As Primaveras - Unama
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— Era<br />
Não tinha o prado mais rosas,<br />
O sabiá mais gorjeios,<br />
O céu mais nuvens formosas,<br />
E mais puros devaneios<br />
A tua alma inocentinha?<br />
— Tinha!<br />
E como achavas, Maria,<br />
Aqueles doces instantes<br />
De poética harmonia<br />
Em que as brisas doudejantes<br />
Folgavam nos teus cabelos?<br />
— Belos!<br />
Como tremias, ho! Vida,<br />
Se em mim os olhos fitavas!<br />
Como eras linda, querida,<br />
Quando d’amor suspiravas<br />
Naquela encantadora aurora!<br />
— Ora!<br />
E diz-me: não te recordas<br />
— Debaixo do cajueiro —<br />
Lá da lagoa nas bordas<br />
Aquele beijo primeiro?<br />
Ia o dia já findando...<br />
— Quando?!...<br />
Rio — 1858<br />
Sempre sonhos!...<br />
Se eu tivesse, meu Deus, santos amores,<br />
Eu m’erguera cantando essa paixão,<br />
E atirara p’ra longe — sem saudade<br />
Este véu que me cobre a mocidade<br />
De tanta escuridão!<br />
Eu que sou como o cardo do rochedo<br />
Quase morto dos ventos ao rigor,<br />
Encontrara de novo a minha vida,<br />
O sol da primavera e a luz perdida,<br />
Nos braços desse amor!<br />
Minha fronte, que pende sofredora,<br />
Acharia, meu Deus, inspirações.<br />
E o fogo que queimou Gilbert e Dante<br />
Correria mais puro e mais constante<br />
Na lira das canções!<br />
No mundo tão gentil dos devaneios<br />
Minh’alma mais feliz saudara a luz,<br />
E apagara, Senhor, num beijo puro<br />
A dor imensa da perda do futuro<br />
Que a morte me conduz.<br />
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