CARACTERÍSTICAS DE UM AUTÊNTICO LÍDER - Valter Borges
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Resumo<br />
Subsídios para Escola Bíblica Dominical<br />
Igreja Evangélica Assembleia de Deus - Ministério de SBCampo<br />
O QUE É ORAÇÃO?<br />
O subsídio desta semana (Lição 01 – 4º Trimestre 2010 de 03/10/2010) da Revista<br />
“Lições Bíblicas” de Jovens e Adultos, que está abordando o tema “O Poder e o Ministério da<br />
Oração – O Relacionamento do Cristão com Deus”, traz o assunto acerca do conceito da<br />
Oração, com o título “O que é Oração”. O texto áureo desta lição está registrado na epístola<br />
de Paulo aos Efésios 6.18, que diz: “Orando em todo o tempo com toda a oração e súplica no<br />
Espírito, e vigiando nisso com toda a perseverança e súplica por todos os santos”. O Pr.<br />
Eliezer de Lira e Silva tirou a seguinte verdade prática do texto base da aula (1 Cr. 16.8, 10 –<br />
17; João 15.16): “A oração é o meio de comunicação que Deus estabeleceu para cultivarmos<br />
um relacionamento íntimo e contínuo com Ele”. Este subsídio tem como objetivo explorar<br />
profunda e exaustivamente este assunto; não sendo, de forma alguma, a última palavra em um<br />
assunto tão amplo. Espera-se contribuir assim com os objetivos listados nos objetivos da lição<br />
que diz: “conscientizar-se de que a oração é o meio de comunicação que Deus estabeleceu<br />
para cultivarmos um relacionamento íntimo com Ele; reconhecer que para se chegar à<br />
presença de Deus, em oração, é preciso ter reverência, fé e santo temor; e, compreender que<br />
devemos orar sem cessar”. 1 Bons estudos!!!<br />
Palavras-Chaves: Oração; Comunicação; Relacionamento<br />
Introdução<br />
Estamos vivendo uma época na qual os membros de nossas Igrejas têm negligenciado as<br />
nossas reuniões de orações; muitos desprezam a prática da oração na Igreja e,<br />
conseqüentemente, muitos negligenciam em suas casas. Precisamos lutar pelo resgate da<br />
prática da oração na vida das nossas igrejas.<br />
1 LIÇÕES BÍBLICAS. Jovens e Adultos. 4º Trimestre de 2010. CPAD, 2010. 04 p.<br />
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Por outro lado, somos, continuamente, orientados e, outras vezes, exortados, a orar. Mas,<br />
o que é orar? Interpretações errôneas do significado da oração têm provocado imensos<br />
problemas às pessoas. A falta de orientação amorosa e precisa sobre essa questão vem<br />
violentando o preceito da oração. A oração é uma ação muito delicada, que, se ensinada<br />
erroneamente, pode causar sérios problemas à vida espiritual. É como colocar um veículo nas<br />
mãos de quem não sabe conduzir, com certeza acidentes acontecerão. Com a oração é a mesma<br />
coisa!! Precisamos fazer com que os servos de Deus compreendam o ato, importância e<br />
significado de orar! Por conta de interpretações equivocadas, muitos, não oram; ou, não sabem<br />
orar; ou, ainda, não são despertados, nem inspirados, nem apreciam, nem tem o desejo de orar.<br />
Alguns imaginam que orar é somente pedir. O que não o é! É bem mais que isso!! Outros<br />
imaginam que orar é falar, falar e falar sem cessar! O que não o é!! É bem mais que isso!!<br />
Outros, pensam que orar é exigir, decretar, determinar!! O que não o é! É bem mais que isso!!<br />
Outros, ainda, entendem que orar é rezar, ou seja repetir frases iguais continuamente e várias<br />
vezes!! O que não o é! É bem mais que isso!! Outros, pensam que orar é sacrificar, é uma<br />
penitência, é um castigo. O que não o é! É bem mais que isso!! Orar é..., digamos,... dialogar!!<br />
Dialogar com alguém muito amoroso!! Com alguém na qual temos intimidade, diante de quem<br />
nós expressamos todos os nossos problemas e alegrias mais íntimas!! Orar é comunicar-se com<br />
o Deus maravilhoso!!<br />
Diante de tantas questões é prudente abordarmos, inicialmente, nesse 1º subsídio deste 4º<br />
trimestre, a definição de oração. Para isso, procuraremos demonstrar: (1) o significado da<br />
oração; bem como o pensamento de alguns teólogos importantes; além de (2) relatar<br />
historicamente quando o homem começou a orar, fornecendo, inclusive, o significado (3) da<br />
verdadeira oração; e, por fim, enfatizar (4) o que não é oração.<br />
A própria lição bíblica já nos demonstra com clareza resposta de alguns desses<br />
questionamentos, portanto, não entraremos em pormenores acerca do que já é bem claro, mas<br />
adentraremos em aspectos, igualmente, importantes, para aumentar o conhecimento e<br />
fortalecer as convicções. A lição bíblica responde claramente: a quem orar, e quando orar;<br />
como orar; onde orar e por quem orar. Assim, vamos trabalhar na definição que responde a<br />
pergunta: O que é oração? E, assim, procuraremos, portanto, refletir sobre alguns desses<br />
aspectos. Então vamos lá:<br />
O que é orar?<br />
O dicionário Michaelis 2 nos informa que orar (lat orare), em termos gerais é “dirigir<br />
oração, rezar, fazer oração; interceder por, manter-se em oração, em comunhão com Deus”.<br />
Segundo o pastor Arival Dias Casimiro 3 , “o cristianismo não é apenas a religião do Deus que<br />
fala ao homem, mas a religião do homem que fala com o seu Deus”. Ele afirma que o diálogo<br />
ou a comunhão entre o Criador e a criatura é a essência da fé cristã. “A oração genuína e total<br />
nada mais é do que amor”, definiu Agostinho.<br />
2<br />
Disponível em http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues &pala<br />
vra=orar, acessado em 25/09/2010, às 20h17<br />
3<br />
Comentarista da Revista Educação Cristã, Volume XVI, O homem que fala a Deus, SOCEP, ª Edição, 2005<br />
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Segundo o comentário de Doutrina Batista “Oração é o discurso a Deus, em nome de<br />
Cristo como Mediador, sob a influência e pela assistência do Espírito de Deus, em fé, para<br />
que permaneçamos na sua necessidade, e que seja coerente com a vontade de Deus, para a<br />
sua glória conceder e, portanto, ser solicitada com humilde submissão”. 4<br />
Segundo Martinho Lutero, oração é a prioridade cristã, e, portanto devemos dedicar<br />
toda a atenção ao ato, toda a integralidade do ser humano, durante a oração, deve ser voltada<br />
para o falar com Deus, assim haverá aprimoramento da fé cristã. Ele diz:<br />
A oração, entre outras, deve ser a nossa primeira ocupação da manhã e a<br />
última da noite. Saibamos defender-nos contra os pensamentos enganosos<br />
que nos dizem: 'Deixa para mais tarde, ocupa-te de tal ou tal negócio e orarás<br />
depois'. Desse modo, troca-se a oração pelas ocupações, e depois que estas<br />
lançam mão de nós, não nos largam mais. Quando no fim de vossa súplica<br />
dizeis 'Amém', acentuai bem esse amém e de modo algum duvidai de que<br />
Deus ponha toda a sua graça em ouvir-vos e não responda 'sim' a vossa<br />
oração. Um bom barbeiro tem constantemente os olhos e os pensamentos<br />
fixos na navalha. Cada coisa, para ser bem feita, requer o homem inteiro. A<br />
oração também, para ser sincera, exige o coração inteiro. (MARTINHO<br />
LUTERO).<br />
Calvino trata sobre a temática da oração com grande profundidade. Em seu livro<br />
terceiro das Institutas da Religião Cristã, no capítulo 20; ele nos aponta “o lugar da Oração<br />
no Conjunto da Vida Cristã”. 5 Ele inicia esta seção nos seguintes termos:<br />
Pelo que até o presente temos exposto se vê claramente quão necessitado está<br />
o homem e quão desprovido de toda sorte de bens, e como lhe falta tudo o<br />
quanto é necessário para a sua salvação. Por tanto, se procura os meios para<br />
remediar sua necessidade, deve sair de si mesmo e buscá-los em outra parte. 6<br />
(JOÃO CALVINO)<br />
O estado de total depravação e miséria no qual o homem por natureza está mergulhado<br />
tem sido uma das importantes pressuposições teológicas para a vida prática de oração.<br />
