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<strong>SUSTENTABILIDA<strong>DE</strong></strong> <strong>DE</strong> <strong>AQUIFEROS</strong> <strong>SUBTERRÂNEOS</strong> <strong>PELA</strong><br />

REABILITAÇÃO URBANA: ações antrópicas que podem levar a<br />

contaminação de aqüíferos subterrâneos<br />

RESUMO<br />

Alessandre Humberto de Campos 1<br />

Este trabalho apresenta uma visão geral sobre a explotação de águas subterrâneas na<br />

cidade de Araguari, no estado de Minas Gerais, uma cidade cujo abastecimento é feito por meio da<br />

captação, através de poços artesianos e semi-artesianos, de água subterrânea, mais precisamente<br />

do reservatório pertencente ao Aqüífero Bauru do Sistema Aqüífero Guarani.<br />

A cidade está localizada no limite da porção nordeste do Aqüífero Guarani entre os Rios<br />

Araguari e Paranaíba e por suas características geológicas apresenta um nível de infiltração maior do<br />

que de escoamento superficial, por estes motivos a cidade foi escolhida para ser tema de estudos<br />

sobre a proteção e avaliação dos recursos hídricos do sistema Aqüífero Guarani (SAG).<br />

De acordo com estes estudos, no município de Araguari encontram-se os aqüíferos Serra<br />

Geral e Bauru da formação Botucatu e Marília, tendo em vista as suas formações geológicas que<br />

apresentam sobre basaltos sobrepostos por arenitos.<br />

A explotação das águas subterrâneas no Município de Araguari é um fato preocupante. O<br />

gerenciamento da qualidade e quantidade de água do aqüífero ainda é deficitário. A água usada no<br />

abastecimento público é totalmente extraída de aqüíferos subterrâneos e distribuída a toda rede<br />

urbana da sede do município e distritos.<br />

O esgotamento residencial, comercial e industrial é canalizado até fossas sépticas sem filtro<br />

e lançados na rede de captação pública onde é despejado no Córrego Brejo Alegre, sem nenhum tipo<br />

de tratamento.<br />

Portanto, Araguari ainda, mesmo dependendo de cem por cento das águas subterrâneas<br />

para seu abastecimento público, possui ações tímidas de controle e proteção do aqüífero Guarani em<br />

seu território.<br />

Palavras-chave<br />

Contaminação, Água subterrânea, Sustentabilidade, Reabilitação Urbana, Araguari, Aquífero.<br />

1 Arquiteto e urbanista aluno do curso de pós-graduação lato sensu em Especialização em Reabilitação<br />

Ambiental Sustentável Arquitetônica e Urbanística. Programa de Pesquisa e Pós-graduação. Faculdade de<br />

Arquitetura e Urbanismo. Universidade de Brasília. 2008-2009.


<strong>SUSTENTABILIDA<strong>DE</strong></strong> <strong>DE</strong> <strong>AQUIFEROS</strong> <strong>SUBTERRÂNEOS</strong> <strong>PELA</strong> REABILITAÇÃO URBANA<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

Vários estudos já foram realizados sobre o tema recursos hídricos e planejamento urbano<br />

retratando a ocupação do espaço, o crescimento urbano desordenado, as aglomerações urbanas e<br />

os impactos causados, principalmente, em águas superficiais.<br />

Este trabalho abordará a forma como as cidades, principalmente Araguari/MG, influenciam<br />

na contaminação das águas subterrâneas pela ocupação inadequada de uma área e conhecer a<br />

capacidade do solo em degradar as substâncias tóxicas introduzidas no ambiente e em contato com a<br />

água pluvial absorvida pelo solo e subsolo até chegar aos aqüíferos subterrâneos rasos ou profundos<br />

por infiltração.<br />

Será necessário conhecer mais sobre a contaminação das águas subterrâneas que ocorre<br />

por fossas sépticas e negras; infiltração de efluentes industriais; fugas da rede de esgoto e galerias<br />

de águas pluviais; vazamentos de postos de serviços; por aterros sanitários, lixões e depósitos de<br />

resíduos sólidos advindos de construção civil; uso indevido de fertilizantes nitrogenados; entre outros,<br />

além da superexplotação que ocorre quando a extração de água subterrânea ultrapassa os limites de<br />

produção do aqüífero.<br />

O objetivo é diagnosticar ocorrências que partem de ações da população, do poder público<br />

em geral e que contribuem para a contaminação das águas subterrâneas na área urbana do<br />

Município de Araguari/MG.<br />

Para alcançar o objetivo esperado, o trabalho será desenvolvido por análise de dados já<br />

tabulados em outros trabalhos acadêmicos, bem como, buscar novas informações junto a órgãos<br />

públicos municipais e, se for o caso, realizar o levantamento de informações com o auxílio da equipe<br />

técnica da Superintendência de Água e Esgoto – SAE de Araguari/MG.<br />

O diferencial deste trabalho será propor ações mitigadoras, por meio do planejamento e a<br />

reabilitação urbana, que balize o gestor público a tomar decisões que coíba a contaminação das<br />

águas subterrâneas e que se faça o seu uso de maneira sustentável.<br />

2. OS RECURSOS HÍDRICOS<br />

O Brasil é privilegiado em recursos hídricos. Possui 16% da água doce utilizável disponível<br />

no mundo (VIEIRA, 2008). A água superficial é aquela encontrada em cursos d’água. A partir da<br />

Constituição Federal de 1988 - Art. 21, inciso XIX, diz que “compete a União instituir o sistema<br />

nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso” -<br />

um arcabouço jurídico vem sendo regulamentado em prol da proteção e sustentabilidade das águas.<br />

A Lei nº 9.984, de 17 de julho de 2000 cria a Agência Nacional de Água - ANA “entidade<br />

federal de implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e de coordenação do Sistema<br />

Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos”. Além das Leis, vários Decretos e Resoluções<br />

Alessandre Humberto de Campos 2


<strong>SUSTENTABILIDA<strong>DE</strong></strong> <strong>DE</strong> <strong>AQUIFEROS</strong> <strong>SUBTERRÂNEOS</strong> <strong>PELA</strong> REABILITAÇÃO URBANA<br />

complementam o arcabouço jurídico de água. O Conselho Nacional de Recursos Hídricos instituiu a<br />

Divisão Hidrográfica Nacional, segundo a Resolução n° 32, de 15 de outubro de 2003, que no<br />

parágrafo único do Art. 1° define-se que “região hidrográfica é o espaço territorial brasileiro<br />

compreendido por uma bacia, grupo de bacias ou sub-bacias hidrográficas contíguas com<br />

características naturais, sociais e econômicas homogêneas ou similares, com vistas a orientar o<br />

planejamento e gerenciamento dos recursos hídricos”.<br />

A água pura é um líquido formado por duas moléculas de hidrogênio e uma molécula de<br />

oxigênio (H2O). Na natureza ela é um recurso renovável e composto por outros elementos, tais como,<br />

nitratos, cloretos e carbonatos, bem como de poeira, areia e outros elementos sólidos. Naturalmente<br />

a água é incolor, inodora e insípida, porém, substâncias químicas podem alterar estas características.<br />

De acordo com o poder de concentração de íons de hidrogênio (H + ), ou seja, o pH, a água pode se<br />

tornar alcalina (ph>7) ou ácida (ph


<strong>SUSTENTABILIDA<strong>DE</strong></strong> <strong>DE</strong> <strong>AQUIFEROS</strong> <strong>SUBTERRÂNEOS</strong> <strong>PELA</strong> REABILITAÇÃO URBANA<br />

De acordo com a Divisão Hidrográfica do Brasil (Figura 2.b), Araguari/MG pertence ao<br />

aqüífero Bauru com relação às águas subterrâneas e, com relação às águas superficiais pertence à<br />

bacia Hidrográfica do Rio Paranaíba (Figura 2.c) e no Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Araguari<br />

que cobre uma área de 20.186 km² nos municípios de Araguari, Araxá, Campos Altos, Ibiá,<br />

Indianápolis, Iraí de Minas, Nova Ponte, Patrocínio, Pedrinópolis, Perdizes, Pratinha, Rio Paranaíba,<br />

Sacramento, Santa Juliana, São Roque de Minas, Serra do Salitre, Tapira, Tupaciguara, Uberaba e<br />

Uberlândia; que faz parte da Região Hidrográfica do Paraná, que abrange uma área de 879.860 km²<br />

distribuída nos estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Santa<br />

Catarina e o Distrito Federal.<br />

Figura 2.b – Divisão Hidrográfica do Brasil<br />

Fonte: ANA, 2007.<br />

Figura 2.c - Localização geográfica da bacia do rio Araguari.<br />

Fonte: VIEIRA, 2008<br />

A cidade possui 111.095 habitantes (IBGE, 2009). Se, em média cada habitante consome<br />

0,34814 m³/dia o consumo diário seria de 38.676,61 m³. A produção anual é de 14.500.000 m³,<br />

conclui-se então que a produção média diária fica em torno de 39.726,027 m³, apenas 1.049,41 m³ de<br />

excedente, o que daria para atender 3.014 habitantes a mais. Toda essa água é captada por poços<br />

Alessandre Humberto de Campos 4


<strong>SUSTENTABILIDA<strong>DE</strong></strong> <strong>DE</strong> <strong>AQUIFEROS</strong> <strong>SUBTERRÂNEOS</strong> <strong>PELA</strong> REABILITAÇÃO URBANA<br />

semi-artesianos, numa profundidade média de 61 metros, e distribuída após tratamento por simples<br />

desinfecção com cloro (SAE, 2009).<br />

Araguari consome mais do triplo da recomendação da ONU. Conforme a Agência Nacional<br />

de Águas – ANA, 40% da água potável é desperdiçada devido à falta de manutenção das redes de<br />

distribuição ou mau uso. O desperdício está associado aos demorados banhos, torneiras pingando e<br />

a lavagem de quintais, calçadas e carros com mangueiras. Outro desrespeito com a água potável é<br />

em banheiros, onde uma simples descarga de um vaso sanitário pode gastar mais de 6 a mais de 30<br />

litros de água, dependendo da tecnologia adotada.<br />

2.1. ÁGUAS SUBTERRÂNEAS<br />

A principal fonte de água subterrânea que atende a cidade de Araguari/MG é o Sistema<br />

