reflexão sobre os textos bíblicos proclamados na liturgia - CNBB

QUINTA FEIRA DA XXIX SEMANA DO TC - 21.10.10
Diante da enorme missão que lhe fora confiada, o Apóstolo Paulo prostra-se diante de
Deus e lhe dirige seu louvor e agradecimento: “Dobro os joelhos diante do Pai, de
quem toda e qualquer família recebe seu nome, no céu e sobre a terra” (Ef 3,14).
Somente por meio de Jesus Cristo é que nos tornamos verdadeiramente filhos de Deus e
dele recebemos o nome.
“Que ele vos conceda, segundo a riqueza de sua glória, serdes robustecidos, por seu
Espírito, quanto ao homem interior, que ele faça habitar, pela fé, Cristo em vossos
corações, que estejais enraizados e fundados no amor” (Ef 3, 16-17). Assim como
rezou em favor dos cristãos de Éfeso, o Apóstolo Paulo implore ao Pai que nos
reconforte e fortaleça com seu Espírito, a fim de que Cristo possa verdadeiramente
habitar em nossas mentes e em nossos corações.
“Teremos assim a capacidade de compreender, com todos os santos, qual a largura, o
comprimento, a altura, a profundidade, e de conhecer o amor de Cristo, que ultrapassa
todo o conhecimento, a fim de que sejamos cumulados, até receber toda a plenitude de
Deus” (cf. Ef 3, 18-19). Na filosofia estóica os termos largura, comprimento, altura e
profundidade exprimem a totalidade do universo. É possível que aqui estes termos
tenham sido utilizados para designar a extensão universal do amor de Cristo. Segundo
Paulo, a experiência do amor de Deus, manifestado na pessoa de Cristo, ultrapassa
infinitamente qualquer conhecimento humano. Somente quem crê é capaz de conhecer a
fundo o amor de Deus e seu poder transformador.
No Evangelho há pouco proclamado, encontramos uma série de ditos originariamente
independentes, mas, por associação, foram aqui reunidos. Esses versículos nos
permitem descobrir a profundidade do ânimo de Jesus que nos fala de sua missão:
“Eu vim para lançar fogo sobre a terra, e como gostaria que já estivesse aceso!” (Lc
12, 49). O fogo é frequentemente uma imagem do juízo. Aqui parece que seja o fogo
que separará e purificará aqueles que são destinados ao reino. Ele atuará por meio da
palavra de Jesus e por seu Espírito. A imagem do fogo, certamente, leva Lucas a pensar
também no dom do Espírito que move o cristão a se decidir por Jesus Cristo.
Comentando esta palavra, diz Santo Ambrósio: “Certamente, não se trata de fogo que
consome os bons, mas do fogo que suscita a boa vontade, que torna melhores os vasos
de ouro da casa do Senhor, consumindo o feno e a palha. Esse fogo divino devora todas
as coisas do mundo acumuladas pela volúpia, queima as obras efêmeras da carne, e é o
mesmo que inflamava os ossos dos profetas, como diz o santo Jeremias (Jr 20,9)” (In
Luc., 7,132).
Jesus acrescenta: “Devo receber um batismo, e como estou ansioso até que isso se
cumpra!” (Lc 3, 50). Ele se refere à sua iminente paixão, na qual será imerso. Essa
imagem indica a profundidade da tristeza e dos sofrimentos que o esperam. Diz
Tertuliano: “Ele veio, como escreve João, para ser batizado com a água e o sangue.
Com a água para lavar-se, com o sangue para ser glorificado. E, depois, para fazer de
nós os chamados com a água e os eleitos com o sangue” (De Baptismo, XVI, 1-10).
“Vós pensais que eu vim trazer a paz sobre a terra? Pelo contrário, eu vos digo,vim
trazer a divisão” (Lc 12, 51). Esta palavra de Jesus não está em contradição com o que
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ele mesmo diz em outras passagens. Porém nos indica que Jesus não quer a paz a
qualquer preço. Sua afirmação tem certo tom de ironia. Ele não vem trazer a
tanquilidade do status quo, mas a espada que divide os inquietos dos que estão
acomodados: “Daqui em diante, numa família de cinco pessoas, três ficarão dividias
contra duas e duas contra três; ficarão divididos o pai contra o filho e o filho contra o
pai; a mãe contra a filha e a filha contra a mãe; a sogra contra a nora e a nora contra
a sogra” (Lc3, 52-53).
A Eucaristia que celebramos nos leve assumir sempre mais firmemente nossa opção
clara e definitiva por Jesus Cristo, mesmo que isso exija de nós rupturas até dos
profundos vínculos de sangue e de parentesco.
“Àquele que tudo pode realizar superabundantemente, e muito mais do que nós pedimos
ou concebemos, e cujo poder atua em nós, a ele glória, na Igreja e em Jesus Cristo, por
todas as gerações, para sempre. Amém” (Ef 3, 20-21).
Homilia de Dom Geraldo Lyrio Rocha, por ocasião da reunião do Conselho Permanente
da CNBB, em Brasília, aos 21de outubro de 2010.
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