Cesar Augusto Cruz da Silva
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DIDÁTICA E INTEGRAÇÃO CURRICULAR NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E<br />
ADULTOS: DES-ENTENDIMENTOS TEÓRICOS E PRÁTICOS DE EX-<br />
PROFESSORES DO PROGRAMA NACIONAL DE INTEGRAÇÃO DA<br />
EDUCAÇÃO PROFISSIONAL COM A EDUCAÇÃO BÁSICA NA<br />
MODALIDADE DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS (PROEJA)<br />
Resumo<br />
<strong>Cesar</strong> <strong>Augusto</strong> <strong>Cruz</strong> <strong>da</strong> <strong>Silva</strong><br />
Pe<strong>da</strong>gogo pela Universi<strong>da</strong>de Federal do Paraná (UFPR) e Mestrando em Tecnologia e<br />
Socie<strong>da</strong>de pela Universi<strong>da</strong>de Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). E-mail:<br />
cesaraugustocruz2006@yahoo.com.br.<br />
Este artigo refere-se a uma pesquisa que trata do entendimento dos conceitos<br />
de didática e de integração curricular por parte de alguns professores que<br />
atuaram no Programa Nacional de Integração <strong>da</strong> Educação Profissional com a<br />
Educação Básica na Mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de de Educação de Jovens e Adultos (PROEJA)<br />
no curso de administração de um Colégio Estadual X 1 , localizado na Região<br />
Metropolitana de Curitiba (RMC) na Área Metropolitana Norte. Entre os<br />
objetivos desta pesquisa pode-se colocar: identificar o perfil dos professores<br />
que atuaram no PROEJA 2 e que ain<strong>da</strong> atuam no mesmo colégio; discutir<br />
alguns aspectos acerca de seus entendimentos teóricos e práticos sobre os<br />
referidos conceitos e, por último, proceder a uma breve discussão sobre a<br />
relação <strong>da</strong>s políticas públicas em detrimento <strong>da</strong> apreensão destas no âmbito<br />
escolar. A metodologia utiliza<strong>da</strong> à pesquisa foi descritiva do tipo levantamento<br />
quantitativo. Com esta pesquisa, constatou-se a prematuri<strong>da</strong>de dos<br />
professores (licenciados e bachareis) no que tange aos conceitos de didática e<br />
integração curricular, bem como a aplicação destes em suas aulas. Percebese,<br />
aqui, um significativo abismo entre o que os órgãos normativos instituem<br />
como política ao que a escola realiza, ou seja, aponta-se que a política não se<br />
materializa tal qual ela foi pensa<strong>da</strong>.<br />
Palavras-chave: PROEJA; Didática; Integração Curricular; Políticas<br />
Educacionais.<br />
1 Tal nomenclatura refere-se ao campo de pesquisa que proporcionou empiria para a<br />
realização deste artigo e que atendendo ao pedido do coordenador <strong>da</strong> Educação Profissional<br />
deste colégio, o nome <strong>da</strong> instituição de ensino não será divulgado.<br />
2 Esse Programa integra as políticas educacionais brasileiras, tendo sido instituído pelo Decreto<br />
Federal nº 5.478, de 24/06/2005 que, inicialmente, seria ofertado apenas em Instituições<br />
Federais de Educação Tecnológica. Mas foi revogado pelo Decreto Federal nº 5. 840, de<br />
13/07/2006, onde a abrangência desse Programa foi amplia<strong>da</strong> no sentido <strong>da</strong> oferta. Além de<br />
Instituições Federais, contemplou-se as redes estaduais, municipais e priva<strong>da</strong>s por intermédio<br />
<strong>da</strong> Educação Básica. É importante ressaltar que o PROEJA é componente de uma Política de<br />
Governo instituí<strong>da</strong> e implementa<strong>da</strong> durante a administração do Presidente Lula.
