Âncora: posturas e evolução de uma atividade jornalística
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RESUMO<br />
<strong>Âncora</strong>: <strong>posturas</strong> e <strong>evolução</strong> <strong>de</strong> <strong>uma</strong> ativida<strong>de</strong> <strong>jornalística</strong><br />
Ano V, n. 06 – junho/2009<br />
Camila Pérez Gonçalves da Silva *<br />
Os telejornais são verda<strong>de</strong>iros agentes sociais que não apenas transmitem notícias, mas<br />
também interpretam e quase sempre opinam sobre os gran<strong>de</strong>s acontecimentos do mundo.<br />
Essa opinião fica à cargo do âncora e é isto que abordamos no presente trabalho: a <strong>evolução</strong><br />
e o espaço cada vez maior ocupado por esses jornalistas que, ao longo do tempo, passaram<br />
a representar um importante papel social. Torna-se, portanto, relevante, enten<strong>de</strong>r o papel<br />
exercido por um único profissional que carrega a responsabilida<strong>de</strong>, junto aos<br />
telespectadores, da veracida<strong>de</strong> e credibilida<strong>de</strong> do que está sendo dito. Esta pesquisa tem<br />
como objetivo a análise e compreensão do surgimento e <strong>evolução</strong> da figura do âncora no<br />
telejornalismo brasileiro. Constatamos que os âncoras brasileiros po<strong>de</strong>m ser divididos em<br />
três diferentes perfis: o formal, o opinativo e o informal.<br />
Palavras-Chave: <strong>Âncora</strong>s. Telejornalismo. Televisão.<br />
INTRODUÇÃO<br />
Um jornalista que participa <strong>de</strong> todo o processo <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> um telejornal e, não<br />
só apresenta, como também comenta, interpreta e opina sobre as notícias. Esse é o âncora.<br />
O telejornalismo tem evoluído bastante <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o seu surgimento, e, junto com ele, a<br />
produção, os textos, as reportagens, a linguagem utilizada e, claro, a performance dos seus<br />
apresentadores.<br />
Com a <strong>evolução</strong> tecnológica e o uso frequente da internet como fonte para o<br />
telejornalismo, o acesso à informação tem se tornado cada vez mais homogêneo. Dessa<br />
forma, os telejornais apresentam praticamente as mesmas notícias. O que vai diferenciá-los<br />
é justamente a maneira como essas notícias são apresentadas e quem as apresenta. É aí que<br />
* Graduada em Radialismo e graduanda em Jornalismo pela UFPB. Especialista em Redação Jornalística pela<br />
Universida<strong>de</strong> Potiguar/RN.
o âncora entra em ação. Seu carisma, credibilida<strong>de</strong> e talento para apresentar serão <strong>de</strong>cisivos<br />
na escolha do público.<br />
Esses profissionais têm transformado o universo do telejornalismo, tal a sua<br />
interação com o telespectador. A linguagem que eles usam e a forma como olham para a<br />
câmera os tornam íntimos <strong>de</strong> quem os assiste, fortalecendo assim a credibilida<strong>de</strong> das<br />
notícias que são apresentadas.<br />
Eles são a personificação da notícia. Algo que surgiu com a televisão, que é filha do<br />
cinema e do espetáculo. No jornal, a informação é impessoal, transmitida por palavras que<br />
formam idéias e se transformam em opiniões. No rádio, um locutor intermedia as notícias<br />
acrescentado alg<strong>uma</strong> entonação, mas é só com a TV que vem surgir a figura do âncora <strong>de</strong><br />
fato.<br />
O que vemos hoje na televisão é muito mais do que simples locutores que lêem<br />
notícias ou jornalistas robotizados que repetem o que está escrito no teleprompter. Temos<br />
hoje à frente dos telejornais, verda<strong>de</strong>iros agentes sociais que não apenas transmitem<br />
notícias, mas também interpretam e quase sempre opinam sobre os gran<strong>de</strong>s acontecimentos<br />
do mundo. A performance e o estilo <strong>de</strong> cada âncora variam <strong>de</strong> acordo com a linha editorial<br />
do programa que apresentam e, também, com os interesses da emissora a que estão ligados.<br />
Barbeiro e Lima (2002, p. 76), quando falam <strong>de</strong>sse profissional, <strong>de</strong>stacam que ele<br />
não é a notícia, trabalha com ela. Ele “integra um processo para contar a <strong>uma</strong> parte da<br />
socieda<strong>de</strong> o que a outra está fazendo. Não é a estrela do telejornal, mas é o rosto mais<br />
conhecido e familiar do telespectador".<br />
São inúmeros os estilos, <strong>posturas</strong> e formas <strong>de</strong> apresentar que po<strong>de</strong>mos encontrar, como<br />
também são muitos os fatores que <strong>de</strong>terminam essas performances. E é isso que queremos<br />
abordar aqui: a <strong>evolução</strong> e o espaço cada vez maior ocupado por esses profissionais que, ao<br />
longo do tempo, passaram a representar um importante papel social.<br />
Torna-se, portanto, relevante, compreen<strong>de</strong>r esse papel exercido por um único<br />
profissional que geralmente carrega a responsabilida<strong>de</strong> junto aos telespectadores da<br />
veracida<strong>de</strong> e credibilida<strong>de</strong> do que está sendo dito. Um profissional que é responsável por<br />
formar a opinião da gran<strong>de</strong> maioria da população <strong>de</strong> um país que não lê e on<strong>de</strong> a televisão<br />
cost<strong>uma</strong> ser a única fonte <strong>de</strong> informação diária.<br />
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É um estudo que tem sua importância embasada pelo atual cenário telejornalístico<br />
do país on<strong>de</strong> há mais espaço para um novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> apresentação. Um mo<strong>de</strong>lo flexível,<br />
que permite um maior nível <strong>de</strong> informalida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>scontração não apenas na linguagem,<br />
como também na dinâmica <strong>de</strong>ntro do cenário.<br />
Os objetivos específicos <strong>de</strong>ste trabalho são explicar a origem do âncora no<br />
telejornalismo brasileiro; tipificar o âncora da atualida<strong>de</strong> e relacionar, comparativamente,<br />
consi<strong>de</strong>rando a apresentação, os principais telejornais dos quatro gran<strong>de</strong>s canais abertos do<br />
país.<br />
1 A COMUNICAÇÃO E O SURGIMENTO DO ÂNCORA<br />
1.1 A comunicação e seus meios<br />
Imagina-se que tudo tenha começado através <strong>de</strong> gritos e grunhidos que imitavam os<br />
animais. A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comunicação é inerente ao ser h<strong>uma</strong>no <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o mais remoto<br />
registro <strong>de</strong> sua existência. Aos poucos surgiram os signos que inicialmente remetiam a<br />
objetos ou ações específicas. Ou seja, o <strong>de</strong>senho <strong>de</strong> um sol significava o próprio sol! Os<br />
signos, juntamente com seus significados se tornariam a base da linguagem.<br />
Percebeu-se, no entanto, que era preciso <strong>uma</strong> forma <strong>de</strong> linguagem que<br />
permanecesse, um suporte que tivesse maior alcance que a linguagem oral. Daí então se<br />
suce<strong>de</strong>ram as pedras, os pergaminhos <strong>de</strong> couro, <strong>de</strong>pois a imprensa móvel em barro cozido,<br />
estanho, ma<strong>de</strong>ira e bronze até chegarmos ao papel. Os pictogramas (signos que guardam<br />
correspondência direta entre a imagem gráfica e o objeto representado), a escrita<br />
i<strong>de</strong>ográfica (on<strong>de</strong> os signos representam idéias e não mais objetos) e, finalmente, a escrita<br />
fonográfica, que é baseada nos fonemas que formam os nomes dos objetos. Esta escrita<br />
trouxe o conceito <strong>de</strong> letra e conseqüentemente o alfabeto tal qual conhecemos até hoje.<br />
Paralelamente à <strong>evolução</strong> da linguagem, <strong>de</strong>senvolveram-se também os meios <strong>de</strong><br />
comunicação. E foi em 1450 que Johannes Gutenberg, jovem alemão, fez seus primeiros<br />
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experimentos <strong>de</strong> imprimir com caracteres móveis, criando assim a tipografia e dando o<br />
primeiro gran<strong>de</strong> passo para o surgimento da imprensa. †<br />
A partir daí, livros que antes eram copiados à mão, passaram a ser impressos<br />
repetidamente em muitos exemplares. A tecnologia evoluiu até chegarmos às<br />
ultramo<strong>de</strong>rnas impressoras computadorizadas <strong>de</strong> hoje, capazes <strong>de</strong> receber sinais<br />
transmitidos por satélites.<br />
Inventou-se a fotografia! Forte aliada no <strong>de</strong>senvolvimento da comunicação visual,<br />
que passou a ilustrar livros, jornais e revistas, originou o cinema e não parou por aí. Depois<br />
disso, vieram o telégrafo, o telefone, o rádio, a televisão, o satélite e a internet. Meios cada<br />
vez mais rápidos e eficazes na emissão, transmissão e recepção <strong>de</strong> mensagens e<br />
informações, tornando o processo da comunicação cada vez mais ágil e instantâneo.<br />
1.1.1 O jornal impresso<br />
O primeiro órgão regular a divulgar notícias foi a gazeta romana Acta Diurna<br />
(Realizações Diárias), que começou a ser publicada diariamente em 59 A.C. Afixado por<br />
toda a cida<strong>de</strong>, o jornal foi iniciado pelo imperador Júlio César, e não era muito diferente<br />
dos tablói<strong>de</strong>s diários <strong>de</strong> hoje em dia. Mas aqui o "jornal" não era um meio <strong>de</strong> comunicação,<br />
o objetivo era apenas expor, tornar públicas as novida<strong>de</strong>s sociais e políticas, <strong>de</strong>talhes <strong>de</strong><br />
julgamentos criminais e execuções, anúncios <strong>de</strong> nascimentos, casamentos e mortes, e, até<br />
mesmo, os <strong>de</strong>staques <strong>de</strong> eventos esportivos e teatrais no Coliseu. É <strong>de</strong>sse "tornar público"<br />
que, bem <strong>de</strong>pois, vem surgir o termo publicida<strong>de</strong>.<br />
No início do século XVII, os jornais ganharam a forma atual. O mais antigo <strong>de</strong>les,<br />
que se originou <strong>de</strong> um boletim comercial que circulava entre os mercadores <strong>de</strong> Antuérpia e<br />
Veneza, talvez tenha sido o holandês Nieuwe Tijdinghen, publicado em 1605. Os<br />
mercadores holan<strong>de</strong>ses, que viajavam por todo o mundo, serviam <strong>de</strong> "correspon<strong>de</strong>ntes<br />
internacionais", coletando <strong>uma</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> informações das terras distantes. ‡<br />
†<br />
Retirado do artigo Johannes Gutenberg disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Johannes_Gutenberg.<br />
Acesso em 12/02/09.<br />
‡<br />
Retirado do artigo "Jornal e cia" disponível em http://www.triacanto.com.br/down/Jornal.doc. Acesso em<br />
12/02/09.<br />
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O primeiro jornal a circular no Brasil foi o Correio Brasiliense, lançado em junho<br />
<strong>de</strong> 1808, por Hipólito da Costa. O jornal, escrito e impresso em Londres, era distribuído no<br />
país clan<strong>de</strong>stinamente. Com a vinda da corte portuguesa para o Brasil e a instauração da<br />
Imprensa Régia (oficina tipográfica oficial), surge o primeiro jornal impresso no Brasil – A<br />
Gazeta do Rio <strong>de</strong> Janeiro -, dirigido por Frei José Tibúrcio da Rocha. Em meados do século<br />
XIX, o jornalismo político entra em <strong>de</strong>clínio. Aparecem as primeiras revistas culturais e os<br />
jornais começam a publicar em folhetins, obras <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s escritores da época como<br />
Manoel Antônio <strong>de</strong> Almeida, José <strong>de</strong> Alencar e Machado <strong>de</strong> Assis. Neste mesmo século<br />
são fundadas a Ca<strong>de</strong>ia Jornalística Diários Associados, a empresa Folha <strong>de</strong> São Paulo e as<br />
Organizações Globo.<br />
1.1.2 O jornalismo no rádio<br />
Após a Primeira Guerra Mundial, com o fim da produção amparada pelo conflito<br />
no front europeu, as gran<strong>de</strong>s indústrias eletro-eletrônicas norte-americanas buscam novos<br />
mercados para garantir e ampliar seus níveis <strong>de</strong> lucro.<br />
Ainda em 1919, o pernambucano Oscar Moreira Pinto traz para Recife um<br />
transmissor fazendo as primeiras experiências do que, <strong>de</strong>pois, se tornaria a Rádio Clube <strong>de</strong><br />
Pernambuco. Mas, oficialmente, é a pedido da Repartição Geral dos Telégrafos que a<br />
Westinghouse promove a primeira <strong>de</strong>monstração pública, no Brasil, <strong>de</strong> radiodifusão<br />
sonora, feita pelo paraibano Epitácio Pessoa, no dia 7 <strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong> 1922, durante a<br />
Exposição Internacional do Rio <strong>de</strong> Janeiro, que comemorava o centenário da<br />
in<strong>de</strong>pendência. (FERRARETTO, 2001, p. 93)<br />
A <strong>de</strong>monstração promovida pelo capital norte-americano atingiria o seu objetivo,<br />
<strong>de</strong>spertando o interesse dos pioneiros do rádio no Brasil, reunidos em torno <strong>de</strong> Edgard<br />
Roquette-Pinto. Com a Rádio Socieda<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro, criada no ano seguinte, começa<br />
efetivamente a trajetória da radiodifusão sonora no país.<br />
O rádio começa então a ganhar contornos massivos, embora lentamente, em 1924,<br />
quando Elba Dias populariza as transmissões, lançando a Rádio Clube do Brasil, no Rio <strong>de</strong><br />
Janeiro. Dias começa a incentivar cantores em ascensão na época, divulgando shows e<br />
