Dei-me portanto a um exaustivo labor - Centro Cultural de Belém
Dei-me portanto a um exaustivo labor - Centro Cultural de Belém
Dei-me portanto a um exaustivo labor - Centro Cultural de Belém
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
do canto<br />
da rola<br />
não se extrai<br />
o tempo…<br />
há formas muito antigas<br />
pedindo <strong>um</strong>a leitura<br />
que anteceda a escrita.<br />
na geografia há dobras<br />
on<strong>de</strong> só chega a voz<br />
que é <strong>de</strong>spojada e sóbria.<br />
caminhos há<br />
que os anos conservaram<br />
imutáveis e inúteis.<br />
há pedras que perduram<br />
sem que ninguém as saiba.<br />
rostos existem<br />
que ilu<strong>de</strong>m as eras<br />
e apenas revelam<br />
os sinais da ida<strong>de</strong>.<br />
há gestos que repetem<br />
outros gestos<br />
e corpos velhos<br />
a temperar a juventu<strong>de</strong> e outros.<br />
há gerações que se suce<strong>de</strong>m mansas<br />
e <strong>de</strong>sconhecem som, palavra ou <strong>me</strong>do<br />
que não traduzam <strong>um</strong>a ciência herdada.<br />
1.3<br />
as lágrimas da rã<br />
nadam na água:<br />
o caco já foi panela<br />
e o escravo já teve mãe.<br />
pano emprestado<br />
não livra da nu<strong>de</strong>z<br />
e a cabeça do próprio<br />
não lhe <strong>de</strong>rreia a espinha.<br />
cobre-se, o fidalgo?<br />
e o nobre tem sal?<br />
e a chuva?<br />
só escolhe os bons?<br />
ou aproveita também<br />
ao talo <strong>de</strong> capim<br />
que <strong>me</strong>dra sozinho no areal vazio?<br />
pp. 10 › 11