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Leia a íntegra da carta. - CNBB

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CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL<br />

<strong>CNBB</strong> – Regional Norte 2<br />

CARTA ABERTA<br />

“Eu sou o Senhor, que na terra estabeleço<br />

a misericórdia, o direito e a justiça;<br />

porque é disso que eu gosto, diz o Senhor”.<br />

Jr 9,23<br />

Nós, bispos do Pará e Amapá, coordenadores de pastoral e representantes dos<br />

organismos e pastorais que compõem o Regional Norte II <strong>da</strong> Conferência Nacional dos<br />

Bispos do Brasil (<strong>CNBB</strong>), reunidos em Belém na 32ª Assembléia de Pastoral Regional nos<br />

dias 26 a 28 de agosto de 2009, refletimos sobre as CEBs: Comuni<strong>da</strong>de de Vi<strong>da</strong> e<br />

Missão. Com muita esperança constatamos que nossas comuni<strong>da</strong>des estão vivas,<br />

escutam e meditam a Palavra de Deus e, inspira<strong>da</strong>s pelo projeto de Jesus, procuram unir<br />

fé e vi<strong>da</strong> e enfrentar os desafios provenientes <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de peculiar sócio-econômica e<br />

ambiental <strong>da</strong> Amazônia. O desrespeito à natureza e a destruição em curso ameaça a<br />

sobrevivência humana em nossa região. Assim decidimos dirigir-nos aos povos <strong>da</strong><br />

Amazônia para partilhar as angústias que afligem a todos. Destacamos os grandes males<br />

causados pelo modelo de desenvolvimento adotado que privilegia os que detém o poder<br />

político e econômico, sobretudo nos lugares mais longínquos <strong>da</strong> região, deixando a<br />

população à mercê do narcotráfico, e exposta à uma total insegurança. A violência rural e<br />

urbana ceifa diariamente a vi<strong>da</strong> de centenas de inocentes. O povo está sendo vilipendiado<br />

na sua digni<strong>da</strong>de e nos seus mais elementares direitos.<br />

To<strong>da</strong>s essas mazelas vem junto com uma transformação imposta à nossa<br />

socie<strong>da</strong>de em nome de um desenvolvimento que se tornou um desenvolvimentismo<br />

opressor, fazendo ecoar em nossas ci<strong>da</strong>des e nos campos lamentos e clamores dos<br />

povos indígenas, <strong>da</strong>s populações ribeirinhas, dos remanescentes dos quilombos e<br />

também dos migrantes e trabalhadores, muitos deles em condições de escravidão, dos<br />

jovens sem emprego que gritam por socorro. Muitos deles não temem ir à luta para<br />

manifestar sua oposição a projetos faraônicos que destroem o meio ambiente e atentam<br />

contra a vi<strong>da</strong>, sendo porém criminalizados por sua coragem e iniciativa.<br />

Sabemos que ca<strong>da</strong> motosserra que derruba a nossa mata, ca<strong>da</strong> barragem que<br />

represa os nossos rios, ceifa um pouco de vi<strong>da</strong> e destrói esperanças e sonhos de nossa<br />

gente. Interrogamo-nos, ca<strong>da</strong> vez mais, qual será o futuro desta região. Apelamos aos<br />

Trav. Barão do Triunfo, 3151. Marco. Belém - Pará. CEP: 66093-050. Fone: +55 913266-0055. Fax +55 913266-0062.<br />

CNPJ: 33.685.686/0013-94. Inscrição Estadual: Isenta - cnbbn2@cnbbn2.org.br - www.cnbbn2.org.br<br />

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CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL<br />

<strong>CNBB</strong> – Regional Norte 2<br />

responsáveis na política e economia que tomem consciência <strong>da</strong> real situação em que esta<br />

região se encontra e optem por um desenvolvimento que vise uma Amazônia sustentável<br />

e soli<strong>da</strong>riamente compartilha<strong>da</strong>. Continuamos lutando contra um modelo de<br />

desenvolvimento socialmente injusto e ambientalmente degra<strong>da</strong>nte.<br />

Repetimos o que já afirmamos por ocasião do IX Encontro dos Bispos <strong>da</strong> Amazônia<br />

em Manaus (2007): ”O nosso povo é vítima de uma ver<strong>da</strong>deira tirania econômica e<br />

política. Vive com medo, porque depende dos ”empregos“ <strong>da</strong>s Prefeituras“ (n. 57).<br />

