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O Maranhão Histórico - Instituto Geia

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O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong>


INSTITUTO GEIA<br />

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Agromá Empreendimentos Rurais S.A<br />

José de Jesus Reis Ataíde<br />

Alpha Máquinas e Veículos do Nordeste Ltda.<br />

Manuel Maria Correia de Almeida Plantier<br />

Atlântica Serviços Gerais Ltda.<br />

Luís Carlos Cantanhede Fernandes<br />

Agropecuária e Industrial Serra Grande Ltda.<br />

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Alumar – Consórcio de Alumínio do <strong>Maranhão</strong><br />

José Maurício de Macedo Santos<br />

Bel Sul Administração e Participações Ltda.<br />

Jorge Francisco Murad Júnior<br />

Bunge Alimentos S.A<br />

Haroldo Gianinizi<br />

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Haroldo Corrêa Cavalcanti Júnior


Mardisa Veículos Ltda.<br />

Vicente Ferre<br />

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Amaro Santana Leite<br />

Oleama - Oleaginosas Maranhenses S.A<br />

Marco Aurélio Nascimento de Souza<br />

Pleno – Planejamento Engenharia e Obras Ltda.<br />

Severino Francisco Cabral<br />

Rápido London S.A<br />

Valdecy Claudino<br />

Servi Porto - Serviços Portuários Ltda.<br />

Nemésio Brandão Neves<br />

Skala Engenharia Ltda.<br />

Adalberto Cordeiro Furtado<br />

Tecitex Ltda.<br />

João Guilherme de Abreu<br />

Telemar – Telecomunicações do <strong>Maranhão</strong> S.A<br />

Alceu Ventoso Júnior<br />

Televisão Mirante Ltda.<br />

Teresa Murad Sarney<br />

Supermercados Lusitana Ltda.<br />

Manoel Alves Ferreira<br />

VCR Produções e Publicidade Ltda.<br />

Vanda Maria da Silva Torres<br />

UDI Hospital - Empreendimentos Médico Hospitalar do <strong>Maranhão</strong><br />

Ltda.<br />

Carlos Alberto Vieira Gama<br />

UNIHOSP – Serviços e Saúde Ltda.<br />

Antônio Gaspar


José Ribeiro do Amaral<br />

(1853 – 1927)


José Ribeiro do Amaral<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />

Artigos de Jornal<br />

(1911 - 1912)<br />

reunidos por<br />

Luiz de Mello<br />

Coleção <strong>Geia</strong> de Temas Maranhenses<br />

São Luís / 2003


© Copyright by<br />

Direitos desta edição reservados em nome de<br />

<strong>Instituto</strong> <strong>Geia</strong><br />

COLEÇÃO GEIA DE TEMAS MARANHENSE<br />

Volume 1<br />

Revisão de Texto<br />

Sebastião Moreira Duarte<br />

Editoração Eletrônica<br />

Fabiano Pestana<br />

Capa<br />

Albani Ramos e Jorge Murad<br />

FICHA CATALOGRÁFICA<br />

Amaral, José Ribeiro do<br />

O <strong>Maranhão</strong> histórico – Artigos de jornal (1911-1912) /<br />

José Ribeiro do Amaral. São Luís: <strong>Instituto</strong> <strong>Geia</strong>, 2003.<br />

128p. (Coleção <strong>Geia</strong> de Temas Maranhenses, v. 1)<br />

1. História do <strong>Maranhão</strong>. 2. História de São Luís. 1. Título.<br />

CDU 981.21


SUMÁRIO<br />

Explicação – Luiz de Mello ....................................................... 11<br />

A Título de Prefácio ................................................................... 13<br />

1. Primitivas explorações feitas nas costas do Norte do<br />

Brasil. Primeiras tentativas de colonização para o<br />

<strong>Maranhão</strong>. João de Barros, Fernão d’Álvares e Aires da<br />

Cunha. Versões diversas sobre a verdadeira origem da<br />

palavra <strong>Maranhão</strong>. Fundação da povoação Nazaré, na<br />

Ilha da Trindade (<strong>Maranhão</strong>). Segunda expedição.<br />

Naufrágio de Luís de Melo da Silva. Vestígios da<br />

primeira expedição. .............................................................. 17<br />

2. Bequimão e seus descendentes........................................... 23<br />

3. Os franceses no <strong>Maranhão</strong> ................................................. 29<br />

4. Caráter, fins, meios e resultados da Ocupação Francesa<br />

em paralelo com a Invasão Holandesa .............................. 33<br />

5. Fundação do <strong>Maranhão</strong>....................................................... 39<br />

6. Vestígios da Ocupação Francesa. A igreja de Santo<br />

Antônio .................................................................................. 47<br />

7. Convento de Santo Antônio ............................................... 53<br />

8. Qual será a população atual de São Luís? ......................... 59


9. A cidade de São Luís por ocasião da Invasão<br />

Holandesa .............................................................................. 71<br />

10.Disposições diversas, relativas à cidade de São Luís.<br />

Como eram, primitivamente, conhecidas as suas ruas,<br />

ou, antes, como se diferenciavam umas das outras.<br />

Quando começaram a ter nomes próprios. Ruas,<br />

praças, travessas, praias e fortes de São Luís: origem<br />

dos nomes de algumas delas e mudanças por que têm<br />

passado. Ruas com mais de um nome ao mesmo<br />

tempo...................................................................................... 75<br />

11.[Primitivas denominações de ruas] ..................................... 79<br />

12.O convento de Nossa Senhora do Carmo ......................... 87<br />

13.A imprensa no <strong>Maranhão</strong>: Jornais, revistas<br />

e outras publicações periódicas de 1821 a 1908................ 97<br />

14.A imprensa no interior do <strong>Maranhão</strong> ............................... 113<br />

15.A Imprensa no <strong>Maranhão</strong> (Codó) ..................................... 121


Explicação<br />

Pesquisando, durante anos, em velhos periódicos maranhenses, aconteceu-me<br />

encontrar estes artigos do historiador José Ribeiro do Amaral,<br />

publicados entre 1911 e 1912, no Diário Oficial – Estado do <strong>Maranhão</strong>,<br />

jornal então dirigido por Domingos Barbosa.<br />

Agradou-me a idéia de restituí-los à publicação, certo de estar prestando<br />

serviço de geral interesse, seja pelos temas tratados, seja pela autoridade<br />

de quem o faz, bastando lembrar que algumas partes dos textos aqui<br />

reunidos o próprio autor as ampliou e incluiu em seu livro A fundação<br />

do <strong>Maranhão</strong>, de 1912.<br />

Em particular, agrada-me ver que estes escritos vêm a público no ano<br />

em que se comemora o sesquicentenário de nascimento de Ribeiro do Amaral,<br />

a quem muito devemos por seu zelo incomparável pelas coisas de nossa<br />

terra, sua competência de mestre e sua liderança intelectual, agitador de<br />

idéias e organizador de instituições que perduram até os nossos dias.<br />

Uma carta do historiador ao diretor do jornal abre a série publicada<br />

e explica o “plano da obra”. Servirá de prefácio do livro, cujo título é o<br />

mesmo que encabeça os diferentes artigos, publicados regularmente às sextas-feiras.<br />

Por motivos que os leitores logo perceberão, foi ligeiramente alterada,<br />

nesta publicação, a seqüência original de datas em que estes trabalhos<br />

apareceram na imprensa.<br />

Agradecendo ao <strong>Instituto</strong> <strong>Geia</strong> ter acolhido a reunião destas páginas<br />

para dar início à Coleção <strong>Geia</strong> de Temas Maranhenses, registro que<br />

são de Jomar Moraes as notas de pé-de-página que trazem informação<br />

atualizada sobre alguns fatos e figuras mencionados por Ribeiro do Amaral.<br />

Luiz de Mello


A Título de Prefácio<br />

Meu caro Domingos Barbosa:<br />

– 13 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />

São Luís, 12 de outubro de 1911<br />

ACUSO recebida sua prezadíssima cartinha de ontem, que<br />

só hoje me foi entregue, na qual teve a gentileza de pedirme<br />

a minha humilde colaboração para o jornal, hoje confiado<br />

à sua superior orientação, designando-me, para esse fim, as sextas-feiras<br />

de cada semana, e lembrando-me, como feitio a dar a essa<br />

mesma colaboração, a necessidade de escrever alguma coisa sobre a<br />

nossa São Luís, isto é, sobre a história dos seus mais antigos e notáveis<br />

edifícios, públicos e particulares, tais como o Palácio do Governo,<br />

a Catedral, templos, conventos, quartéis, fortalezas, e dos últimos,<br />

para não ir mais longe, essa mesma casa da Rua da Estrela,<br />

onde ainda agora funciona a Imprensa Oficial, e que tão conhecida<br />

se tornou, não só nos tempos coloniais, mas ainda nos que se seguiram<br />

à Independência.<br />

Satisfazendo os seus desejos, que, bem sabe, para mim são ordens,<br />

aqui me tem, e aqui me terá sempre: não sei se com isso aproveitarão<br />

os leitores do Diário Oficial. Tudo farei para corresponder à sua<br />

confiança. Se tal, porém, não acontecer, absolver-me-á a solicitude com<br />

que, prestes, acudi ao seu chamado.


José Ribeiro do Amaral<br />

E, já agora, se me permitisse, pedir-lhe-ia, ou, antes, lembrarlhe-ia<br />

a conveniência de fazermos uma ligeira alteração no plano<br />

cuja execução se dignou de confiar-me, alteração que em nada o prejudica,<br />

tornando, pelo contrário, o trabalho mais metódico, a qual é a<br />

seguinte:<br />

Pareceu-me mais acertado, antes de escrever qualquer coisa<br />

sobre os nossos vetustos edifícios, algo dizer, ainda que em traços<br />

gerais, sobre as primeiras expedições que para aqui se encaminharam<br />

– portugueses, franceses e holandeses; fundação do primeiro estabelecimento<br />

colonial que aqui houve, nome que primitivamente tinha<br />

o lugar onde foi ele situado, e que teve com a fundação, e por quê;<br />

diversas fases por que passou; o que era a cidade por ocasião da<br />

Invasão Holandesa, em extensão, população e riqueza; aspecto geral<br />

da pequena cidade por aquele tempo, com inclusão dos edifícios públicos<br />

que já então existiam; progressivo desenvolvimento que daí<br />

em diante foi tendo; fontes públicas existentes na cidade, até 1592, e<br />

seus nomes; como se designavam as ruas até 1733, quando ainda não<br />

tinham nomes; quando começaram a ser mencionadas com nomes<br />

próprios; a mesma rua dividida em três trechos, com três nomes;<br />

primeiro lançamento predial; ruas que então existiam e seus nomes;<br />

quem primeiro deu começo ao calçamento da cidade; São Luís em<br />

1822, primitivos costumes dos seus habitantes; diversos gêneros de<br />

moeda, etc., etc.<br />

Como vê, meu amigo, vasto é o campo e rica é a seara. Para<br />

mim, nada de mais atraente e agradável conheço que conversar com<br />

o passado, onde a gente como que se sente bem, sem correr o risco<br />

de ofender a quem quer que seja, nem despertar suscetibilidades; e<br />

nem só para mim, não só o único a assim pensar, pois lembra-me de<br />

haver lido, não há muito, n’A Notícia, do Rio, talhados em semelhantes<br />

moldes, notáveis artigos do Dr. Vieira Fazenda, que tão grande<br />

interesse conseguiram despertar no espírito público e não pequeno<br />

renome deram àquele jornal; e ainda agora n’A Ilustração Brasileira,<br />

outros do mesmo gênero estão a sair, porventura de não menos subido<br />

valor, firmados pelo ilustre Dr. Pires de Almeida.<br />

– 14 –


– 15 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />

É esta a pequena modificação a que me referi no começo. Propondo-a,<br />

julgo que assim melhor servirei ao fim que, ambos, temos<br />

em mira.<br />

Se lhe merecer ele, o plano assim organizado, a sua aprovação,<br />

conquanto em coisas do <strong>Maranhão</strong> não me sinta eu com aquela competência<br />

tão notoriamente conhecida dos dois ilustres brasileiros acima<br />

referidos, sobre coisas fluminenses, tudo farei para ser agradável<br />

aos leitores do Diário Oficial, e assim corresponder à sua expectativa.<br />

E até sexta-feira.<br />

Creia-me sempre<br />

Seu am°. e menor servo<br />

José R. do Amaral<br />

(Diário Oficial, 20.10.1911)


1<br />

Primitivas explorações feitas nas costas do Norte do<br />

Brasil. Primeiras tentativas de colonização para o <strong>Maranhão</strong>.<br />

João de Barros, Fernão d’Álvares e Aires da<br />

Cunha. Versões diversas sobre a verdadeira origem da<br />

palavra <strong>Maranhão</strong>. Fundação da povoação Nazaré,<br />

na Ilha da Trindade (<strong>Maranhão</strong>). Segunda expedição.<br />

Naufrágio de Luís de Melo da Silva. Vestígios da<br />

primeira expedição.<br />

– 17 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />

SÃO DE 1535 as primeiras tentativas de colonização para o<br />

<strong>Maranhão</strong>. Não quer isto dizer, porém, que, anteriormente,<br />

outras explorações não se houvessem realizado já, para o norte<br />

do Cabo de São Roque.<br />

Conquanto vagas e escassas as notícias a semelhante respeito,<br />

sabe-se que, por estas bandas andaram, no primeiro decênio do século<br />

XVI, navios de Portugal, sendo de um deles, piloto, João de<br />

Lisboa, que deu até seu nome a um dos rios aquém do <strong>Maranhão</strong>.<br />

Em 1514 (e aqui já se vão tornando mais claras as notícias),<br />

por uma carta de Estêvão de Fróis ao rei Dom Manuel, escrita da<br />

ilha de São Domingos em 30 de julho, sabemos que, algum tempo<br />

antes, percorrera parte da costa um João Coelho, das Portas da Cruz,<br />

em Lisboa, e que os índios haviam morto o arauto Diogo Ribeiro,


José Ribeiro do Amaral<br />

que, com o alvará régio, andavam, um e outro, a fazer descobrimentos.<br />

Como, porém, essas explorações não eram completas, isto é,<br />

não se estendiam a toda essa costa, limitando-se os exploradores a<br />

traficar nas imediações das paragens onde aportavam, tanto em Portugal<br />

como em Castela estiveram, por algum tempo, na crença de<br />

que não havia, por aí, mais que um único grande rio entrando pela<br />

terra adentro; pois os que conheciam o verdadeiro <strong>Maranhão</strong> (diz o<br />

Visconde de Porto Seguro) não conheciam o Amazonas atual e viceversa;<br />

donde se originou confusão acerca destes dois rios, vindo ambos<br />

a ser designados com o nome de <strong>Maranhão</strong>; de modo que o<br />

próprio Pinzón, descobridor, não do verdadeiro <strong>Maranhão</strong>, cuja descoberta<br />

se deve a Diogo de Lepe, mas sim da boca do grande rio de<br />

Santa Maria do Mar Doce, ou atual Amazonas, não duvidou assegurar<br />

a Oviedo haver sido o descobridor do Marañon.<br />

De tudo isto resultou que, tendo, mais tarde, Orellana baixado<br />

o mesmo Amazonas, não pôde fazer acreditar que não era o Marañon<br />

o rio por que baixara, acrescenta Herrera, e, para voltar ao mesmo<br />

rio, chegava a desejar pilotos portugueses, “porque eram os únicos<br />

conhecedores da costa que continuamente navegavam.”<br />

Em 1531, aproando ao Porto de Pernambuco, Martim Afonso<br />

que, já, nas suas imediações, apresara três naus francesas, resolve,<br />

talvez em virtude de ordens que recebera, mandar duas delas para as<br />

bandas do <strong>Maranhão</strong>, sob o comando de Diogo Leite, a fim de fazer<br />

explorar por aí a costa, e de colocar nela padrões em sinal de posse.<br />

Percorrendo o litoral na direção leste-oeste, em virtude das<br />

ordens que recebera, chegou pelo menos até a baía por algum tempo<br />

denominada Abra de Diogo Leite, hoje conhecida pelo nome<br />

de Gurupi.<br />

Como rico e precioso vestígio desta expedição, um mapa, em pergaminho,<br />

existe de toda aquela costa, feito por Gaspar Viegas em 1534,<br />

no qual se lê, já, aquele primitivo nome, vendo-se também, nele, designada<br />

mais a oeste a Baía de São João, parecendo assim, diz o ilustre<br />

Visconde de Porto Seguro, ter Diogo Leite chegado a ela no dia deste<br />

santo (24 de junho), depois de haver entrado a 25 de março na Baía de<br />

– 18 –


– 19 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />

São José, e, a 19 de abril, na de São Marcos, se é que estes nomes não<br />

haviam sido anteriormente dados por Diogo de Lepe, em 1500.<br />

Não obstante, porém, todas estas expedições e muitas outras,<br />

encaminhadas para o litoral sul do Brasil, as quais, por não ser isso<br />

do nosso programa, aqui não as mencionamos, trinta longos anos<br />

passaram-se sem que a esta parte do Novo Mundo dispensassem os<br />

monarcas lusitanos a atenção e os cuidados que parecia ela naturalmente<br />

solicitar-lhes, organizando um serviço de colonização sério.<br />

A notícia, porém, de que corsários de diversas nações infestavam<br />

já a terra descoberta, tentando nela estabelecer-se, despertou<br />

afinal a atenção de Dom João III, até então presa nos esplendores do<br />

Oriente, e fê-lo empreender alguma coisa em favor desta parte dos<br />

seus domínios.<br />

Assim pois, dividiu o Brasil em porções desiguais de território,<br />

a que denominou de capitanias, distribuindo-as em seguida por<br />

vassalos beneméritos, sob condição de as povoarem, cultivarem e<br />

civilizarem, concedendo-lhes, demais, todos os poderes reais, exceto<br />

o de cunhar moeda e o de impor pena de morte.<br />

A que recebeu o nome de <strong>Maranhão</strong>, constituída por uma doação<br />

mista de cerca de duzentas e vinte e cinco léguas de costa, coube,<br />

em parte, ao glorioso historiador das Décadas, João de Barros, que<br />

convidou para companheiros na empresa Fernão d’Álvares de<br />

Andrade, tesoureiro-mor do Reino, e Aires da Cunha, formando assim<br />

uma associação trina, e alcançando da Coroa, como doação especial,<br />

o ouro e a prata, que na terra descobrissem, no que tiveram<br />

mais favor que todos os demais donatários.<br />

Organizada a expedição sob o mando do terceiro, que consigo<br />

trazia dois filhos de Barros1 e um delegado de confiança do segundo,<br />

1 Essa versão, corrente na época e durantes anos depois, está hoje contestada por diversas<br />

pesquisas que desfizeram equívocos provavelmente provindos de Gândavo. Da primeira<br />

expedição, ao comando de Aires da Cunha, não participaram os filhos de João de Barros.<br />

Vd., de Rafael Moreira e William M. Thomas, Desventuras de João de Barros, primeiro<br />

colonizador do <strong>Maranhão</strong>; o achado da nau de Aires da Cunha naufragada em 1536.<br />

In Oceanos (Lisboa), p. 101-111. N?. 27, julho/setembro de 1996. JM.


