06.05.2013 Views

Aplicabilidade da hipnose na ecocardiografia transesofágica

Aplicabilidade da hipnose na ecocardiografia transesofágica

Aplicabilidade da hipnose na ecocardiografia transesofágica

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Artigo Origi<strong>na</strong>l<br />

<strong>Aplicabili<strong>da</strong>de</strong> <strong>da</strong> Hipnose <strong>na</strong> Ecocardiografi a Transesofágica*<br />

Applicability of Hypnosis in Transesophageal Echocardiography<br />

Anderson Souza de Lima 1 ; Carlos Antonio <strong>da</strong> Mota Silveira 2 ; Eugenio Soares de Albuquerque 3 ; Vandete<br />

Maria Larangeiras 3 ; Maria <strong>da</strong> Pie<strong>da</strong>de Costa Reis de Albuquerque 4 ; Clodoval de Barros Pereira Junior 4 ;<br />

Michael Vitor <strong>da</strong> Silva 4 ; Suela Delmondes de Farias 4 ; Frank Land Lima de Carvalho 4 ; Fabio Soares<br />

Petrucci 5<br />

RESUMO<br />

Objetivo: Comparar efi cácia <strong>da</strong> <strong>hipnose</strong> frente ao mi<strong>da</strong>zolam e ao controle (sem se<strong>da</strong>ção), quando utiliza<strong>da</strong> como técnica se<strong>da</strong>tiva<br />

antes do ecocardiograma transesofágico (ETE). Método: Estudo prospectivo em 60 pacientes que realizaram ETE no Pronto Socorro<br />

Cardiológico de Per<strong>na</strong>mbuco, entre os meses de fevereiro de 2009 e dezembro de 2009. Os pacientes foram alocados em um de três<br />

grupos: se<strong>da</strong>ção com mi<strong>da</strong>zolam intravenoso, se<strong>da</strong>ção com <strong>hipnose</strong> ou controle. Os três grupos receberam lidocaí<strong>na</strong> spray <strong>na</strong> garganta.<br />

Após o exame, os pacientes e médicos operadores responderam a um questionário de pesquisa. A análise estatística foi realiza<strong>da</strong> com<br />

o programa Bioestat 5.0. Teste utilizado foi o de Kruskal-Wallis. O teste de Dunn foi utilizado a posteriori. Resultados: O grupo <strong>da</strong><br />

se<strong>da</strong>ção hipnótica apresentou diferença signifi cativa frente ao grupo controle, quanto ao menor grau de lembrança do procedimento<br />

(H= 20,87; gl= 2; p < 0.01) e menor grau de desconforto (H= 7,65; gl= 2; p < 0,05) pelo paciente. O grupo <strong>hipnose</strong> apresentou maior<br />

grau de facili<strong>da</strong>de para o médico operador frente aos grupos de se<strong>da</strong>ção com mi<strong>da</strong>zolam e controle (H= 12,34; gl= 2; p < 0,01). Não<br />

houve diferença signifi cativa entre os grupos quanto ao grau de dor ou náusea. Conclusão: A <strong>hipnose</strong>, como técnica de preparo para<br />

o ETE, em pacientes susceptíveis, mostrou-se superior em relação às técnicas tradicio<strong>na</strong>is, quando a<strong>na</strong>lisados o grau de lembrança ou<br />

do desconforto pelo paciente e, principalmente, o grau de facili<strong>da</strong>de <strong>na</strong> execução do procedimento pelo médico.<br />

Descritores: Hipnose Anestésica, Ecocardiografi a Transesofágica/ utilização, Se<strong>da</strong>ção Consciente.<br />

SUMMARY<br />

Objective: To compare the eff ectiveness of hypnosis outside the mi<strong>da</strong>zolam and control (without se<strong>da</strong>tion), when used as a se<strong>da</strong>tive<br />

before the transesophageal echocardiography (TEE). Method: A prospective study of 60 patients who underwent TEE in “Prontosocorro<br />