CONSIDERAÇÕES INICIAIS<br />
A pesquisa ora apresenta<strong>da</strong> se refere ao curso <strong>da</strong> mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de de<br />
educação profissional no âmbito do PROEJA, ofertado pelo Colégio Estadual<br />
X, mantido pela Secretaria do Estado <strong>da</strong> Educação (SEED) e está localizado<br />
na área norte <strong>da</strong> RMC.<br />
As pesquisas para elaboração deste artigo perseguiram a identificação<br />
do perfil dos professores que atuaram no PROEJA no curso de administração<br />
na supracita<strong>da</strong> instituição de ensino nos anos de 2008, 2009 e 2010, bem<br />
como compreender o entendimento dos referidos professores no que tange as<br />
definições de alguns tópicos essenciais quando se trata do trabalho<br />
pe<strong>da</strong>gógico no âmbito <strong>da</strong> Educação de Jovens e Adultos integra<strong>da</strong> à Educação<br />
Profissional.<br />
O interesse de proceder a esta pesquisa instaurou-se a partir de um<br />
breve mapeamento realizado para <strong>da</strong>r início na coleta de <strong>da</strong>dos referentes à<br />
minha pesquisa de Mestrado 3 . Este colégio pesquisado iniciou o curso no ano<br />
de 2008 com uma turma composta por trinta e oito alunos. To<strong>da</strong>via, até o início<br />
do segundo semestre do mesmo ano, cinco alunos já haviam abandonado o<br />
colégio, no ano de 2009 quinze estu<strong>da</strong>ntes abandonaram o curso e, em 2010<br />
(ano de conclusão/formatura), mais treze alunos foram “vomitados” para fora<br />
do “bojo” 4 <strong>da</strong> escola. Sendo assim, totalizaram-se cinco alunos remanescentes<br />
e concluintes deste curso 5 .<br />
Sobre a questão do abandono escolar, Adriana Almei<strong>da</strong> (2008), em sua<br />
pesquisa de mestrado, procede a um estudo aprofun<strong>da</strong>do sobre a referi<strong>da</strong><br />
questão partindo de discursos de alunos, professores e coordenadores. A partir<br />
desses <strong>da</strong>dos coletados, Almei<strong>da</strong> visa apontar as causas <strong>da</strong> “evasão” (termo<br />
adotado pela autora) e direciona-se para possíveis interpretações a partir de<br />
3 Esta pesquisa visa trabalhar a história do PROEJA em um município <strong>da</strong> Região Metropolitana<br />
de Curitiba desde o momento de sua implementação até a “rejeição” deste Programa<br />
sustenta<strong>da</strong> e alimenta<strong>da</strong> pela falta de deman<strong>da</strong> e pela não permanência dos alunos. Esta<br />
pesquisa está em an<strong>da</strong>mento sob orientação do Professor Doutor Mário Lopes Amorim.<br />
4 Estes termos foram utilizados para incitar a seguinte discussão: Em que medi<strong>da</strong>s as políticas<br />
resignificam o espaço escolar? Os alunos “evadem” ou “abandonam” a escola? As políticas são<br />
elabora<strong>da</strong>s para jovens e adultos imaginários ou existentes? As políticas são pensa<strong>da</strong>s a partir<br />
<strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de ou <strong>da</strong> utopia? Essas políticas adquirem aderência no espaço escolar?<br />
5 Tais informações foram coleta<strong>da</strong>s a partir de um diálogo inicial não estruturado com o<br />
coordenador <strong>da</strong> educação profissional do colégio pesquisado.
