Gestão por processos - Artigo Científico
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RESUMO<br />
GESTÃO DO CONHECIMENTO E INOVAÇÃO: UMA QUESTÃO<br />
ESTRATÉGICA NA ADMINISTRAÇÃO POR PROCESSOS<br />
Robson Freire 1 – rbnfreire@yahoo.com.br<br />
Rogério de Jesus Freire 2 - rogerior2000@yahoo.com.br<br />
Num contexto em que as análises econômicas são cada vez mais subjetivas, os sistemas<br />
organizacionais estão cedendo espaço para estruturas mais flexíveis, altamente adaptativas.<br />
Este estudo focaliza uma revisão conceitual relacionada à temática da gestão do<br />
conhecimento, gestão <strong>por</strong> <strong>processos</strong> e a prática sistemática da inovação como maneira de<br />
impactar positivamente as organizações de trabalho. Como conclusão, argumenta-se que nas<br />
organizações orientadas <strong>por</strong> <strong>processos</strong>, uma força significativa está na gestão do<br />
conhecimento <strong>por</strong> contribuir para a obtenção do diferencial competitivo e agregação de valor<br />
que beneficiam a inovação e o aprendizado contínuo, reconhecidamente promotor da melhoria<br />
de desempenho e perenização das instituições.<br />
Palavras-Chave: <strong>Gestão</strong> do Conhecimento. Inovação. <strong>Gestão</strong> <strong>por</strong> Processo.<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
O momento atual de alta competitividade e complexidade têm criado um hiato entre as<br />
organizações da velha e nova economia. As rápidas mudanças caracterizam-se <strong>por</strong> um cenário<br />
de não-linearidade e imprevisibilidade. Uma das variáveis é que o tempo tem sido<br />
simultaneamente, o vilão e o propulsor de uma série de fatos responsáveis pela ascensão e<br />
declínio de inúmeras organizações de trabalho. Tais determinantes desse novo sistema de<br />
criação de riquezas são dotadas de uma cadência e dinamicidade na qual a sociedade e o ser<br />
humano ainda não se acostumaram e procuram se adaptar.<br />
Para compreender o que se passa Toffler (1980), autor de “A Terceira Onda” esclarece que<br />
esses períodos de tempo tendem a tornarem-se cada vez menores. Com efeito, a invenção da<br />
agricultura impulsionou a Primeira Onda que foi hegemônica <strong>por</strong> aproximadamente 6000 mil<br />
anos. Nesse período, a terra foi a grande fonte de poder e riqueza. A Revolução Industrial que<br />
tinha o capital e os meios de produção como fonte de poder impeliu a Segunda Onda, que<br />
durou um tempo inferior à Primeira. Foram cerca de 300 anos de uma lógica de metamorfose<br />
do mundo de mercadorias e de produção, de uma sociedade de massa que tinha como eco a<br />
equivalência na distribuição de massa, consumo, educação e comunicação de massa, onde o<br />
princípio governante era a homogeneidade.<br />
Para compreender a complexidade das transformações ocorridas no mundo, nesta fase, tomarse-á<br />
como exemplo as alterações ocorridas nas grandes indústrias de automóvel de classe<br />
mundial. Na visão de Kotler (1998), sobre o desempenho organizacional, a Era Industrial<br />
1 Mestrando em Administração de Empresas (Univali), Especialistas em Marketing e Recursos Humanos<br />
(UFSC) e Administrador de Empresas (ICÉS).<br />
2 Professor nos cursos de Administração de Empresas e Bacharelado em Sistemas de Informação da FACITEC,<br />
Especialista em Gerenciamento de Projetos e Administrador de Empresas.<br />
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teve seu apogeu na década de 1920, com Henry Ford e a produção do seu antológico<br />
automóvel preto Modelo T. Nos anos 50, a General Motors (GM) que insistia em produzir<br />
grandes automóveis, foi surpreendida pela Volkswagen que passou a produzir carros menores.<br />
Posteriormente, uma nova onda tomou conta do mundo industrial e os equipamentos passaram<br />
a ser o principal ativo das organizações. Porém, o foco para se vislumbrar os negócios, ainda<br />
se concentrava basicamente no processamento de recursos físicos para criar produtos<br />
tangíveis. Num quadro de constantes transformações, nos anos 80, os japoneses preocupados<br />
com a qualidade responderam com carros mais seguros e confortáveis.<br />
De certa forma, a globalização, conjugada com a recessão mundial daquela época, levou as<br />
grandes empresas e multinacionais a rever seus negócios, com o objetivo de alcançar a maior<br />
eficiência e melhores resultados. Isso, aliás, explica a adoção de estratégias que teve o<br />
atendimento das expectativas do cliente como um dos grandes objetivos, sendo o aumento da<br />
qualidade e flexibilidade de produtos e serviços o principal meio para tal.<br />
Esse desafio empresarial motivou diferentes iniciativas: a que mais se destacou foi à<br />
estruturação de diversas técnicas de qualidade aplicadas pelas indústrias japonesas, resultando<br />
no (total quality management – TQM). O conceito de TQM encorajou as empresas na<br />
concentração da análise crítica de seus <strong>processos</strong>, produtos e serviços a fim de identificar cada<br />
um dos pequenos pontos de melhoria possíveis. Um dos conceitos <strong>por</strong> trás da busca<br />
incessante pelo aumento da qualidade é o princípio Kaizem, e sua lógica supõe que nada se<br />
apresenta no estado de plena perfeição, cabendo considerar a busca de melhoria<br />
continuamente (DE SORDI, 2005).<br />
Nos anos 90, com o fim da Guerra Fria, a abertura dos mercados e a competição cada vez<br />
mais acirrada, a tecnologia ditou o ritmo frenético da evolução na sociedade. Diante deste<br />