Cardiológico de Per<strong>na</strong>mbuco” between February/2009 and December/2009, after approval by the Ethics in Research. Patients<br />

were assigned into one of three groups: se<strong>da</strong>tion with mi<strong>da</strong>zolam intravenous, se<strong>da</strong>tion with hypnosis or control. All three groups<br />

received lidocaine spray in the throat. After exami<strong>na</strong>tion, patients and physicians operators answered a question<strong>na</strong>ire. Statistical<br />

a<strong>na</strong>lysis was performed by the program Bioestat 5.0 using initially the Kruskal-Wallis test and Dunn a posteriori. Results: Th e group<br />

of hypnotic se<strong>da</strong>tion showed signifi cant diff erence against the control group on the lower level of memory of the procedure (H =<br />

20.87, df = 2; p < 0.01) and less discomfort (H = 7.65, df = 2, p < 0.05) by the patient. Th e hypnosis group had a greater degree of ease<br />

for the doctor performing the exami<strong>na</strong>tion front groups of se<strong>da</strong>tion with mi<strong>da</strong>zolam and control group (H = 12.34, df = 2, p < 0.01).<br />

Th ere was no signifi cant diff erence between groups regarding the degree of pain or <strong>na</strong>usea. Conclusion: As a preparation technique<br />

on TEE, hypnosis was shown to be superior when which applied in relation to traditio<strong>na</strong>l techniques when a<strong>na</strong>lyzed the degree of<br />

remembrance or discomfort by the patient and especially the degree of ease in execution of the procedure by the doctor.<br />

Descriptors: Hypnosis, Anesthetic; Echocardiography, transesophageal/ utilization; Conscious Se<strong>da</strong>tion.<br />

Instituição<br />

PROCAPE (Pronto Socorro Cardiológico de Per<strong>na</strong>mbuco).<br />

Recife-PE<br />

Correspondência<br />

Anderson Souza de Lima<br />

Rua Osvaldo Tavares de Melo no 91 – Ap. 201 - Ma<strong>na</strong>íra.<br />

58038-220 João Pessoa – PB<br />

Telefones: (83) 3226-1331 e (83) 9108-2051<br />

andersonsouzal@yahoo.com.br<br />

Recebido em: 11/10/2010 - Aceito em: 16/03/2011<br />

Rev bras ecocardiogr imagem cardiovasc. 2011; 24(3):25-30<br />

* Trabalho apresentado no formato de pôster, em 27 de maio de 2010, no Centro de Convenções Mi<strong>na</strong>s Centro, Belo Horizonte-MG, durante o 22 o Congresso<br />

Brasileiro de Ecocardiografi a.<br />

1. Médico Cardiologista e Ecocardiografi sta do Tribu<strong>na</strong>l de Contas do Estado <strong>da</strong> Paraíba. João Pessoa-<br />

PB<br />

2- Médico Cardiologista. Chefe do Serviço de Ecocardiografi a do PROCAPE. Universi<strong>da</strong>de de<br />

Per<strong>na</strong>mbuco. Recife-PE<br />

3- Médicos Cardiologistas. Preceptores do Serviço de Ecocardiografi a do PROCAPE. Universi<strong>da</strong>de de<br />

Per<strong>na</strong>mbuco. Recife-PE<br />

4- Médicos Cardiologistas e Ecocardiografi stas do PROCAPE. Universi<strong>da</strong>de de Per<strong>na</strong>mbuco. Recife-<br />

PE<br />

5- Médico Cardiologista. Hospital Benefi cência Portuguesa. São Paulo-SP<br />

25<br />

ISSN 1984 - 3038


Rev bras ecocardiogr imagem cardiovasc. 2011; 24(3):25-30<br />

Introdução<br />

Hipnose é um estado de estreitamento <strong>da</strong> cons-<br />

ciência, provocado artificialmente ou não, geralmente<br />

semelhante ao sono, porém fisiologicamente<br />

dele se distingue e caracteriza-se pelo aparecimento<br />

espontâneo ou não de uma varie<strong>da</strong>de de fenômenos:<br />

aumento <strong>da</strong> sugestio<strong>na</strong>bili<strong>da</strong>de, alteração <strong>da</strong> atenção,<br />

alteração <strong>da</strong> memória, alterações motoras e sensoriais,<br />

aumento <strong>da</strong> labili<strong>da</strong>de dos processos regulados pelo<br />

sistema nervoso autônomo, entre outros 1 .<br />

A <strong>hipnose</strong> surgiu <strong>na</strong> História desde tempos imemoriais.<br />