Calvino aqui nos lembra estas verdades ao nos mostrar quatro realidades sobre o homem:<br />
(a) o homem é necessitado; (b) o homem está desprovido de toda bondade; (c) falta ao homem<br />
todo o necessário a sua salvação; (d) o homem só encontra tais dons fora de si mesmo.<br />
A definição de oração de João Calvino, o grande teólogo, é acompanhada de seu<br />
entendimento sobre a necessidade e utilidade na vida cristã. Ele diz: “Assim que por meio da<br />
oração conseguimos chegar até aquelas riquezas que Deus têm depositadas em si mesmo”. 7<br />
Para Calvino, oração é:<br />
... é uma espécie de comunicação entre Deus e os homens, mediante a qual<br />
entram no santuário celestial, [onde] lhe relembram suas promessas e lhe<br />
instam a que lhes mostre na realidade, quando a necessidade o requer, que o<br />
4 Extraído de W.R. Downing, A Baptist Catechism with Commentary, pág. 195<br />
5 CALVINO, João. Intituición de la Religión Cristiana. Tradutor: Casidoro de Valera. Barcelona: Felire, 1999,<br />
Livro 3 , Capítulo 20, seção 1, p.663.<br />
6 Ibid, p.663-664.<br />
7 Livro III, Cap. 20, Seção. 2.<br />
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que tem crido simplesmente em virtude de sua Palavra é verdade, e não<br />
mentira e nem falsidade. (JOÃO CALVINO)<br />
Calvino assegura sua definição de oração dizendo que “com a oração encontramos e<br />
desenterramos os tesouros que se mostram e descobrem a nossa fé pelo Evangelho”. 8<br />
Então, ele passa a demonstrar a necessidade e utilidade da oração:<br />
Não existem palavras bastante eloqüentes para expor quão necessário, útil e<br />
proveitoso exercício é orar ao Senhor. Certamente não é sem motivo [que]<br />
assegura o nosso Pai Celestial que toda a segurança de nossa salvação<br />
consiste em invocar seu nome (Jl.2.32); pois, por ela adquirimos a presença<br />
de sua providência, com a qual vela, cuidando e provendo tudo quanto é<br />
necessário; e de sua virtude e poder, com o qual nos sustem a nós [que<br />
somos] fracos e sem forças; e assim mesmo a presença de sua bondade pela<br />
qual a nós, miseravelmente subjugados, pelos pecados, nos recebe em sua<br />
graça e favor; e, por dizê-lo em uma palavra, o chamamos, a fim de que nos<br />
mostre que nos é favorável e que está sempre conosco. (JOÃO CALVINO)<br />
Calvino conclui esta temática, nos indicando o resultado da oração: “Daqui nos provem<br />
uma singular tranqüilidade de consciência, porque havendo exposto ao Senhor a necessidade<br />
que nos angustiava, descansamos plenamente nEle, sabendo que conhece muito bem todas as<br />
nossas misérias Aquele de quem estamos seguro de que nos ama e que pode absolutamente<br />
suprir a todas as nossas necessidades” (JOÃO CALVINO).<br />
O grande avivamento ocorrido na Inglaterra de 1739-91, foi resultado de oração. Veja<br />
como John Wesley vivia a oração, demonstrando na prática, sua definição da oração e como<br />
era importante no dia-a-dia para ele. Quando perguntado de como ele atraía as multidões, ele<br />
afirmou “Eu me coloco em chamas, e o povo vem para me ver queimar" 9 . O contato, em<br />
oração, com Deus fez com que Wesley se desenvolvesse na vida cristã a ponto de ter<br />
entregado totalmente a Deus para fazer sua obra. E como Deus o usou!! Ele chegou a declarar<br />
que "... considero todo o mundo como a minha paróquia; em qualquer parte que eu esteja, eu<br />
considero que é certo, correto e o meu sagrado dever declarar a todos que estejam dispostos<br />
a ouvir, as boas novas da salvação." (JOHN WESLEY). 10<br />
Tamanha era a disposição dele e sua confiança em Deus que chegou a afirmar: "Dai-me<br />
cem homens que nada temam senão o pecado, e que nada desejam senão a Deus, e eu<br />
abalarei o mundo." (JOHN WESLEY). 11<br />
Em 1729 Charles Wesley, o irmão de John, e mais dois estudantes começaram um<br />
pequeno grupo que se reunia para oração, estudo bíblico e encorajamento mútuo. No dia do<br />
Ano Novo, 1739, John e Charles Wesley, George Whitefield e mais quatro pessoas de seu<br />
grupo fizeram uma santa ceia em Londres. “Cerca de três da manhã, enquanto estávamos<br />
8<br />
CALVINO, João. Intituición de la Religión Cristiana. Tradutor: Casidoro de Valera. Barcelona: Felire, 1999,<br />
Livro 3 , Capítulo 20, seção 1, p.663.<br />
9<br />
Disponível em http://www.avivamentoja.com/pmwiki.php?n=Passado.Wesley, acessado em 28/09/2010, às<br />
09h26<br />
10<br />
Citações do livro "On Earth as it is in Heaven" por Stephen L Hill<br />
11 Idem.<br />
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orando, o poder de Deus caiu tremendamente sobre nós, a tal ponto que muitos gritaram de<br />
alegria e outros caíram ao chão (vencidos pelo poder de Deus)”. Ainda, “tão logo nos<br />
recobramos um pouco dessa reverência e surpresa na presença da Sua majestade,<br />
começamos a cantar a uma voz: „Nós te louvamos, ó Deus; Te reconhecemos como Senhor‟”.<br />
Este evento foi chamado de Pentecoste Metodista, segundo Wesley Duewel, no livro “O Fogo<br />
de Reavivamento”.<br />
A partir deste dia, um grande avivamento começou. Dentro de um mês e meio, George<br />
Whitefield estava pregando para multidões de milhares, com John Wesley fazendo o mesmo<br />
dentro de três meses. Com apenas 22 anos de idade, Whitefield começou a pregar ao ar livre:<br />
“As multidões aumentavam diariamente até chegar a vinte mil ouvintes. Os mais ricos<br />
ficavam sentados em seus coches e outros em seus cavalos. Alguns sentavam nas árvores e<br />
em toda parte o povo se reunia para ouvir Whitefield pregar. Todos eram às vezes levados a<br />
chorar, conforme o Espírito de Deus descia sobre eles”. Deus usa quem o busca e oração!!<br />
Para C. S. Lewis “orar é colocar diante de Deus o que está em nós, não o que deveria<br />
estar em nós”. Para João Vianney “a oração é o banho íntimo de amor no qual a alma<br />
mergulha”. Para Karl Barth, “juntar as mãos em oração é início de um levante contra a<br />
desordem do mundo”. Para D. Bonhoeffer “a oração intercessória é o banho purificador no<br />
qual o indíviduo e a comunidade devem entrar todos os dias”.<br />
Mais profundo do que a própria definição do termo “oração”, é o mistério de sua<br />
prática. O ato de falar com Deus em ação contínua é o caminho pelos quais os mais íntimos<br />
segredos celestiais são revelados, e, por onde, o crente pode, de fato, conduzir sua vida<br />
conforme esses segredos divinos.<br />
Um pouco de história<br />
Na Bíblia, a oração é uma adoração que inclui todas as atitudes do espírito<br />
humano em sua aproximação de Deus. O crente cristão presta culto a Deus<br />
quando adora, confessa, louva e O suplica em oração. Essa, a mais alta<br />
atividade da qual o espírito humano é capaz, também pode ser considerada<br />
como comunhão com Deus, se a ênfase devida for posta sobre a iniciativa<br />
divina. O homem ora porque Deus já tocou em seu espírito. A oração, na<br />
Bíblia, não é uma „reação natural‟ (Jo. 4.24). „O que é nascido da carne, é<br />
carne‟. Conseqüentemente, o Senhor não “ouve” qualquer oração (Is. 1.15;<br />
29.13). A doutrina bíblica da oração destaca o caráter de Deus, a necessidade<br />
do indivíduo achar-se em relação de salvação ou de aliança com Ele, e a<br />
necessidade de entrar plenamente em todos os privilégios e obrigações dessa<br />
relação com Deus. (J. D. DOUGLAS, O NOVO DICIONÁRIO DA<br />
BÍBLIA) 12<br />
O Pastor Luis Carlos Gomes, procurou relatar quando começou a prática da oração.<br />
Veja:<br />
12 O NOVO DICIONÁRIO DA BÍBLIA – Edição em 1 Volume. Organizado por J. D. Douglas. Editor da edição<br />
em português: R. P. Shedd, M. A., B. D., Ph. D. Tradução João Bentes – São Paulo: Edições Vida Nova, 1997.<br />
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Quando o ser humano começou a orar? Quem fez a primeira oração?A última<br />
