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Sentimientos y Emociones de la Madre Acompañante en - Uerj

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SENTIMENTOS<br />

ENTIMENTOS E EMOÇÕES MOÇÕES DA DA MÃE ÃE<br />

ACOMP COMP COMP COMPANHANTE<br />

COMP ANHANTE NO NO MUNDO UNDO DA UTI:<br />

UTI:<br />

DESCRIÇÃO DESCRIÇÃO FENOMENOLÓGICA FENOMENOLÓGICA DE<br />

DE<br />

MUDANÇAS MUDANÇAS EXISTENCIAIS<br />

EXISTENCIAIS<br />

FEELINGS EELINGS AND AND AND EMOTIONS MOTIONS OF OF OF THE THE ACCOMP CCOMP CCOMPANYING<br />

CCOMPANYING<br />

ANYING<br />

MOTHER OTHER IN IN THE THE THE WORLD ORLD OF OF THE THE UTI:<br />

UTI:<br />

PHENOMENOLOGICAL<br />

PHENOMENOLOGICAL PHENOMENOLOGICAL DESCRIPTION DESCRIPTION OF OF EXISTENTIAL<br />

EXISTENTIAL<br />

CHANGES<br />

CHANGES<br />

Mor<strong>en</strong>o RLR, Jorge MSB<br />

Regina Lúcia Ribeiro Mor<strong>en</strong>o *<br />

Maria Salete Bessa Jorge **<br />

RESUMO: RESUMO: RESUMO: Esta pesquisa f<strong>en</strong>om<strong>en</strong>ológica apres<strong>en</strong>ta uma reflexão sobre s<strong>en</strong>tim<strong>en</strong>tos e emoções <strong>de</strong> oito<br />

mães acompanhantes da UTI do Hospital Infantil Albert Sabin, Fortaleza/Ce-Brasil. A compre<strong>en</strong>são <strong>de</strong>ssa<br />

trajetória a partir da analítica exist<strong>en</strong>cial <strong>de</strong> Martin Hei<strong>de</strong>gger pret<strong>en</strong><strong>de</strong> resgatar a essência humana <strong>de</strong>ssas<br />

mulheres e assim contribuir para uma prática assist<strong>en</strong>cial mais humanizada nas instituições <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

pública e para uma melhoria da saú<strong>de</strong> materno-infantil. As <strong>de</strong>scrições foram obtidas, em 2002, pe<strong>la</strong><br />

<strong>en</strong>trevista f<strong>en</strong>om<strong>en</strong>ológica e submetidas à análise do f<strong>en</strong>ôm<strong>en</strong>o situado, proposta por Martins e Bicudo.<br />

As mães reve<strong>la</strong>ram mudança <strong>de</strong> comportam<strong>en</strong>to e hábito, frustração, nervosismo, medo, culpa, p<strong>en</strong>a,<br />

perplexida<strong>de</strong>, tristeza, solidão, impotência, incerteza, estresse, pré-ocupação, <strong>de</strong>ntre outros.<br />

Pa<strong>la</strong>vras-Chave:<br />

Pa<strong>la</strong>vras-Chave:<br />

Pa<strong>la</strong>vras-Chave: Pa<strong>la</strong>vras-Chave: F<strong>en</strong>om<strong>en</strong>ologia; mãe acompanhante; UTI.<br />

ABSTRACT ABSTRACT ABSTRACT: ABSTRACT This ph<strong>en</strong>om<strong>en</strong>ological research pres<strong>en</strong>ts a reflection on feelings and emotions of eight<br />

accompanying mothers at the Int<strong>en</strong>sive Care Unit (ICU) of the Infantile Hospital Albert Sabin, Fortaleza/Ce<br />

- Brazil. The un<strong>de</strong>rstanding of this trajectory, based on Martin Hei<strong>de</strong>gger’s analytical proposal, int<strong>en</strong>ds to<br />

rescue the human being ess<strong>en</strong>ce of these wom<strong>en</strong> and therefore to contribute to a more humane practical<br />

assistance in public health institutions and to the improvem<strong>en</strong>t of mother/child health. The <strong>de</strong>scriptions<br />

came from ph<strong>en</strong>om<strong>en</strong>ological interviews done in 2002, which were submitted to the analysis of the<br />

situated ph<strong>en</strong>om<strong>en</strong>on mo<strong>de</strong>l, proposed by Martins and Bicudo. The mothers have reported behavior<br />

and habit changes, frustration, nervousness, fear, guilt, sorrow, perplexity, sadness, solitu<strong>de</strong>, impot<strong>en</strong>ce,<br />

uncertainty, stress, daily pre-occupation, amongst others.<br />

Keywords: Keywords: Ph<strong>en</strong>om<strong>en</strong>ology; accompanying mother; int<strong>en</strong>sive care unit.<br />

INTRODUÇÃO<br />

NTRODUÇÃO<br />

NTRODUÇÃO<br />

A preocupação com s<strong>en</strong>tim<strong>en</strong>tos e emoções<br />

viv<strong>en</strong>ciados pe<strong>la</strong>s mães acompanhantes na<br />

Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Terapia Int<strong>en</strong>siva (UTI) e a escolha<br />

do tema surgem após percebermos que a ação terapêutica<br />

em nossas UTI’s limita-se, na maioria<br />

das vezes, a aspectos técnicos e ci<strong>en</strong>tíficos importantes<br />

para o controle ou cura <strong>de</strong> do<strong>en</strong>ças <strong>de</strong> recém-nascidos<br />

(Rn’s) gravem<strong>en</strong>te <strong>en</strong>fermos, sem<br />

levar em consi<strong>de</strong>ração o aspecto ameaçador e incompre<strong>en</strong>sível<br />

das UTI’s; os valores culturais e religiosos<br />

<strong>de</strong>ssas mães; nem o saber, o pudor e a<br />

privacida<strong>de</strong> materna e, até mesmo, as possíveis<br />

marcas que este sofrim<strong>en</strong>to físico-emocional possa<br />

vir a <strong>de</strong>ixar no binômio mãe-filho, ao longo <strong>de</strong><br />

todo o <strong>de</strong>curso da do<strong>en</strong>ça.<br />

Concordamos com a idéia <strong>de</strong> Scochi 1 <strong>de</strong> que,<br />

com o processo <strong>de</strong> humanização assumido nos<br />

últimos anos, essa realida<strong>de</strong> tem passado por<br />

modificações. No <strong>en</strong>tanto, percebemos que essa<br />

ação terapêutica permanece ainda, muito voltada<br />

para o corpo biológico esquec<strong>en</strong>do-se, muitas<br />

vezes, da construção simbólica, fundam<strong>en</strong>tal para<br />

a existência do ser no mundo. Por isso, <strong>de</strong>sve<strong>la</strong>r<br />

s<strong>en</strong>tim<strong>en</strong>tos e emoções <strong>de</strong> sujeitos pert<strong>en</strong>c<strong>en</strong>tes<br />