No Egito, havia os Templos do Sono e as<br />

principais <strong>na</strong>ções <strong>da</strong> Antigui<strong>da</strong>de, como a Índia, a<br />

Pérsia, a Caldeia e a Chi<strong>na</strong>, conheciam estados de<br />

transe que eram induzidos por sacerdotes (estados<br />

hipnóticos como os entendemos atualmente). As<br />

curas por imposições <strong>da</strong>s mãos são mencio<strong>na</strong><strong>da</strong>s nos<br />

documentos históricos e eram também utiliza<strong>da</strong>s pelos<br />

reis – toque real – para produzir o alívio <strong>da</strong> dor<br />

ou o desaparecimento de várias doenças. A <strong>hipnose</strong><br />

científica tem suas origens com a tese de Mesmer,<br />

Dissertatio Phisico-Medica de Planetarum Influxu, em<br />

Vie<strong>na</strong> (1.766), que induzia o estado de transe para a<br />

cura de diversos transtornos psicossomáticos 1 .<br />

A aplicação do transe mesmérico, em condições<br />

psicossomáticas e em psiconeuroses, veio se somar à<br />

outra, quando, em 12 de abril de 1.829, Jules Cloquet<br />

fez o primeiro relato do mesmerismo como<br />

anestésico, referente à amputação de mama atingi<strong>da</strong><br />

por tumor 1 .<br />

O emprego do mesmerismo como anestesia, antes<br />

do advento <strong>da</strong> anestesia química, é relatado <strong>da</strong>í<br />

em diante por diversos autores, como John Elliotson<br />

(1791-1868), professor <strong>da</strong> Medici<strong>na</strong> <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de<br />

de Londres e presidente <strong>da</strong> Royal Medical Surgery Society.<br />

James Es<strong>da</strong>ile (1808-1859), cirurgião escocês,<br />

contemporâneo de Elliotson, trabalhou em Calcutá,<br />

<strong>na</strong> Índia, fazendo peque<strong>na</strong>s e grandes cirurgias sob<br />

sono mesmérico 1 .<br />

Dois motivos fizeram com que a <strong>hipnose</strong> caísse<br />

em olvido no início deste século: o desenvolvimento<br />

<strong>da</strong> anestesia química; o desenvolvimento <strong>da</strong>s técnicas<br />

psicoterápicas advin<strong>da</strong>s com a descoberta de Freud e<br />

sua atitude em relação à <strong>hipnose</strong> 1 .<br />

Durante e a partir <strong>da</strong> Segun<strong>da</strong> Guerra Mundial<br />

26<br />

(1938-1945), de modo incontestável, a <strong>hipnose</strong> ressurgiu<br />

para firmar-se, definitivamente, dentro <strong>da</strong><br />

prática médica. As necessi<strong>da</strong>des de guerra impunham<br />

um racio<strong>na</strong>mento muito grande de anestésicos. Lembraram-se,<br />

então, <strong>da</strong> <strong>hipnose</strong> e muitas intervenções<br />

foram feitas sob estado de transe hipnótico 1 .<br />

A <strong>hipnose</strong> passou a ser reconheci<strong>da</strong> pelas socie<strong>da</strong>des<br />

médicas mundiais, como a The Inter<strong>na</strong>tio<strong>na</strong>l<br />

Society of Hypnosis que integra a The World Federation<br />

for Mental Health, organização não gover<strong>na</strong>mental,<br />

com relação oficial <strong>na</strong> área de saúde mental com a<br />

ONU, ILO, UNESCO, WHO e UNICEF 1 .<br />

Em 1974, Dr. Antonio Carlos de Moraes Passos<br />

teve sua tese de doutoramento aprova<strong>da</strong> com distinção<br />

(grau 10), <strong>na</strong> Universi<strong>da</strong>de de São Paulo, e<br />

publica<strong>da</strong> no ano seguinte sob o título Hipniatria,<br />

Técnicas e Aplicações em Fobias 1 . Mais recentemente,<br />

a <strong>hipnose</strong> foi reconheci<strong>da</strong> pelo Conselho Federal de<br />