um viés crítico. Em um determinado momento de seu trabalho, a autora coloca<br />
uma citação de Arroyo (2006) onde ele coloca uma questão crucial no que se<br />
refere às especifici<strong>da</strong>des do processo de aprendizagem na Educação de<br />
Jovens e Adultos (EJA):<br />
“[...] a reconfiguração <strong>da</strong> EJA não pode começar por perguntarnos<br />
pelo seu lugar no sistema de educação e menos pelo seu<br />
lugar nas mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des de ensino. [...] O ponto de parti<strong>da</strong><br />
deverá ser perguntar-nos quem são esses jovens e adultos”.<br />
(ARROYO apud ALMEIDA, 2008, p. 97)<br />
Este aspecto apresentado por Arroyo (2006) e ressaltado por Almei<strong>da</strong><br />
(2008) deveria ser considerado, sem demagogia, por relatores e conselheiros<br />
de Pareceres e para pensar/estruturar uma política pública 6 . Quando se trata<br />
<strong>da</strong> definição de uma política de governo destina<strong>da</strong> à educação (e outros<br />
subsistemas sociais), fica evidente a necessi<strong>da</strong>de de tomar como princípio a<br />
formação humana – prioritariamente. De acordo com Kuenzer (2001),<br />
“Para definir uma política de governo em uma socie<strong>da</strong>de<br />
complexa, absolutamente díspar sobre diversos ângulos, há<br />
que se ter os pés no chão: jamais esconder as ver<strong>da</strong>deiras<br />
causas do problema que se deseja enfrentar e resolver. Para<br />
resolver problemas complexos não pode haver soluções<br />
simplifica<strong>da</strong>s, sob o risco de cair no simplismo analítico e<br />
propor medi<strong>da</strong>s inadequa<strong>da</strong>s, populistas, demagógicas,<br />
clientelistas”. (KUENZER, 2001 p. 25)<br />
Logo, evidencia-se a necessi<strong>da</strong>de de cambiar o discurso permeado pela<br />
lógica economicista que emaranha-se nos processos políticos educacionais.<br />
Parafraseando István Mészáros no que tange ao título de uma de suas obras, a<br />
educação dever ir “para além <strong>da</strong> lógica do capital” desfazendo sua maneira<br />
organizacional coloca<strong>da</strong>, historicamente, pelo viés mercadológico.<br />
6 Um exemplo desse desinteresse por não partir <strong>da</strong>s reais necessi<strong>da</strong>des vivencia-se<br />
atualmente, quando Francisco Aparecido Cordão, na função de relator, apresenta “seus<br />
manuscritos” que tratam <strong>da</strong> Atualização <strong>da</strong>s Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação<br />
Profissional Técnica de Nível Médio. Percebe-se que o texto de Cordão (2011) está permeado<br />
por uma linguagem prescritiva, pouco reflexiva, pouco dialógica e bor<strong>da</strong><strong>da</strong> numa linguagem<br />
pragmática. Em medi<strong>da</strong>s aparentes, o referido relator atualiza e mantém o vigente Parecer<br />
16/99 que trata <strong>da</strong>s Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Profissional Técnica de<br />
Nível Médio que, também, foi relata<strong>da</strong> por Cordão.
DESCRIÇÃO DA PESQUISA E RESULTADOS<br />
A metodologia utiliza<strong>da</strong> à pesquisa foi descritiva do tipo levantamento<br />
quantitativo com investigação em campo por meio de questionário 7<br />
(instrumento de coleta de <strong>da</strong>dos), com perguntas abertas e fecha<strong>da</strong>s, aplicados<br />
no período de 03 a 26 de junho de 2011, quando foram questionados sete<br />
professores que atuaram no PROEJA nos anos de 2008 e/ou 2009 e/ou 2010<br />
no Colégio Estadual X 8 .<br />
Inicia-se, então, a exposição dos resultados desta pesquisa apontando<br />
que a faixa etária desses professores aparece de forma diversifica<strong>da</strong>. Dos sete<br />
pesquisados, três têm de 18 a 30 anos, outros três de 31 a 40 e um de 51 a 65.<br />
Um <strong>da</strong>do importante é que, dos sete professores, apenas dois são<br />
funcionários efetivos do Estado (concursados) e cinco trabalham como<br />
professores contratados pelo Processo de Seleção Simplificado (PSS).<br />
De acordo com as respostas desses pesquisados, as formações variam<br />
entre bacharelado (administração e direito) e licenciatura (Letras, Matemática e<br />