José Ribeiro do Amaral<br />

desferrou a grande armada do porto de Lisboa em novembro de<br />

1535, com novecentos homens, dos quais cento e treze de cavalo,<br />

em dez navios, rumo de Pernambuco, onde aportou com felicidade,<br />

recebendo do donatário dessa capitania, Duarte Coelho Pereira, que<br />

muito pareceu interessar-se pelo bom êxito de tão luzida expedição,<br />

línguas ou intérpretes, e uma fusta de remos para ir adiante, sondando<br />

as paragens menos conhecidas e exploradas.<br />

Com tão bons auspícios, deixou o porto de Pernambuco a expedição,<br />

à qual, daí em diante, estava reservada toda a sorte de desditas.<br />

Chegada que foi à barra do <strong>Maranhão</strong>, depois de haver inutilmente<br />

tentado Aires da Cunha fundar uma colônia no rio Baquipe,<br />

hoje Ceará-Mirim, devido à oposição dos potiguares aliados aos franceses,<br />

e de ter-se desgarrado a fusta de remos, chegando a andar<br />

perdida e já sem mantimentos, deu a expedição, devido à quase nenhuma<br />

prática que ainda tinham os pilotos, daquelas paragens, em<br />

uns baixios que se encontravam à entrada, por espraiar ali muito o<br />

mar, perdendo-se toda a armada e perecendo miseravelmente os que<br />

escaparam, inclusive o próprio chefe da expedição, Aires da Cunha.<br />

E assim malogrou-se a primeira tentativa séria de colonização<br />

que se encaminhou para o <strong>Maranhão</strong>.<br />

É daí, do malogro desta expedição que, no pensar quase unânime<br />

dos melhores historiadores, vem a origem deste nome, dado à<br />

região que constituía a doação de João de Barros; ou porque ao naufragar<br />

supusessem os da expedição se encontrar na embocadura do<br />

imenso rio, quando realmente se encontravam a mais de cem léguas<br />

ao sul, perto da ilha em que se salvaram os sobreviventes, e que ora,<br />

graças a este erro, é conhecida pelo nome de <strong>Maranhão</strong>; ou porque,<br />

como querem alguns, para enobrecer a sua desgraça, dissessem os<br />

náufragos haver-se dado o desastre na boca do grande rio (Amazonas),<br />

também conhecido por Marañon (<strong>Maranhão</strong>).<br />

Como quer que seja, o certo é que o nome se perpetuou, transmitindo-se,<br />

com o correr dos tempos, à região toda.<br />

A esta ilha (do <strong>Maranhão</strong>), deram os sobreviventes o nome de<br />

– 20 –


– 21 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />

Trindade, ou porque já se encontrasse ela com tal nome no mapa de<br />

Diogo Ribeiro, em 1529, ou porque melhor devia caber-lhe agora,<br />

pela associação dos três donatários; e procuraram, com as relíquias<br />

do naufrágio, nela estabelecer-se, fundando uma pequena povoação<br />

que recebeu o nome de Nazaré, a qual de efêmera duração foi, pois<br />

os índios, com a sua proverbial volubilidade de amigos, que a princípio<br />

se tinham mostrado, pouco tardaram em se levantar, queimando<br />

e destruindo as plantações e sementeiras e chegando a pôr em apertado<br />

sítio a povoação e a tomar-lhes a água das fontes de beber, de<br />

sorte que, reduzidos à última penúria e havendo perdido já muita<br />

gente, viram-se os que restavam ainda forçados a abandonar a terra<br />

para onde haviam partido todos, tão cheios de esperanças.<br />

Nada mais se tem podido adiantar até hoje sobre a história desta<br />

pequena colônia, sendo para lamentar, como diz ainda o ilustre Visconde<br />

de Porto Seguro, que João de Barros no-la não deixasse escrita,<br />

o que teria feito com tanto vigor, como viva era a lembrança que perpetuamente<br />

conservou desta para ele tão malfadada empresa.<br />

Desacorçoado e profundamente arruinado com o insucesso<br />

desta gigantesca expedição, a maior que os nossos mares tinham visto<br />

até então em poder naval, tão grande e que tanto ruído fez que,<br />

pelos seus preparativos, chegou a fazer acreditar ao embaixador espanhol,<br />

Sarmiento, que era mandada pelo governo português contra<br />

os recentes estabelecimentos castelhanos do Rio da Prata, abriu João<br />

de Barros mão do seu privilégio, 2 tendo-se ainda por muito feliz em<br />

poder reaver, à custa de muitos trabalhos e despesas, seus dois filhos,<br />

mandados reter na Ilha de São Domingos.<br />

Em 1554, segunda expedição organizou-se, sob o mando de<br />

Luís de Melo da Silva, 3 a quem el-rei transferira, intacto, o privilégio<br />

2 Equívoco a que foi levado o autor, seguindo autores de seu tempo. Em 1561, conf. fonte<br />

retrocitada (p. 111), Jerônimo, filho mais velho de João de Barros, obteve, pelo alvará<br />

régio de 5 de março, a revalidação dos direitos de seu pai. JM.<br />

3 Luís de Melo da Silva, não como donatário, mas na condição de contratado por João de<br />

Barros ou a ele associado, viajou pela primeira vez ao <strong>Maranhão</strong> em 1554. Em 1573,<br />

provavelmente já na qualidade de titular da capitania do <strong>Maranhão</strong>, por compra aos filhos<br />

de João de Barros (falecido em 1570), Luís de Melo da Silva fez sua segunda viagem ao


José Ribeiro do Amaral<br />

de João de Barros; mas, tão infeliz como a primeira, naufragou em<br />

uns baixios que se presume serem os dos Atins, salvando-se apenas<br />

uma das caravelas, em que os desventurados náufragos conseguiram<br />

se recolher à Pátria.<br />

Ao malogro destas duas expedições sucede um período de cerca<br />

de quarenta anos de completa inação e abatimento, completamente<br />

perdidos, durante os quais não consta que, por parte da Metrópole<br />

ou de particulares, tivesse havido qualquer outra tentativa de colonização<br />

para o <strong>Maranhão</strong>.<br />

Não nos deixou (que saibamos) nenhuma destas duas expedições<br />

o mais ligeiro vestígio, sequer, de sua passagem por esta terra,<br />

conquanto frei Marcos de Guadalajara, trasladando a Simão Estácio<br />

da Silveira, se refira à existência de uma fortaleza, levantada no<br />

Boqueirão pelos sobreviventes da expedição de Aires da Cunha, na<br />

qual se conheciam pedras brancas de Alcântara. 4<br />

Não nos parece ser isto exato, e já o historiador Berredo, escrevendo<br />

cerca de duzentos anos atrás e em condições, portanto, de<br />

melhor poder apurar a verdade histórica, dizia nos seus Anais que<br />

nem da fortaleza, nem das pedras de Alcântara com que o capitão<br />

Simão Estácio a dava por fabricada, havia a menor tradição do antigo<br />

Estado do <strong>Maranhão</strong>, quando mal pode crer-se que no espaço só<br />

de oitenta anos (que não se contam mais desde o de 1535, em que foi<br />

o naufrágio de Aires da Cunha, até o de 1615, em que Jerônimo de<br />

Albuquerque se estabeleceu na Ilha de São Luís) tivesse já o tempo<br />

consumido uma obra de tanta duração, e com tamanho estrago, que<br />

nem lhe deixasse os fundamentos para memória dela.<br />

– 22 –<br />

(27.10.1911)<br />

<strong>Maranhão</strong>, na qual pereceu. Entre a primeira e a segunda expedição de Luís de Melo da<br />

Silva, houve a dos filhos de João de Barros, Jerônimo e João, que no <strong>Maranhão</strong> se demoraram<br />

de 1556 a 1561, fazendo diversas explorações na região. JM.<br />

4 A Alcântara aí referida é a então vila dos arredores de Lisboa, hoje bairro da capital<br />

portuguesa. A primitiva Tapuitapera, atual cidade maranhense de Alcântara, foi assim<br />

denominada só em meados do século XVII. JM.


2<br />

Bequimão e seus descendentes<br />

– 23 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />

COMEMORANDO a Pátria Maranhense neste dia, de tão tristes<br />

e saudosas recordações para todos, o 226° aniversário da<br />

execução deste grande patriota, cujas últimas palavras, ao subir<br />

ao patíbulo, foram de afeto, de amor para esta terra, interrompemos,<br />

por hoje, o programa que traçamos, para alguma coisa dizer<br />

sobre os descendentes deste grande homem e de seu irmão, Tomás<br />

Bequimão.<br />

Assim procedendo, julgamos prestar ao Grande Supliciado de<br />

1685 a maior e melhor de todas as nossas homenagens, contribuindo,<br />

de nossa parte, para que de sorte alguma se possa extinguir a<br />

memória de seu nome.<br />

Teve a família Bequimão dois ramos aqui no <strong>Maranhão</strong> – Manuel<br />

– o grande e glorioso mártir de 1685; e Tomás – seu irmão mais<br />

novo e, como ele, considerado cidadão de São Luís.<br />

Do primeiro ficaram a viúva e duas filhas, não constando das<br />

crônicas do tempo que houvesse deixado filho varão algum, a menos<br />

que alguma das suas filhas, casando-se, não houvesse dado a descendente<br />

seu o apelido de seu pai, para assim perpetuar-lhe o nome.<br />

Outro tanto, porém, não se deu com o segundo, cuja descendência,<br />

numerosíssima, veio até os nossos dias, com variantes diversas


José Ribeiro do Amaral<br />

nos seus apelidos, tais como: Bequimão, Beckman e até Bequimanz.<br />

Nesta nossa faina de percorrer arquivos e conversar com o<br />

passado, não poucas são as vezes que nos tem sido dado deparar<br />

com autógrafos de diversos membros desta família.<br />

O de todos mais antigo que conhecemos é a sua assinatura em<br />

um acórdão em vereação da Câmara de São Luís, cuja data não temos<br />

agora presente.<br />

Nele vê-se, em um tipo de letra bem claro, bem conservado e<br />

perfeitamente legível, o nome do chefe desta família, o malogrado<br />

autor da Revolução de 1685 – Manuel Bequimão.<br />

Trinta e dois anos depois do desfecho deste movimento revolucionário,<br />

encontramos pela primeira vez este nome em uma carta<br />

régia de 20 de novembro de 1717, da qual consta haver representado o<br />

governador para a Corte que, fazendo o ouvidor-geral da Capitania do Pará, em<br />

1715, o pelouro dos oficiais que tinham de servir no Senado, mais por indústria<br />

que por conformidade de votos, metera nele o nome de Roque, filho de Tomás e<br />

sobrinho de Manuel Bequimão, cuja turbulência (dizia o governador na sua<br />

representação) lhe passara como herança, pois havia feito na mencionada capitania<br />

muitas inquietações escandalosas, a que o dito ouvidor deixara de atender,<br />

escolhendo-o para juiz ordinário.<br />

A estas considerações respondeu el-rei que, se Roque Bequimão,<br />

durante o ano do seu juizado, que já devia estar findo, tivesse dado ocasião a<br />

alguma perturbação, do que os povos recebessem desprazer e escândalo, nunca<br />

mais fosse admitido na Câmara, registrando-se, entretanto, aquela ordem para a<br />

todo o tempo constar.<br />

Oito anos depois, em 1725, encontramos Manuel Inocêncio<br />

de Bequimanz (com o apelido já modificado) que por essa ocasião<br />

alcançou sentença para poder servir de procurador da Câmara de<br />

São Luís, alegando que só poderia ser considerado inábil por infame se seu pai<br />

fosse cristão-novo, ou tivesse sido justiçado, o que não sucedera, pois Manuel<br />

Bequimão, que o fora, era apenas seu tio.<br />

Este, como se vê, era, ao que parece, filho de Tomás Bequimão,<br />

havendo já servido como escrivão do Juízo Eclesiástico na célebre<br />

– 24 –


– 25 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />

ação cominatória que os frades capuchos intentaram às saúvas para<br />

as fazer despejar da cerca do seu convento, cuja posse mansa e pacífica<br />

turbavam contra todo o direito. 5<br />

Além destes, possuímos autógrafos dos seguintes descendentes<br />

desta família:<br />

Inácio de Loyola Beckman – Vivia ainda, nos últimos anos do século<br />

XVIII, nesta capital, onde era tabelião e exercia o cargo de síndico<br />

dos religiosos de Santo Antônio, segundo se vê de documentos que<br />

temos à vista, de seu próprio punho, com datas de 1783 e 1789.<br />

Dr. Bernardo Bequimão – Promotor do Juízo Eclesiástico em<br />

1779 e cura da Sé. Existia ainda em 1792.<br />

José João Beckman – Temos, deste, dois documentos, todos do<br />

próprio punho; são duas certidões passadas “como pároco da freguesia<br />

de Nossa Senhora da Vitória da Igreja Catedral do <strong>Maranhão</strong><br />

por apresentação régia e instituição canônica” – uma de 1790, outra<br />

de 1803. Era também vigário-geral da Diocese.<br />

João Antônio Beckman – Foi administrador das diversas rendas<br />

nacionais e inspetor da Alfândega de Parnaíba, de 1835 a 1841.<br />

Tenente Tomás Raimundo Beckman – Em novembro de 1858, era<br />

presidente da Câmara Municipal e juiz de órfãos por lei, na cidade de<br />

Alcântara e seu termo.<br />

Consta isso de uma guia de recebimento de dinheiro de órfãos<br />

na importância de Rs. 54:631$000.<br />

Miguel Eliseu Beckman – Capelão da catedral em 1859. Encontramos<br />

este nome em uma Relação das perdas dos empregados da Catedral<br />

no mês de abril daquele ano. E – coisa singular! – entre os empregados<br />

cujos nomes figuram nessa folha, encontra-se o do então capelão<br />

Luís Raimundo da Silva Brito, atualmente arcebispo de Olinda. 6<br />

5 O Processo das Formigas é fato real. Correu no Juízo Eclesiástico do <strong>Maranhão</strong> em<br />

1712-1714, segundo cópias parciais que dele existem no <strong>Instituto</strong> <strong>Histórico</strong> e Geográfico<br />

Brasileiro (Rio de Janeiro), sob código Lata 467, Documento 6. JM.<br />

6 Não se perca de vista a data de publicação deste artigo, que é de fins de 1911. D. Luís<br />

Raimundo da Silva Brito, nascido em 1840, faleceu em 1921. JM.