Naquele mesmo documento também nos referimos ”ao Estado omisso em manter a<br />

soberania <strong>da</strong> Amazônia, deixando que se transforme num corredor de exportação, de<br />

privatização <strong>da</strong> água, <strong>da</strong> concessão de florestas, <strong>da</strong> exploração de minérios e do<br />

agronegócio“ (n 58). ”O povo está decepcionado, ao perceber que sua participação, que<br />

lhe é pedi<strong>da</strong> na gestão pública, não é respeita<strong>da</strong>“ (61).<br />

Neste momento assistimos com muita preocupação aos trâmites em torno <strong>da</strong><br />

projeta<strong>da</strong> construção <strong>da</strong> Hidrelétrica de Belo Monte. Mais um grande empreendimento<br />

que não leva em conta os ver<strong>da</strong>deiros anseios <strong>da</strong> população e atiça apenas a ambição<br />

<strong>da</strong>queles que apregoam um desenvolvimento que certamente será passageiro e<br />

destruidor. São previstos 1522 km2 de destruição - 516 km2 de área inun<strong>da</strong><strong>da</strong> e 1006<br />

km2 de área que secará com o desvio definitivo <strong>da</strong> Volta Grande do Xingu! Depois do<br />

turbilhão de dez anos de construção, restarão talvez setecentos (700) empregos. Que<br />

desenvolvimento é esse que destrói inescrupulosamente o habitat de povos e famílias, a<br />

flora e a fauna ? Esse mega-projeto, se concretizado, deixará milhares de ”projetos de<br />

vi<strong>da</strong>” atropelados pelo deslocamento compulsório de inúmeras famílias de suas casas e<br />

de suas terras. Como em outros projetos, centenas de infâncias se perderão, vitima<strong>da</strong>s<br />

pela exploração sexual. Milhares de trabalhadores formarão o exército de reserva que se<br />

amontoa em abrigos imundos e desumanos nas circunvizinhanças dos canteiros de<br />

obras. Os povos indígenas e comuni<strong>da</strong>des tradicionais, secularmente perseguidos e<br />

dizimados, receberão o golpe fatal perdendo seus territórios e recursos naturais – e<br />

sobretudo a terra queri<strong>da</strong> de seus ritos e mitos, onde sepultaram os seus ancestrais.<br />

Ressoa aos nossos ouvidos o grito de um índio Kayapó: “O que será de nossas crianças!”<br />

Primeiro, Tocantins, Araguaia... Depois, Uatumã, Madeira, Xingu... Na sequência, Tapajós<br />

e Trombetas... A bacia amazônica, a maior reserva de água doce e de vi<strong>da</strong> do planeta,<br />

penosamente dilacera<strong>da</strong> pelo represamento dos rios, pelo aço<strong>da</strong>mento desenfreado <strong>da</strong><br />

busca de riqueza e desenvolvimento a qualquer preço, sob os olhos e o patrocínio dos<br />

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Trav. Barão do Triunfo, 3151. Marco. Belém - Pará. CEP: 66093-050. Fone: +55 913266-0055. Fax +55 913266-0062.<br />

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CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL<br />

<strong>CNBB</strong> – Regional Norte 2<br />

poderes públicos constituídos que governam, <strong>da</strong>ndo as costas aos legítimos anseios do<br />

povo e privilegiando uma minoria que sonha auferir polpu<strong>da</strong>s riquezas com a realização<br />

de um projeto insano.<br />

Não podemos nos calar diante <strong>da</strong> ameaça que paira sobre a vi<strong>da</strong> de nossos irmãos<br />

e irmãs e diante <strong>da</strong> imprevidência e <strong>da</strong> imprevisibili<strong>da</strong>de que predominam nestes projetos,<br />

diante <strong>da</strong> desinformação que parece acalentar o silêncio de nossa socie<strong>da</strong>de sobre ações<br />

e projetos de tamanha gravi<strong>da</strong>de.<br />

Motivados pelo espírito profético de Jesus e solidários com nosso povo que não é<br />

ouvido rogamos ao Deus <strong>da</strong> Justiça que nos dê coragem e firmeza para nunca<br />

desistirmos de nossa missão.<br />

Cremos que o Projeto de Deus de comunhão e participação continua vivo em<br />

nossas Comuni<strong>da</strong>des Eclesiais de Base.<br />

Pedimos a Nossa Senhora de Nazaré que interce<strong>da</strong> por seu Povo.<br />

Belém, 28 de agosto de 2009<br />

Trav. Barão do Triunfo, 3151. Marco. Belém - Pará. CEP: 66093-050. Fone: +55 913266-0055. Fax +55 913266-0062.<br />

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