cenário, a Terceira Onda, chamada Onda da Informação e/ou do Conhecimento, como alguns<br />
autores (Toffler, 1980; Drucker, 1999; 2002) preferem afirmar varreu a sociedade<br />
mundializada causando transformações sociais e, tecnológicas verdadeiramente impactantes.<br />
Nessa onda o princípio governante, ao contrário da segunda, é a heterogenia, caracterizada<br />
pela manufatura desmassificada que é constituída <strong>por</strong> pequenas levas de produção, fábricas<br />
flexíveis e que deu grande valor a outros elementos, como recursos primários: a capacidade<br />
intelectual, criatividade inovadora e qualificações rapidamente aprendidas.<br />
Desde então, em face da competitividade deste momento de transição, é praticamente<br />
impossível que as empresas tradicionais – da velha economia manufatureira - ou não,<br />
permaneçam imersas num estado estacionário, mesmo obtendo sucesso, em contraste com o<br />
movimento progressivo de modificação.<br />
Essa nova maneira de ver o mundo tem exigido que as organizações, segundo De Sordi<br />
(2005), estejam à mercê de um novo redesenho que se caracteriza <strong>por</strong> transformações nas<br />
estruturas hierarquizadas, de controle-comando e músculos para um sistema de gestão <strong>por</strong><br />
<strong>processos</strong> que reduz os níveis de decisão na empresa; coloca os principais executivos mais<br />
perto do consumidor e permite que o fluxo de valor seja orientado para as expectativas do<br />
cliente.<br />
A partir dessas constatações parece resultar a obtenção de um modelo de negócio ágil e dentro<br />
dos padrões de mercado, far-se-á a renovação constante da realização de ciclos mirabolantes<br />
na busca de resultados favoráveis. Nesse contexto, as análises econômicas são cada vez mais<br />
subjetivas, os sistemas organizacionais cedem espaço a estruturas mais flexíveis: altamente<br />
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adaptativas dotadas de visão holística, de um novo estilo gerencial, de conhecimentos<br />
compartilhados e modelos mentais questionados constantemente, que tem <strong>por</strong> objetivo<br />
responder de forma eficaz às mudanças.<br />
Ao considerar a gestão do conhecimento e a inovação como uma questão estratégica na<br />
administração <strong>por</strong> <strong>processos</strong> e sobrevivência organizacional, este estudo visa compreender e<br />
analisar suas inter-relações.<br />
2 GESTÃO DO CONHECIMENTO E GESTÃO POR PROCESSO<br />
A palavra “gestão” tem sido usada freqüentemente e muitas vezes confundida com<br />
gerenciamento. Em face de uma diversidade de conceitos, o termo “gerenciamento” diz<br />
respeito às funções de monitoramento e controle do recurso gerenciado. Porém, “gestão”<br />
envolve analisar situações, estudar possibilidades, fazer escolhas e implementá-las.<br />
De Sordi (2005, p. 23) argumenta que a “gestão é mais abrangente e compreende:<br />
planejamento, projeto, construção, implementação, utilização, monitoramento, identificação<br />
de melhorias e realização de ajustes”. De fato, a gestão do conhecimento implica o empenho<br />
com as fases do recurso, não apenas tangíveis que estão sendo gerenciados, mas abarca todo o<br />
seu ciclo de vida. Depois da afirmação acima, surge a questão: o que é conhecimento? A esse<br />
respeito, a filosofia ocidental assegura que conhecimento é a crença verdadeira justificada<br />
(NONAKA E TAKEUCHI, 1997).<br />
Morin (2000, p. 53), “o conhecimento é sempre tradução e reconstrução do mundo exterior e<br />
permite um ponto de vista crítico sobre o próprio conhecimento”. Assim, construir<br />
conhecimento é fazer deste ato; ação e não só recepção. Para que isso aconteça é necessário<br />
um processamento de informações, a capacidade de adaptação a situações diferentes, a<br />
resolução de problemas, a percepção do mundo e de nós mesmos. É preciso de início,<br />
considerar com atenção que a cognição está sempre relacionada à prática, pois ela está a<br />
serviço da vida. Conforme essa rápida análise, afirma-se que a cognição é a capacidade de<br />
construir e dar significado ao conhecimento, apropriando-se dele.<br />
Ao contrário do que se declara correntemente, e do que já foi dito pelo senso comum, o<br />
educador e pedagogo Paulo Freire (1996, p. 52), adverte que o saber não pode ser transmitido.<br />
“Ensinar não é transferir conhecimentos, mas criar as possibilidades para a sua própria<br />
produção [...]”. Com base nessa afirmação, acredita-se que o conhecimento se desenvolva<br />
internamente, apesar de alguns autores utilizarem a expressão produção do conhecimento.<br />
Segundo Daven<strong>por</strong>t (1998), o conhecimento é a informação mais valiosa [...], <strong>por</strong>que alguém<br />
deu a ela um contexto, um significado, uma interpretação. Isso mostra que a informação<br />
transcende para conhecimento à medida que é processada e aplicada pelos indivíduos. Em<br />
conseqüência, o valor agregado à informação depende de conhecimentos anteriores de cada<br />
pessoa. Dito de outra forma, o conhecimento de cada indivíduo é o resultado também de suas<br />
perturbações internas associadas ao seu mundo representacional e ao seu modelo mental i , que<br />
inclui suas memórias de fatos vivenciados e de ações que buscam responder a algumas<br />
estratégias definidas <strong>por</strong> seus objetivos. É o<strong>por</strong>tuno acrescentar, que no encontro com o outro,<br />
desenvolve-se a comunicação e também o conhecimento.<br />
A criação do conhecimento, quando aplicada às empresas traz algumas vantagens como forma<br />
