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Abuso do direito de estar em juízo [ Rui Stoco ] - APEJUR

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6<br />

Esqueceu-se, porém, <strong>de</strong> que no abuso <strong>do</strong> <strong>direito</strong> há legitimida<strong>de</strong> no<br />

antece<strong>de</strong>nte, quan<strong>do</strong> a pessoa atua exercen<strong>do</strong> um <strong>direito</strong> legítimo e previsto (como o <strong>direito</strong><br />

<strong>de</strong> ação) e <strong>do</strong>lo no conseqüente, a partir <strong>do</strong> momento <strong>em</strong> que <strong>de</strong>sborda <strong>do</strong> <strong>direito</strong><br />

concedi<strong>do</strong> (abusan<strong>do</strong> daquele <strong>direito</strong> <strong>de</strong> ação), ten<strong>do</strong> <strong>em</strong> vista o mo<strong>do</strong> irregular com que o<br />

exerce.<br />

A<strong>de</strong>mais, não se po<strong>de</strong> aceitar a tendência <strong>de</strong>ste último e consagra<strong>do</strong> autor ao<br />

insinuar que o abuso <strong>do</strong> <strong>direito</strong> <strong>de</strong>spren<strong>de</strong>-se <strong>do</strong> conceito <strong>de</strong> culpabilida<strong>de</strong> para encontrar<br />

apoio e sustentação na responsabilida<strong>de</strong> objetiva ou s<strong>em</strong> culpa.<br />

Outros autores <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m a tese <strong>de</strong> que quan<strong>do</strong> o abuso se caracteriza pela<br />

intenção <strong>de</strong> prejudicar, constitui uma falta <strong>de</strong>litual. Se essa intenção não ocorre, o ato<br />

abusivo po<strong>de</strong> constituir uma culpa quase-<strong>de</strong>litual, caracterizada pela imprudência ou pela<br />

negligência.<br />

Nessa esteira COLIN e CAPITANT 11 concluíram: “Para que haja abuso <strong>do</strong><br />

<strong>direito</strong> não é indispensável que se <strong>de</strong>scubra no autor <strong>do</strong> pre<strong>juízo</strong> causa<strong>do</strong> a outr<strong>em</strong> a<br />

intenção <strong>de</strong> prejudicar, o animus nocendi. É bastante que se observe na sua conduta a<br />

ausência das precauções que a prudência <strong>de</strong> um hom<strong>em</strong> atento e diligente lhe teria<br />

inspira<strong>do</strong>”.<br />

Contu<strong>do</strong> – insistimos – na hipótese sob estu<strong>do</strong> não basta o agir culposo da parte<br />

<strong>em</strong> <strong>juízo</strong> ou <strong>de</strong> seu <strong>de</strong>fensor ou representante legal, pois o conceito <strong>de</strong> frau<strong>de</strong> processual e<br />

<strong>de</strong> má-fé processual liga-se intimamente ao <strong>do</strong>lo, estan<strong>do</strong> incluída nesse conceito a culpa<br />

grave, quan<strong>do</strong> o agente assume integralmente o risco <strong>de</strong> prejudicar ou age com tal <strong>de</strong>sídia<br />

que o seu atuar exsurge inescusável e, assim, confina-se e se aproxima <strong>do</strong> próprio <strong>do</strong>lo.<br />

E a afirmação <strong>de</strong> que a má-fé processual ingressa no campo <strong>do</strong> abuso <strong>do</strong> <strong>direito</strong><br />

não po<strong>de</strong> encontrar disceptação. Em excelente trabalho <strong>de</strong> <strong>do</strong>utrina FRANCISCO<br />

FERNANDES DE ARAÚJO assim se manifestou: “Sen<strong>do</strong> a litigância <strong>de</strong> má-fé<br />

caracteriza<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> abuso <strong>do</strong> <strong>direito</strong>, por evi<strong>de</strong>nte constitui um ilícito, conforme, aliás, é o<br />

pensamento quase maciço <strong>do</strong>s autores pesquisa<strong>do</strong>s”. 12<br />

Mas cabe <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo advertir que não constituirá seara <strong>de</strong> suave colheita<br />

i<strong>de</strong>ntificar a hipótese <strong>de</strong> ilícito <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> abuso <strong>do</strong> <strong>direito</strong> cometi<strong>do</strong> no bojo <strong>de</strong> ação<br />

judicial, não conti<strong>do</strong> nas hipóteses previstas no art. 18 <strong>do</strong> CPC, <strong>em</strong>bora não se possa, <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

logo, afastar essas possibilida<strong>de</strong>.<br />

11 . COLIN e CAPITANT. Droit Civil Français. Paris, 1923, p. 358, letra “b”.<br />

12 . FRANCISCO FERNANDES DE ARAÚJO. O abuso <strong>do</strong> <strong>direito</strong> processual e o princípio da<br />

proporcionalida<strong>de</strong> na execução civil. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Forense, 2004, p. 57.

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