Aquífero Guarani (Figura 2.1.a) - uma reserva de água doce subterrânea transfronteiriça localizada no<br />

centro-leste da América do Sul, que estende pelo Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.<br />

Figura 2.1.a – Localização do SAG.<br />

Fonte: Projeto SAG, 2003-2006<br />

O Aqüífero Guarani localiza-se entre 12º e 35º de latitude sul e 47º e 65º de longitude oeste<br />

(Projeto SAG, 2003-2009), com uma área de 1.195.500 km 2 , sendo 70,24% desta área está no Brasil,<br />

onde, mais de 100.000 Km² é de área de afloramento e abrange os estados do Rio Grande do Sul,<br />

Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Nos demais países,<br />

esta área de recarga direta chega a 50.000 km².<br />

O município de Araguari, cuja extensão total é de 2.744 km², está localizado no Triângulo<br />

Mineiro, região oeste do Estado de Minas Gerais, Brasil, a 585 km do município de Belo Horizonte –<br />

capital do Estado de Minas Gerais - e inserido nas coordenadas 18° 38′ 56″ S, 48° 11′ 13″ W (PMA,<br />

2009, in www.araguari.mg.gov.br).<br />

De acordo com a avaliação dos recursos hídricos do Sistema Aqüífero Guarani (SAG) no<br />

município de Araguari, Estado de Minas Gerais, Brasil, 2006, realizado dentro do Projeto Aqüífero<br />

Guarani, na bacia hidrogeológica do SAG onde se encontra Araguari (Figura 2.1.b) diagnosticou-se o<br />

seguinte:<br />

(...) “ A área estudada no município restringe-se à porção que compreende a<br />

seqüência de rochas juro cretácicas da Bacia do Paraná numa extensão de<br />

Alessandre Humberto de Campos 5


<strong>SUSTENTABILIDA<strong>DE</strong></strong> <strong>DE</strong> <strong>AQUIFEROS</strong> <strong>SUBTERRÂNEOS</strong> <strong>PELA</strong> REABILITAÇÃO URBANA<br />

1.405,5km2 (51% do município). É nessa porção onde vive a grande maior parte da<br />

população total, estimada em 108.672 habitantes (IBGE, 2005), sendo 91%<br />

urbana.<br />

A alta pluviosidade na área (1.589,4mm, segundo IBGE,2000, in<br />

www.almg.gov.br), o relevo suave da chapada e a textura do solo poroso,<br />

laterítico, desenvolvido sobre as Formações Marília (Grupo Bauru) e Serra Geral,<br />

favorecem a recarga dos aqüíferos correspondentes, proporcionando, assim, uma<br />

reserva considerável para o seu aproveitamento.<br />

A profundidade média dos poços no Aqüífero Serra Geral é de 74m,<br />

variando de 54m a 120m. Nota-se uma nítida polarização de valores de vazão,<br />

sendo quatro poços entre 4,0m3/h e 14,4m3/h e quatro poços com vazões entre<br />

75m3/h e 120m3/h, sendo estes últimos com profundidade máxima de 70m. Tal<br />

variação das vazões e comportamento com a profundidade está de acordo com o<br />

tipo de aqüífero (fraturado).<br />

O Aqüífero Serra Geral encontra-se associado aos derrames basálticos,<br />

sobrepostos às rochas do embasamento cristalino, com espessuras que variam<br />

entre 200m a 250m. Nas partes onde não afloram, sobrepõe-se um pacote de<br />

sedimentos arenosos da Fm. Marília (Grupo Bauru) e das coberturas colúvio-<br />

eluvionares lateríticas. As descargas naturais ocorrem no contato entre as rochas<br />

basálticas e o embasamento cristalino, sob a forma de nascentes entre as cotas<br />

750m e 700m, revelando a circulação profunda alcançada pelas águas nesse<br />

aqüífero.<br />

O Aqüífero Bauru é constituído pela seqüência areno-siltosa da Formação<br />

Marília, e pelas coberturas laterizadas terciárias silto-argilosas. Na área o nível<br />

basal dessa unidade é representado por uma camada contínua de conglomerado,<br />

importante no processo de armazenamento e circulação de água, porém os poços<br />

normalmente não alcançam tal unidade aqüífera, deixando de explotar esse<br />

manancial.<br />

A recarga natural do aqüífero Bauru está associada à infiltração direta da<br />

precipitação nos sedimentos Bauru (453,2km²), como também, nos solos siltoarenosos<br />

sobrepostos de espessuras variáveis entre 5m e 10m. Essa unidade<br />

pedológica (569,9km2) torna-se importante no processo de recarga, por constituirse,<br />

também, de níveis de material grosso, coluvionar, que recobre parte do topo e<br />

a quase totalidade das rampas do contato arenito/basalto.<br />

A descarga ocorre formando as diversas nascentes na quebra topográfica<br />

da chapada que marca o contato desse aqüífero com o Serra Geral, entre as cotas<br />

880m e 900m, as quais constituem os tributários dos rios Araguari e Paranaíba.<br />

Pouco freqüentes, mas importantes, são as drenagens surgentes em meio às<br />

chapadas dos arenitos Bauru, em cotas entre 930m e 940m, citando-se os<br />

ribeirões<br />

das Araras e Piçarrão, e os córregos do Brejo e o Amanhece.<br />

Segundo critérios da ONU, os 332 milhões de metros cúbicos estimados<br />

como Reserva Renovável classificam a região de interesse como Suficiente em<br />

termos de disponibilidade hídrica (2000 a 10000 m³/hab/ano). Considerando toda a<br />

área do aqüífero Bauru no município de Araguari este volume aumenta para 618<br />

milhões de metros cúbicos, correspondendo também a uma disponibilidade hídrica<br />

caracterizada como Suficiente. O volume outorgado pelo IGAM para a Região de<br />

Interesse totaliza atualmente 32 milhões de metros cúbicos anuais, o que<br />

corresponde a um nível de uso Moderado (100 a 500 m³/hab/ano).<br />

O índice de utilização potencial dos recursos hídricos subterrâneos da<br />

região, aproximadamente 10% da Reserva Renovável e 39% da Reserva<br />

Explotável, já indica a necessidade do planejamento de ações eficazes de<br />

gerenciamento destes recursos na região, em especial nas sub-bacias do córrego<br />

Araras e do Amanhece, onde os estudos de vulnerabilidade à contaminação do<br />

aqüífero subjacente caracterizaram essa região como de alta vulnerabilidade.” (...)<br />

Alessandre Humberto de Campos 6


<strong>SUSTENTABILIDA<strong>DE</strong></strong> <strong>DE</strong> <strong>AQUIFEROS</strong> <strong>SUBTERRÂNEOS</strong> <strong>PELA</strong> REABILITAÇÃO URBANA<br />

Figura 2.1.b – Localização do município de Araguari dentro da bacia hidrogeológica do SAG.<br />

Fonte: Projeto SAG, 2003-2006<br />

3. CARACTERIZAÇÃO DA CIDA<strong>DE</strong> <strong>DE</strong> ARAGUARI/MG<br />

O Município faz fronteira ao norte com o Estado de Goiás separados pelo Rio Paranaíba, ao<br />

sul com o município de Uberlândia separados pelo Rio Araguari, a sudeste com Indianópolis, a<br />

nordeste com Cascalho Rico, a leste com Estrela do Sul e a oeste com o município de Tupaciguara,<br />

todos estes em Minas Gerais.<br />

Sua localização sobre a chapada entre as Bacias Hidrográficas dos rios Paranaíba e<br />

Araguari em uma área com pouco escoamento superficial, facilita a percolação e a renovação do<br />

aqüífero subterrâneo, fonte de captação de água para o abastecimento urbano e rural.<br />

A bacia hidrográfica do rio Araguari tem seu inicio na Serra da Canastra, sua nascente está<br />

no município de São Roque de Minas distante 440 km de Araguari e pertence à Bacia Hidrográfica do<br />

Paranaíba. O rio Araguari é afluente da margem esquerda do rio Paranaíba que é afluente do rio<br />

Grande que é afluente do rio Paraná.<br />

O rio Jordão - atualmente todo poluído por receber todo o esgoto da cidade -, Ribeirão das<br />

Araras e Piçarrão e o Córrego Amanhece formam os principais álveos do município. Encontram-se na<br />

chapada, entre as cotas 930 e 940m, constituída de arenitos conglomeráticos, conglomerados<br />

arenosos, conglomerados e arenitos essencialmente quartzosos em contato com a seqüência<br />

sedimentar do Grupo Bauru (Formação Marília) e o basalto da Formação Serra Geral (Figura 2.4.a)<br />

subjacente, entre cotas de 880m e 900m, caracterizando o relevo da cidade.<br />

Alguns cursos d’água esculpiram gargantas epigênicas locais, originando cachoeiras e<br />

corredeiras. A rede de drenagem, também, modelou as áreas de terrenos ondulados e suaves do<br />

planalto sedimentar, entalhando depósitos basálticos subjacentes, por onde ocorre a infiltração.<br />

O sistema de aquíferos existentes no município estão conectados hidraulicamente pelos<br />

aqüíferos Botucatu, Serra Geral e Bauru, que fazem parte do Sistema Aqüífero Guarani.<br />

Alessandre Humberto de Campos 7


<strong>SUSTENTABILIDA<strong>DE</strong></strong> <strong>DE</strong> <strong>AQUIFEROS</strong> <strong>SUBTERRÂNEOS</strong> <strong>PELA</strong> REABILITAÇÃO URBANA<br />

Figura 2.4.a - Perfil geológico simplificado do Sistema Aquífero Guarani. Fonte: II Congresso do SAG,<br />