Medici<strong>na</strong> como valiosa prática médica, subsidiária de<br />

diagnóstico ou de tratamento, devendo ser exerci<strong>da</strong><br />

por profissio<strong>na</strong>is devi<strong>da</strong>mente qualificados e sob rigorosos<br />

critérios éticos 2 .<br />

No Brasil, além <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de Brasileira de Hipnose<br />

(socie<strong>da</strong>de científica vincula<strong>da</strong> à AMB – Associação<br />

Médica Brasileira), existem outras organizações<br />

sérias que tratam do tema, como por exemplo, o<br />

Departamento de Hipniatria, <strong>da</strong> Associação Médica<br />

de Mi<strong>na</strong>s Gerais e a Socie<strong>da</strong>de de Hipnose Médica<br />

de São Paulo 3 .<br />

A <strong>ecocardiografia</strong> <strong>transesofágica</strong> (ETE) é uma técnica<br />

invasiva que pode fornecer excelentes imagens<br />

do coração, em doentes de difícil avaliação <strong>na</strong> <strong>ecocardiografia</strong><br />

transtorácica (ETT), devido à configuração<br />

do tórax. Além disso, existem outras patologias com<br />

indicação para ETE, tais como, dissecção aórtica,<br />

para diagnóstico <strong>da</strong>s massas intracardíacas e <strong>da</strong> fonte<br />

embolíge<strong>na</strong>, patologias valvulares, cardiopatias congênitas<br />

e uso no intra e pós-operatório 4 .<br />

Após a monitorização com oxímetro, cateter <strong>na</strong>sal<br />

e uma derivação eletrocardiográfica, são realiza<strong>da</strong>s<br />

anestesia tópica <strong>da</strong> orofaringe com lidocaí<strong>na</strong> e<br />

se<strong>da</strong>ção parenteral com mi<strong>da</strong>zolam e meperidi<strong>na</strong>, <strong>na</strong><br />

maioria dos pacientes que se submetem à ETE 5 . Porém,<br />

há muitos centros especializados que realizam o<br />

ETE utilizando-se ape<strong>na</strong>s <strong>da</strong> anestesia tópica <strong>da</strong> orofaringe.<br />

A <strong>hipnose</strong> tem sido utiliza<strong>da</strong> como método


de se<strong>da</strong>ção antes de procedimentos médicos (endoscopia<br />

digestiva alta, broncoscopia e colonoscopia) e<br />

odontológicos 6-10 .<br />

A se<strong>da</strong>ção com medicamentos, antes <strong>da</strong> realização<br />

de ETE, apresenta riscos inerentes às drogas utiliza<strong>da</strong>s,<br />

sendo, em alguns casos, até mesmo contraindica<strong>da</strong>.<br />

A <strong>hipnose</strong> seria mais uma ferramenta disponível<br />

para se<strong>da</strong>ção, antes <strong>da</strong> realização <strong>da</strong> ETE, verificando-se<br />

baixíssimo ou nenhum risco <strong>na</strong> sua aplicação.<br />

O objetivo deste trabalho foi comparar, de forma<br />

inédita <strong>na</strong> literatura mundial, a eficácia <strong>da</strong> <strong>hipnose</strong><br />

frente ao mi<strong>da</strong>zolam e ao controle (sem se<strong>da</strong>ção),<br />

quando de sua utilização como método se<strong>da</strong>tivo, antes<br />

<strong>da</strong> realização de Ecocardiografia Transesofágica.<br />

Neste estudo, foi também avaliado nível de amnésia,<br />

dor, náusea e conforto geral do paciente, durante a<br />

realização do exame, assim como o nível de facili<strong>da</strong>de<br />

para o médico que o realizava.<br />

Métodos<br />

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética<br />

em Pesquisas em Seres Humanos do complexo<br />

hospitalar HUOC/PROCAPE, conforme Protocolo<br />

N o 27/09.<br />

Foi realizado um estudo prospectivo com 60 pacientes,<br />

que realizaram Ecocardiograma Transesofágico<br />

no Pronto Socorro Cardiológico de Per<strong>na</strong>mbuco<br />

– PROCAPE – entre fevereiro de 2009 e dezembro<br />

de 2009. Os pacientes foram distribuídos em três<br />

grupos: grupo cujos pacientes foram submetidos à<br />

se<strong>da</strong>ção com mi<strong>da</strong>zolam intravenoso (15 pacientes);<br />

