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Martin Soares e o "Cantar do Cavaleiro" - Seminário Medieval de ...

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ser um pouco amplificada se assumirmos que esse cavaleiro infringiria também o bom<br />

mo<strong>de</strong>lo poético que é esboça<strong>do</strong> no final da mencionada cobla quarta: não faria “bõo<br />

son”, nem “bon <strong>de</strong> dizer”, nem “fremoso”, nem mesmo “rima<strong>do</strong>”. Ou seja, as suas<br />

melodias seriam más, os textos difíceis <strong>de</strong> cantar, as “cores <strong>de</strong> retórica” 11 ,<br />

responsáveis pela beleza <strong>do</strong> discurso, não seriam <strong>de</strong>vidamente utilizadas e, por<br />

último, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> da “fiinda”, também a rima seria <strong>de</strong>ficiente.<br />

Globalmente consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s, estes aspectos configuram uma reprovação da<br />

dimensão formal <strong>do</strong>s cantares <strong>do</strong> cavaleiro em questão. Todavia, na parte inicial <strong>do</strong><br />

texto, antes mesmo <strong>de</strong> fazer referência a qualquer um <strong>de</strong>stes aspectos formais, o<br />

trova<strong>do</strong>r vai reiteradamente <strong>de</strong>claran<strong>do</strong> que o público ajusta<strong>do</strong> a tais cantares seria<br />

constituí<strong>do</strong> por uma extensa e <strong>de</strong>talhada galeria <strong>de</strong> tu<strong>do</strong> o que cabe na <strong>de</strong>signação<br />

social <strong>de</strong> vilão. Aliás, a expressão “mal avilastes os troba<strong>do</strong>res”, presente na primeira<br />

cobla, serve <strong>de</strong> prelúdio a essa enumeração da condição simultaneamente vil e vilã 12<br />

que, naturalmente, se configura como hipérbole escarninha quan<strong>do</strong> tida como<br />

<strong>de</strong>fini<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> carácter <strong>do</strong> público <strong>de</strong>sse cavaleiro-trova<strong>do</strong>r.<br />

Seria unicamente essa imperícia formal, explicitada na parte final <strong>do</strong> texto, a<br />

responsável por os cantares <strong>de</strong>sse cavaleiro se revelarem ina<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s a “mulheres” e<br />

“trova<strong>do</strong>res”, que <strong>Martin</strong> <strong>Soares</strong> <strong>de</strong>clara ser o público natural <strong>do</strong> cantar <strong>de</strong> um<br />

trova<strong>do</strong>r? A alegação segun<strong>do</strong> a qual to<strong>do</strong>s os outros trova<strong>do</strong>res <strong>de</strong>viam procurar “por<br />

al servir sas senhores” leva a pensar que também o conteú<strong>do</strong> <strong>de</strong>sses “cantares <strong>de</strong><br />

amor” teria subverti<strong>do</strong> a linguagem trova<strong>do</strong>resca, tornan<strong>do</strong>-a ina<strong>de</strong>quada para a<br />

expressão <strong>do</strong> “serviço”, finalida<strong>de</strong> que <strong>Martin</strong> <strong>Soares</strong> lhe atribui.<br />

Ou seja, o tal cavaleiro faria cantares <strong>de</strong> amor formalmente estranhos, quer na<br />

palavra quer na música, à gramática trova<strong>do</strong>resca <strong>de</strong>fendida por <strong>Martin</strong> <strong>Soares</strong>, e essa<br />

forma serviria ainda <strong>de</strong> suporte a um conteú<strong>do</strong> que era visto como uma autêntica<br />

vilania. Alguns críticos, particularmente esperança<strong>do</strong>s <strong>de</strong> encontrar, no espólio galego-<br />

-português conheci<strong>do</strong>, amostras <strong>de</strong> uma poesia não-trova<strong>do</strong>resca e produzida, nesta<br />

11 Sobre as figuras <strong>do</strong> discurso e respectivo entendimento como “cores”, que autorizam a<br />

interpretação que fazemos <strong>do</strong> discurso “formoso” referi<strong>do</strong> pelo poeta, e sobre a problemática global <strong>do</strong><br />

“ornatus”, consulte-se FARAL, Edmond, Les arts poétiques du XIIe et du XIIIe siècle, Paris, 1971, pp. 49 e<br />

seg..<br />

12 Sobre a convergência significativa, em âmbito trova<strong>do</strong>resco, <strong>de</strong>stes <strong>do</strong>is lexemas, ver<br />

VASCONCELOS, Carolina Michaëlis <strong>de</strong>, O Cancioneiro da Ajuda, vol. II, Lisboa, 1904, p. 624.<br />

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