frase de Gênesis 4 registra que, logo após o nascimento de Enos, começou-se<br />
“a invocar o nome do Senhor” (Gn 4.26). Embora o verbo “invocar” pareça<br />
sinônimo de cultuar ou adorar, em outros textos ele é sinônimo de clamar ou<br />
orar. Numa de suas orações, Davi escreve: “Na minha angústia, “invoquei” o<br />
Senhor, “clamei” a meu Deus; ele, do seu templo, ouviu a minha voz” (2Sm<br />
22.7). No Salmo 50, Deus diz: “Invoca-me no dia da angústia: eu te livrarei, e<br />
tu me glorificarás” (Sl 50.15). As mesmas palavras são proferidas pela boca<br />
do profeta Jeremias: “Invoca-me, e te responderei” (Jr 33.3). A expressão<br />
“invocar o nome do Senhor” aparece seis vezes no primeiro livro da Bíblia.<br />
Abraão (12.8; 13.4; 21.33), sua escrava Agar (16.13) e seu filho Isaque<br />
(26.25) invocam o nome do Senhor. A esta altura da história humana tal ato<br />
já seria um exercício religioso habitual. As outras orações de Gênesis não são<br />
meras invocações da presença de Deus, mas súplicas bem elaboradas e mais<br />
explícitas. A primeira é um modelo de oração intercessória. As outras são<br />
“pedidos” em favor da interferência da misericórdia e do poder de Deus para<br />
resolver situações difíceis (a oração do servo de Abraão), situações ligadas a<br />
problemas de saúde (a oração de Isaque) e situações de perigo (as orações de<br />
Jacó). Abraão demora-se na presença de Deus e insiste o quanto pode em<br />
favor da não-destruição de Sodoma e Gomorra, em benefício de alguns<br />
poucos justos porventura ali residentes. E ele consegue o favor de Deus vez<br />
após vez: Deus não destruiria as cidades da campina caso houvesse ali<br />
cinquenta, 45, quarenta, trinta, vinte ou dez justos. Como não havia nem<br />
sequer dez, as cidades foram destruídas (Gn 18.22-33). O mesmo Abraão<br />
orou em favor da saúde de Abimeleque, sua mulher e servas (Gn 20.17). O<br />
filho de Abraão e Agar, ao ser mandado embora junto com a mãe, não tendo<br />
mais água para beber, clamou e “Deus ouviu a voz do menino” (Gn 21.17). O<br />
servo de Abraão não sabia como cumprir a delicada missão de conseguir uma<br />
esposa para o filho solteirão de seu senhor. Então apelou à oração e foi<br />
plenamente atendido. A primeira moça com a qual se encontrou na<br />
Mesopotâmia tornou-se esposa de Isaque. O servo fez questão de contar essa<br />
experiência de oração à família da jovem (Gn 24.10-50). Como Rebeca não<br />
engravidava, “Isaque orou ao Senhor por sua mulher, porque ela era estéril”.<br />
Depois de completar bodas de porcelana, aos 60 anos, nasceram os gêmeos<br />
Esaú e Jacó (Gn 25.19-26). Depois de casar-se com quatro mulheres, de se<br />
tornar pai de doze rapazes e de Diná, e de ficar muito rico, Jacó resolveu<br />
voltar para sua terra. Porém, logo soube que o irmão ainda alimentava<br />
vingança contra ele e vinha ao seu encalço com quatrocentos homens<br />
armados. Ao perceber que ele e sua família estavam em perigo, Jacó orou ao<br />
Senhor: “Livra-me das mãos de meu irmão Esaú, porque eu o temo, para que<br />
não venha ele matar-me e as mães com os filhos”. Foi uma oração<br />
perseverante e audaciosa, pois do lado de cá do Jaboque ele disse ao Senhor:<br />
“Não te deixarei ir se não me abençoares”. A emoção desarmou Esaú, os dois<br />
inimigos choraram um no ombro do outro e a guerra acabou (Gn 32.3-32). O<br />
que mais se aprende com esta história de oração é a humildade com que elas<br />
foram feitas. Na intercessão por Sodoma, Abraão declarou: “Eis que me<br />
atrevo a falar ao Senhor, eu que sou pó e cinza” (Gn 18.27). Jacó também<br />
confessou o que de fato era ao começar sua oração com as seguintes palavras:<br />
“Sou indigno de todas as misericórdias e de toda a fidelidade que tens usado<br />
para com teu servo” (Gn 32.10). Bom seria se todas as nossas orações<br />
começassem com essa confissão de Jacó e a do publicano: “Ó Deus, sê<br />
propício a mim, pecador!” (Lc 18.13). 13<br />
13 Disponível em http://mensageirodapazluizbq.blogspot.com/2009/08/historia-da-oracao.html, acessado em<br />
25/09/2010, às 20h50<br />
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Segundo o Pastor Alderi de Souza Matos 14 relata em seu artigo “A oração na história da<br />
igreja”, no início da era cristã, a espiritualidade pessoal judaica era caracterizada por três<br />
elementos principais: esmolas, oração e jejum (Mt. 6.1-18). Jesus - diz Alderi -, valorizou<br />
essas práticas, contanto que realizadas com uma atitude interior correta, dando ênfase especial<br />
à oração. O Senhor Jesus, continua Alderi, estabeleceu alguns princípios a serem observados:<br />
prioridade da oração particular, discrição e humildade (“fechada a porta”), objetividade (sem<br />
“vãs repetições”), confiança no cuidado paternal de Deus. Também Jesus ensinou aos seus<br />
discípulos uma significativa oração modelo, o “Pai Nosso”. Acompanhe o artigo do Pastor<br />
Alderi:<br />
No final do 1º século ou início do 2º, começaram a surgir normas sobre<br />
a oração. Um antigo documento da época, a Didaquê, afirma o seguinte:<br />
“Não orem como os hipócritas, mas como o Senhor ordenou no evangelho:<br />
„Pai nosso que estás no céu... Porque teu é o poder e a glória para sempre‟.<br />
Orem assim três vezes por dia” (8:2-3). Existem evidências de que, desde<br />
uma época muito remota, os cristãos em muitos lugares observavam certas<br />
horas de oração particular. Tertuliano menciona a manhã e a noite, bem como<br />
as tradicionais horas terceira, sexta e nona. Além disso, a Tradição<br />
Apostólica de Hipólito fala de um culto público matinal para ensino e oração<br />
ao qual todos eram incentivados a ir diariamente. No culto público, os<br />
cristãos ajoelhavam-se para orar, exceto aos domingos (ver G. P. Fisher,<br />
History of the Christian Church, pág. 65). Em pouco tempo surgiram orações<br />
litúrgicas pré-estabelecidas. A Didaquê (caps. 9 e 10) apresenta alguns belos<br />
exemplos: “Celebrem a eucaristia deste modo: Digam primeiro sobre o<br />
cálice: „Nós te agradecemos, Pai nosso, por causa da santa vinha do teu servo<br />
Davi, que nos revelaste por meio de teu servo Jesus. A ti a glória para<br />
sempre‟. Depois digam sobre o pão partido: „Nós te agradecemos, Pai nosso,<br />
por causa da vida e do conhecimento que nos revelaste por meio de teu servo<br />
Jesus. A ti a glória para sempre. Do mesmo modo que este pão partido tinha<br />
sido semeado sobre as colinas, e depois recolhido para se tornar um, assim<br />
também a tua Igreja seja reunida desde os confins da terra no teu reino,<br />
porque tua é a glória e o poder, por meio de Jesus Cristo, para sempre‟.<br />
Depois de saciados, agradeçam deste modo: „Nós te agradecemos, Pai santo,<br />
por teu santo Nome, que fizeste habitar em nossos corações, e pelo<br />
conhecimento, pela fé e imortalidade que nos revelaste por meio do teu servo<br />
Jesus. A ti a glória para sempre. Tu, Senhor todo-poderoso, criaste todas as<br />
coisas por causa do teu Nome, e deste aos homens o prazer do alimento e da<br />
bebida, para que te agradeçam. A nós, porém, deste uma comida e uma<br />
bebida espirituais, e uma vida eterna por meio do teu servo. Antes de tudo,<br />
nós te agradecemos porque és poderoso. A ti a glória para sempre. Lembra-te,<br />
Senhor, da tua Igreja, livrando-a de todo o mal e aperfeiçoando-a no teu<br />
amor. Reúne dos quatro ventos esta Igreja santificada para o teu reino que lhe<br />
preparaste, porque teu é o poder e a glória para sempre. Que a tua graça<br />
venha, e este mundo passe. Hosana ao Deus de Davi. Quem é fiel, venha;<br />
quem não é fiel, converta-se. Maranata. Amém‟” (DIDAQUÊ). Na Epístola<br />
de Clemente aos Coríntios (c. 96 AD) existe uma oração tão elaborada que<br />
pode ter sido usada habitualmente por esse líder no culto público (Fisher,<br />
pág. 65). Por volta do ano 150, o culto cristão foi descrito da seguinte<br />