grupo cuja única se<strong>da</strong>ção utiliza<strong>da</strong> foi a <strong>hipnose</strong> (16<br />

pacientes); grupo que não recebeu qualquer espécie<br />

de se<strong>da</strong>ção (29 pacientes). Os três grupos do estudo<br />

receberam anestesia tópica com lidocaí<strong>na</strong> spray a<br />

10% <strong>na</strong> orofaringe.<br />

Foram utilizados, como critérios de inclusão dos<br />

pacientes no estudo: maior de 18 anos de i<strong>da</strong>de; indicação<br />

formal para realização do ETE, seguindo o<br />

agen<strong>da</strong>mento normal do serviço (PROCAPE). Como<br />

critérios de exclusão, foram utilizados: menor de 18<br />

anos de i<strong>da</strong>de; grávi<strong>da</strong>s ou lactantes; distúrbio respiratório<br />

grave; sintomas de dor, dispneia ou náusea<br />

antes do exame; doença de base ou sob hipótese de<br />

dissecção agu<strong>da</strong> de aorta, acidente vascular cerebral<br />

ou hemorragia em ativi<strong>da</strong>de; oligofrenia aparente;<br />

não colaboração <strong>na</strong> realização do exame.<br />

A alocação nos grupos era realiza<strong>da</strong> após decisão<br />

conjunta entre o médico operador e o paciente, imediatamente<br />

antes do exame. A alocação no grupo<br />

<strong>hipnose</strong> exigia, ain<strong>da</strong>, que o paciente fosse classificado<br />

como sensível, durante um teste de suscetibili<strong>da</strong>de<br />

chamado entrecruzamento <strong>da</strong>s mãos, no qual o hipnotizador<br />

induzia durante uma contagem de 1 a 10<br />

(1-2-3...9-10), por sugestões simples e diretas, que as<br />

mãos do paciente ficariam cola<strong>da</strong>s ao fi<strong>na</strong>l do teste. O<br />

tempo máximo <strong>da</strong> se<strong>da</strong>ção hipnótica foi limitado em<br />

5 minutos. Durante o exame eram <strong>da</strong><strong>da</strong>s aos pacientes<br />

sugestões de conforto e cessação de náusea e dor.<br />

A se<strong>da</strong>ção com mi<strong>da</strong>zolam foi realiza<strong>da</strong> com dose<br />

prescrita a critério do médico operador, sendo a dose<br />

média administra<strong>da</strong> de 0,06 miligramas de mi<strong>da</strong>zolam<br />

para ca<strong>da</strong> quilo de peso do paciente. A anestesia<br />

tópica <strong>da</strong> orofaringe foi realiza<strong>da</strong> com 3 a 6 borrifa<strong>da</strong>s<br />

de spray <strong>da</strong> solução a 10% de lidocaí<strong>na</strong>.<br />

Após o exame, os pacientes e médicos operadores<br />

responderam a um questionário de pesquisa (Figura<br />

1). A análise estatística foi realiza<strong>da</strong> com o programa<br />

Bioestat 5.0. O teste utilizado foi o de Kruskal-Wallis.<br />

O teste de Dunn foi utilizado a posteriori.<br />

Figura 1: Questionário de Pesquisa.<br />

Lima AS, et al. <strong>Aplicabili<strong>da</strong>de</strong> <strong>da</strong> <strong>hipnose</strong><br />

<strong>na</strong> <strong>ecocardiografia</strong> <strong>transesofágica</strong><br />

