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Toda a sua vida gira em torno de circunstâncias que,<br />
prevalecendo, transformam a área em que se situa no lugar<br />
ideal de viver pelo menos momentaneamente.<br />
A sentença “nos fins d’água” (marco aprazado para compromissos<br />
diversos) assinala o prenúncio de que é expirado<br />
o inverno; exauriu-se o tempo de bonança. A natureza vai<br />
dar de regredir – de esmorecer – vindo hora da tomada de<br />
deliberações para a comunidade familiar. Vai, então, o homem<br />
preparar-se para estar em Canindé, a 4 de outubro, ou<br />
a Juazeiro do Norte, em novembro, a pagar promessa: acordar<br />
compromissos, abrir novos roçados, fazer compras, ajustar<br />
o dia do batizado do último rebento, casar filhos.<br />
– Nos fins d’água, “nós se entende.<br />
Raro o dito: “nos começos d’água”.<br />
A primeira frase tem trânsito comum, pertence<br />
praticamente ao compromissamento logístico da vida do<br />
sertão, um quer que seja de direito consuetudinário. Firma<br />
evidência a que ninguém é lícito negar, ou desconhecer:<br />
findou o inverno. O enxugo principia.<br />
A rigor, a única coisa que o sertanejo tem certeza de<br />
ver acabado em tempo previsto. Deu junho, ele inquietase.<br />
Prevê no vento que começa a correr desatinado, aditado<br />
por manhas friorentas (a umidade orvalhada da madrugada<br />
desce sobre açudes e lagos, faz-se névoa sombria,<br />
apreguiçante), soa a hora de recomeçar tudo novamente.<br />
Este “fins d’água” terá significado mais amplo, a alterar<br />
profundamente a imagem que o cearense tem do locus<br />
amenus desfrutável.<br />
Em seu enunciado pode vir, no entanto, a rutura<br />
definitiva do homem com a sua paisagem, já não dizemos<br />
amável, mas necessária.<br />
E é em seus momentos de rutura com meio ambiente,<br />
quando já se vê distante, passados os dias, vencidos os<br />
A VIUVEZ DO VERDE<br />
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