discos, <strong>de</strong>spertando assim o interesse comercial do rádio. (FERRARETTO, 2001, p. 94)<br />
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Mas é só em 28 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1941, com o mundo na Segunda Guerra, que o<br />
radiojornalismo brasileiro cria forma. Foi a estréia do Repórter Esso. Inicialmente na Rádio<br />
Nacional, no Rio <strong>de</strong> Janeiro e na Record em São Paulo, esten<strong>de</strong>ndo-se no ano seguinte para<br />
o Rio Gran<strong>de</strong> do Sul (Farroupilha), Minas Gerais (Inconfidência) e Pernambuco (Jornal do<br />
Comércio).<br />
Patrocinado pela Esso Brasileira <strong>de</strong> Petróleo, com noticiário da United Press<br />
International, o Repórter Esso introduziu no Brasil “um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> texto linear, direto,<br />
corrido e sem adjetivações, apresentado em um noticiário ágil e estruturado”, como afirma<br />
Luiz Artur Ferraretto, em seu livro Rádio: o veículo, a história e a técnica. (2001, p. 127).<br />
A fórmula copiada dos Estados Unidos confere gran<strong>de</strong> credibilida<strong>de</strong> ao jornal.<br />
Tanto que dois gran<strong>de</strong>s furos que o Esso levou (a morte <strong>de</strong> Getúlio Vargas, noticiada pela<br />
Rádio O Globo e o fim da guerra na Europa, divulgada pela Tupi), não foram levados a<br />
sério pela população até que o Repórter Esso tivesse noticiado.<br />
Com tanta credibilida<strong>de</strong>, ser locutor do programa conferia certo prestígio. O mais<br />
famoso talvez tenha sido o gaúcho Heron Domingues, a voz mais conhecida do noticiário.<br />
E foi o próprio Heron que em 1948 criou o primeiro <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong>dicado ao jornalismo<br />
n<strong>uma</strong> emissora <strong>de</strong> rádio – a Seção <strong>de</strong> Jornais Falados e Reportagens da Nacional – que<br />
organizou pela primeira vez um sistema <strong>de</strong> equipe n<strong>uma</strong> redação <strong>de</strong> jornalismo radiofônico.<br />
(FERRARETTO, 2001, p. 128)<br />
O Repórter Esso e a curiosida<strong>de</strong> por assuntos da guerra incentivaram o surgimento<br />
<strong>de</strong> outros noticiosos. Em 1942, Coripheu <strong>de</strong> Azevedo Marques e Armando Bertoni criam o<br />
primeiro radiojornal brasileiro mo<strong>de</strong>rno: o Gran<strong>de</strong> jornal falado Tupi, que reproduzia a<br />
estrutura comum à imprensa escrita.<br />
Os <strong>de</strong>partamentos <strong>de</strong> jornalismo proliferam nos anos 50, mas o espetáculo dos<br />
programas <strong>de</strong> auditório, humorísticos e novelas dominam o rádio. É nessa mesma época<br />
que a televisão começa a dar seus primeiros passos no Brasil e é justamente o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong><br />
informação ágil, atual e vibrante, introduzido pelo Repórter Esso e pelo Gran<strong>de</strong> jornal<br />
falado da Tupi que vai auxiliar a radiodifusão sonora a renascer nas décadas seguintes,<br />
<strong>de</strong>pois do inevitável abalo provocado pela televisão. (FERRARETTO, 2001, 130-1)<br />
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1.1.3 E surge a televisão<br />
A televisão, no início, era praticamente a transmissão dos programas <strong>de</strong> rádio.<br />
Naquela época (década <strong>de</strong> 50), tínhamos <strong>uma</strong> gran<strong>de</strong> intimida<strong>de</strong> com o rádio, mas a TV<br />
ainda era um mistério a ser <strong>de</strong>svendado. Não se sabia direito o que fazer com a nova<br />
mídia que surgia. Achava-se inclusive que ela viria para substituir o rádio.<br />
Em princípio, o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> televisão brasileiro foi o americano. Nisso,<br />
como em tantas outras coisas, começamos imitando os americanos, nossa<br />
influência mais forte. Os nossos primeiros produtores foram aos Estados<br />
Unidos, fizeram cursos na CBS, na NBC, para apren<strong>de</strong>r as técnicas e os<br />
procedimentos fundamentais e os utilizaram para implantar a televisão no<br />
Brasil. (DANIEL FILHO, 2001, p. 14).<br />
Finalmente no dia 18 <strong>de</strong> setembro a TV Tupi <strong>de</strong> São Paulo, PRF-3 TV, canal 3, foi<br />
inaugurada. Era a concretização do sonho <strong>de</strong> um pioneiro da comunicação no Brasil: o<br />
paraibano Francisco <strong>de</strong> Assis Chateaubriand Ban<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Melo, que já controlava <strong>uma</strong><br />
ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> jornais e emissoras <strong>de</strong> rádio chamada Diários Associados.<br />
Depois <strong>de</strong> poucos meses <strong>de</strong> treinamento, alguns radialistas escolhidos por<br />
Chateaubriand lançaram-se à aventura <strong>de</strong> fazer TV. Os estúdios eram pequenos, o<br />
equipamento precário, mas o nascimento da TV Tupi foi solene. Com <strong>uma</strong> hora <strong>de</strong> atraso, às<br />
21horas, a entrou no ar o espetáculo inaugural que chamou-se O show da Taba. Com<br />
música, humor, dança e quadro <strong>de</strong> dramaturgia, foi apresentado por Homero Silva. Na<br />
ocasião, Lolita Rodrigues cantou "O hino da Televisão", com a participação <strong>de</strong> todo o cast<br />
artístico das Rádios Associadas. (DANIEL FILHO, 2001, p. 15)<br />
Acost<strong>uma</strong>dos à improvisação e rapi<strong>de</strong>z do rádio, os pioneiros não tiveram<br />
problemas em se adaptar ao mo<strong>de</strong>rno veículo e apren<strong>de</strong>ram muito: ator virava sonoplasta,<br />
autor dirigia, diretor entrava em cena. A TV Tupi dos primeiros anos era <strong>uma</strong> verda<strong>de</strong>ira<br />
escola. Aos poucos, os programas ganharam forma: o primeiro telejornal... a primeira<br />
novela.<br />
Naquela época as estações <strong>de</strong> televisão funcionavam <strong>de</strong> maneira autônoma, em cada<br />
estado do país. E, até que se adotasse o conceito <strong>de</strong> gra<strong>de</strong> <strong>de</strong> programação, o dia seguinte<br />
era sempre um novo <strong>de</strong>safio. (DANIEL FILHO, 2001, p. 16-7)<br />
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1.1.3.1 O telejornalismo no Brasil<br />
O telejornalismo chegou ao Brasil com o início da implantação da indústria da<br />
televisão, em setembro <strong>de</strong> 1950. Imagens do dia foi o primeiro programa do gênero a ser<br />
veiculado pela TV Tupi. Ainda sem muita estrutura, não tinha hora certa para ir ao ar, pois<br />
estava sempre a mercê dos ajustes à nova tecnologia. A pequena equipe, formada por Ruy<br />
Resen<strong>de</strong>, apresentador e redator, e pelos cinegrafistas Jorge Kurjian, Paulo Salomão e<br />
Afonso Ribas produzia todas as noites um noticiário que continha <strong>uma</strong> sequência <strong>de</strong> filmes<br />
com os últimos acontecimentos locais. A primeira reportagem exibida foi o <strong>de</strong>sfile cívico-<br />
militar pelas ruas <strong>de</strong> São Paulo. (REZENDE, 2000, p. 105)<br />
Para Sérgio Mattos, "ao contrário da televisão norte-americana, que se <strong>de</strong>senvolveu<br />
apoiando-se na forte indústria cinematográfica, a brasileira teve <strong>de</strong> se submeter à influência<br />
do rádio, utilizando inicialmente sua estrutura, o mesmo formato <strong>de</strong> programação, bem<br />
como seus técnicos e artistas". §<br />
No início, os telejornais funcionavam como um rádio com imagens. Os<br />
apresentadores liam as notas extraídas dos jornais impressos, faziam o chamado “gilette-<br />
press”. O mo<strong>de</strong>lo utilizado na televisão foi importado do rádio, ou seja, não se criou <strong>uma</strong><br />
linguagem específica para o veículo. Além disso, as imagens eram feitas em filmes <strong>de</strong> 16<br />
mm, o que <strong>de</strong>mandava um tempo gran<strong>de</strong> para a revelação, impedindo <strong>de</strong>sta forma <strong>de</strong> se<br />
fazer <strong>uma</strong> cobertura <strong>jornalística</strong> com notícias factuais. Por isso, no início, a programação<br />
televisiva apresentava um baixo índice <strong>de</strong> noticiários. Na competição com o rádio ela<br />
perdia em instantaneida<strong>de</strong>. Por causa da <strong>de</strong>mora na revelação dos filmes, as imagens dos<br />
fatos sofria um atraso <strong>de</strong> até doze horas entre o acontecimento e a divulgação no<br />
telejornal.(REZENDE, 2000, p.106-7)<br />
O Imagens do dia durou pouco mais <strong>de</strong> dois anos no ar e, em 1952, a TV Tupi <strong>de</strong><br />
São Paulo criou o Telenotícias Panair. Este ficou no ar por tempo reduzido e era produzido<br />
pela equipe <strong>de</strong> jornalismo da emissora. (REZENDE, 2000, p. 105)<br />
Mas o telejornal mais importante da TV brasileira da década <strong>de</strong> 50 só iria surgir um<br />
pouco <strong>de</strong>pois. Inicialmente, em 1952, na TV Tupi do Rio e, no ano seguinte, na TV Tupi <strong>de</strong><br />
§ Retirado do artigo "Um perfil da TV brasileira", por Sérgio Mattos disponível em<br />
http://www.multirio.rj.gov.br/sec21/chave_artigo.asp?cod_artigo=3732. Acesso em 15/02/09.<br />
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São Paulo, o Repórter Esso, que já vinha <strong>de</strong> <strong>uma</strong> carreira consolidada no rádio, se firmou<br />
por muitos anos no horário nobre da noite. Foi esse radiojornal que veio impor o primeiro<br />
padrão para a apresentação <strong>de</strong> notícias no jornalismo eletrônico brasileiro e também para<br />
questões ligadas à imagem do programa e <strong>de</strong> seus apresentadores que, em sua maioria,<br />
eram locutores com experiência no veículo, mas que não eram jornalistas profissionais.<br />
Paralelamente ao Repórter Esso veio ainda, em 1953, o Mapping Movietone, na<br />
então TV Paulista, on<strong>de</strong> surgiram as primeiras apresentadoras <strong>de</strong> telejornal (as atrizes<br />
Cacilda Lanuza e Branca Ribeiro);<br />
Pela precarieda<strong>de</strong> técnica e inexperiência dos primeiros profissionais, as falhas<br />
aconteciam. Mas a repercussão na comunida<strong>de</strong> era muito pequena, dado o número limitado<br />
<strong>de</strong> pessoas que tinha acesso às imagens <strong>de</strong> TV. Naquela época, possuir um televisor era<br />
sinônimo <strong>de</strong> status. (REZENDE, 2000, p. 106)<br />
Por causa dos obstáculos que impediam as coberturas externas, o jornalismo direto<br />
do estúdio, ao vivo, predominava por quase todo o tempo do noticiário. Não <strong>de</strong>ixava <strong>de</strong> ser<br />
<strong>uma</strong> alternativa simples e econômica. O equipamento disponível na época era <strong>uma</strong> câmera<br />
<strong>de</strong> filmar <strong>de</strong> 16 milímetros, sem som direto, que não foi o bastante para suavizar a<br />
influência da linguagem radiofônica sobre os telejornais. (REZENDE, 2000, p. 106)<br />
Na versão televisiva, apresentada por Gontijo Teodoro, o Repórter Esso<br />
representava a típica manifestação do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> telejornalismo feito por gente que vinha<br />
do rádio. Em termos visuais, "todos os telejornais eram parecidos: <strong>uma</strong> cortina <strong>de</strong> fundo,<br />
<strong>uma</strong> mesa e <strong>uma</strong> cartela com o nome do patrocinador". (LIMA apud REZENDE, 2000, p.<br />
106). O Repórter Esso sintetizava as duas características mais evi<strong>de</strong>ntes do início da TV<br />
brasileira: a herança radiofônica e a subordinação dos programas aos interesses dos<br />
patrocinadores. (PRIOLLI, 1985, p. 23 apud REZENDE 2000, p. 106)<br />
Mas foi justamente o apoio <strong>de</strong> um patrocinador <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte e o acordo com a<br />
agência <strong>de</strong> notícias norte-americana United Press International (UPI) que proporcionou a<br />
libertação da narração exclusivamente oral e o uso mais frequente <strong>de</strong> matérias ilustradas.<br />
No início da década <strong>de</strong> 60, a TV brasileira recebe o impulso da exibição <strong>de</strong> filmes<br />
estrangeiros dublados e da chegada do vi<strong>de</strong>oteipe, encomendado especialmente para<br />
registrar a inauguração <strong>de</strong> Brasília, a nova capital do país. È um momento <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />
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<strong>evolução</strong> no telejornalismo brasileiro que entrava n<strong>uma</strong> fase <strong>de</strong> muita criativida<strong>de</strong> e<br />
expansão intelectual. (REZENDE, 2000, p. 107)<br />
Em 1962, confirmando essa nova fase, surge na TV Excelsior, o Jornal <strong>de</strong><br />
Vanguarda, que trouxe muitas novida<strong>de</strong>s na concepção do telejornalismo. A principal <strong>de</strong>las<br />
foi a participação <strong>de</strong> jornalistas como produtores e <strong>de</strong> cronistas especializados como<br />
apresentadores das notícias, fato até então inédito no telejornalismo do país. Assim, os<br />
brasileiros contavam com os comentários <strong>de</strong> Newton Carlos, Millor Fernan<strong>de</strong>s, João<br />
Saldanha, Villas-Bôas Correia e Stanislaw Ponte Preta, entre outros nomes.<br />
Além <strong>de</strong> enorme prestígio no país, o Jornal <strong>de</strong> Vanguarda obteve também gran<strong>de</strong><br />
reconhecimento no exterior. Chegou a receber, em 1963, na Espanha, o prêmio Ondas<br />
como melhor telejornal do mundo pela originalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua estrutura e forma <strong>de</strong><br />
