Leia toda a entrevista na edição impressa disponível - Lux - Iol
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João Cabral<br />
saúde<br />
Paulo Oom<br />
Pediatra<br />
SAIR DA CAMA DURANTE A NOITE<br />
Para algumas crianças parece que se trata<br />
de uma roti<strong>na</strong>: <strong>toda</strong>s as noites, saem da sua<br />
cama e voltam para a sala, onde estão os pais.<br />
Muitas vezes, isto acontece imediatamente<br />
depois de a criança se ter ido deitar. Surgem<br />
mil desculpas como “quero água”, “quero<br />
leite”, “tenho fome”, “quero fazer chichi”,<br />
“não lavei os dentes” ou “não preparei a<br />
mochila para amanhã”.<br />
A melhor estratégia é a prevenção. Se a criança<br />
pede sempre as mesmas coisas, o ideal é<br />
levá-la a fazer tudo o que já sabemos que vai<br />
pedir, antes de ir para a cama. Desta forma,<br />
podemos estar descansados de que a fome<br />
não será muita, a bexiga ainda estará vazia,<br />
os dentes estarão lavados e a mochila pronta.<br />
Com isto, a criança deixa de ter desculpas. Mas<br />
mesmo com esta medida, algumas crianças<br />
são muito teimosas e estão sempre a sair da<br />
cama, mesmo sem desculpa evidente. Não<br />
podemos ser muito transigentes neste aspeto,<br />
pois corremos o risco de a criança, com o<br />
tempo, deixar de respeitar a nossa vontade<br />
em relação a este assunto e achar que as<br />
regras que existem em nossa casa são, no<br />
mínimo, negociáveis.<br />
O primeiro passo é explicar à criança, numa linguagem<br />
acessível à sua idade e ao seu grau de<br />
desenvolvimento, aquilo que esperamos dela:<br />
que depois da história e do beijinho de boa<br />
noite, é altura de fi car <strong>na</strong> cama e adormecer.<br />
Se mesmo assim a criança sai da cama, o<br />
que temos a fazer é dizer-lhe para voltar para<br />
a cama. Caso ela mostre alguma renitência,<br />
podemos mesmo ter de a ‘escoltar’ de novo<br />
até ao quarto. É fundamental, nesta fase, não<br />
cair nos dois principais erros da discipli<strong>na</strong>, de<br />
que falámos atrás: nem muita emoção nem<br />
muita explicação. Há que falar com a criança<br />
com voz calma mas fi rme, sem gritar, não<br />
deixando transparecer a nossa frustração pelo<br />
seu comportamento i<strong>na</strong>dequado ou a nossa<br />
“De manhã, por exemplo, a criança gosta muitas<br />
vezes de ‘termi<strong>na</strong>r a noite’ <strong>na</strong> cama dos pais.<br />
Pode ser um momento de mimo e <strong>na</strong>da tem de mal,<br />
pelo contrário, principalmente ao fi m de sema<strong>na</strong><br />
ou <strong>na</strong>s férias. Ou quando está doente e precisa de mais<br />
atenção. Mas devem ser exceções e não a roti<strong>na</strong>„<br />
irritação pela sua desobediência. Por outro<br />
lado, muitas explicações sobre a necessidade<br />
de voltar para a cama ou a importância do<br />
sono são normalmente interpretadas pela<br />
criança como estando a ‘implorar’ para que<br />
se porte bem. Não podemos cair <strong>na</strong> tentação<br />
de pensar <strong>na</strong>quele ser como um adulto em<br />
miniatura, que ape<strong>na</strong>s não se comporta bem<br />
porque não tem <strong>toda</strong> a informação necessária.<br />
Ele tem <strong>toda</strong> a informação necessária! Ape<strong>na</strong>s<br />
está a ver se os pais são coerentes <strong>na</strong>s suas<br />
ações com aquilo que disseram.<br />
O voltar a mandar para o quarto deve ser<br />
dito e feito as vezes necessárias. Se a ce<strong>na</strong> se<br />
