29.04.2013 Views

414-424 - Universidade de Coimbra

414-424 - Universidade de Coimbra

414-424 - Universidade de Coimbra

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

da data dêste regulamento, nenhum<br />

candidato sefâ admittido a concurso<br />

para o ensino <strong>de</strong> disciplinas do<br />

plano dos lyceos, sem haver frequentado,<br />

com approvação nos estudos<br />

superiores, os cursos que o<br />

governo organizará como habilitação<br />

para o referido ensino».<br />

Em vista do que fica transcripto,<br />

vê-se claramente que era propósito<br />

do reformador crear um estabelecimento<br />

apropriado à formação<br />

<strong>de</strong> professores para os lyceos,<br />

õ quê, <strong>de</strong> resto, está no ânimo <strong>de</strong><br />

toda a gente <strong>de</strong> senso. E é evi<strong>de</strong>nte<br />

que era o Curso Superior <strong>de</strong><br />

Lettras o <strong>de</strong>stinado a soffrer uma<br />

transformação radical, <strong>de</strong> modo a<br />

convertê-lo' em Eschola Normal.<br />

Disto ninguém pô<strong>de</strong> duvidar. Por<br />

que motivo é que esta utilíssima<br />

rovidéncia foi addiada, e não sa-<br />

E<br />

emos se inteiramente prejudicada,<br />

é o que nós não sabemos: sam segredos<br />

da política miserável e mesquinha<br />

que nos está asphyxiando,<br />

segredos que aos simples mortaes<br />

como nós não é lícito <strong>de</strong>svendar.<br />

O que o sr. ministro do reino<br />

tinha a fazer, mas já, sem a mais<br />

leve <strong>de</strong>longa, não era fazer consultas<br />

platónicas, mas <strong>de</strong>cretar immediatamente,<br />

ou propor ao parlamento,<br />

se isso mais lhe apraz, a<br />

transformação do Curso Superior<br />

<strong>de</strong> Lettras em Eschola Normal secundária,<br />

eem bases convenientes,<br />

a fim <strong>de</strong> assegurar o recrutamento<br />

<strong>de</strong> pessoal idóneo, para os lyceos.<br />

E todo o addiamento é prejudicial.<br />

Os factos faliam mais alto do que<br />

nós. As estações superiores não<br />

pó<strong>de</strong>m ignorar o que se passa; assim<br />

como lhes não é lícito <strong>de</strong>sconhecer<br />

o remédio que <strong>de</strong>ve applicar-se<br />

aos males existentes. E cada<br />

momento <strong>de</strong> hesitação ou <strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