apresentação distinta <strong>de</strong> todos os outros informativos.<br />
Tanto reconhecimento esbarrou na censura imposta pelos militares e o Jornal <strong>de</strong><br />
Vanguarda foi extinto em 1968. (REZENDE, 2000, p.107)<br />
É em 1969 que a TV Globo, inaugurando o verda<strong>de</strong>iro conceito <strong>de</strong> “re<strong>de</strong>” no país,<br />
coloca no ar o Jornal Nacional, primeiro programa gerado para Brasília e mais oito estados.<br />
O Jornal Nacional entrou no ar no em primeiro <strong>de</strong> setembro com apresentação <strong>de</strong> Cid<br />
Moreira e Hilton Gomes.<br />
Com recursos correspon<strong>de</strong>ntes aos <strong>de</strong> um programa caro e caprichado como <strong>uma</strong><br />
novela, ao anunciar a criação do Jornal Nacional a Re<strong>de</strong> Globo salientou: "vamos lançar<br />
um telejornal para que 56 milhões <strong>de</strong> brasileiros tenham mais coisas em comum, além <strong>de</strong><br />
um simples idioma" (Veja 52, p. 68 apud REZENDE, 2000, p. 109).<br />
Interesses políticos e mercadológicos foram os objetivos reais que motivaram a<br />
iniciativa <strong>de</strong> criar o novo telejornal. A Globo queria ter um noticiário <strong>de</strong> prestígio e que<br />
competisse com o Repórter Esso da TV Tupi, que, na época, dominava o horário e tinha<br />
<strong>uma</strong> importante audiência cativa.<br />
Mas a primeira edição do Nacional <strong>de</strong>monstrava o momento político pelo qual<br />
passava o país. A originalida<strong>de</strong> só po<strong>de</strong>ria estar presente na qualida<strong>de</strong> técnica, já que o<br />
conteúdo estava sacrificado pela intervenção da censura. Citando Nogueira, Mello e Souza<br />
(1984, p. 12) explica:<br />
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Nossa preocupação maior, quase que única, era operar convenientemente<br />
todo esse complexo mecanismo <strong>de</strong> televisão (...) do ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong><br />
conteúdo (...) nenhum <strong>de</strong> nós po<strong>de</strong>ria estar empolgado naquele primeiro<br />
dia. Nossa preocupação em matéria <strong>de</strong> jornalismo (...) não ia além da<br />
forma, do formato, da parte visual, porque sofríamos restrições ao<br />
exercício da plena liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> informação. (REZENDE, 2000, p. 111)<br />
O Jornal Nacional foi ganhando cada vez mais espaço e <strong>de</strong>rrubou o Repórter Esso<br />
que, em 31 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1970, foi ao ar pela última vez, e passou a ser a gran<strong>de</strong> ve<strong>de</strong>te<br />
do telejornalismo brasileiro.<br />
Ainda em 1970, a TV Ban<strong>de</strong>irantes <strong>de</strong> São Paulo trouxe Os Titulares da Notícia,<br />
on<strong>de</strong> o principal atrativo era a presença da dupla sertaneja Tonico e Tinoco apresentado as<br />
notícias do interior do estado <strong>de</strong> São Paulo.<br />
Enquanto isso a TV Tupi tentava se recuperar da crise com o fim do Esso e lançou o<br />
Re<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong> Notícias. Inaugurava um cenário diferente on<strong>de</strong> os locutores apareciam<br />
em primeiro plano e <strong>uma</strong> sala <strong>de</strong> redação compunha o ambiente do fundo. Talvez os<br />
primórdios dos mo<strong>de</strong>rnos cenários atuais.<br />
A Hora da Notícia, exibido pela TV Cultura <strong>de</strong> São Paulo, também em 1970,<br />
chegou a alcançar a li<strong>de</strong>rança <strong>de</strong> audiência da emissora, apostando num formato que<br />
priorizava o <strong>de</strong>poimento popular a respeito dos problemas da comunida<strong>de</strong>. Conceito que<br />
também foi vítima dos interesses políticos dominantes no país.<br />
Outra experiência tele<strong>jornalística</strong> <strong>de</strong> sucesso nesse mesmo período foi proposta pela<br />
TV Ban<strong>de</strong>irantes. Os Titulares da Notícia foi reformulado, <strong>de</strong>poimentos populares foram<br />
incluídos no programa que também passou a valorizar mais o trabalho do repórter que,<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> aparência e voz, passava a apresentar as notícias. Isso conferia <strong>uma</strong><br />
credibilida<strong>de</strong> maior ao noticiário <strong>uma</strong> vez que quem transmitia a notícia não era um simples<br />
locutor, mas alguém que participava do processo <strong>de</strong> apuração dos fatos.<br />
Os anos <strong>de</strong> 1970 foram <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e apuro técnico alcançado,<br />
principalmente, pela Re<strong>de</strong> Globo que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então já iniciava a carimbar o seu padrão <strong>de</strong><br />
qualida<strong>de</strong> em suas produções. A câmera <strong>de</strong> 16 mm saiu <strong>de</strong> cena e <strong>de</strong>u lugar às câmeras<br />
portáteis <strong>de</strong> vi<strong>de</strong>oteipe com muito mais mobilida<strong>de</strong> e beleza. Mas, apesar da <strong>evolução</strong><br />
tecnológica à favor, o discurso ainda continuava submetido à censura.<br />
O cuidado estético, no entanto, visto na escolha dos cenários, dos locutores, da<br />
qualida<strong>de</strong> das imagens e da edição das matérias, fizeram a Globo se a<strong>de</strong>quar cada vez mais<br />
Ano V, n. 06 – junho/2009<br />
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às potencialida<strong>de</strong>s da linguagem televisiva. O padrão foi se consolidando e o sucesso era<br />
medido pela audiência sempre crescente.<br />
A escolha dos locutores era cuidadosa. Homens <strong>de</strong> boa aparência e bonito timbre <strong>de</strong><br />
voz eram estratégia para "segurar" o público feminino que estava nas novelas. Cid Moreira<br />
foi o escolhido para encarar o Jornal Nacional. Experiente (já havia se <strong>de</strong>stacado no Jornal<br />
<strong>de</strong> Vanguarda), tornou-se a filosofia do programa por anos a fio.<br />
Muitos artifícios foram usados para driblar a censura que no final dos anos 70 e<br />
início <strong>de</strong> 80 começava a afrouxar as ré<strong>de</strong>as. Coberturas nacionais superficiais e mais espaço<br />
para notícias internacionais serviam também para, sutilmente, alertar a consciência do<br />
público para assuntos polêmicos. (REZENDE, 2000, p. 111-6)<br />
Animada com o sucesso do JN, a Globo cria outros telejornais: o Hoje, na hora do<br />
almoço e outro no fim da noite que recebeu vários títulos (Amanhã, Painel, Jornal da<br />
Globo, segunda edição do Jornal Nacional). Anos <strong>de</strong>pois surgiu um jornal em um horário<br />
pouco convencional, no início da manhã, o Bom dia São Paulo, que seria a semente para o<br />
hoje consagrado Bom dia Brasil.<br />
Na década <strong>de</strong> 1980 muitos programas <strong>de</strong> entrevistas e <strong>de</strong>bates se seguiram como o<br />
Vox Populi na TV Cultura, o Encontro com a Imprensa, na TV Ban<strong>de</strong>irantes e o Diário<br />
Nacional na TV Record. A Globo também fez <strong>uma</strong> tentativa pouco duradoura com um<br />
programa nessa linha <strong>jornalística</strong> com o Globo em Revista. Ainda em 1981, a TV<br />
Ban<strong>de</strong>irantes abriu espaço para <strong>uma</strong> diversificada série <strong>de</strong> programas jornalísticos: Variety,<br />
ETC, Outras Palavras, Bastidores, Nova Mulher e Crítica e Autocrítica. Com exceção<br />
<strong>de</strong>sse último, todos os outros duraram pouco tempo, mas marcaram <strong>uma</strong> nova etapa na<br />
história do telejornalismo brasileiro.<br />
No início dos anos 1980, a notável relevância da Globo já não estava só. Da<br />
concorrência pública para os canais da Tupi, duas novas ca<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> televisão se projetaram:<br />
o Sistema Brasileiro <strong>de</strong> Televisão, SBT, do empresário Sílvio Santos e a Re<strong>de</strong> Manchete, do<br />
grupo Bloch.<br />
No telejornalismo, a Manchete vinha com idéias novas e audaciosas. A começar<br />
pela cobertura do <strong>de</strong>sfile das escolas <strong>de</strong> samba que roubou preciosos pontos da audiência da<br />
Globo. A Manchete colocou o jornalismo no horário nobre enquanto a Globo exibia suas<br />
Ano V, n. 06 – junho/2009<br />
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telenovelas. O Jornal da Manchete impediu a hegemonia da Globo priorizando o<br />
comentário e a análise dos fatos.(REZENDE, 2000, 117-122)<br />
Enquanto isso na Ban<strong>de</strong>irantes, Joelmir Beting tornava-se o primeiro âncora a atuar<br />
na televisão brasileira. Ficou quase seis anos à frente do Jornal da Ban<strong>de</strong>irantes e<br />
relembra:<br />
A gente editava o jornal na hora, na marra. Era <strong>uma</strong> ancoragem cirúrgica,<br />
porque às vezes eu tinha dois minutos e vazio no jornal e precisava<br />
preenchê-lo ou precisava chamar <strong>uma</strong> notícia para o próximo bloco e eles<br />
nem sabiam <strong>de</strong> fato qual seria a próxima notícia. A exigência <strong>de</strong><br />
criativida<strong>de</strong> era um absurdo, eu perdia adrenalina toda noite (...) Aquilo<br />
era um 'tampão', ao vivo, com a nossa cora sob o risco <strong>de</strong> fazer ou dizer<br />
besteiras como andou acontecendo. (VIEIRA, 1991 apud REZENDE,<br />
2000, p. 123)<br />
Da experiência fracassada do SBT no telejornalismo surgiram os telejornais Cida<strong>de</strong><br />
4, 24 horas, Noticentro, Últimas notícias. A imagem <strong>de</strong> <strong>uma</strong> emissora incapaz <strong>de</strong> produzir<br />
um jornalismo <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> só começou a mudar em 1998 quando da contratação <strong>de</strong> três<br />
profissionais: Marcos Wilson e Luiz Fernando Emediato para a direção do <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong><br />
jornalismo e Boris Casoy, que assumiu a ancoragem do Telejornal Brasil. (REZENDE,<br />
2000, p.126)<br />
Consagrado no jornalismo impresso, on<strong>de</strong> chegou ao cargo <strong>de</strong> editor-chefe da Folha<br />
<strong>de</strong> S. Paulo, Casoy <strong>de</strong>senvolveu um jeito bem particular <strong>de</strong> apresentar o programa que fugia<br />
do mo<strong>de</strong>lo norte-americano. Além <strong>de</strong> ler notícias e conduzir o telejornal, ele passou a fazer<br />
entrevistas e emitir comentários pessoais sobre os fatos noticiados. O que levou muitos<br />
críticos e profissionais <strong>de</strong> outras emissoras a acreditar que aquilo era <strong>uma</strong> <strong>de</strong>turpação do<br />
trabalho do âncora. (REZENDE, 2000, p. 127)<br />
Ele, no entanto, se justificava dizendo que "a audiência brasileira <strong>de</strong> televisão é<br />
muito mais carente <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> informação, da entrevista e do comentário, do que a<br />
opinião pública norte-americana” (VIEIRA, 1991, p. 71 apud REZENDE, 2000, p. 127).<br />
E ele estava certo. Prova disso foi o reflexo na audiência do TJ Brasil que logo<br />
assumiu a segunda posição em faturamento na emissora.<br />
Em agosto do mesmo ano, a TV Cultura traz o ex-repórter Carlos Nascimento para<br />
também estruturar o Jornal da Cultura na figura do âncora. Nascimento se sai muito bem e,<br />
no ano seguinte, muda para a Re<strong>de</strong> Record.<br />
Ano V, n. 06 – junho/2009<br />
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Na Ban<strong>de</strong>irantes, Marília Gabriela passa a atuar como <strong>uma</strong> espécie <strong>de</strong> âncora no<br />
Jornal da Ban<strong>de</strong>irantes, construindo um novo parâmetro para o telejornalismo brasileiro.<br />
A Globo, incomodada com o novo estilo inaugurado por Boris Casoy, <strong>de</strong>ci<strong>de</strong><br />
investir no jornalismo fora do estúdio. Acredita que o verda<strong>de</strong>iro papel do âncora é sair do<br />
conforto do estúdio e ir até os acontecimentos. Foi assim, com gran<strong>de</strong> sucesso, a cobertura<br />
da Guerra do Golfo, on<strong>de</strong> a emissora entrava "ao vivo" com o repórter Pedro Bial <strong>de</strong><br />
diversas capitais do oriente e da Europa e Estados Unidos com jornalistas como Ernesto<br />
Paglia, Paulo Henrique Amorim e Rodolfo Gamberini. (REZENDE, 2000, p. 128-130)<br />
Com um time <strong>de</strong> peso que já contava com nomes como Hermano Henning e Lílian<br />
Witte Fibe, o SBT não se encontra no telejornalismo até criar o Aqui Agora. Telejornal<br />
popularesco que usava do plano-sequência para dar mais realismo às histórias que narrava.<br />
Um sucesso fenomenal em São Paulo que fez com que a empresa quisesse reformular o TJ<br />
para aumentar a sua audiência. Boris Casoy reagiu à idéia e a solução foi <strong>de</strong>smembrar o TJ<br />
do <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> jornalismo, o que conce<strong>de</strong>u a Casoy ainda mais autonomia.<br />
(REZENDE, 2000, p. 131)<br />
Des<strong>de</strong> então muito se evoluiu no telejornalismo brasileiro. Seu formato, linguagem,<br />
reportagens e, claro, seus apresentadores e âncoras que, <strong>de</strong> simples narradores (locutores)<br />
<strong>de</strong> imagens passaram a verda<strong>de</strong>iras estrelas da televisão brasileira.<br />
Ao longo <strong>de</strong>ssa <strong>evolução</strong>, muitos programas entraram e saíram do ar. Atualmente a<br />
televisão brasileira apresenta <strong>uma</strong> gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> telejornais. O JN continua a ser o<br />