José Ribeiro do Amaral<br />

Érico Pedro Beckman – Carcereiro da Cadeia Pública da capital,<br />

em 1860, e mais tarde sargento-vago-mestre do Corpo de Polícia,<br />

vivia ainda em 1879; era magro e de estatura bastante elevada.<br />

João Batista da Silva Beckman – Era delegado de Polícia na cidade<br />

de Vigia, província do Pará, em 1868. O documento que com a sua<br />

assinatura possuímos é um atestado em que ele declara que o vapor<br />

Odorico Mendes, da Companhia de Navegação a Vapor do <strong>Maranhão</strong>,<br />

entrou no porto daquela cidade, procedente dos portos do Sul em<br />

11, seguiu para o Norte na mesma data e voltou em 14, tudo de abril<br />

daquele mesmo ano.<br />

Francisco Xavier Beckman – Faleceu sendo chefe de seção do<br />

Tesouro Público Provincial em 1869. Era um caráter respeitabilíssimo.<br />

Violinista exímio, era tido aqui como o primeiro de seu tempo, tendo<br />

sido professor de Leocádio Rayol e regente da orquestra do Teatro<br />

São Luís durante muitos anos.<br />

Tomás Raimundo Beckman Júnior – Escrivão de órfãos da cidade<br />

de Alcântara e seu termo. O documento que isto nos comprova é<br />

uma guia de recebimento do dinheiro daquele juízo, visada em 7 de<br />

dezembro de 1870 pelo então juiz de órfãos daquela comarca, Dr.<br />

Segismundo Antônio Gonçalves, que mais tarde se retirou para<br />

Pernambuco onde, com o advento da República, foi governador, e<br />

atualmente é senador.<br />

Casemiro Francisco Beckman – Atual escrivão de um dos cartórios<br />

da cidade de Alcântara.<br />

Em nossos dias, disse João Lisboa, existiram, e existem ainda no<br />

<strong>Maranhão</strong>, alguns membros desta antiga família, já com o nome de Beckman<br />

restituído à sua genuína ortografia estrangeira, e temos ouvido que em época não<br />

muito afastada, um deles, que exercia o emprego de escrivão da Câmara, querendo,<br />

quanto em si estava, delir todas as memórias de um fato, que reputava injurioso,<br />

a fim de que ninguém mais o conhecesse por neto ou descendente do enforcado,<br />

subtraiu do Arquivo e do ventre dos livros todas as folhas que tinham relação<br />

com o mesmo fato.<br />

– 26 –


– 27 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />

O certo é que daqueles memoráveis acontecimentos não se encontram ali<br />

senão referências casuais muito posteriores, faltando tudo quanto é relativo aos<br />

dois anos em que eles tiveram lugar.<br />

Não sabemos quais as razões e testemunhos em que se baseou<br />

o nosso grande historiador para assim pensar.<br />

Quer-nos parecer, porém, com a devida vênia que a sua autoridade<br />

nos inspira, que muito outra é a causa da lacuna por ele apontada<br />

nos livros da Câmara.<br />

Quando, em comissão do ministro do Império, Visconde de<br />

Monte Alegre por aqui andou, em julho de 1851, o nosso ilustre<br />

poeta Antônio Gonçalves Dias a proceder a “exames nos arquivos<br />

dos mosteiros e das repartições públicas para a coleção dos documentos<br />

históricos relativos ao <strong>Maranhão</strong>”, retirou-nos daqui, entre<br />

muitos livros e documentos do Arquivo da Secretaria do Governo,<br />

doze da Câmara Municipal, segundo se vê da nota, apensa ao seu<br />

relatório, que diz: Livros da Câmara Municipal do <strong>Maranhão</strong> que vão remetidos<br />

para o Arquivo do Rio:<br />

1°. Registro de 1639-1664<br />

2°. Registro de 1654-1663<br />

3°. Registro de 1647-1668<br />

4°. Registro de 1668-1669<br />

5°. Registro de 1671-1676<br />

6°. Registro de 1685-1690<br />

7°. Registro de 1702-1710<br />

8°. Registro de 1732-1753<br />

9°. Registro de 1720-1809<br />

10°. Cartas régias 1648-1798


José Ribeiro do Amaral<br />

11°. Acórdãos 1628-1662<br />

12°. Acórdãos 1675-1683<br />

– 28 –<br />

<strong>Maranhão</strong>, 10 de julho de 1851<br />

(Assinado)<br />

Antônio Gonçalves Dias<br />

Como se vê, os livros que daqui foram retirados, para o Arquivo<br />

do Rio de Janeiro nada valem, estão lá abandonados, se existirem ainda,<br />

para nós são de um valor inestimável, insubstituível: representam a<br />

história de toda a nossa vida colonial até princípios do século XIX.<br />

Pela simples inspeção das datas, fácil é de ver que neles se deve<br />

encontrar tudo quanto diz respeito à Invasão Holandesa, às lutas<br />

com os jesuítas, à revolução de Bequimão, etc., cuja falta tanto lamenta<br />

Lisboa.<br />

E já que nos ocupamos disto, é ocasião de fazer aqui um apelo<br />

ao honrado Sr. Governador do Estado, 7 que tão carinhoso é por<br />

tudo quanto diz respeito a esta terra.<br />

Procure S. Exa. reaver estes livros que daqui nos levaram, que<br />

são nossos, que representam o esforço dos nossos antepassados pelo<br />

<strong>Maranhão</strong>; não consinta que permaneçam eles por mais tempo fora<br />

do lugar onde estavam e de onde nunca deveriam ter saído.<br />

Queira, como costuma querer, e não pequeno serviço terá prestado<br />

a esta terra que tanto lhe deve.<br />

(3.11.1911)<br />

7 Luís Antônio Domingues da Silva, governador do <strong>Maranhão</strong> no quadriênio 1910-1914. JM.


3<br />

Os franceses no <strong>Maranhão</strong><br />

– 29 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />

QUARENTA anos eram já passados do naufrágio de Luís de<br />

Melo e, com ele, do malogro da última tentativa de colonização,<br />

sem que a Portugal fosse dado, durante todo esse tempo,<br />

lançar suas vistas para esta parte de seus domínios, preocupado,<br />

como se achava então, a princípio com as guerras da África, que lhe<br />

consumiam o melhor de suas forças, e mais tarde, com a dolorosa<br />

passagem da Coroa ao domínio espanhol, quando, em 1594, um francês<br />

de nome Jacques Rifault, armador de Dieppe, andando a piratear<br />

pelas costas do Brasil, acossado por tremenda tempestade, de que<br />

lhe resultou a perda de seu melhor navio, veio, com os dois que lhe<br />

restavam, ter ao <strong>Maranhão</strong>.<br />

Aqui, abrindo relações com os selvagens, e ganhando a afeição<br />

do principal deles, o cacique Ovirapive, conseguiu fundar um<br />

pequeno estabelecimento, cuja administração confiou a Carlos des<br />

Vaux, que, depois de uma permanência de cerca de dois anos, em<br />

que logrou a posse de toda a Ilha e a amizade dos tupinambás, seus<br />

habitadores, partiu para a França a fim de obter de Henrique IV o<br />

apoio e proteção para fundar aí um estabelecimento permanente.<br />

Tais foram as informações que, dos recursos e riquezas naturais<br />

da nova terra, levou ao rei, que este determinou mandar explorála<br />

à custa da Coroa, fazendo voltar na mesma ocasião des Vaux,


José Ribeiro do Amaral<br />

acompanhado de Daniel de La Touche, Senhor de La Ravardière,<br />

que vinha desempenhando as funções de comissário régio.<br />

Chegados ao <strong>Maranhão</strong>, demoraram-se seis meses.<br />

Exatíssimo era quanto des Vaux havia contado ao rei; voltaram<br />

à França.<br />

Mas, nesse ínterim, Henrique IV acabava de cair sob o punhal<br />

de Ravaillac (1610), e as dissensões intestinas, civis e religiosas, que<br />

então consumiam aquele País, não permitiram a La Ravardière obter,<br />

de pronto, os auxílios que esperava da Coroa, e só depois de alguma<br />

delonga e não pequeno esforço, foi que conseguiu incorporar uma<br />

companhia, de parceria com Nicolau de Harlay, Senhor de Sancy e<br />

Barão de Molle e Gros Bois, e Francisco, Senhor de Rasily e Aumelles,<br />

aos quais, em nome de El-Rei Cristianíssimo, conferiu a Rainha Regente<br />

as cartas-patentes de tenentes-generais nas Índias Ocidentais e<br />

territórios do Brasil, fazendo-lhes, também por essa ocasião, doação<br />

de uma riquíssima bandeira com as armas da França em fundo azul<br />

celeste, tendo por divisa um navio no qual se via ela mesma ao leme,<br />

com o filho à proa, empunhando um ramo de oliveira que das mãos<br />

dela recebera, e por lema Tanti dux faemina facti.<br />

Organizada a expedição, composta de três navios – Regente,<br />

Carlota e Sant’Ana – com cerca de quinhentos homens, levantou ferro<br />

do porto de Cancale, aos 19 de março de 1612, vindo, depois de<br />

uma viagem das mais tormentosas, lançar âncora no <strong>Maranhão</strong>, aos<br />

26 de julho, na ilha então conhecida por Upaon-Mirim, à qual, em<br />

memória daquele dia, deram o nome de Santana, que ainda hoje dura.<br />

Aqui demoraram-se os expedicionários alguns dias, que não<br />

foram perdidos para a causa da catequese e civilização dos índios,<br />

chegando à Ilha Grande a 6 de agosto, depois de bem se haver de La<br />

Ravardière certificado, por intermédio de seu emissário Carlos des<br />

Vaux, da boa hospedagem que a todos reservavam os indígenas.<br />

Acompanhavam a expedição, a pedido de Maria de Médicis,<br />

regente da França, os padres capuchinhos Ivo d’Evreux, Cláudio de<br />

Abbeville, Arsênio de Paris e Ambrósio de Amiens, todos, pelas suas<br />

– 30 –


– 31 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />

virtudes, sendo os dois primeiros, particularmente Ivo d’Evreux, dos<br />

mais insignes religiosos que terras brasileiras têm pisado, acrescendo<br />

ainda a circunstância de haverem sido mais tarde os historiadores da<br />

missão, da qual bem podiam dizer que grande parte foram.<br />

Mas, a esse tempo, já à Metrópole haviam chegado vagos rumores<br />

da ocupação francesa, e então, só então, como que tornando a<br />

si do abandono a que havia deixado cair esta tão rica porção das suas<br />

possessões, foi que a corte de Madri se decidiu afinal a empreender a<br />

conquista do <strong>Maranhão</strong>.<br />

Aparelhada para esse fim a esquadra, que se compunha de dois<br />

navios redondos, uma caravela e cinco caravelões, com uma<br />

equipagem de menos de cem homens de mar e guerra, desferrou do<br />

porto do Recife aos 23 de agosto de 1614, ao mando de Diogo de<br />

Campos Moreno, que deveria em viagem juntar-se a Jerônimo de<br />

Albuquerque, dali saído desde 22 de junho com algumas embarcações,<br />

e já então na Fortaleza do Rio Grande.<br />

Reunidas as duas pequenas expedições, fez-se de vela, deste<br />

último porto, a armada, no dia 5 de setembro, sob o mando supremo<br />

do segundo, já investido no cargo de capitão-mor da conquista do<br />

<strong>Maranhão</strong>; e depois de uma derrota trabalhosa e difícil, deu fundo<br />

no dia 26 de outubro no sítio denominado Guaxenduba, onde, apenas<br />

desembarcados, trataram apressadamente todos de levantar fortificações,<br />

a fim de, assim, melhor resistirem a qualquer ataque por<br />

parte dos dominadores da ilha que lhes ficava fronteira.<br />

E não se iludiram.<br />

Acobertados pelas últimas sombras da madrugada de 19 de<br />

novembro, e cosidos com o mangue quanto lhes permitiam as canoas<br />

em que iam, começaram os franceses a despejar gente em terra,<br />

ferindo-se dentro em pouco a ação, que é conhecida pelo nome de<br />

Guaxenduba – do sítio em que teve ela lugar, e que é uma das páginas<br />

mais brilhantes e mais gloriosas de toda a nossa história colonial.<br />

As minguadas forças portuguesas, tendo à sua frente os dois<br />

velhos guerreiros – Jerônimo de Albuquerque, encanecido nas guerras


José Ribeiro do Amaral<br />

irregulares do Brasil, decidido e arrojado; e Diogo de Campos, o veterano<br />

de Flandres, calmo e imperturbável, cobriram-se, nesse dia, de<br />

glória, obrando excessos de energia, praticando gentilezas de valor,<br />

lutando enfim contra um inimigo dez vezes superior em número!<br />

Prolongou-se esta famosa jornada das dez horas da manhã até<br />

quase ao cair da noite, quando, repelidos por toda a parte, entregaram-se<br />

os franceses à mais desordenada fuga, abandonando o campo<br />

aos vencedores.<br />

No mapa da Provincia del Maragnone que acompanha a obra Istoria<br />

delle guerre del Regno del Brazile accadute tra la Corona di Portogallo, e la<br />

Republica di Olanda, composta, ed offerta alla sagra reale maestà di Pietro Secondo<br />

re di Portogallo, etc., dal P. P. Gio. Giuseppe di Santa Teresa, Carmelitano<br />

Scalzo. Parte Prima Anno MDCXCVIII. In Roma, nella Stamperia degl’Eredi<br />

del Corbelletti, nesse mapa, que se encontra entre as páginas 24 e 25 da<br />

referida obra, vem já assinalado o sítio onde feriu-se tão gloriosa<br />

peleja, a quatro léguas do Rio Munim, representado por um hexágono<br />

perfeito com a inscrição – Forte de Santa Maria, assim chamado<br />

(diz Diogo de Campos, Jornada do <strong>Maranhão</strong> por ordem de Sua Majestade<br />

feita o ano de 1614), por haverem os padres capuchos lançado sortes<br />

ao nome da fortaleza e ter saído o Nascimento de Nossa Senhora.<br />

A este brilhante feito de armas seguiu-se um tratado de tréguas,<br />

que não foi respeitado por ter sido concluído com piratas, –<br />

disse-o a Corte de Lisboa, sendo então enviado Alexandre de Moura<br />

com uma nova expedição e ordens terminantes para ultimar a conquista<br />

do <strong>Maranhão</strong>.<br />

No dia 11 de novembro de 1615, apresentou-se na barra a<br />

armada portuguesa, e, no dia seguinte, intimado a render-se, assinou<br />

Ravardière um auto de entrega da Fortaleza de São Luís, bem como<br />

dos navios, com toda a artilharia, munições e petrechos bélicos, havendo<br />

durado a ocupação francesa, no <strong>Maranhão</strong>, cerca de três anos<br />

e quatro meses.<br />

– 32 –<br />

(10.11.1911)


4<br />

Caráter, fins, meios e resultados<br />

da Ocupação Francesa em paralelo<br />

com a Invasão Holandesa<br />

– 33 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />

AQUEM ESTUDA a História do <strong>Maranhão</strong> e compara as<br />

duas invasões estrangeiras que logo nos seus começos se<br />

sucederam uma a outra com tão pequeno intervalo, não é<br />

possível (disse o nosso grande historiador) 8 que escape o pronunciado<br />

antagonismo do caráter, fins, meios e resultados de ambas.<br />

De fato, assim é.<br />

E, se não, vejamos, começando pelo próprio ato, em si, da invasão.<br />

Dos franceses não se pode propriamente dizer que invadiram<br />

– não, eles tomaram posse, ocuparam um território totalmente abandonado,<br />

cujas primeiras explorações lhes eram devidas, pois haviam<br />

sido feitas por armadores de Dieppe e datavam já de 1524, explorações<br />

completadas pelas navegações de Afonso de Chaintongeois até<br />

às bocas do Amazonas, em 1542.<br />

Foi de toda essa imensa extensão de território que, vinte e<br />

cinco anos mais tarde, Henrique IV fez doação a um bravo capitão<br />

da Religião Reformada, doação de que vamos encontrar de posse a<br />

8 Referência a João Francisco Lisboa. JM.


José Ribeiro do Amaral<br />

Daniel de La Touche, pelas cartas-patentes de julho de 1605, e que<br />

este conseguiu que lhe fosse renovada por Luís XIII em 1610, estendendo-se<br />

o seu domínio (dizia o texto da concessão renovada) desde o<br />

Rio do Amazonas até a Ilha da Trindade.<br />

Eram, portanto, os franceses portadores de um título, cuja legalidade<br />

não é aqui ocasião de apurar, que os habilitava a tomar posse<br />

de toda esta região.<br />

E ainda assim, como o fizeram?<br />

Procuraram a amizade e as alianças dos naturais do País, e,<br />

uma vez aqui estabelecidos, trataram de catequizá-los e civilizá-los,<br />

levando-os sempre pelos meios brandos, conseguindo, por esta forma,<br />

ganhar-lhes confiança tal, que não consta, durante o período de<br />

três anos e quatro meses, que tanto durou a Ocupação Francesa, ter<br />

havido qualquer ato de insurreição por parte dos indígenas.<br />

Era, portanto, a Missão Francesa uma missão toda de paz, toda<br />

no interesse da própria civilização.<br />

Dirigindo-se ao Brasil, procurando terras do <strong>Maranhão</strong>, certo<br />

