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18<br />

As quatro fundações de Cabo Frio<br />

Por Luiz Carlos da Cunha<br />

A primeira fundação da cidade de<br />

Santa Helena do Cabo Frio, pelo<br />

governador da capitania do Rio de<br />

Janeiro, Constantino Menelau, ocorreu<br />

no atual bairro da Passagem, em 13 de<br />

novembro de 1615, ficando fisicamente<br />

instalada em 15 de agosto de 1616e<br />

empossando-se o primeiro dos doze<br />

capitães-mores da nova capitania- a qual permaneceria até 31 de<br />

outubro de 1749 , dia de Holloween – Estevão Gomes, em 07 de<br />

novembro de 1616. Meio século depois foi a cidade trasladada, isto<br />

é, transferida, fato comum a muitas localidades coloniais brasileiras,<br />

assim como em outras épocas e países. A vila de Santo André da<br />

Borda de Campo, por exemplo, fundada em 08 de abril de 1553, foi<br />

trasladada para o planalto de Piratininga e trocou também de padroeiro,<br />

jamais sendo sido fundada uma vila de São Paulo em 25 de janeiro<br />

de 1554. O novo local para Cabo Frio, em frente à lagoa e entre a<br />

Matriz e o Convento, foi considerado mais adequado por cinco motivos<br />

principais:<br />

1) A nova área ficava mais distante da boca da lagoa para o mar,<br />

portanto mais abrigada contra os ataques piratas comuns à época;<br />

2) Possuía solo mais firme que o da Passagem, que era pantanoso<br />

e sujeito a inundações de maré alta (sizígia), conforme sucede<br />

até hoje na cidade colonial de Paraty;<br />

3) Apresentava mananciais de água boa e farta na base do Morro<br />

da Guia (como a fonte do Itajurú), ao contrário da Passagem;<br />

4) Ficava em frente ao melhor ponto de travessia do canal, estreito<br />

e com correnteza firme e sem surpresas, a Boca ou Garganta de<br />

Pedra (em Tupi, “Ita-iurú”);<br />

5) Apresentava o melhor ponto para um atracadouro de<br />

embarcações,em frente à Rua da Praia, utilizado até meados do século<br />

20;<br />

Por sua vez, o primitivo núcleo urbano da Passagem não entregou<br />

os pontos e sobreviveu,em estado de permanente rivalidade com a<br />

segunda cidade até recentemente, inclusive inaugurando em 1761,em<br />

oposição à nova Matriz, seu próprio templo (a igreja de São Benedito)<br />

no local da primeira Matriz extinta. Seus habitantes preferenciais<br />

foram os pescadores, muitos até hoje, tendo em vista o acesso fácil<br />

ao mar a partir da Passagem. Essa rivalidade, já em pleno século 20,<br />

expressar-se-ia através das associações político-musicais dos Liras,<br />

mais ligados à Passagem, e dos Jagunços, mas associados ao lado<br />

do Itajurú.<br />

Aliás, Cabo Frio foi, a rigor fundada não só duas, mas quatro vezes,<br />

se considerarmos a feitoria de Américo Vespúcio em, 1503 e a da<br />

Casa de Pedra dos Franceses em 1555, (talvez o moderno “boom”<br />

turístico/imobiliário seja ainda uma quinta fundação. No novo assentamento,<br />

surgiram a curto prazo; o convento franciscano de Santa Maria<br />

dos Anjos, construído entre 1686 (pedra fundamental) e 1696 (inauguração<br />

oficial); o prédio próprio da Câmara Municipal, em 1661, hoje<br />

desaparecido (não existia Prefeitura, só instalada em 1922); e a Igreja<br />

Matriz em 1666, sendo padroeira, já agora, Nossa Senhora da Assunção<br />

e não mais Santa Helena. Mas isto já é outra história.<br />

*Luiz Carlos da Cunha Silveira é engenheiro, pesquisador e<br />

escritor. É membro da diretoria da Asaerla<br />

Maio / Junho 2009<br />

A casa e as fotos: patrimônios cabofrienses<br />

A discussão que se arrasta há<br />

anos em torno da casa e do<br />

acervo do fotógrafo cabofriense<br />

Wolney Teixera está longe do<br />

fim. Manifestações de apoio a<br />

recuperação do prédio onde o<br />

fotógrafo morava no centro de<br />

Cabo Frio que está caindo tem<br />

promovido generosos espaços<br />

na imprensa regional.<br />

Entretanto, a discussão passa<br />

longe da recuperação do acervo<br />

fotográfico que registra toda a<br />

história do crescimento da<br />

cidade.<br />

Nem sempre fica claro,<br />

porém, que a polêmica e a<br />

mobilização que atualmente<br />

cercam a casa do Wolney se<br />

referem, na realidade, a dois<br />

patrimônios totalmente<br />

independentes entre si, porém<br />

igualmente importantes, que<br />

vieram a se interligar de modo<br />

quase acidental: por um lado,<br />

o acervo fotográfico de Wolney,<br />

qualquer que tenha sido o<br />

domicílio ou o estúdio dessa<br />

dinastia de fotógrafos; por<br />

outro, a preservação do último<br />

e único exemplar arquitetônico<br />

residencial sobrevivente da<br />

cidade do século XVIII. Ver a<br />

“A Casa das Fotos” à página da<br />

edição de numero 13, de<br />

agosto/setembro de 2008.<br />

-No caso do acervo de<br />

equipamentos e “chapas”<br />

fotográficas (emulsão de sais de<br />

prata sobre lâminas de vidro),<br />

cabe serem preservados em<br />

ambiente tecnologicamente<br />

Casa de Wolney virou ponto de camelôs no centro de Cabo Frio<br />

adequado (com controle de<br />

temperatura, umidade, poeira,<br />

etc.), o qual não poderá vir a<br />

ser instalado na pequena casa<br />

sob pena de disvirtuar<br />

totalmente sua arquitetura<br />

original, devendo por isso sê-lo<br />

em outro local. Já no caso do<br />

imóvel, cumpre recuperá-lo, o<br />

que evidentemente é possível,<br />

apesar do avançado de<br />

degradação atual do mesmo,<br />

sendo então aproveitável como<br />

mais uma referência históricocultural<br />

da cidade-, lembra o<br />

engenheiro e escritor Luiz<br />

Carlos Silveira.<br />

O engenheiro civil Marco<br />

Aurélio, apaixonado por<br />

fotografias, defende a preservação<br />

imediata do acervo.<br />

-Não podemos esperar a<br />

finalização de toda esta<br />

discussão, precisamos unir<br />

forças e providenciar imediatamente<br />

a digitalização de<br />

todo esse riquíssimo acervo<br />

fotográfico antes que percamos<br />

mais este importante patrimônio,<br />

porém não podemos<br />

esquecer, em momento algum,<br />

a construção e seu significado<br />

para nossa história-, diz o<br />

engenheiro.<br />

Para o engenheiro Juarez<br />

Marques Lopes é preciso<br />

transformar a casa de Wolney<br />

em Museu da Imagem. -<br />

Lamentamos que os cantos<br />

históricos de nossa cidade sejam<br />

jogados para o escanteio-, diz<br />

Lopes. A fachada da casa na rua<br />

Érico Coelho virou ponto de<br />

camelôs. Com a porta<br />

arrombada, mendigos usam o<br />

espaço para dormir. A<br />

prefeitura de Cabo Frio<br />

informa que o acervo está sendo<br />

negociado com a família de<br />

Wolney mas não diz nada sobre<br />

valores nem prazo para<br />

recuperar o acervo-, alerta.

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