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O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />
Trindade, ou porque já se encontrasse ela com tal nome no mapa de<br />
Diogo Ribeiro, em 1529, ou porque melhor devia caber-lhe agora,<br />
pela associação dos três donatários; e procuraram, com as relíquias<br />
do naufrágio, nela estabelecer-se, fundando uma pequena povoação<br />
que recebeu o nome de Nazaré, a qual de efêmera duração foi, pois<br />
os índios, com a sua proverbial volubilidade de amigos, que a princípio<br />
se tinham mostrado, pouco tardaram em se levantar, queimando<br />
e destruindo as plantações e sementeiras e chegando a pôr em apertado<br />
sítio a povoação e a tomar-lhes a água das fontes de beber, de<br />
sorte que, reduzidos à última penúria e havendo perdido já muita<br />
gente, viram-se os que restavam ainda forçados a abandonar a terra<br />
para onde haviam partido todos, tão cheios de esperanças.<br />
Nada mais se tem podido adiantar até hoje sobre a história desta<br />
pequena colônia, sendo para lamentar, como diz ainda o ilustre Visconde<br />
de Porto Seguro, que João de Barros no-la não deixasse escrita,<br />
o que teria feito com tanto vigor, como viva era a lembrança que perpetuamente<br />
conservou desta para ele tão malfadada empresa.<br />
Desacorçoado e profundamente arruinado com o insucesso<br />
desta gigantesca expedição, a maior que os nossos mares tinham visto<br />
até então em poder naval, tão grande e que tanto ruído fez que,<br />
pelos seus preparativos, chegou a fazer acreditar ao embaixador espanhol,<br />
Sarmiento, que era mandada pelo governo português contra<br />
os recentes estabelecimentos castelhanos do Rio da Prata, abriu João<br />
de Barros mão do seu privilégio, 2 tendo-se ainda por muito feliz em<br />
poder reaver, à custa de muitos trabalhos e despesas, seus dois filhos,<br />
mandados reter na Ilha de São Domingos.<br />
Em 1554, segunda expedição organizou-se, sob o mando de<br />
Luís de Melo da Silva, 3 a quem el-rei transferira, intacto, o privilégio<br />
2 Equívoco a que foi levado o autor, seguindo autores de seu tempo. Em 1561, conf. fonte<br />
retrocitada (p. 111), Jerônimo, filho mais velho de João de Barros, obteve, pelo alvará<br />
régio de 5 de março, a revalidação dos direitos de seu pai. JM.<br />
3 Luís de Melo da Silva, não como donatário, mas na condição de contratado por João de<br />
Barros ou a ele associado, viajou pela primeira vez ao <strong>Maranhão</strong> em 1554. Em 1573,<br />
provavelmente já na qualidade de titular da capitania do <strong>Maranhão</strong>, por compra aos filhos<br />
de João de Barros (falecido em 1570), Luís de Melo da Silva fez sua segunda viagem ao