Depois no pastorado e no episcopado mais ainda<br />

tornou-se difícil cuidar <strong>de</strong> seus selos. Está acumulando<br />

duplicatas <strong>para</strong> mais tar<strong>de</strong>, se tiver tempo na aposentadoria,<br />

trocar com outros colecionadores.<br />

A filatelia, diz o Bispo, <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> ser um prazer <strong>para</strong><br />

ser um negócio, tão complicada, tão onerosa, se<br />

lornou hoje e também exaustiva. Hoje só quem tem


NELSON DE GODOY COSTA<br />

354<br />

fortuna e um secretário é que po<strong>de</strong> colecionar selos.<br />

Há muita ilusão sobre o valor <strong>de</strong> selos. Na filatelia<br />

qualida<strong>de</strong> é o que vale. Quantida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> não valer<br />

coisa alguma. Venda <strong>de</strong> coleção em bloco não ren<strong>de</strong><br />

coisa alguma. Venda <strong>de</strong> selos avulsos aos colecionadores<br />

que precisam encher álbuns é que dá alguma<br />

coisa.<br />

A coleção do primeiro Bispo brasileiro conta com mais<br />

<strong>de</strong> cento e vinte mil exemplares. São <strong>de</strong> todos os<br />

países. Há selos <strong>de</strong> raro valor. O número <strong>de</strong> exemplares<br />

e seu valor classificam o Bispo entre os maiores<br />

filatelistas do Brasil.


CAPÍTULO SEXTO<br />

PLANOS E REALIZAÇÕES<br />

355<br />

Eleito bispo, César Dacorso Filho esboçou um plano<br />

gigantesco; a evangelização do Brasil. Conquistaria<br />

primeiro as capitais; <strong>de</strong>pois as cida<strong>de</strong>s-chaves; em<br />

seguida as zonas <strong>de</strong> maior <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong> população.<br />

Certamente o sonho gigantesco <strong>de</strong> César Dacorso<br />

Filho exige tempo.<br />

Os passos seguros <strong>para</strong> sua realida<strong>de</strong> já alcançaram<br />

Curitiba, capital do Estado sulino, Paraná. Já atingiram<br />

Goiânia, a cida<strong>de</strong> menina do Brasil, capital do Estado<br />

central <strong>de</strong> Goiás. Já foram à Vitória, a linda capital do<br />

Estado do Espírito Santo.<br />

Os passos seguros já chegaram a Salvador, a cida<strong>de</strong><br />

mais antiga do Brasil, chamada Roma brasileira, e que<br />

foi durante dois séculos a capital do Brasil.


356<br />

Os passos se agigantam e em 1951 com a graça <strong>de</strong><br />

Deus, Recife, a capital <strong>de</strong> Pernambuco será atingida.<br />

Não apenas as capitais estão na pasta <strong>de</strong> planos do<br />

Bispo brasileiro e nas suas conquistas. As cida<strong>de</strong>s<br />

estratégicas também. Uberlândia, cida<strong>de</strong> do Triângulo<br />

Mineiro, com irradiação <strong>para</strong> os Estados <strong>de</strong> Goiás,<br />

Mato Grosso e o próprio Estado <strong>de</strong> Minas Gerais;<br />

Londrina, no Estado do Paraná, cida<strong>de</strong> cujo<br />

<strong>de</strong>senvolvimento miraculoso impressionou vivamente<br />

as levas <strong>de</strong> imigrantes nor<strong>de</strong>stinos; Campos, no<br />

Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro; Volta Redonda, a cida<strong>de</strong>aço<br />

on<strong>de</strong> se encontra toda a esperança na si<strong>de</strong>rurgia<br />

brasileira; Agulhas Negras, com a famosa Escola <strong>de</strong><br />

Ca<strong>de</strong>tes do Exército são marcos assentados no plano<br />

<strong>de</strong> conquista do trabalho metodista, sob a direção <strong>de</strong><br />

César Dacorso Filho. Ou antes, foram planos, porque<br />

hoje, Uberlândia, Londrina, Campos, Volta Redonda,<br />

Agulhas Negras são se<strong>de</strong> <strong>de</strong> paróquias florescentes e<br />

verda<strong>de</strong>iramente promissoras. Algumas já se tornaram<br />

graças ao Senhor da seara em realida<strong>de</strong>s<br />

esplendorosas.<br />

O Vale do Rio Doce, o Vale <strong>de</strong> São Francisco, a linha<br />

férrea São Paulo-Rio Gran<strong>de</strong>, a linha litorânea, todas<br />

as cida<strong>de</strong>s, todas as capitais não atingidas estão<br />

presas ao plano <strong>de</strong> evangelização.<br />

Os homens-obreiros, entretanto, faltam! É o clamor do<br />

primeiro Bispo brasileiro, o clamor insistente e<br />

apaixonado. Homens, homens e mais homens,<br />

<strong>de</strong>stemidos, prontos <strong>para</strong> qualquer ponto, qualquer<br />

lugar e qualquer posição, pastores consagrados<br />

amando


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

357<br />

<strong>de</strong>cididamente suas ovelhas, os seus paroquianos,<br />

prontos a oferecer a vida em holocausto ao gran<strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>al.<br />

Certamente cabe <strong>aqui</strong>, ainda e sempre a prece do<br />

Mestre, Aquele que olhou que contemplou longa e<br />

apaixonadamente os campos, e <strong>de</strong>pois, alma ansiosa,<br />

disse; "Os campos na verda<strong>de</strong> são imensos, mas os<br />

trabalhadores na verda<strong>de</strong> são poucos. Rogai ao<br />

Senhor da seara que envie trabalhadores <strong>para</strong> seus<br />

campos".<br />

E aí continuam oito milhões e quinhentos mil<br />

quilómetros quadrados <strong>de</strong> superfície <strong>de</strong>safiando a<br />

<strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil. Não importa se outras<br />

igrejas estão trabalhando. Importa c que a <strong>Igreja</strong><br />

<strong>Metodista</strong> do Brasil está em campo. Isto é o que<br />

importa.<br />

Muito mais do que superfície, do que terra, há almas!<br />

Existem cinquenta e dois milhões <strong>de</strong> almas por quem<br />

Cristo morreu, imersas no abandono, no<br />

indiferentismo, vítimas da má direção religiosa, no <strong>de</strong>sespero,<br />

na revolta, cinquenta e dois milhões <strong>de</strong> almas<br />

<strong>de</strong>sejando, ansiando, clamando, buscando por Jesus,<br />

em tamanha ignorância religiosa, que não sabem que<br />

é Jesus a quem <strong>de</strong>vem buscar.<br />

O primeiro Bispo brasileiro sonha com a conquista do<br />

Brasil <strong>para</strong> o Evangelho do túmulo vazio. Faltam-lhe<br />

homens <strong>para</strong> a luta.<br />

13


NELSON DE GODOY COSTA<br />

A LEGISLAÇÃO DA IGREJA<br />

358<br />

A legislação da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil conhecida<br />

