414-424 - Universidade de Coimbra
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da data dêste regulamento, nenhum<br />
candidato sefâ admittido a concurso<br />
para o ensino <strong>de</strong> disciplinas do<br />
plano dos lyceos, sem haver frequentado,<br />
com approvação nos estudos<br />
superiores, os cursos que o<br />
governo organizará como habilitação<br />
para o referido ensino».<br />
Em vista do que fica transcripto,<br />
vê-se claramente que era propósito<br />
do reformador crear um estabelecimento<br />
apropriado à formação<br />
<strong>de</strong> professores para os lyceos,<br />
õ quê, <strong>de</strong> resto, está no ânimo <strong>de</strong><br />
toda a gente <strong>de</strong> senso. E é evi<strong>de</strong>nte<br />
que era o Curso Superior <strong>de</strong><br />
Lettras o <strong>de</strong>stinado a soffrer uma<br />
transformação radical, <strong>de</strong> modo a<br />
convertê-lo' em Eschola Normal.<br />
Disto ninguém pô<strong>de</strong> duvidar. Por<br />
que motivo é que esta utilíssima<br />
rovidéncia foi addiada, e não sa-<br />
E<br />
emos se inteiramente prejudicada,<br />
é o que nós não sabemos: sam segredos<br />
da política miserável e mesquinha<br />
que nos está asphyxiando,<br />
segredos que aos simples mortaes<br />
como nós não é lícito <strong>de</strong>svendar.<br />
O que o sr. ministro do reino<br />
tinha a fazer, mas já, sem a mais<br />
leve <strong>de</strong>longa, não era fazer consultas<br />
platónicas, mas <strong>de</strong>cretar immediatamente,<br />
ou propor ao parlamento,<br />
se isso mais lhe apraz, a<br />
transformação do Curso Superior<br />
<strong>de</strong> Lettras em Eschola Normal secundária,<br />
eem bases convenientes,<br />
a fim <strong>de</strong> assegurar o recrutamento<br />
<strong>de</strong> pessoal idóneo, para os lyceos.<br />
E todo o addiamento é prejudicial.<br />
Os factos faliam mais alto do que<br />
nós. As estações superiores não<br />
pó<strong>de</strong>m ignorar o que se passa; assim<br />
como lhes não é lícito <strong>de</strong>sconhecer<br />
o remédio que <strong>de</strong>ve applicar-se<br />
aos males existentes. E cada<br />
momento <strong>de</strong> hesitação ou <strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
mora representa um prejuízo incalculaVel.<br />
Dí-lo-hemos ? Porque não, se a<br />
verda<strong>de</strong> a todos se impõe. Para<br />
que havemos <strong>de</strong> estar com reticências,<br />
se a verda<strong>de</strong> é só uma, e<br />
cumpre dizê-la abertamente, sobretudo<br />
nestes assumptos? Os concursos<br />
cada vez estám proVando<br />
mais que temos caminhado por veredas<br />
tortuosíssimas, em vez <strong>de</strong> seguirmos<br />
pela estrada larga e direita,<br />
por on<strong>de</strong> téem seguido as<br />
nações que nos pó<strong>de</strong>m servir <strong>de</strong><br />
mo<strong>de</strong>lo. E elles ensinam-nos que,<br />
regra geral, não se pô<strong>de</strong> obter professorado<br />
idóneo senão em estabelecimentos<br />
próprios, convenientemente<br />
organizados. E' esta a lição<br />
dos factos e não ha que procurar<br />
illudí-los.<br />
Ha excepções ? Ha nos nossos<br />
lyceos professores condignos e a<br />
toda a altura da sua missão? Evi<strong>de</strong>ntemente.<br />
E nós conhecemo-los<br />
e temos immenso prazer em o <strong>de</strong>clarar<br />
aqui solemnemente, tributando-<br />
lhes todo o respeito <strong>de</strong> que sam<br />
dignos. Mas para que occultá-lo ?<br />
Esses professores beneméritos, pelos<br />
quaes temos uma veneração sem<br />
limites, sam a minoria, o que aliás,<br />