maneira por Justino Mártir em sua Primeira Apologia (caps. 65, 67): “Depois<br />
de termos lavado dessa maneira aquele que se converteu e deu o seu<br />
consentimento, o conduzimos aos irmãos reunidos para em comum oferecer<br />
orações por nós mesmos, por aquele que foi iluminado e por todos os homens<br />
14 Disponível em http://www.mackenzie.br/7104.html, acessado em 25/09/2010, às 20h55<br />
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do mundo... Ao terminar as orações, mutuamente nos saudamos com o<br />
ósculo da paz e logo se traz ao presidente o pão e um cálice de vinho com<br />
água. Ele os recebe, oferecendo-os ao Pai de todas as coisas num tributo de<br />
louvores e glorificações, em nome do Filho e do Espírito Santo, dando graças<br />
por sermos considerados dignos de tamanhos favores da sua clemência.<br />
Terminadas as orações e ações de graça, os presentes as ratificam com o<br />
“Amém”, palavra hebraica que significa “assim seja”... Sobre tudo o que<br />
recebemos, louvamos o Criador de todas as coisas em nome de Jesus Cristo,<br />
seu Filho, e do Espírito Santo” [Referência ao costume, obrigatório para os<br />
cristãos assim como para os judeus, de dar graças a Deus antes de receber as<br />
suas dádivas, o que tornava cada refeição um ato sagrado.] Podia haver a<br />
tendência de valorizar mais as esmolas e o jejum que a oração: “O jejum é<br />
melhor que a oração, mas as esmolas melhores que ambos” (2 Clemente 16).<br />
Mais tarde, passou-se a ter em alta estima as orações intercessórias dos santos<br />
falecidos, especialmente os mártires. Daí surgiu o costume de dirigir orações<br />
a eles. Mais adiante, o mesmo foi feito com Maria. Desde o segundo ou o<br />
terceiro século, também surgiu a prática de se orar pelos mortos.<br />
A oração recebeu grande ênfase em conexão com o monasticismo. Bento de<br />
Núrsia (6º século) entendia que ela era o âmago da vida monástica. Todos os<br />
dias havia horas prescritas para a oração particular, mas a maior parte das<br />
devoções ocorria na capela, onde os monges se reuniam sete vezes durante o<br />
dia e uma vez no meio da noite, conforme o Salmo 119.164, 62. Na Idade<br />
Média, os místicos, como eram de se esperar, deram grande ênfase à oração.<br />
Foi o caso de Bernardo de Claraval (séc. 12) e dos Irmãos da Vida Comum<br />
(séc. 14). Outros exemplos são os místicos espanhóis do século 16, Teresa de<br />
Ávila (1515-1582) e João da Cruz (1542-1591). O misticismo geralmente<br />
surgia numa época em que a religião se tornava excessivamente<br />
institucionalizada e as pessoas buscavam um relacionamento mais pessoal<br />
com Deus. Em reação à religiosidade medieval, o protestantismo retornou a<br />
padrões exclusivamente bíblicos no que diz respeito à oração. Os<br />
reformadores escreveram amplamente sobre o assunto. Calvino dedicou ao<br />
tema o maior capítulo das Institutas (Livro III, Cap. 20), que tem por título:<br />
“A oração, que é o principal exercício da fé e por meio da qual recebemos<br />
diariamente os benefícios de Deus”. Ele aborda questões como: (a) a natureza<br />
e o valor da oração; (b) as regras da correta oração; (c) a intercessão de<br />
Cristo; (d) a rejeição das doutrinas errôneas da intercessão dos santos; (e)<br />
tipos de oração: particular e pública; (f) o uso do canto e da linguagem falada<br />
na oração; (g) exposição detalhada da Oração do Senhor, e (h) momentos<br />
especiais de oração e necessidade de perseverança. No protestantismo, alguns<br />
movimentos têm dado grande ênfase à oração. Alguns exemplos<br />
significativos são o puritanismo inglês e norte-americano, o pietismo alemão,<br />
o avivamento evangélico inglês e os despertamentos norte-americanos.<br />
Certos personagens ficaram conhecidos pela sua vida de oração: Martinho<br />
Lutero, George Miller, João Wesley, Charles Simeon, Robert Murray<br />
M‟Cheyne, Jonathan Edwards e David Brainerd, entre outros. (AL<strong>DE</strong>RI <strong>DE</strong><br />
SOUZA, A ORAÇÃO NA HISTÓRIA DA IGREJA).<br />
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O Que é a Verdadeira Oração? 15<br />
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Seria muito interessante procurar explorar o que não é oração, como na introdução<br />
deste artigo. Mas, reservo-me, neste capítulo a transcrever o Capítulo 2 do livro “I Will Pray<br />
With the Spirit and With the Understanding Also- or, A discourse touching prayer”, de John<br />
Bunyan (1628-1688). Escrito quando Bunyan (mesmo autor de “O Peregrino” – clássico da<br />
literatura cristã), estava na prisão em 1662, e publicado em 1663, com tradução de Felipe<br />
Sabino de Araújo Neto. Este capítulo traduz de maneira singela e devocional o que é a<br />
verdadeira oração. Veja:<br />
Oração é o derramar de modo sincero, consciente e afetuoso o coração ou alma<br />
diante de Deus, por meio de Cristo, no poder e ajuda do Espírito Santo, buscando as<br />
coisas que Deus prometeu, ou que são conforme a Sua Palavra, para o bem da igreja,<br />
com submissão, em fé, à vontade de Deus.<br />
Nessa descrição há sete coisas. Primeiro, de modo sincero; segundo, de modo<br />
consciente; terceiro, de modo afetuoso, derramando a alma diante de Deus, por meio<br />
de Cristo; quarto, no poder ou ajuda do Espírito Santo; quinto, buscando as coisas que<br />
Deus prometeu, ou que são conforme a Sua Palavra; sexto, para o bem da igreja;<br />
sétimo, com submissão em fé à vontade de Deus.<br />
Com relação à primeira destas: é um derramar de modo sincero a alma diante<br />
de Deus. A sinceridade é uma graça que permeia todas as demais que Deus nos dá, e<br />
todas as atividades do cristão, e influenciando-as, pois do contrário Deus não as<br />
estimaria. Assim ocorre na oração, como particularmente disse Davi, falando deste<br />
tema: “A ele clamei com a minha boca, e ele foi exaltado pela minha língua. Se eu<br />
atender à iniqüidade no meu coração, o Senhor não me ouvirá” (Salmos 66:17,18). A<br />
sinceridade faz parte da oração, pois sem ela Deus não a consideraria como tal. “E<br />
buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes com todo o vosso coração”<br />
(Jeremias 29:13). A falta de sinceridade fez que Jeová recusasse as orações daqueles<br />
descritos em Oséias 7:14, onde é dito: “E não clamaram a mim com seu coração” (isto<br />
é, com sinceridade), “mas davam uivos nas suas camas”. Mas oram para simular, para<br />
exibirem-se hipocritamente, para serem vistos dos homens e aplaudidos por eles.<br />
A sinceridade é o que Cristo recomendou em Natanael, quando este estava<br />
debaixo da figueira: “Eis aqui um verdadeiro israelita, em quem não há dolo”.<br />
Provavelmente este bom homem tinha estado derramando sua alma a Deus em oração<br />
debaixo da figueira, fazendo-lhe em espírito sincero e não dissimulado, diante do<br />
Senhor. A oração que contém este elemento como um de seus ingredientes principais,<br />
é a oração que Deus ouve. Assim, “a oração dos retos é o Seu deleite” (Provérbios<br />
15:81).<br />
Por que a sinceridade deve ser um dos elementos essenciais na oração que<br />
Deus aceita? Porque a sinceridade induz a alma a abrir o coração diante de Deus com<br />
toda simplicidade, a apresentar-lhe o caso de forma franca, sem equívocos; a<br />
15 Capítulo 2 do livro “I Will Pray With the Spirit and With the Understanding Also- or, A discourse touching<br />
prayer”, de John Bunyan (1628-1688). Escrito quando Bunyan estava na prisão em 1662, e publicado em 1663.<br />
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condenar-se claramente, sem dissimulação; a clamar a Deus desde o mais profundo do<br />
coração, sem palavras ocas e artificiais. “Bem ouvi eu que Efraim se queixava,<br />
dizendo: Castigaste-me e fui castigado, como novilho ainda não domado” (Jeremias<br />