mo<strong>de</strong>lo, mas as outras emissoras e a própria Globo vêm se mo<strong>de</strong>rnizando e abrindo mais<br />
espaço para a informalida<strong>de</strong> e a <strong>de</strong>scontração nesses programas. E, na luta pela audiência,<br />
os âncoras tornaram-se arma fundamental.<br />
1.2 O âncora: origem e chegada ao Brasil<br />
1.2.1 O âncora norte-americano<br />
Squirra (1993, p.65) relata que, ainda na década <strong>de</strong> 50, a figura do apresentador <strong>de</strong><br />
telejornais nos Estados Unidos recebeu o nome <strong>de</strong> âncora (anchorman). A primeira<br />
<strong>de</strong>finição para este profissional aconteceu na Convenção dos dois principais partidos<br />
Ano V, n. 06 – junho/2009<br />
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políticos realizada na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Phila<strong>de</strong>lfia, em 1948. O diretor <strong>de</strong> jornalismo da CBS Sig<br />
Mickelson conta que:<br />
Eu visualizei o homem-âncora como a pessoa melhor informada na<br />
Convenção. Todas as nossas linhas <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong>veriam terminar<br />
nele. Repórteres no local, no ar e nos hotéis do centro da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>veriam<br />
transmitir para <strong>uma</strong> mesa central. Esta <strong>de</strong>veria apresentar na tela<br />
informações que seriam difundidas por ele. O estúdio on<strong>de</strong> nós o<br />
colocamos <strong>de</strong>veria ser o coração e o cérebro da nossa cobertura.<br />
Nos EUA os âncoras são verda<strong>de</strong>iras "instituições vivas", recebem os maiores<br />
salários, são profundamente confiáveis para a audiência e extremamente ativos em todos os<br />
assuntos que envolvem a nação. Verda<strong>de</strong>iras estrelas no melhor estilo Hollywood com a<br />
ressalva <strong>de</strong> que representam <strong>uma</strong> figura séria, inspiram confiança, segurança e honestida<strong>de</strong>.<br />
Eles são, para Goldberg e Goldberg "a face i<strong>de</strong>ntificável dos <strong>de</strong>partamentos <strong>de</strong> jornalismo<br />
das re<strong>de</strong>s, os chamados ´logotipos vivos'".<br />
O sucesso dos âncoras norte-americanos se dá, segundo o agente <strong>de</strong> âncora Richard<br />
Leibner, por causa da crescente obsessão <strong>de</strong>ssa socieda<strong>de</strong> pelos ricos e famosos. Depois das<br />
estrelas do cinema, do rock, do esporte e da TV, foi a vez dos jornalistas virarem estrelas<br />
também. (SQUIRRA, 1993, p. 66)<br />
Goldberg e Goldberg (apud SQUIRRA, 1993, p. 66) <strong>de</strong>stacam ainda um <strong>de</strong>talhe<br />
interessante: "ironicamente, os três são surpreen<strong>de</strong>ntemente similares. Eles (os âncoras da<br />
ABC, CBS e NBC) são brancos, homens, casados, pais com 2 ou mais filhos, ricos, estão<br />
na meia ida<strong>de</strong>, e são protestantes. ... Os três são 'bonitões', cheios <strong>de</strong> energia, ambiciosos,<br />
atentos e enormemente competitivos. Eles são, é <strong>de</strong>snecessário dizer, profundamente<br />
representativos da maioria dos americanos".<br />
cargo:<br />
Walter Cronkite, o mais importante âncora norte-americano, assim <strong>de</strong>finiu este<br />
Basicamente, é um jornalista com a paciência e a curiosida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ler, com a<br />
maior isenção possível, os jornais impressos do dia; esse jornalista <strong>de</strong>ve<br />
ter <strong>uma</strong> visão <strong>de</strong> mundo, dispor <strong>de</strong> <strong>uma</strong> cultura h<strong>uma</strong>nística e histórica que<br />
lhe permita <strong>de</strong>scobrir, mesmo em <strong>uma</strong> pequena anedota, a sua importância<br />
trágica ou sua terrível comicida<strong>de</strong>; alguém em condições <strong>de</strong> estar<br />
permanentemente chocado pela realida<strong>de</strong>, mas com o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> se<br />
apresentar diante dos telespectadores sem que olhos e músculos reflitam<br />
Ano V, n. 06 – junho/2009<br />
15
qualquer tipo <strong>de</strong> comoção in<strong>de</strong>sejável; alguém que acompanhe, na<br />
redação, o nascimento e o <strong>de</strong>senvolvimento da notícia; <strong>uma</strong> pessoa capaz<br />
<strong>de</strong> sofrer, durante <strong>de</strong>z minutos, para escrever um bom texto <strong>de</strong> duas linhas<br />
e, ao mesmo tempo, improvisar com naturalida<strong>de</strong> e conhecimento <strong>de</strong><br />
causa <strong>uma</strong> locução <strong>de</strong> dois minutos sobre algum acontecimento <strong>de</strong> última<br />
hora; alguém com ar <strong>de</strong> serenida<strong>de</strong> e respeito pelos outros; traços corretos,<br />
boa voz, um ritmos dialogal <strong>de</strong> leitura e – exigência suprema! – um ar<br />
inteligente. (SQUIRRA, 1993, p.119)<br />
Outros âncoras norte-americanos como Dan Rather – que suce<strong>de</strong>u Cronkite na CBS -,<br />
Peter Jennings, na CBC, e Tom Brokaw na NBC, mantiveram esse perfil <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e<br />
autorida<strong>de</strong> que permanece até hoje nos âncoras <strong>de</strong>sse país.<br />
1.2.1.1 Walter Cronkite<br />
Walter Cronkite foi o primeiro jornalista que acumulou a função <strong>de</strong> editor-chefe<br />
além <strong>de</strong> apresentador. Ou seja, tinha o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir o que <strong>de</strong>veria ou não ser mostrado<br />
no jornal. Toda a liberda<strong>de</strong> para mudar o que achasse necessário.<br />
Já fazia sucesso apresentando eventos especiais da CBS <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1954 quando assumiu<br />
o Evening News em abril <strong>de</strong> 1962, substituindo o então apresentador Douglas Edward que<br />
já não estava aten<strong>de</strong>ndo às expectativas da audiência. (SQUIRRA, 1993, p. 69)<br />
Competente, solucionador e ágil na tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões, Cronkite logo se tornou o<br />
símbolo da ancoragem norte-americana. Permanecendo quase absoluto nos <strong>de</strong>zenove anos<br />
em que esteve à frente do programa. Excelente improvisador, tinha <strong>uma</strong> incrível capacida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> pensar rápido, organizando os fatos e apresentando <strong>de</strong> forma clara e eficiente aos<br />
telespectadores. Chegou a ser, inclusive, segundo <strong>uma</strong> pesquisa realizada pela Oliver<br />
Quayle e Co. a "mais acreditada figura pública na América". (SQUIRRA, 1993, p. 80)<br />
Foi ele quem inaugurou o 'star system' no telejornal em re<strong>de</strong> nos EUA. Tinha acesso<br />
a todos os políticos, empresários, intelectuais e artistas que <strong>de</strong>sejasse, e as fontes estavam<br />
sempre abertas para quando ele quisesse conversar com alguém. Chegou até a ser cotado<br />
para presi<strong>de</strong>nte do país tamanha a sua popularida<strong>de</strong>. Mas, para Arthur Taylor, então<br />
presi<strong>de</strong>nte corporativo da CBS, Walter Cronkite "vai ficar na história por ter tido o caráter<br />
<strong>de</strong> não explorar o po<strong>de</strong>r que ele possuía. Não tivesse ele tido o caráter <strong>de</strong> fazer isto,<br />
Ano V, n. 06 – junho/2009<br />
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seguramente teria provocado <strong>uma</strong> enorme mudança nos critérios...". (SQUIRRA, 1993, p.<br />
81)<br />
Em seis <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1981, Cronkite passou o posto mais invejado do telejornalismo<br />
nos EUA para Dan Rather.<br />
Até hoje, a figura do âncora nos Estados Unidos é a <strong>de</strong> um profissional <strong>de</strong> prestígio,<br />
que <strong>de</strong>tém o po<strong>de</strong>r da informação e o respeito da socieda<strong>de</strong>.<br />
1.2.2 O âncora no telejornalismo brasileiro<br />
No Brasil, a primeira referência que se faz ao uso do termo âncora data <strong>de</strong> 1976<br />
quando da cobertura das eleições municipais, um plano interno especial <strong>de</strong> trabalho foi<br />
preparado pela Re<strong>de</strong> Globo e, Mello e Souza registra que "<strong>de</strong>sse documento constava ...<br />
<strong>uma</strong> sugestão importante: a utilização do repórter Costa Manso como <strong>uma</strong> espécie <strong>de</strong><br />
'anchorman'" (SQUIRRA, 1993, p. 118).<br />
Mas, ao aplicar a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> Cronkite para 'âncora' percebe-se que essa primeira<br />
experiência indica que nem todos os padrões norte-americanos foram adotados<br />
integralmente pelo jornalismo eletrônico brasileiro.<br />
Mello e Souza esclarece ainda que<br />
Costa Manso não exerceu a função <strong>de</strong> comentarista, como querem achar<br />
alguns críticos. Mas, apenas, a função <strong>de</strong> centralizador das informações<br />
que chegavam <strong>de</strong> todos os estados. Fez um bom trabalho. Tal como<br />
aconteceu, em São Paulo, com os apresentadores Luís Lopes Correia,<br />
Celso Freitas, Sérgio Roberto e Teresa Corbett que, nas circunstâncias <strong>de</strong><br />
improvisação, tiveram <strong>uma</strong> performance à altura do esforço dos repórteres<br />
e <strong>de</strong> toda a equipe dos bastidores, que assumiram com êxito a operação<br />
Eleições-76. (SQUIRRA, 1993, p. 120)<br />
Apesar <strong>de</strong> a Re<strong>de</strong> Globo ter introduzido o conceito <strong>de</strong> re<strong>de</strong> <strong>de</strong> televisão no Brasil<br />
aproximando-se dos padrões técnicos e <strong>de</strong> produção norte-americanos, a partir do acordo<br />
com a Time-Life, nem todas as formas <strong>de</strong> produção foram adotadas imediatamente ou<br />
copiadas <strong>de</strong> forma fiel ao mo<strong>de</strong>lo original. E o conceito <strong>de</strong> âncora é um exemplo disso.<br />
Muitos jornalistas se <strong>de</strong>finem como âncoras no Brasil sem nunca terem, <strong>de</strong> fato, atuado ou<br />
exercido esse papel.<br />
Ano V, n. 06 – junho/2009<br />
17
Este papel começou a tomar forma <strong>de</strong> fato no Brasil com o jornalista Boris Casoy,<br />
em 1988, quando foi contratado pelo SBT para ancorar o Telejornal Brasil. Mas o próprio<br />
Boris ressalta que, antes <strong>de</strong>le, Joelmir Beting já havia exercido o papel <strong>de</strong> âncora à frente<br />
do Jornal da Ban<strong>de</strong>irantes nos início dos anos 80. (CASOY, 1994, p. 41 apud REZENDE,<br />
2000, p.123)<br />
Por ser o único no Brasil a manter-se continuadamente no posto, Boris é<br />
consi<strong>de</strong>rado, até hoje, o âncora mais bem sucedido do país. Com vasta experiência anterior<br />
no jornal impresso, ele chega à televisão adaptando o seu estilo ao mo<strong>de</strong>lo norte-americano<br />
<strong>de</strong> ancoragem. Pela primeira vez no telejornalismo brasileiro, o apresentador passou a<br />
entrevistar e comentar os acontecimentos anunciados.<br />
A resposta do público à novida<strong>de</strong> foi imediata e logo se refletiu no faturamento e,<br />
em pouco tempo, o TJ Brasil passou a ser o segundo produto do SBT a atrair mais<br />
publicida<strong>de</strong>. Boris Casoy e seu Telejornal Brasil causaram certo <strong>de</strong>sconforto nas outras<br />
emissoras que passaram também a adotar novos estilos <strong>de</strong> apresentação.<br />
Na TV Cultura <strong>de</strong> São Paulo, o Jornal da Cultura é reestruturado e passa a contar<br />
com o ex-repórter Carlos Nascimento para ancorar a atração. Nascimento, que então<br />
comandava <strong>uma</strong> equipe dividida em editorias <strong>de</strong> economia, política, internacional e geral,<br />
se <strong>de</strong>staca e se populariza com a cobertura da agonia do presi<strong>de</strong>nte Tancredo Neves.<br />
(REZENDE, 2000, p. 127)<br />
Marília Gabriela, já conhecida do público pelo seu programa <strong>de</strong> entrevista Cara a<br />
Cara, assume tarefas típicas <strong>de</strong> âncora à frente do Jornal da Ban<strong>de</strong>irantes. Mas diferente <strong>de</strong><br />
Boris, preferia adotar um estilo menos opinativo.<br />
A Globo, que até então mantinha seu estilo frio inalterado, <strong>de</strong>pois do conturbado<br />
episódio do último <strong>de</strong>bate entre Fernando Collor e Lula , nas eleições <strong>de</strong> 1989, quando o JN<br />
exibiu <strong>uma</strong> edição adulterada que favorecia a Collor, a emissora passa a adotar um<br />
jornalismo <strong>de</strong> rua, fora do estúdio.<br />
O resultado positivo <strong>de</strong>ssa experiência fica evi<strong>de</strong>nte na cobertura da Guerra do<br />
Golfo, em 1991, quando a Globo, trazendo seus repórteres ao vivo, direto dos lugares <strong>de</strong><br />
conflito, <strong>de</strong>ixa claro seu potencial jornalístico e tecnológico que po<strong>de</strong>ria ser equiparado ao<br />
das gran<strong>de</strong>s re<strong>de</strong>s mundiais <strong>de</strong> televisão. (REZENDE, 2000, p. 128-30)<br />
Ano V, n. 06 – junho/2009<br />
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Nesse momento, o telejornalismo brasileiro passa então a consi<strong>de</strong>rar fundamental a<br />
presença <strong>de</strong> um jornalista que participe do processo <strong>de</strong> elaboração do jornal por acreditar<br />
que isso repercute em <strong>uma</strong> maior credibilida<strong>de</strong> para o noticiário.<br />
É assim que em abril <strong>de</strong> 1996, os apresentadores símbolos do maior telejornal do<br />
