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Edição (PDF) - CÂNDIDO - Estado do Paraná

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Feltrinelli, o homem que havia descoberto<br />

Boris Pasternak nos anos 1950, tornan<strong>do</strong><br />

Doutor Jivago um fenômeno mundial.<br />

Escrito no perío<strong>do</strong> mais tenebroso<br />

de nossa recente história política, entende-se<br />

o temor <strong>do</strong>s editores brasileiros<br />

em publicar o livro. Zero narra a história<br />

de José e Rosa, um casal pobre que se<br />

conhece por meio de uma agência matrimonial.<br />

José está apaixona<strong>do</strong> e, para<br />

deixar feliz sua amada, compra uma casa<br />

que não pode pagar. José então cai na delinquência,<br />

entra na luta armada, é preso<br />

e tortura<strong>do</strong>. O mote aparentemente<br />

simples vai ganhan<strong>do</strong> contornos épicos<br />

ao longo da narrativa. No meio <strong>do</strong> texto,<br />

com jeitão de roteiro de cinema, Ignácio<br />

vai enxertan<strong>do</strong> to<strong>do</strong> tipo de referência:<br />

desenhos, onomatopeias, recortes de<br />

jornais, citações de livros, equações matemáticas,<br />

etc. Um caos literário que tinha<br />

grande chance de se transformar em<br />

uma tentativa vã de arejar o gênero romance,<br />

mas que no final não só se mostrou<br />

uma experiência bem-sucedida esteticamente<br />

como também emblemática<br />

<strong>do</strong> perío<strong>do</strong> conturba<strong>do</strong> que o país vivia.<br />

Cena 2<br />

Era uma vez na América<br />

“Instintivamente, sem saber por<br />

quê, comecei a coletar o material assim<br />

que ao jornal Última Hora reabriu, em<br />

abril de 1964, e o censor se instalou dentro<br />

da redação. Tu<strong>do</strong> o que ele proibia,<br />

sem explicar, sem dar satisfações, eu deixava<br />

dentro de uma gaveta. Fotos, entrevistas,<br />

notícias nacionais e internacionais,<br />

charges, caricaturas, reportagens,<br />

comentários de analistas políticos e econômicos<br />

eram joga<strong>do</strong>s dentro daquelas<br />

amplas gavetas. Um dia, talvez um ano<br />

depois, gavetas abarrotadas, levei tu<strong>do</strong><br />

aquilo para meu apartamento, no número<br />

168 da Praça Roosevelt. Então fiquei<br />

len<strong>do</strong>, tentan<strong>do</strong> relembrar cada coisa”,<br />

explica Ignácio, que trabalhou no jornal<br />

de Samuel Wainer no perío<strong>do</strong> mais repressivo<br />

da ditadura militar.<br />

Às voltas com uma infinidade de<br />

material, o escritor foi encoraja<strong>do</strong> por<br />

amigos como Ítala Nandi e José Celso<br />

Martinez Corrêa a transformar em romance<br />

o conteú<strong>do</strong> que vinha garimpan<strong>do</strong><br />

há anos. “Monta assim mesmo, de-<br />

jornal da biblioteca pública <strong>do</strong> paraná | Cândi<strong>do</strong><br />

sordena<strong>do</strong>, louco, fragmenta<strong>do</strong>, o Brasil<br />

está assim. Não arrume nada, o país vive<br />

desorganiza<strong>do</strong>”, aconselhou o cria<strong>do</strong>r<br />

<strong>do</strong> Teatro Oficina.<br />

Mas a epopeia de José, que trabalhava<br />

como caça<strong>do</strong>r de ratos em um cinema,<br />

começaria a ser traçada de verdade<br />

no início <strong>do</strong>s anos 1970, quan<strong>do</strong> Plínio<br />

Marcos convi<strong>do</strong>u Ignácio para participar<br />

de uma coletânea, da Editora Senzala,<br />

em que diversos autores escreveriam<br />

ficções passadas na cidade de São Paulo.<br />

Ignácio teve então a ideia de escrever<br />

uma história baseada em uma notícia<br />

de jornal: na Vila Brasilândia, Freguesia<br />

<strong>do</strong> Ó, havia um menino que tinha música<br />

na barriga. A editora aban<strong>do</strong>nou o<br />

projeto e Ignácio não escreveu o conto.<br />

Mas o estruturou e montou um roteiro<br />

para o que seria a história. Junto com as<br />

centenas de papéis, anotações e recortes<br />

que acumulara durante anos, o roteiro <strong>do</strong><br />

conto formava um elemento importante<br />

para o romance que Zé Celso havia incentiva<strong>do</strong><br />

Ignácio a escrever. “Pensei: por<br />

que não utilizá-lo [o conto] no romance<br />

que ainda não tinha plano, título, nada?<br />

17<br />

Três traduções de Zero:<br />

a primeira edição alemã<br />

(1979), a versão italiana<br />

(primeira publicação <strong>do</strong><br />

livro, em 1974) e a edição<br />

norte-americana (1983).

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