2008<br />

O aquífero Botucatu é o menos expressivo devido os arenitos da formação Botucatu<br />

apresentarem elevado grau de silificação da rocha, portanto, incapazes de constituírem aquíferos<br />

explotáveis no município de Araguari (BERTOL, 2007).<br />

O aquífero Serra Geral possui baixa produtividade, dependendo do local de explotação,<br />

chega a 5 a 10m³/h por se tratar de um aqüífero com complexo padrão de fraturamento. Porém, a<br />

existência de um sistema de fraturamento regional N50°W e N45°E permite a explotação de poços<br />

com produtividade entre 40 e 70 m³/h a uma profundidade média de 74 m. Os pontos de afloramento<br />

se localizam em áreas nas bordas da chapada e escarpas. A recarga desse aquífero processa-se<br />

pela infiltração indireta por meio do Aqüífero Bauru e pela infiltração direta nas fraturas,<br />

principalmente as fraturas verticais, em áreas de afloramento (BERTOL, 2007).<br />

O aquífero Bauru é a mais importante unidade hidrogeológica no município de Araguari,<br />

localizado em sua área urbana o qual corre grande risco de contaminação. Compreende os depósitos<br />

não confinados de água subterrânea de natureza intergranular, de alta a média porosidade e<br />

permeabilidade e com uma alta capacidade de armazenamento. Sua profundidade média é de 54 m<br />

com uma vazão média de 22 m³/h.<br />

No perímetro urbano a recarga aqüífera provém de duas origens, sendo uma direta,<br />

proveniente da precipitação, por se encontrar em zona vadosa, e a outra indireta, destacando-se os<br />

vazamentos da rede de distribuição de água potável. De acordo com o mapa potenciométrico (Figura<br />

2.4.b) elaborado pelo Projeto SAG foi diagnosticado a existência de 85 poços profundos e 130<br />

nascentes, com destaque para as áreas de recarga direta da região das sub-bacias do Córrego<br />

Amanhece e cabeceira do Ribeirão Araras (BERTOL, 2007).<br />

Figura 2.4.b - Mapa Potenciométrico do Aquífero Bauru em Araguari.<br />

Fonte: BERTOL, 2007<br />

Alessandre Humberto de Campos 8


<strong>SUSTENTABILIDA<strong>DE</strong></strong> <strong>DE</strong> <strong>AQUIFEROS</strong> <strong>SUBTERRÂNEOS</strong> <strong>PELA</strong> REABILITAÇÃO URBANA<br />

3.1. A CAPTAÇÃO <strong>DE</strong> ÁGUA<br />

A SAE possui 109 poços semi-artesianos ativos, sendo 60 localizados em 9 baterias e 49<br />

solteiros (SAE, 2009), com uma média de vazão de 19 m³/h, estando em operação 84 poços,<br />

diariamente, totalizando uma captação média de 1.596 m³/h. Um estudo hidrogeológico está sendo<br />

desenvolvido pela SAE para que poços antigos e de pouca vazão possam ser substituídos,<br />

diminuindo assim o número de poços perfurados, mas aumentando a produção. Desde 2006 este<br />

trabalho vem sendo desenvolvido, sendo que 6 novos poços já foram construídos dentro das<br />

recomendações técnicas (SAE, 2009 in www.saearaguari.com.br).<br />

Somente os poços ativos das 9 baterias, produzem em média 26.956,80 m³/dia.<br />

Considerando que o consumo médio diário por habitante é de 0,34814 m³/dia o consumo diário total<br />

seria de 38.676,61 m³ para uma população de 111.095 habitantes. Conclui-se, portanto, que somente<br />

as 9 baterias, com a produção atual, geram um déficit de 11.719,81 m³/dia. Para a complementação a<br />

SAE possui 49 poços solteiros distribuídos em vários pontos da cidade, com uma profundidade média<br />

de 62,10 m e uma vazão média de 18 m³/h, perfazendo uma vazão média de 432,0 m³/dia nas 24 h,<br />

ou seja, uma produção total média de 21.168,00 m³/dia. Portanto, os 109 poços produzem em média<br />

48.124,80 m³/dia, uma média de 0,436 m³/dia por habitante.<br />

As 9 baterias possuem 60 poços ativos, distribuídos conforme a Tabela 2.4.1.a:<br />

Tabela 2.4.1.a – Descrição sumária dos Poços por Bateria<br />

Local da Bateria N° Poço Profundidade (m) Vazão (m³/h) Vazão (24h) m³/dia<br />

CHANCIA<br />

Rua Antônio Joaquim Melo<br />

7 poços<br />

COLÉGIO ESTADUAL<br />

Av. Minas Gerais, 2205<br />

8 poços<br />

P.C._1 60 16,0 384,0<br />

P.C._2 58 35,0 840,0<br />

P.C._3 60 30,0 720,0<br />

P.C._4 60 16,0 384,0<br />

P.C._5 64 20,0 480,0<br />

P.C._6 60 30,0 720,0<br />

P.C._7 60 30,0 720,0<br />

Média 60,28 25,28 606,86<br />

P.E._1 68 10,0 240,0<br />

P.E._2 58 10,0 240,0<br />

P.E._3 58 8,0 192,0<br />

P.E._4 58 10,0 240,0<br />

P.E._6 58 13,0 312,0<br />

P.E._12 58 18,0 432,0<br />

P.E._4 S 56 15,0 360,0<br />

Alessandre Humberto de Campos 9


<strong>SUSTENTABILIDA<strong>DE</strong></strong> <strong>DE</strong> <strong>AQUIFEROS</strong> <strong>SUBTERRÂNEOS</strong> <strong>PELA</strong> REABILITAÇÃO URBANA<br />

FÁTIMA<br />

Rua Dona Cesária s/n<br />

11 poços<br />

GUTIERREZ<br />

Rua Buganville, s/n<br />

6 poços<br />

IN<strong>DE</strong>PENDÊNCIA<br />

Av. Miguel Assad Debs, s/n<br />

11 poços<br />

P.E._5 S 56 8,0 192,0<br />

Média 58,75 11,50 276,0<br />

P.F._3 60 11,0 264,0<br />

P.F._6 58 15,0 360,0<br />

P.F._19 61 15,0 360,0<br />

P.F._18 60 12,0 288,0<br />

P.F._17 59 15,0 360,0<br />

P.F._10 57 21,0 504,0<br />

P.F._11 58 14,0 336,0<br />

P.F._16 60 15,0 360,0<br />

P.F._13 58 22,0 528,0<br />

P.F._14 62 20,0 480,0<br />

P.F._15 60 12,0 288,0<br />

Média 58,45 15,64 375,36<br />

P.G._1 12,0 288,0<br />

P.G._2 19,0 456,0<br />

P.G._3 19,0 456,0<br />

60<br />

P.G._4 12,0 288,0<br />

P.G._5 12,0 288,0<br />

P.G._6<br />

9,0 216,0<br />

Média 60,0 13,84 332,16<br />

P.I._1 62 15,0 360,0<br />

P.I._2 62 13,0 312,0<br />

P.I._3 64 12,0 288,0<br />

P.I._4 63 18,0 432,0<br />

P.I._5 58 35,0 540,0<br />

P.I._6 62 30,0 720,0<br />

P.I._7 60 15,0 360,0<br />

P.I._8 62 18,0 432,0<br />

P.I._9 62 15,0 360,0<br />

P.I._10 64 38,0 912,0<br />

Alessandre Humberto de Campos 10


<strong>SUSTENTABILIDA<strong>DE</strong></strong> <strong>DE</strong> <strong>AQUIFEROS</strong> <strong>SUBTERRÂNEOS</strong> <strong>PELA</strong> REABILITAÇÃO URBANA<br />

PARAÍSO<br />

2 poços<br />

SÃO BENEDITO<br />

Rua José T. de Lima<br />

3 poços<br />

SÃO SEBASTIÃO<br />

Rua dos Buritis, 2<br />

8 poços<br />

CACHOEIRINHA<br />

Av. Brasil, Q. 15<br />

4 poços<br />

P.I._11 120 15,0 360,0<br />

Média 67,19 20,37 488,88<br />

P.P._1 14,0 336,0<br />

58<br />

P.P._2<br />

18,0 432,0<br />

Média 58,0 16,0 384,0<br />

P.B._1 58 11,0 264,0<br />

P.B._2 60 12,0 288,0<br />

P.B._3 62 15,0 360,0<br />

Média 60,0 12,67 304,08<br />

P.S._1 62 28,0 672,0<br />

P.S._2 63 18,0 432,0<br />

P.S._3 63 18,0 432,0<br />

P.S._4 64 30,0 720,0<br />

P.S._5 120 12,0 288,0<br />

P.S._6 64 43,0 1.032,0<br />

P.S._7 58 25,0 600,0<br />

P.S._8 62 45,0 1.080,0<br />

Média 69,50 27,38 657,12<br />

P.Ca._1 25,0 600,0<br />

P.Ca._2 18,0 432,0<br />

64<br />

P.Ca._3 30,0 720,0<br />

P.Ca._4<br />

30,0 720,0<br />

Média 64,0 25,75 618,0<br />

TOTAL 60 61,80 18,72 449,28<br />

Fonte: SAE, 2009<br />

O poço com maior vazão produz 50m³/h com uma profundidade de 58,0 m. O de menor<br />

vazão produz 6m³/h com uma profundidade de 56,0 m. O poço de maior profundidade mede 120 m e<br />

o de menor profundidade mede 48 m. A bateria Independência (Figura 3.1.b) é a principal fonte de<br />

abastecimento de água da cidade, fornecendo água de qualidade para quase 30% da população<br />

(SAE, 2009).<br />

Os poços solteiros (Figura 3.1.c) de melhor vazão estão localizados próximos da bateria São<br />

Sebastião, com uma vazão média de 35,6 m³/h. Esta localidade faz parte da bacia do Ribeirão das<br />