de possibilitar: a rápida distribuição do conhecimento, o aumento do conhecimento coletivo, a<br />
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diminuição dos tempos de espera e profissionais mais produtivos. Cria-se uma cultura de<br />
reaproveitar a receita, <strong>por</strong> meio da formalização de <strong>processos</strong>, registros de decisões e<br />
caminhos (STEWART, 1998). As "empresas criadoras de conhecimento" seriam, pois,<br />
aquelas que criam, sistematicamente, novos conhecimentos, se encarregam de disseminá-los<br />
pela organização inteira que, rapidamente, os incor<strong>por</strong>am às novas tecnologias e produtos<br />
(TERRA, 1999).<br />
Nonaka e Takeuchi (1997) reforçam que a criação do conhecimento está ancorada no<br />
im<strong>por</strong>tante pressuposto de que o conhecimento humano se desenvolve e é expandido <strong>por</strong> meio<br />
da interação social entre conhecimento tácito e conhecimento explicito ii . Em outras palavras,<br />
palpites, percepções, modelos mentais, crenças e experiências são convertidos em algo que<br />
pode ser comunicado e transmitidos <strong>por</strong> meio da linguagem formal e sistêmica. Esse<br />
compartilhamento de significados, na visão de Zanelli (2006) é resultante do processo de<br />
socialização que cria um sentimento de identidade e homogeneidade, de tal forma que os<br />
pressupostos ou valores tornam-se modelos mentais predominantes que influenciam o modo<br />
de perceber e agir das pessoas. Configurando-se no que se entende <strong>por</strong> cultura. Essa cultura é<br />
disseminada <strong>por</strong> partes interdependentes das organizações sociais, seja ela qual for:<br />
comunidade, família ou de trabalho, ocorrendo uma constante interação num processo de ação<br />
e reação, de mútua influência, que se dá <strong>por</strong> meio de relações formais e informais. Convém<br />
acrescentar, que quanto mais a cultura for cristalizada e arraigada, mais difícil será sua<br />
modificação e ruptura.<br />
Todavia, a relevância atribuída ao conhecimento dentro das empresas tem sido objeto de<br />
interesse de vários teóricos da literatura especializada (NONAKA E TAKEUCHI, 1998;<br />
DAVENPORT, 1998; STEWART, 1998; SENGE, 2000; DRUCKER, 1999; 2002). Desde<br />
que Drucker criou o termo “trabalhador do conhecimento” em 1969, na sua obra The age of<br />
discontinuit, as mudanças e desafios têm sido no sentido de orquestrar novos padrões para<br />
sobrevivência e continuidade, bem como aperfeiçoar as ferramentas de gerenciamento em<br />
função desse recurso, considerado <strong>por</strong> Nonaka e Takeuchi (1997), como o único e<br />
significativo.<br />
Esse novo momento da economia tem recebido vários nomes: era “Pós-Industrial”,<br />
“sociedade do conhecimento” e até “era virtual”. Apesar das diversas nomenclaturas, essa<br />
nova visão de mundo apresenta características distintas da velha economia, dentre elas: os<br />
clientes, e não os executivos dirigem o negócio; o conhecimento é um recurso estratégico tão<br />
im<strong>por</strong>tante quanto o capital da empresa; a teleinformática e a democracia tornaram a<br />
geografia menos restritiva do ponto de vista do negócio (TARGOWSKI; CAREY, 2000; DE<br />
SORDI, 2005).<br />
De fato, no contexto atual, a informação e o conhecimento formam o mais útil e aplicado<br />
binômio das técnicas de gestão. O que se percebe, de acordo com (Drucker, 1999), é que os<br />
ativos intangíveis, informação e conhecimento, também passaram a ser considerados fonte de<br />
recursos e competitividade organizacionais. Há que reconhecer, entretanto, que na realidade o<br />
conhecimento é o uso do fluxo de informação no processo gerencial.<br />
Drucker (2002), ao considerar as fases do conhecimento: a Revolução Industrial, a Revolução<br />
da Produtividade e a Revolução da Administração chamam atenção especial para a mudança<br />
fundamental no significado do conhecimento. Ressalta que passamos do conhecimento no<br />
singular para o conhecimento plural. Dentro desse novo contexto, o sucesso das organizações<br />
está conectado às suas capacidades intelectuais e holísticas e não apenas a ativos físicos, onde<br />
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a capacidade de gerenciar o potencial humano transforma-se em habilidade executiva<br />
essencial (VIDIGAL, 2003). Além disso, a autora acrescenta que as organizações precisam<br />
ser vistas como relações criativas, estruturas fluidas, como fonte de geração de idéias e não de<br />
controle. Neste enfoque, Angeloni et al., citado <strong>por</strong> Angeloni, (2002, p. 76) argumenta que o<br />
que se busca é descobrir novos modelos com a finalidade de realizar o trabalho operacional e<br />
cotidiano, ao mesmo tempo, de forma criativa e capaz de gerar inovação. A respeito de todos<br />
esses fatores, a gestão <strong>por</strong> <strong>processos</strong> é apontada como uma metodologia capaz de satisfazer<br />
tais requisitos.<br />
Vista inicialmente como apenas um procedimento para melhorar o desempenho<br />
organizacional, a <strong>Gestão</strong> <strong>por</strong> Processos, tem como cerne a reunião de tarefas ou atividades<br />
isoladas. O seu escopo está em reinventar os <strong>processos</strong> empresariais a fim de criar mais valor<br />
para o cliente. Em outras palavras, uma organização voltada para <strong>processos</strong> busca ampliar o<br />
horizonte de visão dos atores sociais que a compõem pro<strong>por</strong>cionando-lhes enxergar <strong>por</strong> meio<br />
