19.04.2013 Views

Discurso Luiz Fittipaldi Orador da 1º Turma de Medicina da FPS

Discurso Luiz Fittipaldi Orador da 1º Turma de Medicina da FPS

Discurso Luiz Fittipaldi Orador da 1º Turma de Medicina da FPS

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

“Senhoras e Senhores, boa noite. Em nome <strong>da</strong> Primeira <strong>Turma</strong> <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong><strong>de</strong> Pernambucana <strong>de</strong><br />

Saú<strong>de</strong>, cumprimento a todos os presentes na noite <strong>de</strong> hoje; <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Pais, avós, irmãos, amigos e<br />

amores. Cumprimento nosso Paraninfo, Prof. Gilliatt Falbo; o Reitor e Presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> mesa, Sr.<br />

Ary Avellar Diniz; assim como a todos os que compõem a mesa: como Diretores, Professores<br />

Homenageados e Autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s.<br />

Em especial, cumprimento meus colegas <strong>de</strong> turma. Ou melhor, meus amigos <strong>de</strong> turma. Pois só<br />

amigos po<strong>de</strong>riam conce<strong>de</strong>r a honra <strong>de</strong> confiar sua própria palavra a outra pessoa. E quero-lhes<br />

fazer acreditar, <strong>de</strong> coração, que sou eternamente grato por isso.<br />

Bem, meus amigos: somos a Primeira <strong>Turma</strong>. Somos a partir <strong>de</strong> hoje, oficialmente: Médicos.<br />

Produto final <strong>de</strong> um sonho <strong>de</strong> 15 anos, i<strong>de</strong>alizado pelo Prof. Fernando Figueira, e levado adiante<br />

por mestres que hoje constituem o Instituto <strong>de</strong> <strong>Medicina</strong> Integral, IMIP.<br />

Certa vez, folheando as páginas iniciais do livro <strong>de</strong> Pediatria do IMIP, achei uma interessante<br />

citação do próprio Professor Fernando Figueira, em que ele dizia:<br />

"Um médico tem profun<strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> sobre a vi<strong>da</strong> dos que o procuram. Quando esse<br />

médico é um professor, a responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> torna-se maior. Há <strong>de</strong> pensar no sentido do título <strong>de</strong><br />

profissional <strong>da</strong> <strong>Medicina</strong> que entrega ao seu discípulo. O grau <strong>de</strong> médico, proclamado no<br />

instante solene <strong>da</strong> formatura, <strong>de</strong>veria ser motivo para graves reflexões. Sem querer assumir<br />

posições estranhas, arriscaria dizer que nesse instante, não <strong>de</strong>veria haver festas; não é fato para<br />

risos fáceis, mas para sérios e difíceis pensamentos. É <strong>da</strong>do, naquela hora, o direito <strong>de</strong> li<strong>da</strong>r,<br />

através <strong>da</strong> ciência, com a vi<strong>da</strong> e a morte a quem quase sempre conhece pouco os complexos<br />

sistemas orgânicos do ser humano. A partir <strong>da</strong>quela <strong>da</strong>ta, o ex-aluno <strong>da</strong> escola médica passará<br />

a agir sozinho. Será ele e a sua consciência."<br />

É amigos, agora somos médicos. Os primeiros médicos <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong><strong>de</strong> Pernambucana <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>.<br />

Instituição <strong>da</strong> qual assistimos e participamos ativamente do nascimento, batizado e finalmente,<br />

<strong>da</strong> construção <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>. E <strong>de</strong>finitivamente, po<strong>de</strong>mos carregar conosco o orgulho, por<br />

ter aberto caminhos.<br />

<strong>Discurso</strong> <strong>Luiz</strong> <strong>Fittipaldi</strong><br />

<strong>Orador</strong> <strong>da</strong> <strong>1º</strong> <strong>Turma</strong> <strong>de</strong> <strong>Medicina</strong> <strong>da</strong> <strong>FPS</strong><br />

Nós crescemos juntos. No começo, nos conhecemos sem um nome <strong>de</strong>finido, é bem ver<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Não sabíamos ao certo se éramos a Escola Pernambucana <strong>de</strong> <strong>Medicina</strong>, <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> ou FBV-IMIP.<br />

Não importa, éramos cento e vinte histórias diferentes. Carrega<strong>da</strong>s <strong>de</strong> entusiasmo,


proporcionais somente à ansie<strong>da</strong><strong>de</strong> que o novo representava.<br />

Tateamos o que era Aprendizagem Basea<strong>da</strong> em Problemas, termos <strong>de</strong>sconhecidos, objetivos<br />

<strong>de</strong> aprendizagem, tutoria, integração... An<strong>da</strong>mos no chão <strong>de</strong> terra e grama, vimos prédios<br />

subirem, livros chegando, mensali<strong>da</strong><strong>de</strong>s também... e enfrentamos todo tipo <strong>de</strong> preconceito.<br />

