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Martin Soares e o "Cantar do Cavaleiro" - Seminário Medieval de ...

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Os troba<strong>do</strong>res e as molheres<br />

<strong>de</strong> vossos cantares son noja<strong>do</strong>s<br />

a ũa, porqu'eu pouco daria<br />

pois mi <strong>do</strong>s outros fossem loa<strong>do</strong>s,<br />

ca eles non sabem que xi van fazer;<br />

queren bon son e bõo <strong>de</strong> dizer<br />

e os cantares fremosos e rima<strong>do</strong>s.<br />

E tod'aquesto é mao <strong>de</strong> fazer<br />

a quen os sol fazer <strong>de</strong>sigua<strong>do</strong>s 8 ..<br />

Neste cantar, como em alguns outros, estamos longe <strong>de</strong> um terreno<br />

interpretativo isento <strong>de</strong> equívocos e <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>s, mesmo no plano estritamente<br />

literal. A mais relevante dificulda<strong>de</strong> resulta, a nosso ver, da interpretação da quarta<br />

cobla, que aqui é já <strong>de</strong> algum mo<strong>do</strong> solucionada pela disposição da pontuação. Com<br />

efeito, a locução “a ũa” refere-se aos “troba<strong>do</strong>res” e às “molheres” como um só, ou<br />

seja, “em conjunto”, e o sujeito <strong>de</strong> “queren” só po<strong>de</strong> ser “os troba<strong>do</strong>res e as molheres”,<br />

estan<strong>do</strong>, naquele ponto, elidi<strong>do</strong> por força das circunstâncias da versificação 9 .<br />

Há porém outra or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>s não tão facilmente solucionáveis, que se<br />

situam na compreensão da organização retórica e argumentativa <strong>do</strong> texto 10 , por um<br />

la<strong>do</strong>, e na sua dimensão referencial, por outro.<br />

É perceptível que <strong>Martin</strong> <strong>Soares</strong> censura ferozmente um outro trova<strong>do</strong>r, que faz<br />

“cantares <strong>de</strong> amor”, a quem todavia vai qualifican<strong>do</strong> não como “trova<strong>do</strong>r” mas sim<br />

como “cavaleiro”. Essa censura parece ter duas vertentes: uma, que se <strong>de</strong>staca<br />

sobretu<strong>do</strong> na “fiinda”, e que nos diz que o dito “cavaleiro” fazia os seus cantares<br />

“<strong>de</strong>sigua<strong>do</strong>s”, ou seja, não obe<strong>de</strong>cen<strong>do</strong> às regras da isometria, dimensão que po<strong>de</strong><br />

8 B 1357/ V 965. Esta composição é ainda acompanhada, em ambos os cancioneiros, da seguinte<br />

epígrafe: “Est'outro cantar fez <strong>de</strong> mal dizer a ũ cavaleiro que cuidavan que trobava mui ben e que fazia<br />

mui bõos sõos e non era assi".<br />

9 Seguimos neste ponto as opções assumidas pela única edição integral da obra <strong>do</strong> trova<strong>do</strong>r –<br />

PIZZORUSSO, Le poesie di <strong>Martin</strong> <strong>Soares</strong>, p. 112 –, contra a opinião <strong>de</strong> LAPA, Manuel Rodrigues,<br />

Cantigas D'Escarnho e <strong>de</strong> Mal Dizer <strong>do</strong>s cancioneiros medievais galego-portugueses, Coimbra, 1965, p.<br />

433, cujo texto todavia a<strong>do</strong>ptamos na generalida<strong>de</strong>.<br />

10 Embora a retórica da vituperatio não seja tão familiar quanto a da laudatio, objecto <strong>de</strong> páginas<br />

notáveis <strong>de</strong> CURTIUS, Ernst Robert, Literatura europea y Edad Media latina, 2 voll. (2ª reimp.), Mexico/<br />

Madrid/ Buenos-Aires, 1976, o caso galego-português <strong>do</strong> “escarnho” e <strong>do</strong> “mal dizer” conta recentemente<br />

com abordagens <strong>de</strong> algum <strong>de</strong>talhe e profundida<strong>de</strong>, para além, naturalmente, <strong>do</strong> conjunto <strong>de</strong> notas<br />

interpretativas <strong>de</strong> que Manuel Rodrigues Lapa fez acompanhar a sua monumental edição <strong>do</strong> corpus <strong>de</strong>ste<br />

género. Salientamos OSÓRIO, Jorge Alves, “«Cantiga <strong>de</strong> Escarnho» Galego-Portuguesa: Sociologia ou<br />

Poética”, in Da Cítola ao Prelo. Estu<strong>do</strong>s Sobre Literatura. Séculos XII-XVI, Porto, 1998, pp. 5-38; LOPES,<br />

Graça Vi<strong>de</strong>ira, A Sátira nos Cancioneiros Medievais Galego-Portugueses, Lisboa, 1994; e, sobretu<strong>do</strong>,<br />

TAVANI, Giuseppe/ LANCIANI, Giulia, A Cantiga <strong>de</strong> Escarnho e <strong>de</strong> Maldizer, Lisboa, 1998.<br />

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