R Enferm UERJ 2005; 13:175-80. • p.175


S<strong>en</strong>tim<strong>en</strong>tos e emoções da mãe acompanhante em UTI<br />

a um mesmo contexto sociocultural surgiu como<br />

proposta <strong>de</strong>ste estudo, na busca <strong>de</strong> reve<strong>la</strong>rmos, o<br />

que ali se <strong>en</strong>contra ve<strong>la</strong>do, escondido no ser.<br />

A pergunta-guia utilizada foi: Como você se<br />

s<strong>en</strong>te em uma UTI acompanhando e/ou<br />

viv<strong>en</strong>ciando o cuidar <strong>de</strong> seu filho <strong>en</strong>fermo? Tal<br />

indagação norteadora buscou compre<strong>en</strong><strong>de</strong>r o que<br />

é ess<strong>en</strong>cial e invariante para que pudéssemos chegar<br />

à essência <strong>de</strong>sse f<strong>en</strong>ôm<strong>en</strong>o e abrir caminhos<br />

para uma assistência mais humanizada e<br />

integradora nas UTI’s. Esse <strong>en</strong>caminham<strong>en</strong>to<br />

aproximou-se da f<strong>en</strong>om<strong>en</strong>ologia, ao investigar a<br />

verda<strong>de</strong> tomada por base na vivência materna na<br />

UTI, e teve como objetivo compre<strong>en</strong><strong>de</strong>r a expressão<br />

dos s<strong>en</strong>tim<strong>en</strong>tos e emoções da mãe acompanhante,<br />

pois a f<strong>en</strong>om<strong>en</strong>ologia, segundo Barguil e<br />

Leite 2 , proporciona o conhecim<strong>en</strong>to do outro e<br />

do mundo, ao favorecer o estabelecim<strong>en</strong>to da re<strong>la</strong>ção<br />

<strong>en</strong>tre sujeito-objeto.<br />

BASE ASE TEÓRICA EÓRICA DA DA FENOMENOLOGIA<br />

ENOMENOLOGIA<br />

EXISTENCIAL<br />

XISTENCIAL<br />

XISTENCIAL HEIDEGGERIANA<br />

EIDEGGERIANA<br />

O método f<strong>en</strong>om<strong>en</strong>ológico surgiu aproximadam<strong>en</strong>te<br />

no início do século XX, na Alemanha,<br />

contrapondo-se ao conhecim<strong>en</strong>to ci<strong>en</strong>tífico<br />

tradicional, com o objetivo <strong>de</strong> atingir a essência<br />

do f<strong>en</strong>ôm<strong>en</strong>o e não ap<strong>en</strong>as os dados, os fatos <strong>de</strong><br />

que tratam as Ciências Naturais. Teve como fundador<br />

Edmund Husserl, que <strong>de</strong>f<strong>en</strong>dia a necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> uma atitu<strong>de</strong> transc<strong>en</strong><strong>de</strong>ntal, que <strong>de</strong>screvesse<br />

os atos da consciência, a essência verda<strong>de</strong>ira<br />

das coisas naturais e dos seres humanos e não som<strong>en</strong>te<br />

a postura objetivista <strong>de</strong> valorização, percebida<br />

pelos s<strong>en</strong>tidos. Esse método, no <strong>en</strong>tanto, ao<br />

longo <strong>de</strong> toda a sua evolução histórica, inspirou,<br />

também, inúmeros outros estudos e seguidores 2,3 .<br />

Hei<strong>de</strong>gger, que foi fonte <strong>de</strong> inspiração para as<br />

corr<strong>en</strong>tes exist<strong>en</strong>cialistas, utilizou o método<br />

f<strong>en</strong>om<strong>en</strong>ológico para tematizar a compre<strong>en</strong>são do<br />

ser em geral em seus difer<strong>en</strong>tes modos e varieda<strong>de</strong>s,<br />

com o objetivo <strong>de</strong> adquirir instrum<strong>en</strong>tos para analisar<br />

a historicida<strong>de</strong> peculiar da vida, da consciência,<br />

ou seja, a perspectiva autêntica que há <strong>de</strong> dirigir a<br />

interpretação ontológica do f<strong>en</strong>ôm<strong>en</strong>o humano 4 .<br />

Em sua obra SereoTempo, <strong>de</strong>ixou c<strong>la</strong>ro que<br />

o ser-aí (Dasein) significa o modo <strong>de</strong> existir do<br />

homem vincu<strong>la</strong>do à temporalida<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> o ser não<br />

se <strong>de</strong>ixa reve<strong>la</strong>r a si próprio, s<strong>en</strong>ão a partir do tempo.<br />

A temporalida<strong>de</strong> constitui, portanto, o horizonte<br />

da compre<strong>en</strong>são <strong>de</strong>sse ser 5 .<br />

p.176 • R Enferm UERJ 2005; 13:175-80.<br />

O mundo-vida da mãe acompanhante, fonte<br />

<strong>de</strong> nosso estudo, é construído, no <strong>en</strong>tanto, a partir<br />

<strong>de</strong> seu modo <strong>de</strong> s<strong>en</strong>tir, p<strong>en</strong>sar, ver e interpretar<br />

o seu cotidiano. Seu viver no mundo passa, por<br />

conseguinte, a ser ori<strong>en</strong>tado por valores éticos,<br />

culturais e sociais, importantes para formação <strong>de</strong><br />

suas estruturas, <strong>de</strong> ser no mundo. A sua existência<br />

manifesta-se, portanto, pelo seu modo <strong>de</strong> ser<br />

no mundo. O ser e o mundo se completam e se<br />

fun<strong>de</strong>m e há uma construção do ser com o mundo,<br />

o s<strong>en</strong>do-com, viver com os outros, viver em<br />

comunida<strong>de</strong> ou viver na massificação, absorvido<br />

no coletivismo, maneira fundam<strong>en</strong>tal do ser-aí. A<br />

esse modo básico <strong>de</strong> viver com os outros no cotidiano,<br />

Hei<strong>de</strong>gger 5,6 <strong>de</strong>nomina vida social.<br />

Partindo-se da nossa necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> evi<strong>de</strong>nciar<br />

e <strong>de</strong>sve<strong>la</strong>r os s<strong>en</strong>tim<strong>en</strong>tos e emoções <strong>de</strong>ssas<br />

mães acompanhantes na UTI, a partir da sua própria<br />

linguagem, a f<strong>en</strong>om<strong>en</strong>ologia exist<strong>en</strong>cialista<br />

proposta por Hei<strong>de</strong>gger seria a maneira mais a<strong>de</strong>quada<br />