E nos unimos, nos organizamos. Conversamos e criamos. Comissões, caronas, abaixo-<br />

assinados, festas, Diretório Acadêmico... Tudo novo, tudo pela primeira vez. E para tudo que<br />

parecia sem solução, uma passadinha na sala do Professor Gilliatt po<strong>de</strong>ria resolver.<br />

Éramos espelho, exemplo para quem chegava. Ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira <strong>de</strong>finição do que significa<br />

Vanguar<strong>da</strong>.<br />

O novo é mais sensível, apren<strong>de</strong> quase tudo que lhe é ensinado, seja certo ou errado. E quem<br />

ensina, sabe a responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> que tem.<br />

E pouco a pouco, assumimos também como nossa essa responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Criamos a nossa imagem. Limpa, forte, e hoje: estabeleci<strong>da</strong>. Respeita<strong>da</strong>.<br />

Obtivemos excelência na avaliação do ENADE, balizando junto ao Ministério <strong>da</strong> Educação o<br />

escore 4 no Índice Geral <strong>de</strong> Cursos, média obti<strong>da</strong> apenas por 6% <strong>da</strong>s 2.176 facul<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

avalia<strong>da</strong>s no país. E mais do que resultados objetivos, apren<strong>de</strong>mos que fun<strong>da</strong>mentalmente,<br />

<strong>Medicina</strong> se faz com ética e compromisso.<br />

<strong>Medicina</strong> se faz com amor.<br />

E é no hospital, à beira <strong>de</strong> um leito, que se apren<strong>de</strong> o que é <strong>Medicina</strong>. É on<strong>de</strong> se apren<strong>de</strong> o que é<br />

amor.<br />

O dia 30/11/2011 foi o meu último enquanto estu<strong>da</strong>nte <strong>de</strong> <strong>Medicina</strong>. Já se aproximava do meio-<br />

dia, quando o último paciente chegava para realizar seu internamento. Junto ao colega <strong>de</strong> turma<br />

e amigo Francisco Monteiro fui realizar a anamnese e exame físico do paciente.<br />

Após me aju<strong>da</strong>r a colher a história <strong>da</strong> doença do paciente, notei que Francisco olhava<br />

insistentemente pela janela <strong>da</strong> enfermaria. Após terminar o exame físico e ter orientado o<br />

paciente quanto ao seu tratamento, Francisco sugeriu que eu olhasse pela janela.<br />

Lá embaixo, ocorria uma cena comum para nós, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 2 intensos anos enquanto internos:<br />

Uma mãe alimentava seu filho, que aparentava ter em torno <strong>de</strong> 10 anos <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong> e era portador<br />

<strong>de</strong> alguma síndrome genética, com prejuízo motor e cognitivo. Ele estava sentado em uma a<br />

ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> ro<strong>da</strong>s colori<strong>da</strong>, e os dois dividiam uma pequena marmita, guar<strong>da</strong><strong>da</strong> num recipiente<br />

<strong>de</strong> plástico azul.


Notamos um interessante gesto vindo <strong>da</strong> mãe: a ca<strong>da</strong> colhera<strong>da</strong> que ia para sua própria boca,<br />

duas eram <strong>de</strong>stina<strong>da</strong>s à boca <strong>da</strong> criança. Para a nossa surpresa, a criança começou bater<br />

palmas com certa dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> e a se agitar, tentando movimentar o tronco e esboçando um<br />

sorriso à sua forma. A mãe, por sua vez, apenas sorriu e lhe <strong>de</strong>u um cheiro atrás <strong>da</strong> orelha.<br />

Parecia não ter mais fome, pois as colhera<strong>da</strong>s agora, eram <strong>de</strong>stina<strong>da</strong>s somente à criança.<br />

Nesse dia, fui pra casa pensando em tudo que tinha se passado em minha vi<strong>da</strong> nos últimos 10<br />

anos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que havia <strong>de</strong>cidido fazer <strong>Medicina</strong>. E percebi que o melhor que havia feito durante<br />

todo esse tempo, era movido unicamente; pelo sentimento.<br />

Havia feito minhas escolhas: entre vestibulares e 6 anos <strong>de</strong> <strong>Medicina</strong>, havia aprendido a estu<strong>da</strong>r,<br />

a escutar, e a trazer para o meu trabalho os princípios que tinha como conduta <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>. E havia<br />

aprendido que todo e qualquer ato <strong>de</strong> amor, era alívio, e por consequência, é o princípio básico<br />

<strong>da</strong> cura.<br />

consequência, é o princípio básico <strong>da</strong> cura.<br />

Pensei naquela mãe e naquele filho, que àquela hora <strong>de</strong>veriam estar <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> algum <strong>da</strong>queles<br />

lotados ônibus, que chegam e partem para o interior do estado, todo dia.<br />

Pensei que ela não teve suas escolhas, e que não largaria <strong>de</strong> seu expediente ou <strong>de</strong> seu plantão.<br />