de um novo viés, com foco abrangente, não apenas parte do processo, e sim, o todo. “A<br />
im<strong>por</strong>tância dos <strong>processos</strong> de trabalho aumenta na medida em que as empresas ficam com o<br />
conteúdo cada vez mais intelectual afastando-se do modelo fabril (GONÇALVES, 1992)”.<br />
A prática da gestão do conhecimento ou knowledge management (KM) está relacionada com a<br />
forma de atender a uma pluralidade de objetivos organizacionais. Um dos grandes benefícios<br />
é explicitar os conhecimentos tácitos empregados na operação de determinado processo,<br />
tornando-o posse da organização. Pode-se afirmar que a gestão do conhecimento sugere um<br />
processo de negócios mais eficiente, uma vez que a captura do que há de melhor em termos<br />
de conhecimento prático, compreende a disseminação, aplicação e adequação constante dos<br />
ativos envolvidos na operação e gestão <strong>por</strong> processo. No entanto, a criação do conhecimento<br />
seria impraticável sem a diversidade de experiências individuais. Mas o seu compartilhamento<br />
com os outros, é condição sine qua non para que o conhecimento se dissemine como<br />
sentencia Nonaka e Takeuchi, (1997), “em espiral”. Esse processo em espiral que ocorre em<br />
diferentes níveis ontológicos é uma das chaves para a compreensão da criação do<br />
conhecimento organizacional. Por sua vez, a capacidade da organização em realizar a gestão<br />
do conhecimento, relativa a cada um dos recursos do processo, torna-se apta a evoluir e<br />
aperfeiçoar os próprios <strong>processos</strong> de negócios. Esse acúmulo de conhecimentos, se capturados<br />
e compartilhados com a organização, pro<strong>por</strong>cionam o aprimoramento de todos os demais<br />
ativos do processo (DE SORDI, 2005; NONAKA e TAKEUCHI, 1997).<br />
Entende-se que este conjunto de aptidões e tecnologias, definido como competências<br />
essenciais, de alguma maneira sofrem ajustes pelos dirigentes e colaboradores, permitindo à<br />
organização oferecer aos seus clientes ou usuários o que tem de melhor, implicando,<br />
consequentemente, na geração de valor e vantagem competitiva. Tais condutas têm valor<br />
estratégico, pois estimulam, não só, a aprendizagem, como também, criam o<strong>por</strong>tunidade de<br />
comprometimento e coesão dos atores sociais no ambiente de trabalho (ZANELLI, 2006).<br />
Tal propensão também poderá se caracterizar como uma inovação, como será abordada a<br />
seguir.<br />
3 INOVAÇÃO<br />
A mudança poderá ser a grande certeza em um cenário de imprevisibilidade e complexidade<br />
da nova economia. O avanço tecnológico é o responsável pela caracterização da mudança de<br />
um estado não-linear, onde o tempo se esgota rapidamente. Grande parte dessas<br />
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transformações exigirá o desenvolvimento de novas habilidades das organizações, bem como,<br />
dos atores que a compõem a fim de enxergarem além do horizonte sujeito a mutação.<br />
As mudanças, de uma maneira ampla, ocorrem em virtude dos fatores internos e externos às<br />
organizações que afetam o seu funcionamento, tanto pelos indivíduos como pelas<br />
circunstâncias ambientais. Por essa ótica, Feuerschütte (1997) menciona em seus estudos que<br />
a mudança desenvolve-se sob a orientação de paradigmas mecanicistas, que destacam a<br />
tecnologia, o tamanho e a estrutura da organização em termos da sua configuração diante das<br />
pressões mais imediatas do ambiente. Tais fatos desencadeiam mudanças nas organizações,<br />
que podem influenciar os indivíduos e os grupos na alteração de determinadas dimensões da<br />
estrutura organizacional. Portanto, a mudança deve ser vista como um processo complexo em<br />
que todos desempenham sua parte em função da percepção diferenciada, pela busca <strong>por</strong><br />
eficiência e poder, pelas habilidades de liderança, pela duração das mudanças e <strong>por</strong> <strong>processos</strong><br />
sutis que gradativamente, preparam o momento propício de apoio para a mudança e, então,<br />
sua implementação.<br />
Na opinião de Pettigrew (1987) sobre a tomada de decisão e mudança estratégica, deve-se<br />
desenvolver a interação contínua entre idéias, sugerindo que a mudança seja estudada nas<br />
dimensões do processo, do contexto e do conteúdo da mudança. O processo de mudança<br />
refere-se às ações, reações e interações das várias partes interessadas, à medida que elas<br />
buscam mudar através do tempo. O contexto externo da mudança refere-se ao ambiente<br />
social, econômico, político e competitivo no qual a organização atua. O contexto interno da<br />
mudança refere-se a estrutura cultural cor<strong>por</strong>ativa e ao contexto político dentro da<br />
organização, <strong>por</strong> meio dos quais as idéias sobre a mudança devem agir. O conteúdo da<br />
mudança refere-se às áreas particulares de transformação que estão sendo examinadas. Dessa<br />
forma, a organização poderá buscar a mudança, a tecnologia, a mão-de-obra, os produtos e o<br />
posicionamento geográfico.<br />
HAMEL (2005, p. 76) observa que alguns dos desafios fundamentais para que as<br />
organizações se atualizem são: acreditar que todas as estratégias são tem<strong>por</strong>árias e, livrar-se<br />
dos que filtram a realidade, <strong>por</strong> estarem preocupados mais com a autoproteção; enxergar o<br />
horizonte sempre um pouco mais à frente e <strong>por</strong> último, multiplicar as opções antes da tomada<br />
de decisão. Acresce a isso, a identificação de maneiras para minimizar as expectativas quanto<br />