mora representa um prejuízo incalculaVel.<br />

Dí-lo-hemos ? Porque não, se a<br />

verda<strong>de</strong> a todos se impõe. Para<br />

que havemos <strong>de</strong> estar com reticências,<br />

se a verda<strong>de</strong> é só uma, e<br />

cumpre dizê-la abertamente, sobretudo<br />

nestes assumptos? Os concursos<br />

cada vez estám proVando<br />

mais que temos caminhado por veredas<br />

tortuosíssimas, em vez <strong>de</strong> seguirmos<br />

pela estrada larga e direita,<br />

por on<strong>de</strong> téem seguido as<br />

nações que nos pó<strong>de</strong>m servir <strong>de</strong><br />

mo<strong>de</strong>lo. E elles ensinam-nos que,<br />

regra geral, não se pô<strong>de</strong> obter professorado<br />

idóneo senão em estabelecimentos<br />

próprios, convenientemente<br />

organizados. E' esta a lição<br />

dos factos e não ha que procurar<br />

illudí-los.<br />

Ha excepções ? Ha nos nossos<br />

lyceos professores condignos e a<br />

toda a altura da sua missão? Evi<strong>de</strong>ntemente.<br />

E nós conhecemo-los<br />

e temos immenso prazer em o <strong>de</strong>clarar<br />

aqui solemnemente, tributando-<br />

lhes todo o respeito <strong>de</strong> que sam<br />

dignos. Mas para que occultá-lo ?<br />

Esses professores beneméritos, pelos<br />

quaes temos uma veneração sem<br />

limites, sam a minoria, o que aliás,<br />

ninguém será capaz <strong>de</strong> contestar.<br />

E nós precisamos <strong>de</strong> que todo o<br />

pessoal <strong>de</strong>cente esteja à <strong>de</strong>vida<br />

altura da sua nobre missão, o que<br />

actualmente não succce<strong>de</strong>. E tanto<br />

isto é assim, que já foi affirmado<br />

em documento official, a que os<br />

interessados não offereceram a<br />

mínima contestação.<br />

Agora mesmo nos chega o echo<br />

dum facto que, a ser verda<strong>de</strong>iro,<br />

nos mostra à evidência quanto andamos<br />

affastados do bom caminho,<br />

quanto a rotina, dando-se, por vezes,<br />

ares <strong>de</strong> graciosa, se aferra aos<br />

velhos processos e arremette grosseira<br />

contra innovações que a incommodam<br />

e a fazem vacillar no<br />

seu velho e apodrecido pe<strong>de</strong>stal<br />

<strong>de</strong> insciéncia e banalida<strong>de</strong>. E' uma<br />

história muito curiosa, que offereceriamos<br />

agora à apreciação do<br />

sr. ministro do reino, se o tempo<br />

e espaço no-lo permittissem, e lhe<br />

provaria quám pouco avisado anda,<br />

protellando a reforma mais urgente<br />

e inaddiavel <strong>de</strong> que o ensino secundário<br />

está carecendo.<br />

Estám ar<strong>de</strong>ndo as povoações <strong>de</strong><br />

Villar, Lhanezas, Cinfuegos e Losllanos.<br />

As perdas materiaes sam<br />

enormes. Continúa alastrando-se o<br />

incêndio por todo a valle <strong>de</strong> Terron.<br />

RESISTENCIA — Quinta feira, 16 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1899<br />

C A R N A V A L<br />

Passou o carnaval e tudo caiu<br />

na pasmaceira do costume.<br />

Este anno, como nos annos anteriores,<br />

as brinca<strong>de</strong>iras resumi<br />

ram-se no jogo das cocottes, nas<br />

ruas da Calçada e Viscon<strong>de</strong> da<br />

Luz, dando por vezes logar a pequenas<br />

<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns, que eram promptamente<br />