Pensei que nesses mesmos últimos 10 anos, sua vi<strong>da</strong> fora muito mais <strong>de</strong>dica<strong>da</strong> a uma causa do<br />

que a minha própria vi<strong>da</strong> havia sido. E que não importaria o quão longe fosse a sua casa, ou<br />

quantas colhera<strong>da</strong>s a menos ela comeria. Ela po<strong>de</strong>ria cruzar comigo a partir <strong>da</strong>quele dia e dizer:<br />

"Doutor, o que você po<strong>de</strong> fazer para aju<strong>da</strong>r meu filho?".<br />

E lembrei, diante <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as limitações que tenho, que ela própria me trazia a resposta: Ela<br />

amava. Ela amava com to<strong>da</strong> a força <strong>de</strong>sse mundo.<br />

E é <strong>de</strong>sse amor, que nasce o compromisso. E <strong>Medicina</strong>, meus amigos, É compromisso.<br />

É aquilo <strong>de</strong> melhor que você po<strong>de</strong> fazer. É a tradução <strong>da</strong>quilo que um poeta dizia, há mais <strong>de</strong> dois<br />

mil anos atrás: "Vós sois Deuses.»<br />

É saber que conhecimento só é sabedoria quando é aplicado. É saber que a sua simples<br />

intenção <strong>de</strong> aju<strong>da</strong>r jamais vai te <strong>de</strong>ixar sozinho, pois você sempre estará acompanhado, a ca<strong>da</strong><br />

momento em que você compartilha o que tem <strong>de</strong> melhor.<br />

momento em que você compartilha o que tem <strong>de</strong> melhor.<br />

. É por isso que acho que as coisas vão <strong>da</strong>r certo. E é a isso que chamo <strong>de</strong> fé.<br />

Tenham fé.<br />

Vocês, meus amigos, são médicos. Carregam consigo todo o amor do mundo. A emoção <strong>de</strong> um<br />

pai e <strong>de</strong> uma mãe, aqui na plateia. Olhem para eles. Olhem nos olhos <strong>de</strong>les. Será que vocês<br />

conseguem sentir o mesmo que eles estão sentindo agora?


Lembrem <strong>da</strong>queles que estão ausentes, especialmente aqueles que vocês têm como exemplo,<br />

pois aí <strong>de</strong>ntro eles estarão vivos, nos melhores momentos <strong>de</strong> suas vi<strong>da</strong>s. Tenham fé.<br />

Lembrem-se <strong>da</strong>queles mestres, pois só quem acredita no ser humano, é capaz <strong>de</strong> compartilhar<br />

sua ciência e sua arte. Eles torcem por nós. Eles vibram conosco. E a eles agra<strong>de</strong>ço por to<strong>da</strong>s as<br />

lições aprendi<strong>da</strong>s, to<strong>da</strong>s as contribuições, humil<strong>de</strong>s ou complexas, durante essa incrível<br />

jorna<strong>da</strong> que foi o curso <strong>de</strong> <strong>Medicina</strong>.<br />

Lembrem-se <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> paciente, <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> história, <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> sorriso <strong>de</strong> criança. Lembrem-se <strong>de</strong> que<br />

nunca estamos sós, e que para escutar a voz quem nos acompanha, é preciso ouvir<br />

atentamente ca<strong>da</strong> mãe aflita, ca<strong>da</strong> pedido <strong>de</strong> aju<strong>da</strong>. É preciso observar ca<strong>da</strong> expressão, ca<strong>da</strong><br />

fala. E mais do que fazer perguntas num Interrogatório Sintomatológico; é preciso ser sensato e<br />

justo com as respostas que obteremos <strong>de</strong>las.<br />

Lembrem-se sempre <strong>de</strong> que nunca estaremos sós. De que temos nossos amigos, nossos<br />

amores. De que fomos e somos fortes, que estivemos à frente, que abrimos caminhos.<br />

Lembrem-se que ao nosso lado caminha um exemplo <strong>de</strong> força, uni<strong>da</strong><strong>de</strong> e conduta, assim como<br />

tem que ser um bom pai; o Professor Gilliatt Falbo. E como tal, tenho a certeza <strong>de</strong> que a porta <strong>da</strong><br />

sua sala sempre estará aberta, para escutar qualquer pedido <strong>de</strong> aju<strong>da</strong> <strong>de</strong> um <strong>de</strong> seus filhos.<br />

Lembrem-se sempre do que é sau<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Lembrem-se que hoje nenhum dos presentes aqui sabia o quão bons médicos seríamos, mas<br />

tal qual uma gestante, que sequer conhece o rosto <strong>de</strong> seu filho, e ain<strong>da</strong> assim, é capaz <strong>de</strong> amá-lo<br />

incondicionalmente; eles também nos amam. E por isso, confiam em nós.<br />

E por fim, lembrem-se sempre que o ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro exercício <strong>de</strong> nossa profissão está representado<br />

no exemplo <strong>da</strong>quela mãe: apenas sossegar a fome, quando nosso filho volta a sorrir.<br />

Uma ótima noite.<br />

Muito obrigado.”

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!