ninguém será capaz <strong>de</strong> contestar.<br />
E nós precisamos <strong>de</strong> que todo o<br />
pessoal <strong>de</strong>cente esteja à <strong>de</strong>vida<br />
altura da sua nobre missão, o que<br />
actualmente não succce<strong>de</strong>. E tanto<br />
isto é assim, que já foi affirmado<br />
em documento official, a que os<br />
interessados não offereceram a<br />
mínima contestação.<br />
Agora mesmo nos chega o echo<br />
dum facto que, a ser verda<strong>de</strong>iro,<br />
nos mostra à evidência quanto andamos<br />
affastados do bom caminho,<br />
quanto a rotina, dando-se, por vezes,<br />
ares <strong>de</strong> graciosa, se aferra aos<br />
velhos processos e arremette grosseira<br />
contra innovações que a incommodam<br />
e a fazem vacillar no<br />
seu velho e apodrecido pe<strong>de</strong>stal<br />
<strong>de</strong> insciéncia e banalida<strong>de</strong>. E' uma<br />
história muito curiosa, que offereceriamos<br />
agora à apreciação do<br />
sr. ministro do reino, se o tempo<br />
e espaço no-lo permittissem, e lhe<br />
provaria quám pouco avisado anda,<br />
protellando a reforma mais urgente<br />
e inaddiavel <strong>de</strong> que o ensino secundário<br />
está carecendo.<br />
Estám ar<strong>de</strong>ndo as povoações <strong>de</strong><br />
Villar, Lhanezas, Cinfuegos e Losllanos.<br />
As perdas materiaes sam<br />
enormes. Continúa alastrando-se o<br />
incêndio por todo a valle <strong>de</strong> Terron.<br />
RESISTENCIA — Quinta feira, 16 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1899<br />
C A R N A V A L<br />
Passou o carnaval e tudo caiu<br />
na pasmaceira do costume.<br />
Este anno, como nos annos anteriores,<br />
as brinca<strong>de</strong>iras resumi<br />
ram-se no jogo das cocottes, nas<br />
ruas da Calçada e Viscon<strong>de</strong> da<br />
Luz, dando por vezes logar a pequenas<br />
<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns, que eram promptamente<br />
reprimidas pelos próprios<br />
que as occasionavam ou pela intervenção<br />
da polícia, que effectuou<br />
algumas prisões, que não manteve,<br />
tal a insignificância do motivo.<br />
Mascaradas pelas ruas, poucas<br />
e sem significação; uma miséria<br />
que se notava, mas que o tempo<br />
agreste e chuvoso <strong>de</strong>sculparia.<br />
As diversões que se realizaram<br />
em casas particulares muito concorridas<br />
e animadas. Nas associações,<br />
notaremos a do Gymnásio,<br />
on<strong>de</strong> se dançou animadamente<br />
no domingo e na terça feira, até <strong>de</strong><br />
madrugada, mantendo-se sempre<br />
muita or<strong>de</strong>m e uma franca alegria,<br />
que <strong>de</strong>ixou todos satisfeitos; a direcção,<br />
por vêr coroado o seu esforço<br />
<strong>de</strong> bom êxito; os convidados,<br />
que encontram da parte <strong>de</strong>sta<br />
as mais captivantes provas <strong>de</strong> <strong>de</strong>licadêza<br />
e consi<strong>de</strong>ração.<br />
No Atheneu Commercial, associação<br />
ha pouco creada pelo esforço<br />
<strong>de</strong> meia dúzia <strong>de</strong> rapazes,<br />
houve uma concorrência tam gran<strong>de</strong><br />
que com dificulda<strong>de</strong> se podia<br />
dançar. A salla, <strong>de</strong> dimensões<br />
exíguas, estava a breve espaço atapetada<br />
<strong>de</strong> papelinhos, tal foi a<br />
quantida<strong>de</strong> que uns e outros lançaram.<br />
A convivência íntima que<br />
se estabelecêra <strong>de</strong>u uma nota característica,<br />
que muito satisfez as<br />
pessoas que alli fôram.<br />
