Competitividade - Diário Económico
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COMPETITIVIDADE<br />
ENTREVISTA António Portela, CEO do Grupo Bial<br />
“Não podemos focar<br />
toda a organização<br />
na redução de custos”<br />
Optimizar custos sem comprometer<br />
o crescimento e a inovação é<br />
uma preocupação central na Bial,<br />
empresa que canaliza anualmente<br />
mais de 20% da facturação para<br />
I&D. O CEO explica como.<br />
Como é que na Bial é assegurada<br />
a competitividadeearacionalidade<br />
dos custos numa perspectiva<br />
sustentável?<br />
Com procura permanente na<br />
racionalização das actividades,<br />
optimização de processos e manutenção<br />
de relações estáveis com<br />
fornecedores, mas que sejam competitivas<br />
em termos de condições<br />
financeiras. Existe a preocupação<br />
em ter uma estrutura funcional<br />
“magra”, eficiente e com níveis de<br />
desempenho elevados. A gestão é<br />
baseada em planos trienais, desdobrados<br />
em períodos anuais, e os últimos<br />
doze meses assentes numa<br />
periodicidade mensal.<br />
Quais as principais áreas monitorizadas<br />
e de que ferramentas<br />
se socorrem no que toca à optimização<br />
da estrutura de custos?<br />
Todasasáreasfuncionaistrabalham<br />
com base em planos de atividade,<br />
em orçamentos de exploração<br />
e de investimento mensais, e<br />
em indicadores mensais de desempenho.<br />
A maioria desses indicadores<br />
estão diretamente refletidos<br />
nasavaliaçõesdedesempenhodos<br />
colaboradores. Há uma permanente<br />
preocupação em cumprir com os<br />
orçamentos e indicadores e corrigirosdesvios.Osindicadoressão<br />
monitorizados de forma contínua.<br />
>6<br />
Depois de implementar medidas<br />
de otimização de custos,<br />
deixando pouca margem para<br />
economias adicionais, em situações<br />
limite, como o momento<br />
de austeridade que se<br />
vive, de que ferramentas se<br />
podem socorrer as empresas<br />
para conseguir reduções es-<br />
tratégicas de custos, e em que<br />
áreas?<br />
Em situações limite poderão<br />
ser repensadas áreas de negócio e<br />
revistos projectos de investimento.<br />
Existem sempre margens de melhoria<br />
em gestão de recursos. Mas<br />
é importante fazê-lo em equilíbrio<br />
com o crescimento do negócio.<br />
Não podemos focar a organização<br />
toda na redução de custos e não em<br />
crescimento. Idealmente, devemos<br />
apostar na procura de oportunidades<br />
de crescimento.<br />
Que erros devem ser evitados<br />
em matéria de optimização de<br />
custos, sobretudo numa empresa<br />
como a Bial, cuja atividade<br />
assenta na investigação e<br />
desenvolvimento?<br />
É importante manter uma perspetiva<br />
de negócio a médio prazo.<br />
Há que evitar as reações emocionais<br />
e sob pressão, que em vez de<br />
cortarem “gorduras” eliminam o<br />
“músculo” e a capacidade competitiva<br />
das empresas. Apesar da<br />
pressão, devemos evitar comprometero<br />
crescimento da empresa. O<br />
desenvolvimento de um novo medicamento<br />
inovador demora 10 a<br />
12anoseotempodepatenteconta<br />
desde o início, pelo que é fundamental<br />
manter uma perspetiva de<br />
médio prazo.<br />
Em períodos de menor liquidez,<br />
como o que se atravessa, a gestão<br />
e o custo do fundo de maneio<br />
apresentam-se como dois grandes<br />
desafios. Como garantem<br />
umagestãooptimizadadofundo<br />
de maneio?<br />
Monitorizando as principais<br />
rúbricas que afectam o fundo de<br />
maneio, como os ‘stocks’, os prazos<br />
de recebimento de clientes e de<br />
pagamento a fornecedores. Obtendo<br />
boas condições comerciais, que<br />
minimizem as necessidades de fundo<br />
de maneio, e encurtando os processos.<br />
Por outro lado, é também<br />
importante manter uma gestão de<br />
médio prazo, para evitarmos situações<br />
de maioraperto em momentos<br />
como o que vivemos atualmente.<br />
A Bial vai investir, em 2012, 40<br />
milhões de euros em I&D. É a<br />
prova de que é possível, num<br />
momento de austeridade, optimizar<br />
custos sem comprometer<br />
a inovação e o crescimento?<br />
O valor que refere já resulta de<br />
uma importante seleção das áreas e<br />
projectos prioritários de investimento,<br />
tendo em atenção a actual<br />
“<br />
É preocupante<br />
para a<br />
competitividade<br />
das empresas<br />
portuguesas<br />
o presente nível<br />
das taxas de juro.<br />
conjuntura económica e financeira.<br />
Temosprojetosemcursoquepoderiam<br />
absorver um volume de investimento<br />
muito maior , mas é necessário<br />
ser realista e prudente.<br />
Além de menos disponível, o capital<br />
está também mais caro,<br />
constituindo um grande desafio<br />
para muitos negócios, sobretudo<br />
os que exigem maior investimento.<br />
Como procuram contornar<br />
ou enfrentar esse desafio?<br />
Uma das formas foi realizar financiamentos<br />
de médio prazo, com<br />
taxas de juro e ‘spreads’ fixos. É<br />
preocupante para a competitividade<br />
das empresas portuguesas o presente<br />
nível das taxas de juro, sem<br />
paralelo com os restantes países da<br />
União Europeia. Estão a ser pagas<br />
taxas de juro reais muito elevadas,<br />
com um diferencial significativo<br />
face às empresas de outros países.<br />
Quandoaapostaprioritáriaparao<br />
crescimento da economia são as<br />
exportações, este nível elevado de<br />
taxas de juro é um factor de redução<br />
de competitividade internacional<br />
para as nossas empresas.<br />
Reconheceu à comunicação social<br />
que deviam investir ainda<br />
mais, e que deixaram de lado investimentos<br />
“não core” para o<br />
desenvolvimento da empresa.<br />
Pode explicar, numa óptica de<br />
gestão, o motivo do adiamento?<br />
A prioridade foram os projetos<br />
de investigação em fases mais<br />
avançadas e com retorno financeiro<br />
previsto nos contratos de licenciamento<br />
já assinados. Na actual conjuntura<br />
nacional, mas também internacional,<br />
não era aconselhável a<br />
Bial ter um investimento superior.<br />
Relativamente aos designados<br />
custos de contexto das empresas,<br />
que medidas gostaria de<br />
ver tomadas tendo em vista a<br />
sua redução?<br />
Ter a actividade em Portugal é<br />
tradicionalmente um factor negativo,<br />
mas que foi fortemente agravado<br />
nos últimos dois anos. A imagem<br />
de Portugal, em particular nos<br />
mercados financeiros, as cotações<br />
de ‘rating’ da dívida pública, a necessidade<br />
de intervenção internacional,<br />
prejudicam o desenvolvimento<br />
das empresas portuguesas<br />
de múltiplas formas. O mercado<br />
nacional está, na grande maioria<br />
dos sectores, em crise, não sendo o<br />
mercado farmacêutico excepção.<br />
A escassez de crédito às empresas<br />
privadas é preocupante, o custo do<br />
financiamento é muito elevado, a<br />
quesesomamotradicionalcusto<br />
elevado da energia, uma legislação<br />
laboral rígida, uma legislação fiscal<br />
complexa e em permanente<br />
mudança, uma justiça lenta e uma<br />
burocracia pesada e pouco amiga<br />
da actividade empresarial.