Geografia). Do total de professores, 4 trabalharam alguma disciplina <strong>da</strong> área<br />
técnica e 3 <strong>da</strong> cultura geral. As disciplinas trabalha<strong>da</strong>s pelos professores <strong>da</strong><br />
área técnica são: Teoria Geral <strong>da</strong> Administração (TGA), Matemática Financeira,<br />
Informática e Introdução ao Direito. Aos professores pesquisados <strong>da</strong> parte<br />
geral do currículo: Língua Portuguesa, Matemática e História.<br />
Sobre o tempo de atuação desses profissionais na educação, o mais<br />
experiente em termos de tempo, atua na educação há dez anos e o pesquisado<br />
com menos experiência atua na educação há apenas dois anos, esses <strong>da</strong>dos<br />
apontam para uma média de cinco anos de atuação em educação por parte<br />
desses professores. Sobre o tempo de atuação na EJA, o mais experiente<br />
carrega quatro anos de prática docente, ao passo que o menos experiente<br />
trabalha há dois anos com esse público, então, os <strong>da</strong>dos do total de<br />
pesquisados apontam para uma média de dois anos e cinco meses de atuação<br />
7 Este, por sua vez, encontra-se anexado a este artigo.<br />
8 Um primeiro contato pessoal na instituição pesquisa<strong>da</strong> exigiu um diálogo situacional com o<br />
coordenador <strong>da</strong> educação profissional do colégio e, durante a “conversa”, este gestor trouxe<br />
informações extremamente relevantes que já foram aponta<strong>da</strong>s neste artigo.
na EJA. Sobre o tempo de atuação na educação profissional, os <strong>da</strong>dos são<br />
similares aos do tempo de trabalho na EJA.<br />
A primeira pergunta aberta trata do entendimento dos professores no<br />
que se refere ao termo didática. As respostas podem ser coloca<strong>da</strong>s em três<br />
grupamentos 9 , são eles: “Didática são métodos e formas de aplicar conteúdos”;<br />
“São formas de se <strong>da</strong>r uma aula”; “Refere-se ao comportamento dos<br />
professores em sala de aula”. Quatro professores compõem o primeiro grupo,<br />
dois o segundo e apenas um compõe o terceiro.<br />
Em segui<strong>da</strong>, foi-lhes perguntado sobre seus entendimentos de didática<br />
no âmbito do PROEJA. Para esta in<strong>da</strong>gação, também pode-se organizar as<br />
respostas em três grupamentos, são eles: “Fazer com que o aluno interaja e/ou<br />
relacione conteúdo com prática”; “Flexibilizar a aprendizagem”; “selecionar<br />
conteúdos mais significativos para estu<strong>da</strong>ntes adultos”. Três professores<br />
alocam-se no primeiro, mais três no segundo e apenas um no terceiro.<br />
No decorrer o questionário traz questões relativas à prática desses<br />
pesquisados quando atuaram no PROEJA. De inicio, pergunta-se sobre o<br />
apoio <strong>da</strong> equipe pe<strong>da</strong>gógica e <strong>da</strong> coordenação do curso no que se relativa à<br />
didática em detrimento às necessi<strong>da</strong>des dos alunos. Aqui, cinco dos sete<br />
pesquisados afirmam que sim, houve apoio <strong>da</strong> coordenação (três destes<br />
assestam que “a coordenação é presente e atenciosa aos alunos” e outros dois<br />
assestam que “sim, esse apoio ocorreu nos Conselhos de Classe). Em<br />
contraparti<strong>da</strong>, dois professores afirmam que não porque “a coordenação fica<br />
encarrega<strong>da</strong> mais de assuntos burocráticos”.<br />
Seguindo o questionário, foi pedido aos pesquisados que versassem<br />
sobre suas tentativas de integração dos conteúdos <strong>da</strong>s diversas disciplinas.<br />
Neste momento, cinco pesquisados responderam que procedia a integração<br />
“quando <strong>da</strong>va tempo” porque “o tempo não é suficiente para trabalhar todos os<br />
conteúdos <strong>da</strong> disciplina”, um destes ain<strong>da</strong> colocou que “os alunos do PROEJA<br />
são mais lentos para aprender os conteúdos”. Em detrimento a esses cinco<br />
professores, dois responderam que integravam suas disciplinas trabalhando<br />
9 Estes grupamentos foram estabelecidos durante a tabulação dos <strong>da</strong>dos com base nas<br />
respostas similares e/ou com sentidos bem próximos.
