19.04.2013 Views

Fonte: O Globo 'Vi gente morrer na minha frente ... - aarffsa

Fonte: O Globo 'Vi gente morrer na minha frente ... - aarffsa

Fonte: O Globo 'Vi gente morrer na minha frente ... - aarffsa

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

<strong>Fonte</strong>: O <strong>Globo</strong><br />

<strong>'Vi</strong> <strong>gente</strong> <strong>morrer</strong> <strong>na</strong> <strong>minha</strong> <strong>frente</strong>'<br />

Sobreviventes relatam momentos de tensão ao escaparem de incêndio e lembram desespero <strong>na</strong> pista<br />

Comoção. Parentes e amigos das vítimas se emocio<strong>na</strong>m e choram perto da boate Kiss, <strong>na</strong> cidade de Santa<br />

Maria, no Rio Grande do Sul. Quem conseguiu fugir do fogo viu deze<strong>na</strong>s de colegas não conseguirem se<br />

salvar e <strong>morrer</strong>em<br />

Trauma. O clima era de conster<strong>na</strong>ção. Testemunhas contam que fogo se espalhou em três minutos e a casa<br />

foi tomada por fumaça. Segundo estudante, hospital parecia "campo de batalha"<br />

AP<br />

Agência RBS/Ro<strong>na</strong>ld Mendes<br />

SANTA MARIA (RS) Os sobreviventes do incêndio <strong>na</strong> boate Kiss fizeram relatos dramáticos dos momentos<br />

de pânico após o início do fogo. Há informações de que, enquanto pessoas eram pisoteadas dentro da boate<br />

e outras tentavam achar a saída tateando no escuro em meio à espessa fumaça, os seguranças impediam a<br />

saída dos frequentadores pela única porta disponível, o que aumentava o desespero de todos.<br />

- Vi pessoas <strong>morrer</strong>em <strong>na</strong> <strong>minha</strong> <strong>frente</strong>. Teve <strong>gente</strong> que morreu a um metro da saída da boate - contou o<br />

estudante Eduardo Buriol, de 22 anos, que foi salvo por um amigo ao cair num degrau quando o fogo de<br />

alastrava.<br />

Segundo o estudante, a saída da boate estava obstruída com uma mesa.<br />

- Não sei como e por que estavam ali. Não posso afirmar que foram os seguranças, mas a saída tinha<br />

obstáculos.<br />

Fora da boate, Eduardo juntou-se aos jovens que ajudavam o resgate das vítimas. Eles tentaram quebrar as<br />

paredes para entrar e ajudar os bombeiros.<br />

- Foi um horror. Meni<strong>na</strong>s saindo com o cabelo queimado, sem roupa. Era muita <strong>gente</strong> jogada <strong>na</strong> calçada do<br />

outro lado da rua. Não sabia quem estava vivo ou morto - disse Eduardo.


- Foi um horror. Meni<strong>na</strong>s saindo com o cabelo queimado, sem roupa. Era muita <strong>gente</strong> jogada <strong>na</strong> calçada do<br />

outro lado da rua. Não sabia quem estava vivo ou morto - disse Eduardo.<br />

Seguranças foram obstáculo<br />

O estudante de Medici<strong>na</strong> Murilo Tiecher confirmou que os seguranças do estabelecimento tentaram<br />

inicialmente impedir a saída das pessoas. Somente depois de três minutos eles perceberam que havia um<br />

incêndio e passaram a ajudar a retirar as pessoas do local. Segundo Murilo, os funcionários pensaram que<br />

havia briga e tentaram impedir que saíssem sem pagar.<br />

- Um integrante da banda (Gurizada Fandangueira) acendeu o si<strong>na</strong>lizador, mas o teto era muito baixo e a<br />

chama o atingiu. O fogo se alastrou rapidamente, já que o topo tinha material para isolamento acústico.<br />

Começou uma confusão generalizada, todos fugindo para o mesmo local - disse Murilo.<br />

Ele contou a reação dos seguranças:<br />

- A <strong>gente</strong> gritou 'Tá pegando fogo, tá pegando fogo', mas o segurança abriu os braços e estava tentando<br />

manter a porta fechada, pensando que era uma briga lá dentro. Uns cinco ou seis caras o derrubaram e<br />

colocaram a porta abaixo. Era a única saída. Em questão de três minutos, a boate inteira estava pegando<br />

fogo.<br />

O estudante disse que ajudou a resgatar as pessoas do local:<br />

- O teto pegou fogo. Virou um forno. Quem saiu tentava procurar um amigo lá dentro e tentava voltar. A <strong>gente</strong><br />

puxava as pessoas. Eu puxava uma guria pelos cabelos, puxava quem viesse.<br />

Murilo relatou ainda a dificuldade para atender os feridos no hospital, devido ao grande número de vítimas.<br />