não o haviam feito os franceses tão-somente no interesse ou por<br />

amor aos indígenas, não! Mais do que isso, para aqui os atraía e arrastava<br />

a idéia de arrancar de uma terra virgem tudo quanto ela lhes<br />

pudesse dar, e disso estavam mais que certos pelas afirmações de des<br />

Vaux; mas, enquanto por um lado assim pensavam e assim procediam,<br />

por outro, não descuravam um só instante dos índios, ativando<br />

por todos os meios a catequese e provendo ao seu bem-estar, atendendo-lhes<br />

assim às necessidades espirituais e temporais.<br />

Era Daniel de La Touche protestante. Não foi, entretanto, aos<br />

partidários de sua religião que se dirigiu ele para ser bem-sucedido<br />

nesta empresa.<br />

Pelo contrário, sem hesitar, entrou em conferência com católicos<br />

proeminentes, cuja lealdade perfeitamente conhecia, tais como: o<br />

almirante Francisco de Rasilly, uma das mais antigas glórias da França,<br />

e Nicolau de Harlay, uma de suas sumidades financeiras, conseguin-<br />

– 34 –


– 35 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />

do deles que se lhe associassem na exploração deste privilégio.<br />

Em todo o século XVII não conhecemos transação outra, entre<br />

católicos e protestantes, mais leal e desinteressada: foi, na verdade,<br />

uma empresa digna de contar em si o padre Ivo d’Evreux, tão<br />

sincero como justo.<br />

E dos holandeses, poderemos nós dizer outro tanto?<br />

Governava o <strong>Maranhão</strong> Bento Maciel Parente, quando, a 25<br />

de novembro de 1641, apresentou-se inopinadamente na barra poderosa<br />

esquadra holandesa, forte de dezoito velas, com cerca de dois<br />

mil homens de desembarque, a qual, recebida a princípio com salvas,<br />

como sói acontecer entre nações amigas, e logo em seguida com<br />

artilharia das baterias portuguesas, por mostrar intenções hostis, foi<br />

altaneiramente, transpondo o ancoradouro, dar fundo na Ponta do<br />

Desterro, no rio Bacanga.<br />

Aí, desembarcando metade de suas tropas, dispunha-se<br />

Lichthart a investir contra a fortaleza, quando Maciel por um emissário<br />

lhe fez notar a perfídia com que procurava senhorear-se de um<br />

território que só pertencia a El-Rei seu amo.<br />

Iludindo o velho governador com promessas falaces de um ajuste<br />

de tréguas, até que recebesse resposta dos Estados Gerais, a quem ia<br />

consultar nesse sentido, dirigiu-se João Cornelles à testa dos seus soldados<br />

para a fortaleza, que encontrou indefesa, e, prendendo a Bento<br />

Maciel, fez abater o pavilhão português e arvorar o holandês.<br />

Dar-se-á caso de maior perfídia?<br />

Colhida esta tão fácil vitória, entregaram-se os holandeses a<br />

toda a sorte de depredações, não respeitando sagrado nem profano.<br />

Pilharam as casas e os templos, levando mão sacrílega às imagens,<br />

que despedaçaram.<br />

Aterrados com este espetáculo, fugiram espavoridos os moradores<br />

para os matos, abandonando suas casas, ficando assim em pouco<br />

tempo a pequena cidade quase deserta; e não satisfeito ainda, fez<br />

João Cornelles prender a cento e cinqüenta dos mais importantes,


José Ribeiro do Amaral<br />

entre os quais se contava um sobrinho de Bento Maciel, atirando-os<br />

no porão de um navio, podre e inservível, que mandou sair barra<br />

fora, contando assim entregá-los a uma morte certa.<br />

Ainda mais. Fintou em cinco mil arrobas de açúcar os proprietários<br />

dos cinco únicos engenhos que havia nas margens do<br />

Itapecuru, reduzindo-os, por escárnio, a administradores ou feitores<br />

dos seus próprios estabelecimentos!<br />

E agora, que contraste entre uns e outros: entre o procedimento<br />

indigno de João Cornelles para com os pobres habitantes de<br />

uma pequena cidade, tomada à mão armada, à falsa fé, em plena paz,<br />

e abusando da fraqueza de um povo imbele e desarmado, não menos<br />

que das irresoluções de um velho setuagenário, e o cavalheiresco e<br />

nobre de Daniel de La Touche, logo após a Batalha de Guaxenduba,<br />

o qual, apesar de derrotado por Jerônimo de Albuquerque, não trepidou<br />

de mandar ao campo inimigo o seu cirurgião-mor e remédios<br />

para acudir aos feridos que, à míngua deles, faleciam!<br />

Convidado a jantar a bordo de um dos navios franceses pelo<br />

Senhor de La Ravardière, depois de haver sido recebido com termos<br />

muito corteses e de lhe terem sido prestadas todas as honras militares<br />

(é o próprio Diogo de Campos quem o diz) – observou que não<br />

faltava de comer, e música naval bem concertada, mostrando Ravardière na autoridade<br />

e no trato um vestígio honrado em que se enxergava despesa mais que<br />

ordinária. – Ao retirar-se o sargento-mor, salvaram os navios e fizeram-lhe<br />

todas as demais honras do estilo.<br />

Do pouco que aqui fica dito, conclui-se que:<br />

Os franceses levantaram, os holandeses derrubaram; os franceses<br />

deram começo à fundação da cidade e à construção dos primeiros<br />

edifícios que aqui houve, alguns dos quais ainda hoje duram; os holandeses<br />

incendiaram ou lançaram por terra esses mesmos edifícios; os<br />

franceses trouxeram para aqui não pequenos cabedais, inclusive alfaias<br />

para o convento de São Francisco (Santo Antônio), trabalhadas pelas<br />

próprias mãos da Duquesa de Guise; os holandeses arrebataram-nos<br />

tudo isso, como fintaram o açúcar de todos os engenhos e tudo o<br />

– 36 –


– 37 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />

mais que seus olhos cobiçosos viram, só não havendo feito o mesmo<br />

às pedras das casas das nossas fortalezas por lhes ser, de todo,<br />

impossível transportá-las nos seus já arruinados e imprestáveis navios.<br />

Eis por que na sua Introdução aos Anais históricos do <strong>Maranhão</strong>,<br />

por Berredo, dizia o nosso grande poeta9 que a expulsão dos franceses<br />

levara consigo tantas esperanças, e a invasão dos holandeses estragara<br />

tantas fortunas.<br />

9 Gonçalves Dias. JM.<br />

(17.11.1911)


5<br />

Fundação do <strong>Maranhão</strong><br />

– 39 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />

ACIDADE de São Luís, capital do Estado do <strong>Maranhão</strong>, é<br />

uma cidade de origem absolutamente francesa, ocupando,<br />

ainda hoje, o mesmo lugar escolhido por seus fundadores.<br />

Está situada a 2°30’44" de Lat. S. e 1°6’36" de Long., em arco<br />

do meridiano do Rio de Janeiro, em uma pequena península ao sul<br />

do Anil, a E. e N. do Bacanga, ligada à ilha do mesmo nome pela<br />

estrada do Caminho Grande, no lugar conhecido por Alto da Carneira.<br />

Foi na extremidade O. desta península, em um sítio previamente<br />

escolhido, a cavaleiro do ponto em que se dá a confluência<br />

dos dois já referidos rios – Anil e Bacanga – que, há 299 anos, lançaram<br />

os chefes da Missão Francesa os primeiros fundamentos de uma<br />

pequena cidade a que deram o nome de São Luís, em memória eterna<br />

de Luís XIII, rei da França e de Navarra, e ao fundeadouro que<br />

lhe ficava junto o de Porto de Santa Maria - em homenagem à Virgem<br />

Santíssima, cuja natividade se celebrava naquele memorável dia<br />

(8 de setembro), e também a Maria de Médicis, regente da França na<br />

menoridade de Luís XIII, como reconhecimento aos largos favores<br />

por ela dispensados à expedição.<br />

Vejamos agora como tudo isto teve lugar; como foram assentados<br />

os primeiros fundamentos da nossa querida São Luís.


José Ribeiro do Amaral<br />

Chegados ao <strong>Maranhão</strong> a 6 de agosto de 1612, guiados, como<br />

já vimos, por de Rasilly e de La Ravardière, trataram para logo os<br />

franceses de construir um forte que lhes pudesse dar a segurança da<br />

posse e conservação do território que acabavam de ocupar.<br />

Escolheram para esse fim (diz o padre Cláudio de Abbeville) uma<br />

bonita praça muito própria por ser numa alta montanha e na ponta de um<br />

rochedo inacessível, superior a todos os outros, e donde se descobre terreno a<br />

perder de vista, e, embora separada da terra firme, é inconquistável e muito<br />

forte, por estar cercada de dois rios profundos e largos que desembocam no mar<br />

ao pé do dito rochedo, onde é o único porto da Ilha do <strong>Maranhão</strong>, e nele podem<br />

fundear com toda a segurança navios de mil a mil e duzentas toneladas.<br />

Isto quanto à escolha do local para o forte.<br />

Vejamos agora como se construiu este, e onde e como se levantaram<br />

as primeiras habitações que contou a nascente cidade.<br />

Reconhecendo os índios a necessidade desse forte, por seu e nosso interesse<br />

(continua Cláudio d’Abbeville), principiaram a trabalhar logo nele com<br />

muita alegria e sinceridade, construindo muitas casas para os franceses, com<br />

pequenas árvores, que contavam de 12, 15 e 20 pés, conforme a altura que se<br />

desejava.<br />

Enterrando essas árvores no chão uma contra a outra, eles as prendiam<br />

com outros pedaços de paus atravessados com barrotes e cordas.<br />

Por cima de tudo estendiam ripas e cobriam com folhas de palmeira, chamadas<br />

em sua linguagem – pindoba –, e com tal arte que não deixava penetrar<br />

a chuva, e vista de dentro, notava-se curiosa disposição ou arranjo.<br />

Em pouco tempo edificaram muitas casas dessas, de um e dois andares<br />

com um grande armazém, onde arrumaram todos os gêneros que trouxemos, e<br />

que eles próprios foram buscar a bordo.<br />

Com auxílio dos franceses, montaram no dito forte, embora muito alto,<br />

vinte canhões grandes para sua defesa.<br />

Junto a este forte há uma praça cômoda e bonita: nela se encontram muito<br />

boas fontes e regatos, que são a alma de uma cidade, e aí existem todas as comodidades<br />

desejadas, como sejam paus, pedras, barro e outros materiais para a<br />

edificação sem muito dispêndio.<br />

– 40 –


– 41 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />

Tal é a singela descrição que nos faz o reverendo padre Cláudio<br />

de Abbeville do local preferido pelos chefes da Missão Francesa<br />

para a fundação da pequena cidade, local que, pelos termos claros e<br />

inconfundíveis por que o descreve, outro não é senão o outrora conhecido<br />

por Largo de Palácio, atualmente Avenida Maranhense.<br />

Abrangia, portanto, o estabelecimento francês, no seu começo,<br />

a área que se estende da Rampa até o lugar ocupado hoje pela<br />

Catedral e Palácio do Bispo, onde então havia, sob a invocação de<br />

São Luís, uma pequena capela provisória, à imitação das igrejas dos<br />

conventos dos capuchinhos de Paris, construída de madeira, cercada<br />

e coberta de ramos fortes, cortados de uma árvore chamada<br />

Acaiucantim.<br />

Era aí que, temporariamente, celebravam os religiosos capuchos<br />

todos os atos divinos, enquanto procediam à construção da capela<br />

de São Francisco do <strong>Maranhão</strong> (Santo Antônio).<br />

Aí, diz Ivo d’Evreux, celebrei missas, cantei vésperas, preguei e batizei<br />

catecúmenos.<br />

À tarde tocava o sino, todos se reuniam nesta capela onde se cantava a<br />

saudação angélica, implorava-se a graça divina, e depois cada um ia para<br />

onde queria.<br />

De um lado e de outro, isto é, ao norte e ao sul, era a praça<br />

ladeada pelas recentes habitações, às quais, com o correr dos tempos,<br />

outras melhores se foram naturalmente sucedendo, até o ponto<br />

em que a vemos hoje, tudo isto defendido por altas fortificações nas<br />

quais montaram os franceses vinte canhões grandes.<br />

Fala-nos também Cláudio de Abbeville, num dos tópicos da<br />

sua descrição a que nos referimos há pouco, de uma praça cômoda e<br />

bonita que havia junto ao forte, na qual se encontravam muito boas fontes e<br />

regatos, e existiam todas as comodidades desejadas tais como paus, pedras, barro<br />

e outros materiais para a edificação sem muito dispêndio.<br />

A praça a que alude aqui o ilustre capuchinho, pelas circunstâncias<br />

de que faz ele revestir a sua narração – “estar situada junto ao forte, e


José Ribeiro do Amaral<br />

existirem nela muito boas fontes e regatos”, outra certamente não é<br />

senão a em que, poucos anos depois, foi erigida a igreja de Nossa Senhora<br />

do Carmo, outrora Largo deste nome, hoje Praça João Lisboa,<br />

mesmo porque nenhuma outra existe nas condições acima apontadas.<br />

Quanto “às fontes e regatos” a que se refere a descrição, é<br />

tradição velha no <strong>Maranhão</strong> existirem, por aí assim, os grandes mananciais<br />

que fornecem toda essa água que, ininterruptamente, quer<br />

de verão, quer de inverno, vem ter à Fonte do Ribeirão e abastece, de<br />

há longos anos, a população que demora por aquelas imediações.<br />

E nem só tradição velha, não.<br />

Conhecemos, mesmo, documento positivo a semelhante respeito,<br />

e que vem em abono do que acabamos de dizer, o qual é o seguinte:<br />

Quando foi da sua construção, o que teve lugar em 1796, no<br />

governo de D. Fernando Antônio de Noronha, o encarregado da<br />

inspeção das obras que ali se praticavam, José Luís da Rocha, em<br />

ofício de 13 de fevereiro daquele ano, dirigido ao referido governador,<br />

com este instava para que mandasse avaliar e comprar um quintal de<br />

uma pequena casa de João Gomes Viana, porque sendo ele muito baixo e não<br />

dando saída por parte alguma às águas que nele se ajuntavam no inverno, ficavam<br />

encharcadas e iam filtradas pela terra ter à principal mãe-d’água da dita<br />

fonte que fica a mui pequena distância prejudicando-a com as suas impurezas<br />

e imundícies e tornando-se assim prejudiciais aos povos desta cidade.<br />

Mas voltemos ao fim principal da nossa conversa de hoje.<br />

Agasalhados nas suas habitações, depois de haverem todos, padres<br />

como soldados, passado as primeiras noites ao relento, sob o frondoso<br />

arvoredo que sombreava a beira-mar, trataram os da expedição francesa<br />

de marcar dia para a instituição solene da pequena cidade, ou antes, a posse<br />

oficial da terra ocupada em nome de El-Rei Cristianíssimo, sendo acordado,<br />

entre franceses e indígenas, que tal solenidade se realizaria a 8 de setembro,<br />

dia da Natividade da Virgem Santíssima.<br />

No dia aprazado estavam todos, logo bem cedo, com os franceses,<br />

e depois de haverem celebrado o santo sacrifício da missa na<br />

– 42 –


– 43 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />

capela de São Luís, de que já falamos, encaminharam-se todos<br />

processionalmente até o forte.<br />

Cedamos aqui a palavra a um dos historiadores da missão, o<br />

padre Cláudio de Abbeville. É tocante e belíssima a descrição que<br />

nos deixou o ilustre religioso, daquela memorável solenidade, a primeira<br />

que terras maranhenses viram, e tão ao sabor daquelas épocas<br />

de piedade, de fervor e de fé viva.<br />

Na frente, diz ele, ia um gentil-homem levando água benta, outro o<br />

incenso, outro o turíbulo.<br />

Atrás destes ia outro fidalgo conduzindo um lindo crucifixo, presente do<br />

Sr. Manoir, indo ao lado dele dois mancebos índios, filhos dos principais, carregando<br />

dois castiçais com tochas acesas alumiando a cruz.<br />

Chamava-se um destes moços Louy (depois Carlos, quando se batizou) e<br />

era filho de Japiaçu, principal de toda a Ilha, e o outro era o filho mais novo de<br />

Markoya-Pero, um dos maiores do lugar, chamava-se Patuá e era o mais pequeno<br />

dos seis rapazes que levamos para a França e, pouco antes de morrer, nas águas<br />

do batismo teve o nome de Tiago<br />

Estes dois meninos eram da mesma idade e foram pelo Sr. de Rasilly<br />

vestidos da mesma forma, e a ele entregues desde a nossa chegada ao <strong>Maranhão</strong>.<br />