projetos com colegas de outras áreas. Em síntese, não houve nenhuma<br />
resposta concretamente negativa no sentido de não integrar os conteúdos.<br />
Depois, o questionamento deslocou-se para a seguinte questão: “a<br />
disciplina que você ministrou está de acordo com sua formação?”. Dois<br />
professores afirmaram que não. Um destes é formado em administração de<br />
empresas e trabalhou com a disciplina de informática e outro é formado em<br />
geografia, mas trabalhou (e ain<strong>da</strong> trabalha) com a disciplina de história.<br />
Na tentativa de aproximar a discussão ora apresenta<strong>da</strong> aos cursos de<br />
formação de docentes, pergunta-se aos pesquisados se os conhecimentos<br />
sobre educação e ensino adquiridos durante a graduação foram suficientes<br />
para efetivar atuação na EJA. Um dos professores não respondeu a pergunta,<br />
três afirmam que sim “porque tiveram disciplinas pe<strong>da</strong>gógicas durante a<br />
licenciatura”, outros três dizem que não, “os conhecimentos não foram<br />
suficientes porque são bachareis e não foram formados para a docência,<br />
especificamente”.<br />
A penúltima questão trata do entendimento, por parte desses<br />
professores, sobre currículo integrado. Nesta ocasião, três pesquisados<br />
asseveram que “currículo integrado é formar na educação profissional e na<br />
educação básica ao mesmo tempo”. Outros dois colocaram como sendo “várias<br />
áreas do conhecimento visando formar o sujeito de forma integra<strong>da</strong>” e dois não<br />
responderam a pergunta.<br />
Para finalizar, pediu-se a opinião dos pesquisados sobre o “fim” do<br />
PROEJA na referi<strong>da</strong> instituição. De maneira simplista, acrítica e unânime, os<br />
sete pesquisados acreditam que não há deman<strong>da</strong> e há muito abandono.<br />
Transcrevendo a resposta de um dos pesquisados: “O mercado de alunos<br />
específico ficou descoberto”.<br />
Partindo <strong>da</strong> resposta do referido pesquisado abrem-se relevantes<br />
questões: Os documentos oficiais não partem de uma visão histórica e social<br />
de escola, de educação, de homem e de socie<strong>da</strong>de? O Documento Base do<br />
PROEJA traz o termo mercado de alunos? O que acontece com a escola? São<br />
os professores que não dão conta de interpretar documentos de base? É a
gestão que não trabalha em conjunto com os docentes? São as políticas de<br />
formação continua<strong>da</strong> que não estão <strong>da</strong>ndo conta de transmitir a essência dos<br />
Programas aos professores? As políticas educacionais são de Marte e a escola<br />
está na Terra? A lógica de mercado está fortemente perpetra<strong>da</strong> na socie<strong>da</strong>de<br />
contemporânea? Enfim, são apenas in<strong>da</strong>gações inicias no que tange as<br />
colocações dos pesquisados, as quais serão analisa<strong>da</strong>s, de forma sucinta, nas<br />
considerações finais.<br />
O PROEJA: ASPECTOS TEÓRICOS 10<br />
“O Estado através de sua política educacional só é<br />
o ator e a causa central do funcionamento do<br />
moderno sistema de educação capitalista,<br />
aparentemente. Em ver<strong>da</strong>de seu papel é o de<br />
mediador dos interesses <strong>da</strong> classe dominante”<br />
Bárbara Freitag, 1986<br />
Compreender a relação Educação e Trabalho é determinante ao analisar<br />
a políticas educacionais volta<strong>da</strong>s para a educação profissional e para o ensino<br />
médio enquanto componente <strong>da</strong> educação básica como último nível desta que<br />
apresenta-se na Lei de Diretrizes e Bases 9394/96 (LDB) como estabelecendo<br />
estreita relação com o mundo do trabalho e o sistema produtivo. Sobre tal<br />
relação, inúmeros teóricos encarregam-se de pensar e estabelecer críticas que,<br />
por conseguinte, vêm avançando em termos conceituais e práticos para<br />
efetivação de uma educação emancipatória, histórica, critica e dialógica.<br />
Nesta pesquisa, apresentou-se resultados que demonstram a má<br />
