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o lince 01 - Jornal O Lince

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A doação<br />

FRUTO de uma longa pesquisa,<br />

nossa tese de doutorado intitulada "A Ação<br />

Romanizadora e a Luta pelo Cofre: D.<br />

Epaminondas, Primeiro Bispo de Taubaté<br />

(1909-1935)", defendida junto ao programa<br />

de pós-graduação da Faculdade de Filosofia,<br />

Letras e Ciências Humanas da Universidade<br />

de São Paulo, no ano de 2006,<br />

inclui-se na atual tendência historiográfica<br />

que, a partir da década de 1980, vem percorrendo<br />

o caminho da reavaliação<br />

conceitual dos mais variados temas, neste<br />

caso, o da História da Igreja. Dessa forma,<br />

o trabalho buscou contribuir, mesmo que<br />

em espectro reduzido, para a reescrita da<br />

História da Igreja católica no Brasil.<br />

Cientificamente orientado, a tese traça<br />

um plano analítico que, amparado pelo<br />

conceito weberiano de "dominação burocrática",<br />

visa mapear, por meio da consulta<br />

de um grande corpo documental composto<br />

pela correspondência entre os membros<br />

da Igreja e por inúmeros jornais da<br />

época, as ações romanizadoras de D.<br />

Epaminondas Nunes de Ávila e Silva, primeiro<br />

bispo da recém-criada diocese de<br />

Taubaté, durante um período marcado por<br />

conturbadas mudanças vividas pela Igreja<br />

católica e pelos inevitáveis conflitos que,<br />

naturalmente, antecedem as acomodações.<br />

Com o advento da República e, em seguida,<br />

com o fim do Padroado, a Igreja se<br />

encontrou na obrigação de zelar por sua<br />

própria manutenção material. Além dessa<br />

reorganização, passava também por mudanças<br />

significativas no que diz respeito à<br />

Doutrina. Denominada de "Reforma<br />

Aparecida, 20 de junho de 2008<br />

HISTÓRIA ISTÓRIA<br />

Dom Epaminondas<br />

e a luta pelo cofre de Aparecida<br />

Ultramontana", suas ações objetivavam<br />

valorizar o religioso sobre as coisas mundanas<br />

que, devido ao desenvolvimento<br />

tecnológico de fins do século XIX e início<br />

do XX, estavam ganhando cada vez mais<br />

espaço na sociedade. Reafirmando a posse<br />

do monopólio do sagrado, a Igreja buscou,<br />

com isso, legitimar a sua dominação sobre<br />

o fiel, passando a combater, cotidianamente,<br />

doutrinas socialistas.<br />

Educado nos moldes ultramontanos, D.<br />

Epaminondas, principal ator social da tese,<br />

teve seu governo diocesano marcado por<br />

intensas atividades que visavam, justamente,<br />

a imposição do modelo burocrático de<br />

dominação, o que, aliás, já vinha sendo feito,<br />

em termos regionais, pelos padres da<br />

Congregação do Santíssimo Redentor em<br />

Aparecida. Para a melhor efetivação da<br />

reforma, houve, em 1908, no Estado de São<br />

Paulo, a criação das dioceses de Campinas,<br />

Botucatu, Ribeirão Preto, São Carlos<br />

do Pinhal e Taubaté. A de São Paulo foi<br />

elevada à categoria de Arquidiocese sob o<br />

comando do arcebispo D. Duarte Leopoldo.<br />

D. Epaminondas, nomeado primeiro<br />

bispo da diocese de Taubaté, foi incumbido<br />

de enquadrar nos moldes ultramontanos<br />

a grande região que a abarcava, e as questões<br />

relacionadas às romarias, irmandades<br />

e festas religiosas, atividades essas que ainda<br />

expressavam fortes elementos do catolicismo<br />

luso-brasileiro, faziam parte do<br />

plano de ação do bispo. Era preciso controlar<br />

as práticas religiosas que,<br />

costumeiramente, envolviam a massa de<br />

fiéis e, para tanto, a mudança teve seu início<br />

