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RECADO - Eduardo Campos

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Pelas duas da tarde, desempeçam-se os ventos, trêfegos, e<br />

se tem então de modo claro, inquestionável, a certeza de<br />

estar findo o inverno.<br />

“Quando chega o mês de junho,<br />

Chamado mês de São João,<br />

Solta-se uma ventania,<br />

Zoa a serra e o boqueirão,<br />

Seca a terra, muda o ar,<br />

Do brejo até o sertão.” 1<br />

Todo o verdor exibível nas árvores, em gramíneas e<br />

leguminosas sumarentas, mas de fôlego curto, vai-se<br />

mimetizando, tomando ao sol as tantas cores que<br />

esbraseiam a natureza.<br />

Verão do Ceará.<br />

Enxugo de terra que pode tornar-se o vestíbulo de grande<br />

estiagem, que nunca se sabe quando a seca acontece.<br />

Mas se dá de haver, como nunca, cheiro de vida, de<br />

bicho e curral; e de tetas salivadas pela bezerrada sadia ao<br />

viço rapado à terra, de pastejo inda farto. E leite, é coalhada,<br />

é queijo. A computação ancestral, encastelada nos<br />

mourões das porteiras, alerta a imaginação; dimensiona<br />

os rebanhos; vacas por apartar, bois de açougue, animais<br />

novos à espera de ferro...<br />

Alegram-se os alpendres. O sertanejo paga dívidas e<br />

visitas.<br />

Quem comprou na folha. quer saber o que realmente<br />

vai colher. O algodão, agora que o feijão foi catado e o milho<br />

quebrado, espera hora de ser colhido, anuncia os<br />

1 Rodrigues de Carvalho. Cancioneiro do Norte. 3. ed. (comemorativa<br />

do centenário de nascimento do autor). Rio de Janeiro, Instituto Nacional<br />

do Livro, 1967, p. 265.<br />

18 EDUARDO CAMPOS

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