31:18). A sinceridade é a mesma num canto sozinho, assim como quando está diante<br />
do mundo. Não sabe levar duas máscaras, uma para comparecer diante dos homens, e<br />
outra para os breves momentos que passa sozinho. Ela se oferece ao olho perscrutador<br />
de Deus, e anseia estar com Ele no dever da oração. Não tem apreço pelo esforço de<br />
lábios, pois sabe que o que Deus vê é o coração, de onde brota a oração, para ver se a<br />
mesma vem acompanhada com sinceridade.<br />
Em segundo lugar, a oração é um derramar de modo sincero e consciente o<br />
coração ou alma. Não se trata, como muitos pensam, de umas poucas expressões<br />
balbuciantes, de tagarelices, de expressões lisonjeiras, mas de um sentimento<br />
consciente do coração. A oração contém nela uma sensibilidade de diversas coisas:<br />
algumas vezes do pecado, algumas vezes da misericórdia recebida, algumas vezes da<br />
prontidão de Deus em outorgar misericórdia, etc…<br />
(a) Um senso da necessidade de misericórdia, por causa do perigo que<br />
representa o pecado. A alma, digo, passa por uma experiência na qual suspira,<br />
geme, e o pecado a quebranta; pois a verdadeira oração, da mesma maneira que<br />
o sangue brota da carne por razão de sobrecarga, expressa balbuciante o que<br />
procede do coração quando este se acha sobrepujado com dor e amargura (1<br />
Samuel 1:10; Salmos 69:3). Davi grita, clama, chora, desmaia em seu coração,<br />
os olhos falham, secam, etc., (Salmos 38:8-10). Ezequias gemia como uma<br />
pomba (Isaías 38:14). Efraim se lamenta (Jeremias 31:18). Pedro chora<br />
amargamente (Mateus 26:75). Cristo experimenta o que é “grande clamor e<br />
lágrimas” (Hebreus 5:7). E tudo isto por serem conscientes da justiça de Deus,<br />
da culpa do pecado, das dores do inferno e da destruição. “Os cordéis da morte<br />
me cercaram, e angústias do inferno se apoderaram de mim; encontrei aperto e<br />
tristeza. Então invoquei o nome do SENHOR, dizendo: Ó SENHOR, livra a<br />
minha alma” (Salmos 116:3,4). E em outro lugar: “Minha dor corria de noite”<br />
(Salmos 77:2). E também: “Estou encurvado, estou muito abatido, ando<br />
lamentando todo o dia” (Salmos 38:6). Em todos estes exemplos, e em<br />
muitíssimos outros que poderiam ser citados, pode ser visto que a oração<br />
carrega uma disposição sentimental consciente, e isto, em primeiro lugar, pelo<br />
senso do pecado.<br />
(b) Às vezes há um doce senso da misericórdia recebida; misericórdia que<br />
alenta, consola, fortalece, vivifica, ilumina, etc. Assim, Davi derrama sua alma<br />
para bendizer, adorar e admirar o grande Deus por Sua bondade para com seres<br />
tão pobres, vis e miseráveis: “Bendize, ó minha alma, ao SENHOR, e tudo o<br />
que há em mim bendiga o seu santo nome. Bendize, ó minha alma, ao<br />
SENHOR, e não te esqueças de nenhum de seus benefícios. Ele é o que perdoa<br />
todas as tuas iniqüidades, que sara todas as tuas enfermidades, que redime a tua<br />
vida da perdição; que te coroa de benignidade e de misericórdia, que farta a tua<br />
boca de bens, de sorte que a tua mocidade se renova como a da águia” (Salmos<br />
103:1-5). E assim, a oração dos santos se converte às vezes em adoração e ação<br />
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de graças; mas nem por isso deixa de ser oração. Isto é um mistério; o povo de<br />
Deus ora com suas adorações; como está escrito: “Não andeis ansiosos por<br />
coisa alguma; antes em tudo sejam os vossos pedidos conhecidos diante de<br />
Deus pela oração e súplica com ações de graças” (Filipenses 4:6). Uma ação de<br />
graças consciente, pela misericórdia recebida, é uma oração poderosa aos olhos<br />
de Deus; ela prevalece com Ele indizivelmente.<br />
(c) Na oração, a alma se expressa às vezes como já sabendo as bênçãos que há<br />
de receber, e isto faz que o coração se inflame: “Pois tu, SENHOR dos<br />
Exércitos, Deus de Israel”, disse Davi, “revelaste aos ouvidos de teu servo,<br />
dizendo: Edificar-te-ei uma casa. Portanto o teu servo se animou para fazer-te<br />
esta oração” (2 Samuel 7:27). Isto é o que moveu Jacó, Davi, Daniel e outros: a<br />
consciência das misericórdias a serem recebidas. Sem transes nem êxtases, sem<br />
balbuciar de maneira néscia e oca algumas palavras escritas num papel, mas<br />
com poder, com fervor e sem cessar, estes homens apresentaram, gemendo,<br />
diante de Deus, sua condição, experimentando, como disse, suas necessidades,<br />
sua miséria e a boa vontade de Deus em mostrar misericórdia (Gênesis<br />
32:10,11; Daniel 9:3,4).<br />
Ter um bom senso do pecado e da ira de Deus, juntamente com estímulos<br />
recebidos de Deus para vir a Ele, é um livro de orações comuns melhor do que as<br />
tiradas dos livros papistas usados na missa, que não são outra coisa senão pedaços e<br />
fragmentos da imaginação de alguns papas, de alguns monges, e não sei quem mais.<br />
Em terceiro lugar, a oração é derramar a alma diante de Deus de modo sincero,<br />
consciente e afetuoso. Oh!, que calor, que fortaleza, vida, vigor e afeto os da<br />
verdadeira oração! “Assim como o cervo brama pelas correntes das águas, assim<br />
suspira a minha alma por ti, ó Deus!” (Salmos 42:1). “Eis que tenho desejado os teus<br />
preceitos; vivifica-me na tua justiça” (Salmos 119:40). “Tenho desejado a tua<br />
salvação, ó SENHOR; a tua lei é todo o meu prazer” (Salmos 119:174). “A minha<br />
alma está desejosa, e desfalece pelos átrios do SENHOR; o meu coração e a minha<br />
carne clamam pelo Deus vivo” (Salmos 84:2). “A minha alma está quebrantada de<br />
desejar os teus juízos em todo o tempo” (Salmos 119:20). Observai como diz: “Minha<br />
alma está desejosa”, etc.<br />
Oh!, que afeto se descobre nesta oração! O mesmo encontrareis em Daniel: “Ó<br />
Senhor, ouve; ó Senhor, perdoa; ó Senhor, atende-nos e age sem tardar; por amor de ti<br />
mesmo, ó Deus meu; porque a tua cidade e o teu povo são chamados pelo teu nome”<br />
(Daniel 9:19). Cada sílaba está impregnada de poderosa veemência. Isto é o que Tiago<br />
chama de oração fervorosa, ou eficaz.<br />
Assim também em Lucas 22:44: “E, posto em agonia, orava mais<br />
intensamente”, ou seja, seus afetos eram atraídos mais e mais para Deus, em busca de<br />
Sua mão ajudadora. Oh!, quão longe estão de se parecer as orações da maioria dos<br />
homens com a verdadeira oração que sobe ao trono de Deus!<br />
Que lástima que a maior parte não sente este ardor em sua consciência, e<br />
quanto aos que o sentem, é de se temer que muitos deles não saibam o que é derramar<br />
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seu coração e sua alma diante de Deus de maneira sincera, consciente e afetuosa. Mais<br />
ainda, se contentam com um mero exercício de lábios e corpo, murmurando umas<br />
poucas orações de memória. Quando os afetos formam deveras parte da oração, o<br />
homem todo participa nela, e de tal maneira que a alma, por assim dizer, prefere gastar<br />
tudo o que tem para não ser privada do bem desejado, ou seja, a comunhão e<br />
consolação com Cristo. Por isso os santos têm gastado suas forças e perdido suas<br />
vidas, antes do que se privar da bênção (Salmos 69:3; 38:9, 10; Gênesis 32: 24,26).<br />
Todo este formalismo se observa sobremaneira na ignorância, irreverência e<br />
inveja que reina nos corações daqueles que são tão zelosos pelas formas da oração,<br />
mas não pelo seu poder. Dificilmente um entre quarenta deles sabe o que é ter nascido<br />
de novo; ter comunhão com o Pai por meio do Filho; experimentar o poder da graça<br />
santificadora em seu coração. Apesar de todas as suas orações, vivem, todavia, vidas<br />
cheias de maldição, embriaguez, lascívia e abominação, malícia, perseguindo aos<br />
amados filhos de Deus. Oh!, que horrendo juízo virá sobre eles; juízo contra o qual<br />