Araras, segundo BERTOL, 2007, por estar, geologicamente, estabelecida sobre sedimentos do Grupo<br />

Bauru, representados em Araguari pela Formação Marília, constituindo a unidade hidrogeológica mais<br />

Alessandre Humberto de Campos 11


<strong>SUSTENTABILIDA<strong>DE</strong></strong> <strong>DE</strong> <strong>AQUIFEROS</strong> <strong>SUBTERRÂNEOS</strong> <strong>PELA</strong> REABILITAÇÃO URBANA<br />

importante e mais explotada no município de Araguari. O Aqüífero Bauru é definido como um aqüífero<br />

não confinado (livre), de porosidade intergranular, constituído pela seqüência areno-siltosa da<br />

Formação Marília, e pelas coberturas laterizadas terciárias silto-argilosas (BERTOL, 2007).<br />

Por ser um aqüífero não confinado e por sua natureza pouco profunda e seu material<br />

litológico facilitam a perfuração indiscriminada e ilegal de poços, o que contribui para sua<br />

contaminação devido a ações antrópicas e falta de proteção sanitária na construção dos poços.<br />

Segundo HIRATA, 2006 o principal uso dos aqüíferos é para o abastecimento das<br />

populações, pois, a utilização de águas subterrâneas gera vantagens comparativas com relação às<br />

águas superficiais, entre elas a qualidade natural da água e maior proteção frente aos agentes<br />

contaminantes; a quantidade de água assegurada ao longo do tempo, sem variação por causas<br />

climáticas; a flexibilidade locacional e de escalonamento das obras (poços) com a evolução da<br />

demanda por água; a maior economicidade dos sistemas de abastecimento na maioria dos casos.<br />

Figura 3.1.a – Chegada da água em reservatório na bateria Chancia. A tubulação de bitola menor é da<br />

própria bateria, a de bitola maior vem da bateria São Sebastião por adutora.<br />

Figura 3.1.b – Poço semi-artesiano da bateria Independência.<br />

Alessandre Humberto de Campos 12


<strong>SUSTENTABILIDA<strong>DE</strong></strong> <strong>DE</strong> <strong>AQUIFEROS</strong> <strong>SUBTERRÂNEOS</strong> <strong>PELA</strong> REABILITAÇÃO URBANA<br />

Figura 3.1.c – Poço semi-artesiano solteiro recém construído.<br />

3.2. O ESGOTAMENTO SANITÁRIO<br />

Todo esgoto da cidade de Araguari é coletado e direcionado para interceptador no Córrego<br />

Brejo Alegre afluente no Rio Jordão que é afluente do Rio Paranaíba. A zona urbana está situada<br />

dentro de cinco bacias hidrográficas: 1. Bacia do Córrego Brejo; 2. Bacia do Córrego dos Verdes; 3.<br />

Bacia do Córrego do Desamparo; 4. Bacia do Ribeirão das Araras; 5. Bacia do Córrego da Lagoa<br />

Seca. A cidade é atendida com 94,57% de rede de coleta de esgoto e o índice de tratamento é de<br />

3.83% (DSAE Ministério das Cidades, 2007).<br />

No ano de 2000, existiam onze estações elevatórias de esgoto operando na cidade. O<br />

projeto padrão das estações existentes é de uma estação elevatória convencional de poço úmido<br />

com conjunto de moto-bomba submerso. Todo esgoto se concentra num PV (poço de visita) à<br />

montante da EEE. Em seguida, o esgoto passa por uma caixa de areia e cai no poço de sucção, onde<br />

se encontra o conjunto moto-bomba. A tubulação de recalque é toda em ferro fundido, com registro e<br />

válvula de retenção na saída da EEE. O esgoto é recalcado até uma caixa de descompressão,<br />

localizada numa cota adequada, que permitirá o seu caminhamento por gravidade até os<br />

interceptores do Córrego Brejo Alegre. Aquelas que, tecnicamente, não é permitido seu<br />

caminhamento por gravidade, é feito por bombeamento.<br />

O córrego Brejo Alegre é afluente do Rio Jordão e está ocorrendo uma poluição do rio, e pra<br />

sanar o problema deverá ser implantada futuramente uma ETE - Estação de Tratamento de Esgoto<br />

Sanitário que já possui a LP - Licença Prévia emitida pelo COPAM (Conselho Estadual Política<br />

Ambiental). E no último dia 08 de dezembro a SAE obteve a LI – Licença de Instalação, que permite o<br />

início das obras.<br />

A primeira ETE, construída em Araguari, localizada na Rua 04, no Distrito Industrial, foi<br />

inaugurada no dia 05 de junho de 2006, Dia Mundial do Meio Ambiente. A ETE atende<br />

aproximadamente 5 mil moradores nos Bairros: Novo Horizonte, Penha e Beatriz.<br />

Considerando que a cidade possui 100% de atendimento de água e 96,54% destes<br />

possuem coleta de esgoto e apenas 3,83% deste esgoto é tratado, supõe-se que o excedente tem<br />

sua destinação a céu aberto, sumidouros, fossas secas ou fossas sépticas para limpeza anual. Tendo<br />

em vista que a maioria da área urbana está sobre um aqüífero livre, é preocupante a probabilidade<br />

dessas águas subterrâneas já estarem sendo contaminadas.<br />

Alessandre Humberto de Campos 13


<strong>SUSTENTABILIDA<strong>DE</strong></strong> <strong>DE</strong> <strong>AQUIFEROS</strong> <strong>SUBTERRÂNEOS</strong> <strong>PELA</strong> REABILITAÇÃO URBANA<br />

A SAE prevê, para atingir a meta de coletar e tratar 100% dos esgotos gerados em<br />

Araguari, a construção das ETE’s: Distrito de Amanhece; Distrito de Piracaíba; Bairro São Sebastião;<br />

Córrego dos Verdes.<br />

O esgoto doméstico e industrial é captado através de fossas sépticas interligadas a rede<br />

pública, porém, muitas residências ainda fazem ligações diretas e irregulares na rede de água pluvial.<br />

No trecho coberto, na Av. Cel. Teodolino P. de Araujo, o esgoto é separado da água pluvial,<br />

escoados em tubulações independentes até a Av. Minas Gerais. Deste ponto a diante corre a céu<br />

aberto, tanto esgoto como água pluvial. O córrego Brejo Alegre apresenta sinais de assoreamento e<br />

várias voçorocas causadas pelas águas pluviais que são esgotadas por gravidade dos bairros do<br />

entorno.<br />

O trecho não urbanizado do Córrego Brejo Alegre, a partir da intersecção com a Av. Minas<br />

Gerais, possui em torno de 3.100 metros até a Av. Teodoreto Veloso de Carvalho. Este trecho, de<br />

acordo com os órgãos ambientais do Estado de Minas Gerais, deverá se manter a céu aberto, porém<br />

urbanizado. Para resolver esta situação foi criado ao longo do trecho o Parque Linear do Córrego<br />

Brejo Alegre, que ainda depende de verbas para ter sua construção efetivada. Na intersecção do<br />

Córrego Brejo Alegre com a Av. Minas Gerais haverá a captação do esgotamento sanitário e este<br />

será tubulado e bombeado até a estação de tratamento de esgoto<br />

3.3. RESÍDUOS SÓLIDOS<br />

De acordo com MARQUES, 2007, o maior responsável pela produção de resíduos sólidos<br />

em uma cidade é a construção civil, que de maneira irresponsável é a causadora da degradação<br />

ambiental. Os resíduos da construção e demolição – RCD representa mais de 50% da massa de<br />

resíduos sólidos urbanos. Os municípios têm dificuldades para gerenciar este problema que necessita<br />

de grandes áreas para disposição final, sem contar com áreas sem controle que são usadas para<br />

deposição irregular.<br />

A Resolução 307 do Conselho Nacional de Meio Ambiente CONAMA, 2002 foi um dos<br />

primeiros instrumentos que regulamenta este assunto exigindo ações dos gestores municipais.<br />

Araguari (Figura 3.3.a) já conta com uma Lei Complementar que dispõe sobre o Plano Integrado de<br />

Gerenciamento dos Resíduos da Construção Civil, aprovado em 2009.<br />

Araguari possui uma Central de Entulhos (Figura 3.3.c; Figura 3.3.d) no bairro Sibipiruna,<br />

local denominado “Buraco do Jorge” (Figura 3.3.b) exatamente numa voçoroca junto ao Córrego Brejo<br />

Alegre. Segundo BERTOL, 2007 esta área é de afloramento da Formação Marília (Figura 3.3.e; Figura<br />

3.3.f), que é a unidade mais significativa ocupando 37% de extensão no município.<br />

Alessandre Humberto de Campos 14


<strong>SUSTENTABILIDA<strong>DE</strong></strong> <strong>DE</strong> <strong>AQUIFEROS</strong> <strong>SUBTERRÂNEOS</strong> <strong>PELA</strong> REABILITAÇÃO URBANA<br />

Figura 3.3.a – Perímetro Urbano de Araguari/MG.<br />

Fonte: Google Maps, 2008.<br />

Figura 3.3.b. Localização do “Buraco do Jorge” junto ao Córrego Brejo Alegre.<br />

Fonte: Adaptado de Google Maps, 2008.<br />

Figura 3.3.c – Detalhe da Central de Entulho<br />

NM<br />

Alessandre Humberto de Campos 15


<strong>SUSTENTABILIDA<strong>DE</strong></strong> <strong>DE</strong> <strong>AQUIFEROS</strong> <strong>SUBTERRÂNEOS</strong> <strong>PELA</strong> REABILITAÇÃO URBANA<br />

Figura 3.3.d – Resíduos na Central de Entulho<br />

Figura 3.3.e – Nascente de afloramento FM Marilia<br />

Figura 3.3.f – Nascente de afloramento FM Marilia<br />

A Central de Entulhos está aterrando estas nascentes, as quais já estão com uma aparência<br />

de “água enferrujada”. A montanha de entulho (Figura 3.3.g) que está sendo formada, sem nenhum<br />

tipo de regulamentação técnica, está sufocando estes pontos de afloramento de águas subterrâneas<br />

do aqüífero Bauru Formação Marília. Pela decomposição da matéria orgânica e animais mortos que<br />

são jogados neste local, além dos resíduos da construção e demolição, estas nascentes estão todas<br />

poluídas e, conseqüentemente, a contaminação do aqüífero será proporcional.<br />