repete incessantemente, podemos ter de<br />
fi car de vigia junto à porta, se necessário pai<br />
e mãe, alter<strong>na</strong>ndo turnos. É importante que<br />
a criança nos leve a sério. Nos casos mais renitentes,<br />
a criança deve ser avisada de que,<br />
da próxima vez que sair, vamos fechar a porta<br />
do quarto (depois de termos colocado no interior<br />
uma luz de presença) e não hesitar em<br />
fazê-lo se ela voltar a pisar o risco.<br />
Quando a saída da cama é um problema<br />
frequente, esta técnica resolve sempre a<br />
situação. As primeiras noites são as piores, pois a<br />
criança vai querer testar até que ponto estamos<br />
a falar verdade, mas geralmente o problema<br />
fi ca resolvido em uma ou duas sema<strong>na</strong>s.<br />
E uma vez resolvido, valeu bem o esforço.<br />
Algumas crianças gostam de ir para a cama<br />
dos pais a meio da noite. Pode ter graça uma<br />
vez ou outra, mas com o tempo, as noites mal<br />
dormidas acabam por provocar um cansaço<br />
crescente, com consequências no nosso bem-<br />
-estar, no rendimento no trabalho e no estado<br />
de humor. Mesmo para a criança, o não<br />
permanecer no seu quarto é nocivo para<br />
a construção da sua autoconfi ança e do seu autocontrolo.<br />
A nossa atitude deve ser a mesma<br />
que tomámos em relação à hora de deitar,<br />
apesar de mais difícil, dado o nosso cansaço<br />
a meio da noite. A tentação é deixar a criança<br />
fazer o que quer, o que resolve o problema<br />
a curto prazo: todos têm uma noite mais<br />
ou menos descansada. Mas não resolve o<br />
problema de base e ape<strong>na</strong>s alimenta uma<br />
situação que pode durar muitos anos. Por isso,<br />
a atitude mais correta é a de levar a criança<br />
para o seu quarto, sem exprimir emoções e<br />
sem mais explicações. Se necessário, devemos<br />
montar turnos à porta ou mesmo fechar a porta<br />
nos casos mais difíceis. Ao fi m de uma ou<br />
duas sema<strong>na</strong>s, a criança percebe que deve<br />
permanecer <strong>na</strong> sua cama. Claro que podem<br />
existir exceções. De manhã, por exemplo,<br />
a criança gosta muitas vezes de “termi<strong>na</strong>r<br />
a noite” <strong>na</strong> cama dos pais. Pode ser um<br />
momento de mimo e <strong>na</strong>da tem de mal, pelo<br />
contrário, principalmente ao fi m de sema<strong>na</strong><br />
ou <strong>na</strong>s férias. Ou quando está doente e<br />
precisa de mais atenção. Mas devem ser<br />
exceções e não a roti<strong>na</strong>.<br />
E quando a criança não sai do quarto, mas<br />
começa a chamar a meio da noite? Muitos<br />
temos problemas em lidar com esta situação.<br />
Será que ela está bem? Será que precisa de<br />
alguma coisa? Se sabemos que está tudo bem<br />
com ela, o melhor é dizer simplesmente que<br />
deve continuar a dormir. Caso os pedidos<br />
persistam, a regra deve ser ir aumentando o<br />
tempo até nos levantarmos e irmos ao quarto<br />
da criança: se <strong>na</strong> primeira vez fomos lá ao<br />
fi m de cinco minutos, <strong>na</strong> segunda vamos ao<br />
fi m de 10 e <strong>na</strong> terceira ao fi m de 15. A mensagem<br />
que estamos a transmitir é a de que<br />
estamos ali para o que for preciso, mas que<br />
esperamos que a criança consiga controlar-se a<br />
si mesma e voltar a dormir. Quando vamos ao<br />
quarto, <strong>na</strong>da de acender as luzes ou pegar ao<br />
colo. A nossa presença é tudo o que devemos<br />
oferecer para tranquilizar a criança.<br />
Clínica Gerações<br />
Tel. 21 3583910<br />
paulo.oom@geracoes.net