todas as suas reuniões hipócritas, e todas as suas orações, jamais poderão ajudar-lhes<br />
ou proteger-lhes!<br />
Prosseguindo, orar é derramar o coração ou alma. Há na oração um ato em que<br />
o íntimo se revela, em que o coração se rende a Deus, em que a alma se derrama<br />
afetuosamente em formas de petições, suspiros e gemidos: “Senhor, diante de ti está<br />
todo o meu desejo”, disse Davi no Salmo 38:9, “e o meu suspirar não te é oculto”. E<br />
também: “A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando entrarei e verei a<br />
face de Deus?… Dentro de mim derramo a minha alma…” (Salmos 42:2-4). Observese<br />
que disse: “Derramarei a minha alma”, expressão que significa que na oração a<br />
própria vida e todas as forças voam para Deus. Com disse em outro lugar: “Confiai<br />
nele, ó povo, em todo o tempo; derramai perante ele o vosso coração” (Salmos 62:8).<br />
Essa é a oração a qual a promessa é feita, a de livrar uma pobre criatura do cativeiro e<br />
servidão. “Mas de lá buscarás ao Senhor teu Deus, e o acharás, quando o buscares de<br />
todo o teu coração e de toda a tua alma” (Deuteronômio 4:29).<br />
Continuando, orar é derramar o coração ou alma diante de Deus. Isso mostra<br />
também a excelência do espírito de oração. É ao grande Deus que a oração se retira:<br />
“Quando entrarei e verei a face de Deus?” A alma que deveras ora assim, vê o vazio<br />
de todas as coisas debaixo do céu; vê que somente em Deus há descanso e satisfação<br />
para ela. “A que é verdadeiramente viúva e desamparada espera em Deus” (1 Timóteo<br />
5:5). Por isso disse Davi: “Em ti, SENHOR, confio; nunca seja eu confundido. Livrame<br />
na tua justiça, e faze-me escapar; inclina os teus ouvidos para mim, e salva-me. Sê<br />
tu a minha habitação forte, à qual possa recorrer continuamente. Deste um<br />
mandamento que me salva, pois tu és a minha rocha e a minha fortaleza. Livra-me,<br />
meu Deus, das mãos do ímpio, das mãos do homem injusto e cruel. Pois tu és a minha<br />
esperança, Senhor Deus; tu és a minha confiança desde a minha mocidade” (Salmos<br />
71:1-5). Muitos falam de Deus com amontoados de palavras; mas a oração verdadeira<br />
faz dele sua esperança, seu sustento e seu tudo. A verdadeira oração não vê nada<br />
substancial nem que valha a pena, exceto Deus. E o faz (como disse antes) de maneira<br />
sincera, consciente e afetuosa.<br />
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Continuaremos dizendo que a oração é derramar o coração ou alma de maneira<br />
sincera, consciente e afetuosa, através de Cristo. É necessário adicionar isso, através<br />
de Cristo, pois do contrário deve ser questionada se é oração, embora na aparência<br />
possa ter muita eminência ou eloqüência.<br />
Cristo é o caminho pelo qual a alma tem acesso a Deus, e sem o qual é<br />
impossível que um só desejo chegue aos ouvidos do Senhor dos Exércitos (João 14:6).<br />
“E tudo quanto pedirdes em meu nome, eu o farei, para que o Pai seja glorificado no<br />
Filho. Se pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei” (João 14:13,14). Esta foi a<br />
maneira como Daniel orou pelo povo de Deus; em nome de Cristo: “Agora, pois, ó<br />
Deus nosso, ouve a oração do teu servo, e as suas súplicas, e sobre o teu santuário<br />
assolado faze resplandecer o teu rosto, por amor do Senhor” (Daniel 9:17). E o próprio<br />
Davi: “Por amor do teu nome (isto é, por amor de teu Cristo), Senhor, perdoa a minha<br />
iniqüidade, pois é grande” (Salmos 25:11). Contudo, isso não quer dizer que todo o<br />
que menciona o nome de Cristo em suas orações esteja orando realmente em Seu<br />
nome. Achegar-se a Deus por Cristo é a parte mais difícil da oração. Ao homem lhe é<br />
mais fácil experimentar Suas obras, e inclusive desejar sinceramente Sua misericórdia,<br />
do que poder vir a Deus por Cristo. O que vem a Deus através de Cristo, precisa ter<br />
conhecimento dele primeiro; “porque é necessário que aquele que se aproxima de<br />
Deus creia que ele existe” (Hebreus 11:6). E também o que vem a Deus através de<br />
Cristo deve ser capacitado a conhecer Cristo. Senhor, disse Moisés, “rogo-te que me<br />
mostres agora teu caminho, para que eu te conheça” (Êxodo 33:13).<br />
Somente o Pai pode revelar esse Cristo (Mateus 11:27). E vir através de Cristo,<br />
é para a alma o ser capacitado por Deus para descansar debaixo da sombra do Senhor<br />
Jesus, como o que se protege num refúgio (Mateus 16:16).<br />
Por isso Davi chama a Cristo muitas vezes de seu escudo, torre, fortaleza,<br />
rocha de confiança, etc. (Salmos 18:2; 27:1; 28:1). E lhe dá esses nomes, não somente<br />
porque Ele venceu seus inimigos, mas porque por Ele achou favor com Deus o Pai. E<br />
assim Ele disse a Abraão: “Não temas, eu sou teu escudo”, etc. (Gênesis 15:1). Assim,<br />
pois, o que vem a Deus através de Cristo deve ter fé, pela qual se reveste dele, e nele<br />
se apresenta diante de Deus. O que tem fé nasceu de Deus, nasceu de novo, e,<br />
portanto, é um dos Seus filhos, em virtude do que está unido a Cristo e feito um<br />
membro dele (João 3:5,7; 1:12). Por conseguinte, uma vez membro de Cristo, já tem<br />
acesso a Deus. Digo membro de Cristo, pois Deus vê este homem como parte de<br />
Cristo, parte de Seu corpo, de Sua carne e de Seus ossos; unido a Ele pela eleição,<br />
conversão, iluminação, o Espírito sendo colocado no coração desse pobre homem por<br />
Deus (Efésios 5:30). Assim, ele se achega a Deus em virtude dos méritos de Cristo;<br />
em virtude do Seu sangue, justiça, vitória, intercessão, e assim permanece diante dele,<br />
sendo “aceito em Seu Amado” (Efésios 1:6). Ao ser assim essa pobre criatura membro<br />
do Senhor Jesus, e ter, portanto, acesso ao trono de Deus, em virtude desta união, o<br />
Espírito Santo é posto também nele, capacitando-lhe para derramar sua alma diante de<br />
Deus e ser ouvido por Ele. E isso me leva ao próximo, ou quarto, particular.<br />
Em quarto lugar, oração é um derramar o coração ou alma de modo sincero,<br />
consciente, afetuoso diante de Deus, por meio de Cristo, no poder e ajuda do<br />
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Espírito. Essas coisas dependem de tal modo uma das outras que é impossível que<br />
haja oração sem que todas elas ocorram. Por mui excelente que seja nosso falar, Deus<br />
rejeita toda súplica que não levem estas características. Se não se derrama o coração de<br />
forma sincera, consciente e afetuosa diante dele, e isso por meio de Cristo, não se faz<br />
outra coisa senão um mero esforço de lábios, o qual está longe de ser agradável aos<br />
ouvidos de Deus. Assim também, se não for no poder e ajuda do Espírito, será como o<br />
fogo estranho que os filhos de Aarão ofereceram (Levítico 10:1, 2). Mas disto falarei<br />
mais extensamente em outro capítulo; então, enquanto isso, afirmamos que a oração<br />
que não é feita por meio do ensinamento e ajuda do Espírito não pode ser “de acordo<br />
com a vontade de Deus” (Romanos 8:26, 27).<br />
Em quinto lugar, a oração consiste em derramar o coração ou alma, de maneira<br />
sincera, consciente, afetuosa, diante de Deus, por meio de Cristo, no poder e ajuda do<br />
Espírito, pedindo o que Ele prometeu, e o que é conforme Sua Palavra (Mateus 6:6-<br />
8). A oração é oração quando se acha dentro do âmbito e do desígnio da Palavra de<br />
Deus; pois quando a petição está longe do Livro, é blasfêmia ou, na melhor das<br />
hipóteses, balbuciar vão.<br />
Por isso Davi, em sua oração, mantém o seu olho na Palavra de Deus: “A<br />
minha alma está pegada ao pó; vivifica-me segundo a tua palavra” (Salmos 119:25). E<br />
também: “A minha alma se consome de tristeza; fortalece-me segundo a tua palavra”<br />
(Salmos 119:28; veja também os versos 41, 42, 58, 65, 74, 81, 82, 107, 147, 154, 169,<br />
170). Certamente o Espírito Santo não vivifica nem move diretamente o coração do<br />