Alessandre Humberto de Campos 16


<strong>SUSTENTABILIDA<strong>DE</strong></strong> <strong>DE</strong> <strong>AQUIFEROS</strong> <strong>SUBTERRÂNEOS</strong> <strong>PELA</strong> REABILITAÇÃO URBANA<br />

Figura 3.3.g – Montanha de entulho sendo formada em local de afloramento da Formação Marília do<br />

Grupo Bauru<br />

4. QUALIDA<strong>DE</strong> DA ÁGUA EM ARAGUARI<br />

Um aspecto importante a ser observado na explotação de águas subterrâneas é a sua<br />

qualidade, tendo em vista o uso proposto. A qualidade da água subterrânea é medida pela dissolução<br />

dos minerais presentes em rochas formadoras dos aqüíferos ou pelo sistema de percolação das<br />

recargas. Alguns fatores influenciam nesta qualidade, como por exemplo, a composição da água de<br />

recarga, tempo de contato, água/meio físico, clima e até mesmo a poluição causada pelas atividades<br />

humanas.<br />

A princípio, dependendo da profundidade do aqüífero e pelo maior tempo de contato com os<br />

materiais geológicos, baixa velocidade de fluxo e maiores pressões e temperaturas, as águas<br />

subterrâneas são geralmente mais mineralizadas do que as águas superficiais. Pelas mesmas<br />

razões, possui menores teores de matérias em suspensão e matéria orgânica, esta última devido à<br />

ação dos microorganismos presentes no solo. A qualidade é definida pelas características físicas,<br />

químicas e biológicas da água. Dentro dos valores encontrados para cada um destes parâmetros, é<br />

possível estabelecer os diferentes usos: consumo humano, irrigação, industrial e outros.<br />

A portaria nº 518, de 25 de março de 2004 estabelece os procedimentos e<br />

responsabilidades relativos ao controle e vigilância da qualidade da água para consumo humano e<br />

seu padrão de potabilidade. Em seu Anexo, Art. 4°, são definidos alguns conceitos:<br />

(...) ”Art. 4º Para os fins a que se destina esta Norma, são adotadas as seguintes<br />

definições:<br />

I. água potável – água para consumo humano cujos parâmetros microbiológicos,<br />

físicos, químicos e radioativos atendam ao padrão de potabilidade e que não<br />

ofereça riscos à saúde;<br />

II. sistema de abastecimento de água para consumo humano – instalação<br />

composta por conjunto de obras civis, materiais e equipamentos, destinada à<br />

produção e à distribuição canalizada de água potável para populações, sob a<br />

responsabilidade do poder público, mesmo que administrada em regime de<br />

concessão ou permissão;<br />

III. solução alternativa de abastecimento de água para consumo humano – toda<br />

modalidade de abastecimento coletivo de água distinta do sistema de<br />

abastecimento de água, incluindo, entre outras,<br />

fonte, poço comunitário, distribuição por veículo transportador, instalações<br />

condominiais horizontal e vertical;<br />

IV. controle da qualidade da água para consumo humano – conjunto de atividades<br />

exercidas de forma contínua pelo(s) responsável(is) pela operação de sistema ou<br />

solução alternativa de abastecimento<br />

Alessandre Humberto de Campos 17


<strong>SUSTENTABILIDA<strong>DE</strong></strong> <strong>DE</strong> <strong>AQUIFEROS</strong> <strong>SUBTERRÂNEOS</strong> <strong>PELA</strong> REABILITAÇÃO URBANA<br />

de água, destinadas a verificar se a água fornecida à população é potável,<br />

assegurando a manutenção desta condição;<br />

V. vigilância da qualidade da água para consumo humano – conjunto de ações<br />

adotadas continuamente pela autoridade de saúde pública, para verificar se a<br />

água consumida pela população atende à esta Norma e para avaliar os riscos que<br />

os sistemas e as soluções alternativas de abastecimento de água representam<br />

para a saúde humana;<br />

VI. coliformes totais (bactérias do grupo coliforme) - bacilos gram-negativos,<br />

aeróbios ou anaeróbios facultativos, não formadores de esporos, oxidasenegativos,<br />

capazes de desenvolver na presença de sais biliares ou agentes<br />

tensoativos que fermentam a lactose com produção de ácido, gás e aldeído a 35,0<br />

± 0,5 oC em 24-48 horas, e que podem apresentar atividade da enzima ß -<br />

galactosidase. A<br />

maioria das bactérias do grupo coliforme pertence aos gêneros Escherichia,<br />

Citrobacter, Klebsiella e Enterobacter, embora vários outros gêneros e espécies<br />

pertençam ao grupo;<br />

VII. coliformes termotolerantes - subgrupo das bactérias do grupo coliforme que<br />

fermentam a lactose a 44,5 ± 0,2oC em 24 horas; tendo como principal<br />

representante a Escherichia coli, de origem<br />

exclusivamente fecal;<br />

VIII. Escherichia Coli - bactéria do grupo coliforme que fermenta a lactose e<br />

manitol, com produção de ácido e gás a 44,5 ± 0,2oC em 24 horas, produz indol a<br />

partir do triptofano, oxidase negativa, não hidroliza a uréia e apresenta atividade<br />

das enzimas ß galactosidase e ß glucoronidase sendo considerada o mais<br />

específico indicador de contaminação fecal recente e de eventual presença de<br />

organismos patogênicos;<br />

IX. contagem de bactérias heterotróficas - determinação da densidade de<br />

bactérias que são capazes de produzir unidades formadoras de colônias (UFC), na<br />

presença de compostos orgânicos contidos em meio de cultura apropriada, sob<br />

condições pré-estabelecidas de incubação: 35,0, ± 0,5oC por 48 horas;<br />

X. cianobactérias - microorganismos procarióticos autotróficos, também<br />

denominados como cianofíceas (algas azuis), capazes de ocorrer em qualquer<br />

manancial superficial especialmente naqueles<br />

com elevados níveis de nutrientes (nitrogênio e fósforo), podendo produzir toxinas<br />

com efeitos adversos à saúde; e<br />

XI. cianotoxinas - toxinas produzidas por cianobactérias que apresentam efeitos<br />

adversos à saúde por ingestão oral, incluindo:<br />

a) microcistinas - hepatotoxinas heptapeptídicas cíclicas produzidas por<br />

cianobactérias, com efeito potente de inibição de proteínas fosfatases dos tipos 1<br />

e 2A e promotoras de tumores;<br />

b) cilindrospermopsina - alcalóide guanidínico cíclico produzido por cianobactérias,<br />

inibidor de síntese protéica, predominantemente hepatotóxico, apresentando<br />

também efeitos citotóxicos nos rins,<br />

baço, coração e outros órgãos; e<br />

c) saxitoxinas - grupo de alcalóides carbamatos neurotóxicos produzido por<br />

cianobactérias, não sulfatados (saxitoxinas) ou sulfatados (goniautoxinas e Ctoxinas)<br />

e derivados decarbamil, apresentando efeitos de inibição da condução<br />

nervosa por bloqueio dos canais de sódio.”(...)<br />

O Art. 11 do Anexo da mesma portaria define o padrão de potabilidade da água. O Art. 12.,<br />

para a garantia da qualidade microbiológica da água, em complementação às exigências relativas<br />

aos indicadores microbiológicos, deve ser observado o padrão de turbidez expresso na Tabela 2<br />

apresentada no mesmo artigo.<br />

O Art. 13 diz que após a desinfecção, a água deve conter um teor mínimo de cloro residual<br />

livre de 0,5 mg/L, sendo obrigatória a manutenção de, no mínimo, 0,2 mg/L em qualquer ponto da<br />

rede de distribuição, recomendando-se que a cloração seja realizada em pH inferior a 8,0 e tempo de<br />

contato mínimo de 30 minutos. Vários outros artigos trazem tabelas com valores de aceitação para o<br />

consumo humano de água.<br />

Alessandre Humberto de Campos 18


<strong>SUSTENTABILIDA<strong>DE</strong></strong> <strong>DE</strong> <strong>AQUIFEROS</strong> <strong>SUBTERRÂNEOS</strong> <strong>PELA</strong> REABILITAÇÃO URBANA<br />

De acordo com o Laboratório de Análise de Água da Superintendência de Água e Esgoto –<br />

SAE em Araguari foram analisados alguns poços, cuja coleta da água feita por meio de torneiras<br />

ligadas diretamente no poço sem adoção de nenhum processo de esterilização da torneira e<br />

armazenada em potes apropriados e esterilizados e encaminhados ao laboratório, foi realizada antes<br />

da desinfecção da água com cloro e os resultados foram os seguintes, conforme mostras as Figuras<br />

4.a, 4.b, 4.c, 4.d:<br />

Figura 4.a – Análise da água subterrânea de Araguari. Fonte: SAE, 2009<br />

Alessandre Humberto de Campos 19


<strong>SUSTENTABILIDA<strong>DE</strong></strong> <strong>DE</strong> <strong>AQUIFEROS</strong> <strong>SUBTERRÂNEOS</strong> <strong>PELA</strong> REABILITAÇÃO URBANA<br />

Figura 4.b – Análise da água subterrânea de Araguari. Fonte: SAE, 2009.<br />

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<strong>SUSTENTABILIDA<strong>DE</strong></strong> <strong>DE</strong> <strong>AQUIFEROS</strong> <strong>SUBTERRÂNEOS</strong> <strong>PELA</strong> REABILITAÇÃO URBANA<br />

