Edição (PDF) - CÂNDIDO - Estado do Paraná
Edição (PDF) - CÂNDIDO - Estado do Paraná
Edição (PDF) - CÂNDIDO - Estado do Paraná
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
32 Cândi<strong>do</strong> | jornal da biblioteca pública <strong>do</strong> paraná<br />
capa | a crônica hoje<br />
Quan<strong>do</strong> a crônica<br />
esportiva virou literatura<br />
Nelson Rodrigues, o<br />
mais célebre dramaturgo<br />
brasileiro, também foi o<br />
melhor <strong>do</strong>s nossos cronistas<br />
esportivos, levan<strong>do</strong> para o<br />
efêmero texto de jornal a<br />
imortalidade das grandes<br />
peças literárias<br />
da redação<br />
Se Macha<strong>do</strong> de Assis é considera<strong>do</strong><br />
um <strong>do</strong>s precursores da crônica<br />
e Rubem Braga o cria<strong>do</strong>r de<br />
um estilo único de escrever sobre<br />
o efêmero, até hoje copia<strong>do</strong> por escritores<br />
de diversas matizes, Nelson Rodrigues<br />
é, com certeza, o maior nome em<br />
um subgênero que se proliferou como<br />
nenhum outro na imprensa brasileira: a<br />
crônica esportiva. Aficiona<strong>do</strong> pelo Fluminense,<br />
Nelson fez a ponte entre duas<br />
expressões que o senso comum se acostumou<br />
a chamar de “tipicamente brasileiro”:<br />
a crônica e o futebol. Se Rubem<br />
Braga trouxe para a literatura o comezinho,<br />
o assunto banal, sem importância,<br />
Nelson falou sobre futebol da mesma<br />
maneira que grandes romancistas trataram<br />
<strong>do</strong>s temas universais, como a morte<br />
e a condição existencial <strong>do</strong> ser humano.<br />
Para o cronista Nelson Rodrigues,<br />
o futebol era um tema que merecia<br />
não apenas espaço para discuti-lo,<br />
mas para recriá-lo. Com suas antológicas<br />
frases e textos, elevou a crônica<br />
de esporte ao patamar de arte. Por isso,<br />
ainda hoje, mesmo com uma infinidade<br />
de cronistas esportivos na ativa, é considera<strong>do</strong><br />
por muitos profissionais como<br />
o melhor escritor da crônica esportiva.<br />
Antes de Nelson, a crônica esportiva<br />
já estava estabelecida no Rio de<br />
Janeiro, cidade em que o dramaturgo<br />
passou grande parte da vida. Mario Ro-<br />
drigues, ainda nos anos 1920, deu a Mario<br />
Filho, irmão de Nelson, carta branca<br />
para criar nos jornais A Manhã e Crítica,<br />
de propriedade da família, uma seção<br />
de esportes. Nunca até então a imprensa<br />
brasileira dera tanto espaço ao futebol.<br />
Mario Filho foi o primeiro a transformar<br />
os joga<strong>do</strong>res em figuras interessantes<br />
para o leitor. Traço que Nelson, com<br />
seu texto literário inconfundível e insuperável,<br />
elevaria às altas potências nas<br />
Fotos: divulgação<br />
décadas seguintes, fazen<strong>do</strong> <strong>do</strong> futebol<br />
uma continuação de seu teatro.<br />
O escritor fez sua estreia na crônica<br />
esportiva nos anos 1950, no Última<br />
Hora, o jornal de Samuel Wainer. Mas um<br />
de seus momentos mais brilhantes se deu<br />
nas páginas da Manchete Esportiva, entre<br />
1955 e 1959. Nos anos 1990, Ruy Castro,<br />
biógrafo de Nelson, compilou os textos<br />
publica<strong>do</strong>s na Manchete e em outros veículos,<br />
como O Globo, em <strong>do</strong>is volumes: À