<strong>de</strong> chegarmos à compre<strong>en</strong>são dos significados<br />

<strong>de</strong>ssa experiência. Pois, segundo Martins e<br />

Bicudo 7 , essa metodologia, por utilizar-se da comunicação<br />

interpessoal expressa no discurso, é<br />

capaz <strong>de</strong> focalizar a experiência consci<strong>en</strong>te (int<strong>en</strong>ção)<br />

dos sujeitos investigados e ainda localizar os<br />

elem<strong>en</strong>tos <strong>de</strong> significado pres<strong>en</strong>tes empiricam<strong>en</strong>te.<br />

METODOLOGIA<br />

ETODOLOGIA<br />

A pesquisa foi <strong>de</strong>s<strong>en</strong>volvida no Hospital Infantil<br />

Albert Sabin (HIAS), Fortaleza-CE, com<br />

oito mães acompanhantes, at<strong>en</strong><strong>de</strong>ndo o processo<br />

<strong>de</strong> saturação teórica. Fundam<strong>en</strong>tou-se em categorias<br />

teóricas <strong>de</strong> Hei<strong>de</strong>gger, porque esse filósofo<br />

alemão <strong>de</strong>dicou-se ao estudo da existência humana<br />

no seu cotidiano, <strong>de</strong>s<strong>en</strong>volv<strong>en</strong>do uma analítica<br />

exist<strong>en</strong>cial, a ontologia.<br />

Como método <strong>de</strong> organização e interpretação<br />

das informações, arrimou-se nas categorias <strong>de</strong> análise<br />

<strong>de</strong> Martins e Bicudo7 , isto é, na análise<br />

i<strong>de</strong>ográfica (compre<strong>en</strong>são individual dos discursos<br />

dos sujeitos) e nomotética (compre<strong>en</strong>são das<br />

asserções gerais, obtidas a partir da convergência<br />

das unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> s<strong>en</strong>tido), <strong>de</strong>nominada também<br />

f<strong>en</strong>ôm<strong>en</strong>o situado ou f<strong>en</strong>om<strong>en</strong>ologia exist<strong>en</strong>cial, na<br />

busca <strong>de</strong> melhor conhecer o mundo exist<strong>en</strong>cial e<br />

cultural <strong>de</strong>ssas mães para <strong>de</strong>scobrir o não-dito contido<br />

em forma simbólica para chegar à objetivida<strong>de</strong><br />

e <strong>de</strong>sve<strong>la</strong>r o objeto <strong>de</strong> estudo.<br />

Os critérios <strong>de</strong> inclusão dos sujeitos, na constituição<br />

dos participantes da pesquisa, foram


aceitabilida<strong>de</strong> e acompanham<strong>en</strong>to materno na<br />

UTI. A coleta <strong>de</strong> dados ocorreu em 2000.<br />

A <strong>en</strong>trevista f<strong>en</strong>om<strong>en</strong>ológica fez-se pres<strong>en</strong>te<br />

como técnica <strong>de</strong> obt<strong>en</strong>ção <strong>de</strong> informações,<br />

após assinatura do Termo <strong>de</strong> Cons<strong>en</strong>tim<strong>en</strong>to Livre<br />

e Esc<strong>la</strong>recido, conforme <strong>de</strong>terminações da<br />

Resolução 196/96, do Ministério da Saú<strong>de</strong> 8 .Os<br />

recortes das fa<strong>la</strong>s <strong>de</strong>sta pesquisa foram codificadas<br />

(ex: M-1, mãe 1) para garantir o anonimato<br />

das participantes.<br />

RESUL ESUL ESULTADOS<br />

ESUL ADOS E DISCUSSÃO<br />

ISCUSSÃO<br />

ISCUSSÃO<br />

A hospitalização não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser uma<br />

ameaça à integrida<strong>de</strong> corporal e emocional da mãe<br />

acompanhante, do bebê <strong>en</strong>fermo e <strong>de</strong> sua família.<br />

Parece causar sofrim<strong>en</strong>to para todos. Para a mãe,<br />

por irromper a sust<strong>en</strong>tação simbólica do bebê imaginário,<br />

fragm<strong>en</strong>tar a re<strong>la</strong>ção mãe-filho construída<br />

ao longo da gestação, negar o exercício da<br />

maternagem, em alguns casos, por <strong>de</strong>sfazer o <strong>de</strong>sejo<br />

inconsci<strong>en</strong>te da morte do bebê ou simplesm<strong>en</strong>te<br />

por ser acometida pelo f<strong>en</strong>ôm<strong>en</strong>o da <strong>de</strong>-cadência,<br />

<strong>de</strong>sviando-se <strong>de</strong> si mesma, <strong>de</strong>scortinando o pre da<br />

pres<strong>en</strong>ça, ao ser <strong>la</strong>nçada rep<strong>en</strong>tinam<strong>en</strong>te num outro<br />

mundo, em um mundo ameaçador, distante <strong>de</strong><br />

seu cotidiano, o mundo das instituições, repleto<br />

<strong>de</strong> normas e rotinas.<br />

Pitta 9 , na sua obra Hospital, dor e morte como<br />

ofício, refere que situações opostas <strong>de</strong> vida e morte,<br />

saú<strong>de</strong> e do<strong>en</strong>ça parecem provocar t<strong>en</strong>são emocional<br />

e crise <strong>de</strong> <strong>de</strong>sespero nos pais que acompanham<br />

seus filhos na UTI.<br />

Vale <strong>de</strong>stacar que a hospitalização parece<br />

provocar medo, não ap<strong>en</strong>as em razão do ambi<strong>en</strong>te<br />

<strong>de</strong>sconhecido e da gravida<strong>de</strong> dos casos, mas<br />

principalm<strong>en</strong>te porque afasta o bebê <strong>de</strong> sua família;<br />

faz com que a maioria das mães percam o contato<br />

direto com o filho que passa a pert<strong>en</strong>cer, na<br />

maioria dos casos, a um corpo <strong>de</strong> médicos e <strong>en</strong>fermeiros,<br />

mais do que à sua família 10 .<br />

No <strong>en</strong>tanto, para Hei<strong>de</strong>gger 5 , essa <strong>de</strong>-cadência<br />

