10.05.2013 Views

Martin Soares e o "Cantar do Cavaleiro" - Seminário Medieval de ...

Martin Soares e o "Cantar do Cavaleiro" - Seminário Medieval de ...

Martin Soares e o "Cantar do Cavaleiro" - Seminário Medieval de ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

GUARECER on-line<br />

_____________________________________________________________________<br />

que textos, se está a referir <strong>Martin</strong> <strong>Soares</strong>, é necessário que previamente tenhamos<br />

presentes algumas condicionantes <strong>de</strong> leitura <strong>do</strong> seu cantar.<br />

É sabi<strong>do</strong> que Pero da Ponte, num conheci<strong>do</strong> cantar <strong>de</strong> amigo, <strong>de</strong>signou o<br />

elemento masculino que nele comparecia pelo termo escu<strong>de</strong>iro 23 , qualificativo <strong>de</strong><br />

natureza social muito pouco frequente, aliás, nestes poemas. Dirigin<strong>do</strong>-lhe um cantar<br />

<strong>de</strong> mal dizer em que alu<strong>de</strong> a esse facto 24 , Afons’Eanes <strong>de</strong> Coton dir-lhe-á: “foste-vos<br />

escu<strong>de</strong>iro chamar/num cantar que fezestes d’amor”, o que nos permite, como é<br />

sabi<strong>do</strong>, perceber que o género cantar <strong>de</strong> amigo, nesta altura – situamos estes textos<br />

na década <strong>de</strong> trinta, como se infere <strong>do</strong> que temos vin<strong>do</strong> a dizer – não possuía ainda<br />

uma <strong>de</strong>signação específica, como foi já nota<strong>do</strong> 25 , e que era entendi<strong>do</strong> simplesmente<br />

como mais uma forma <strong>de</strong> cantar que tratava o tema <strong>do</strong> amor 26 . Ficamos ainda a saber<br />

que essa operação, praticada no cantar <strong>de</strong> amigo, que consistia em colocar a mulher<br />

como locutora principal, não anulava o princípio da i<strong>de</strong>ntificação <strong>do</strong> trova<strong>do</strong>r com um<br />

<strong>do</strong>s intervenientes no drama poético encena<strong>do</strong>. Apenas <strong>de</strong>ixava <strong>de</strong> ser “o que falava”,<br />

para passar a i<strong>de</strong>ntificar-se com “aquele <strong>de</strong> quem se falava”.<br />

Ora, retornan<strong>do</strong> às críticas <strong>de</strong> <strong>Martin</strong> <strong>Soares</strong>, se questionarmos quem era o<br />

trova<strong>do</strong>r que se auto-intitulava “cavaleiro”, cujos textos escapavam, por vezes, às<br />

regras da rima consoante e da medida igual <strong>do</strong>s versos, além <strong>de</strong> possuírem uma<br />

estrutura versificatória bem diversa das praticadas por este trova<strong>do</strong>r – com o que isso<br />

po<strong>de</strong>rá ter significa<strong>do</strong> no plano da execução cantada e da forma retórica e melódica –,<br />

textos que, além disso, se emancipavam das regras mais elementares <strong>do</strong> serviço <strong>de</strong><br />

amor, vamos dar directamente a Fernan Rodrigues <strong>de</strong> Calheiros, ao seu cancioneiro<br />

23 Cfr. “Vistes, madr’,o escu<strong>de</strong>iro que m’ouvera a levar sigo?” (B 831/ V 417)<br />

24 Cfr. “Pero da Pont’, en un vosso cantar” (B 969/ V 556).<br />

25 Cfr. VASCONCELOS, O Cancioneiro, II, pp. 453-454; OLIVEIRA, A. Resen<strong>de</strong>, "A Galiza e a Cultura<br />

Trova<strong>do</strong>resca Peninsular", Revista da História das I<strong>de</strong>ias, Coimbra, 1989, p. 25.<br />

26 Provavelmente por oposição ao princípio <strong>do</strong> <strong>de</strong>samor que caracterizava o escárnio e o mal dizer. A<br />

polarida<strong>de</strong> "dizer mal/dizer bem", como princípio articula<strong>do</strong>r da tipologia <strong>do</strong> discurso poético galego-<br />

-português, está ainda bem presente num texto tão tardio como o fragmento em prosa que encabeça o<br />

Cancioneiro da Biblioteca Nacional, conheci<strong>do</strong> como "Arte <strong>de</strong> Trovar". Cf. D'HEUR, Jean-Marie, "L' «Art<br />

<strong>de</strong> trouver» du Chansonnier Colocci-Brancuti. Édition et analyse", Arquivos <strong>do</strong> Centro Cultural Português.<br />

Fundação Calouste Gulbenkian, IX, Paris, 1975, pp. 321-398; TAVANI, Giuseppe, Arte <strong>de</strong> trovar <strong>do</strong><br />

Cancioneiro da Biblioteca Nacional <strong>de</strong> Lisboa, Lisboa, 1999. Sobre o assunto, ver OSÓRIO, "Cantiga <strong>de</strong><br />

Escarnho", p. 9.<br />

_____________________________________________________________________<br />

226

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!