- Levei meus amigos à unidade, que parecia um campo de batalha. Tinha uma meni<strong>na</strong> só de calcinha, com<br />

parada respiratória. Faziam massagem cardíaca nela. Era muita <strong>gente</strong>.<br />

O perso<strong>na</strong>l trainer Ezequiel Corte Real, de 23 anos, que presenciou a tragédia em Santa Maria, foi um dos<br />

sobreviventes que ajudou a retirar pessoas com vida após o início do incêndio:<br />

- Agarrava uma per<strong>na</strong>, um braço, tentava puxar, mas era difícil. Duas meni<strong>na</strong>s me pediram ajuda, não sabia<br />

quem salvar. Respirei, comecei a tontear e não consegui pegar nenhuma. Saí para respirar, me molhei e<br />

voltei de novo - recordou ele.<br />

Das pessoas que retirou de dentro da Boate Kiss, quatro estavam queimadas e as demais debilitadas pela<br />

fumaça.


voltei de novo - recordou ele.<br />

Das pessoas que retirou de dentro da Boate Kiss, quatro estavam queimadas e as demais debilitadas pela<br />

fumaça.<br />

- Vi uma funcionária tentando se esconder dentro de um freezer - contou.<br />

A certa altura do resgate, já exausto, Ezequiel diz que foi desestimulado pelos bombeiros a continuar a<br />

operação:<br />

- Eles disseram para mim que nem adiantava mais se sacrificar porque estava saindo todo mundo morto.<br />

Ezequiel disse que, ao perceber o incêndio, o vocalista da banda teria pego um extintor, que falhou. O<br />

fracasso <strong>na</strong> tentativa de salvamento foi alvo de vaias do público. Ao tentar manter a calma, o estudante<br />

percebeu que a fumaça era muito tóxica e queimava ao respirar. Foi então que começou o resgate. Ezequiel<br />

relata não ter visto nenhum tipo de mecanismo anti-incêndio em funcio<strong>na</strong>mento no estabelecimento.<br />

Na opinião dele, muitas vidas poderiam ter sido salvas no momento em que a saída de jovens da danceteria<br />

foi impedida pelos seguranças.<br />

- Foi pouco tempo, mas poderiam ter salvado muita <strong>gente</strong> enquanto ainda tinha visibilidade lá dentro.<br />

A estudante de Agronomia Daniele Aguiar, de 22 anos, disse que só escapou porque estava perto do palco e<br />

viu quando o fogo começou. Ela ajudou a levar outros sobreviventes de táxi ao pronto-socorro:<br />

- Vi vários amigos meus <strong>morrer</strong>em durante a noite. Até agora tem muitas pessoas que não conseguimos<br />

localizar, porque muita <strong>gente</strong> perdeu o celular durante o tumulto.<br />

Há cerca de seis meses trabalhando <strong>na</strong> Boate Kiss, Lucas Cauduro Peranzoni, de 31 anos, o Dj Bolinha,<br />

afirma que o fogo se alastrou muito rápido depois que o vocalista da Banda Gurizada manuseou um<br />

si<strong>na</strong>lizador que teria causado o incêndio.<br />

- A cabine do Dj fica de <strong>frente</strong> para o palco. Eu vi tudo. Ele largou o si<strong>na</strong>lizador e atingiu a esponja acústica<br />

que fica sobre o palco. Quando pegou fogo, ele pegou o extintor, mas não conseguiu apagar as chamas. Em<br />

menos de 30 segundos, a casa estava tomada de uma fumaça preta - relata Peranzoni.<br />

Ele chegou em poucos segundos à saída e nega que os seguranças tenham trancado a porta:<br />

- Todo mundo estava se empurrando. Respirei aquela fumaça e fiquei tonto. Caí <strong>na</strong> porta e os seguranças,<br />

me puxaram para fora. Não houve trancamento. Eles não enxergam a pista. Fizeram uma contenção de cinco<br />

segundos mas, quando gritaram que era fogo, eles abriram - lembra.


Ele chegou em poucos segundos à saída e nega que os seguranças tenham trancado a porta:<br />

- Todo mundo estava se empurrando. Respirei aquela fumaça e fiquei tonto. Caí <strong>na</strong> porta e os seguranças,<br />

me puxaram para fora. Não houve trancamento. Eles não enxergam a pista. Fizeram uma contenção de cinco<br />

segundos mas, quando gritaram que era fogo, eles abriram - lembra.<br />

Jenifer Rossi, estudante de Odontologia, comemorava com os amigos os seus 19 anos, completados ontem.<br />

Quando percebeu o incêndio provocado, ela logo correu para saída:<br />

- Eu fui muito rápida. Quando eu vi que a coisa estava feia, peguei uma amiga pelo braço e corri - conta.<br />

<strong>Fonte</strong>: O <strong>Globo</strong>

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!