às mudanças, respeitando o processo e seus agentes envolvidos, reduzindo as angústias no<br />
enfrentamento dos conflitos que afetam os indivíduos e serão condicionantes para o sucesso.<br />
Embora, a mudança seja a grande certeza nos dias atuais, avalia-se que a inovação é<br />
compreendida <strong>por</strong> muitos, no meio empresarial, como forma ativa de melhoramento e<br />
modernização dos <strong>processos</strong> utilizando equilibradamente os recursos, buscando descobrir<br />
novos segmentos. No entanto faz-se necessário diferenciar mudança e inovação. Segundo<br />
Zaltman & Dducan citado <strong>por</strong> Faria e Meneghetti (2001), a inovação é o objeto da mudança.<br />
E mudança é uma alteração de um sistema que requer ou pode ser requerida, sobre parte dos<br />
atores sociais, em resposta a uma dada situação. No entanto, toda inovação implica em<br />
mudança, mas nem toda mudança envolve inovação, a não ser que seja percebida com algo<br />
novo.<br />
A inovação pode ser definida como “qualquer idéia, prática ou aparato material que se<br />
percebe como novo pela unidade pertinente de adoção” (Zaltman et. al., 1973. p. 10). Daft a<br />
define como “a adoção de uma idéia ou com<strong>por</strong>tamento que é novo para a indústria, mercado<br />
ou entorno geral da organização” (1989, p. 267). Outros autores a definem como a adoção de<br />
mecanismos, políticas, programas, <strong>processos</strong>, produtos e serviços, gerados internamente ou<br />
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comprados, que são novos para a organização (Daft, 1982; Damanpour e Evan, 1984;<br />
Zaltman, et. al., 1973). O conceito tem sido caracterizado <strong>por</strong> uma falta de consenso em seu<br />
significado (Muñoz, 2001; Rowe e Boise, 1974; Wolfe, 1994), devido também a ser um termo<br />
amplamente usado e definido de forma variada com o objetivo de refletir requisitos e<br />
características particulares de cada estudo específico (Damanpour e Evan, 1984, p. 392).<br />
Dentre as múltiplas definições aceitas compreende-se que a inovação está relacionada com<br />
descoberta, com a maneira de produzir um novo modo, ou melhor, para executar práticas,<br />
produtos, aplicações, <strong>processos</strong> ou sistemas. Para Mohrman e Mohrman (1995), a inovação é<br />
um procedimento criativo de ver novo aproveitamento para o conhecimento existente,<br />
combinar pequenos fragmentos de conhecimento para criar uma nova habilidade ou<br />
“inventar” novas soluções. Por outro lado, os autores advertem que as organizações<br />
administradas pelo sistema altamente hierarquizado de comando-controle é um verdadeiro<br />
antídoto à inovação. Embora, a crença seja que <strong>por</strong> trás da inovação sempre exista um<br />
inventor, a realidade refletida demonstra o contrário, <strong>por</strong>que, como explica Pinchot (1989), a<br />
inovação não quer dizer invenção. No processo de inovação está envolvido um grande<br />
número de pessoas que vai desde a criação até a implementação da idéia. É, <strong>por</strong>tanto lícito,<br />
afirmar que a prática da inovação não se trata de mero acaso ou de apenas idéias brilhantes. A<br />
intencionalidade faz parte desse exercício que resulta de trabalho de análise, árduo e<br />
sistemático.<br />
O papel da inovação organizacional é ressaltado <strong>por</strong> Lam (2005): "os economistas supõem<br />
que a mudança organizacional é uma resposta a uma mudança técnica, quando de fato a<br />
inovação organizacional poderia ser uma condição necessária para a inovação técnica." As<br />
inovações organizacionais não são apenas fatores de apoio para as inovações de produto e<br />
processo; elas podem ter um impacto im<strong>por</strong>tante sobre o desempenho da empresa. Inovações<br />
organizacionais podem melhorar também a qualidade e a eficiência do trabalho, acentuar a<br />
troca de informações e refinar a capacidade empresarial de aprender e utilizar conhecimentos<br />
e tecnologias. Uma visão "baseada em conhecimento" concentra-se nos <strong>processos</strong> interativos<br />
<strong>por</strong> meio do qual o conhecimento é criado e trocado dentro das empresas e entre empresas e<br />
outras organizações.<br />
O valor do conhecimento revela-se nos resultados econômicos. Para Stewart (1998), o valor<br />
de uma empresa é determinado mais pelo seu capital intelectual do que <strong>por</strong> seu capital<br />
financeiro. Alguns autores calculam que 2/3 dos resultados financeiros de uma empresa são<br />
devidos ao Capital Intelectual. Segundo Stewart (1998), Capital Intelectual é a soma de três<br />
capitais: 1) Capital humano: inclui conhecimento e competências individuais dos funcionários<br />
(refere-se ao valor que a empresa perde quando funcionários vão embora); 2) Capital<br />
estrutural: inclui conhecimento ou competência coletiva, como <strong>processos</strong>, know-how, marcas<br />
e patentes, documentos (é o valor que fica quando funcionários vão embora); 3) Capital do<br />
cliente: inclui conhecimento e vantagens advindas dos clientes (é o valor que se ganha com<br />
relacionamentos com clientes).<br />
Segundo Balceiro e Balceiro (2001), três são os pilares da Inteligência Organizacional para se<br />
obter vantagem competitiva: o conhecimento, a inovação (solução de problemas e geração de<br />
conhecimento novo) e o empreendedorismo (ações planejadas). A integração destes três<br />
pilares é que gera o aprendizado constante e contínuo da organização. Entretanto, o<br />
