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Gay Gay, Gay bi, bi, hétero...<br />
hétero...<br />
Realidade Realidade mostra mostra que que diversidade<br />
diversidade<br />
se sexual se xual vai vai muito muito além além da da sigla sigla GLBT<br />
GLBT<br />
Por Ferdinando Martins<br />
e Beto Sato*<br />
Há algumas décadas, os<br />
homossexuais lutavam para ser<br />
considerados normais. Depois,<br />
foi a vez dos bissexuais pedirem<br />
para serem reconhecidos. Hoje,<br />
em boa parte da sociedade,<br />
aceitam-se três orientações sexuais<br />
possíveis: homossexuais,<br />
heterossexuais ou bissexuais.<br />
No entanto, a variedade de práticas<br />
sexuais tem mostrado que<br />
há muito mais combinações por<br />
aí. Essa história de só gay, só<br />
hétero ou só bi, já era.<br />
Será esse o fim dos GLBTs ou,<br />
ao contrário, o alargamento<br />
para outras formas de vivência<br />
da sexualidade, muito além da<br />
sopa de letrinhas? Na redação,<br />
não conseguimos responder. A<br />
dificuldade de se entender a fragilidade<br />
do limite entre o que é<br />
ser gay, hétero ou bi assustou até<br />
mesmo o fotógrafo de nossa<br />
capa. “Vamos mostrar que são<br />
possibilidades dentro de um leque<br />
ou que são conceitos que<br />
não se aplicam mais?”, perguntou<br />
Ricardo Schetty antes de<br />
sugerir temas para as imagens.<br />
A confusão se deve, em grande<br />
parte, à visibilidade adquirida<br />
nas últimas décadas pelos<br />
GLBTs, que colocou em evidência<br />
formas de relacionamento<br />
antes escondidas. Ou seja, se<br />
antes as pessoas tinham medo<br />
de se declararem homossexuais,<br />
muito mais assustador era comentar<br />
que, apesar de gay, sentia<br />
vontade de sair com mulheres<br />
esporadicamente.<br />
50 50 anos anos de de Kinsey<br />
Kinsey<br />
Em 1948, o pesquisador<br />
americano Alfred Kinsey criou<br />
uma escala para medir a intensidade<br />
homossexual de cada<br />
um. Começando com 0 para<br />
heterossexual absoluto e indo<br />
até 6 para totalmente gay, a<br />
escala contempla variações bissexuais.<br />
Aquele que sente desejo<br />
de maneira igual por homens<br />
e mulheres recebe um 3.<br />
Na prática, as coisas não<br />
funcionam tão facilmente assim.<br />
“A pop star Madonna, quase<br />
sempre heterossexual, já disse<br />
ter tido amantes lésbicas por<br />
diversão. Ela então é bissexual.<br />
Ou não? Qual a verdade? Qual<br />
a demarcação entre a heterossexualidade<br />
intermitente e a bissexualidade<br />
sazonal? Quando<br />
uma hétero habitual se envolve<br />
emocional e fisicamente<br />
com outra mulher, ela é bissexual?”,<br />
pergunta Vange Leonel<br />
em sua coluna na Revista da<br />
Folha de 4 de fevereiro deste<br />
ano.<br />
“Não é porque você come<br />
salada no almoço que pode ser<br />
chamado de vegetariano”,<br />
brinca o escritor e roteirista Stevan<br />
Lekitsch. “A humanidade<br />
está chegando a um ponto em<br />
que todo mundo está livre para<br />
experimentar o que quer. Não<br />
sou da opinião de que hétero<br />
que faz sexo com outros homens<br />
é gay. Penso que hétero<br />
que faz é hétero que tem experiências<br />
com outro homem”.<br />
Para Suzy Capó, diretora do<br />
Festival Mix Brasil, homo, hétero<br />
e bi são categorias que estão<br />
em fase de questionamen-<br />
to. “A identidade não é uma<br />
coisa fixa. Essas são classificações<br />
que foram construídas historicamente,<br />
mas mudanças<br />
estão ocorrendo em vários níveis”.<br />
Suzy lembra o caso de um<br />
amigo, o diretor alemão Kristian<br />
Petersen, que realizou em<br />
Berlim o projeto “Fucking Different”,<br />
no qual gays falavam sobre<br />
lésbicas e vice-versa.<br />
“Quando ele quis levar o projeto<br />
para Nova York foi super<br />
complicado porque essas categorias<br />
não serviam. Estamos<br />
em um momento de transição,<br />
de questionamento, e é complicado<br />
se definir”.<br />
Patrulha atrulha atrulha gay gay<br />
gay<br />
Stevan, Vange e Suzy fazem<br />
coro ao dizer que há mais orientações<br />
sexuais que as três clássicas.<br />
Essa também é a opinião<br />
de Julian Rodrigues, do Setorial<br />
Nacional GLBT do Partido dos<br />
Trabalhadores. “Na verdade, estamos<br />
ainda muito acostumados<br />
com padrões binários ao<br />
considerar a sexualidade humana”.<br />
Ou seja, aceitamos gostar<br />
do oposto, gostar do mesmo<br />
ou gostar dos dois. “Quando se<br />
pensa em bissexuais, as pessoas<br />
pensam em alguém que goste<br />
igualmente dos dois gêneros.<br />
E não é assim. Bissexuais podem<br />
desejar e praticar mais a homo<br />
ou a heterossexualidade. Dificilmente<br />
teria alguém 50% hétero<br />
e 50% homo”.<br />
Para Julian, se a heteronormatividade<br />
não fosse tão presente<br />
em nossa sociedade,<br />
muito mais pessoas se deixariam<br />
levar por eventuais desejos<br />
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