país, Cid Moreira e Sergio Chapelin, se <strong>de</strong>spe<strong>de</strong>m do JN para dar lugar ao casal <strong>de</strong><br />
jornalistas William Bonner e Lílian Witte Fibe. Na verda<strong>de</strong> este foi um momento <strong>de</strong><br />
mudança geral no telejornalismo da Globo, que não se limitava à troca <strong>de</strong> apresentadores.<br />
Novos cenários e <strong>uma</strong> edição mais dinâmica também foram adotados. (REZENDE, 2000, p.<br />
133)<br />
A partir daí os apresentadores passaram a ser praticamente como jogadores <strong>de</strong><br />
futebol. Assim como os clubes, as emissoras passaram a "brigar" pelos jornalistas, agora<br />
com passes supervalorizados, pois ter <strong>uma</strong> estrela no time era meio caminho andado para a<br />
vitória. E assim começou o troca-troca.<br />
Os interesses mercadológicos das emissoras <strong>de</strong>finem quem vai para on<strong>de</strong> e, <strong>de</strong>pois<br />
<strong>de</strong> muitas mudanças, o panorama atual está assim: no Bom dia Brasil, da Re<strong>de</strong> Globo,<br />
Renato Machado e Renata Vasconcelos divi<strong>de</strong>m a apresentação com a participação e<br />
comentários <strong>de</strong> Miriam Leitão e Alexandre Garcia; Sandra Annemberg e Evaristo Costa<br />
comandam juntos o Jornal Hoje; o casal Fátima Bernar<strong>de</strong>s e William Bonner segue há mais<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos à frente do maior telejornal no país, o Jornal Nacional; <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2005, o Jornal<br />
da Globo é apresentado pelos jornalistas William Waack e Christiane Pelajo que contam<br />
ainda com os comentários fixos <strong>de</strong> Arnaldo Jabor e Carlos Alberto Sar<strong>de</strong>nberg.<br />
Na Band, o Primeiro Jornal é ancorado por Fernando Vieira <strong>de</strong> Mello; o Jornal da<br />
Band fica a cargo dos jornalistas Ricardo Boechat e Ticiana Villas-Bôas, e Boris Casoy<br />
comanda o Jornal da Noite.<br />
No SBT, Hermano Henning e Analice Nicolau ancoram o Jornal do SBT – Edição<br />
da Manhã; o Jornal do SBT- Edição da Noite é apresentado por Carlos Nascimento e<br />
Cynthia Benini e o mesmo Carlos Nascimento esta à frente também do SBT Brasil.<br />
Na Re<strong>de</strong> Record, Luciana Liviero e Marcos Hummel apresentam as notícias do<br />
matinal Fala Brasil e à noite o Jornal da Record é comandado por Celso Freitas e Adriana<br />
Araújo. E é sobre o perfil <strong>de</strong>sses telejornais e seus diferentes estilos <strong>de</strong> ancoragem que nós<br />
vamos tratar adiante.<br />
Ano V, n. 06 – junho/2009<br />
19
2 OS ÂNCORAS DOS TELEJORNAIS BRASILEIROS<br />
2.1 Tipologia<br />
Para facilitar a compreensão do papel exercido pelo âncora no telejornalismo<br />
brasileiro e tornar possível, didaticamente, <strong>uma</strong> classificação <strong>de</strong>sses profissionais a partir <strong>de</strong><br />
seus perfis, tratamos <strong>de</strong> criar <strong>uma</strong> tipologia específica, já que não há nada do gênero que<br />
seja <strong>de</strong> nosso conhecimento. Verificamos, assim, que os respectivos âncoras po<strong>de</strong>m ser<br />
classificados em três tipos distintos:<br />
1) O primeiro tipo é o mais formal, amarrado ao script. Um âncora que praticamente se<br />
<strong>de</strong>tém na leitura da notícia, sem muito envolvimento emocional e com pouco espaço<br />
para dar opiniões. Os poucos comentários proferidos são previamente <strong>de</strong>finidos.<br />
Normalmente apresentam telejornais mais clássicos nos quais a bancada é o cenário<br />
e eles permanecem sentados durante todo o programa. Há, no entanto, alg<strong>uma</strong>s<br />
variações <strong>de</strong> estilo. Jornalistas que, quando a linha editorial do programa permite,<br />
gesticulam mais e interagem entre si, tornando a apresentação mais leve,<br />
neutralizando um pouco a formalida<strong>de</strong>;<br />
2) O segundo tipo engloba aqueles profissionais com maior liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> opinião<br />
<strong>de</strong>ntro do telejornal que apresentam. O roteiro é apenas a base da apresentação e ele<br />
dialoga com o telespectador acrescentado nuances particulares ao que está sendo<br />
noticiado. Geralmente tem <strong>uma</strong> autonomia maior com relação ao que será exibido e<br />
acaba se tornando polêmico por um ou outro comentário mais ousado. O cenário<br />
continua sendo a bancada e ele está sempre sentado, mas a postura adotada por esse<br />
tipo <strong>de</strong> âncora já é um pouco mais solta que o tipo anterior;<br />
3) A leveza e certo grau <strong>de</strong> informalida<strong>de</strong> são traços fortes do terceiro tipo <strong>de</strong> âncora.<br />
Um profissional que segue um roteiro pré-estabelecido, mas também po<strong>de</strong> opinar<br />
sobre os assuntos apresentados. Adotam <strong>uma</strong> linguagem mais informal e próxima<br />
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do telespectador e, normalmente interagem diretamente com correspon<strong>de</strong>ntes ou<br />
comentaristas no estúdio como n<strong>uma</strong> conversa natural. Neste caso, os<br />
apresentadores po<strong>de</strong>m ser vistos em cenários diferentes das tradicionais bancadas,<br />
geralmente algo semelhante a <strong>uma</strong> sala <strong>de</strong> estar, com poltronas confortáveis e<br />
centros <strong>de</strong> mesa. Caminham pelo ambiente e alternam a postura, ora em pé, ora<br />
sentados nessas poltronas ou na própria bancada.<br />
Tomando como base esta tipologia que acabamos <strong>de</strong> apresentar, analisaremos a<br />
seguir os diferentes tipos <strong>de</strong> âncora que estão à frente dos principais telejornais das maiores<br />
emissoras <strong>de</strong> canal aberto do Brasil.<br />
2.2 Os telejornais da Globo<br />
2.2.1 Bom dia Brasil<br />
O Bom Dia Brasil nasceu no dia 3 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1983 e a proposta inicial era ser um<br />
noticiário <strong>de</strong> trinta minutos essencialmente político e econômico, com entrevistas e análises<br />
<strong>de</strong> comentaristas, exibido direto <strong>de</strong> Brasília. Com a entrada <strong>de</strong> Renato Machado, em 1996,<br />
o programa ganha um novo formato <strong>de</strong> revista abrindo espaço para outras editorias como<br />
moda, culinária e cultura, o que confere ao telejornal um clima mais leve e, ao mesmo<br />
tempo, dinâmico. Tudo com <strong>uma</strong> abordagem sempre informal e <strong>uma</strong> linguagem acessível<br />
que buscava esclarecer ao telespectador todas as questões levantadas pelos assuntos<br />
abordados. **<br />
Atualmente, Renato Machado divi<strong>de</strong> a apresentação com Renata Vasconcelos,<br />
também editora. Com leveza e credibilida<strong>de</strong>, eles se alternam entre a tradicional bancada<br />
(que ganhou ares bem mo<strong>de</strong>rnos em tons alaranjados) e confortáveis poltronas em um<br />
ambiente distinto que lembra <strong>uma</strong> sala <strong>de</strong> estar. Os apresentadores ora estão sentados ora<br />
em pé e essa alternância dá ao programa um ritmo agradável para o início da manhã.<br />
** Disponível em http://g1.globo.com/bomdiabrasil/0,,MUL746686-16020,00-<br />
CONHECA+A+HISTORIA+DO+BOM+DIA+BRASIL+DESDE+A+ESTREIA.html. Acesso em 11/02/09.<br />
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Renato e Renata interagem entre si com muita naturalida<strong>de</strong> assim como fazem com<br />
Cláudia Bontempo, que traz as notícias da capital Fe<strong>de</strong>ral, e Mariana Godoy que faz a<br />
ponte ao vivo <strong>de</strong> São Paulo. Miriam Leitão na economia e Alexandre Garcia na política são<br />
presenças freqüentes no matutino que ainda abre espaço para a previsão do tempo<br />
apresentada por Michelle Loreto.<br />
A dupla <strong>de</strong> apresentadores é, portanto, o único exemplo do tipo 3 <strong>de</strong> âncora na Re<strong>de</strong><br />
Globo. Ao apresentar o telejornal, eles <strong>de</strong>monstram certo <strong>de</strong>sapego do script e se permitem<br />
comentários particulares e reações menos programadas, o que os torna mais próximos dos<br />
telespectadores.<br />
Cláudia Bontempo e Mariana Godoy, que entram apresentando as notícias <strong>de</strong><br />
Brasília e São Paulo, respectivamente, não chegam a ser consi<strong>de</strong>radas âncoras, mas apenas<br />
apresentadoras.<br />
Embora seja um jornal longo, hoje com <strong>uma</strong> hora <strong>de</strong> duração, não é cansativo pela<br />
diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> editorias e pelo próprio entrosamento dos apresentadores com os<br />
comentaristas e correspon<strong>de</strong>ntes.<br />
Fora do ar, cost<strong>uma</strong>m ser discretos e pouco badalados pela imprensa.<br />
2.2.2 Jornal Hoje<br />
O Hoje é um dos mais antigos telejornais da Globo. Estreou em 21 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1971,<br />
como <strong>uma</strong> revista diária com matérias sobre arte, espetáculos e entrevistas. Em 1981, traços<br />
mo<strong>de</strong>rnos invadiram o cenário e o programa passou a abrir espaço para o turismo<br />
mostrando ao telespectador lugares pouco conhecidos e paraísos ecológicos. Dez anos<br />
<strong>de</strong>pois, outras mudanças e, <strong>de</strong>ssa vez, mais abertura para correspon<strong>de</strong>ntes internacionais,<br />
colunas <strong>de</strong> beleza e cultura. Foi no Hoje que os primeiros repórteres apareceram sem<br />
gravata e <strong>de</strong> cabelos compridos e até um novo jeito <strong>de</strong> entrevista surgiu, em que as<br />
personalida<strong>de</strong>s eram abordadas em sua própria casa. ††<br />
Des<strong>de</strong> 2004, Evaristo Costa, que antes apresentava o quadro do tempo, passou a<br />
ocupar a bancada ao lado <strong>de</strong> Sandra Annemberg. O entrosamento foi imediato e a dupla<br />
†† Disponível em http://g1.globo.com/jornalhoje/0,,TLI1028-16025,00.html. Acesso em 12/02/09.<br />
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mantém o estilo inovador, leve e <strong>de</strong>scontraído característico do programa, abusando da<br />
criativida<strong>de</strong> no fazer telejornalismo.<br />
Muito espontâneos na apresentação, Evaristo e Sandra conversam entre si enquanto<br />
ancoram a atração e, assim como o matutino Bom Dia Brasil, eles também conduzem com<br />
muita naturalida<strong>de</strong> as intervenções dos correspon<strong>de</strong>ntes internacionais, dos entrevistados<br />
que, <strong>de</strong> vez em quando, estão no estúdio e com Flávia Freire, que apresenta a previsão do<br />
tempo. Gesticulam bastante e <strong>de</strong>ixam fluir naturalmente a expressão facial.<br />
Embora se encaixem no tipo 1, o formal e pré-<strong>de</strong>finido, eles têm um estilo mais<br />
solto <strong>de</strong> apresentar que quebra um pouco o protocolo.<br />
Outro fator que contribui para o clima <strong>de</strong>scontraído do programa é a flexibilida<strong>de</strong><br />
com relação às roupas usadas principalmente por Sandra Annemberg. Cores mais vibrantes<br />
e mo<strong>de</strong>los que fogem um pouco aos já tradicionais terninhos dão mais vida às expressões<br />
da apresentadora que consegue se sobrepor à estática bancada.<br />
Evaristo Costa às vezes aparece fora do estúdio atuando também como repórter em<br />
séries especiais, como aconteceu recentemente na semana que antece<strong>de</strong>u o carnaval.<br />
Entrando ao vivo <strong>de</strong> diversos lugares do país, ele fez entrevistas e mostrou vários ângulos<br />
da festa mais famosa do país, sempre conversando com Sandra que permaneceu no estúdio.<br />
Fora da TV, eles mantêm a discrição comum aos profissionais da Re<strong>de</strong> Globo e<br />
raramente são alvo <strong>de</strong> matérias, publicida<strong>de</strong>s ou coisas do gênero.<br />
2.2.3 Jornal Nacional<br />
Primeiro telejornal em re<strong>de</strong> do país, o Jornal Nacional inaugurou um padrão<br />
diferente dos outros noticiosos da época. Lançado para competir com o Repórter Esso, o JN<br />
logo se tornou campeão <strong>de</strong> audiência, o maior <strong>de</strong>staque da programação <strong>jornalística</strong><br />
brasileira.<br />
Para Lins da Silva, o Jornal Nacional da Re<strong>de</strong> Globo<br />
inaugurou um novo estilo <strong>de</strong> jornalismo na TV brasileira. Primeiro, por<br />
iniciar a era do jornal em re<strong>de</strong> nacional até então inédito entre nós. Depois,<br />
por consolidar um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> 'timing' da informação ... terceiro, porque<br />
consagrou um estilo <strong>de</strong> apresentação visual requintado e frio,<br />
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pretensamente objetivo... quarto, pela extensão dos assuntos abrangidos,<br />
com a instalação <strong>de</strong> escritórios no exterior... (SQUIRRA, p. 109).<br />
O nome surgiu naturalmente, partindo-se do princípio que seria um programa para<br />
atingir todo o país. Tinha quinze minutos <strong>de</strong> duração e era transmitido <strong>de</strong> segunda à sexta.<br />
As manchetes, em geral, curtas e fortes, eram lidas alternadamente por dois apresentadores<br />
<strong>de</strong> maneira rápida e ágil. Diferente do Esso, o Nacional terminava sempre com <strong>uma</strong> notícia<br />
leve, <strong>de</strong> conteúdo lírico ou pitoresco. Mas o principal diferencial era que o telejornal da<br />
Globo apresentava matérias testemunhais, com a fala dos entrevistados. Imagens cobertas<br />