formação inicial e continua<strong>da</strong> de professores, visões equivoca<strong>da</strong>s sobre os<br />
princípios do Programa em pesquisa, falta de interlocução resignifictiva entre<br />
coordenação e corpo docente, formação simplista sem integração entre ciência<br />
e técnica contrapondo-se, assim, a efetivação de uma política que toma o<br />
10 Para os aspectos teóricos, utilizou-se autores trabalhados na disciplina Educação,<br />
Tecnologia e Socie<strong>da</strong>de oferta<strong>da</strong> pelo curso de Pós-Graduação (Mestrado e Doutorado) em<br />
Tecnologia <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR); Autores trabalhados na<br />
disciplina de Ensino Médio e Profissional: Políticas e Processos oferta<strong>da</strong> pelo curso de Pós-<br />
Graduação (Mestrado e Doutorado) em Educação <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal do Paraná (UFPR);<br />
Teóricos que tomam o trabalho como centrali<strong>da</strong>de no que se refere a relação entre Educação e<br />
Trabalho; Documentos de Base - Federal e Estadual -específicos para o PROEJA.
trabalho como principio educativo e o humano enquanto ser histórico e social e,<br />
mais uma vez, confirma-se a tese levanta<strong>da</strong> por SILVA (2008),<br />
“As proposições de mu<strong>da</strong>nça curricular por meio de uma<br />
reforma educacional têm, sobre a escola, alcance limitado (...)<br />
Há, portanto, um distanciamento entre a produção do discurso<br />
oficial e sua incorporação pelas instituições.” (SILVA, 2008 p.<br />
34)<br />
Então, há um duplo movimento que se dá de forma diferencia<strong>da</strong>.<br />
Primeiro produz-se uma ideia, uma proposta no âmbito oficial e, depois, há<br />
uma interpretação de acordo com as possibili<strong>da</strong>des e necessi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> escola<br />
– partindo desses pressupostos é que se pode afirmar que há um alcance<br />
limitado acerca <strong>da</strong>s proposições de mu<strong>da</strong>nça curricular, um abismo entre<br />
propostas políticas e ação escolar.<br />
Tal limitação pode ser explica<strong>da</strong> a partir de várias nuances teóricas 11 .<br />
Sobre a desqualificação <strong>da</strong> escola, Frigotto corrobora quando afirma,<br />
“A desqualificação <strong>da</strong> escola não pode ser vista apenas como<br />
resultante <strong>da</strong>s falhas dos recursos financeiros ou humanos, ou<br />
<strong>da</strong> incompetência, mas como uma decorrência do tipo de<br />
mediação que ela efetiva no interior do capitalismo<br />
monopolista” (FRIGOTTO, 2006 p. 134)<br />
Logo, o capital organizado para efetivar acumulação/concentração de<br />
ren<strong>da</strong> e lucro exige que haja, ca<strong>da</strong> vez mais, trabalho improdutivo. Com isso, a<br />
educação escolar acaba sendo um mecanismo de controle no sentido de<br />
conservar o funcionamento do sistema capitalista de produção. Como bem<br />
aponta LETIERI quando ressalta que “o capitalismo de hoje de fato não recusa<br />
o direito à escola: o que ele recusa é mu<strong>da</strong>r a função social <strong>da</strong> escola”.<br />
Na tentativa de superar a duali<strong>da</strong>de estrutural (que expropria um<br />
significativo grupo social do conhecimento) estabeleci<strong>da</strong> historicamente na<br />
educação profissional, o Documento Base para o PROEJA (BRASIL, 2007)<br />
indica que a implantação deste Programa justifica-se pela insuficiência de<br />
políticas de Estado, pela fragmentação <strong>da</strong>s políticas educacionais e pela<br />
histórica elitização <strong>da</strong> educação brasileira.<br />
11 Não é objetivo deste artigo apresentar e discutir acerca destas. Entretanto, a contribuição de<br />
Frigotto quando coloca aspectos acerca <strong>da</strong> “produtivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> escola improdutiva” (2006)<br />
aparece como sendo uma <strong>da</strong>s explicações para que ocorra tal fenômeno.