27


Rev bras ecocardiogr imagem cardiovasc. 2011; 24(3):25-30<br />

Resultados<br />

A distribuição dos pacientes nos três grupos,<br />

quanto à duração do exame, i<strong>da</strong>de, sexo, procedência<br />

(ambulatorial ou inter<strong>na</strong>do) e se havia ou não já<br />

realizado o ecocardiograma transesofágico está descrita<br />

<strong>na</strong> Tabela 1.<br />

Tabela 1: Perfil dos grupos<br />

Quanto à lembrança do procedimento, 100%<br />

dos pacientes do grupo controle referiram lembrança<br />

de todo o procedimento, enquanto que no grupo<br />

mi<strong>da</strong>zolam a taxa foi de 60% e no grupo <strong>hipnose</strong>,<br />

Gráfico 1: Lembrança do procedimento<br />

Gráfico 2: Bem-estar durante exame<br />

Gráfico 3: Facili<strong>da</strong>de para o médico<br />

28<br />

37,5%. No grupo mi<strong>da</strong>zolan, 6,7% referiram nenhuma<br />

lembrança do procedimento, enquanto que<br />

no grupo <strong>hipnose</strong> e controle não houve quem não<br />

tivesse se lembrado de algo do exame. O grupo <strong>da</strong><br />

se<strong>da</strong>ção hipnótica apresentou diferença significativa<br />

frente ao grupo controle, quanto ao menor grau de<br />

lembrança do procedimento (H= 20,87; gl= 2; p <<br />

0,01). Ver Gráfico 1.<br />

Quando foi avaliado o bem-estar<br />

do paciente durante o exame, julgaram<br />

como muito tranquilo ou tranquilo<br />

46,7% dos pacientes do grupo<br />

mi<strong>da</strong>zolam, contra 81,3% do grupo<br />

<strong>hipnose</strong> e ape<strong>na</strong>s 44,8% do grupo<br />

controle. 13,4% dos pacientes do<br />

grupo mi<strong>da</strong>zolam acharam o exame<br />

ruim ou muito ruim, contra 0% do<br />

grupo <strong>hipnose</strong> e 37,9 do grupo controle.<br />

O grupo com se<strong>da</strong>ção hipnótica<br />

diferiu positivamente, de forma<br />

significativa, em relação ao controle quanto ao bemestar<br />

(H= 7,65; gl= 2; p < 0,05). Ver Gráfico 2.<br />

Quando se a<strong>na</strong>lisou a facili<strong>da</strong>de do médico operador<br />

durante o exame, foi verificado que 62,5%<br />

dos exames do grupo <strong>hipnose</strong> foram<br />

considerados muito fáceis,<br />

contra 20,7% do grupo controle<br />

e ape<strong>na</strong>s 6,7% do grupo se<strong>da</strong>ção<br />

com mi<strong>da</strong>zolam. Quando a<strong>na</strong>lisa<strong>da</strong>s<br />