com áudio do locutor se alternavam com <strong>de</strong>poimentos com voz direta da pessoa falando.<br />
Cid Moreira e Hilton Gomes formaram a primeira dupla <strong>de</strong> apresentadores. Em<br />
1972, Sergio Chapelin assume a parceria com Cid que duraria até 1983. Em maio <strong>de</strong> 1989,<br />
Celso Freitas - que havia assumido a apresentação do jornal ao lado <strong>de</strong> Cid Moreira em<br />
1984 – <strong>de</strong>ixa a bancada e Sergio Chapelin reassume como no início. Paralelo a isso,<br />
alg<strong>uma</strong>s mudanças no cenário que agora passava a ter três dimensões. ‡‡<br />
Em 1991 a novida<strong>de</strong> foi o quadro do tempo apresentado por Sandra Annemberg. Ela<br />
foi a primeira figura feminina a aparecer diariamente, num quadro fixo, no JN. A<br />
apresentação seguia um padrão diferente do atual. Sandra não ficava o tempo inteiro <strong>de</strong><br />
frente para o telespectador. Acreditava-se que ela <strong>de</strong>veria levar o público até o mapa e, por<br />
isso, ela dava as costas para a câmera para mostrar on<strong>de</strong> estavam as coisas. (JORNAL<br />
NACIONAL, 2004, P. 231)<br />
É só em março <strong>de</strong> 1996 que jornalistas assumem o comando do Jornal Nacional. A<br />
intenção era colocar à frente do telejornal, jornalistas profissionais, envolvidos com a<br />
produção das matérias. Buscava-se dar maior credibilida<strong>de</strong> e dinamizar as coberturas. Isso<br />
possibilitava <strong>uma</strong> maior flexibilida<strong>de</strong> durante o jornal. Abria-se a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
improvisar, <strong>de</strong> intervir no noticiário, a realização <strong>de</strong> entrevistas ao vivo, perguntas aos<br />
repórteres e entrevistados. O que não po<strong>de</strong>ria acontecer com os locutores que apenas liam o<br />
que estava no script.<br />
Foi assim que William Bonner e Lillian Witte Fibe chegaram ao JN. Uma das<br />
mudanças mais sentidas pelo público, já que Cid Moreira e Sergio Chapelin haviam se<br />
‡‡ Disponível em http://jornalnacional.globo.com/Telejornais/0,,GEN971-10405,00.html. Acesso em<br />
14/02/09.<br />
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tornado a marca do telejornal. Cid Moreira permaneceu na emissora e tinha entradas<br />
esporádicas no programa para leitura <strong>de</strong> editoriais que manifestavam a opinião da empresa<br />
sobre <strong>de</strong>terminados assuntos. Sergio Chapelin assumiu a apresentação do semanal Globo<br />
Repórter.<br />
Dois anos <strong>de</strong>pois, em 1998, Lillian Witte Fibe <strong>de</strong>ixa o Jornal Nacional para assumir<br />
a edição e apresentação do Jornal da Globo. Sandra Annemberg apresenta o jornal<br />
provisoriamente por um mês e, em seguida, Fátima Bernar<strong>de</strong>s passa a dividir a bancada<br />
com Bonner que acumula também as responsabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> editor-chefe, como acontece até<br />
hoje.<br />
O casal já conseguiu se tornar a nova "cara" do noticiário. Encabeçam a lista dos<br />
âncoras do tipo 1. A i<strong>de</strong>ntificação com público é evi<strong>de</strong>nte. Adotam <strong>uma</strong> postura bastante<br />
formal e séria suavizada pela redação que, vez por outra, aparece ao fundo em<br />
<strong>de</strong>terminados enquadramentos.<br />
Em circunstâncias muito específicas, a formalida<strong>de</strong> característica dá lugar a um<br />
pouco <strong>de</strong> <strong>de</strong>scontração, geralmente quando um dos dois está fora do estúdio. Foi o caso, por<br />
exemplo, da Copa do Mundo <strong>de</strong> 2006, quando Fátima Bernar<strong>de</strong>s acompanhou a seleção e<br />
entrava, ao vivo, direto da Alemanha, interagindo com Bonner que estava no estúdio do JN.<br />
A cobertura das eleições dos Estados Unidos é outro exemplo recente. Dessa vez quem saiu<br />
do estúdio foi Bonner que também entrava ao vivo trazendo as últimas informações direto<br />
<strong>de</strong> Washington, enquanto Fátima, do estúdio, apresentava o noticiário.<br />
Do ponto <strong>de</strong> vista da apresentação, mantêm-se fiéis ao script, os comentários são<br />
raros e, normalmente, com os dois no estúdio, interagem muito pouco entre si.<br />
Bonner e Fátima, como acontece com os âncoras no seu país <strong>de</strong> origem, passaram a<br />
ser consi<strong>de</strong>rados personalida<strong>de</strong>s importantes no país. Suas vidas particulares são alvo da<br />
curiosida<strong>de</strong> dos brasileiros e assunto freqüente nas revistas <strong>de</strong> fofoca. Fatos como a<br />
gravi<strong>de</strong>z e o nascimento dos trigêmeos, um nódulo operado por Fátima e até as férias<br />
internacionais da família se tornam pautas para os seus colegas <strong>de</strong> profissão se<strong>de</strong>ntos por<br />
manchetes que aumentem a tiragem <strong>de</strong> tais revistas.<br />
São, sem sombra <strong>de</strong> dúvida, os jornalistas mais noticiados no mundo das<br />
celebrida<strong>de</strong>s brasileiras, embora ass<strong>uma</strong>m sempre <strong>uma</strong> postura bastante discreta quando<br />
fora dos estúdios.<br />
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2.2.4 Jornal da Globo<br />
No ano em que a Globo completou o seu décimo quarto aniversário, estreou o<br />
Jornal da Globo. Um noticiário <strong>de</strong> fim <strong>de</strong> noite recheado <strong>de</strong> análises, gran<strong>de</strong>s reportagens,<br />
séries e entrevistas <strong>de</strong> estúdio. Era apresentado por Sérgio Chapelin e contava com a<br />
participação <strong>de</strong> repórteres especiais, analistas e entrevistadores. §§<br />
Em 1982, o formato sofre <strong>uma</strong> pequena modificação: um dos blocos passa a ser<br />
<strong>de</strong>dicado ao <strong>de</strong>talhamento do fato mais importante do dia. Entrevistas ao vivo<br />
complementam o material gravado sobre o assunto. Renato Machado, Belisa Ribeiro e<br />
Luciana Villas Boas formavam o time fixo do noticiário que contava ainda com a<br />
participação <strong>de</strong> Carlos Monforte como comentarista. O jornal falava <strong>de</strong> política, economia e<br />
cultura no Brasil e no mundo, e passou a abrir espaço para o esporte.<br />
Em 1983, Jô Soares e Chico Caruso passam a integrar a equipe do JG com<br />
comentários e charges animadas, que nessa época, com equipamentos pouco sofisticados,<br />
levavam <strong>uma</strong> semana para ficar prontas.<br />
Depois <strong>de</strong> muitas mudanças <strong>de</strong> apresentadores, em 2005, o Jornal da Globo passa a<br />
ser ancorado por William Waack e Christiane Pelajo. Pela primeira vez <strong>uma</strong> dupla <strong>de</strong><br />
repórteres à frente do programa.<br />
O JG, talvez pelo horário em que é apresentado, é um noticiário mais frio. Tanto<br />
William quanto Christiane adotam <strong>uma</strong> postura mais seca e direta. O cenário respeita o<br />
mo<strong>de</strong>lo clássico <strong>de</strong> bancada on<strong>de</strong> os apresentadores permanecem durante todo o programa.<br />
Quando há entrevistas, o convidado divi<strong>de</strong> a bancada com os jornalistas que cost<strong>uma</strong>m<br />
seguir o script com bastante formalida<strong>de</strong>.<br />
Os assuntos abordados, geralmente do âmbito econômico ou político, tomam forma<br />
com a participação dos comentaristas fixos Carlos Alberto Sar<strong>de</strong>nberg e Arnaldo Jabor. A<br />
interação entre eles também carrega o tom formal do programa tornando-o um pouco árido.<br />
Uma linha editorial menos flexível, exige dos apresentadores <strong>uma</strong> performance mais<br />
centrada na notícia e não no telespectador. Eles nunca saem do estúdio mantendo assim o<br />
distanciamento do fato.<br />
§§ Disponível em http://g1.globo.com/jornaldaglobo/0,,TLA1027-16024,00.html. Acesso em 12/02/09.<br />
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São, talvez, os âncoras <strong>de</strong> menor prestígio popular da Globo.<br />
2.3 Os telejornais da Band<br />
2.3.1 Primeiro Jornal<br />
O Primeiro Jornal é exibido <strong>de</strong> segunda à sexta, às 7h00 da manhã e é apresentado<br />
por FernandoVieira <strong>de</strong> Mello e Nadja Haddad. É o telejornal mais informal da Band do<br />
ponto <strong>de</strong> vista do cenário e da movimentação dos apresentadores. Eles se alternam entre<br />
sentados n<strong>uma</strong> pequena bancada, em pé n<strong>uma</strong> espécie <strong>de</strong> púlpito ou ao lado <strong>de</strong> um monitor<br />
que mostra a logomarca do programa e <strong>de</strong> on<strong>de</strong> "saem" as primeiras imagens das matérias<br />
apresentadas.<br />
Fernando Vieira <strong>de</strong> Mello po<strong>de</strong> se encaixar no tipo 2 <strong>de</strong> âncora, o opinativo. Adota<br />
<strong>uma</strong> linguagem acessível e direta e tem espaço para comentar sobre os assuntos abordados.<br />
Já Nadja Haddad, embora divida a apresentação com Mello, não chega a ser consi<strong>de</strong>rada<br />
âncora do programa. Ela é apresentadora e assume <strong>uma</strong> postura mais formal restringindo-se<br />
a apresentar as notícias sem opinar. Além disso, ainda atua como repórter em matérias<br />
especiais e também cost<strong>uma</strong> apresentar a previsão do tempo, papel que, normalmente, não<br />
seria <strong>de</strong> um âncora.<br />
Percebe-se então um mo<strong>de</strong>lo diferente <strong>de</strong> apresentação adotado pela Band no<br />
Primeiro Jornal, on<strong>de</strong> há dois jornalistas mas apenas um é âncora <strong>de</strong> fato enquanto o outro,<br />
nesse caso Nadja Haddad, complementa a apresentação sem espaço para opiniões.<br />
2.3.2 Jornal da Band<br />
No ar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o surgimento da emissora, em 1967, o Jornal da Band foi por trinta<br />
anos conhecido como Jornal da Ban<strong>de</strong>irantes. Na década <strong>de</strong> 1980, o programa ganha<br />
alcance nacional e, nessa época, nomes como Joelmir Beting, Belisa Ribeiro, Ronaldo<br />
Rosas e Marília Gabriela se alternaram na apresentação. Chico Pinheiro e Carla Vilhena<br />
também ancoraram a atração entre 1995 e 1997.<br />
Ano V, n. 06 – junho/2009<br />
27
Em 1997, Paulo Henrique Amorim assume a apresentação do JB e inicia <strong>uma</strong> fase<br />
extremamente opinativa e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do telejornal. Essa fase não dura muito e, por<br />
<strong>de</strong>sentendimentos com políticos e com a própria emissora, Paulo Henrique Amorim é<br />
substituído por Marcos Hummel e Janine Borba. Em 2004, Carlos Nascimento sai da Globo<br />
e assume o Jornal da Band por dois anos.<br />
É só em 2006 que, com a saída <strong>de</strong> Nascimento para o SBT, Ricardo Boechat passa<br />
<strong>de</strong> comentarista a apresentador da atração. A então moça do tempo, Mariana Ferrão, é<br />
convidada para dividir a bancada com Boechat. ***<br />
Hoje, Boechat, além <strong>de</strong> apresentador âncora, é editor-chefe responsável pela<br />
produção e linha editorial das matérias do telejornal e divi<strong>de</strong> a bancada com Ticiana Villas<br />
Boas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2008.<br />
O esquema <strong>de</strong> apresentação é semelhante ao adotado no Primeiro Jornal. Aqui,<br />
Boechat tem maior tempo <strong>de</strong> fala e espaço para opinião. Ficaria entre os tipos 1 e 2 <strong>de</strong><br />
ancoragem, já que assume características da formalida<strong>de</strong> do tipo 1 e da opinião do tipo 2.<br />
Ticiana é apresentadora e cost<strong>uma</strong> ser fiel ao roteiro. Na bancada é o perfil do<br />
âncora formal (1), mas tem um estilo mais leve que é acentuado pela versatilida<strong>de</strong> que<br />
<strong>de</strong>monstra ao apresentar também o quadro do tempo e <strong>de</strong> atuar como repórter em matérias<br />
especiais. Tarefas que geralmente não são executadas pelos âncoras.<br />
Ambos mantêm <strong>uma</strong> postura formal, nos mol<strong>de</strong>s tradicionais da bancada, seguem<br />
um script previamente <strong>de</strong>finido e interagem pouco entre si.<br />
. O programa conta ainda as intervenções <strong>de</strong> Joelmir Beting que divi<strong>de</strong> a bancada<br />
com os apresentadores fazendo comentários a respeito da economia. Assume <strong>uma</strong> postura<br />
essencialmente formal.<br />
2.3.3 Jornal da Noite<br />
Sob o comando <strong>de</strong> Boris Casoy <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2008, o Jornal da Noite assumiu um novo<br />
formato: os 3 primeiros blocos são integralmente noticiosos, pontuados pelas opiniões do<br />
âncora. Já o último bloco é mais flexível, com participação eventual <strong>de</strong> entrevistados e<br />
*** Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Jornal_da_Band. Acesso em 15/02/09.<br />
Ano V, n. 06 – junho/2009<br />
28
comentaristas. É um dos jornais mais antigos da Band e já foi apresentado por Líllian Witte<br />
Fibe, Chico Pinheiro, Carla Vilhena, Roberto Cabrini, entre outros. †††<br />
Atualmente, o telejornal tem como marca principal a ousadia e irreverência <strong>de</strong> Boris<br />
Casoy que é consi<strong>de</strong>rado o primeiro âncora do telejornalismo brasileiro e, na nossa análise,<br />
o principal exemplo do tipo 2 <strong>de</strong> ancoragem. Com <strong>uma</strong> postura forte e carregada <strong>de</strong><br />
opinião, ele tornou famosos bordões como "Isso é <strong>uma</strong> vergonha!" ou "É preciso passar o<br />
Brasil a limpo!".<br />