(cair no impessoal do mundo-ôntico, para <strong>en</strong>contrar<br />

o ser <strong>de</strong> si mesmo - Ontológico na UTI) favorece<br />

o <strong>de</strong>scortinar do ontológico-exist<strong>en</strong>cial (o que<br />

está escondido no ser) importante para compre<strong>en</strong><strong>de</strong>r<br />

a auto-apre<strong>en</strong>são <strong>de</strong>ssas pres<strong>en</strong>ças como<br />

seres humanos e <strong>de</strong>sve<strong>la</strong>r a estrutura do f<strong>en</strong>ôm<strong>en</strong>o<br />

s<strong>en</strong>tim<strong>en</strong>tos e emoções <strong>de</strong> mães acompanhantes<br />

na UTI, necessário para favorecer aos leitores o<br />

voltar as coisas mesmas, e <strong>en</strong>contrar o que se mostra<br />

em si mesmo, ou seja, o s<strong>en</strong>tido do f<strong>en</strong>ôm<strong>en</strong>o.<br />

Mor<strong>en</strong>o RLR, Jorge MSB<br />

Partindo da convergência dos discursos, pu<strong>de</strong>mos<br />

asseverar que os s<strong>en</strong>tim<strong>en</strong>tos e emoções<br />

<strong>de</strong> mãe no mundo da UTI revestem-se <strong>de</strong> mudança<br />

<strong>de</strong> comportam<strong>en</strong>to e hábito, frustração,<br />

nervosismo, medo, culpa, p<strong>en</strong>a, perplexida<strong>de</strong>, tristeza,<br />

solidão, impotência, incerteza, estresse, préocupação<br />

<strong>en</strong>tre outros.<br />

Mudança Mudança <strong>de</strong> <strong>de</strong> Comportam<strong>en</strong>to<br />

Comportam<strong>en</strong>to<br />

A mãe acompanhante do HIAS é um Ser–aí<br />

(<strong>en</strong>te com característica única, em uma <strong>de</strong>terminada<br />

espacialida<strong>de</strong>) que se reve<strong>la</strong> como um ser<br />

que apres<strong>en</strong>ta uma multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> s<strong>en</strong>tim<strong>en</strong>tos<br />

e emoções, ess<strong>en</strong>ciais a todo ser-no-mundo (ser<br />

que tem que viver em um mundo social, político,<br />

histórico e cultural no qual se <strong>en</strong>contra inserido),<br />

que age e reage com surpresa ao ser <strong>la</strong>nçada<br />

no mundo da UTI e viv<strong>en</strong>cia, <strong>de</strong> forma explícita<br />

ou não, aspectos exist<strong>en</strong>ciais reve<strong>la</strong>ndo consci<strong>en</strong>te<br />

ou inconsci<strong>en</strong>tem<strong>en</strong>te os significados que<br />

atribui à maternagem nessa unida<strong>de</strong> hospita<strong>la</strong>r.<br />

Hei<strong>de</strong>gger 5 acredita que a surpresa, experiência<br />

<strong>de</strong> ser arrebatado inesperadam<strong>en</strong>te em um<br />

<strong>de</strong>terminado lugar, por interromper uma or<strong>de</strong>m e<br />

seqüência esperada, é capaz <strong>de</strong> promover mudanças<br />

<strong>de</strong> comportam<strong>en</strong>tos e/ou fazer aflorar diversificados<br />

s<strong>en</strong>tim<strong>en</strong>tos e emoções que no dia a dia<br />

não se faz necessário mostrar.<br />

Neste estudo, os sujeitos, na sua exist<strong>en</strong>cialida<strong>de</strong>,<br />

historicida<strong>de</strong>, mundaneida<strong>de</strong> discorrem<br />

sobre as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> mudança <strong>de</strong> comportam<strong>en</strong>to<br />

e o significado <strong>de</strong>ssas mudanças para e<strong>la</strong> e<br />

para o seu bebê <strong>en</strong>fermo, reve<strong>la</strong>ndo:<br />

Hoje,<strong>de</strong>pois<strong>de</strong>tudo,sintoquemu<strong>de</strong>imuito,amadureci<br />

e vou mudar ainda mais. Vou trabalhar pra sust<strong>en</strong>tar<br />

meufilho,emboranãot<strong>en</strong>haexperiência<strong>de</strong>nada.Seum<br />

dia o pai quiser ajudar, bem [...] P<strong>en</strong>so que ele tem obrigação,<br />

pelo m<strong>en</strong>os <strong>de</strong> dar carinho, mas cabe a ele querer<br />

ou não. (M-8)<br />

Frustração rustração<br />

A hospitalização, como <strong>de</strong>scrita por alguns<br />

autores, parece fazer com que a mãe acompanhante<br />

<strong>de</strong>sperte difer<strong>en</strong>tes s<strong>en</strong>tim<strong>en</strong>tos e emoções, <strong>en</strong>tre<br />

eles a frustração, <strong>de</strong> não po<strong>de</strong>r ter contato íntimo<br />

com o filho que nasceu <strong>en</strong>fermo, e também por<br />

perceber que ele passará a pert<strong>en</strong>cer por tempo<br />

in<strong>de</strong>terminado, muito mais a um corpo <strong>de</strong> médicos<br />

e <strong>en</strong>fermeiros do que a sua própria família.<br />

Hei<strong>de</strong>gger5 refere que o ser-em (mãe), mesmo<br />

<strong>la</strong>nçado no mundo da UTI, <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rado<br />

como um ser-com os outros, ser simplesm<strong>en</strong>te<br />

dado em conjunto, pois essa atitu<strong>de</strong> é capaz <strong>de</strong><br />

R Enferm UERJ 2005; 13:175-80. • p.177


S<strong>en</strong>tim<strong>en</strong>tos e emoções da mãe acompanhante em UTI<br />

refazer o mundo-vida <strong>de</strong>ssas mulheres e ainda favorecer<br />

a reconstrução <strong>de</strong> sua exist<strong>en</strong>cialida<strong>de</strong>,<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ssa nova imposição mundana.<br />

Solidão<br />

Solidão<br />

Lá<strong>de</strong>ntrodoCTIéumpoucofrustrante,éumabatalha.<br />

Porquesermãeelevarseufilhopracasaéumacoisaeser<br />

mãeetáaliéoutra.[...].Vocêficasócomosefo sero<strong>de</strong>ando,assim[...]Nãoconsegu<strong>en</strong>emparticipar.<br />