em conjunto as qualificações<br />

muito fácil e fácil, o grupo <strong>hipnose</strong><br />

totalizou 93,8%, o grupo se<strong>da</strong>ção<br />

com mi<strong>da</strong>zolam totalizou 72,4%<br />

<strong>da</strong>s respostas, enquanto o grupo<br />

controle totalizou 55,2%. Nenhum<br />

exame foi considerado muito<br />

difícil, neste estudo. O grupo<br />

<strong>hipnose</strong> apresentou maior grau de<br />

facili<strong>da</strong>de para o médico operador,<br />

frente aos grupos de se<strong>da</strong>ção com<br />

mi<strong>da</strong>zolam e controle (H=12,34;<br />

gl= 2; p < 0,01). Ver Gráfico 3.<br />

A<strong>na</strong>lisando-se o nível de dor<br />

durante o exame, foi verificado<br />

que 56% dos pacientes, no grupo<br />

<strong>hipnose</strong>, não referiram dor e ape-


<strong>na</strong>s 6% no mesmo grupo referiram dor intensa ou<br />

insuportável, durante o exame. Dos pacientes no<br />

grupo controle, 48% não referiram dor e ape<strong>na</strong>s<br />

7% referiram dor intensa ou insuportável, durante<br />

o exame. 60% dos pacientes no grupo mi<strong>da</strong>zolan<br />

não referiram dor e ape<strong>na</strong>s 7%, no mesmo grupo,<br />

referiram dor intensa ou insuportável, durante o<br />

exame. Não houve diferença significativa entre os<br />

grupos quanto ao grau de dor (p > 0,05).<br />

Quanto à náusea, foi verificado que 88% dos<br />

pacientes, no grupo <strong>hipnose</strong>, referiram nenhuma<br />

ou leve náusea, durante o exame, contra 69% no<br />

grupo controle e 74% no grupo mi<strong>da</strong>zolam. Náusea<br />

intensa ou insuportável foi referi<strong>da</strong> por 17%, no<br />

grupo controle, contra ninguém do grupo <strong>hipnose</strong><br />

e 13% no grupo mi<strong>da</strong>zolam. Também não houve<br />

diferença significativa entre os grupos quanto à<br />

náusea (p > 0,05).<br />

Houve raras intercorrências, durante os exames:<br />

um paciente no grupo controle e outro no grupo<br />

se<strong>da</strong>do por <strong>hipnose</strong> apresentaram pequeno sangramento<br />

pela cavi<strong>da</strong>de oral; um paciente no grupo<br />

<strong>hipnose</strong> apresentou episódio de taquicardia paroxística<br />

supraventricular, com reversão espontânea a<br />

ritmo sinusal, ain<strong>da</strong> durante o exame; no grupo se<strong>da</strong>do<br />

com mi<strong>da</strong>zolan, um paciente apresentou leve<br />

hipotensão reverti<strong>da</strong> com infusão rápi<strong>da</strong> de 200 ml<br />

de soro fisiológico 0,9%.<br />

Discussão<br />

O estudo cumpriu seu objetivo inicial: demonstrar<br />

a eficácia <strong>da</strong> <strong>hipnose</strong> durante o ecocardiograma<br />

transesofágico. A<strong>na</strong>lisando-se que uma menor parcela<br />

dos pacientes do grupo <strong>hipnose</strong> já havia realizado<br />

o ETE, em relação aos outros dois grupos,<br />

poder-se-ia pensar que isso, de certa forma, fosse<br />

desfavorecer os pacientes do grupo hipnotizado,<br />

haja vista a ansie<strong>da</strong>de ser maior, geralmente em pacientes<br />

que nunca realizaram o exame. Os resultados<br />

encontrados contradisseram essa ideia. A facili<strong>da</strong>de<br />

<strong>na</strong> execução do procedimento pelo médico,<br />

talvez possa ter contribuído para o menor tempo de<br />

duração do exame, no grupo <strong>hipnose</strong>, em relação<br />

aos dois outros grupos.<br />

A comparação realiza<strong>da</strong>, neste estudo, é inédita<br />

<strong>na</strong> literatura mundial. Até então, existiam estudos<br />

relacio<strong>na</strong>dos à aplicabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> <strong>hipnose</strong> como técnica<br />

se<strong>da</strong>tiva, ape<strong>na</strong>s em odontologia, durante realização<br />

de endoscopia digestiva alta, colonoscopia e<br />

broncoscopia. A publicação deste artigo deve suscitar<br />

interesse de outros pesquisadores <strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is e inter<strong>na</strong>cio<strong>na</strong>is,<br />

os quais deverão comprovar, por meio<br />

de outros estudos similares, em relação ao tema, a<br />

aplicabili<strong>da</strong>de desta técnica de fácil aplicação, baixíssimo<br />

ou nenhum custo e com bons resultados.<br />

A <strong>hipnose</strong> ain<strong>da</strong> enfrenta muitos preconceitos,<br />

tabus e mitos no meio médico. Mas isso tem fun<strong>da</strong>mento.<br />

Desde seus primeiros relatos, a história<br />

está repleta de charlatões que se aproveitavam <strong>da</strong><br />

ingenui<strong>da</strong>de de um povo, com menos conhecimento<br />

a respeito do tema, para propagar mentiras. Na<br />

atuali<strong>da</strong>de, tem-se <strong>da</strong>do mais espaço, <strong>na</strong> literatura e<br />

<strong>na</strong> mídia, para divulgação dessa técnica que impressio<strong>na</strong><br />

quem vê e encanta quem a ela se submete.<br />

A grande dificul<strong>da</strong>de para aplicabili<strong>da</strong>de clínica<br />