Nós quatro religiosos, revestidos de sobrepelizes brancas, acompanhamos<br />

a cruz com ordens.<br />

Seguia-se depois o Sr. de Rasilly, loco-tenente-general de Suas Majestades,<br />

toda a nobreza e afinal os outros franceses, misturados com os índios.<br />

Principiamos a cantar a ladainha da Virgem Maria, como fizemos quando<br />

plantamos a cruz na Ilha de Santana.<br />

Chegando ao forte, no lugar escolhido para plantar-se a cruz, que era<br />

muito grande e aí se achava pronta, cantou um de nós o Te Deum Laudamus,<br />

e seguiram-se outras orações<br />

Em seguida teve lugar uma prática, acabada a qual o Sr. des Vaux fez<br />

compreender aos principais dos ditos índios, e a outros de sua nação, aí presentes,<br />

o motivo e o fim da ereção da cruz, que era como testemunho da aliança entre ele


José Ribeiro do Amaral<br />

e Deus, e solene protesto de abraçarem a nossa religião, desprezando inteiramente<br />

o maldito Jeropari que jamais podia existir diante dessa santa cruz, apenas abençoada,<br />

sendo forçado a deixar a terra, quando fosse erguido este símbolo da religião,<br />

pelo qual se obrigavam – em primeiro lugar, a deixar a má vida que tinham,<br />

e especialmente a não comer mais carne humana, embora de seus maiores<br />

inimigos; em segundo, a ser obedientes às leis e a tudo quanto lhes ensinassem os<br />

padres; e, finalmente, a combater com valor sob este glorioso estandarte, e mil vezes<br />

morrer antes que consentir fosse dali arrancada aquela cruz.<br />

Causou este discurso a mais funda impressão no ânimo dos índios, que<br />

exteriormente manifestaram a emoção que sentiam, assegurando que voluntária e<br />

satisfatoriamente acolhiam e abraçavam tudo quanto se lhes propunha, visto que,<br />

de há muito, desejavam conhecer o Deus que adoravam os franceses, e aprender<br />

como devia ser obedecido e adorado, protestando nunca faltar à promessa tão<br />

solenemente feita.<br />

Feito isto, de acordo com o cerimonial usado pela Igreja em ocasiões tais,<br />

procedeu-se à benção da cruz, que em seguida foi exposta à adoração de todos, a<br />

começar pelos sacerdotes, e depois por de Rasilly, pelos fidalgos e afinal por todos os<br />

franceses, uns após outros.<br />

A estes seguiram-se os indígenas, vindo, em primeiro lugar, os principais<br />

com particular devoção, como exemplo dado a todos os índios (diz o historiador<br />

da Missão).<br />

Estavam vestidos com bonitos sobretudos de cor azul-celeste, tendo por<br />

cima deles cruzes brancas adiante e atrás, que lhes foram dadas pelos loco-tenentes-generais<br />

para servirem nesta e noutras iguais solenidades, seguindo-se depois os<br />

velhos e pessoas antigas, e afinal todos os índios presentes, com ordem, sem confusão,<br />

uns após outros, os quais todos, assim como tinham visto os franceses fazerem,<br />

ajoelhavam-se perante a cruz, adoravam-na, beijavam-na com todo o respeito,<br />

humildade e devoção, como se houvessem, em toda a sua vida, sido educados à<br />

sombra do Cristianismo.<br />

Terminando este cerimonial todo, teve lugar a ereção da cruz (trabalho este<br />

exclusivamente feito pelos indígenas), procedendo-se em seguida à benção da Ilha<br />

ao troar da artilharia do forte e dos navios, em sinal de regozijo, dando, então, de<br />

Rasilly à fortaleza o nome de Forte de São Luís, e ao fundeadouro que lhe fica<br />

junto o de Porto de Santa Maria.<br />

– 44 –


– 45 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />

São decorridos 299 anos das cenas que, aqui, ligeiramente ficam<br />

descritas, mas ao percorrer ainda hoje aquelas páginas de Cláudio<br />

de Abbeville na sua História da missão dos padres capuchinhos na Ilha<br />

do <strong>Maranhão</strong>, como que nos parece vê-las renovarem-se aos nossos<br />

olhos, tão viva é a narração que delas nos deixou o venerável<br />

capuchinho, tão viva e tão verdadeira que pode e deve ser considerada<br />

como o auto da fundação da cidade<br />

À obra, a que acabamos de nos referir, acompanham sete finíssimas<br />

gravuras, das quais a primeira, na capa, representa o ato da elevação da<br />

cruz, e as outras seis, os retratos de seis indígenas transportados para a<br />

França. É raríssima (de 1614) e de inestimável valor. 10<br />

Não se sabe hoje, ao certo, precisamente, o lugar em que na<br />

antiga praça, ora Avenida Maranhense, foi erguido este primeiro<br />

monumento histórico pelos franceses.<br />

A cruz nunca foi renovada, e o tempo, que tudo gasta e consome,<br />

não nos deixou dela senão esta tradição.<br />

A julgar, porém, pelo que nos refere o historiador da Missão, parece-nos<br />

não andarmos muito longe da verdade, aventurando que ela deveria<br />

naturalmente ter sido hasteada na área que fica entre os edifícios ocupados<br />

hoje pela Capitania e Delegacia Fiscal, de modo que, mesmo ao longe,<br />

pudesse ser vista pelos que demandassem o porto.<br />

O nome de Forte de São Luís estendeu-se depois à nascente<br />

cidade, e, finalmente, a toda a ilha.<br />

E já agora não deixa de ser curioso saber os diversos nomes<br />

por que foi conhecida na História a ilha que habitamos.<br />

Pelos indígenas era chamada Upaon-Açu (Ilha Grande); pelos<br />

europeus Ilha dos Tupinambás, por serem estes os ocupadores de<br />

toda a costa, desde a foz do Jaguaribe até aqui.<br />

10 O autor faz referência à obra original, em francês (Paris: De l’Imprimerie de François<br />

Hvby, 1614. [7]. 394, [28], f. 7 il]. Dela, o historiador César Augusto Marques fez tradução<br />

em 1874 (São Luís: Typ. Do Frias, [6], cii, xvi, 456, [2], iii p.), e Sérgio Milliet em 1945<br />

[inicialmente, São Paulo: Livraria Martins, 196p. (Biblioteca Histórica Brasileira, 15; com<br />

introdução e notas de Rodolfo Garcia), com reedição em 1975 (Belo Horizonte: Itatiaia,<br />

297p.). Segunda edição de César Marques saiu recentemente em São Paulo (Siciliano,<br />

2002, 363p. Coleção <strong>Maranhão</strong> Sempre). JM.


José Ribeiro do Amaral<br />

Os portugueses denominaram-na Ilha das Vacas, e os sobreviventes<br />

da expedição de João de Barros – Ilha da Trindade.<br />

Os franceses que andavam a corso pelas costas do Brasil, deram-lhe<br />

o nome de <strong>Maranhão</strong>; alguns cosmógrafos o de Ilha de Ferro,<br />

pela suposição da existência de minas deste metal; os chefes da<br />

Missão Francesa o de Ilha de São Luís, e finalmente, Alexandre de<br />

Moura, após a capitulação assinada pelos franceses no Forte do Sardinha<br />

(São Francisco) o de Ilha de Todos os Santos.<br />

Foram todos estes nomes esquecidos, ficando somente o de<br />

São Luís, como uma compensação aos superiores intuitos da Missão<br />

Francesa.<br />

Completa o <strong>Maranhão</strong> a 8 de setembro do ano vindouro (1912)<br />

o tricentenário da sua fundação.<br />

Não deve este dia passar aqui despercebido, como a Minas,<br />

Ceará e outros Estados não passou, e, desde já, daqui apelamos para<br />

o honrado Sr. Governador do Estado, sempre pronto a ser o primeiro<br />

a dar o exemplo nestas comemorações cívicas, a fim de que seja<br />

colocado no local onde foi erigida a cruz, um padrão, uma pedra<br />

qualquer, por mais modesta que seja, rememorativa daquela<br />

imorredoura data.<br />

Bem pode essa pedra ter a forma simbólica de uma cruz em<br />

que sejam gravadas as armas da França naquela época e o escudo de<br />

hoje do <strong>Maranhão</strong>, com a seguinte inscrição:<br />

8 de setembro de 1612<br />

8 de setembro de 1912<br />

HOMENAGEM DO MARANHÃO<br />

AOS SEUS FUNDADORES<br />

– 46 –<br />

(24.11.1911)


6<br />

Vestígios da Ocupação Francesa.<br />

A igreja de Santo Antônio<br />

– 47 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />

DENTRE OS RAROS e preciosos vestígios dos três anos e<br />

quatro meses, que sob a Ocupação Francesa, tem, sob todos<br />

os títulos, o primeiro lugar, logo após o Forte de São Luís, é<br />

o convento de São Francisco (hoje Santo Antônio).<br />

A primeira notícia que a seu respeito encontramos é a que nos<br />

transmitiu Cláudio de Abbeville em sua obra, tantas vezes já por nós<br />

citada em artigos anteriores.<br />

Em distância de mil ou mil e duzentos passos (do Forte de São Luís)<br />

há um bonito lugar de recreio, diz o notável missionário, onde existe uma<br />

fonte, especial pela limpidez e bom gosto de sua água, viva e clara, que dela jorra<br />

e corre para o mar; é cercado de palmeiras, de guaiaco, de murtas e de outras<br />

árvores corpulentas e grandes, onde se vêem, muitas vezes, monos, macacos que<br />

vão ali beber água.<br />

Neste delicioso lugar os índios tupinambás derrubaram grande número de<br />

árvores e um pouco acima da fonte construíram uma grande e espaçosa casa para<br />

habitarmos, e outra a ela mística, para a celebração do Santo Sacrifício da Missa,<br />

servindo de capela.<br />

Demos a este lugar o nome de Convento de São Francisco.


José Ribeiro do Amaral<br />

É, portanto, o convento de Santo Antônio uma das primeiras<br />

fundações francesas ocupando, segundo se infere dos termos claros<br />

e precisos da descrição acima, o lugar que primitivamente lhe fora<br />

assinalado pelos religiosos capuchinhos.<br />

A fonte a que se refere o historiador da Missão, todos o sabem,<br />

é o lugar conhecido por Tanque de Santo Antônio, na cerca do<br />

convento deste nome.<br />

Data a sua fundação de agosto de 1612, isto é, dos primeiros<br />

dias posteriores à chegada, aqui, da expedição francesa, havendo<br />

sido seus fundadores os reverendos padres capuchinhos da província<br />

de Paris, Cláudio de Abbeville, Arsênio de Paris e Ambrósio<br />

de Amiens, tendo como superior da Missão o venerável padre Ivo<br />

d’Evreux.<br />

Grandemente auxiliado pelos indígenas, que a trabalho algum<br />

se poupavam, tiveram os padres a rara ventura de ver acabada a sua<br />

capela na véspera de Natal, a 24 de dezembro, portanto, daquele mesmo<br />

ano, ou cerca de quatro meses, contados do dia em que à mesma<br />

haviam dado começo, e muito a propósito, (acrescenta um deles) pela devoção<br />

que sempre teve o seráfico padre São Francisco a quem era dedicada.<br />

Nessa noite, celebraram-se aí, pela primeira vez, atos do culto<br />

divino.<br />

Na verdade enchia-me de imenso prazer (diz Ivo d’Evreux in Viagem<br />

ao Norte do Brasil, feita em os anos de 1613 a 1614) vendo nessa capelinha,<br />

feita de madeira coberta de folhas de palmeiras, mais semelhante ao presépio de<br />

Belém do que a esses grandes e preciosos templos da Europa, os nossos compatriotas<br />

franceses cantarem os salmos e matinas desta noite, e depois, purificados pelo<br />

sacramento da Penitência, receberem o mesmo Filho de Deus no presépio dos seus<br />

corações, envolvido nas faixas do Santíssimo Sacramento do altar.<br />

Festejamos também o dia de Natal, à noite pregamos, o que sempre fizemos<br />

depois das festas e nos domingos, e com prazer, embora muito sofrêssemos no<br />

princípio; enquanto durou esta devoção corria o tempo tão depressa, que o dia<br />

parecia ter somente duas horas; e assim achando-se o nosso espírito preocupado<br />

com obras piedosas sentia a morte vir tão depressa.<br />

– 48 –


– 49 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />

Com a capitulação, porém, dos franceses, o que teve lugar no<br />

dia 2 de novembro de 1615, no Forte do Sardinha (São Francisco)<br />

após condições humilhantes, arrogantemente ditadas por Alexandre<br />

de Moura e vergonhosamente aceitas por la Ravardière, retiraram-se<br />

também os capuchos, sendo o modesto hospício, que com tanto<br />

desvelo haviam levantado, entregue aos cuidados de frei Cosme da<br />

Anunciação e frei Daniel da Natividade, ex-guardião do convento da<br />

Paraíba, e frei Manuel da Piedade, afamado teólogo, ambos para aqui<br />

vindos de Pernambuco com Jerônimo de Albuquerque.<br />

E é de notar como se revelaram, ainda uma vez mais, nobres e<br />

elevados os intuitos da Missão Francesa.<br />

Os capuchinhos, muito ao contrário do que seria de esperar,<br />

talvez, em se tratando de vencidos para com vencedores, em vez de<br />

levar consigo quanto da França haviam trazido e o mais que depois<br />

receberam durante a sua estada aqui, deixaram à nascente igreja tudo<br />

quanto a mesma já então possuía, constante de alfaias custosas, trabalhadas<br />

pelas próprias mãos da Duquesa de Guise, cálices, castiçais<br />

e muitos objetos outros, próprios de templos católicos, no valor de<br />

mais de vinte mil cruzados, o que para o lugar e tempo era uma soma<br />

já bastante avultada.<br />

E não somente isso: tudo o mais que lhes estava a vir de Paris!<br />

Entretanto, Deus sabe quanto não lhes teria isso custado.<br />

Assim procedendo, tornando-se superiores à própria desdita,<br />

engrandeceram-se os missionários franceses perante a História.<br />

A Missão acabou, terminou aqui seus dias, como havia começado.<br />

Havia então no convento frei Arcângelo de Pembré, comissário,<br />

com dois religiosos capuchos, – tão venerandos e de tais mostras, que<br />

pareciam santos, e como tais foram recebidos pelos religiosos portugueses.<br />

Quando se retiraram para a França, não podendo ser indiferentes<br />

à sorte da colônia que, durante três anos, lhes tinha sido a<br />

preocupação constante e única de todos os instantes, aqui deixaram


José Ribeiro do Amaral<br />

ainda dois frades e um clérigo de missa, todos franceses, para cuidarem<br />

dos católicos e de vinte mil índios que tinham cristianizado.<br />

É Diogo de Campos (quem o afirma), sargento-mor e autor<br />

da Jornada do <strong>Maranhão</strong>, feita por ordem de Sua Majestade o ano de 1614, o<br />

vencedor dos franceses em Guaxenduba, testemunho, portanto, de<br />

um valor único a semelhante respeito.<br />

Retirando-se os capuchinhos franceses, ponderaram os religiosos<br />

portugueses que tinham vindo substituí-los, que – sendo o sítio do<br />

convento pouco conveniente, e havendo necessidade de outro, em que morou Monsieur<br />

de Pinau, francês, com todas as suas águas vertentes para nele começarem o mosteiro<br />

da sua ordem, por isso o pediram e terminaram solicitando carta de data do<br />

referido terreno.<br />

A carta foi passada por Alexandre de Moura em 12 de dezembro<br />

de 1615, no Forte de São Luís, tendo lugar a demarcação a 15 de<br />

janeiro de 1616, falando-se nela em uma baixa que fazia aí o oiteiro para<br />

o Rio Cutim no teso da baixa da outra banda – parecendo ser o lugar onde<br />

está o Tanque.<br />

Nesse mesmo dia foram os frades empossados das terras, das<br />

águas e das árvores, figurando, entre outros, como testemunhas desta<br />

doação, Jerônimo de Albuquerque e Bento Maciel Parente, depois<br />

tão tristemente célebre, e, como escrivão na posse, Frutuoso Lopes,<br />

tabelião de toda esta conquista.<br />

Com a nomeação do primeiro governador que teve este Estado,<br />

Francisco Coelho de Carvalho, em 1624, para aqui veio em sua<br />

companhia o reverendo frei Cristóvão de Lisboa, como comissário,<br />

trazendo consigo um bom socorro de religiosos da província de Santo<br />

Antônio.<br />

Em chegando aqui, em agosto do mesmo ano deu princípio<br />

ao convento no lugar onde ainda hoje existe, tendo o prazer de vê-lo<br />

acabado.<br />

O templo, que, sob a denominação de igreja de Santo Antônio,<br />

ora conhecemos situado no Largo do mesmo nome, não é, precisamente,<br />

o mesmo que há uns sessenta anos ali existia.<br />

– 50 –


– 51 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />

Não era assim o primitivo.<br />

Baixo, acaçapado, de proporções acanhadas, não tinha torre<br />

alguma na frente, existindo uma, pequena e muito baixa, nos fundos,<br />

por detrás do lugar onde se vê hoje o altar de Nossa Senhora da<br />

Conceição.<br />

Acompanhando toda a extensão da parede que olha para o<br />

poente (frontispício) corria em frente e encostado à igreja, um alpendre,<br />

de regular altura, sobre o qual se via em um nicho, encravado<br />

na mesma parede, uma imagem do padroeiro da igreja, de proporções<br />

tais que facilmente era avistada ao longe pelos que do Largo do<br />

Rosário se dirigiam à igreja de Santo Antônio.<br />

Interiormente, mais que pobreza respirava o templo.<br />

Era isto em 1850.<br />

Notável era então a decadência das ordens religiosas. O seu<br />

pessoal, já tão desfalcado no Brasil, e aqui mais que em outra qualquer<br />

província, ia, dia a dia, desaparecendo, seja pelos incessantes<br />

golpes da morte, seja pelas continuadas secularizações.<br />

Foi nesse momento de desfalecimento e em que o velho e<br />

tradicional templo ameaçava próxima ruína, pois que por toda a parte<br />

desabava já, que um religioso houve que se encontrou à altura da<br />

situação, merecendo por isso que lhe relembremos aqui o nome.<br />

Esse foi frei Vicente de Jesus.<br />

Natural da província do Pará, para aqui veio em 1849,<br />

ordenando-se no ano seguinte, e sendo nomeado, logo em seguida,<br />

guardião do convento, por haver revelado, desde cedo, não vulgares<br />

qualidades administrativas.<br />

Moço, com vinte e cinco anos apenas, de um gênio ativo e<br />

empreendedor, lutando não só com a falta de meios, como, ainda<br />

mais, com a de um pessoal habilitado e capaz de reforma, não desanimou<br />

entretanto.<br />

E assim, confiado em si e na força de sua vontade, dirigiu-se à<br />

Assembléia Provincial, pedindo um auxílio pecuniário para ajudá-lo


José Ribeiro do Amaral<br />

na obra que tinha em plano.<br />

Felizmente todos o compreenderam, e não foi sem assombro<br />

que os incrédulos daquele tempo viram, de velhas e carcomidas paredes,<br />

levantar-se, soberba e majestosa, a igreja do convento de Santo<br />

Antônio, no gosto da arquitetura gótica.<br />

Não teve o incansável e saudoso religioso a ventura de ver<br />

realizados os seus tão ardentes desejos, mas, pelo que deixou feito,<br />

bem se pode avaliar de quanto seria ele capaz, se a morte, a terrível<br />

morte, não o houvesse arrebatado tão moço, aos 36 anos de idade,<br />

quando se propunha, após onze anos de um trabalho sem tréguas, a<br />

dar a última demão às obras que com tanto ardor empreendera.<br />

Faleceu o laborioso franciscano a 4 de agosto de 1862.<br />

Era frei Vicente de Jesus um espírito culto, tendo sido, com o<br />

arcediago Dr. Manuel Tavares da Silva, de quem era grande amigo,<br />

fundador e redator d’O Cristianismo, jornal exclusivamente voltado<br />

aos interesses da Igreja Católica e que aqui existiu de 1854 a 1855<br />

Com o desaparecimento de frei Vicente, foi nomeado guardião<br />

do convento frei Ricardo do Sepulcro, que, a muito pedir, obteve da<br />

Assembléia Provincial a consignação anual de 12:000$000 para a<br />

conclusão destas obras, sendo pela Presidência incumbido da direção<br />

delas o engenheiro Francisco César da Silva Amaral.<br />

As obras, porém, pouco andamento tiveram, estacionando, de<br />

vez, e talvez para sempre, com a morte deste que foi o último religioso<br />

que teve a Ordem franciscana no <strong>Maranhão</strong>.<br />

– 52 –<br />

(1°.12.1911)