Figura 4.c – Análise da água subterrânea de Araguari. Fonte: SAE, 2009<br />

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<strong>SUSTENTABILIDA<strong>DE</strong></strong> <strong>DE</strong> <strong>AQUIFEROS</strong> <strong>SUBTERRÂNEOS</strong> <strong>PELA</strong> REABILITAÇÃO URBANA<br />

Figura 4.d – Análise da água subterrânea de Araguari. Fonte: SAE, 2009<br />

Observa-se pelos resultados, que há uma incidência de nitratos e coliformes totais nas<br />

águas subterrâneas utilizadas para o consumo humano na cidade de Araguari/MG. A presença de<br />

nutriente em águas subterrâneas faz parte do ciclo normal da natureza. O problema de contaminação<br />

se dá pelo aparecimento excessivo de nitrogênio (N), base dos nitratos, e fósforo (P). Pelo fato das<br />

partículas do solo reter o fósforo (P) a poluição das águas subterrânea por lixiviação de fósforo é<br />

desprezível (RESEN<strong>DE</strong>, 2002).<br />

A contaminação por nitrogênio se dá pelas diferentes composições deste elemento com o<br />

hidrogênio e o oxigênio, como por exemplo, a amônia (NH3) e o nitrato (NO3). O nitrato é menos<br />

resistente ao processo de lixiviação e desta forma chega com mais facilidade as águas profundas de<br />

acordo com o índice de permeabilidade do solo. A decomposição de resíduos orgânicos contribuem<br />

para a conversão de formas de nitrogênio orgânico em amônia. A ocorrência de nitratos em águas<br />

subterrâneas, portanto, se dá em função da lixiviação da decomposição de matérias orgânicas<br />

utilizadas como adubos ou a adição de adubos químicos a base de nitrato.<br />

Os coliformes estão presentes em grandes quantidades nas fezes do ser humano e dos<br />

animais de sangue quente. A presença de coliformes na água não representa, por si só, um perigo à<br />

saúde, mas indica a possível presença de outros organismos causadores de problemas à saúde. Os<br />

principais indicadores de contaminação fecal são as concentrações de coliformes totais e coliformes<br />

fecais, expressa em número de organismos por 100 ml de água.<br />

Alessandre Humberto de Campos 22


<strong>SUSTENTABILIDA<strong>DE</strong></strong> <strong>DE</strong> <strong>AQUIFEROS</strong> <strong>SUBTERRÂNEOS</strong> <strong>PELA</strong> REABILITAÇÃO URBANA<br />

5. AÇÕES ANTRÓPICAS – VULNERABILIDA<strong>DE</strong> DO AQUÍFERO<br />

O acelerado crescimento das cidades causa uma demanda maior por água potável e os<br />

problemas que envolvem a manutenção da qualidade e quantidade das águas superficiais e<br />

subterrâneas, agravam proporcionalmente. No Brasil, os problemas mais comuns das águas<br />

subterrâneas estão relacionados com a superexplotação, impermeabilização do solo e com a<br />

poluição.<br />

A superexplotação é a retirada excessiva da água do aqüífero para o uso comercial,<br />

ultrapassando o volume de infiltração. Isso pode afetar as nascentes, os níveis dos reservatórios,<br />

provocar subsidência do terreno ou induzir o refluxo de água contaminada.<br />

A impermeabilização do solo se dá pelo asfaltamento das ruas, construções de casas,<br />

ausência de jardim e parques, com isso a capacidade de infiltração ou percolação da água fica<br />

comprometida diminuindo, significamente, os níveis de recarga dos aquíferos.<br />

A poluição, uma das principais ações antrópicas, é um dos fatores potenciais de<br />

contaminação dos aqüíferos. Dependendo do tipo de contaminante e suas características, a<br />

recuperação é lenta e de custo muito elevado. A susceptibilidade de contaminação de um aqüífero à<br />

poluição é definida como vulnerabilidade. Esta contaminação pode ser direta ou indireta, relacionadas<br />

a atividades humanas (ações antrópicas) ou processos naturais.<br />

As principais fontes de contaminação direta (Figura 5.a) estão descritas na Tabela 5.a.<br />

Tabela 5.a. – Fontes de contaminação direta de aqüíferos subterrâneos.<br />

Fonte Descrição<br />

Deposição de<br />

resíduos sólidos no<br />

solo<br />

Esgotos e fossas<br />

Atividades agrícolas<br />

Mineração<br />

Vazamento de<br />

substâncias tóxicas<br />

Descarte de resíduos provenientes das atividades industriais, comerciais ou domésticas<br />

em depósitos a céu aberto, conhecidos como lixões.<br />

Lançamento de esgotos diretamente sobre o solo ou na água, os vazamentos em<br />

coletores de esgotos e a utilização de fossas construídas de forma inadequada<br />

Fertilizantes e agrotóxicos utilizados na agricultura podem contaminar as águas<br />

subterrâneas com substâncias como compostos orgânicos, nitratos, sais e metais<br />

pesados.<br />

A exploração de alguns minérios, com ou sem utilização de substâncias químicas em<br />

sua extração, produz rejeitos líquidos e/ou sólidos que podem contaminar os aqüíferos.<br />

Vazamentos de tanques em postos de combustíveis, oleodutos e gasodutos, além de<br />

acidentes no transporte de substâncias tóxicas, combustíveis e lubrificantes.<br />

Cemitérios Fontes potenciais de contaminação da água, principalmente por microorganismos.<br />

Filtragem vertical<br />

descendente<br />

Contaminação<br />

Natural<br />

Poços mal<br />

construídos e/ou<br />

abandonados<br />

Fonte: MMA, 2007<br />

Poluição de um aqüífero mais profundo pelas águas de um aqüífero livre superior.<br />

Provocada pela transformação química e dissolução de minerais, podendo ser agravada<br />

pela ação antrópica (aquela provocada pelos seres humanos), por exemplo, a<br />

salinização, presença de ferro, manganês, carbonatos e outros minerais associados a<br />

formação rochosa.<br />

Poços construídos sem critérios técnicos, com revestimento corroído/rachado, sem<br />

manutenção e abandonados sem o fechamento adequado.<br />

Alessandre Humberto de Campos 23


<strong>SUSTENTABILIDA<strong>DE</strong></strong> <strong>DE</strong> <strong>AQUIFEROS</strong> <strong>SUBTERRÂNEOS</strong> <strong>PELA</strong> REABILITAÇÃO URBANA<br />

Figura 5.a - Fontes de contaminação direta de aqüíferos subterrâneos.<br />

Fonte: MMA, 2007.<br />

Os índices de vulnerabilidade a contaminação de aqüíferos surgiu a partir da década de<br />

1980 e corresponde a função das características hidrogeológicas e geoquímicas dos aqüíferos (LIMA,<br />

2007).<br />

Considerando um aqüífero livre, a vulnerabilidade natural pode ser entendida em função da:<br />

a) acessibilidade hidráulica da zona não saturada à penetração de contaminantes; b) capacidade de<br />

atenuação da camada que cobre a zona saturada, resultado da retenção ou reação físico-química de<br />

contaminantes - dispersão, retardação e degradação.<br />

Em um derramamento de gasolina, uma das principais preocupações é a contaminação de<br />

aqüíferos que sejam usados como fonte de abastecimento de água para consumo humano. Por ser<br />

muito pouco solúvel em água, a gasolina derramada, contendo mais de uma centena de<br />

componentes, inicialmente estará presente no subsolo como líquido de fase não aquosa (NAPL). Em<br />

contato com a água subterrânea a gasolina se dissolverá parcialmente. Os hidrocarbonetos<br />

monoaromáticos, benzeno, tolueno, etilbenzeno e os três xilenos orto, meta e para, chamados<br />

compostos BTEX, são os constituintes da gasolina que têm maior solubilidade em água e, portanto,<br />

são os contaminantes que primeiro irão atingir o lençol freático (CORSEUIL, 1997).<br />

A localização e operação inadequadas de cemitérios em meios urbanos podem provocar a<br />

contaminação de mananciais hídricos por microrganismos que proliferam no processo de<br />

decomposição dos corpos, ou seja, através do necrochorume (MATOS, 2001).<br />

Se o aqüífero freático for contaminado na área interna do cemitério, esta contaminação<br />

poderá fluir para regiões próximas, aumentando o risco de saúde nas pessoas que venham a utilizar<br />

desta água captada através de poços rasos ou em aqüífero livres. As principais fontes de<br />

contaminação das águas subterrâneas no cemitério são as sepulturas com menos de um ano,<br />

localizadas nas cotas mais baixas, próximas ao nível freático. Nestes locais, é maior a ocorrência de<br />

bactérias em geral. Há um grande consumo do oxigênio existente nas águas. As sepulturas ainda<br />

provocam um acréscimo na quantidade de sais minerais, aumentando a condutividade elétrica destas<br />

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<strong>SUSTENTABILIDA<strong>DE</strong></strong> <strong>DE</strong> <strong>AQUIFEROS</strong> <strong>SUBTERRÂNEOS</strong> <strong>PELA</strong> REABILITAÇÃO URBANA<br />

águas. Parece haver um aumento na concentração dos íons maiores bicarbonato, cloreto, sódio e<br />

cálcio, e dos metais ferro, alumínio, chumbo e zinco nas águas próximas de sepulturas.<br />