reprimidas pelos próprios<br />

que as occasionavam ou pela intervenção<br />

da polícia, que effectuou<br />

algumas prisões, que não manteve,<br />

tal a insignificância do motivo.<br />

Mascaradas pelas ruas, poucas<br />

e sem significação; uma miséria<br />

que se notava, mas que o tempo<br />

agreste e chuvoso <strong>de</strong>sculparia.<br />

As diversões que se realizaram<br />

em casas particulares muito concorridas<br />

e animadas. Nas associações,<br />

notaremos a do Gymnásio,<br />

on<strong>de</strong> se dançou animadamente<br />

no domingo e na terça feira, até <strong>de</strong><br />

madrugada, mantendo-se sempre<br />

muita or<strong>de</strong>m e uma franca alegria,<br />

que <strong>de</strong>ixou todos satisfeitos; a direcção,<br />

por vêr coroado o seu esforço<br />

<strong>de</strong> bom êxito; os convidados,<br />

que encontram da parte <strong>de</strong>sta<br />

as mais captivantes provas <strong>de</strong> <strong>de</strong>licadêza<br />

e consi<strong>de</strong>ração.<br />

No Atheneu Commercial, associação<br />

ha pouco creada pelo esforço<br />

<strong>de</strong> meia dúzia <strong>de</strong> rapazes,<br />

houve uma concorrência tam gran<strong>de</strong><br />

que com dificulda<strong>de</strong> se podia<br />

dançar. A salla, <strong>de</strong> dimensões<br />

exíguas, estava a breve espaço atapetada<br />

<strong>de</strong> papelinhos, tal foi a<br />

quantida<strong>de</strong> que uns e outros lançaram.<br />

A convivência íntima que<br />

se estabelecêra <strong>de</strong>u uma nota característica,<br />

que muito satisfez as<br />

pessoas que alli fôram.<br />

Nas mais associações, que a<br />

falta <strong>de</strong> espaço não nos premitte<br />

especializar, correram as noites <strong>de</strong><br />

domingo, segunda e terça feira,<br />

pela mesma fórma. Emfim, muita<br />

alegria por toda a parte, que é o<br />

que vale nos tempos que vam<br />

correndo.<br />

Theatro Affonso Taveira<br />

Realiza-se no sábbado nêste thea<br />

tro, um espectáculo em beneficio<br />

dum operário, ha muito tempo sem<br />

trabalho. Subirá à scena a comédia<br />

em 2 actos Aventuras dum<br />

preceptor e a comédia em i acto<br />

—A seuhora está <strong>de</strong>itada.<br />

Attentados ao pudor<br />

Telegrammas <strong>de</strong> Lille publica<br />

dos pela imprensa periódica dam<br />

notícia dum espantoso crime perpetrado<br />

no Collégio dos Irmãos<br />

da Doutrina Ghristã.<br />

Dêsse collégio <strong>de</strong>sappareceu um<br />

alumno interno <strong>de</strong> i3 annos <strong>de</strong><br />

ida<strong>de</strong> que a polícia procurou inutilmente,<br />

durante dois dias, a<br />

ceança.<br />

A auctorida<strong>de</strong> adquiriu a certeza<br />

<strong>de</strong> que o rapaz não saíra do<br />

collégio. Então o inspector <strong>de</strong> polícia<br />

<strong>de</strong>u uma busca à casa d'educação<br />

e, ao cabo <strong>de</strong> muitas horas<br />

<strong>de</strong> pesquizas, quando já se ia per<strong>de</strong>ndo<br />

a esperança <strong>de</strong> dar com o<br />

cadáver do alumno, um agente lembrou-se<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>stapar uma caixa <strong>de</strong><br />

ma<strong>de</strong>ira collocada a um canto do<br />

páteo. Ahi estava o corpo da<br />

creança. No pescoço havia signaes<br />

evi<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> que o rapaz tinha<br />

sido estrangulado.<br />

A polícia or<strong>de</strong>nou logo que se<br />

fechassem todas as portas do collégio<br />

e que ninguém saísse. Os<br />

trezentos alumnos do collégio ficaram<br />

nas suas respectivas aulas<br />

vigiados pelos professores.<br />

Tirou-se o cadáver da caixa e<br />

viu-se um papel em que estavam<br />

escriptas estas palavras:<br />

«Não accusem a communida<strong>de</strong>;<br />

ha só um culpado.»<br />

Um médico examinou o cadáver,<br />

<strong>de</strong>clarando que, antes <strong>de</strong> ser<br />

estrangulada, a víctima soffrêra espantosas<br />

violências.<br />

Á hora da saída dos alumnos<br />

externos, fôram chegando à porta<br />

do collégio os creados ou pessoas<br />

<strong>de</strong> família que iam buscar os alumnos<br />

e, sabendo o que succe<strong>de</strong>ra,<br />

não tardaram a espalhar por<br />

toda a parte a notícia. Açcorreu<br />

logo uma multidão enorme.<br />

Entretanto, o juiz <strong>de</strong> instrucção,<br />

que se apresentara no collégio,<br />

reunia a communida<strong>de</strong> e principiava<br />

o seu interrogatório. Começou<br />

pelo superior a quem fez escrever<br />

as palavras contidas no papel en<br />

contrado junto do cadáver. Depois<br />

do superior, fizeram o mesmo os<br />

irmãos; faltavam poucos, quando se<br />

notou que um não queria' approximar-se<br />

do juiz e que, sendo chamado,<br />

se perturbou muito, negan<br />

do-se por fim a escrever.<br />

O juiz mandou logo pren<strong>de</strong>r êsse<br />

homem.<br />

Proce<strong>de</strong>u <strong>de</strong>pois ao interrogatório<br />

dos alumnos, do pae, da avó<br />

e <strong>de</strong> uns tios da víctima, que appareceram<br />

no collégio para reconhecer<br />

o cadáver. A medida que<br />

os alumnos prestavam <strong>de</strong>clarações,<br />

iam saindo do collégio. Todos elles<br />

pertencem a famílias abastadas.<br />

Por fim, o magistrado interrogou<br />

o supposto assassino. Este<br />

chama-se Isaías, em religião Irmão<br />

Flamínio; conta 35 annos d'ida<strong>de</strong><br />

e é natural d'Alsácia.<br />

Affirmou com a maior energia<br />

que estava innocente. Apesar disso,<br />

o juiz reconstitue assim a scena<br />

do crime:<br />

SuppÕe que, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> violentar<br />