<strong>de</strong>ntro e fora <strong>de</strong> nossa <strong>de</strong>nominação, <strong>de</strong>ntro e fora dos<br />

meios evangélicos, e admirada como extraordinária é<br />

obra quase que exclusivamente do primeiro Bispo<br />

brasileiro. Atento às reuniões das comissões, assíduo<br />

a elas, escrevendo-lhes, orientando-as, redigindo, é o<br />

inspirador, o responsável, o autor <strong>de</strong> quase todas as<br />

questões <strong>de</strong> lei sobre as quais discutiu e as quais<br />

estudou exaustivamente pelo jornal da <strong>Igreja</strong>,<br />

opinando, <strong>de</strong>cidindo. Em verda<strong>de</strong> a <strong>Igreja</strong> <strong>de</strong>ve ao<br />

Bispo quase toda a legislação <strong>de</strong> que po<strong>de</strong> se orgulhar<br />

com justiça e modéstia.<br />

SUA ATUAÇÃO EM ALGUMAS ENTIDADES SOCIAIS<br />

César Dacorso Filho tem cooperado na organização<br />

<strong>de</strong> algumas entida<strong>de</strong>s sociais. É sócio fundador do<br />

grémio literário "Sylvio Romero", no colégio "Granbery"<br />

<strong>de</strong> Juiz <strong>de</strong> Fora. A agremiação literária granberyense<br />

tem a glória <strong>de</strong> ter tido em seu seio alguns<br />

dos maiores oradores, dos maiores <strong>de</strong>clamadores, das<br />

mais pujantes expressões literárias que passaram pelo<br />

imortal educandário brasileiro. Noites literárias alucinantes<br />

<strong>de</strong> entusiasmo e mocida<strong>de</strong> o grémio proporcionou<br />

à socieda<strong>de</strong> Juiz <strong>de</strong> Forana.


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

359<br />

Desse grémio César Dacorso Filho é sócio fundador e<br />

a êle emprestou o calor <strong>de</strong> sua voz forte, a inteligência<br />

<strong>de</strong> seu cérebro admirável e a vida <strong>de</strong> sua alma sempre<br />

moça.<br />

É sócio fundador do Clube Filatélico <strong>de</strong> Juiz <strong>de</strong> Fora.<br />

É sócio fundador da Associação Auxiliadora da <strong>Igreja</strong><br />

<strong>Metodista</strong>, que seria realmente uma força po<strong>de</strong>rosa na<br />

manutenção da <strong>Igreja</strong>, e que, infelizmente, por falta <strong>de</strong><br />

cooperação veio a extinguir-se.<br />

Na mesma cida<strong>de</strong> mineira foi sócio do clube<br />

revolucionário "Três <strong>de</strong> Outubro" em 1930.<br />

O BISPO AMIGO DA INSTRUÇÃO<br />

Amigo fervoroso da instrução, o Bispo brasileiro, que<br />

<strong>de</strong>s<strong>de</strong> muito menino procurou os livros, sempre<br />

incentivou outros ao estudo. Durante seu pastorado<br />

todo insistiu na necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> levar as crianças ao<br />

estudo. Criou escolas paroquiais, procurou meios <strong>de</strong><br />

crianças inteligentes prosseguirem os estudos.<br />

Na superintendência distrilal impulsionou em seus<br />

distritos a criação <strong>de</strong> escolas on<strong>de</strong> meninos e meninas<br />

pu<strong>de</strong>ssem estudar.<br />

Estimula <strong>de</strong> todas as maneiras em palestras pessoais,<br />

ou dirigidas a grupos <strong>de</strong> meninos ou meninas, <strong>de</strong><br />

jovens, a pais, a necessida<strong>de</strong> imperiosa <strong>de</strong> preparo<br />

intelectual. Tem <strong>de</strong> muitos modos ajudado na edu-


NELSON DE GODOY COSTA<br />

360<br />

cação <strong>de</strong> adolescentes. Lutou tremendamente mas<br />

<strong>de</strong>u preparo completo a todos seus filhos e esten<strong>de</strong> o<br />

olhar aos filhos da <strong>Igreja</strong> como sendo seus filhos.<br />

Foi um, é um dos i<strong>de</strong>alizadores da Universida<strong>de</strong><br />

Evangélica, com o plano dilatado <strong>de</strong> am<strong>para</strong>r a educação<br />

<strong>de</strong> todas as crianças pobres da <strong>Igreja</strong>.<br />

A falta <strong>de</strong> cooperação, bem <strong>de</strong>sgraçadamente, parece<br />

que vai transformar o gran<strong>de</strong> sonho da Universida<strong>de</strong><br />

num gran<strong>de</strong> sonho apenas.<br />

AMIGO DA LITERATURA E DA HISTÓRIA<br />

Ama a literatura e a história. Penetra fundo os<br />

domínios da psicologia. Seus autores prediletos são<br />

Alexandre Herculano e Camilo Castelo Branco, em<br />

Portugal, e Coelho Neto, no Brasil. Na poesia admira<br />

os arroubos <strong>de</strong> Castro Alves e a doçura <strong>de</strong> Casimiro<br />

<strong>de</strong> Abreu. O primeiro livro <strong>de</strong> poesias que leu foi <strong>de</strong><br />

Fanfa Ribas, poeta gaúcho. Outro poeta gaúcho que<br />

também apreciou muito foi Lobo <strong>de</strong> Castro.<br />

O primeiro romance que lhe caiu às mãos e que leu<br />

com sofreguidão <strong>de</strong> adolescente foi "O Moço Loiro", <strong>de</strong><br />

Jo<strong>aqui</strong>m Manoel <strong>de</strong> Macedo.<br />

OUTROS IDIOMAS<br />

Era menino quando principiou a estudar inglês. Fala<br />

corretamente, hoje. Em suas viagens aos Estados


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

361<br />

Unidos ou Inglaterra, conce<strong>de</strong>ndo entrevistas, discursando,<br />

ocupando púlpitos, não precisa <strong>de</strong> quem o<br />

aju<strong>de</strong>. Recebendo no Brasil americanos ou ingleses<br />

conversa com eles, resolve assuntos da máxima<br />

importância, empregando nas palestras o idioma da<br />

pátria <strong>de</strong> nascimento dos visitantes.<br />

Nos tempos <strong>de</strong> ginasiano começou a gostar do latim.<br />

Seu amor veio pelo amor ao estudo do português <strong>de</strong><br />

que hoje é mestre. Conhece ainda o italiano, o francês<br />

e o espanhol. Tentou entrar pelos mundos<br />

<strong>de</strong>sconhecidos do grego e do hebraico, a falta<br />

absoluta <strong>de</strong> tempo não lhe permitiu maiores<br />

explorações nesse terreno, <strong>para</strong> o qual sempre olhou<br />

com olhos compridos.<br />

Há um idioma <strong>de</strong> que não gosta: o alemão.


