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Sem alimento, sem roupa, sem abrigo, ao sol canicular<br />
que queima tudo, pois a temperatura do chão se eleva<br />
a 60 graus, envoltos em farrapos imundos que o suor e a<br />
poeira enegrecem, os retirantes, mortos de fome, porém<br />
animados pelo instinto de conservação, lançam-se a essa<br />
jornada perigosa e rude, na qual grande número exala o<br />
último suspiro.”<br />
Assim Thomaz Pompeu Sobrinho contava aos leitores<br />
do Correio do Ceará, a 3 de junho de, 1915, impressões<br />
sobre esses dias de desespero que se abateram sobre<br />
o Ceará e seu povo.<br />
Ao outro dia, no mesmo Correio do Ceará, na primeira<br />
página, o eminente sábio acudia o leitor com novas<br />
observações que ainda hoje se mantêm atuais, vigorantes:<br />
“Interessantes, dignos de estudo, são os efeitos das<br />
secas sobre os terrenos. As rochas expostas aos ardores<br />
do sol mais diretamente. aquecem-se consideravelmente<br />
durante o dia e resfriam-se bastante durante a noite, em<br />
virtude da irradiação do calor para o espaço límpido.<br />
A secura do ar e essa alternativa de calor e frio<br />
desagregam as partes mais expostas, ângulos e arestas, e<br />
a decomposição das rochas se faz então ativamente. Este<br />
fenômeno de colização dá às rochas e aos serrotes de pedra,<br />
aspectos bizarros e característicos.<br />
As decomposições químicas no solo também se realizam<br />
intensamente sob a ação dos diversos agentes atmosféricos,<br />
então mais ativos: os princípios alimentícios das<br />
plantas aumentam em conseqüência, ao mesmo tempo que<br />
a paralisação da vegetação representa uma considerável<br />
economia dele. Daí, resulta maravilhosa pujança da vegetação,<br />
após a seca. As plantas desenvolvem-se com tamanha<br />
rapidez, e a impressão é de que a natureza tem todo<br />
empenho concentrado em reparar o tempo perdido.”<br />
62 EDUARDO CAMPOS