o rapaz, o estrangulou na sua Cella,<br />

aon<strong>de</strong> o attraíra com qualquer<br />

pretexto. Provavelmente o criminoso<br />

occultou o cadáver <strong>de</strong>baixo<br />

da cama, tirando-o <strong>de</strong> noite para<br />

o ír metter, dobrado, no caixão<br />

que estava no páteo. Para isso,<br />

<strong>de</strong>via ter feito gran<strong>de</strong>s esforços,<br />

porque o corpo da víctima estava<br />

então frio.<br />

O juiz mandou recolher o criminoso<br />

na ca<strong>de</strong>ia. O superior<br />

pediu ao magistrado que permittisse<br />

ao accusado tirar o habito<br />

e obteve essa auctorização,<br />

indo o irmão Flamínio para a ca<strong>de</strong>ia'<br />

com uma roupa que lhe emprestaram.<br />

Para se evitar manifestações<br />

na rua, ficou o accusado no<br />

coilégio e com guardas à vista, até<br />

à noite, e por último foi conduzido<br />

em carro para a ca<strong>de</strong>ia.<br />

Nos interrogatórios feitos ao criminoso,<br />

tem êste persistido em negar<br />

que perpetrasse tam extraordinário<br />

attentado, preten<strong>de</strong>ndo attribui-lo<br />

a inimigos da communida<strong>de</strong><br />

religiosa <strong>de</strong> que fazia parte.<br />

O escripto que se encontrou junto<br />

do cadaver é, porém, uma prova<br />

tam esmagadora, havendo perfeita<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> na letra com que está<br />

escripto e a do irmão Flamínio,<br />

que a justiça não tem dúvidas sobre<br />

o auctor do crime.<br />

Na autópsia, não só se verificou<br />

que Gastão havia sido assassinado<br />

por estrangulamento, mas que tinha<br />

sido víctima repetidas vezes<br />

dos mais repugnantes attentados<br />

contra o pudôr.<br />

Não vem fóra <strong>de</strong> propósito dizer<br />

que no anno findo fôram con<strong>de</strong>mnados<br />

em França por attentados<br />

contra o pudôr nada menos<br />

<strong>de</strong> 217 padres e que na câmara<br />

dos <strong>de</strong>putados já foi apresentado<br />

um projecto para prohibir o ensino<br />

em communida<strong>de</strong>s religiosas.<br />

E ha razão <strong>de</strong> sobejo para que<br />

êsse projecto seja convertido em<br />

lei.<br />

Vales internacionaes<br />

As taxas <strong>de</strong> conversão para a<br />

emissão e pagamento <strong>de</strong> vales internacionaes<br />

nesta semana, sam<br />

reguladas pelos seguintes câmbios :<br />

franco, 267 V2 réis; marco, 33o<br />

réis; sterlino, 35,5; sterlino 35 5 por<br />

i$ooo réis.<br />

Urn <strong>de</strong>spacho <strong>de</strong> Bolívia refere<br />

que cerca <strong>de</strong> mil índios atacaram<br />

as minas <strong>de</strong> Corocoso, pertencentes<br />

a chilenos. O director das -minas,<br />

vendo a attitu<strong>de</strong> ameaçadora<br />

dos índios, offereceu-lhes uma<br />

quantia importante a troco da sua<br />

vida, da <strong>de</strong> sua esposa e do seu<br />

secretário. Em face da recusa dos<br />

assaltantes, matou a esposa e o secretário<br />

e em seguida suicidou-se.<br />

Receia-se que isto origine cónflicto<br />

entre a Bolívia e o Chill,<br />

L I T T E R A T U R A E A R T E<br />

DE VIAGEM<br />

A . O J O A.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!