CAPÍTULO SÉTIMO<br />

AMIZADES BONITAS ATIVIDADE EXPRESSA EM<br />

VERBOS<br />

362<br />

0 ministério metodista sempre foi abençoado com<br />

amiza<strong>de</strong>s verda<strong>de</strong>iramente bonitas. Nas ocasiões dos<br />

concílios distritais, regionais ou gerais ou nos institutos<br />

ministeriais vêem-se pastores aos grupos nas<br />

palestras, nos passeios, procurando lugares juntos à<br />

mesa ou <strong>de</strong>sejando ser companheiros <strong>de</strong> dormitório.<br />

Amiza<strong>de</strong>s que adornam a existência, que suavizam os<br />

encargos do pastorado e adoçam os amargores<br />

naturais que às vezes aparecem em meio do caminho<br />

florido do ministério.<br />

São amiza<strong>de</strong>s que nasceram no tempo <strong>de</strong> estudantes.<br />

Companheiros <strong>de</strong> turmas, colegas nos estudos, a<br />

amiza<strong>de</strong> que nasceu em seus corações e que alimentaram<br />

carinhosamente, foi muitas e muitas vezes um<br />

lenitivo nas aperturas do estudante pobre e nas lutas<br />

do moço crente.


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

363<br />

Em todos os tempos houve amiza<strong>de</strong>s admiráveis,<br />

santas amiza<strong>de</strong>s. Em nosso tempo <strong>de</strong> estudante lembramo-nos<br />

<strong>de</strong> algumas amiza<strong>de</strong>s que se tornaram<br />

amiza<strong>de</strong>s-símbolo pela sua beleza e compreensão. A<br />

que uniu os corações dos revs. Francisco Gonçalves<br />

Nocetti, Augusto Schwab e António Nery Bággio. Hoje<br />

o primeiro <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> pastorear as maiores paróquias é<br />

reitor do Colégio Piracicabano; o segundo, secretário<br />

da Junta Geral <strong>de</strong> Missões, cargo <strong>para</strong> o qual foi reeleito<br />

várias vezes, e o terceiro, pastor da paróquia do<br />

Catête no Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

Outra amiza<strong>de</strong> bonita é a dos revs. Juvenal Ernesto da<br />

Silva e Isnard Rocha. Muitas vezes estávamos em<br />

nosso quarto preso aos livros, quando ouvíamos uma<br />

risada verda<strong>de</strong>iramente gostosa. Era o Juvenal rindo<br />

das graças do Isnard. Hoje Juvenal é capelão do<br />

Exército brasileiro, tendo já estado na Europa com as<br />

forças expedicionárias brasileiras, residindo<br />

atualmente no Rio <strong>de</strong> Janeiro, e Isnard é pastor da<br />

paróquia Central <strong>de</strong> São Paulo.<br />

Outra amiza<strong>de</strong> que nasceu nos bancos escolares do<br />

Granbery e da Faculda<strong>de</strong> é a que irmanou o autor ao<br />

rev. dr. Elias Escobar Gavião, hoje advogado e pastor<br />

da paróquia <strong>de</strong> <strong>Vila</strong> <strong>Isabel</strong>, no Rio <strong>de</strong> Janeiro, e ao dr.<br />

Saulo do Vai Esteves <strong>de</strong> Almeida, engenheiro, com<br />

curso <strong>de</strong> especialização nos Estados Unidos, e ao rev.<br />

José Nicolau Lemos, pastor da paróquia da Luz, na<br />

capital paulista.


NELSON DE GODOY COSTA<br />

364<br />

César Dacorso Filho teve igualmente amiza<strong>de</strong>s<br />

bonitas nascidas no tempo <strong>de</strong> estudante no Colégio<br />

União <strong>de</strong> Uruguaiana. Entre elas está a do rev. Oswaldo<br />

Luiz da Silva, gaúcho também.<br />

O rev. Oswaldo Luiz da Silva é um dos ilustres<br />

ministros da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil, hoje aposentado<br />

<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> longo e abençoado ministério, pastoreando<br />

as maiores paróquias, resi<strong>de</strong> na capital <strong>de</strong> São<br />

Paulo.<br />

Ouvimô-lo a respeito <strong>de</strong> seu gran<strong>de</strong> amigo expressarse<br />

assim:<br />

"Vida espantosamente ativa! Companheiro valoroso <strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>al! Da convivência com esse <strong>de</strong>stemido varão<br />

<strong>de</strong>sejo fazer uma afirmação tríplice:<br />

"Nossa amiza<strong>de</strong> nasceu em 1910, quando o Senhor<br />

nos chamou <strong>para</strong> semear e <strong>para</strong> colher na seara<br />

sempre branquejante, que também o era naqueles<br />

bons tempos.<br />

"Nossa amiza<strong>de</strong> não foi meramente conservada nesse<br />

longo transcurso; criou raízes profundas e robustas no<br />

coração.<br />

"Nossa amiza<strong>de</strong>, agora, passados quarenta e três<br />

anos no missionarismo sagrado, é amiza<strong>de</strong> máxima,<br />

realçante <strong>de</strong> maior viço, por admiração e apreço ao<br />

valor inconfundível da personalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> César<br />

Dacorso Filho, do que realmente o era em épocas<br />

vividas apenas em camaradagem bastante comum,<br />

que tínhamos, entre estudos e trabalhos colegiais no<br />

colégio "União" <strong>de</strong> Uruguaiana, ou no colégio<br />

"Granbery" <strong>de</strong> Juiz <strong>de</strong> Fora".


365<br />

Outra amiza<strong>de</strong> bonita que floresce no coração <strong>de</strong><br />

César Dacorso Filho c o Rev. Eduardo Mena Barreto<br />

Jaime. Conheceram-se em Santa Maria, muito jovens,<br />

quando César Dacorso Filho era funcionário da Viação<br />

Férrea Rio Gran<strong>de</strong> do Sul e Eduardo Mena Barreto<br />

Jaime foi <strong>para</strong> aquela cida<strong>de</strong> como auxiliar do Rev.<br />

António Patrício Fraga.<br />

Alicerçaram, juntos, uma amiza<strong>de</strong> verda<strong>de</strong>ira, pura,<br />

abençoada, que, à medida que os anos passam,<br />

cresce mais e mais. César tem <strong>para</strong> com Eduardo profunda<br />

admiração. Acompanha-lhe, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então, com<br />

sincero interesse os passos no ministério santo. Assistiu-lhe<br />

o enlace matrimonial com Da. Alcinda Martins,<br />

jovem <strong>de</strong> extraordinário valor. Acompanhou o crescimento<br />

<strong>de</strong> quatro filhas extremosas.<br />

Seguíu-lhe os passos nos lugares por on<strong>de</strong> andou e<br />

nas posições <strong>de</strong>stacadas que conquistou como ministro<br />

e sociólogo, como pastor e jornalista. Foi Eduardo<br />

o campeão das campanhas pró Autonomia, no Sul,<br />

on<strong>de</strong> — justo que se diga — lutou quase sozinho.<br />

Hoje, aposentado, mais do ninguém, representa a<br />

velha guarda metodista no Sul. É quem, entre outros,<br />

representa do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, com <strong>de</strong>dicação<br />

incon-trastável, o génio wesleyano; quem, já com as<br />

energias quebrantadas pelos anos e enfermida<strong>de</strong>s,<br />

prega, visita, estimula, fornece padrão, com outros,<br />

<strong>para</strong> a mocida<strong>de</strong> que ingressa no ministério.<br />

Pela influência que exerceu, pelas lições 'que recebeu,<br />

pela bonda<strong>de</strong> que o caracteriza, pelo cristianismo que<br />

encarna, a Eduardo Mena Barreto Jaime, César<br />

Dacorso Filho <strong>de</strong>ve muitíssimo.