conhecimento é a base para a inovação e o empreendedorismo.<br />
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Para Drucker (2001), toda organização deve se dedicar a criar o novo. Especificamente, toda<br />
administração precisa recorrer a três práticas sistemáticas: a primeira delas é o aprimoramento<br />
contínuo de tudo o que a organização faz preceito da qualidade difundido pelos japoneses. Em<br />
segundo lugar, toda organização terá de aprender a explorar seus conhecimentos, ou seja,<br />
desenvolver a próxima geração de aplicações de seus próprios sucessos. Finalmente, toda<br />
organização terá de aprender a inovar – e inovação pode e deve ser - organizada como um<br />
processo sistemático. A inovação intencional e sistemática inicia-se com a análise das<br />
o<strong>por</strong>tunidades e senso de propósito. Além disso, o autor aponta sete fontes de o<strong>por</strong>tunidade<br />
para inovar: 1) os próprios sucessos e fracassos inesperados de uma organização, e também de<br />
seus concorrentes; 2) incongruência, principalmente no processo, seja de produção ou<br />
distribuição, ou incongruências no com<strong>por</strong>tamento do cliente; 3) necessidades do processo; 4)<br />
mudanças na empresa e nas estruturas do mercado; 5) mudanças demográficas; 6) mudanças<br />
no significado e na percepção; 7) novos conhecimentos.<br />
A inovação nas organizações também pode estar relacionada a um processo de mútua<br />
influência com o ambiente onde ela está inserida. Além do mais, essa articulação se dá <strong>por</strong><br />
meio da comunicação entre as partes intercomunicantes da organização: acionistas, clientes<br />
internos e externos, fornecedores, comunidade, governo enfim todos os stakeholders<br />
(FROOMAN, 1999).<br />
O processamento de informações, que é um fluxo de mensagens, não se restringe apenas a<br />
resolver problemas, elas acontecem nos dois sentidos: de fora para dentro e vice-versa. Nesse<br />
processo de interação são criados novos conhecimentos e informações, de dentro para fora,<br />
visando uma redefinição e recriação de outras realidades que <strong>por</strong> sua vez influenciará o seu<br />
meio (NONAKA E TAKEUCHI, 1997). Duas constatações parecem resultar dessa reflexão, a<br />
primeira é que o processo de inovação depende de canais de comunicação bastante azeitados,<br />
para isso é necessário estar sempre próximo do mercado, focado e direcionado nele. E a<br />
segunda, passa pelo processo de investigar os desejos dos consumidores para o<br />
desenvolvimento de novos conceitos como forma de chegar à próxima inovação.<br />
Contextualizando, a estrutura propensa à inovação deve alimentar a prática da criatividade e<br />
do aprendizado. Um bom exemplo é o caso da Swatch que combinou o design italiano, o<br />
plástico da Lego com a tecnologia suíça, revolucionando assim o mercado de relógios.<br />
Nonaka e Takeuchi (1997) se baseiam em uma nova teoria, como já mencionado acima, para<br />
a explicar a inovação e criação do conhecimento. A esse respeito, eles sugerem uma<br />
abordagem ancorada na mobilização e conversão do conhecimento tácito. O conhecimento<br />
tácito é aquele que não pode ser expresso com tanta facilidade, é apresentado como o ponto de<br />
partida para a inovação, sendo altamente pessoal difícil de formalizar e, <strong>por</strong>tanto, difícil de<br />
comunicar para os outros. O conhecimento explícito "é formal e sistemático. Por este motivo<br />
pode ser facilmente comunicado e compartilhado, seja em especificações de produto ou numa<br />
fórmula científica ou num programa de computador". O segredo está na combinação entre os<br />
conhecimentos tácitos e explícitos entre os atores sociais da empresa que interagem gerando o<br />
conhecimento: indivíduo, grupo e organização.<br />
Ainda são sugeridos quatro tipos de ambientes para a troca de imagens e idéias denominada:<br />
1) ambiente de socialização que compreende o compartilhamento de conhecimento tácito<br />
entre indivíduos. A troca de conhecimentos ocorre em função dos indivíduos estarem juntos e<br />
conviver no mesmo ambiente; 2) ambiente de externalização: a externalização do<br />
conhecimento compreende tornar o conhecimento tácito em explícito para que possa ser<br />
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disseminado para o grupo; 3) ambiente de combinação: a combinação de diferentes<br />
conhecimentos resulta em novos conjuntos de conhecimentos que são difundidos <strong>por</strong><br />
diferentes canais de informação gerados interno e externamente pela empresa; 4) ambiente de<br />
internalização: ao assumir significado, pelos atores da organização, o conhecimento explícito<br />
é internalizado e convertido em conhecimento tácito (NONAKA e TAKEUCHI, 1997).<br />
É possível distinguir diversos níveis de interação social <strong>por</strong> meio do qual o conhecimento é<br />
criado em uma organização. É im<strong>por</strong>tante que a organização seja capaz de integrar aspectos<br />
relevantes do conhecimento desenvolvido a partir dessas interações (OLIVEIRA, 2001).<br />
Como forma de apresentar uma melhor compreensão sobre a criação do conhecimento e o<br />
gerenciamento dessa criação, Nonaka e Takeuchi propõem um Modelo de Conversão de<br />
Conhecimento. Eles afirmam que "a criação do conhecimento organizacional é um processo<br />
em espiral, que começa no nível individual e vai subindo, ampliando comunidades de<br />
interação que cruzam fronteiras entre seções, departamentos, divisões e organizações"<br />
(NONAKA e TAKEUCHI, 1995). Como se mostra na ilustração a seguir:<br />