cristão sem a Palavra, senão por, com e através dela, trazendo-a ao coração, e abrindo<br />
este, por cujo meio o homem é impulsionado a achegar-se ao Senhor, e contar-lhe sua<br />
condição, e também a argumentar e suplicar conforme a Sua Palavra. Assim ocorreu<br />
no caso de Daniel, aquele poderoso profeta do Senhor. Entendendo pelos livros que o<br />
cativeiro dos filhos de Israel estava perto do seu fim, ora a Deus conforme a Palavra:<br />
“Eu, Daniel, entendi pelos livros (os escritos de Jeremias) que o número de anos, de<br />
que falara o Senhor ao profeta Jeremias, que haviam de durar as desolações de<br />
Jerusalém, era de setenta anos. Eu, pois, dirigi o meu rosto ao Senhor Deus, para o<br />
buscar com oração e súplicas, com jejum, e saco e cinza” (Daniel 9:2,3). Dessa forma,<br />
digo que o Espírito é o ajudador e orientador da alma, quando essa ora conforme a<br />
vontade de Deus, pois Ele é o mesmo Espírito que a orienta por e segundo a Palavra de<br />
Deus e Sua promessa. É por causa disso que o nosso Senhor Jesus Cristo, Ele mesmo,<br />
se deteve numa ocasião, embora Sua vida estivesse em jogo: “Ou pensas tu que eu não<br />
poderia rogar a meu Pai, e que ele não me mandaria agora mesmo mais de doze<br />
legiões de anjos? Como, pois, se cumpririam as Escrituras, que dizem que assim<br />
convém que aconteça?” (Mateus 26:53,54). Como se Ele dissesse: Se houvesse tão<br />
somente uma palavra acerca disso na Escritura, logo estaria longe das mãos dos meus<br />
inimigos, pois os anjos me ajudariam; mas a Escritura não justificaria tal tipo de<br />
oração. Deve-se orar, portanto, segundo a Palavra e a promessa. O Espírito deve<br />
dirigir pela Palavra tanto a maneira como o assunto da oração. “Orarei com o espírito,<br />
mas também orarei com o entendimento” (1 Coríntios 14:15). Mas não há<br />
entendimento sem a Palavra. Pois se as pessoas rejeitam a Palavra do Senhor, “que<br />
sabedoria é essa que eles têm?” (Jr. 8:9).<br />
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Em sexto lugar, para o bem da igreja. Essa cláusula engloba tudo o que tende<br />
à glória de Deus, à adoração de Cristo, ou ao proveito de Seu povo; pois Deus, Cristo e<br />
Seu povo estão de tal maneira unidos, que se se ora pelo bem de um, a saber, a igreja,<br />
se ora necessariamente pela glória de Deus e pela adoração de Cristo. Da maneira que<br />
Cristo está no Pai, os santos estão em Cristo; e o que toca nos santos, toca na menina<br />
dos olhos de Deus. Orai, pois, pela paz de Jerusalém, e orareis por tudo pelo que<br />
deveis orar. Porque Jerusalém não terá perfeita paz até estar no céu; e não há coisa que<br />
Cristo deseje mais que tê-la ali, no lugar que Deus, por meio de Cristo, lhe deu.<br />
Assim, pois, o que ora pela paz e o bem de Sião, ou da igreja, pede na oração o<br />
que Cristo comprou com Seu sangue e o que o Pai lhe deu. Agora, o que ora pedindo<br />
isso, há de fazê-lo pedindo abundância de graça para a igreja; ajuda contra todas suas<br />
tentações; pedindo que Deus não permita que nada a aflija com demasiada dureza; que<br />
todas as coisas cooperem para o seu bem; que Ele lhes guarde, os filhos de Deus,<br />
santos e irrepreensíveis, para a Sua glória, sem culpa no meio da nação maligna e<br />
perversa. Essa é a essência da oração de Cristo em João 17. E todas as orações de<br />
Paulo seguiam esse curso, como mostra o texto bíblico: “E isto peço em oração: que o<br />
vosso amor aumente mais e mais no pleno conhecimento e em todo o discernimento,<br />
para que aproveis as coisas excelentes, a fim de que sejais sinceros, e sem ofensa até o<br />
dia de Cristo; cheios do fruto de injustiça, que vem por meio de Jesus Cristo, para<br />
glória e louvor de Deus” (Filipenses 1:9-11).<br />
Como vês, é uma oração curta, mas cheia de bons desejos para a igreja, desde o<br />
princípio ao fim; para que esteja firme e persevere, manifestando-se na melhor<br />
disposição espiritual, ou seja, irrepreensivelmente, com sinceridade e sem ofensa, até o<br />
dia de Cristo, sejam quais forem as tentações ou perseguições que passar (Efésios<br />
1:16-21; 3:14-19; Colossenses 1:9-13).<br />
Em sétimo lugar, a oração se submete à vontade de Deus e diz, como Cristo<br />
ensinou: “Seja feita a tua vontade” (Mateus 6:10). Portanto, o povo do Senhor deve,<br />
com toda a humildade, colocar a si mesmo, suas orações e tudo o que têm, aos pés do<br />
Seu Deus, para que Ele disponha deles segundo melhor lhe agradar em Sua sabedoria<br />
celestial. E tudo sem duvidar que Ele responderá ao desejo de Seu povo, da maneira<br />
mais conveniente para eles e para Sua própria glória. Por conseguinte, quando os<br />
santos oram submissos à vontade de Deus, não significa que devem duvidar de Seu<br />
amor e bondade para com eles; mas sim porque não somos sempre bem prudentes, e<br />
Satanás às vezes pode se aproveitar para tentar-nos a orar por aquilo que, se<br />
alcançássemos, não redundaria na glória de Deus, nem no bem para o Seu povo. “E<br />
esta é a confiança que temos nEle, que se pedirmos alguma coisa segundo a Sua<br />
vontade, Ele nos ouve. E, se sabemos que nos ouve em tudo o que pedimos, sabemos<br />
que já alcançamos as coisas que lhe temos pedido”, isto é, pedindo no Espírito de<br />
graça e súplica (1 João 5:14,15).<br />
Pois, como disse antes, a petição que não é apresentada em e por meio do<br />
Espírito, não será atendida, por se apartar da vontade de Deus; pois só o Espírito<br />
conhece essa, e, assim, conseqüentemente, sabe como orar de acordo com a vontade<br />
de Deus. “Pois, qual dos homens entende as coisas do homem, senão o espírito do<br />
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homem que nele está? assim também as coisas de Deus, ninguém as compreendeu,<br />
senão o Espírito de Deus” (1 Coríntios 2:11). Mais adiante voltaremos a tocar nesse<br />
ponto. Veja, então, em primeiro lugar, o que a oração é. (JOHN BUNYAN) 16<br />
O que não é oração (por Jairo Filho) 17<br />
Orar não é uma relação utilitária nem funcional – ou seja, Deus só serve quando é<br />
útil; ou, Deus é conhecido e procurado exclusivamente por exercer uma função de realizador<br />
de meus desejos. Ex: Às vezes, nossas orações transformam Deus num eletrodoméstico usado<br />
para resolver nossos problemas ou para fazer mais rápido aquilo que não consigo fazer. E<br />
quando esse eletrodoméstico não funciona, descartamos e jogamos no lixo. Assim,<br />
conhecemos Deus apenas pelo que ele faz. E quando ele não funciona como nós desejamos,<br />
descartamos Deus de nossas vidas.<br />
Orar não é um instrumento usado para transformar a realidade da minha vida, a fim<br />
de extrair o máximo do poder de Deus, nem é um meio ou recurso para mover a mão de Deus<br />
ou colocá-lo em movimento, como se Deus fosse um preguiçoso irresponsável, indolente e<br />
emburrado, sentado sobre um trono de má-vontade. Jesus disse: “Meu Pai continua<br />
trabalhando até hoje, e eu também estou trabalhando”. (Jo 5:17).<br />
Orar não é um meio de consumo onde transforma a fé daquele que ora em moeda de<br />
troca e compra. Não podemos resumir a oração num negócio, barganha ou troca. Às vezes,<br />
nossas orações são transformadas em comércio, onde aquele que ora é o consumidor<br />
compulsivo e Deus é transformado em vendedor carente que vende favores em troca de amor.<br />
Ou, quando oramos somos como aquela mulher de 20 anos interesseira que casa com um<br />
bilionário de 95 anos com a intenção exclusiva de herdar toda a sua fortuna. Ou ainda, antes,<br />
muitas crianças oravam para ganhar de presente uma bola; hoje, toda criança ora desejando<br />
um computador. Infelizmente, o conteúdo de nossas orações é determinado pela tecnologia do<br />
mundo consumista e capitalista.<br />
Orar não é uma ferramenta de manipulação divina. A oração não pode ser definida<br />