(M-6)<br />

É muito difícil, ser mãe na UTI, você não po<strong>de</strong> pegar no<br />

seubebê[...].Aindamaiseuqu<strong>en</strong>uncatinhapegadonele<br />

antes, ficava assim, com aque<strong>la</strong> vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> pegar, po<strong>de</strong>r<br />

cuidar, banhar, fazer todas aque<strong>la</strong>s coisas, né? (M-8)<br />

O processo <strong>de</strong> humanização hospita<strong>la</strong>r vem<br />

consi<strong>de</strong>rando importante e muitas vezes indisp<strong>en</strong>sável<br />

para aqueles que estão <strong>en</strong>fr<strong>en</strong>tando o mundo<br />

estressante e conflituoso das UTI’s as atitu<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> carinho, oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comunicação, apoio<br />

e solidarieda<strong>de</strong> do outro (profissional e familiares),<br />

por acreditar que essas atitu<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m neutralizar<br />

os efeitos da solidão, medo, culpa, ansieda<strong>de</strong>,<br />

<strong>de</strong>sconforto, <strong>en</strong>tre outros s<strong>en</strong>tim<strong>en</strong>tos maternos,<br />

causados pe<strong>la</strong> hospitalização e ainda facilitar<br />

a adaptação <strong>de</strong>sses sujeitos a essa nova realida<strong>de</strong><br />

exist<strong>en</strong>cial. Pois o ser-com (profissional), ao<br />

estabelecer re<strong>la</strong>cionam<strong>en</strong>to <strong>en</strong>volv<strong>en</strong>te e<br />

significante com o outro (mãe acompanhante),<br />

proporciona o que Hi<strong>de</strong>gger 6 chama <strong>de</strong> solicitu<strong>de</strong><br />

e possibilita ao outro <strong>en</strong>contrar-se consigo mesmo<br />

para compre<strong>en</strong><strong>de</strong>r e constituir-se exist<strong>en</strong>cialm<strong>en</strong>te<br />

como um ser-no-mundo.<br />

Lá, eu [...] s<strong>en</strong>tia falta da minha mãe, <strong>de</strong> uma amiga pra<br />

conversar. Aí eu conversava com o M. (M-1)<br />

Na hora que você é transferida é um choque. A g<strong>en</strong>te<br />

fica com medo, porque são pessoas difer<strong>en</strong>tes. Vão te<br />

tratar difer<strong>en</strong>te. Fui conversando com as <strong>en</strong>fermeiras,<br />

médicos, [...] aí fui melhorando.(M-4)<br />

Foi muito importante, o apoio <strong>de</strong>ssas pessoas lá <strong>de</strong>ntro.<br />

Éfundam<strong>en</strong>talnessemom<strong>en</strong>to.Vocêverseufilhoquase<br />

mortocomoeuviea<strong>en</strong>fermeirachegasemdarnemuma<br />

at<strong>en</strong>ção a você que tá, ali, muito frágil. Num é fácil não.<br />

Quando e<strong>la</strong>s são g<strong>en</strong>tis, conversam, brincam com o seu<br />

filho, Isso daí <strong>de</strong>ixa a g<strong>en</strong>te se s<strong>en</strong>tir melhor. (M-6)<br />

Aquieuestousozinha,nãorecebinemumtelefonema e<br />

nem uma visita até agora. Sinto muita falta disso.(M-7)<br />

Medo, Medo, tristeza tristeza e e incerteza<br />

incerteza<br />

O ambi<strong>en</strong>te da UTI, bem como os difíceis e<br />

diversificados mom<strong>en</strong>tos <strong>de</strong> situações opostas <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong> e do<strong>en</strong>ça, vida e morte; a falta <strong>de</strong> informações<br />

sobre os aparelhos ligados ao bebê, ou o não<br />

saber sobre o estado real do filho são, muitas vezes,<br />

mom<strong>en</strong>tos difíceis e assustadores, chegando a pro-<br />

p.178 • R Enferm UERJ 2005; 13:175-80.<br />

duzir s<strong>en</strong>tim<strong>en</strong>tos e emoções confusos,<br />

<strong>de</strong>sconfortantes e muitas vezes inesquecíveis.<br />

Hei<strong>de</strong>gger 5 alerta que o medo po<strong>de</strong> evocar angústia<br />

e temor no homem, e quando ocorre subitam<strong>en</strong>te,<br />

chega a transformar-se em pavor, horror,<br />

dificultando as questões exist<strong>en</strong>ciais <strong>de</strong>sses seres.<br />

Quando via uma criança piorando ficava com medo do<br />

meu filho piorar também. Uma vez vi, três bebê morrer.<br />

Quase que eu morria do coração. A única coisa que a<br />

g<strong>en</strong>te p<strong>en</strong>sa é que o nosso também vai morrer. (M-4)<br />

Ia pra casa a noite e quase não conseguia dormir, com<br />

medo <strong>de</strong> quando voltar, ele não tá mais lá. (M-6)<br />

Ficava muito mal com tudo aquilo. [...] quando via um<br />

bebê parando, [...]. tinha medo que acontecesse com o<br />

[...]. Se pu<strong>de</strong>sse, daria minha vida pro meu bebê não tá<br />

ali sofr<strong>en</strong>do daquele jeito. (M-8)<br />

Impotência<br />

Impotência<br />

Observamos, através das convergências dos<br />

discursos, que a hospitalização parece fazer com<br />

que as mães percam o contato com o filho, que<br />

passa a pert<strong>en</strong>cer mais ao corpo <strong>de</strong> médicos e <strong>en</strong>fermeiros<br />

do que propriam<strong>en</strong>te à sua família, provocando<br />

s<strong>en</strong>tim<strong>en</strong>tos <strong>de</strong> impotência que certam<strong>en</strong>te<br />

serão sempre re-viv<strong>en</strong>ciados por outros sujeitos<br />

que se <strong>en</strong>contram nas mesmas circunstâncias,<br />

pois, segundo Hei<strong>de</strong>gger5 , a essência do ser<br />

humano permanece, o que difer<strong>en</strong>cia são ap<strong>en</strong>as<br />

as circunstancias e modos <strong>de</strong> expressões.<br />

É muito difícil ser mãe na CTI, porque você não po<strong>de</strong><br />

pegar no seu bebê. E<strong>la</strong>s não gostavam muito, porque ele<br />

era muito cansadinho. Então aque<strong>la</strong> vonta<strong>de</strong>...., Ainda<br />

mais eu que nunca peguei, que nunca tinha pegado nele<br />

antes, ficava assim, com aque<strong>la</strong> vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> pegar, <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />

cuidar, banhar, <strong>de</strong> fazer todas aque<strong>la</strong>s coisas! (M-8)<br />