NELSON DE GODOY COSTA<br />

366<br />

Admiramos amiza<strong>de</strong>s assim. Admiramos exal-tandoas.<br />

Amiza<strong>de</strong>s que se alimentam na afinida<strong>de</strong> espiritual,<br />

que se robustecem na admiração natural pelo valor<br />

sem afetação. Amiza<strong>de</strong>s puras, <strong>de</strong>spre-tenciosas e<br />

cristãs. Amiza<strong>de</strong>s fortalecidas no companheirismo,<br />

alicerçadas na mesma fé, fruteando nos mesmos<br />

i<strong>de</strong>ais aos interesses supremos do Reino <strong>de</strong> Cristo, do<br />

Jesus que em sua vida na terra teve também amigos<br />

verda<strong>de</strong>iros.<br />

ATIVIDADE EXPRESSA EM VERBOS<br />

Quem acompanha a seção "Superintendência<br />

Episcopal", em que, pelo Expositor Cristão o primeiro<br />

Bispo brasileiro informa a <strong>Igreja</strong> sobre sua assombrosa<br />

ativida<strong>de</strong> ministerial nota naturalmente o sem-número<br />

<strong>de</strong> vezes em que aparecem verbos:<br />

Viajei: convi<strong>de</strong>i,<br />

a pé, participei,<br />

a cavalo,<br />

em burro (exemplo: o li,<br />

Aeroplano"<br />

<strong>de</strong> caminhonêta, escrevi,<br />

<strong>de</strong> caminhão,<br />

<strong>de</strong> ônibus, respondi,<br />

<strong>de</strong> automóvel,<br />

<strong>de</strong> trem, agra<strong>de</strong>ci,<br />

<strong>de</strong> avião,<br />

<strong>de</strong> navio, estu<strong>de</strong>i,<br />

Cheguei orei,<br />

Vi, preguei,


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

visitei, falei,<br />

observei, acompanhei,<br />

estive, iniciei,<br />

examinei, concluí,<br />

saí, continuei,<br />

percorri, realizei,<br />

an<strong>de</strong>i, convoquei,<br />

sugeri, dirigi,<br />

aconselhei, presidi,<br />

resolvi, sugeri,<br />

<strong>de</strong>terminei, atendi,<br />

or<strong>de</strong>nei, sofri,<br />

comuniquei, agra<strong>de</strong>ci,<br />

concluí, intercedi,<br />

cui<strong>de</strong>i, supliquei,<br />

exortei,<br />

aconselhei, Nao colocamos ponto final nesta<br />

lista. Graça a Deus, não<br />

terminou.<br />

batizei,<br />

realizei<br />

oficiei<br />

367


CAPÍTULO OITAVO<br />

19 5 3<br />

O INSTITUTO MINISTERIAL GERAL<br />

368<br />

Estamos, pelo favor divino, no ano <strong>de</strong> 1953.<br />

A <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil é no Brasil uma realida<strong>de</strong><br />

surpreen<strong>de</strong>nte.<br />

Reuniões, comissões, concílios, congressos, socieda<strong>de</strong>s,<br />

escolas dominicais expressam ativida<strong>de</strong> empolgante,<br />

verda<strong>de</strong>iramente compensadora dos esforços conjugados<br />

das forças leigas.<br />

Pastores esmeram-se no preparo <strong>de</strong> sermões, estudam<br />

com maior vonta<strong>de</strong>, viajam, visitam, orientam, cuidam<br />

mais <strong>de</strong>sveladamente do rebanho.<br />

Os superinten<strong>de</strong>ntes distritais olham com cuidado o<br />

distrito que receberam nos concílios regionais.<br />

Os secretários regionais e gerais das Juntas <strong>de</strong> Missões,<br />

Educação Cristã e Ação Social aco<strong>de</strong>m aos cargos<br />

pastorais e aten<strong>de</strong>m as secretarias.


369<br />

PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

Os três Bispos, em perfeita harmonia, coor<strong>de</strong>nam,<br />

dirigem, conduzem.<br />

A <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil unida c forte é uma realida<strong>de</strong><br />

esplendorosa no Brasil.<br />

Em meio a todas suas ativida<strong>de</strong>s, entre todas suas<br />

realizações, o Instituto Ministerial Geral <strong>para</strong> pastores foi<br />

uma realização que exce<strong>de</strong>u a melhor expectativa <strong>de</strong><br />

êxito.<br />

I<strong>de</strong>alizado pelo secretário geral da Junta Geral <strong>de</strong><br />

Educação Cristã, Rev. Charles Wesley Clay e realizado<br />

pelo consagrado ministro brasileiro e por seus auxiliares<br />

imediatos, transformou-se em bênção maravilhosa<br />

<strong>de</strong>rramada dos céus sobre os pastores e por meio <strong>de</strong>les<br />

sobre toda a <strong>Igreja</strong>.<br />

0 venerando Bispo esteve presente à memorável reunião<br />

que congregou com poucas exceções os pastores das<br />

três regiões eclesiásticas, unindo todos os pastores<br />

metodistas do Brasil num amplexo fraternal <strong>de</strong> amor<br />

cristão verda<strong>de</strong>iramente inspirador.<br />

O venerando Bispo testemunhou eloquentemente as<br />

graças divinas recebidas no inesquecível retiro. Se sua<br />

presença foi uma inspiração e um estímulo <strong>para</strong> os<br />

participantes do Instituto, foi <strong>de</strong> igual modo o Instituto<br />

favor espiritual <strong>para</strong> o extraordinário condutor da <strong>Igreja</strong>,<br />

que publicamente expressou a alegria em participar do<br />

que chamou um dos mais altos privilégios quando sentiu,<br />

por diversos meios a influência magnífica e vigorosa,<br />

edificante e salutar.