Ilustração 1: espiral do conhecimento.<br />
Fonte: adaptado de Nonaka e Konono, 1998.<br />
O objetivo e a im<strong>por</strong>tância desses modos de conversão são transformar o aprendizado<br />
individual em coletivo. A diferença é que o aprendizado coletivo permite efetuar tarefas que<br />
não podem ser realizadas individualmente. Para atingir este aprendizado coletivo é necessário<br />
ter meios adequados para su<strong>por</strong>te aos quatro modos de conversão.<br />
Analisando o modelo especificamente, a espiral surge quando a interação dos dois tipos de<br />
conhecimento eleva-se dinamicamente de um nível ontológico até os níveis mais altos. Esses<br />
modos de conversão experimentados pelos atores organizacionais constituem o motor do<br />
processo de criação do conhecimento, que na visão de Nonaka e Takeuchi constitui uma nova<br />
teoria para explicar a inovação. O Modelo de Conversão do Conhecimento é constituído de<br />
cinco fases que retratam o processo de criação do conhecimento: 1) compartilhamento do<br />
conhecimento: deve existir um campo para interação dos indivíduos, onde deve haver equipes<br />
autônomas com alto grau de comunicação; 2) criação de conceitos: deve haver diálogo<br />
contínuo e reflexão coletiva. São im<strong>por</strong>tantes, também nessa fase, métodos de raciocínio de<br />
indução, dedução e abdução (através de linguagens figurativas como metáforas e analogias);<br />
3) justificação de conceitos: é marcada pela filtragem e validação do conhecimento e<br />
justificação dos conceitos em relação à estratégia e a visão da organização; 4) construção de<br />
um arquétipo: deve ser descrito um modelo, um protótipo ou uma maquete; 5) difusão<br />
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interativa do conhecimento: fase em que o conhecimento se difunde tanto intra quanto interorganizacionalmente<br />
(NONAKA E TAKEUCHI, 1995).<br />
Para uma melhor compreensão e desenvolvimento do conhecimento nas organizações<br />
Johannessen, Olsen e Olaisen (1999) apresentam uma tipologia do conhecimento. O<br />
conhecimento sistêmico é um tipo de conhecer como nós conhecemos. O conhecimento<br />
sistêmico se apóia nas perspectivas dos indivíduos, isto é, o que é visto e como é percebido.<br />
Ele favorece o surgimento de diferentes pontos de vista na organização. Os indivíduos na<br />
organização que possuem diversos graus de conhecimento sistêmico ou que enxergam <strong>por</strong><br />
diversas perspectivas conseguem ver o mesmo fenômeno, entretanto, interpretam-no<br />
diferentemente, dando a ele vários significados relativos para as o<strong>por</strong>tunidades e desafios da<br />
organização (KNORCETINA, 1981; CZARNIAWSKA-JOERGES, 1992 em<br />
JOHANNESSEN et. al., 1999).<br />
Considerando que a gestão <strong>por</strong> <strong>processos</strong> está ancorada na horizontalização e foco no cliente,<br />
Sordi (2005) menciona que sua finalidade consiste em assegurar a melhoria contínua do<br />
desempenho organizacional, tornando-a mais competitiva e perene <strong>por</strong> meio do<br />
conhecimento. Por sua vez, esse conhecimento se configura como competência-chave e<br />
desloca-se para a linha de frente das organizações, permitindo aos que estão mais próximos do<br />
trabalho solucionarem problemas mais complexos.<br />
Em decorrência, a inovação para Nonaka e Takeuchi (1995) tende a garantir a sobrevivência e<br />
competitividade, das organizações, com o escopo de melhorar o desempenho e gerar valor<br />
para os negócios. Em outras palavras, a inovação apresenta-se como fator de diferenciação<br />
num mercado apinhado de concorrentes e que lançam novos produtos a todo instante. E isso<br />
significa como já foi dito, que a noção de tempo também passou a ser fator crítico em um<br />
mercado onde, a maioria dos produtos, até mesmo os mais avançados tecnologicamente são<br />
parecidos e mais ainda, são produzidos com o conceito de obsolescência programada.<br />
Em suma, torna-se indispensável aos indivíduos inovadores saber observar, perguntar e ouvir<br />
tendo em vista satisfazer os desejos do cliente buscando minimizar riscos, aperfeiçoar a<br />
relação custo/benefício e garantir a entrega de valor. Afinal, para essa rápida análise, o que<br />
energiza a organização é a motivação compreendida com valor. Em face do exposto, as<br />
organizações inovadoras da sociedade do conhecimento devem reconhecer o caráter<br />
fundamental da dimensão humana. Isso requer adoção de um ambiente favorável às interrelações<br />
pessoais, disseminação e explicitação da estratégia empresarial e ainda sustentar um<br />
verdadeiro interesse pelas pessoas que atualmente querem ser consideradas como “ gente” não<br />
meros recursos. Afinal, a tarefa de ser criativo e inovador é uma característica unicamente<br />
humana.<br />
4 ASPECTOS METODOLÓGICOS<br />
Este estudo foi desenvolvido a partir de uma abordagem predominantemente qualitativa. As<br />
pesquisas de cunho qualitativo têm um conceito “guarda chuva”, que compreende várias<br />
formas de pesquisa e nos ajuda a entender e explicar o objeto em estudo dentro do seu<br />
ambiente natural, ou seja, tenta explicar o fenômeno social sem afastá-lo do seu contexto. No<br />
entendimento de Merriam, citado <strong>por</strong> Godoi e Balsini (2006, p. 91 e 96), o produto do estudo<br />
qualitativo é abundantemente descritivo. Nos métodos qualitativos não há medidas, as<br />
prováveis intervenções não são estatísticas e procura-se realizar análise em profundidade, a<br />