É <strong>uma</strong> figura polêmica, pois não se furta a dar sua opinião sobre qualquer assunto<br />
que seja abordado, até os mais <strong>de</strong>licados e constrangedores. Isso já lhe trouxe muitas<br />
<strong>de</strong>savenças políticas e <strong>de</strong>missões <strong>de</strong> empresas <strong>de</strong> comunicação. Usa <strong>uma</strong> linguagem<br />
simples e direta, buscando explorar diferentes nuances da notícia e solta seus comentários<br />
sempre cheios <strong>de</strong> ironia. O cenário é a bancada <strong>de</strong> sempre, mas a postura é <strong>de</strong> ataque e<br />
crítica na maior parte do tempo.<br />
2.4 Telejornais do SBT<br />
2.4.1 Jornal do SBT Manhã<br />
É atualmente o telejornal nacional que vai ao ar mais cedo, às seis da manhã.<br />
Apresentado hoje pelos jornalistas Hermano Henning e Analice Nicolau, o Jornal do SBT –<br />
Manhã é um programa novo. Está no ar há apenas quatro anos e adota um formato<br />
tradicional. Uma bancada <strong>de</strong> on<strong>de</strong> os apresentadores lêem o script previamente <strong>de</strong>finido.<br />
Não há espaço para comentários fora do que eé previsto no script. Hermano, até pela<br />
longa experiência anterior, tem mais proprieda<strong>de</strong> para falar fora do roteiro, mas isso<br />
acontece pouco. Geralmente, eles se limitam a seguir o que foi planejado e, às vezes,<br />
trocam alg<strong>uma</strong>s palavras mais informalmente entre si.<br />
São âncoras do tipo 1, o mais formal, embora abram espaço para certa <strong>de</strong>scontração<br />
em <strong>de</strong>terminados momentos.<br />
Analice Nicolau, antes <strong>de</strong> fazer parte do time <strong>de</strong> jornalistas do SBT, trabalhava<br />
como mo<strong>de</strong>lo e, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> participar <strong>de</strong> um reality show, foi convidada para apresentar um<br />
††† Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Jornal_da_noite. Acesso em 15/02/09.<br />
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noticiário ao lado <strong>de</strong> Cynthia Benini. Uma experiência mal sucedida que lhe ren<strong>de</strong>u a falta<br />
<strong>de</strong> credibilida<strong>de</strong> que carrega até hoje.<br />
2.4.2 Jornal do SBT Noite<br />
Des<strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2006, o Jornal do SBT – Noite é apresentado pela dupla <strong>de</strong><br />
jornalistas Carlos Nascimento e Cynthia Benini. É praticamente a segunda edição da versão<br />
matutina do telejornal que leva o mesmo nome. O cenário é exatamente o mesmo: a<br />
bancada com cenas <strong>de</strong> redação ao fundo. Os apresentadores adotam <strong>uma</strong> postura bem<br />
semelhante à dos colegas <strong>de</strong> emissora que apresentam o matutino.<br />
Carlos Nascimento, com larga experiência anterior, inclusive na Re<strong>de</strong> Globo,<br />
tornou-se sinônimo <strong>de</strong> credibilida<strong>de</strong>. Está entre os primeiros nomes citados <strong>de</strong> jornalistas<br />
que atuaram como âncora. Nesse caso, quando ele trabalhava na TV Cultura. Po<strong>de</strong> ser<br />
inclído, no caso <strong>de</strong>ste telejornal, entre os âncoras do tipo 1, o formal. Segue o roteiro<br />
previamente <strong>de</strong>finido com espaço para poucos e breves comentários. Interage bastante com<br />
os telespectadores que, vez por outra, participam do programa opinando, pelo telefone,<br />
sobre o assunto do dia.<br />
Cynthia Benini, embora não tenha currículo anterior como jornalista, chegou ao<br />
time do SBT junto com Analice Nicolau para apresentar o mau sucedido SBT Notícias<br />
Breves, que ficou conhecido por valorizar mais as cruzadas <strong>de</strong> pernas das apresentadoras<br />
em minissaias,do que as notícias. Diferente <strong>de</strong> Analice, Cynthia assume <strong>uma</strong> postura mais<br />
séria e as experiências anteriores não abalaram muito a credibilida<strong>de</strong> que transmite. Se<br />
encaixa no perfil do tipo 1. É fiel ao roteiro, interage pouco com Nascimento, mas tem<br />
empatia com o público telespectador que participa do programa.<br />
Juntos, Nascimento e Cynthia formam a dupla<br />
2.4.3 SBT Brasil<br />
O SBT Brasil surgiu em agosto <strong>de</strong> 2005. A formato era exibido às 19h15 com<br />
apresentação da então recém-contratada e vinda da Re<strong>de</strong> Globo, Ana Paula Padrão. Em<br />
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<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2006, com a chegada <strong>de</strong> Carlos Nascimento à casa, Ana Paula Padrão passa a<br />
apresentar o SBT Realida<strong>de</strong> e um novo formato se cria para o SBT Brasil. Nascimento<br />
divi<strong>de</strong> por pouco tempo a bancada com Juliana Alvin. Nesta fase, o programa passa por<br />
várias mudanças <strong>de</strong> horário <strong>de</strong> exibição, até que se <strong>de</strong>fine por exibi-lo às 21h45.<br />
Em março <strong>de</strong> 2007, Cynthia Benini assume o lugar <strong>de</strong> Juliana Alvin e o programa<br />
passa a contar com a participação dos telespectadores ao vivo, por telefone, e com os<br />
comentários <strong>de</strong> José Nê<strong>uma</strong>nne Pinto, Denise Campos <strong>de</strong> Toledo, Carlos Chagas e Joseval<br />
Peixoto.<br />
Em outubro <strong>de</strong> 2007, o programa é reformulado outra vez e volta ao formato<br />
original com apresentação única <strong>de</strong> Carlos Nascimento. Os comentaristas vão para o Jornal<br />
do SBT e novas vinhetas são criadas para o programa. ‡‡‡<br />
Aqui, Nascimento assume <strong>uma</strong> postura diferente <strong>de</strong> ancoragem, mais compatível<br />
com o tipo 2, com maior abertura para o comentário e a opinião.<br />
2.5 Os telejornais da Record<br />
2.5.1 Fala Brasil<br />
O formato original do Fala Brasil era semelhante ao que é o programa Hoje em dia.<br />
Nesta época, nos anos <strong>de</strong> 1998, a parte <strong>jornalística</strong> era apresentada por Doris Giesse, e na<br />
bancada do programa ficavam Rosana Hermann, Rafael Moreno, Renata Vianello, Duda<br />
Seidl, Virgínia Novicki e Bob Floriano.<br />
Em 1999, a Record tentou fazer frente ao Fantástico da Globo e lançou o Fala<br />
Brasil Domingo, mas a iniciativa não teve sucesso.<br />
É só em 2001, com a contratação <strong>de</strong> Mônica Waldvogel e Miguel Dias, que o Fala<br />
Brasil assume o formato atual. Des<strong>de</strong> então as mudanças foram só <strong>de</strong> apresentadores para<br />
em 2006 chegar à dupla que permanece até hoje formada pelos jornalistas Marcos Hummel<br />
e Luciana Livieiro. §§§<br />
‡‡‡ Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/SBT_Brasil. Acesso em 15/02/09.<br />
§§§ Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Fala_brasil. Acesso em 15/02/09.<br />
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A dupla assume <strong>uma</strong> postura formal, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um cenário <strong>de</strong> estrutura tradicional,<br />
mas com toques <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> com o ambiente <strong>de</strong> redação compondo o fundo do quadro.<br />
São exemplos do tipo 1 <strong>de</strong> ancoragem. Seguem o roteiro <strong>de</strong>finido e já lido previamente e<br />
fazem poucos comentários livres.<br />
Adotam <strong>uma</strong> linguagem simplificada e interagem com <strong>de</strong>scontração com os<br />
repórteres que entram ao vivo <strong>de</strong> todo o país e também com os entrevistados que vão para o<br />
estúdio. Depois do encerramento da edição do dia, permanecem no ar com boletins<br />
informativos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> outros programas da gra<strong>de</strong> da emissora.<br />
2.5.2 Jornal da Record<br />
O Jornal da Record estreou em 1972 quando a emissora ainda pertencia à família<br />
Machado <strong>de</strong> Carvalho e ao apresentador Silvio Santos. No início era apresentado por<br />
Ricardo Carvalho, contava com os comentários dos jornalistas Celso Ming e Paulo Markun<br />
e com reportagens <strong>de</strong> Sílvia Poppovic que estava no início da carreira.<br />
Em 1989, o telejornal passa a ser apresentado com sucesso pelo jornalista Carlos<br />
Nascimento. A partir do ano seguinte, sucessivas mudanças <strong>de</strong> apresentadores acontecem e<br />
em 1997, Boris Casoy <strong>de</strong>ixa o SBT e assume a bancada do Jornal da Record. Ele<br />
permaneceu até <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2005 quando foi <strong>de</strong>mitido sob alegação <strong>de</strong> que não se<br />
a<strong>de</strong>quava mais aos padrões <strong>de</strong> jornalismo vigentes na emissora. Logo <strong>de</strong>pois, ele foi então<br />
substituído pela atual dupla <strong>de</strong> apresentadores formada pelos jornalistas Celso Freitas e<br />
Adriana Araújo, que permanecem até hoje à frente do noticiário.. ****<br />
A dupla, vinda <strong>de</strong> longa experiência na Re<strong>de</strong> Globo, assume <strong>uma</strong> postura que nos<br />
leva a crer que se encaixem no tipo 1 <strong>de</strong> ancoragem. São formais na postura, seguem o<br />
roteiro sem acrescentar comentários imprevistos. Interagem pouco entre si e com repórteres<br />
ou correspon<strong>de</strong>ntes e, na maioria das vezes, se <strong>de</strong>tém a ler as notícias.<br />
**** Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Jornal_da_record. Acesso em 12/02/09.<br />
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2.6 Consi<strong>de</strong>rações da análise<br />
Ao compararmos os profissionais analisados neste trabalho, percebemos que a<br />
postura do âncora mudou muito nos telejornais brasileiros ao longo dos anos. O espaço<br />
ocupado por este profissional é cada vez maior e tornou-se <strong>de</strong>cisivo para garantir<br />
credibilida<strong>de</strong> ao programa e às notícias apresentadas Os estilos são variados e estão<br />
diretamente relacionados à linha editorial do programa que apresentam.<br />
Das quatro emissoras pesquisadas, a Re<strong>de</strong> Globo é ainda a que mantém um padrão<br />
<strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> diferenciado que <strong>de</strong>monstra, na prática, <strong>uma</strong> preocupação com os <strong>de</strong>talhes,<br />
que incluem não só a questão dos profissionais que estão na frente das câmeras, como<br />
também dos que trabalham na parte técnica, como editores e <strong>de</strong>signers gráficos. Isso resulta<br />
em um telejornal melhor elaborado do ponto <strong>de</strong> vista visual tanto no cenário, como no<br />
conteúdo das matérias.<br />
A Re<strong>de</strong> Record, no entanto, tem investido bastante e conquistado mais espaço nos<br />
últimos anos, diminuindo a distância da Re<strong>de</strong> Globo no que se refere à qualida<strong>de</strong> no<br />
telejornalismo. Embora a maioria dos profissionais que hoje trabalham na Record tenham<br />
vindo da Globo, ou seja, tenham sido treinados no padrão <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> adotado pela<br />
emissora, essa <strong>evolução</strong> fica evi<strong>de</strong>nte nos cenários, na produção e na finalização das<br />
matérias e <strong>de</strong> todo material que é exibido.<br />
A Band, pioneira no canal fechado <strong>de</strong> notícias, investe num jornalismo<br />
aparentemente mais crítico e opinativo. Visualmente, em termos <strong>de</strong> cenários<br />
principalmente, apresenta pouca sofisticação, utilizando muitas vezes o recurso do já<br />
praticamente aposentado chroma key, <strong>uma</strong> técnica que isola o personagem e permite que se<br />
coloque qualquer outro ví<strong>de</strong>o ou gravura ao fundo, inclusive cenários virtuais. Tem em seu<br />
time os principais representantes do tipo 2 <strong>de</strong> ancoragem.<br />
Em 2005, o SBT tentou implantar um jornalismo <strong>de</strong> credibilida<strong>de</strong> contratando<br />
renomados profissionais <strong>de</strong> outras emissoras e foi quando mais investiu neste tipo <strong>de</strong><br />
programa. Mas, o canal <strong>de</strong> Silvio Santos já carrega um estigma <strong>de</strong> baixa qualida<strong>de</strong> no que<br />
produz e são raras as iniciativas <strong>de</strong> sucesso no telejornalismo da emissora.<br />
Com esta pesquisa vimos que a maioria dos profissionais brasileiros que estão<br />
atualmente à frente <strong>de</strong> algum telejornal, já passou por diversas emissoras e quase todos<br />
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passaram pelo padrão da Re<strong>de</strong> Globo, que foi quem instituiu o mo<strong>de</strong>lo que impera entre os<br />
âncoras do telejornalismo brasileiro. Isso os coloca em um patamar muito semelhante no<br />
que concerne às competências da profissão. O que realmente vai diferenciar esses<br />
jornalistas apresentadores é o estilo adotado por cada um <strong>de</strong>les.<br />
Percebemos que o maior número <strong>de</strong> profissionais se encaixa no que classificamos<br />
como âncora do tipo 1. Um jornalista que prioriza o roteiro e assume <strong>uma</strong> postura marcada<br />
pela formalida<strong>de</strong>, tanto na questão da linguagem como no que se refere ao apelo visual -<br />
figurinos e cenários.<br />
Os principais exemplos <strong>de</strong> apresentador com esse perfil são Fátima Bernar<strong>de</strong>s e<br />
William Bonner, âncoras do Jornal Nacional da Re<strong>de</strong> Globo. Já são referência do noticiário<br />
e <strong>de</strong>sse mo<strong>de</strong>lo formal <strong>de</strong> apresentação. Com pouco espaço para comentários e opinião,<br />