NELSON DE GODOY COSTA<br />

370<br />

"Foram oito dias <strong>de</strong> cânticos e orações, <strong>de</strong> estudos e<br />

mesas-redondas, <strong>de</strong> observações e experiências <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>spertamentos c emoções, <strong>de</strong> provas e práticas, <strong>de</strong><br />

comunhão, <strong>de</strong> ágapes, <strong>de</strong> fraternida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> pregações,<br />

apelos, conversões e re<strong>de</strong>dicações, <strong>de</strong> mais<br />

esclarecimentos, mais aproximação e mais coesão entre<br />

os servos do Senhor, assim reunidos. Tudo em ambiente<br />

sereno; tudo, sem afogadilho.<br />

Continua o testemunho do Bispo brasileiro: "Outro<br />

aspecto <strong>de</strong>veras interessante do Instituto, foi o<br />

congraçamento, que operou, dos pastores metodistas <strong>de</strong><br />

todo o país — ministros e provisionados. A <strong>Igreja</strong> cresceu<br />

muito nos últimos <strong>de</strong>cénios; as regiões eclesiásticas já<br />

perfazem três, cada uma com seu Bispo, o que as tornou<br />

quase que inteiramente isoladas umas das outras, até<br />

mesmo na formação <strong>de</strong> muitos <strong>de</strong> seus obreiros. O<br />

Concílio Geral não congrega senão pouquíssimos <strong>de</strong>les,<br />

mais ou menos os mesmos <strong>de</strong> sempre, já conhecidos uns<br />

dos outros, colhidos entre duzentos ou mais, talvez entre<br />

quase trezentos, espalhados entre as cida<strong>de</strong>s e rincões<br />

do Brasil. Por isso, entre nós, só um Instituto Geral tem o<br />

condão <strong>de</strong> atrair, a um tempo, <strong>para</strong> o mesmo lugar, todos<br />

eles. Ainda mais, tem a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dar-lhes o senso<br />

unitário da <strong>de</strong>nominação, e a percepção da força imensa<br />

que representam. O que tudo isso significa <strong>para</strong> o<br />

Metodismo brasileiro é incalculável.<br />

E conclui o parágrafo:<br />

"De agora até ao próximo Concílio Geral <strong>de</strong>vemos<br />

notar, atentos, os frutos que, ao lado <strong>de</strong>


371<br />

outras formas <strong>de</strong> impulso, produziu o Instituto Geral <strong>de</strong><br />

1953".<br />

Estes, alguns trechos do testemunho público, sincero e<br />

vivo, do gran<strong>de</strong> Bispo metodista a respeito da<br />

monumental realização da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil, —<br />

o Instituto Ministerial Geral, em 1953.<br />

Na reunião <strong>de</strong> encerramento do Instituto Ministerial Geral<br />

todos os pastores cantaram com a música do hino 518<br />

dos Salmos e Hinos a letra do autor, que é a seguinte:<br />

HORA DE DESPEDIDA<br />

Hora amarga <strong>de</strong> se<strong>para</strong>ção<br />

De pessoas tão queridas,<br />

—Amiza<strong>de</strong>s não fingidas —<br />

Sofre e chora nosso coração!<br />

CôRO<br />

Mas não há <strong>de</strong> ser <strong>para</strong> sempre a dor,<br />

Juntos estaremos com Jesus<br />

Mas não há <strong>de</strong> ser tão pesada a cruz:<br />

A distância não apaga o amor!<br />

Neste mundo temos <strong>de</strong> sofrer<br />

Muitos transes dolorosos!<br />

Muitos olhos lacrimosos,<br />

Neste mundo, temos nós <strong>de</strong> ver!<br />

Confortada pelo imenso amor,<br />

—Evangelho <strong>de</strong> esperança —<br />

A alma luta e não se cansa<br />

Por unir-se um dia ao seu Senhor!<br />

Nas moradas <strong>de</strong> meu Deus, enfim,<br />

Vai o crente fervoroso<br />

Desfrutar completo gozo<br />

Que não tem mudança e não tem fim!


MOÇOS!<br />

CAPÍTULO NONO<br />

CONVITE AOS MOÇOS<br />

372<br />

A <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil precisa urgentemente <strong>de</strong><br />

pastores.<br />

Ansiosa pela salvação das almas esten<strong>de</strong> vistas longas<br />

pelos campos sem fim <strong>de</strong> nossa terra. Alonga a vista<br />

sobre criancinhas como aquelas que um dia, confiantes e<br />

simples subiram aos joelhos <strong>de</strong> Jesus <strong>para</strong> receber a<br />

bênção <strong>de</strong> seu amor infinito.<br />

Alonga a vista sobre a mocida<strong>de</strong> que se <strong>de</strong>sorienta sem<br />

i<strong>de</strong>al, e por isso mesmo <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ofertar à Pátria o<br />

concurso inspirado pelo mais alto sentido da Vida.<br />

A <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil alonga a vista pela paisagem<br />

melancólica da velhice e simpatiza com a dor e o<br />

<strong>de</strong>sconforto <strong>de</strong> quem não foi <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primeiros dias<br />

iniciado nos princípios salutares e eternos do<br />

Cristianismo.


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

373<br />

Não há quem cui<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa pobre gente.<br />

A <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil precisa urgentemente <strong>de</strong><br />

pastores.<br />

Todos os anos as portas imensas da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Medicina ou <strong>de</strong> Direito, ou outra, tornam-se pequenas<br />

<strong>de</strong>mais <strong>para</strong> conter a avalancha <strong>de</strong> moços que se<br />

candidatam aos seus cursos.<br />

As portas da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Teologia da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong><br />

do Brasil estão à espera <strong>de</strong> moços que irão torná-las<br />

pequenas, <strong>de</strong> moços crentes que queiram empurrá-las,<br />

<strong>de</strong> moços fortes que queiram forçá-las, <strong>de</strong> moços<br />

vocacionados, que, <strong>de</strong>cididamente queiram transpô-las,<br />

buscando o preparo <strong>para</strong> o Santo Ministério.<br />

A vida do primeiro Bispo brasileiro é um convite vivo,<br />

insistente, comovedor aos moços <strong>para</strong> o Santo Ministério.<br />

Menino, em Santa Maria, no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, ouviu o<br />

chamado d'Aquôle que andava pelas margens do Mar da<br />

Galileia. Prontamente aten<strong>de</strong>u ao convite. Novo Samuel<br />

ouviu a voz celestial falando-lhe. Novo Paulo não foi<br />

<strong>de</strong>sobediente à visão celestial.<br />

Toda sua vida é o resultado da obediência ao chamado<br />

divino. Vida extraordinária que ainda há <strong>de</strong> ser contada<br />

com muito mais vida, muito mais beleza, muito mais<br />

emoção do que foi contada agora por quem apenas<br />

<strong>de</strong>sejou escrevê-la sem ao menos saber contá-la.<br />

A vida <strong>de</strong> César Dacorso Filho é um convilc vivo,<br />

insistente comovedor <strong>para</strong> o Santo Ministério.


