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Tenho vivido a real sensação<br />
de estar perdendo. Pessoas,<br />
tempo, juventude, espaço...<br />
Minhas fraquezas estão expostas<br />
diante de perdas que não<br />
se revertem e das quais me torno<br />
inerte.<br />
De repente, me deparo<br />
com um amigo, um aliado, que<br />
convive com um mioma cerebral<br />
que insiste em se impor à<br />
quimio e à radioterapia. E assisto<br />
sua evolução sem poder<br />
resgatar sua capacidade de falar,<br />
escrever, conversar comigo.<br />
Danilo Oliveira, o presidente<br />
do Clube Rainbow, uma das<br />
mais bem-sucedidas organizações<br />
voltadas para o público<br />
GLBT de Belo Horizonte, está<br />
doente.<br />
Rodeado de atenções de<br />
seu companheiro e parentes<br />
próximos, mas esquecido pelos<br />
gays, lésbicas, bissexuais,<br />
travestis, transexuais e heterossexuais<br />
dessa cidade, a quem<br />
dedicou grande parte de sua<br />
vida, seu tempo, sua saúde.<br />
Danilo é um dos importantes<br />
personagens da história recente<br />
do movimento GLBT de<br />
Minas Gerais.Quem não se<br />
lembra do “Só pra Nós”, na rua<br />
Patrocínio, Carlos Prates, sede<br />
do Rainbow? Um aconchegante<br />
espaço que funcionava<br />
no quintal, nos fundos da casa<br />
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e que atraía<br />
os gays e<br />
lésbicas de<br />
Belo Horizonte<br />
para<br />
deliciosas tardes<br />
e noites de convivência.<br />
Danilo, durante<br />
muito tempo representou<br />
a militância efetiva da capital.<br />
Foi através de seu trabalho<br />
que a Parada de Belô cresceu,<br />
apesar da insistência de alguns<br />
em negar a sua passagem<br />
pela organização e sua<br />
importância para a história do<br />
maior evento GLBT da cidade.<br />
Foi esse tipo de rivalidade que<br />
causou a derrota da promissora<br />
candidatura do Danilo a vereador,<br />
em 2004.<br />
A lei 8.176, que penaliza atitudes<br />
homofóbicas em Belo<br />
Horizonte, ou a 14.170, em<br />
Minas Gerais, foram umas das<br />
bandeiras do Danilo. Era ele<br />
que comparecia, provocava<br />
audiências públicas, convocava<br />
a militância, visitava deputados<br />
e vereadores, preparava<br />
documentos, dava entrevistas,<br />
muitas vezes enfrentando as<br />
derrotas ou vibrando sozinho<br />
com as vitórias.<br />
A turma do Danilo distribuía<br />
preservativos na cena de Belo<br />
Horizonte e editava o Jornal do<br />
Clube Rainbow, entregue gratuitamente<br />
nos bares, boates e<br />
saunas. Na sede da ONG foram<br />
realizados vários registros<br />
de uniões estáveis entre gays<br />
ou lésbicas, alguns rodeados<br />
de pompa e circunstância e<br />
muitas das organizações que<br />
hoje se espalham pelo estado<br />
nasceram com seu apoio e inspiração.<br />
Danilo escreveu o livro “Éramos<br />
Dois”, no qual conta sua<br />
vida, seus conflitos com a homossexualidade<br />
e parte da história<br />
do movimento GLBT de<br />
Minas Gerais. Os recursos obtidos<br />
com a venda desse livro<br />
podem ajudá-lo nesse momento.<br />
Compre um e leia. Você verá<br />
que não faltam motivos para<br />
aplaudi-lo e lamentar com tristeza<br />
seu estado de saúde.<br />
Camisinha sempre!<br />
Oswaldo Braga