eles <strong>de</strong>têm a maior audiência entre os telejornais do país.<br />
Ao lado do casal padrão da Re<strong>de</strong> Globo, encontramos os também globais William<br />
Waack e Christiane Pelajo, do Jornal da Globo. A formalida<strong>de</strong> impera na forma <strong>de</strong><br />
apresentar o último telejornal da emissora.<br />
Sandra Annemberg e Evaristo Costa também se encaixam no time dos âncoras tipo<br />
1, o formal. No entanto, ao ancorar o Jornal Hoje, eles têm um estilo muito particular <strong>de</strong><br />
apresentação que acaba por conferir ao telejornal um clima mais leve e <strong>de</strong>scontraído. Eles<br />
sempre encontram um espaço para trocar pequenos comentários entre si.<br />
A exceção da Re<strong>de</strong> Globo fica por conta dos apresentadores do primeiro telejornal<br />
da emissora, o Bom Dia Brasil. Renato Machado e Renata Vasconcelos são os únicos<br />
exemplos <strong>de</strong> âncoras do tipo 3, o informal. Com um cenário que permite <strong>uma</strong> dinâmica<br />
maior <strong>de</strong> movimentação dos apresentadores, Renato e Renata adotam <strong>posturas</strong> variadas ao<br />
longo do programa. Sentados na bancada, em pé ou nas poltronas que lembram <strong>uma</strong> sala <strong>de</strong><br />
estar, os apresentadores interagem entre si e com os comentaristas e correspon<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong><br />
<strong>uma</strong> maneira bastante natural, sem muita formalida<strong>de</strong>. Isso os aproxima dos telespectadores<br />
e torna este programa mais atraente no horário da manhã.<br />
Na Band, o tipo 2, o opinativo, é predominante. A começar pelo maior representante<br />
<strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> ancoragem, o jornalista Boris Casoy, que apresenta o Jornal da Noite. Com<br />
<strong>uma</strong> postura <strong>de</strong> muita crítica e opinião, Casoy, que é consi<strong>de</strong>rado o primeiro âncora do<br />
telejornalismo brasileiro, tem total liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão sobre o que vai ao ar e faz questão<br />
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<strong>de</strong> externar suas impressões sobre o assunto abordado sem esquecer <strong>de</strong> usar os seus já<br />
famosos bordões: "Isso é <strong>uma</strong> vergonha!" e "É preciso passar o Brasil a limpo!".<br />
Logo cedo da manhã, Fernando Vieira <strong>de</strong> Mello comanda o Primeiro Jornal ao<br />
lado <strong>de</strong> Nadja Haddad. O cenário é mo<strong>de</strong>rno, fugindo um pouco das tradicionais bancadas,<br />
e, por esse aspecto, ele po<strong>de</strong>ria se encaixar no mesmo grupo do global Bom Dia Brasil. Mas<br />
a semelhança se restringe ao aspecto visual porque Mello adota um estilo bastante<br />
opinativo ao apresentar as notícias, o que o <strong>de</strong>ixa ao lado <strong>de</strong> Casoy no grupo dos jornalistas<br />
do tipo 2 <strong>de</strong> ancoragem.<br />
Já Nadja Haddad, embora esteja no mesmo programa, assume <strong>uma</strong> postura mais<br />
parecida com a do tipo 1, o formal. Em pé ou na bancada, ela se <strong>de</strong>tém na leitura das<br />
notícias sem fazer comentários fora do script.<br />
Ricardo Boechat, no Jornal da Band, acompanha os colegas <strong>de</strong> emissora no tipo 2<br />
<strong>de</strong> ancoragem. Entre <strong>uma</strong> notícia e outra ele sempre encaixa algum comentário que parece<br />
estar fora do roteiro. Ao seu lado está Ticiana Villas-Bôas que, assim como Nadja no<br />
Primeiro Jornal, adota <strong>uma</strong> postura diferente que se encaixa no tipo 1. Ela também se<br />
restringe a ler o teleprompter com as notícias sem acrescentar nenhum comentário relativo<br />
ao assunto.<br />
No SBT, assim como na Globo, a maioria se encaixa no perfil tipo 1 <strong>de</strong> ancoragem,<br />
o formal. No Jornal do SBT – Manhã, Analice Nicolau e Hermano Henning assumem <strong>uma</strong><br />
postura mais comedida e, no máximo, trocam rápidos comentários entre si, o que não chega<br />
a ser suficientes para classificá-los como tipo 2.<br />
Carlos Nascimento, conforme nossa análise, assume <strong>uma</strong> postura diferenciada a<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r do telejornal que está apresentando. No Jornal do SBT – Noite, ao lado <strong>de</strong><br />
Cynthia Benini, seu perfil está mais <strong>de</strong> acordo com o tipo formal (1), <strong>de</strong> pouca opinião, a<br />
mesma postura adotada por Cynthia, que apenas apresenta as notícias conforme o roteiro.<br />
Mas quando está sozinho, à frente do SBT Brasil, Nascimento se comporta como um âncora<br />
do tipo 2, o opinativo. Nesse caso ele abre espaço para comentários e analisa <strong>de</strong> diferentes<br />
ângulos a notícia apresentada.<br />
Na Record a predominância também é <strong>de</strong> profissionais que adotam o perfil mais<br />
formal (1). No comando do Fala Brasil, Marcos Hummel e Luciana Livieiro assumem <strong>uma</strong><br />
postura semelhante à dos apresentadores do Jornal Hoje, da Globo. Basicamente seguem o<br />
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script com espaço para rápidos comentários entre si e bastante interação com repórteres que<br />
entram ao vivo ou correspon<strong>de</strong>ntes internacionais.<br />
O mesmo acontece com a dupla <strong>de</strong> apresentadores do Jornal da Record. Celso<br />
Freitas e Adriana Araújo, ambos vindos da Re<strong>de</strong> Globo, ancoram a atração noturna com<br />
<strong>uma</strong> postura essencialmente formal. Estariam, portanto, ao lado <strong>de</strong> Fátima Bernar<strong>de</strong>s e<br />
William Bonner, do Jornal Nacional, em perfil e estilo <strong>de</strong> apresentação. Discurso marcado<br />
pela formalida<strong>de</strong>, pouca interação entre si e comentários previamente <strong>de</strong>finidos.<br />
CONCLUSÃO<br />
Verificamos durante esta pesquisa que, assim como a televisão, a figura do âncora<br />
foi inicialmente "importada" dos Estados Unidos. Boris Casoy, consi<strong>de</strong>rado o primeiro<br />
jornalista brasileiro a atuar como âncora <strong>de</strong> fato, baseou-se no mo<strong>de</strong>lo norte-americano para<br />
criar um estilo próprio, que hoje é consenso como sendo um âncora. Nas terras americanas,<br />
o âncora tem po<strong>de</strong>res <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong>. Po<strong>de</strong> inclusive admitir e <strong>de</strong>mitir funcionários,<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do que ache conveniente. Além disso, tem total autonomia <strong>de</strong>ntro do<br />
programa, sendo responsável por <strong>de</strong>cidir o que <strong>de</strong>ve ou não ser exibido. Mas no Brasil, a<br />
realida<strong>de</strong> um pouco diferente.<br />
Os primeiros telejornais surgiram ainda na TV Tupi, na década <strong>de</strong> 1950, mas só<br />
com a Re<strong>de</strong> Globo, alguns anos mais tar<strong>de</strong>, se criou o padrão <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> que acabou se<br />
tornando mo<strong>de</strong>lo no Brasil. A Globo <strong>de</strong>finiu muita coisa no que diz respeito à atuação <strong>de</strong>sse<br />
profissional no país. Inaugurou um novo estilo que, por muito tempo, foi responsabilida<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong> locutores que vinham do rádio e não <strong>de</strong> jornalistas.<br />
Os jornalistas só passaram a assumir a posição <strong>de</strong> âncoras quando se tornou<br />
necessário que esse profissional compreen<strong>de</strong>sse o processo <strong>de</strong> produção e fosse capaz <strong>de</strong><br />
fazer interferências <strong>de</strong> última hora, entrevistas e comentários que não estivessem previstos<br />
no roteiro. Foi então que o roteiro passou a ser apenas um guia para a apresentação do<br />
telejornal e, assim, o comentário ganhou espaço.<br />
Ao longo do tempo muita coisa mudou. Novas tendências chegaram para quebrar a<br />
hegemonia da bancada. Sofás e poltronas <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> estar passaram a fazer parte do cenário<br />
e o apresentador, que antes ficava apenas sentado, ganhou o direito <strong>de</strong> ficar <strong>de</strong> pé e<br />
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caminhar pelo estúdio, tornando-se quase um convidado <strong>de</strong> quem o assiste. Os enormes<br />
monitores <strong>de</strong> LCD invadiram os programas e mostram com precisão o que está sendo dito<br />
pelo apresentador.<br />
É aí que interação com o público ganha força e a <strong>de</strong>senvoltura e naturalida<strong>de</strong> com<br />
que apresenta as notícias tornam-se fundamentais para o sucesso do âncora e conseqüente<br />
sucesso do programa, pois ele passa a ser o símbolo do programa que apresenta. O âncora<br />
carrega a responsabilida<strong>de</strong> da veracida<strong>de</strong> do que está sendo noticiado. A credibilida<strong>de</strong> do<br />
telejornal passa a ser vinculada a quem o apresenta.<br />
Praticamente todos os jornalistas que atuam como âncoras no Brasil são também<br />
editores-chefes dos seus telejornais. Portanto, está na mão <strong>de</strong>les a escolha do material que<br />
será exibido. Ele <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> o que <strong>de</strong>ve ser notícia no telejornal. Daí a responsabilida<strong>de</strong> com o<br />
que é veiculado no programa que apresenta.<br />
Criam-se, então, as linhas editoriais dos programas. E a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r da linha escolhida,<br />
a postura adotada pelo apresentador vai ser diferenciada. Observando os âncoras da<br />
atualida<strong>de</strong>, percebemos três tipos distintos <strong>de</strong> perfil, conforme tipologia <strong>de</strong>finida neste<br />
trabalho. O primeiro, e predominante entre os jornalistas brasileiros, seria o formal. Aquele<br />
que segue à risca o roteiro que foi previamente <strong>de</strong>finido, interage pouco com outros<br />
apresentadores ou correspon<strong>de</strong>ntes e com o telespectador e quase não emite comentários<br />
fora do script. Neste grupo estão quase todos os âncoras da Re<strong>de</strong> Globo - William Bonner e<br />
Fátima Bernar<strong>de</strong>s do Jornal Nacional, William Waack e Christiane Pelajo do Jornal da<br />
Globo e Sandra Annemberg e Evaristo Costa que apresentam o Jornal Hoje – além <strong>de</strong><br />
todos os jornalistas analisados da Re<strong>de</strong> Record - Marcos Hummel e Luciana Livieiro, que<br />
ancoram o matutino Fala Brasil, e Celso Freitas e Adriana Araújo do Jornal da Record – e<br />
ainda os âncoras do SBT - Hermano Henning e Analice Nicolau, que apresentam o Jornal<br />
do SBT – Manhã e Carlos Nascimento e Cynthia Benini do Jornal do SBT – Noite.<br />
O segundo tipo é o opinativo, encabeçado por Boris Casoy que hoje apresenta o<br />
Jornal da Noite na Band. É aquele que tem mais espaço para fazer comentários livres em<br />
cima do que está sendo abordado nas matérias ou entrevistas. Os companheiros <strong>de</strong> emissora<br />
Fernando Vieira <strong>de</strong> Mello, do Primeiro Jornal, e Ricardo Boechat Jornal da Band também<br />
se encaixam nesse perfil <strong>de</strong> ancoragem, lembrando que Boechat também apresenta fortes<br />
traços do tipo 1.<br />
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Ticiana Villas Boas e Nadja Haddad, que divi<strong>de</strong>m a bancada com Boechat e Mello,<br />
respectivamente, não chegam a ser consi<strong>de</strong>radas âncoras. Elas são apresentadoras e também<br />
atuam como repórteres em matérias especiais e ainda apresentam a previsão do tempo. Mas<br />
esse mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> apresentação só foi observado na Band.<br />
A ressalva é para Carlos Nascimento quando está sozinho à frente do SBT Brasil.<br />
Nesse caso, percebemos que ele assume <strong>uma</strong> postura coerente com o tipo 2 <strong>de</strong> âncora. Mais<br />
solto do roteiro e com espaço para comentários.<br />
Os únicos representantes do tipo 3 <strong>de</strong> ancoragem são os âncoras do Bom Dia Brasil,<br />
da Re<strong>de</strong> Globo, Renato Machado e Renata Vasconcelos. De fato, entre os telejornais<br />
analisados, este é o que mais consegue fugir dos padrões tradicionais tanto na questão do<br />
cenário, on<strong>de</strong> os sofás quebram um pouco a formalida<strong>de</strong> e permitem que os apresentadores<br />
se movimentem e ass<strong>uma</strong>m <strong>posturas</strong> inusitadas, como no que diz respeito à apresentação<br />
propriamente dita. Há <strong>uma</strong> interação maior entre eles e com os outros apresentadores<br />
(Cláudia Bontempo, Mariana Godoy e Michelle Loreto) e comentaristas, além dos<br />
correspon<strong>de</strong>ntes que ora são convidados a falar.<br />
Muito se evoluiu no telejornalismo brasileiro ao longo dos anos. Tanto do ponto <strong>de</strong><br />
vista tecnológico com câmeras e suportes digitais para edição e <strong>de</strong>sign gráfico, quanto na<br />
atuação dos jornalistas diante das câmeras, em especial os âncoras que, com o passar do<br />
tempo, assumiram um papel importante no comando dos programas <strong>de</strong> notícia. Tornaram-<br />
se o símbolo do telejornal que apresentam e carregam consigo, cada um com seu estilo<br />
próprio, a responsabilida<strong>de</strong> com a veracida<strong>de</strong> dos fatos que são notícia.<br />
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