Culpa Culpa e/ou e/ou p<strong>en</strong>a<br />

p<strong>en</strong>a<br />

Como visto, as emoções e s<strong>en</strong>tim<strong>en</strong>tos <strong>de</strong><br />

uma mãe ao ver seu filho recém-nascido <strong>la</strong>nçado<br />

no mundo da UTI são int<strong>en</strong>sos. Um dos s<strong>en</strong>tim<strong>en</strong>tos<br />

que geralm<strong>en</strong>te afloram, no mom<strong>en</strong>to,<br />

quando algo <strong>de</strong> ruim acontece com o filho, é o<br />

s<strong>en</strong>tim<strong>en</strong>to <strong>de</strong> culpa que imediatam<strong>en</strong>te se <strong>en</strong>tre<strong>la</strong>ça<br />

com o s<strong>en</strong>tim<strong>en</strong>to <strong>de</strong> p<strong>en</strong>a, pois esses parecem<br />

estar re<strong>la</strong>cionados, muitas vezes, com o que<br />

Hei<strong>de</strong>gger5 <strong>de</strong>screve como: o s<strong>en</strong>tim<strong>en</strong>to <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong><br />

pelo ser do outro.<br />

Me s<strong>en</strong>tia triste, angustiada <strong>de</strong> vê tanta mãe chorando,<br />

sofr<strong>en</strong>do pelo filho e <strong>de</strong> vê tanta criancinha morre não<br />

morre levando bombadinha pra respirar. Me s<strong>en</strong>tia culpada,comgran<strong>de</strong>responsabilida<strong>de</strong>.Achavaqueaculpa<br />

<strong>de</strong><strong>la</strong> tá do<strong>en</strong>te, passando por todo aquele mom<strong>en</strong>to, sofrim<strong>en</strong>to,<br />

era minha, porque tomei Microvi<strong>la</strong>r quando<br />

tava com 2 meses <strong>de</strong> grávida. (M-3)


Não me sinto na paz <strong>de</strong> vê ele cheio <strong>de</strong> aparelho, sinto<br />

tristeza <strong>de</strong>le não tá ainda na minha barriga, <strong>de</strong> não ter<br />

ficadocomeleosnovemeses,<strong>de</strong>nãopo<strong>de</strong>rtácomel<strong>en</strong>o<br />

braço. Não tive nem tempo <strong>de</strong> curtir isso Se ele tivesse<br />

na minha barriga tava mais protegido, não taria tão<br />

exposto. O pessoal pegando, furando. Não suporto ver<br />

furando ele. [Choro] (M-4)<br />

Pré- Pré-ocupação<br />

Pré- ocupação<br />

A análise exist<strong>en</strong>cial <strong>de</strong> Hei<strong>de</strong>gger mostra<br />

que a pré-ocupação respon<strong>de</strong> aos aspectos<br />

ontológicos do ser, chegando à aut<strong>en</strong>ticida<strong>de</strong> (o que<br />

está escondido na fa<strong>la</strong>), por transc<strong>en</strong><strong>de</strong>r o mom<strong>en</strong>to<br />

ôntico (manifestação geral do ser no que<br />

diz respeito ao mundo) da inaut<strong>en</strong>ticida<strong>de</strong> (fa<strong>la</strong>),<br />

modos <strong>de</strong> o homem se manifestar em sua existência.<br />

Pré-ocupação, para Hei<strong>de</strong>gger 5 , é ocupar-se<br />

das necessida<strong>de</strong>s do outro como instituição social<br />

<strong>de</strong> fato, na t<strong>en</strong>tativa <strong>de</strong> pre<strong>en</strong>cher todo um<br />

significado no mundo. É transc<strong>en</strong><strong>de</strong>r o simples ato<br />

<strong>de</strong> cuidar <strong>de</strong> um corpo, <strong>de</strong> uma do<strong>en</strong>ça e/ou das<br />

necessida<strong>de</strong>s biológicas <strong>de</strong> um ser e ocupar-se por<br />

meio da solicitu<strong>de</strong>, que significa at<strong>en</strong>ção cuidadosa<br />

para com o outro, das <strong>de</strong>mais manifestações<br />

ess<strong>en</strong>ciais <strong>de</strong> um ser <strong>en</strong>fermo, pois a essência humana<br />

é composta por corpo e espírito.<br />

O passar ao <strong>la</strong>do um do outro, o não se s<strong>en</strong>tir<br />

tocado pelos outros são modos <strong>de</strong>fici<strong>en</strong>tes <strong>de</strong><br />

pré-ocupação, que caracterizam a convivência, e<br />

não a constituição ontológica da pre-s<strong>en</strong>ça materna<br />

como ser-com. Pre-ocupar-se para os sujeitos<br />

<strong>en</strong>volvidos nessa pesquisa foi reve<strong>la</strong>do assim:<br />

Éficarcomobebê,darat<strong>en</strong>ção.Éconversar com ele pra<br />

sefazerperceber.Éobservaroqueestás<strong>en</strong>dofeito.(M-1)<br />

É dar carinho, amor, tocar nele, ficar do <strong>la</strong>do, saber se<br />

ele tá reagindo, aceitando a dieta...(M-2)<br />

[...] É nervosismo, expectativa, estresse, preocupação.<br />

É tudo. (M-5)<br />

CONSIDERAÇÕES<br />

ONSIDERAÇÕES FINAIS INAIS<br />

Quando nos propusemos a estabelecer a<br />

aproximação do f<strong>en</strong>ôm<strong>en</strong>o s<strong>en</strong>tim<strong>en</strong>tos e emoções <strong>de</strong><br />

mães acompanhantes no mundo da UTI tínhamos<br />

em m<strong>en</strong>te compre<strong>en</strong><strong>de</strong>r as ações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><br />

normatizadas pe<strong>la</strong>s políticas governam<strong>en</strong>tais <strong>de</strong><br />

nosso país para posteriorm<strong>en</strong>te fazermos uma reflexão<br />

sobre essa temática, possibilitando assim novos<br />

caminhos para um at<strong>en</strong>dim<strong>en</strong>to difer<strong>en</strong>ciado em<br />

nossas instituições <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. É preciso ressaltar que<br />

esse sujeito (mãe acompanhante) tem um modo<br />

<strong>de</strong> ser que <strong>en</strong>globa variadas dim<strong>en</strong>sões, corpo, psi-<br />