MOÇOS!<br />

NELSON DE GODOY COSTA<br />

374<br />

Os passos do Tempo se fazem ouvir, se fazem sentir.<br />

César Dacorso Filho sente o passar dos passos do<br />

Tempo. Muito <strong>de</strong> suas forças físicas ficaram <strong>para</strong> trás<br />

retidas pelos dias <strong>de</strong> sua mocida<strong>de</strong>. O milagre do espírito<br />

másculo conserva-o admirável, gigantesco, sem medo do<br />

amanhã que certamente há <strong>de</strong> chegar.<br />

É preciso que se levante outro César.<br />

Outros Césares.<br />

É dificílimo surgir outro César Dacorso Filho!<br />

É possível, porém.<br />

O mesmo Jesus que foi à cida<strong>de</strong> sulina convidar o jovem<br />

telegrafista <strong>para</strong> se pre<strong>para</strong>r e abraçar o Santo Ministério,<br />

anda por outros lugares convidando o jovem operário o<br />

estudante das escolas secundárias, superiores, <strong>para</strong> o<br />

mesmo Santo Ministério <strong>de</strong> que a vida <strong>de</strong> César Dacorso<br />

Filho é uma glorificação impressionante e comovedora.<br />

Moços, o convite está nas vossas mãos.<br />

Se quiser<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>is colocá-lo nas profun<strong>de</strong>zas do<br />

coração.


CAPÍTULO DÉCIMO<br />

ANTES DO FINAL<br />

375<br />

A conversão <strong>de</strong> César Dacorso Filho foi gradual, sem<br />

choques violentos, sem gran<strong>de</strong>s comoções. Resultado<br />

felicíssimo da educação religiosa recebida no seio da<br />

própria <strong>Igreja</strong>. Sempre teve, entretanto, momentos <strong>de</strong><br />

comoção, através dos anos <strong>de</strong> sua vida, comoção intensa<br />

e profunda.<br />

------0O0----<br />

O primeiro Bispo brasileiro é irredutivelmente wesleyano,<br />

é ortodoxo.<br />

Crê que a Bíblia é a palavra <strong>de</strong> Deus, e que Jesus Cristo<br />

é Deus.<br />

Permanece ao lado dos padrões doutrinários metodistas<br />

ainda que respeite convicções contrárias.<br />

Sente profundo prazer e imensa felicida<strong>de</strong> na oração<br />

individual.<br />

Não aprecia encenações religiosas nas festas e muito<br />

menos nos cultos.


NELSON DE GODOY COSTA<br />

376<br />

Não tolera artifícios nas pregações.<br />

Não se utiliza do púlpito <strong>para</strong> contar anedotas e muito<br />

menos fazer rir.<br />

Não ataca outras religiões.<br />

Prega o Evangelho puríssimo <strong>de</strong> Cristo a quem apren<strong>de</strong>u<br />

a amar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os dias <strong>de</strong> sua infância.<br />

Guarda cuidadoso em sua vida experiências gloriosas e<br />

reais da presença e do po<strong>de</strong>r do Espírito Santo.<br />

Foi assim o menino <strong>de</strong> Santa Maria. É assim o homem do<br />

Brasil!<br />

Gran<strong>de</strong>, simples, humano.<br />

...e que apesar das limitações da natureza humana, dos<br />

seus muitos pecados já perdoados, espera ser fiel a<br />

CRISTO até o fim.


TREZE ANOS DEPOIS<br />

PARA A ETERNIDADE<br />

377


378


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

INFORMAÇÃO NECESSÁRIA<br />

379<br />

Escrevi este livro em 1953, quando pastor em Piracicaba.<br />

0 Bispo César Dacorso Filho eslava vivo e em plena<br />

ativida<strong>de</strong> episcopal.<br />

Era meu pensamento publicar a biografia, mas fui<br />

informado pelo secretário geral que a Junta Geral <strong>de</strong><br />

Educação Cristã não publicava biografias <strong>de</strong> vivos.<br />

Em 1955 o Bispo César aposentou-se no Concílio Geral,<br />

recebendo o título <strong>de</strong> Bispo emérito.<br />

Hoje, graças à boa vonta<strong>de</strong> e à compreensão da<br />

Imprensa <strong>Metodista</strong> esta biografia será publicada.<br />

Sou realmente agra<strong>de</strong>cido ao Rev. Dr. Mário da Silva<br />

Lavoura e ao Rev. Augusto Schwab, seus díre-torcs que<br />

tornaram possível esta edição.<br />

Escrevendo este livro quis tão somente prestar<br />

homenagem ao primeiro Bispo brasileiro da Igrej'a<br />

<strong>Metodista</strong> do Brasil e oferecer minha mo<strong>de</strong>sta colaboração<br />

à história da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil através<br />

da vida do gran<strong>de</strong> Bispo.<br />

Quem pensar outra coisa engana-se completamente.<br />

Solicitei ao Rev. António <strong>de</strong> Campos Gonçalves,<br />

resi<strong>de</strong>nte no Rio <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong>talhes sobre a morte e o<br />

sepultamento do gran<strong>de</strong> Bispo. É o que leremos no<br />

capítulo a seguir.<br />

É minha a parte final — César Dacorso Filho vive — e<br />

Sauda<strong>de</strong>.


NELSON DE GODOY COSTA<br />

O PASSAMENTO<br />

380<br />

Livro <strong>de</strong>ntro em cujas páginas se assinalaram as balizas<br />

<strong>de</strong> viva inteligência, gran<strong>de</strong> coração e robusta fé, balizas<br />

que, durante 74 anos, nortearam, seguramente, a vida <strong>de</strong><br />

César Dacorso Filho, livro <strong>de</strong> registos fi<strong>de</strong>dignos,<br />

sinaleiros <strong>de</strong> longa jornada por ele percorrida<br />

exemplarmente, não po<strong>de</strong> encerrar-se, cremos, sem a<br />

notícia final do seu <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iro marco, isto é: do seu<br />

passamento.<br />

Faleceu no dia 15 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1966, têrça-feira, em<br />

sua própria casa, no conchego do seu lar. Conversavam,<br />

naturalmente, êle e a digna consorte, D. Zinha;<br />

acertavam a maneira em como e com que presenteariam<br />

uma neta, no dia <strong>de</strong> seu casamento, já aprazado <strong>para</strong><br />

breve, em Juiz <strong>de</strong> Fora. Nessa festa familiar tinham<br />

ambos o pensamento, <strong>de</strong>la falavam, antecipações <strong>de</strong><br />

contentamento, bons votos e disposições <strong>para</strong> o feliz<br />

encontro. Confabulavam, assim, carinhosamente, quando<br />

pen<strong>de</strong>u êle a cabeça <strong>para</strong> um lado, caiu, e se foi.<br />

