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Pelas duas da tarde, desempeçam-se os ventos, trêfegos, e<br />
se tem então de modo claro, inquestionável, a certeza de<br />
estar findo o inverno.<br />
“Quando chega o mês de junho,<br />
Chamado mês de São João,<br />
Solta-se uma ventania,<br />
Zoa a serra e o boqueirão,<br />
Seca a terra, muda o ar,<br />
Do brejo até o sertão.” 1<br />
Todo o verdor exibível nas árvores, em gramíneas e<br />
leguminosas sumarentas, mas de fôlego curto, vai-se<br />
mimetizando, tomando ao sol as tantas cores que<br />
esbraseiam a natureza.<br />
Verão do Ceará.<br />
Enxugo de terra que pode tornar-se o vestíbulo de grande<br />
estiagem, que nunca se sabe quando a seca acontece.<br />
Mas se dá de haver, como nunca, cheiro de vida, de<br />
bicho e curral; e de tetas salivadas pela bezerrada sadia ao<br />
viço rapado à terra, de pastejo inda farto. E leite, é coalhada,<br />
é queijo. A computação ancestral, encastelada nos<br />
mourões das porteiras, alerta a imaginação; dimensiona<br />
os rebanhos; vacas por apartar, bois de açougue, animais<br />
novos à espera de ferro...<br />
Alegram-se os alpendres. O sertanejo paga dívidas e<br />
visitas.<br />
Quem comprou na folha. quer saber o que realmente<br />
vai colher. O algodão, agora que o feijão foi catado e o milho<br />
quebrado, espera hora de ser colhido, anuncia os<br />
1 Rodrigues de Carvalho. Cancioneiro do Norte. 3. ed. (comemorativa<br />
do centenário de nascimento do autor). Rio de Janeiro, Instituto Nacional<br />
do Livro, 1967, p. 265.<br />
18 EDUARDO CAMPOS