Procedendo a análise do Documento Base, fica evidente a<br />
necessi<strong>da</strong>de de estabelecer integração entre cultura geral e cultura<br />
específica, pois, como pondera o Documento o PROEJA visa ofertar uma<br />
educação que se efetive, não para a<strong>da</strong>ptar o trabalhador a um mero<br />
oficio de formas passiva e subordina<strong>da</strong>, mas que se estabeleça uma<br />
“formação pela perspectiva de um processo crítico, emancipador e<br />
fertilizador de outro mundo possível” (BRASIL, 2007 p. 36).<br />
De acordo com o Documento orientador <strong>da</strong> SEED para o PROEJA<br />
(PARANÁ, 2007) a questão <strong>da</strong> integração nos projetos político-<br />
pe<strong>da</strong>gógicos, ressalta-se a forma integra<strong>da</strong> entre epistemologia, os<br />
conteúdos e as metodologias,<br />
“O que se pretende é uma integração epistemológica de<br />
conteúdos, de metodologia e de práticas educativas. Refere-se<br />
a uma integração teoria-prática, entre o sabe e o saber-fazer.<br />
Em relação ao currículo, pode ser traduzido em termos de<br />
integração entre uma formação humana mais geral, uma<br />
formação para o ensino médio e para a formação profissional.”<br />
(PARANÁ, 2007, p. 19)<br />
Outro aspecto relevante a refletir, refere-se ao tratamento didático no<br />
PROEJA. O termo didática está relacionado às concepções de ensino, homem<br />
e socie<strong>da</strong>de. Logo, preconiza-se a necessi<strong>da</strong>de de estabelecer uma práxis<br />
pe<strong>da</strong>gógica emancipadora, histórica, crítica e dota<strong>da</strong> de significados para os<br />
que vivem do trabalho 12 . Nesse sentido, o Documento Base afirma que,<br />
“A organização curricular é uma construção contínua,<br />
processual e coletiva que envolve todos os sujeitos que<br />
participam do Programa. Considera-se que a EJA abre<br />
possibili<strong>da</strong>des de superação de modelos curriculares<br />
tradicionais, disciplinares e rígidos”. (BRASIL, 2007, p. 52)<br />
Logo, a didática só será compreendi<strong>da</strong> e bem trabalha<strong>da</strong> quando os<br />
sujeitos <strong>da</strong> educação compreender que esta concepção parte de uma proposta<br />
política e pe<strong>da</strong>gógica maior, referencial. E essa proposta, então, permeará os<br />
temas fun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong> didática que, segundo Santos são,<br />
12 Sabe-se que os indivíduos <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de atual vivem do trabalho, sendo ricos ou pobres,<br />
burguês ou proletariado. To<strong>da</strong>via, o termo “os que vivem do trabalho” aponta para aqueles<br />
trabalhadores que vendem sua mão- de- obra por um baixo custo e que, por conseguinte, não<br />
obtém lucro desse trabalho. Para saber mais sobre este termo ver Acácia Zenei<strong>da</strong> Kuenzer<br />
quando organiza um livro intitulado de “Ensino Médio: construindo uma proposta para os que<br />
vivem do trabalho” (2001).