Faleceu, disseram. E <strong>de</strong> fato: fora o chamado do Senhor.<br />

Serenamente, sem contrações nem palavra, partira <strong>para</strong><br />

a glória. Ninguém po<strong>de</strong> fugir da morte, é fato. Não é sem<br />

realida<strong>de</strong> que Etã, ezraíta, a todos apostrofa: Que<br />

homem há, que viva, e não veja a morte? (SI 89.48).<br />

Setenta e quatro anos, três meses e dias são o prazo <strong>de</strong><br />

sua carreira, vencida nobremente: longa vida, cuja


381<br />

exemplarida<strong>de</strong> se po<strong>de</strong> nomear com minudência e assaz<br />

proveito; vida que se po<strong>de</strong> tomar e referir sem vacilações<br />

nem receio, em todo o longo tirocínio <strong>de</strong> suas<br />

responsabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> homem <strong>de</strong> Deus, homem <strong>de</strong> fé,<br />

homem <strong>de</strong> oração, homem <strong>de</strong> trabalho, mo<strong>de</strong>sto, consagrado,<br />

vitorioso.<br />

A notícia do seu falecimento correu célere, com surpresa,<br />

porque as últimas vezes em que se encontrara com os do<br />

seu trato cotidiano, parentes, colegas, irmãos na fé e<br />

amigos, davam mostras <strong>de</strong> normalida<strong>de</strong>, saú<strong>de</strong> e boas<br />

disposições; telefonemas cruzaram-se: davam notícia; o<br />

rádio passou a repetir o sucedido: era o fato,<br />

o passamento.<br />

* * *<br />

No dia do falecimento, às 18 horas, transporta-ram-no<br />

<strong>para</strong> a igreja do Jardim Botânico, a que êle frequentava e<br />

na qual prestava consi<strong>de</strong>rável ajuda, pregando, dando<br />

aulas, colaborando <strong>de</strong> muitas maneiras, segundo a larga<br />

generosida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suas disposições <strong>de</strong> cooperação lhe<br />

dispunha que fizesse. Foi a sua última noite, ro<strong>de</strong>ado <strong>de</strong><br />

crentes, colegas, amigos e chegados do seu lar. No dia<br />

16, quarta-feira, das 11 horas ao meio-dia, recebeu as<br />

cerimónias que lhe eram <strong>de</strong>vidas: hora solene,<br />

saudosamente recordativa, respeitosa, profunda. Sob a<br />

presidência do Revmo. Bispo Natanael Inocêncio do<br />

Nascimento, que pronunciou a palavra oficialmente<br />

principal, correram as expressões do ofício fúnebre,<br />

segundo os Cânones da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil. Nesta<br />

hora, além da viúva D. Maria José Guimarães Dacorso,<br />

todos os filhos, noras e genros estiveram presentes;<br />

também irmãos <strong>de</strong> várias igrejas,


382<br />

pastores metodistas e <strong>de</strong> outras igrejas seus represen<br />

tantes, i '<br />

A Socieda<strong>de</strong> Bíblica do Brasil <strong>de</strong> que o Revmo. Bispo<br />

César foi o 1.° presi<strong>de</strong>nte, durante 9 anos, e continuava<br />

sendo Presi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Honra, se fêz representar na pessoa<br />

<strong>de</strong> seu atual Presi<strong>de</strong>nte, Dr. Benjamim Morais, que<br />

também fêz uso da palavra; também da Socieda<strong>de</strong><br />

Bíblica do Brasil estiveram presentes o Rev. Ewaldo<br />

Alves, Secretário-geral, e a Srta. Leonor Rae<strong>de</strong>r,<br />

Assistente da Secretaria-geral. A Aca<strong>de</strong>mia Evangélica<br />

<strong>de</strong> Letras, na qual o Revmo. Bispo César ocupava a<br />

ca<strong>de</strong>ira 24, também teve representante, com a palavra<br />

oficial do seu grémio.<br />

A igreja do Jardim Botânico, <strong>de</strong> que era pastor, o Rev.<br />

Ercy Teixeira Braga, havia pouco nomeado <strong>para</strong> ali, foi<br />

assim, a última a ensejar ao Revmo. Bispo, falecido, as<br />

homenagens <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iras <strong>de</strong> solene funeral. D<strong>aqui</strong>, da<br />

igreja do Jardim, seguiu o morto rio <strong>para</strong> o Cemitério <strong>de</strong><br />

S. João Batista, on<strong>de</strong>, na Quadra I, n.° 3010, após os<br />

<strong>de</strong>vidos tributos <strong>de</strong> último a<strong>de</strong>us, solenemente o<br />

sepultaram.<br />

* * *<br />

Não é preciso encarecer o merecimento <strong>de</strong> tamanha vida,<br />

qual a do Revmo. Bispo César; merecimento imperecível,<br />

porque não cessa realmente a vida com o silêncio em<br />

torno à tumba, no dia do sepultamento. As suas obras o<br />

seguem; pois a sua morte, não se regista<br />

<strong>de</strong>sconsoladamente, e sim com as expressões bemaventuradas<br />

<strong>de</strong> quem morre ao Senhor (Ap 14.13); morte<br />

preciosa (SI 116.15), com seguras fianças da vida eterna<br />

(Ap 2.10).


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

CÉSAR DACORSO FILHO VIVE<br />

383<br />

Nos amiguinhos <strong>de</strong> sua infância, em Santa Maria, cida<strong>de</strong><br />

natal;<br />

Nos seus companheiros dos primeiros empregos, na<br />

Tipografia e na Viação Férrea do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul;<br />

Nos colegas do Colégio "União" <strong>de</strong> Uruguaiana e do<br />

"Granbery" em Juiz <strong>de</strong> Fora;<br />

Nos que colocaram as mãos sobre sua cabeça <strong>para</strong> a<br />

or<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> diácono, presbítero e <strong>de</strong>pois Bispo;<br />

Nos moços vocacionados que or<strong>de</strong>nou diáconos;<br />

Nos pastores a quem, em sessões memoráveis <strong>de</strong><br />

concílios, <strong>de</strong>u-lhes a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> presbíteros;<br />

Nos presbíteros que consagrou Bispos:<br />

CÉSAR DACORSO FILHO VIVE<br />

Nas multidões que ouviram <strong>de</strong>slumbradas o orador e o<br />

pregador em discursos arrebatadores e em sermões<br />

inspirados pelo Espírito Divino;<br />

Nos pastores <strong>de</strong> outras <strong>de</strong>nominações que reconhecem<br />

em César Dacorso Filho um gran<strong>de</strong> homem e um gran<strong>de</strong><br />

Bispo;<br />

Nos companheiros da Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Letras <strong>de</strong> São Paulo<br />

e da Aca<strong>de</strong>mia Evangélica <strong>de</strong> Letras, que admiram<br />

verda<strong>de</strong>iramente a inteligência <strong>de</strong> escol e a cultura<br />

profunda <strong>de</strong> César Dacorso Filho;<br />

No coração agra<strong>de</strong>cido <strong>de</strong> milhares e milhares que<br />

ouviram a palavra <strong>de</strong> vida eterna, transmitida


NELSON DE GODOY COSTA<br />

384<br />

por César Dacorso Filho, e se converteram<br />

e foram salvos;<br />

Nas congregações, nas igrejas pequenas, nas gran<strong>de</strong>s<br />

paróquias que pastoreou com verda<strong>de</strong>ira <strong>de</strong>dicação;<br />

Nas assembleias, nos concílios paroquiais, regionais e<br />

gerais que dirigiu com cérebro e coração visando o bem<br />

dos homens, da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do Brasil e a glória do<br />

Deus Altíssimo;<br />

Nas amiza<strong>de</strong>s pessoais que conquistou pela beleza <strong>de</strong><br />

seu caráter e alimentou com a pureza <strong>de</strong> seu coração, na<br />

vastidão do Brasil e entre povos <strong>de</strong> além-mar:<br />

CÉSAR DACORSO FILHO VIVE<br />

No coração <strong>de</strong> sua esposa e filhos, seus parentes, a<br />

quem amou verda<strong>de</strong>iramente e <strong>de</strong> quem verda<strong>de</strong>iramente<br />

foi amado, é amado;<br />

Na lembrança e na sauda<strong>de</strong> <strong>de</strong> milhares; e mais que<br />

tudo, melhor que tudo:<br />

César Dacorso Filho vive a vida perfeita e eterna dos<br />

salvos por Jesus,<br />

Vive nos céus, junto <strong>de</strong> Deus!