7<br />

Convento de Santo Antônio<br />

– 53 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />

ÉO CONVENTO de Santo Antônio uma casa tradicionalmente<br />

histórica. Grandes e importantes acontecimentos aí<br />

se passaram desde os primeiros dias da sua fundação.<br />

Vejamos se conseguimos, de alguma forma, reconstituir esse<br />

longo e curioso passado.<br />

Comecemos remontando-nos ao tempo dos seus fundadores.<br />

Aí, nas suas primitivas celas que bem modestas deviam ser<br />

então, foram escritas pelos notáveis capuchinhos Cláudio de Abbeville<br />

e Ivo d’Evreux as duas primeiras obras que do <strong>Maranhão</strong> se ocuparam,<br />

obras de um valor único e tal que, ainda hoje, outras não se<br />

conhecem que possam substituí-las sobre a história naqueles primeiros<br />

tempos.<br />

Essas obras, a que mais de uma vez nos havemos referido já,<br />

nestes despretensiosos escritos, são:<br />

– Histoire de la Mission des Pères Capucins en l’Isle de Maragnan et terres<br />

circonvoisines (Brésil) où il est traicté des Singularitez admirables & des Meurs<br />

merueilleuses des Indiens habitants de ce pais. Avec les missions et aduis qui ont este<br />

enuoyez de nouveau. Avec titre gravé et 7 planches gravées par L. Gaultier, dont 6<br />

repres. les portraits de six indigenes qui furent transportés en France.<br />

A Paris, François Huby, 1614. Abbeville, Claude de (predicateur capucin).


José Ribeiro do Amaral<br />

– Voyage dans le nord du Brésil faít durant les années 1613 et 1614 par<br />

le père Ives d’Evreux, publié d’après l’exemplair unique conservé a la Biblioteque<br />

Imperiale de Paris, avec une introduction et des notes par M. Ferdinand Denis.<br />

1615.<br />

Para bem se poder ajuizar do valor delas, basta saber que, da<br />

primeira, os raríssimos exemplares que ainda hoje aparecem, são, a<br />

grande esforço, adquiridos a preço de 440 de marcos (cada um), sem<br />

contar outras despesas; e que, da segunda, um único exemplar apenas<br />

existe. 11<br />

E essas obras, de um valor incomparável hoje, pela verdade e<br />

sinceridade com que foram escritas, e minúcia de que se revestem<br />

em todas as suas descrições, a ponto de se poderem reconhecer ainda<br />

hoje os mesmos lugares e sítios a que se referiam os piedosos<br />

capuchinhos – aí tiveram origem, aí foram gravadas pelos abnegados<br />

superiores da Missão Francesa nos curtos instantes que lhes sobravam<br />

dos seus labores apostólicos.<br />

Sim, é o convento de Santo Antônio uma casa tradicionalmente<br />

histórica.<br />

Foi aí que, sob a presidência de Bequimão, reuniram-se pela<br />

última vez, na noite de 23 de fevereiro, véspera de uma sexta-feira<br />

de Passos, os conjurados de 1684, adversários dos assentistas e das<br />

11 A menção à raridade das obras remete, outra vez, ao original francês. Em nota anterior,<br />

apresentamos o roteiro editorial da obra de Claude d’Abbeville. Quanto à de Yves<br />

d’Evreux, saiu em 1615, com o título de Suíte de l’histoire des choses plus mémorables advunuës en<br />

Maragnan ès annes 1613 & 1614, e foi destruída, ainda na tipografia, por motivos políticos,<br />

salvando-se dois exemplares (e não apenas um, como diz o autor destes artigos) mutilados,<br />

de que Ferdinand Denis se serviu para fazer a edição moderna da obra, alterando-lhe o<br />

título, conforme acima referido. Note-se, no entanto, que sua edição é de 1864 (Leipzig;<br />

Paris: Librairie A. Franck, [10], xlvi, 456p. Bibliothèque Américaine. Collection d’Ouvrages<br />

Inédits ou Rares sur l’Amérique). César Marques também traduziu o livro de d’Evreux<br />

(<strong>Maranhão</strong> [São Luís]: [Typ. do Frias]. 1874. [6], xlv, [2], 424, iiip.). Sua tradução foi<br />

reeditada em 1929, em coleção dirigida por Humberto de Campos (Rio de Janeiro: Livraria<br />

Leite Ribeiro, 1929. 442p. Biblioteca Escritores Maranhenses). Terceira edição foi<br />

publicada em 2002 (São Paulo: Siciliano, 436p. Coleção <strong>Maranhão</strong> Sempre). É estranho<br />

que Ribeiro do Amaral não faça qualquer referência às traduções de César Marques, tanto<br />

de d’Evreux como de d’Abbeville. JM.<br />

– 54 –


– 55 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />

leis do estanco, dali saindo a depor o capitão-mor Baltazar<br />

Fernandes.<br />

E como se nos afigura ainda hoje, decorridos 228 anos, ver,<br />

nessa reunião, o vulto de Manuel Serrão de Castro – o ilhéu brutal e de<br />

pouca suposição (no dizer de João Lisboa) arrancando e brandindo a<br />

espada a exclamar furioso que, pois haviam chegado até ali, já agora<br />

não havia recuar do propósito começado com tanto perigo, e que o<br />

traidor que o contrário sustentasse ali mesmo acabaria às suas mãos!<br />

Foi aí nesse convento que houve o singular processo dos seus<br />

religiosos contra as formigas, narrado pelo padre Manuel Bernardo,<br />

no tomo I, tít. 6°. § 50 da Nova floresta.<br />

Serviram de base a este processo os roubos que “as formigas<br />

grandes e daninhas faziam na despensa da comunidade,<br />

minando-a e afastando a terra debaixo dos fundamentos, com o<br />

que ameaçava ruína.”<br />

Foi nomeado um curador da res ad litem, teve lugar o autuamento<br />

em 17 de janeiro de 1713, e depois de várias diligências, seguindo-se<br />

seis meses sem falar no feito, requereram os autores a reinstauração<br />

da instância perempta, e deferindo-lhes como pediam o vigário<br />

forâneo, o licenciado Manuel Homem, “foram as formigas citadas<br />

em sua pessoa” pelo escrivão do eclesiástico Joseph Guntardo de<br />

Bequimanz, em 19 de julho de 1714.<br />

Com o termo de vista dada aos autores no dia seguinte,<br />

terminou-se esta ridícula farsa.<br />

Por diversas vezes serviu este convento de abrigo aos perseguidos,<br />

ou aos que desejavam opor-se às ordens régias, ou às determinações<br />

das autoridades legitimamente constituídas.<br />

Nestas condições, aí recolheram-se, entre outros, em julho de<br />

1720, o ouvidor-geral Dr. Vicente Leite Ripado, para subtrair-se a<br />

prepotências do governador Bernardo Pereira de Berredo; e em 1792,<br />

o também ouvidor-geral, Dr. João Francisco Leal, por não se ter<br />

querido submeter à intimação de suspensão que lhe fora mandada<br />

fazer pelo governador Fernando Pereira Leite de Foyos.


José Ribeiro do Amaral<br />

Aí, do púlpito da primitiva igreja, em uma eloqüência inteiramente<br />

nova, mais de uma vez se fez ouvir o grande padre Antônio<br />

Vieira, da Companhia de Jesus.<br />

Aí, desapontado em suas esperanças e ferido no seu orgulho,<br />

com a notícia da provisão de 17 de outubro de 1653, pela qual eram<br />

consideravelmente modificadas as resoluções favoráveis à liberdade<br />

dos índios, cuja execução havia excitado os tumultos de 1652 – aí,<br />

dizemos, tomada subitamente a resolução de partir, pronunciou o<br />

insigne orador a sua famosa oração conhecida por Sermão aos Peixes,<br />

em dia de Santo Antônio, e a propósito da festa que se celebrava<br />

no respectivo convento.<br />

Daí, da parte do antigo convento, desde 1838 ocupado pelo<br />

Seminário Maior, saíram sacerdotes dos mais ilustres de que se pode<br />

honrar o clero de qualquer país católico, bastando citar, entre muitos<br />

cujos nomes não nos ocorrem agora, os do saudoso padre Raimundo<br />

Alves da Fonseca, do erudito monsenhor Dr. João Tolentino<br />

Guedelha Mourão, do grande educador que foi o cônego Raimundo<br />

da Purificação dos Santos Lemos, do Dr. Joaquim de Sampaio Castelo<br />

Branco, do padre João Manuel de Carvalho, de D. Luís Raimundo<br />

da Silva Brito e de D. Carlos Luís d’Amour, os dois últimos, arcebispos<br />

hoje: o primeiro da Sé de Olinda e o segundo da de Cuiabá. 12<br />

Foi o convento de Santo Antônio a residência de dois dos<br />

mais virtuosos antístites que tem contado a Diocese do <strong>Maranhão</strong>:<br />

Dom frei Joaquim de Nossa Senhora de Nazaré, o último dos bispos<br />

nomeados pelo governo português, e que nos últimos dias do<br />

domínio lusitano aqui foi presidente da Junta Governativa; e Dom<br />

Antônio Cândido de Alvarenga, removido mais tarde para São Paulo,<br />

onde faleceu.<br />

Finalmente, para encerrar estas linhas, aí na igreja do convento<br />

de Santo Antônio repousam os restos de muitos homens notáveis,<br />

ocorrendo-nos neste momento os nomes dos seguintes:<br />

12 Hoje: entenda-se, à época em que escrevia o autor. Dom Carlos Luís d’Amour, nascido em<br />

1836, foi o segundo bispo e o primeiro arcebispo de Cuiabá, onde faleceu em 1921. J. M.<br />

– 56 –


– 57 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />

– Padre Ambrósio de Amiens, um dos quatro membros da<br />

Missão Francesa, falecido a 9 de outubro de 1612;<br />

– Dr. Antônio Corrêa de Lacerda, grande botânico, que faleceu<br />

em 21 de julho de 1852, deixando por sua morte uns vinte e dois<br />

volumes manuscritos de diversas obras, algumas das quais apenas<br />

esboçadas, tornando-se sobre todas notável pela sua importância, e<br />

por se julgar completa, a que tem por título Matéria médica das províncias<br />

do Pará e <strong>Maranhão</strong>, acompanhada de mais de duzentas estampas, desenhadas<br />

e coloridas com esmero.<br />

– Dr. José Maria Barreto Júnior, formado pela Faculdade de<br />

Medicina do Rio de Janeiro, deputado à Assembléia Geral Legislativa<br />

pelo <strong>Maranhão</strong> e um dos vice-presidentes desta província; foi, também,<br />

por muitos anos, comandante superior da Guarda Nacional da<br />

Capital. Neste caráter, em 1865, espontaneamente ofereceu-se para<br />

marchar para a Guerra do Paraguai, o que teve lugar a 5 de agosto do<br />

mesmo ano, sendo mais tarde, em remuneração de tantos serviços,<br />

distinguido com o posto de brigadeiro honorário do Exército e o<br />

título de Barão de Anajatuba.<br />

E finalmente o padre Raimundo Alves da Fonseca, falecido<br />

em 1885, sacerdote insigne nas letras e virtudes.<br />

(19.1.1912)


8<br />

Qual será a população atual de São Luís?<br />

– 59 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />

DANDO COMEÇO a estas linhas, é com o mais vivo prazer<br />

que fazemos nosso o belíssimo artigo que, a este propósito,<br />

em o Almanack do <strong>Maranhão</strong> de 1860, segundo se crê, atribuído<br />

à pena de um dos homens de mais talento e gosto que já tivemos, e<br />

também mais cheio de serviços a esta terra, o benemérito Dr. Antônio<br />

Henriques Leal.<br />

A população, diz ele, é o centro para o qual convergem todos os materiais<br />

de uma estatística e donde partem os esclarecimentos que iluminam e dão-lhe o<br />

cunho da verdade e exatidão.<br />

Um país cuja população não é conhecida em suas condições sociais, diferenças<br />

de idade, de sexo, estado civil, classes, profissões, movimento e de desenvolvimento,<br />

não pode ser bem administrado, porque o governo tem necessidade de<br />

tomar por guia o arbítrio e o acaso.<br />

Nestas condições infelizmente estamos nós: os poderes do Estado, ainda<br />

quando tenham veemente desejo de acertar, erram e vexam a população, principalmente<br />

na distribuição dos impostos e nas divisões territorial, judiciária e<br />

eleitoral.<br />

Com empenho e tenacidade da parte das autoridades havia de conseguir-se<br />

muito, embora os obstáculos que lhes oporiam a ignorância, a incúria, as prevenções,<br />

os preconceitos, as más paixões e os interesses feridos de muitos.