no interior da própria Igreja.<br />

Dentro do processo de romanização, a<br />

criação de seminários tinha especial atenção.<br />

Investir na formação do corpo eclesiástico,<br />

dando ênfase ao dever da obediência<br />

e coesão hierárquica, significava ter a<br />

disponibilidade de inserção constante de<br />

funcionários devidamente enquadrados<br />

para atender às novas necessidades de<br />

gerenciamento da máquina burocrática.<br />

Percebeu-se que a Igreja passou a exercer<br />

não mais uma dominação carismática e,<br />

sim, uma dominação racional, sobretudo,<br />

legal.<br />

Não há dúvidas sobre a eficácia das<br />

ações de D. Epaminondas em relação a<br />

imposição das novas regras a serem seguidas<br />

tanto pelo corpo eclesiástico, quanto<br />

pelo massa de crentes. No entanto, o foco<br />

principal da tese fica por conta do víeis<br />

político do bispo, extremamente perceptível<br />

quando este interveio junto aos seus<br />

ESCRITÓRIO<br />

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superiores na defesa dos interesses de sua<br />

diocese, principalmente no que se refere<br />

aos esforços dispensados no processo de<br />

acumulação patrimonial.<br />

Quando da criação da diocese de<br />

Taubaté e da demarcação do território sob<br />

sua administração, uma questão ficou em<br />

evidência. O Santuário de Nossa Senhora<br />

de Aparecida, localizado no espaço geográfico<br />

da diocese de Taubaté, ficou sob o<br />

comando direto da Arquidiocese de São<br />

Paulo. Fonte de preciosa renda, o Santuário<br />

foi objeto de intensa disputa entre bispo<br />

e arcebispo, ou seja, entre membros da<br />

própria Igreja e detentores de altos cargos<br />

na sólida hierarquia clerical. Posto, estava,<br />

a "Luta pelo Cofre".<br />

O bispo de Taubaté, preocupado com a<br />

sustentação material de sua diocese, não<br />

abriu mão da disputa por Aparecida e, após<br />

muitas e intensas trocas de argumentações<br />

sobre a legitimidade do controle sobre o<br />

cofre, o desgaste tornava-se cada vez mais<br />

visível, por vezes chegando ao público leigo<br />

que, por meio de jornais, punha-se a par<br />

de assuntos estritamente inerentes à esfera<br />

eclesiástica.<br />

Ao perceber que a situação era<br />

irreversível, D. Epaminondas tratou logo<br />

de trabalhar em um novo plano que resultaria<br />

na implantação, em Taubaté, de um<br />

núcleo de fé ultramontana em devoção à,<br />

então pouco conhecida, Santa Terezinha.<br />

Sendo a cidade um centro difusor das idéias<br />

do projeto romanizante, por apresentar<br />

centro urbano mais expressivo em âmbito<br />

regional resultado da crescente migração<br />

da população que antes se ocupava na, agora,<br />

decadente economia cafeeira, a construção<br />

do "Santuário de Santa Terezinha"<br />

teve por objetivo deter a afluência de fiéis<br />

a Aparecida.<br />

Enfim, analisando o governo diocesano<br />

de D. Epaminondas, pode-se concluir que,<br />

além da atuação comum aos bispos da época,<br />

quais sejam, o controle sobre o clero, o<br />

enquadramento das irmandades leigas e a<br />

burocratização da diocese, suas ações<br />

romanizadoras, como reposta ao confronto<br />

com o arcebispo D. Duarte, focou-se na<br />

devoção a Santa Terezinha, sendo<br />

construído, em Taubaté, o primeiro santuário<br />

do mundo em sua honra.<br />

Isnard Albuquerque Câmara é Doutor<br />

em História Social pela Universidade<br />

de São Paulo e professor da Universidade<br />

de Taubaté-SP<br />

Prof. Dr. Isnard Albuquerque Câmara<br />

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