A utilização de fossas rudimentares se traduz na deposição inadequada dos efluentes<br />

líquidos, muitas vezes diretamente no aqüífero, como por exemplo, fossas negras escavadas até o<br />

nível freático. Um agravante a este problema são as ocupações irregulares, dada à grande densidade<br />

populacional e alta concentração de fossas negras tendo em vista a falta de ligações de esgoto ao<br />

sistema público de coleta.<br />

O que predomina na maioria das áreas urbanas é a disposição final inadequada dos<br />

resíduos sólidos urbanos, que acabam sendo despejados sem critérios no meio ambiente, interferindo<br />

na qualidade do solo, do ar e das águas. A composição do lixo é muito variável e imprevisível, tanto<br />

na sua qualidade como na sua quantidade, sendo de extrema importância conhecê-lo para<br />

equacionar o problema das atividades dentro da limpeza pública, que englobam: o acondicionamento,<br />

a coleta, o transporte, o tratamento e a disposição final dos resíduos sólidos. A contaminação do solo<br />

tem-se tornado uma das preocupações ambientais, uma vez que, geralmente, a contaminação<br />

interfere no ambiente global da área afetada (solo, águas superficiais e subterrâneas, ar, fauna e<br />

vegetação), podendo mesmo estar na origem de problemas de saúde pública.<br />

Os processos industriais utilizados pelas empresas do ramo de couros, peles e produtos<br />

similares geram consideráveis volumes de resíduos sólidos e grandes quantidades de lodo são<br />

formados nos sistemas de tratamento de efluentes líquidos dessas empresas, caracterizados por<br />

elevadas cargas orgânica e inorgânica, devido presença de cromo e pigmentos utilizados nas tintas.<br />

A concentração de um contaminante varia ao longo de seu deslocamento, tanto no solo insaturado,<br />

como no aquífero.<br />

A água da chuva é contaminada pela poluição que se encontra no ar, podendo estar<br />

contaminada com partículas de arsênico, chumbo, outros poluentes e inclusive ser uma chuva ácida.<br />

A indústria contamina a água através do despejo nos rios e lagos de desinfetantes, detergentes,<br />

solventes, metais pesados, resíduos radioativos e derivados de petróleo.<br />

Outros problemas podem estar presentes nas águas, como por exemplo:<br />

1 -TURBI<strong>DE</strong>Z: A turbidez é a presença de partículas de sujeira, barro e areia, que retiram o<br />

aspecto cristalino da água, deixando-a com uma aparência túrbida e opaca.<br />

2 - GOSTOS E CHEIROS ESTRANHOS: Gostos e cheiros indesejáveis, como de bolor, de<br />

terra ou de peixe, são causados pela presença de algas, húmus e outros detritos que naturalmente<br />

estão presentes nas fontes de água como rios e lagos.<br />

3 - COR ESTRANHA: A presença de ferro e cobre pode deixá-la amarronzada. Além do<br />

aspecto visual, essa água pode manchar pias e sanitários. A água que causa manchas pretas possui<br />

partículas de manganês.<br />

4 - CHEIRO <strong>DE</strong> OVO PODRE: Este cheiro é causado pela presença de hidrogênio<br />

sulfídrico, produzido por bactérias que se encontram em poços profundos e fontes de águas<br />

estagnadas por longos períodos.<br />

5 - GOSTO <strong>DE</strong> FERRUGEM/GOSTO METÁLICO: O excesso de ferro e de outros metais<br />

altera o sabor e aparência da água. O sabor da água pode apresentar-se metálico, mesmo que<br />

visualmente a coloração esteja normal, pois a coloração enferrujada só aparece depois de alguns<br />

minutos em contato com o ar.<br />

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6 - GOSTO E CHEIRO <strong>DE</strong> CLORO: O cloro é usado pelas estações de tratamento para<br />

desinfetar a água. Porém, a presença de cloro prejudica o sabor e o cheiro da água que vai ser<br />

utilizada para beber ou na culinária em geral.<br />

A vulnerabilidade de um aqüífero é, portanto, um conjunto de características que determina<br />

o quanto ele poderá ser afetado pela carga do contaminante (Figura 5.b). São considerados aspectos<br />

fundamentais da vulnerabilidade: o tipo de aqüífero (livre a confinado), a profundidade do nível d'água<br />

e as características dos estratos acima da camada de interesse, em termos de grau de consolidação<br />

e litologia.<br />

Dentre as classes de vulnerabilidade (Figura 5.c) e de risco por contaminação de aqüíferos,<br />

define-se como sendo de vulnerabilidade:<br />

1 – Alta: Corresponde aquelas áreas onde ocorre água subterrânea explotável em aqüífero<br />

livre, a profundidade inferior a 10 metros subjacente a material de alta permeabilidade por<br />

porosidade, sem nenhum atenuante de conteúdo argiloso que retarde ou impeça a infiltração de<br />

elementos poluentes dispostos na superfície ou sub-superfície do terreno.<br />

2 – Moderada: Corresponde àquelas áreas onde ocorre água subterrânea explotável a<br />

profundidade de 2 a 10 m, subjacente a um material pouco permeável ou onde ocorre material de alta<br />

permeabilidade, em superfície, porém com água subterrânea explotável a 30 m de profundidade.<br />

3 – Baixa: Corresponde àquelas áreas onde ocorre água subterrânea explotável a mais de<br />

40 m de profundidade em aqüífero confinado por material pouco permeável ocorrendo próximo a<br />

superfície ou em profundidade. Passível de ser contaminada através de poços mal construídos ou<br />

danificados.<br />

4 – Desprezível: Corresponde às áreas desprovidas de condições viáveis em água<br />

subterrânea explotável, em virtude da sua ausência ou da qualidade química. São as áreas ocupadas<br />

pelas rochas intrusivas vulcânicas não fraturadas.<br />

As áreas de risco são assim definidas:<br />

a) Risco Máximo Corresponde à zona urbana, sem saneamento ou com saneamento<br />

inadequado, situadas em áreas de vulnerabilidade alta.<br />

b) Risco Alto Corresponde à zona urbana com saneamento adequado ou contendo parque<br />

industrial, situados em áreas de vulnerabilidade moderada ou elevada.<br />

c) Risco Moderado Correspondente as áreas de vulnerabilidade alta, moderada ou baixa,<br />

ocupadas por pequenas concentrações habitacionais, zona urbana com saneamento adequado ou<br />

zona urbana desprovida de saneamento adequado, respectivamente.<br />

d) Risco Baixo São as áreas de vulnerabilidade moderada ou baixa, ocupadas por<br />

pequenas concentrações habitacionais ou zonas urbanizadas com saneamento adequado.<br />

A proteção das águas subterrâneas é preciso ter a conscientização da sua importância e<br />

manutenção das características naturais. A transformação do meio ambiente e a dinâmica da sua<br />

ocupação têm sido estudo para vários especialistas e os esforços caminham para o controle e a<br />

integração da gestão da qualidade e da gestão da quantidade desse recurso natural.<br />

Para que seja possível promover a gestão integrada destes recursos é necessário que se<br />

tenha conhecimento da ocorrência e do potencial hídrico dos aqüíferos do país. Como demanda de<br />

água potável cresce em todo mundo, este é um mercado de dimensões ainda incalculáveis. É<br />

necessário o conhecimento do ciclo hidrológico, que vai possibilitar uma correta avaliação da<br />

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disponibilidade dos recursos hídricos de uma determinada região e, uma das partes mais importantes<br />

desse estudo é entender o que acontece com as águas subterrâneas, sem dúvida a menos<br />

conhecida do referido ciclo.<br />

Figura 5.b – Contaminantes comuns da água subterrânea e fontes de poluição.<br />

Fonte: FOSTER, HIRATA, 2006<br />

Figura 5.c - Vulnerabilidade dos aqüíferos à contaminação.<br />

Fonte: FOSTER, HIRATA, 2006<br />

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6. MEDIDAS PREVENTIVAS <strong>DE</strong> PLANEJAMENTO URBANO<br />

Como medida de proteção dos aqüíferos contra a contaminação se faz mister o uso de<br />

ferramentas de planejamento urbano para restringir e regulamentar, de forma permanente, o uso do<br />

solo, a emissão e efluentes e a deposição de resíduos. É importante definir manejos do solo com fins<br />

exclusivos a proteção de águas subterrâneas, além de um zoneamento que tenha um papel<br />

fundamental na definição de prioridades para o monitoramento da qualidade dos recursos hídricos<br />

subterrâneos, a auditoria ambiental de instalações industriais, o controle da poluição na atividade<br />

agrícola e a comunicação social em geral (FOSTER, HIRATA, 2006).<br />

Ações de órgãos institucionais para uma possível promoção da proteção da água<br />

subterrânea estão sugeridas na Figura 6.a. Estes órgãos têm a responsabilidade de cumprir os<br />

códigos e normas técnicos, porém, tem-se a obrigação de ser proativas em realizar ou promover<br />

avaliações do perigo de contaminação para todas as suas fontes de águas subterrâneas, concebendo<br />

legislações, conforme a atribuição de cada um, com medidas preventivas.<br />

Para o gerenciamento de explotação do SAG, foi estabelecido no II Congresso Aqüífero<br />

Guarani, realizado em Ribeirão Preto/SP de 04 a 07 de novembro de 2008, um zoneamento mínimo<br />

de manejo dos recursos hídricos subterrâneos, divididos em três grandes zonas:<br />

a) zona de afloramento [ZA];<br />

b) zona de confinamento próximo à área de afloramento (de 10-50 km do contato entre os<br />

sedimentos SAG e o basalto) e/ou onde o aquitarde tem até 100m de espessura [ZC];<br />

c) zona de forte confinamento [ZFC].<br />

Também, propuseram diretrizes de utilização sustentável e proteção do Aqüífero Guarani,<br />

para os seus diferentes domínios – Confinado ou Livre.<br />

Figura 6.a - Medidas institucionais preventivas para controle de poluição de água subterrânea. Fonte:<br />

FOSTER, HIRATA, 2006<br />

As Diretrizes Gerais propostas para o SAG são:<br />

“- regularização de captações, com vistas à coleta de informações hidrogeológicas<br />

e sobre demanda do aquífero;<br />

- controle de disposição de resíduos e efluentes, visando à proteção do<br />

aquífero,sobretudo na área de afloramento;<br />

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- regulamentação dos padrões técnicos construtivos (normas técnicas) e de<br />

desativação de poços, com vistas à proteção e à padronização na obtenção de<br />

dados;<br />

- monitoramento de captações, para obtenção de dados quantitativos e qualitativos<br />

das águas do SAG;<br />

- sistematização e atualização das informações sobre o SAG, buscando o<br />

aprimoramento do conhecimento hidrogeológico;<br />

- implementação do enquadramento das águas subterrâneas, em termos de<br />

qualidade, como subsídio para o zoneamento do SAG;<br />

- fortalecimento institucional para fiscalização, monitoramento e controle dos<br />

recursos hídricos subterrâneos;<br />

- estabelecimento de fóruns de discussão internacionais, nacionais e locais para<br />

gestão compartilhada do SAG.” (II Congresso Aqüífero Guarani, 2008)<br />

Para o domínio SAG Livre, as diretrizes devem considerar o Zoneamento do Uso e<br />