respeito dos elementos pesquisados e eventos de interesse, corrobora CAMPOMAR (1991).<br />
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O estudo, quanto aos objetivos, é classificado como exploratório, pois tem <strong>por</strong> finalidade<br />
buscar o que foi produzido sobre gestão do conhecimento e gestão <strong>por</strong> <strong>processos</strong> nos últimos<br />
anos. Como técnica foi realizada uma pesquisa bibliográfica, <strong>por</strong> meio de um levantamento<br />
em materiais já publicados (GIL, 1991).<br />
A pesquisa bibliográfica, de acordo com Yin (2001, p. 28) é um meio para se atingir um<br />
objetivo e não uma finalidade em si. Portanto, nesta pesquisa foi realizado um trabalho de<br />
identificação, análise e interpretação das referências bibliográficas, publicadas em livros,<br />
anais, periódicos nacionais e internacionais, além de bases de dados (Proquest, Periódicos<br />
CAPES, EBSCO) disponibilizados na internet, consideradas respeitadas pela academia.<br />
Segundo Köche (1997, p. 146), os estudos teóricos visam “explicar, discutir, criticar e<br />
demonstrar a pertinência desses conhecimentos e teorias no esclarecimento, solução ou<br />
explicação do problema proposto”.<br />
Convém acrescentar, nesta perspectiva, que foram abordadas as características, conceitos e<br />
definições apropriadas ao estudo, observando a gestão do conhecimento e a prática da<br />
sistematicidade da inovação e suas inter-relações nas organizações.<br />
5 CONCLUSÃO<br />
O grande desafio das organizações, no cenário mercadológico mundial, é inserir a gestão do<br />
conhecimento e o exercício sistemático da inovação, em suas estratégias e políticas<br />
empresariais, como forma de garantir sua perenidade. Isso quer dizer que ainda que encontre<br />
dificuldades para ser colocada em prática, a gestão do conhecimento é uma metodologia<br />
gerencial, aplicada em diversas organizações, que sugere um modo dinâmico para colocá-las à<br />
frente das concorrentes em ambientes altamente turbulentos.<br />
O reconhecimento, entretanto, de sua aplicabilidade requer transformações e redesenho, em<br />
sua estrutura e <strong>processos</strong>, como também, em sua cultura. Na organização do conhecimento, o<br />
bem mais precioso é intangível. Como afirma Zarifian (2001) são organizações qualificantes<br />
que valorizam a aprendizagem, o compartilhamento de conhecimentos e a inovação, têm o seu<br />
foco na inteligência e domínio de ocorrências de imprevistos.<br />
De acordo com essa tendência, o trabalho individual tem cedido lugar ao trabalho orientado<br />
para equipes. Busca-se o desenvolvimento das potencialidades do trabalhador no contexto<br />
organizacional, não mais <strong>por</strong> meio do treinamento para tarefas específicas. Lentamente, o<br />
foco tem sido direcionado para a educação e aprendizagem. Numa sociedade cada vez mais<br />
multicultural, a diversidade se avizinha como fomento a novas práticas e estruturas, visando<br />
disseminar o conhecimento de forma a permitir a interação e adaptação aos requisitos de<br />
desempenho. Afinal, saber pensar, ser altamente qualificado passou a ser uma premissa.<br />
Apesar disso, as organizações vivem o paradoxo do controle-comando, da disfunção da<br />
burocracia, da rigidez versus a flexibilidade e da agilidade exigida pela nova economia.<br />
Independente de qualquer ambigüidade acredita-se ser impossível dominar a capacidade<br />
intelectual dos indivíduos, cada vez mais dotados de autonomia. Nesse sentido cabe, contudo,<br />
enfatizar que esses fatores negativos abortam a criatividade dos novos trabalhadores da<br />
sociedade do conhecimento, que precisam ser repensados em prol de ações que aperfeiçoem<br />
as interfaces funcionais e legitime de vez uma nova visão de mundo. Ao considerar este<br />
enfoque, uma empresa viável, que percebe o trabalho como significativo e emancipador, tende<br />
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a questionar a previsibilidade, os <strong>processos</strong> alienantes e expropriadores; procura ter em seu<br />
“DNA” a excelência no processo de inovação, o firme objetivo tanto pela melhoria contínua,<br />
quanto para o autodesenvolvimento.<br />
Ao mesmo tempo, o movimento da qualidade total é uma premissa para que as organizações<br />
se orientem rumo a esse desafio e sejam eficientes na aplicação de perspectivas alternativas.<br />
Nas organizações orientadas <strong>por</strong> <strong>processos</strong>, uma força significativa nessa direção está na<br />
gestão do conhecimento, <strong>por</strong> se mostrar capaz de propiciar meios para a obtenção do<br />
diferencial competitivo e a agregação de valor que beneficie a inovação e o aprendizado<br />
contínuo, reconhecidamente, promotor do desenvolvimento para as organizações ao longo do<br />
tempo.<br />
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NOTA<br />
i Para Senge (2000), modelos mentais são imagens, pressupostos e histórias que trazemos em nossas mentes,<br />
acerca de nós mesmos, de outras pessoas, das instituições e de diversos outros aspectos do mundo e da vida. São<br />
como uma vidraça que emoldura ou distorce sutilmente nossa visão, determinando o que vemos.<br />
ii Em Nonaka e Takeuchi (1997), o conhecimento da experiência, não articulado, difícil de ser expresso em<br />
palavras tende a ser tácito, físico e subjetivo, enquanto o conhecimento da racionalidade, expresso <strong>por</strong> meio da<br />
linguagem formal tende a ser explícito, metafísico e objetivo.<br />
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