Nas mais associações, que a<br />
falta <strong>de</strong> espaço não nos premitte<br />
especializar, correram as noites <strong>de</strong><br />
domingo, segunda e terça feira,<br />
pela mesma fórma. Emfim, muita<br />
alegria por toda a parte, que é o<br />
que vale nos tempos que vam<br />
correndo.<br />
Theatro Affonso Taveira<br />
Realiza-se no sábbado nêste thea<br />
tro, um espectáculo em beneficio<br />
dum operário, ha muito tempo sem<br />
trabalho. Subirá à scena a comédia<br />
em 2 actos Aventuras dum<br />
preceptor e a comédia em i acto<br />
—A seuhora está <strong>de</strong>itada.<br />
Attentados ao pudor<br />
Telegrammas <strong>de</strong> Lille publica<br />
dos pela imprensa periódica dam<br />
notícia dum espantoso crime perpetrado<br />
no Collégio dos Irmãos<br />
da Doutrina Ghristã.<br />
Dêsse collégio <strong>de</strong>sappareceu um<br />
alumno interno <strong>de</strong> i3 annos <strong>de</strong><br />
ida<strong>de</strong> que a polícia procurou inutilmente,<br />
durante dois dias, a<br />
ceança.<br />
A auctorida<strong>de</strong> adquiriu a certeza<br />
<strong>de</strong> que o rapaz não saíra do<br />
collégio. Então o inspector <strong>de</strong> polícia<br />
<strong>de</strong>u uma busca à casa d'educação<br />
e, ao cabo <strong>de</strong> muitas horas<br />
<strong>de</strong> pesquizas, quando já se ia per<strong>de</strong>ndo<br />
a esperança <strong>de</strong> dar com o<br />
cadáver do alumno, um agente lembrou-se<br />
<strong>de</strong> <strong>de</strong>stapar uma caixa <strong>de</strong><br />
ma<strong>de</strong>ira collocada a um canto do<br />
páteo. Ahi estava o corpo da<br />
creança. No pescoço havia signaes<br />
evi<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> que o rapaz tinha<br />
sido estrangulado.<br />
A polícia or<strong>de</strong>nou logo que se<br />
fechassem todas as portas do collégio<br />
e que ninguém saísse. Os<br />
trezentos alumnos do collégio ficaram<br />
nas suas respectivas aulas<br />
vigiados pelos professores.<br />
Tirou-se o cadáver da caixa e<br />
viu-se um papel em que estavam<br />
escriptas estas palavras:<br />
«Não accusem a communida<strong>de</strong>;<br />
ha só um culpado.»<br />
Um médico examinou o cadáver,<br />
<strong>de</strong>clarando que, antes <strong>de</strong> ser<br />
estrangulada, a víctima soffrêra espantosas<br />
violências.<br />
Á hora da saída dos alumnos<br />
externos, fôram chegando à porta<br />
do collégio os creados ou pessoas<br />
<strong>de</strong> família que iam buscar os alumnos<br />
e, sabendo o que succe<strong>de</strong>ra,<br />
não tardaram a espalhar por<br />
toda a parte a notícia. Açcorreu<br />
logo uma multidão enorme.<br />
Entretanto, o juiz <strong>de</strong> instrucção,<br />
que se apresentara no collégio,<br />
reunia a communida<strong>de</strong> e principiava<br />
o seu interrogatório. Começou<br />
pelo superior a quem fez escrever<br />
as palavras contidas no papel en<br />
contrado junto do cadáver. Depois<br />
do superior, fizeram o mesmo os<br />
irmãos; faltavam poucos, quando se<br />
notou que um não queria' approximar-se<br />
do juiz e que, sendo chamado,<br />
se perturbou muito, negan<br />
do-se por fim a escrever.<br />
O juiz mandou logo pren<strong>de</strong>r êsse<br />
homem.<br />
Proce<strong>de</strong>u <strong>de</strong>pois ao interrogatório<br />
dos alumnos, do pae, da avó<br />
e <strong>de</strong> uns tios da víctima, que appareceram<br />
no collégio para reconhecer<br />
o cadáver. A medida que<br />
os alumnos prestavam <strong>de</strong>clarações,<br />
iam saindo do collégio. Todos elles<br />