numa relação de manipulação da vontade de Deus ao meu favor, como se Deus fosse<br />
convencido a mudar de idéia e atitude para conosco, quando é iludido pelos nossos mais<br />
inteligentes argumentos de persuasão. Isso significa que orar não é um amontoado de palavras<br />
decoradas, repetitivas e vazias ditas com a intenção de convencer Deus a responder a petição<br />
do fiel.<br />
Orar não é um ritual religioso verbalizado com palavras decoradas resumidas num<br />
monólogo inerte e vazio que mascara a sinceridade do coração. Porque orar não é um evento<br />
nem uma realização que tem um intervalo de tempo com início, meio e fim e nos induz a<br />
definir uma dicotomia em nossa agenda – onde "oração" é hora sagrada e "não orar" é uma<br />
16 Capítulo 2 do livro “I Will Pray With the Spirit and With the Understanding Also- or, A discourse touching<br />
prayer”, de John Bunyan (1628-1688). Escrito quando Bunyan estava na prisão em 1662, e publicado em 1663.<br />
17 Disponível em http://blogdojairofilho.blogspot.com/2010/09/o-que-nao-e-oracao.html, acessado em<br />
28/09/2010, às 11h31<br />
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hora de pecado mundano e secular. Por isso, orar não é um costume religioso tradicional feito<br />
por hábito para manter o costume. A oração que é oferecida do tipo “porque eu sempre orei<br />
assim desse jeito como sempre me ensinaram” imuniza-nos contra a verdadeira oração,<br />
impedindo-nos de encontrar um relacionamento vivo com Deus. O hábito e o costume de orar<br />
quando se tornam impensados e automáticos, podem exercer um efeito destrutivo em nosso<br />
relacionamento amoroso com Deus. Jesus falou sobre o perigo de “amontoar palavras<br />
vazias”, na tentativa de impressionar a Deus em oração. Dizer orações decoradas, sem<br />
reflexão séria ou sem intuito pessoal faz correr o risco de tornarem-se em “vãs repetições”,<br />
que Jesus tão severamente criticou. Dá-se esse caso, sobretudo, quando se recita a<br />
oração “Pai Nosso”, tão repetida. Ironicamente, foi quando Jesus ensinou essa oração aos<br />
Seus discípulos que Ele os advertiu sobre os perigos das orações automáticas e<br />
desmentalizadas. O profeta Isaías, falando em favor de Deus, expressou isso perfeitamente<br />
quando disse: “Visto que este povo se aproxima de mim, e com a sua boca e com seus lábios<br />
me honra, mas o seu coração está longe de mim...” (Isaías 29:13).<br />
Orar não é noticiário. Orar não é informar Deus os fatos de nossas vidas, como se<br />
nossa oração fosse um noticiário e Deus fosse um ouvinte desinformado que ignorasse os<br />
fatos de nossa vida, ignorasse quem somos e aquilo que estamos fazendo, pensando e<br />
sentindo.<br />
Orar não é uma chantagem emocional para extrair o poder de Deus de realizar<br />
nossos desejos, como se Deus fosse tão carente e inseguro que precisasse de nossas orações<br />
para sobreviver. Isto significa que a oração não é um jeito de ameaçar Deus de abandono e<br />
solidão caso Ele não atenda nossos pedidos.<br />
Orar não é fazer guerra com Deus nem contra o próximo. A oração não deve ser<br />
feita como uma arma de guerra jurídica para exigir de Deus que ele devolva o que é meu por<br />
direito, como se fôssemos donos de nossas próprias vidas e Deus não passasse de um ladrão<br />
mesquinho e egoísta que roubou nossos bens. A oração também não deve ser feita como arma<br />
de guerra contra o próximo quando usamos a oração como uma “boacumba evangélica” que<br />
joga praga para os nossos piores inimigos na encruzilhada dos conflitos.<br />
Orar não é usar máscara de super espiritual. A oração não deve ser transformada<br />
num termômetro espiritual que cria comparação e abre as portas do nosso coração para a<br />
chegada da febre do orgulho. Porque a oração não é um exercício espiritual de sacrifício para<br />
crescer os músculos da justiça própria em nosso coração “Senhor, ensina-nos a orar”.<br />
Precisamos confessar a nossa fraqueza de viver sem orar, a nossa incapacidade de orar<br />
com egoísmo e nosso inadequado jeito de orar. Deus nos convida a aprender a orar a Deus<br />
através de nossas fraquezas e debilidades, a fim de crescermos na graça do Senhor Jesus,<br />
sendo guiados pelo Espírito Santo que ora em nós e por nós quando não sabemos orar.<br />
Conclusão<br />
Richard J. Foster acredita “que a oração é algo que devemos fazer, até mesmo algo<br />
que desejamos fazer; mas é como se um abismo se interpusesse entre nós e o ato de orar”.<br />
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Talvez alguém pergunte assim: Se Deus conhece as minhas necessidades, por que<br />
devo orar? Será que devo amolar a Deus com detalhes insignificantes da minha vida<br />
particular, se existem questões de muito maior importância no mundo? O Pr. Arival Dias<br />
responde: “A resposta que encontramos é que Deus deseja dialogar conosco. Ele tem<br />
interesse por nós. Da mesma forma que anelamos por nossos filhos compartilharem conosco<br />
os detalhes corriqueiros de seu dia na escola, também Deus anela por ouvir de nós os<br />
menores detalhes de nossa vida”.<br />
Muito mais que a definição do significado da oração, é a sua prática. Pois quem ora<br />
está cumprindo uma vontade divina (Mt. 7. 7,8); só ora quem tem temor (Jo 9.31); a oração<br />
revela e produz humildade (Dn. 9.17-19); a oração nos convence de que aquilo que recebemos<br />
veio das mãos de Deus, gerando em nós a gratidão (1 Cr. 29.14); descansamos quando oramos<br />
(Sl. 37.1-7); a oração libera bênçãos de Deus (Jo 15.7).<br />
O coração da doutrina bíblica da oração é bem expresso por Westcott: “A<br />
oração autêntica – a oração que necessariamente é respondida – é o<br />
reconhecimento pessoal e a aceitação da vontade divina. Segue-se que o<br />
ouvir da oração que ensina a obediência não consiste tanto na outorga de uma<br />
petição específica, que o solicitador supõe ser o caminho para a finalidade<br />
desejada, mas antes, a certeza de que aquilo que é proporcionado conduz<br />
mais eficazmente a essa finalidade. Assim sendo, somos ensinados que Cristo<br />
aprendeu que todo detalhe de Sua vida e paixão contribuiu para a realização<br />
da obra que Ele veio cumprir, e por isso foi mui respeitosamente „ouvido‟.<br />
Nesse sentido é que Cristo foi „ouvido por causa da piedade‟ (Hb. 5.7b). (J.<br />
D. DOUGLAS, O NOVO DICIONÁRIO DA BÍBLIA) 18<br />
É hora de orar! Disponibilize-se para Deus!!!<br />
18 O NOVO DICIONÁRIO DA BÍBLIA – Edição em 1 Volume. Organizado por J. D. Douglas. Editor da edição<br />
em português: R. P. Shedd, M. A., B. D., Ph. D. Tradução João Bentes – São Paulo: Edições Vida Nova, 1997.<br />
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Referências<br />
BÍBLIA. Português. Bíblia de Estudo Pentecostal. Almeida Revista e Corrigida.CPAD, 1995.<br />
BÍBLIA. Português. Novo Testamento King James – Edição de Estudo. Tradução King James<br />
Atualizada (KJA). São Paulo, Sociedade Ibero-Americana.<br />
LIÇÕES BÍBLICAS. Jovens e Adultos. 4º Trimestre de 2010. CPAD, 2010.<br />
O NOVO DICIONÁRIO DA BÍBLIA – Edição em 1 Volume. Organizado por J. D. Douglas.<br />
Editor da edição em português: R. P. Shedd, M. A., B. D., Ph. D. Tradução João Bentes – São<br />
Paulo: Edições Vida Nova, 1997.<br />
DICIONÁRIO DO MOVIMENTO PENTECOSTAL – 1ª Edição. Organizado por Isael de<br />
Araújo – Rio de Janeiro: CPAD, 2007.<br />
TEOLOGIA SISTEMÁTICA: Uma Perspectiva Pentecostal. Título Original: Systematic<br />
Theology: a Pentecostal Perspective. 1ª Edição. Editado por HORTON, S. M. Tradução para<br />
o português: CHOWN, G. – Rio de Janeiro: CPAD, 1996.<br />
19 Evangelista, pastor AD Thelma. E-mail: valtergislene@uol.com.br<br />
São Bernardo do Campo, 28 de setembro de 2010.<br />
<strong>Valter</strong> <strong>Borges</strong> dos Santos 19<br />
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