José Ribeiro do Amaral<br />

A falta de instrução é a causa principal de todos os obstáculos de um<br />

registro de censo, por isso que a maior parte da população, não sabendo ler, não<br />

compreende as suas vantagens, evita-o ou falseia-o com números inferiores, por<br />

julgar que é feito para o fim de recrutar, de criar novos impostos, etc.<br />

A estes obstáculos acrescem os erros cometidos pelas autoridades incumbidas<br />

de sua organização, que para forrarem-se a trabalhos puníveis fazem mapas<br />

de sua imaginação: o cálculo inexato das idades, negando-as ou alterando-as muitos<br />

indivíduos, principalmente do sexo feminino, declarações incertas das profissões, e<br />

mais que tudo o movimento perpétuo das populações. Com tempo, porém, e repetidas<br />

e variadas operações, chegar-se-ia ao conhecimento da verdade, havendo boa<br />

vontade e dedicação.<br />

É um dos trabalhos que se procura executar com mais exatidão nos países<br />

civilizados, por ser de seu conhecimento que se pode inferir o crescimento e decrescimento<br />

da população, o seu estado de civilização, prosperidade, salubridade, etc.<br />

Isto que, com tanta ponderação e critério, escrevia o Dr. Antônio<br />

Henriques Leal em 1860, reproduz-se infelizmente ainda hoje,<br />

decorridos cinqüenta e dois anos.<br />

E como é triste, no meio de tudo isto, confessar que não conhece<br />

o Estado as forças de que dispõe; que não temos um censo,<br />

mesmo imperfeito, da nossa população!<br />

Um dos últimos recenseamentos a que, nos termos do art. 13<br />

do Regulamento de 30 de dezembro de 1871, se procedeu na Província,<br />

na administração do Dr. Augusto Olímpio Gomes de Castro,<br />

falecido senador da República, excluídas as paróquias de São Félix<br />

de Balsas, São Pedro de Alcântara da Carolina e Santa Teresa da Imperatriz,<br />

cujos trabalhos não foram enviados, deu para o <strong>Maranhão</strong><br />

uma população de 335.325 almas.<br />

Que este resultado não era a expressão da verdade, disse-o o<br />

próprio presidente no relatório com que a 18 de maio de 1874 passou<br />

a administração da Província ao seu sucessor:<br />

O conhecimento que tenho de grande parte da Província habilita-me a<br />

duvidar da exatidão dos dados colhidos pelas comissões.<br />

– 60 –


– 61 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />

Estou convencido de que a nossa população é muito mais numerosa. E<br />

nem era de esperar que fosse a expressão da verdade a primeira tentativa de<br />

recenseamento de uma população derramada por um território tão vasto, como é o<br />

nosso, cortado de rios e quase privado de estradas.<br />

Deu este recenseamento à capital da Província 27.817 habitantes,<br />

com 4.210 fogos em 3.898 casas habitadas; e à Ilha toda, 34.923<br />

almas, o que era simplesmente irrisório.<br />

Remontemo-nos, agora, um pouco ao passado, e procuremos<br />

estudar desde os seus começos o desenvolvimento gradual e progressivo<br />

que foi tendo a população na Ilha do <strong>Maranhão</strong>.<br />

Em 1612, por ocasião da ocupação francesa, existiam, segundo<br />

o padre Cláudio de Abbeville, em toda a Ilha, 27 aldeias com<br />

cerca de 12.000 almas.<br />

Em 1648, era a sua população, exclusive os índios, de 400 colonos<br />

portugueses e 80 soldados, não sendo maior, por se ressentir,<br />

ainda, a pequena cidade dos desastrosos efeitos produzidos pela Invasão<br />

Holandesa.<br />

Em 1683 havia já, só em São Luís, para mais de 1.000 habitantes.<br />

Em carta de 23 de maio de 1661, escrita por D. Pedro de Melo<br />

ao padre Antônio Vieira, na qual lhe referia o levante em que foram<br />

presos os jesuítas pela primeira vez, diz: “O tumulto do povo deviam<br />

de ser mais de seiscentas almas.” (Berredo, Anais, n.° 1041).<br />

Ora, para que a esse tumulto se pudessem achar presentes 600<br />

pessoas, era preciso que a população da cidade fosse, então, aproximadamente<br />

de cinco a seis mil almas.<br />

Manuel Guedes Aranha no seu Papel político sobre o Estado do<br />

<strong>Maranhão</strong>, apresentado ao Sr. D. Pedro II no ano de 1685, referindo-se à<br />

cidade daquele tempo, diz: Compõe-se a cidade de mil e tantos vizinhos, em<br />

que há muita nobreza e gente boa, mas muita pobreza, uma matriz, quatro conventos,<br />

uma Misericórdia, uma igreja de São João e uma ermida de Nossa Senhora do<br />

Desterro em um retiro sobre o mar, todas as tardes freqüentado de devotos. O<br />

<strong>Maranhão</strong> com Tapuitapera tem hoje o melhor de dois mil homens de armas.


José Ribeiro do Amaral<br />

Ora, não sendo admissível a hipótese de que todos os habitantes<br />

de São Luís fossem guerreiros, e dando-se ao <strong>Maranhão</strong> mil e<br />

quinhentos dos dois mil homens de armas que contava com<br />

Tapuitapera, devia a população da cidade ser, então, pelo menos de<br />

seis mil habitantes.<br />

Descrevendo a cidade do seu tempo, dizia Teixeira de Moraes<br />

(Relação política, parte 1ª., cap. 1°. e 4°., 1692): A cidade de São Luís tem<br />

quinhentas casas e oitocentos homens capazes de tomar armas, cuja maior parte<br />

vive nas suas lavouras e só vem à cidade pela quaresma e festas do ano.<br />

No princípio, as paredes e tetos da cidade, tudo era de pindoba, de que<br />

ainda hoje restam algumas renovadas, mas agora as fabricam de taipa de pilão<br />

com sua telha-vã sobre mal polida madeira.<br />

Frei Domingos Teixeira, na Vida de Gomes Freire de Andrade,<br />

parte 2ª., publicada em 1727, e já depois do falecimento do autor,<br />

tratando da revolta de Bequimão que, como se sabe, teve lugar de<br />

1684 a 1685, dá a cidade de São Luís habitada por quinhentos vizinhos.<br />

Não se pode saber, ao certo, em que acepção tomava o cronista,<br />

aqui, a palavra vizinhos, não sendo de presumir que fosse no sentido de<br />

habitantes, pois é de todo impossível que em princípios do século XVIII<br />

tão reduzido fosse ainda o número de moradores de São Luís.<br />

Continuando a descrever a cidade, fala ainda frei Domingos<br />

Teixeira na sua pobreza, autorizada nas construções dos seus edifícios, alguns<br />

dos quais eram de madeira, cobertos de folhas de palmeiras, e outros de barro de<br />

taipa e adobos, cobertos de telha-vã.<br />

A cidade, estendida por espaçosas ruas, é cercada de espessas matas pela<br />

parte de terra.<br />

Berredo, nos Anais, usa da mesma expressão, quando dá pouco<br />

mais de mil vizinhos à cidade de São Luís.<br />

O padre João Felipe Bettendorf, na sua História da missão da<br />

Companhia de Jesus no Estado do <strong>Maranhão</strong> (1699), é mais positivo quando<br />

dá à cidade de São Luís uma população de mais de seiscentas<br />

– 62 –


– 63 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />

famílias, pela maior parte pobres, o que equivale a uma população de<br />

cerca de seis mil almas.<br />

Em 1788, segundo um arrolamento então procedido pelo vigário<br />

da única freguesia da cidade (Nossa Senhora da Vitória), era a<br />

população de São Luís bem numerosa já, contando-se 16.580 habitantes<br />

e 1.482 fogos.<br />

Em 1819, segundo se lê na Poranduba maranhense, de frei Francisco<br />

de Nossa Senhora dos Prazeres, era a população da cidade 16.000<br />

almas, não entrando nesse número os índios. Só no ano de 1817 –<br />

continua este ilustre religioso – vieram para o <strong>Maranhão</strong> 8.000 escravos.<br />

Se não morressem tantos como morrem todos os anos (uma grande parte por<br />

causa do mau trato e da triste lembrança de se verem separados para sempre de<br />

sua pátria e parentes) existiria agora na Província extraordinário número deles.<br />

(2.2.1912)<br />

* * *<br />

Prosseguindo nas ligeiras considerações que até aqui havemos<br />

feito, relativamente ao progressivo desenvolvimento que foi tendo a<br />

população em São Luís, daremos começo hoje a estas linhas com o<br />

testemunho de Raimundo José de Sousa Gaioso.<br />

Descrevendo a cidade do seu tempo (1814), dizia o autor do<br />

Compêndio histórico-político dos princípios da lavoura do <strong>Maranhão</strong>: A cidade de<br />

São Luís do <strong>Maranhão</strong> se pode dividir em dois bairros, a saber: o da Praia Grande,<br />

ou freguesia de Nossa Senhora da Vitória, que é o de maior povoação, ainda que<br />

menos extenso do que o segundo. Tem muitos sofríveis edifícios, e com muita comodidade;<br />

mas a desigualdade do terreno lhes tira uma parte de sua formosura, e algumas<br />

ruas mal calçadas fazem a sua serventia bastante incômoda.<br />

A liberdade que cada qual tem de edificar como lhe parece faz que tudo é irregular.<br />

A Praça do Comércio nada tem que admire, à exceção da ponte de pedra<br />

e cal que se está fazendo para o desembarque das fazendas. O Palácio do Governo,<br />

mandado edificar pelo governador Joaquim de Melo, é uma enfiada de casas


José Ribeiro do Amaral<br />

sem acomodação alguma, apesar de ocupar um terreno suficiente para fazer um<br />

edifício suntuoso. Por baixo fica a Contadoria da Fazenda e a casa em que a<br />

Junta faz as suas sessões. A do bispo, que foi antigo colégio dos jesuítas, e mística<br />

à igreja Catedral, se acha hoje com melhores acomodações, mas sem nobreza<br />

alguma. A Casa da Câmara que também fica no mesmo bairro, e a Cadeia<br />

Pública só têm de particular a nova capela que há poucos anos se edificou e se acha<br />

sem exercício.<br />

O segundo bairro é o da freguesia nova de Nossa Senhora da Conceição, e<br />

se é mais extenso, também é mais miúda e diminuta a sua povoação em geral;<br />

porém, há de pelo tempo adiante ser considerável, por ainda compreender muitos<br />

terrenos por edificar. Neste bairro fica o quartel militar, denominado de Campo<br />

de Ourique. É um edifício na figura de um paralelogramo, edificado no tempo do<br />

governador D. Fernando Antônio de Noronha, com todas as acomodações e oficinas<br />

necessárias, porém muito úmido, apesar das diligências que se têm feito para<br />

igualar o terreno dos lados e fundo com o da frente, que era mais baixo, e suposto<br />

se ache concluído aparentemente, porque nem se formou a casa para os conselhos<br />

de guerra, que devia ser por cima do portão da entrada, nem se guarneceu o<br />

edifício com a custosa cantaria que se mandou vir de Lisboa, por não poderem as<br />

paredes com tanto peso. Toda esta cantaria se acha ainda na praça fronteira ao<br />

dito quartel, e a maior parte já encoberta pela terra que as enxurradas precipitam<br />

sobre ela.<br />

Fora da cidade se acham vários sítios de recreio e frutíferos, sendo o mais<br />

principal de todos, o do comendador José Gonçalves da Silva (atual Quinta das<br />

Laranjeiras ou do Barão) cujas incansáveis e dispendiosas diligências da arte<br />

não têm podido emendar os obstáculos da natureza.<br />

A povoação da cidade, (conclui o historiador Gaioso) conforme as<br />

notícias que tenho dos últimos numeramentos feitos pelos róis da desobriga, não<br />

chegava a trinta mil almas; mas como do ano de 1808 para diante ela tem<br />

acrescido, talvez que hoje complete esse número.<br />

O coronel de engenheiros Antônio Bernardino Pereira do Lago,<br />

que aqui serviu no governo do marechal Bernardo da Silveira Pinto<br />

(1819-1822), e que tanto se notabilizou por serviços de toda a sorte<br />

prestados ao <strong>Maranhão</strong>, notadamente pelo levantamento da Carta<br />

– 64 –


– 65 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />

geral da Província, trabalho este que ainda hoje serve de base e de guia<br />

aos que se abalançam a empresas tais, pela segurança e escrúpulo<br />

com que foi feito – o coronel Lago, dizemos, no Mapa geral da população<br />

da Província do <strong>Maranhão</strong> do ano de 1821, que acompanha a sua obra<br />

Estatística histórico-geográfica da Província do <strong>Maranhão</strong>, fazendo a distribuição<br />

da população da antiga colônia, por freguesias, dava às duas<br />

em que se dividia a cidade a seguinte população: Nossa Senhora da<br />

Vitória – 1.458 fogos, com 11.713 almas; Conceição – 1.256 com<br />

7.808, o que perfazia para a cidade daquele tempo um total de 2.714<br />

fogos, com 19.611 habitantes, o que aproximadamente equivalia a<br />

uma média de 8 para cada fogo.<br />

De 1840 em diante, raro é o relatório de presidente que não se<br />

ocupe deste importantíssimo ramo de serviço público.<br />

No Jornal da Sociedade Filomática Maranhense, junho de 1847, número<br />

2, p. 85 e 86, sob a epígrafe Movimento da População da Capital,<br />

1840-1845, encontra-se o seguinte judiciosíssimo artigo que da<br />

máxima autoridade se reveste, por ser firmado pelo notável médico<br />

maranhense Dr. José da Silva Maia, um dos redatores daquele jornal:<br />

Pelos mapas que ora oferecemos ao público (diz este ilustre clínico), vêse<br />

que se enterraram no cemitério desta cidade nos anos que decorreram de 1840-<br />

1845 – 7.722 pessoas, o que dá para cada ano, termo médio – 1.287, e que no<br />

mesmo tempo batizaram-se, em ambas as freguesias (Vitória e Conceição) 4.168,<br />

o que dá para cada ano, termo médio – 694, havendo uma diferença dos<br />

enterramentos sobre os batizados de 593 pessoas anualmente.<br />

Ora, se tivéssemos de julgar do movimento da população da nossa cidade<br />

pelo que mostram os mapas, não eram precisos muitos anos para que ela desaparecesse<br />

completamente; entretanto, é sabido que, se a população não vai em grande<br />

aumento, como nos primeiros anos, pelo menos conserva-se estacionária.<br />

Convém, pois, averiguar a causa de tamanha diferença e mostrar ao mesmo<br />

tempo que existem erros nos dados estatísticos que apresentamos.<br />

É na Capital que grande parte dos doentes vem procurar os socorros da<br />

medicina que lhes faltam por lá e que infelizmente raras vezes aproveitam, porque


José Ribeiro do Amaral<br />

quando a isso se resolvem é já tarde, e quase sempre sucumbem; ao passo que<br />

ninguém vem aqui batizar seus filhos, e nem dá-los à luz; o número dos óbitos por<br />

conseguinte deve crescer, e muito mais ainda nos seis anos de que tratamos, porque<br />

nesse tempo reuniu-se dentro da capital quase toda a população branca da Província,<br />

que fugia da rebelião; e porque de outro lado grassou uma desastrosa<br />

epidemia de sarampo durante os três primeiros anos, que foi causa de não pequena<br />

mortandade, com especialidade nas crianças, no de 1841.<br />

O número dos enterramentos no Cemitério da Misericórdia, sendo aliás o<br />

único que temos, não representa o número exato dos óbitos, porquanto todas as<br />

crianças que nascem mortas, ou que morrem logo depois que nascem, sem o sacramento<br />

do batismo, são enterradas nos quintais das casas, o que mostra o grande<br />

atraso das nossas leis policiais, higiênicas e administrativas.<br />

E isto basta para provar igualmente que na nossa cidade não é possível<br />

atualmente conhecer-se o número exato dos nascimentos; além disso muitos batizados<br />

deixam de ser inscritos nos livros das respectivas freguesias, e muitos outros se<br />

fazem em casas particulares de que os párocos não têm notícia, uns por padres, e<br />

outros por qualquer pessoa – em artigo de morte; e finalmente costumam os<br />

vigários a confiar o assento a sacristãos que os fazem com bem pouco cuidado.<br />

Assim, pois, algumas certidões de idade se têm requerido, que não se encontram<br />

nos competentes livros.<br />

O senador Cândido Mendes de Almeida no seu Atlas do Império<br />

do Brasil, trabalho que, no seu gênero, até hoje ainda não foi igualado,<br />

quanto mais excedido, dava, em 1868, à capital da Província,<br />

35.000 almas.<br />

No meio de opiniões tantas, diversas e tão desencontradas algumas,<br />

sem documentos nem dados oficiais, nada se pode afirmar,<br />

de certo, sobre a população atual de São Luís. Não obstante,<br />

parece-nos não estar longe da verdade dizer que é ela, presentemente,<br />

superior a 50.000 almas.<br />

É o que procuraremos demonstrar em subseqüente artigo.<br />

– 66 –<br />

(9.2.1912)


