A representação das mulheres na literatura maldita ... - Itaporanga.net

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12 podem praticar libertinagem violenta porque sua relação com o outro é mediada por sentimentos como a piedade e o amor ao próximo. (p. 222-223) Finalmente, então, Justine e Juliette, separadas pela vida e pelo caráter, encontram-se anos mais tarde, uma rica e a outra sendo condenada ao patíbulo. Juliette, já com trinta anos, sentindo pena da pobre criatura, pede para que fique aos seus cuidados. Sem se reconhecerem à primeira vista, Justine, ao encontrar a Condessa de Lorsange (Juliette), sua irmã, e omitindo o próprio nome para não expor a família à vergonha, narra toda a história de sua vida cheia de infortúnios, toda sua jornada de sofrimentos, desgraças, humilhações, mas, também, de esperanças. Morre, logo após algum tempo, quando ia à missa, atingida por um raio que a rompe da boca ao ânus, deixando-a desfigurada. Quanto ao destino de Juliette, depois dos crimes e devassidões praticados, a mulher mundana é corrigida pelo tempo, se arrependendo de seus crimes, termina na ordem das carmelitas, tornando-se modelo e exemplo de bondade e piedade. Considerações Finais Como foi problematizado, há, na literatura de Sade, uma relação de subordinação entre o virtuoso e o sádico, rejeitando, ao mesmo tempo, a filosofia dos teólogos cristãos e a teoria dos bons sentimentos. As heroínas presentes em seus romances ora são punidas por serem “corretas”, “virtuosas”, ora são recompensadas por serem “libertinas”, “malvadas”. Em Sade a transgressão sexual ganha destaque. Alguns pesquisadores e autores, entretanto, o considera um dos pioneiros da revolução sexual, no sentido de que seus escritos apresentam idéias libertárias e permissivas em relação à vivência sexual, como o homoerotismo, e a defesa da existência de diferentes condições e práticas sexuais para a humanidade. Quanto às feministas contemporâneas, segundo Welldon (2005), apresentam reações bem contrárias diante das idéias de Sade. Algumas o consideram um “monstro” sádico e pornográfico que retrata as mulheres como objeto de total desprezo, e outras elogiam sua obra, por defender a liberdade sexual para ambos os sexos. De acordo com
estas últimas, Sade se recusa a significar as mulheres apenas como máquinas de reprodução humana, lhes dando a liberdade de se tornarem seres sexuais. Concluindo, o sexo reinscrito, subversivo, o discurso ilícito presente em suas obras, significava que não havia no espírito de Sade a interdição, a normatização, de certas palavras e/ou práticas sexuais. Não havia a censura do vocabulário. Havia, sim, o extenso e minucioso detalhamento da prática sexual, a descrição das mais estranhas, consideradas bizarras e fora das normas, práticas sexuais. Referências BORGES, Contador. Tradução, posfácio e notas. In: SADE, Marquês de. A Filosofia na Alcova, ou Os Preceptores Imorais. 3 ed. São Paulo: Iluminuras, 2003. GAY, Peter. O Cultivo do Ódio. A experiência burguesa da Rainha Vitória e Freud. v. 3. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. LA MATTRIE. O Homem-Máquina. Lisboa: Editorial Estampa, 1982. SADE, Marquês de. A Filosofia na Alcova, ou Os Preceptores Imorais. 3 ed. São Paulo: Iluminuras, 2003. ____. Justine, ou os Infortúnios da Virtude. São Paulo: Europa-América, 2003. WELLDON, Estela V. Sadomasoquismo. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2005. 13
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