SAUDADE<br />

385


386


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

387<br />

Nesta tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> sábado carioca estou no cemitério <strong>de</strong> São<br />

João Batista, no Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

Estou sozinho.<br />

Meu gran<strong>de</strong> amigo, o Rev. Dr. Elias Escobar Gavião,<br />

companheiro e que me recebe em seu lar, foi a uma<br />

reunião <strong>de</strong> oração:<br />

Informo-me <strong>de</strong> um funcionário da "administração" que me<br />

dá o número da sepultura <strong>de</strong> César Dacorso Filho. E<br />

acrescenta: 0 Sr. vai pela avenida principal até o cruzeiro<br />

e lá toma a esquerda; é no começo do morro, mas é no<br />

plano ainda.<br />

Sigo obediente a indicação.<br />

Na avenida principal observo túmulos caros, mais <strong>de</strong> três<br />

milhões <strong>de</strong> cruzeiros, todos são jazigos e não há mais<br />

lugar.<br />

Eu não tinha sido informado do falecimento <strong>de</strong> César<br />

Dacorso Filho; soube casualmente; em conversa <strong>de</strong> dois<br />

pastores na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Teologia, em São Paulo.<br />

Foi um choque. Sempre pensei que César Dacorso Filho<br />

<strong>de</strong>veria viver mais, que precisava viver mais.<br />

Agora estava ali, no cemitério on<strong>de</strong> o gran<strong>de</strong> Bispo foi<br />

sepultado.<br />

Queria passar, sozinho, pela avenida, por on<strong>de</strong> morto,<br />

César Dacorso Filho passou.<br />

Impossível passar sozinho.<br />

Lembranças teimavam em acompanhar-me. Foi em<br />

Campinas. Lembrava-me muito bem. Concluía o curso no<br />

famoso Seminário Presbiteriano.


NELSON DE GODOY COSTA<br />

388<br />

César Dacorso Filho estava em visita à cida<strong>de</strong> e foi<br />

convidado a falar no Seminário. A expectativa era<br />

enorme. Os alunos do Seminário, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> saíram alguns<br />

dos maiores vultos do evangelismo brasileiro, moços<br />

plenos <strong>de</strong> i<strong>de</strong>al, comentavam a visita do Bispo metodista.<br />

E César chegou. Mo<strong>de</strong>sto, gran<strong>de</strong> na sua modéstia. Foi<br />

ao púlpito. Principiou a falar pálido e emocionado.<br />

Professores e alunos ficaram presos à palavra<br />

extraordinária do orador. Deixou impressão profunda e<br />

duradoura naquela casa do saber.<br />

Estou ainda sob a tensão daquela lembrança que os<br />

anos levaram <strong>para</strong> tão longe e que agora vem tão perto,<br />

quando outro fato me chega ao coração: Era em<br />

Uberlândia. O gran<strong>de</strong> Bispo na volta <strong>de</strong> Goiás visitava a<br />

cida<strong>de</strong> do Triângulo Mineiro. Deveria pregar à noite no<br />

templo da <strong>Igreja</strong> Presbiteriana, cedido ao trabalho<br />

metodista. À tar<strong>de</strong> acompanhei-o em visita ao governador<br />

da cida<strong>de</strong>, moço i<strong>de</strong>alista e cultura admirável que à noite,<br />

no templo retribuiu a visita tomando lugar no púlpito.<br />

Templo repleto. As várias <strong>de</strong>nominações representadas.<br />

Interesse indisfarçável.<br />

Curiosida<strong>de</strong>: o Bispo metodista ia falar. E César Dacorso<br />

Filho falou com aquela segurança <strong>de</strong> quem sabe cada<br />

palavra que pronuncia, e aquela autorida<strong>de</strong> <strong>de</strong> quem<br />

conhece que é embaixador <strong>de</strong>


PRÍNCIPE DA IGREJA<br />

389<br />

Deus e mensageiro do Evangelho <strong>de</strong> Jesus. O Bispo<br />

metodista <strong>de</strong>ixou no auditório impressão profunda e<br />

inesquecível.<br />

Ando <strong>de</strong>vagar. Quero acompanhar o sepulta-mento do<br />

gran<strong>de</strong> morto. Quero fazer parte do número consi<strong>de</strong>rável<br />

<strong>de</strong> membros das paróquias do Rio <strong>de</strong> Janeiro que foram<br />

aos funerais.<br />

Chego ao cruzeiro, no fim da avenida principal, tomo à<br />

esquerda, ando até o fim da rua. Há uma pequena<br />

elevação. É o primeiro <strong>de</strong>grau do morro que principia. Um<br />

trabalhador do campo santo ajuda-me prontamente a<br />

achar o túmulo. É uma gaveta simples. Ali, guardado por<br />

tijolos e cimento está o corpo do menino pequenino <strong>de</strong><br />

Santa Maria, do maior homem da <strong>Igreja</strong> <strong>Metodista</strong> do<br />

Brasil, que as lutas do episcopado, que as dores do<br />

episcopado, que as glórias do episcopado fizeram<br />

simplesmente cada dia ser mais fiel à soberania da<br />

vocação.<br />

Tudo, tudo ficou <strong>para</strong> atrás: só um fato esteve sempre<br />

presente na vida do primeiro Bispo brasileiro da <strong>Igreja</strong><br />

<strong>Metodista</strong> do Brasil: o chamado <strong>de</strong> Jesus:<br />

CÉSAR VEM E SEGUE-ME.<br />

FIM


DO MESMO A U T O R<br />

390<br />

QUANDO FALA O CORAÇÃO — versos —<br />

edição esgotada<br />

ESCUTA — versos — edição esgotada<br />

JÚNIA — versos — edição esgotada<br />

GAROA DE MINHA VIDA —- versos — edição esgotada<br />

ÁGUA — prosa — inédito<br />

VOCÊ NA DEFESA DO BRASIL — em colaboração com<br />

o Rev. W. G. Borcherv — prosa — inédito<br />

PORQUE AMO O GRANBERY — prosa — inédito<br />

VIDA — versos' — edição esgotada<br />

JESUS, MEU SALVADOR PESSOAL — prosa — inédito<br />

SANTO E HERÓI — prosa — inédito

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