Ocupação do Solo, com vistas à proteção e promoção de recarga do aquífero.<br />

Para a Zona Rural, devem ser considerados: a vulnerabilidade natural da área; a aptidão<br />

agrícola (relevo, solo) e o modelo de produção agrícola.<br />

Para a Zona Urbana, devem ser considerados: o parcelamento da ocupação do solo; o<br />

controle de fontes potenciais de poluição; o controle de captações e o controle de impermeabilização<br />

do solo.<br />

Para o domínio do SAG Confinado, as diretrizes devem estabelecer o zoneamento para o<br />

uso, de acordo com as características químicas e físicas da água, e os limites de rebaixamento (nível<br />

potenciométrico) para explotação.<br />

7. <strong>SUSTENTABILIDA<strong>DE</strong></strong> DA ÁGUA EM ARAGUARI<br />

Com o crescimento urbano, a necessidade de água cresce proporcionalmente, tanto para<br />

atender as necessidades residenciais, comerciais, industriais, bem como, atender o aumento de<br />

áreas produtivas para suprimento de alimentos da população.<br />

A explotação descontrolada do aqüífero subterrâneo em Araguari, que utiliza 100% de água<br />

subterrânea para seu abastecimento, poderá causar dificuldades no atendimento na zona urbana e,<br />

por conseqüência, na zona rural, pelo rebaixamento do aqüífero devido ao desequilíbrio da<br />

explotação com os níveis de recarga.<br />

O planejamento é fundamento primordial para garantir a sustentabilidade do aqüífero<br />

subterrâneo. Sustentabilidade significa desenvolver um processo de se obter de modo contínuo<br />

condições de vida iguais ou superiores para um grupo de pessoas e seus sucessores em um dado<br />

ecossistema.<br />

A Tabela 7.a, lista algumas ações antrópicas para garantir a sustentabilidade da nossa água.<br />

Tabela 7.a – Ações Antrópicas Sustentáveis para Araguari<br />

Ações Sustentabilidade<br />

Mapeamento<br />

Georreferenciado das<br />

áreas de explotação<br />

Evitar o desperdício<br />

Dentre as várias aplicações de geotecnologias, destaca-se a sistematização dos<br />

processos de planejamento, aumentando a eficiência e transparência da gestão<br />

administrativa, territorial e da prestação de serviços públicos. Além disso, usam-se as<br />

geotecnologias para a construção e manutenção de dados que vai desde a geração<br />

da base cartográfica até o cruzamento de informações sobre os níveis de recarga do<br />

aqüífero.<br />

O desperdício é um ato cultural, ou seja, passa por gerações, porém, este ato deverá<br />

ser diminuído com solidez e as ações devem ser pela consciência do uso racional da<br />

água, chegando aos níveis recomendados pela ONU.<br />

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Controle de processos<br />

erosivos<br />

Revegetação de áreas<br />

degradadas<br />

Proteção Ecológica<br />

Adensamento Urbano<br />

Economia Local/Centros<br />

de Bairro<br />

Revitalização Urbana<br />

Sentido de Vizinhança<br />

Transporte Sustentável<br />

Drenagem Natural<br />

Tratamento de Esgoto<br />

Gestão Integrada da<br />

Água<br />

Energias Alternativas<br />

Política dos 3R’s<br />

Moradias<br />

Economicamente<br />

Viáveis<br />

Poupar as áreas remanescentes da formação vegetal natural, evitando o<br />

desmatamento para a formação de pastagens e plantio de culturas permanentes, sem<br />

controle e observância da legislação ambiental.<br />

Utilizar espécies nativas do bioma Cerrado adaptáveis ao Município de Araguari/MG,<br />

zona urbana e rural, aumentando a área de cobertura arbórea de proteção do solo e<br />

de permeabilidade para recarga dos aquíferos.<br />

Respeitar o limite de proteção de Área de Preservação Permanente definidos na<br />

legislação vigente, bem como, ampliar essa área quando da exploração de atividades<br />

de lazer e entretenimento.<br />

Definir na Lei de parcelamento, uso e ocupação do solo com parâmetros urbanísticos<br />

que definam porcentagens de espaços permeáveis e regulamente a construção de<br />

“casas verdes”.<br />

Garantir pelo zoneamento que nas áreas ainda não loteadas os empreendedores<br />

definam áreas para a implantação de centros de bairro.<br />

Definir área como APA que necessite de recuperação e após, torná-la locais atrativos<br />

de pássaros e animais silvestres.<br />

Realizar a revegetação do local - “Buraco do Jorge” - com espécies adequadas e<br />

resistentes a solo pobre.<br />

Transformar o local em área de lazer e entretenimento com atividades de rapel,<br />

arvorismo, trilha ecológica, etc.<br />

Definir locais para a população com maiores atrativos de lazer e entretenimento<br />

promovendo o encontro tanto da comunidade do bairro quanto da comunidade de<br />

toda cidade.<br />

Aprovar a Lei do Sistema Viário Básico para regulamentar a implantação de ciclovias<br />

e ciclofaixas nas principais vias, bem como, criar o sistema integrado de transporte<br />

público. Além disso, definir rotas turisticas para passeio, com incentivo ao uso de<br />

transportes alternativos.<br />

Criar sistemas de captação de água pluvial para abastecimento do lençol freático em<br />

diversos pontos da cidade.<br />

Diagnosticar as ligações clandestinas de esgoto em tubulações de água pluvial e<br />

adotar em curto prazo de tempo 100% de esgoto tratado.<br />

Incentivar a população a captar e a reutilizar águas pluviais em determinadas<br />

atividades que não necessite de água potável, como por exemplo, lavagem de<br />

calçadas e quintais, descargas sanitárias, etc.. Definir parâmetros que exigirão dos<br />

empreendedores de novos loteamentos a captação de águas pluviais para<br />

contribuição do lençol freático.<br />

Definir no Código de Obras a exigência do uso de aquecedor solar de água em<br />

residências, comércios, clubes de lazer e indústrias.<br />

Incentivar a sociedade a utilizar menos o veículo automotor, pois as características<br />

geográficas da cidade permitem o deslocamento a pé e de bicicletas.<br />

Fazer um estudo de viabilidade para produção de energia eólica, pois a cidade tem<br />

grande incidência de ventos na direção NE-SO.<br />

Construir uma usina de reciclagem do lixo.<br />

Transformar o lixo orgânico em adubos para utilização nas hortas comunitárias.<br />

Transformar os resíduos de construção civil em blocos para construção de casas<br />

econômicas.<br />

Reutilizar os pneus inservíveis como agregado de asfalto, em substituição da brita.<br />

Dotar as casas populares de sistema de aquecimento solar de água.<br />

Desapropriar lotes sem utilização ou subutilizados para construção de casas<br />

populares.<br />

Inserir os loteamentos de interesse social, em áreas desapropriadas, integrados a<br />

cidade e próximo dos equipamentos urbanos e comunitários.<br />

Dotar as novas habitações populares de sistema de captação de água de chuva para<br />

seu reuso.<br />

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8. CONCLUSÃO<br />

A situação-problema detectada no município de Araguari/MG é que todo esgotamento<br />

sanitário e pluvial da cidade é lançado num córrego que corta sua área central. O esgoto doméstico e<br />

industrial é captado através de fossas sépticas interligadas a rede pública, porém, muitas residências<br />

ainda fazem ligações diretas e irregulares na rede de água pluvial. No trecho coberto, na Av. Cel.<br />

Teodolino P. de Araujo, o esgoto é separado da água pluvial, escoados em tubulações independentes<br />

até a Av. Minas Gerais. Deste ponto a diante corre a céu aberto, tanto esgoto como água pluvial. O<br />

córrego Brejo Alegre deságua no Ribeirão Jordão, distante uns 10 km da cidade. Este córrego<br />

apresenta sinais de assoreamento e várias voçorocas causadas pelas águas pluviais que são<br />

esgotadas por gravidade dos bairros do entorno.<br />

Como o Córrego Brejo Alegre é todo poluído com os efluentes sanitários de toda a cidade e<br />

ele faz parte da bacia de recarga do aqüífero subterrâneo e o esgoto não recebe tratamento, bem<br />

como, área de afloramento da Formação Marília do Grupo Bauru está sendo aterrada com entulhos<br />

da construção e demolição e não há uma política de planejamento urbano e ambiental na cidade, não<br />

há um sistema de informações georreferenciadas e não há uma visão sistêmica dos princípios de<br />

sustentabilidade para reabilitação ambiental, conclui-se que o Aqüífero Guarani corre certo risco de<br />

contaminação devido a ações antrópicas que, culturalmente, se baseiam em comportamentos por um<br />

desenvolvimento a qualquer custo.<br />

Enquanto não se configurar uma revolução intima em cada um que usufrui deste manancial<br />

pela conscientização de seu uso racional e sustentável, uma reação em cadeia pode ser provocada<br />

e, aqueles 0,66% de água doce subterrânea existente no mundo, poderão não mais existir num futuro<br />

próximo, onde, as futuras gerações pagarão o ônus pela incompetência da geração atual.<br />

Alessandre Humberto de Campos 31


<strong>SUSTENTABILIDA<strong>DE</strong></strong> <strong>DE</strong> <strong>AQUIFEROS</strong> <strong>SUBTERRÂNEOS</strong> <strong>PELA</strong> REABILITAÇÃO URBANA<br />

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Alessandre Humberto de Campos 33

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