“A didática trata de quatro temas fun<strong>da</strong>mentais: objetivos<br />
educacionais, conhecimentos (conteúdos), metodologia de<br />
ensino e avaliação, que, devido a influência <strong>da</strong> racionali<strong>da</strong>de<br />
moderna, têm sido tratados dentro <strong>da</strong> lógica de simplificação,<br />
de dividir e descontextualizar” (SANTOS, 2003, p. 69)<br />
Por fim, evidencia-se a importância de DES-construir a didática<br />
perpetra<strong>da</strong> na lógica populista oriun<strong>da</strong> de uma Pe<strong>da</strong>gogia Tradicional e, de<br />
certa forma, propor ações dialógicas no sentido de reverter esse quadro que<br />
exibe a didática como sendo um processo de domesticação, autoritarismo e<br />
exclusão.<br />
CONSIDERAÇÕES FINAIS A PARTIR DE UMA BREVE ANÁLISE DOS<br />
RESULTADOS<br />
Este trabalho aqui descrito merece uma análise mais cui<strong>da</strong>dosa e<br />
aprofun<strong>da</strong><strong>da</strong> no que se refere ao tema trabalhado. Estas são apenas reflexões<br />
iniciais acerca deste problema encontrado numa instituição de ensino X.<br />
Então, como considerações finais, pode-se colocar a necessi<strong>da</strong>de de<br />
uma política de Estado que efetivem professores que, por hora, apresentam-se<br />
em situação de contrato temporário de trabalho, tornando-o, assim, um trabalho<br />
vulnerável e não estabilizado.<br />
No que se refere aos conceitos de didática e integração curricular<br />
apresentados pelos pesquisados, percebe-se um significativo distanciamento<br />
entre o que está prescrito e proposto nos Documentos Base ao discurso dos<br />
profissionais <strong>da</strong> educação, no caso deste colégio X. A gestão escolar tem o<br />
dever de proceder ao acompanhamento desses professores no momento <strong>da</strong><br />
realização de seus trabalhos, capacitando-os (de maneira não arbitrária) no<br />
tocante às suas fragili<strong>da</strong>des teóricas e práticas. Contudo, esses coordenadores<br />
componentes <strong>da</strong> gestão escolar também devem estar formados no sentido <strong>da</strong><br />
essência <strong>da</strong>s propostas políticas e pe<strong>da</strong>gógicas.<br />
Outro aspecto importante a ser ressaltado é que, com base nas<br />
respostas dos pesquisados, pode-se concluir que estes não têm noção <strong>da</strong>
dimensão ontológica do trabalho nem <strong>da</strong> dimensão expansiva do conceito de<br />
educação. Logo, estão incapacitados de proceder a uma ação pe<strong>da</strong>gógica que<br />
tomem o trabalho como principio educativo. O ápice desta percepção se dá no<br />
momento em que, de maneira unânime, os professores afirmam que o fim do<br />
PROEJA na instituição em que atuam, refere-se “a não cobertura do mercado<br />
específico de alunos”.<br />
Deve-se salientar que tais considerações não estão colocando a culpa<br />
do fracasso do PROEJA <strong>da</strong> referi<strong>da</strong> instituição sobre as responsabili<strong>da</strong>des dos<br />
professores. Não é possível indicar um “culpado” para todos os problemas<br />
apresentados aqui. O que se pode afirmar, por hora, é que a histórica divisão<br />
social do trabalho; a estratificação/expropriação do processo do conhecer e<br />
outros fatores sociais, políticos, econômicos e culturais fazem parte de uma<br />
totali<strong>da</strong>de que conjectura a exclusão na educação. To<strong>da</strong>via, este artigo trata <strong>da</strong><br />
visão de professores, logo, as considerações serão sobre estes profissionais e<br />
seus entendimentos apresentados para as respostas do questionário aplicado.<br />
REFERÊNCIAS<br />
ALMEIDA, Adriana. Um estudo do E no processo de implantação no estado<br />
do Paraná do PROEJA: problematizando as causas <strong>da</strong> evasão / Adriana de<br />
Almei<strong>da</strong>. – Curitiba, 2008.<br />
BRASIL. Decreto nº 5.478, de 24 de junho de 2005. Institui no âmbito <strong>da</strong>s<br />
instituições federais de educação tecnológica, o PROEJA.<br />
BRASIL. Decreto nº 5.840, de 13 de julho de 2006. Institui no âmbito federal o<br />
PROEJA e dá outras providências.<br />
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