Mor<strong>en</strong>o RLR, Jorge MSB<br />

que e espírito 11 . Tem s<strong>en</strong>sibilida<strong>de</strong> para prestar uma<br />

at<strong>en</strong>ção difer<strong>en</strong>ciada ao filho <strong>en</strong>fermo, <strong>de</strong>semp<strong>en</strong>har<br />

funções exigidas pe<strong>la</strong> maternida<strong>de</strong> e contribuir<br />

para recuperação <strong>de</strong>sse bebê, <strong>de</strong>p<strong>en</strong><strong>de</strong>ndo <strong>de</strong><br />

suas condições físicas e psíquicas.<br />

Trabalhos na neurociência têm <strong>de</strong>monstrado<br />

que a ligação forte e segura <strong>de</strong> pais com seus<br />

bebês parece ter uma função biológica protetora<br />

sobre os efeitos adversos do estresse <strong>de</strong> uma UTI.<br />

Portanto, é importante que o profissional <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong> <strong>la</strong>nce um olhar at<strong>en</strong>to às principais necessida<strong>de</strong>s,<br />

temores e preocupações <strong>de</strong>ssas mães porque,<br />

diante <strong>de</strong> perdas ou dificulda<strong>de</strong>s extremas,<br />

po<strong>de</strong> ser que essa mãe necessite <strong>de</strong> cuidado e<br />

at<strong>en</strong>ção tanto quanto o seu recém-nascido.<br />

Cunha 12 reforça a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa at<strong>en</strong>ção<br />

à mãe acompanhante, quando refere que a experiência<br />

interativa do organismo bebê com o objeto mãe<br />

é capaz <strong>de</strong> favorecer o <strong>de</strong>s<strong>en</strong>volvim<strong>en</strong>to do córtex<br />

cerebral do Rn, responsável no futuro pe<strong>la</strong>s emoções<br />

e comunicações sociais <strong>de</strong>sse novo ser, tais<br />

como linguagem, apr<strong>en</strong>dizado, capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> e<strong>la</strong>borar<br />

conceitos e <strong>de</strong> buscar soluções.<br />

O ser mãe, como já foi m<strong>en</strong>cionado anteriorm<strong>en</strong>te,<br />

<strong>de</strong>p<strong>en</strong><strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> sua disposição e condições<br />

psíquicas, é capaz <strong>de</strong> oferecer suporte a<strong>de</strong>quado<br />

ao tratam<strong>en</strong>to e <strong>de</strong>s<strong>en</strong>volvim<strong>en</strong>to <strong>de</strong> seu<br />

filho ou gerar <strong>de</strong>sestabilização e/ou <strong>de</strong>sarmonia<br />

organizacional ao Rn <strong>en</strong>fermo. Logo, a filosofia<br />

do cuidar na UTI requer um gran<strong>de</strong> rep<strong>en</strong>sar, não<br />

há como negar a importância <strong>de</strong> um suporte físico<br />

e emocional à mãe acompanhante e, principalm<strong>en</strong>te,<br />

o resultado positivo <strong>de</strong>ssa assistência<br />

sobre a saú<strong>de</strong> do Rn <strong>en</strong>fermo.<br />

Neste estudo, tomando por base o <strong>de</strong>poim<strong>en</strong>to<br />

dos sujeitos que viv<strong>en</strong>ciaram a maternagem na<br />

UTI, percebemos que as principais reações que<br />

afloraram durante o processo <strong>de</strong> <strong>en</strong>fr<strong>en</strong>tam<strong>en</strong>to<br />

da do<strong>en</strong>ça do filho na UTI foram mudança <strong>de</strong><br />

comportam<strong>en</strong>to e hábito, frustração, nervosismo,<br />

medo, culpa, p<strong>en</strong>a, perplexida<strong>de</strong>, tristeza, solidão,<br />

impotência, incerteza, estresse e pré-ocupação.<br />

Partindo <strong>de</strong>sse ponto <strong>de</strong> amadurecim<strong>en</strong>to,<br />

acreditamos que a mãe acompanhante, como todo<br />

ser, necessita <strong>de</strong> apoio, compre<strong>en</strong>são e oportunida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> comunicação no mom<strong>en</strong>to em que e<strong>la</strong> se<br />

<strong>en</strong>contra <strong>la</strong>nçada no mundo da UTI, para que<br />

t<strong>en</strong>ha a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> refazer seu mundo-vida<br />

<strong>de</strong>ntro das imposições <strong>de</strong>ssa nova realida<strong>de</strong> e neutralizar,<br />

principalm<strong>en</strong>te, suas frustrações, medos,<br />

culpas, ansieda<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>sconforto, causados pe<strong>la</strong><br />

hospitalização rep<strong>en</strong>tina <strong>de</strong> seu filho.<br />

R Enferm UERJ 2005; 13:175-80. • p.179


S<strong>en</strong>tim<strong>en</strong>tos e emoções da mãe acompanhante em UTI<br />

O <strong>en</strong>caminham<strong>en</strong>to <strong>de</strong>ste trabalho empírico,<br />

como visto, possibilitou-nos chegar à essência do<br />

f<strong>en</strong>ôm<strong>en</strong>o s<strong>en</strong>tim<strong>en</strong>tos e emoções da mãe acompanhante<br />

na UTI e visualizar o mundo e o sujeito<br />

como f<strong>en</strong>ôm<strong>en</strong>o, ou constituintes <strong>de</strong> uma totalida<strong>de</strong>,<br />

no seio do qual o mundo e o sujeito reve<strong>la</strong>m-se,<br />

reciprocam<strong>en</strong>te, como significações 13 .<br />

Trouxe ainda, contribuições valiosas para a compre<strong>en</strong>são<br />

do paradigma da convivência no mundo<br />

das UTI’s e também, a c<strong>la</strong>rificação <strong>de</strong> uma<br />

nova ótica <strong>de</strong> cuidado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.<br />

REFERÊNCIAS<br />

EFERÊNCIAS<br />

1. Scochi CGS, Nogueira FS, Pereira FL, Brunherotti MR.<br />

Programa para pais <strong>de</strong> bebês <strong>de</strong> risco: contribuição para<br />

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2. Barguil PM, Leite RCM. Voltemos às próprias coisas: o<br />

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organizadores. Imaginando erros: escritos <strong>de</strong> filosofia da<br />

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Editorial; 1997. p. 79 -111.<br />

3. Capalbo C. F<strong>en</strong>om<strong>en</strong>ologia e ciências humanas. 3 a ed.<br />

Londrina (PR): Ed. UEL; 1996.<br />

4. Motta MGC. O ser do<strong>en</strong>te no tríplice mundo da criança,<br />

família e hospital: uma <strong>de</strong>scrição f<strong>en</strong>om<strong>en</strong>ológica das mu-<br />

p.180 • R Enferm UERJ 2005; 13:175-80.<br />

danças exist<strong>en</strong>ciais [tese <strong>de</strong> doutorado]. Florianópolis (SC):<br />

Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina; 1997.<br />

5. Hei<strong>de</strong>gger M. Ser e tempo: parte 1. 3 a ed. Petrópolis<br />

(RJ): Vozes; 1993.<br />

6. Hei<strong>de</strong>gger M. Todos nós... Ninguém: um <strong>en</strong>foque<br />

f<strong>en</strong>om<strong>en</strong>ológico do social. Tradução <strong>de</strong> Dulce Maria<br />

Cristalli. São Paulo: Moraes; 1981.<br />

7. Martins J, Bicudo MAV. A pesquisa qualitativa em psicologia:<br />

fundam<strong>en</strong>tos e recursos básicos. 2 a ed. São Paulo:<br />

Moraes; 1994.<br />

8. Ministério da Saú<strong>de</strong> (BR). Conselho Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>.<br />

Diretrizes e normas regu<strong>la</strong>m<strong>en</strong>tadoras da pesquisa <strong>en</strong>volv<strong>en</strong>do<br />

seres humanos: Resolução nº 196/96. Brasília (DF):<br />

Conselho nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>; 1996. [on line] 2003. Disponível<br />

em http://www.ufrgs.br/hcpa/gppg/res19696.html. Acesso<br />

em 11 mar.2003.<br />

9. Pita AMF. Hospital: dor e morte como ofício. 3 a ed. São<br />

Paulo: Hucitec; 1999.<br />

10. Baldini SM, Krebs VLJ. Reações psicológicas nos pais <strong>de</strong><br />

recém-nascidos internados em unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> terapia int<strong>en</strong>siva.<br />

Ped. Mo<strong>de</strong>rna 2000; 36 (ed. especial): 242-46.<br />

11. Boff L. Saber cuidar: ética do humano - compaixão<br />

pe<strong>la</strong> terra. Petrópolis(RJ): Vozes; 1999.<br />

12. Cunha IA. Neurociência e o vínculo mãe-bebê. Informativo<br />

Método Mãe Canguru. Brasília (DF): Ministério<br />

da Saú<strong>de</strong>; 2001.<br />

13. Forghieri YC. Psicologia f<strong>en</strong>om<strong>en</strong>ológica: fundam<strong>en</strong>tos,<br />

métodos e pesquisa. São Paulo: Pioneira; 1993.<br />

UTI:<br />

SENTIMIENTOS<br />

ENTIMIENTOS Y EMOCIONES<br />

MOCIONES DE DE LA LA MADRE ADRE ACOMP COMP COMPAÑANTE<br />

COMP AÑANTE EN EN EL EL MUNDO UNDO UNDO DE DE LA LA LA UTI:<br />

DESCRIPCIÓN<br />

DESCRIPCIÓN DESCRIPCIÓN FENOMENOLÓGICA FENOMENOLÓGICA DE DE CAMBIOS CAMBIOS EXISTENCIALES<br />

EXISTENCIALES<br />

RESUMEN: RESUMEN: Esta investigación f<strong>en</strong>om<strong>en</strong>ológica pres<strong>en</strong>ta una reflexión acerca <strong>de</strong> s<strong>en</strong>timi<strong>en</strong>tos y emociones<br />

<strong>de</strong> ocho madres acompañantes <strong>de</strong> <strong>la</strong> UTI <strong>de</strong>l Hospital Infantil Albert Sabin, <strong>en</strong> Fortaleza/Ceará –<br />

Brasil. La compr<strong>en</strong>sión <strong>de</strong> esa trayectoria a partir <strong>de</strong> <strong>la</strong> analítica exist<strong>en</strong>cial <strong>de</strong> Martin Hei<strong>de</strong>gger pret<strong>en</strong><strong>de</strong><br />

rescatar <strong>la</strong> es<strong>en</strong>cia humana <strong>de</strong> esas mujeres y así contribuir para una práctica asist<strong>en</strong>cial más humanizada<br />

<strong>en</strong> <strong>la</strong>s instituciones <strong>de</strong> salud pública y para una mejoría <strong>de</strong> <strong>la</strong> salud materno-infantil. Las <strong>de</strong>scripciones<br />

fueran obt<strong>en</strong>idas, <strong>en</strong> 2002, por <strong>la</strong> <strong>en</strong>trevista f<strong>en</strong>om<strong>en</strong>ológica y sometidas al análisis <strong>de</strong>l f<strong>en</strong>óm<strong>en</strong>o<br />

situado, propuesta por Martins y Bicudo. Las madres reve<strong>la</strong>ron cambio <strong>de</strong> comportami<strong>en</strong>to y hábito,<br />

frustración, nerviosismo, miedo, culpa, p<strong>en</strong>a, perplejidad, tristeza, soledad, impot<strong>en</strong>cia, incertidumbre,<br />

estrés, preocupación, <strong>en</strong>tre otros.<br />

Pa<strong>la</strong>bras Pa<strong>la</strong>bras C<strong>la</strong>ve: C<strong>la</strong>ve:<br />

C<strong>la</strong>ve: F<strong>en</strong>om<strong>en</strong>ología; madre acompañante; UTI.<br />

Recebido em: 30.04.2004<br />

Aprovado em: 15.04.2005<br />

Notas<br />

Notas<br />

* Terapeuta Ocupacional. Membro do Comitê <strong>de</strong> Ética em Pesquisa do Hospital Infantil Albert Sabin. Mestre em Saú<strong>de</strong> da Criança e do<br />

Adolesc<strong>en</strong>te pe<strong>la</strong> UECE. Departam<strong>en</strong>to <strong>de</strong> Terapia Ocupacional e Terapia Int<strong>en</strong>siva do Hospital Infantil Albert Sabin da Secretaria da<br />

Saú<strong>de</strong> do Estado do Ceará. Rua Tertuliano Sales Nº 544, Bairro: Vi<strong>la</strong> União, Fortaleza-CE-Brasil. E-mail: reginamor<strong>en</strong>o@secrel.com.br<br />

** Enfermeira. Professora Doutora em Enfermagem pe<strong>la</strong> EE/EERP/USP - Interunida<strong>de</strong>). Titu<strong>la</strong>r da Enfermagem em Saú<strong>de</strong> M<strong>en</strong>tal da<br />

UECE. Lí<strong>de</strong>r do Grupo <strong>de</strong> Pesquisa em Saú<strong>de</strong> M<strong>en</strong>tal, Família e Práticas <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>. Departam<strong>en</strong>to <strong>de</strong> Mestrado em Saú<strong>de</strong> Pública da<br />

Universida<strong>de</strong> Estadual do Ceará. E-mail: masabejo@hotmail.com

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