<strong>da</strong> <strong>hipnose</strong> reside no fato de muitos médicos resistirem<br />

ao uso de uma técnica nova e, infelizmente,<br />

com poucos estudos clínicos realizados. Se isso não<br />

bastasse, uma parcela significativa dos próprios pacientes,<br />

ao ouvirem falar do tema, reage com deboche<br />

até que recebam melhores explicações. Certamente<br />

com o surgimento de mais publicações<br />

sobre o tema, haverá mais médicos e profissio<strong>na</strong>is,<br />

habilitados <strong>na</strong> técnica hipnótica, aplicando em suas<br />

clínicas e hospitais essa nova mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de se<strong>da</strong>tiva.<br />

Conclusão<br />

Lima AS, et al. <strong>Aplicabili<strong>da</strong>de</strong> <strong>da</strong> <strong>hipnose</strong><br />

<strong>na</strong> <strong>ecocardiografia</strong> <strong>transesofágica</strong><br />

A <strong>hipnose</strong>, como técnica de preparo para o ETE<br />

em pacientes susceptíveis, mostrou-se superior em<br />

relação à técnica que utiliza ape<strong>na</strong>s anestesia tópica<br />

<strong>na</strong> orofaringe, quando a<strong>na</strong>lisados o grau de lembrança<br />

ou bem-estar referido pelo paciente. A se<strong>da</strong>ção<br />

hipnótica, associa<strong>da</strong> à anestesia tópica <strong>da</strong> orofaringe,<br />

resultou em uma maior facili<strong>da</strong>de <strong>na</strong> execução<br />

do procedimento pelo médico, frente à anestesia tópica<br />

isola<strong>da</strong> ou associa<strong>da</strong> à se<strong>da</strong>ção com mi<strong>da</strong>zolam.<br />

Quando a<strong>na</strong>lisa<strong>da</strong>s, isola<strong>da</strong>mente, a náusea e a dor<br />

pelo paciente durante o exame, não foi encontra<strong>da</strong><br />

diferença com significância estatística quanto à técnica<br />

de se<strong>da</strong>ção utiliza<strong>da</strong> neste estudo.<br />

29


Rev bras ecocardiogr imagem cardiovasc. 2011; 24(3):25-30<br />

Referências<br />

1. Passos ACM, Marcondes ICL. Hipnose: considerações<br />

atuais. São Paulo: Editora Atheneu; 1998.<br />

2. Conselho Federal de Medici<strong>na</strong>. Processo Consulta Nº<br />

2.172/97. Hipnose médica. Brasilia;1997.<br />

3. Conselho Regio<strong>na</strong>l de Medici<strong>na</strong> do Paraná. Parecer N.º<br />

1448/2002.[Acesso em 2008 jan 10].Disponivel em:<br />

http://www.crmpr.org.br<br />

4. Associação Portuguesa de Cardiopneumologistas (AP-<br />

TEC). Ecocardiografia Transesofágica. [Acessado em<br />

2009 abr 04]. Disponível em http://www.aptec.pt.<br />

5. Silva CES. Ecocardiografia : princípios e aplicações<br />

clínicas. Rio de Janeiro: Livraria e Editora Revinter<br />

Lt<strong>da</strong>; 2007.<br />

30<br />

6. Wolberg LR. Hypnosis in medicine. Bull NY Acad<br />

Med. 1964;40(2):97-115.<br />

7. Newman M. Dental hypnosis. J Am Dent Assoc.1973;<br />

86(1): 36.<br />

8. Cadranel JF, Benhamou Y, Zylberg P, Novello P, Luciani<br />

F, Valla D. Hypnotic relaxation: a new se<strong>da</strong>tive tool for<br />

colonoscopy? J Clin Gastroenterol.1994;18(2): 127-9.<br />

9. Conlong P, Rees W. The use of hypnosis in gastroscopy:<br />

a comparison with intravenous se<strong>da</strong>tion. Postgrad Med<br />

J. 1999;75(882): 223–36.<br />

10. Lang EV, Benotsch EG, Fick LJ, Lutgendorf J, Berbaum<br />

S, Logan H, et al. Adjunctive non-pharmacological<br />

a<strong>na</strong>lgesia for invasive medical procedures: a randomised<br />

trial. Lancet. 2000; 355(9214): 1486-90.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!