pertencem a famílias abastadas.<br />
Por fim, o magistrado interrogou<br />
o supposto assassino. Este<br />
chama-se Isaías, em religião Irmão<br />
Flamínio; conta 35 annos d'ida<strong>de</strong><br />
e é natural d'Alsácia.<br />
Affirmou com a maior energia<br />
que estava innocente. Apesar disso,<br />
o juiz reconstitue assim a scena<br />
do crime:<br />
SuppÕe que, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> violentar<br />
o rapaz, o estrangulou na sua Cella,<br />
aon<strong>de</strong> o attraíra com qualquer<br />
pretexto. Provavelmente o criminoso<br />
occultou o cadáver <strong>de</strong>baixo<br />
da cama, tirando-o <strong>de</strong> noite para<br />
o ír metter, dobrado, no caixão<br />
que estava no páteo. Para isso,<br />
<strong>de</strong>via ter feito gran<strong>de</strong>s esforços,<br />
porque o corpo da víctima estava<br />
então frio.<br />
O juiz mandou recolher o criminoso<br />
na ca<strong>de</strong>ia. O superior<br />
pediu ao magistrado que permittisse<br />
ao accusado tirar o habito<br />
e obteve essa auctorização,<br />
indo o irmão Flamínio para a ca<strong>de</strong>ia'<br />
com uma roupa que lhe emprestaram.<br />
Para se evitar manifestações<br />
na rua, ficou o accusado no<br />
coilégio e com guardas à vista, até<br />
à noite, e por último foi conduzido<br />
em carro para a ca<strong>de</strong>ia.<br />
Nos interrogatórios feitos ao criminoso,<br />
tem êste persistido em negar<br />
que perpetrasse tam extraordinário<br />
attentado, preten<strong>de</strong>ndo attribui-lo<br />
a inimigos da communida<strong>de</strong><br />
religiosa <strong>de</strong> que fazia parte.<br />
O escripto que se encontrou junto<br />
do cadaver é, porém, uma prova<br />
tam esmagadora, havendo perfeita<br />
i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> na letra com que está<br />
escripto e a do irmão Flamínio,<br />
que a justiça não tem dúvidas sobre<br />
o auctor do crime.<br />
Na autópsia, não só se verificou<br />
que Gastão havia sido assassinado<br />
por estrangulamento, mas que tinha<br />
sido víctima repetidas vezes<br />
dos mais repugnantes attentados<br />
contra o pudôr.<br />
Não vem fóra <strong>de</strong> propósito dizer<br />
que no anno findo fôram con<strong>de</strong>mnados<br />
em França por attentados<br />
contra o pudôr nada menos<br />
<strong>de</strong> 217 padres e que na câmara<br />
dos <strong>de</strong>putados já foi apresentado<br />
um projecto para prohibir o ensino<br />
em communida<strong>de</strong>s religiosas.<br />
E ha razão <strong>de</strong> sobejo para que<br />
êsse projecto seja convertido em<br />
lei.<br />
Vales internacionaes<br />
As taxas <strong>de</strong> conversão para a<br />
emissão e pagamento <strong>de</strong> vales internacionaes<br />
nesta semana, sam<br />
reguladas pelos seguintes câmbios :<br />
franco, 267 V2 réis; marco, 33o<br />
réis; sterlino, 35,5; sterlino 35 5 por<br />
i$ooo réis.<br />
Urn <strong>de</strong>spacho <strong>de</strong> Bolívia refere<br />
que cerca <strong>de</strong> mil índios atacaram<br />
as minas <strong>de</strong> Corocoso, pertencentes<br />
a chilenos. O director das -minas,<br />
vendo a attitu<strong>de</strong> ameaçadora<br />
dos índios, offereceu-lhes uma<br />
quantia importante a troco da sua<br />
vida, da <strong>de</strong> sua esposa e do seu<br />
secretário. Em face da recusa dos<br />
assaltantes, matou a esposa e o secretário<br />
e em seguida suicidou-se.<br />
Receia-se que isto origine cónflicto<br />
entre a Bolívia e o Chill,<br />
L I T T E R A T U R A E A R T E<br />
DE VIAGEM<br />
A . O J O A.