* * *<br />

– 67 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />

Ao encerrar o nosso último artigo, dissemos parecer-nos não<br />

estar longe da verdade dar à população atual de São Luís um cômputo<br />

superior a 50.000 almas; diremos mais: pode, desassombradamente,<br />

avaliar-se em 60.000 habitantes.<br />

É o que procuraremos demonstrar nas linhas seguintes.<br />

Pelo lançamento de 1836-1837, o mais antigo e um dos mais<br />

regulares dos que se encontram no Tesouro do Estado, do tempo<br />

em que por esta repartição corria semelhante serviço, e que nos demos<br />

ao trabalho de minuciosamente examinar, havia na capital da<br />

Província 2.199 casas habitadas, e, com pequena diferença, o mesmo<br />

número de praças, travessas, ruas, etc., das atualmente existentes, sendo<br />

a sua população, segundo os melhores cálculos, avaliada então em<br />

25.000 almas.<br />

Pelo lançamento de 1895-1896, posterior àquele sessenta anos,<br />

trabalho que corre hoje por conta do Município, verificou-se contar<br />

a cidade, na direção E.-O., 2.546 casas, e na N.-S., 2.752, o que perfaz<br />

um total de 5.298 casas habitadas, distribuídas por 74 ruas, 16 praças,<br />

21 travessas e 2 becos, sendo considerados como seus pontos mais<br />

culminantes: o Campo de Ourique, a 32m, 692 acima do nível médio<br />

das marés; Largo de São João, a 29m, 418; e Largo do Carmo, a 22m,<br />

876.<br />

Finalmente, pelo último lançamento, conta a cidade, em números<br />

redondos, segundo informações colhidas na Intendência, 6.000<br />

casas habitadas, não incluídas nessa cifra cerca de 1.000, derramadas<br />

por diversos lugares nas proximidades da Estação, Cemitério, etc. –<br />

mas compreendidas todas no perímetro da Capital.<br />

Se, em 1814, levado pelos últimos numeramentos feitos pelos<br />

róis da desobriga, dava o historiador Gaioso, segundo já ficou dito no<br />

nosso último artigo, uma população aproximada de 30.000 almas à


José Ribeiro do Amaral<br />

cidade do seu tempo; se, em 1814, quando a cidade para o rumo de<br />

L., pouco além da matriz da Conceição se estendia, e havia muitos<br />

terrenos por edificar ainda, como ele próprio o refere, sendo considerado<br />

sítio de recreio, e já fora da cidade, o do comendador José<br />

Gonçalves da Silva (atual Quinta do Barão ou das Laranjeiras); se,<br />

em 1821, davam-lhe o autor da Poranduba e o coronel Lago uma população<br />

de 20.000 almas; se, pelo lançamento de 1836-1837,<br />

contavam-se-lhe 2.199 casas habitadas, com uma população<br />

presumível de 25.000, não é muito dar-se-lhe, atualmente, uma população<br />

de 60.000 habitantes, depois das grandes e numerosas<br />

edificações que se vêem por toda a parte, hoje que tem ela mais do<br />

triplo das casas que tinha em 1836.<br />

Àqueles, porém, a quem parecer exagerada esta nossa afirmativa,<br />

bastará lembrar que na direção S., para além de São Pantaleão,<br />

encontra-se hoje uma cidade inteiramente nova, composta, é verdade,<br />

de pequenas e modestas habitações, mas que enchem a grande<br />

área compreendida entre esta igreja, o Largo de Santiago, Hospital<br />

Militar, Cemitério Municipal e Rua Senador João Pedro.<br />

Na época, a que acabamos de nos referir, isto é, em 1836, existiam<br />

já aí os cemitérios dos Ingleses e o da Misericórdia (o cemitério<br />

velho) e o primeiro Hospital dos Lázaros, por detrás deste, ambos<br />

não há muito arrasados, e bem se compreende que edifícios tais não<br />

seriam levantados nos lugares em que, até há pouco, ainda eram vistos,<br />

se já então se derramasse a cidade para além deles.<br />

O que parece certo é que, à exceção do Hospital Militar, Quinta<br />

da Boa Hora, que primitivamente pertenceu ao cirurgião-mor José<br />

Maria Barreto (atual Fábrica de Tecidos São Luís) e de uma outra que<br />

foi do falecido comendador João Gualberto da Costa (atual Fábrica<br />

Cânhamo), e que são as construções mais antigas do bairro, raríssimas<br />

edificações deveriam então por ali haver.<br />

E tanto isto assim é, que as ruas de São Pantaleão e da Madre<br />

Deus, que por aquele lançamento (1836-1837) tinham 63 casas cada<br />

uma, possuem presentemente, a primeira, 279 prédios, e a segunda,<br />

172, não compreendidos neste número os por concluir.<br />

– 68 –


– 69 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />

Estudando a cidade na direção E., chegaremos ainda ao mesmo<br />

resultado: veremos toda essa área, hoje, coberta de grandes e pequenas<br />

habitações; destas, numerosíssimas choupanas, sobretudo nos lugares<br />

conhecidos por Baixinha, Vila Timon, João Força, etc, etc.<br />

Da boca do Caminho Grande ao lugar denominado Dois<br />

Leões, que é a continuação ainda da Rua Grande, e onde chega<br />

atualmente o perímetro da cidade, contavam-se, ainda não há muitos<br />

anos, apenas as seguintes Quintas: de Carlos Rocha, ocupada<br />

hoje pelo major Francisco da Costa Rodrigues; do Lapenberg (atual<br />

Fabril Athletic Club); Educandos (antigo Armazém da Pólvora<br />

até 1818, quando foi incorporado à Fazenda Provincial); do Barão<br />

de Turiaçu (propriedade atual do coronel Manuel Inácio Dias Vieira);<br />

ltamacaca, do Lamarão, (Empresa Ferro-Carril) do major Inácio<br />

José Ferreira, do Dr. Felipe Joaquim Gomes de Macedo, do Dr.<br />

Roberto Frebourg, do desembargador Viriato Bandeira Duarte, do<br />

Monteiro e uma ou outra casinha muito rara. Entretanto, vê-se hoje<br />

inteiramente edificado todo o leito dessa estrada, não só até ao<br />

Dois Leões, mas ainda até o Anil.<br />

O Cemitério dos Passos, hoje fechado, construído por acórdão<br />

tomado em mesa geral da mesma irmandade, de 3 de outubro de<br />

1841, bem mostra que a cidade, por esse lado, até então, quando<br />

muito, até aí se estendia.<br />

A Rua Grande, que pelo lançamento de 1836 tinha 126 prédios,<br />

conta hoje 330 habitados, ou o triplo dos que então possuía!<br />

Até 1844, segundo se vê de uma planta da cidade desse tempo,<br />

estava ainda esta cercada de trincheiras no Alto da Carneira, trincheiras<br />

cujos flancos se apoiavam nos rios Bacanga e Anil, e que eram os<br />

restos das que, em 1839, foram levantadas por ocasião da Balaiada.<br />

Se lançarmos as vistas para a direção N.E., apresentar-nos-á a<br />

cidade o mesmo espetáculo, chegaremos ainda à mesma conclusão:<br />

ruas que, de vias públicas só tinham o nome, hoje já se acham calçadas<br />

e edificadas, havendo quase que desaparecido esses numerosos<br />

terrenos baldios que até bem pouco tempo por ali se viam.


José Ribeiro do Amaral<br />

Para não ir mais longe, basta citar a Companhia de Fiação e<br />

Tecidos Maranhense (Camboa) com as construções que lhe ficam<br />

adjacentes; a do Chumbo, as edificações feitas na cerca do convento<br />

de Santo Antônio, em frente à Rua do Pespontão, etc.<br />

E se, ao que fica dito, se acrescentar ainda a grande corrente<br />

da imigração síria que para aqui se tem encaminhado nestes últimos<br />

anos; que, como hoje, não eram então ocupados os baixos<br />

dos sobrados e que não havia essas construções de nova espécie,<br />

mais vulgarmente conhecidas pelos nomes de cortiços, tão prejudiciais<br />

à saúde e moralidade públicas e em que grande é a aglomeração<br />

de indivíduos de toda a casta, teremos que é, mais que racional,<br />

o cômputo acima.<br />

– 70 –<br />

(23.2.1912)


9<br />

A cidade de São Luís por ocasião<br />

da Invasão Holandesa<br />

– 71 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />

Começado em 1615 por Jerônimo de Albuquerque, que, com<br />

rara habilidade, se soubera aproveitar das primitivas construções<br />

francesas, pouco mais de vinte e cinco anos contava, em<br />

1641, por ocasião da Invasão Holandesa, o pequeno estabelecimento<br />

português de São Luís, que, então, tinha por governador a Bento<br />

Maciel Parente, o feliz e opulento donatário da Capitania do Cabo<br />

do Norte.<br />

Da narração de Berredo (Anais históricos, Livro XI), claramente<br />

se vê terem os holandeses dado o desembarque no Desterro, onde a<br />

terra faz volta para o Portinho, acrescenta o Visconde de Porto Seguro,<br />

e daí guiado para a cidade, atacando e tomando, já à entrada<br />

desta, uma de suas portas que, em vão, tentara valorosamente defender<br />

o capitão Paulo Soares de Avelar.<br />

Mas, o que era a cidade daquele tempo?<br />

Entre as páginas 44 e 45, parte segunda e livro segundo da<br />

Istoria delle guerre del Regno del Brasile accadute tra la Corona di Portogallo e la<br />

Republica di Olanda dal P. P. Gio. Giuseppe di Santa Teresa, Carmelitano<br />

Scalzo, impressa em Roma no ano de 1698, ornada de numerosas<br />

estampas, cartas geográficas, etc., etc., gravadas em aço, delineadas


José Ribeiro do Amaral<br />

por Andréas Antonius Horatius e esculpidas por Benedictus Fariat,<br />

obra esta raríssima hoje, e por isso mesmo de um valor único,<br />

encontram-se a planta e a perspectiva da cidade de São Luís por<br />

ocasião da Invasão Holandesa.<br />

Comparando a planta e desenhos feitos então (1641) pelos<br />

holandeses com a cidade atual, vê-se, pela planta, que a cidade, naquele<br />

tempo, estendia-se na direção S., quase sem interrupção até o<br />

Desterro, existindo já, com muitas casas, as ruas que mais tarde vieram<br />

a receber os nomes de Formosa (Afonso Pena), da Palma, do<br />

Giz (28 de Julho) e Estrela, cortadas por outras que, pela mesma<br />

planta, evidentemente se vê serem as atuais de Santana, Direita, da<br />

Saúde e Cascata (Jacinto Maia).<br />

Sob os números 6, 7 e 15, respectivamente, assinala ainda a<br />

planta, nos mesmos sítios onde ainda hoje se encontram as igrejas<br />

do Carmo (Chiesa della Madona del Carmine) – que, pela sua configuração,<br />

nos pareceu ser o maior edifício da cidade de então; a de São<br />

João (S. Giovanni), a curta distância, por detrás desta, e de Santo Antônio<br />

(Convento di S. Francesco), que se achava já fora da cidade, no<br />

meio dos matos (boschi), como diz a planta.<br />

Examinando a planta na direção L., vê-se que tinha a cidade<br />

cinco vias principais. A primeira, e mais extensa de todas com algumas<br />

casas já, e que corre à esquerda da igreja do Carmo, é aí designada<br />

pelo nome de strada maestra (Rua Grande), parecendo-nos, assim,<br />

vir daí este nome que ainda hoje conserva.<br />

Correndo paralelamente a esta, vêem-se perfeitamente as outras<br />

quatro: da Paz, Sol, Afogados, que parte de detrás do Colégio<br />

dos Jesuítas, e uma última que vai ter à igreja de Santo Antônio, e que<br />

outra não é senão a rua deste nome. Em frente e por detrás da igreja<br />

de São João, duas outras correm paralelas, verificando-se pela disposição<br />

atual da cidade serem essas a rua deste nome, e a das Flores,<br />

esta com algumas casas dispersas.<br />

A ermida, ou pequena igreja do Desterro, vem aí mencionada<br />

sob o n° 5, com o nome de Igreja de São Jorge – Chiesa di S.<br />

– 72 –


– 73 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />

Giorgio, e parecendo-nos assim ter sido esta a sua primitiva invocação.<br />

Do que não resta a menor dúvida, pois que isto claramente se<br />

vê da planta, é que esse bairro era então, da cidade, a parte mais<br />

populosa, ou a em que a população se achava mais condensada, o<br />

que naturalmente se explica pela maior proximidade em que se encontrava<br />

do litoral.<br />

A área hoje ocupada pela Avenida Maranhense, antigo Largo<br />

de Palácio, toda coberta de fortificações, formava, então, uma como<br />

cidadela para a qual se entrava por uma porta situada pouco mais ou<br />

menos na altura do prédio onde ora funciona a Administração dos<br />

Correios.<br />

Dentro dessa área, além do convento dos Jesuítas, exatamente<br />

no lugar hoje ocupado pelo Paço Episcopal e de grande número de<br />

habitações, vê-se bem distintamente, no centro, uma figura assinalando<br />

o sítio onde, pelos capuchinhos franceses, fora, em 1612, elevada<br />

a primeira cruz e celebrada, pela vez primeira, o santo sacrifício<br />

da missa nestas terras.<br />

Fora das fortificações, mas bem próximo delas, na esquina da<br />

Rua de Nazaré com a 28 de Julho, vê-se, isolado, um edifício, o qual,<br />

pela vetustez que ainda hoje apresenta, outro certamente não é senão<br />

o vulgarmente conhecido por Palácio dos Holandeses.<br />

Isto quanto à planta.<br />

Pela perspectiva, vê-se a cidade de São Luís com suas casas,<br />

igrejas, fortes, etc.<br />

No antigo Largo de Palácio descortina-se perfeitamente a residência<br />

dos governadores, circulada de fortificações e diversos edifícios<br />

outros, entre os quais, distintamente, a primitiva igreja da Misericórdia,<br />

fronteira ao Palácio, e com a frente voltada para o mar.<br />

Em um plano inferior a este, um pouco abaixo das fortificações<br />

a que nos referimos acima, vê-se uma como linha de trincheiras,<br />

apoiada em dois pequenos fortes ou redutos, a qual nada mais é<br />

que o atual Forte de São Luís, com os seus dois baluartes de São


José Ribeiro do Amaral<br />

Cosme e São Damião que, conquanto desmontados hoje, existem<br />

ainda nas duas extremidades desta fortaleza,<br />

Na planta, tem esta fortificação o nome de Castelo de São<br />

Felipe, vendo-se logo em seguida, no lugar hoje ocupado pela guarda-moria<br />

e diversos outros prédios fronteiros ao Tesouro do Estado,<br />

os armazéns onde eram recolhidos os gêneros vindos da Metrópole<br />

e os de produção da Colônia; e, mais adiante ainda, uma bateria na<br />

saliência que fica entre as extremas das ruas de Santana e Direita.<br />

Traz ainda a planta, sob a denominação de fango (lama), uma<br />

faixa de terreno que, pela posição que se lhe assinala, é precisamente<br />

o atual Apicum, com uma casinha solitária ao lado.<br />

Abrange, também, a planta a margem direita do Rio Anil, fronteira<br />

a essa parte da cidade, já então habitada.<br />

Aí destacam-se duas pontas.<br />

Em uma delas, a que fica mais próxima, e que, inconfundivelmente<br />

é a de São Francisco, vê-se, no alto, uma pequena igreja com a<br />

sua cruz, voltada para o mar, e algumas casas derramadas pela encosta;<br />

e embaixo, na praia, uma bateria ou fortim.<br />

Na outra, um pouco mais afastada, e que nos pareceu ser a<br />

Ponta d’Areia, mas muito mais alta do que atualmente é, há ainda<br />

uma outra igreja com a frente para o Boqueirão, deixando ver pela<br />

parte posterior do seu lado direito o princípio de um forte.<br />

Será a atual Fortaleza ou Reduto de Santo Antônio da Barra<br />

com a sua capelinha, há pouco incendiada?<br />

Tal era a cidade de São Luís quando, a 25 de novembro de 1641,<br />

insidiosamente, se apresentou a esquadra holandesa diante do porto.<br />

– 74 –<br />

(1°.3.1912)


10<br />

Disposições diversas, relativas à cidade de São Luís.<br />

Como eram, primitivamente, conhecidas as suas ruas,<br />

ou, antes, como se diferenciavam umas das outras.<br />

Quando começaram a ter nomes próprios. Ruas, praças,<br />

travessas, praias e fortes de São Luís: origem dos<br />

nomes de algumas delas e mudanças por que têm passado.<br />

Ruas com mais de um nome ao mesmo tempo.<br />

– 75 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />

EM VEREAÇÃO de 6 de outubro de 1646 delibera a Câmara<br />

de São Luís que, visto as casas da cidade ou as mais delas<br />

serem de pindoba, ninguém trouxesse ou desse fogo senão em<br />

panela para se evitarem os incêndios, pena de mil réis pagos na cadeia.<br />

A princípio eram de pindoba as paredes e tetos das casas, mas<br />

com o correr dos tempos, sobretudo de 1692 em diante, foi essa<br />

edificação sendo substituída por outra mais de acordo com o progressivo<br />

desenvolvimento que foi tendo a cidade. Passaram então as<br />

casas a ser construídas de taipa de pilão com telha-vã sobre mal polida<br />

madeira. Por aquele tempo tinha São Luís quinhentas casas.<br />

Em 1665, deliberou a Câmara de São Luís mandar fazer caminho<br />

de carro da cidade até o Cutim, caminho que, segundo se verifica<br />

de um termo de vereação de 1691, se consertava anualmente, sendo<br />

os moradores obrigados a concorrer para isso com seus escravos,


José Ribeiro do Amaral<br />

que se reuniam em princípios do mês de julho, atrás da igreja de São<br />

João, onde começava a estrada.<br />

Até 1733 ainda não tinham nomes as ruas. Designavam-se,<br />

geralmente, ou pelos pontos a que iam ter, ou pelas casas por que<br />

passavam, ou, finalmente, pelo nome de uma ou outra pessoa distinta<br />

ou mais conhecida que nelas morava. Assim, era muito comum,<br />

por exemplo, o dizer-se rua que vai ter à Olaria, à Fonte da Telha, à<br />

Forca, etc.<br />

Em 1692, além das duas fontes supramencionadas, havia também<br />

a das Pedras, sendo então a Rua de Amaro Reis a mais freqüentada<br />

do povo e procissões.<br />

E nada há de estranho nisso – nesse modo de assim designar<br />

as ruas, pois ainda em nossos dias, muito comum era entre nós o<br />

dizer-se, por exemplo: Canto das Frazoas, querendo indicar a casa<br />

de construção antiqüíssima, habitada por uma das mais importantes<br />

e respeitáveis famílias da Província (a família Frazão), e que há uns<br />

bons vinte anos se via ainda na Rua do Sol, esquina da de São João,<br />

hoje inteiramente reconstruída; Canto do Lambão, Canto dos Quadros,<br />

Beco do Papo Roto, etc. etc.<br />

Em 1746, começam já os terrenos a ter valor, vendendo-se<br />

por seis mil réis um de cinco e meia braças de frente, sito na rua que<br />

vai das Mercês para a Olaria.<br />

Em 1756, arremata-se o conserto de quarenta e seis braças de<br />

calçada da Praia Grande por 111$000.<br />

Em vereação de 8 de janeiro de 1757, mencionam-se já as ruas<br />

do Desterro, do Carmo, de Santo Antônio, de São João e da Praça da<br />

Praia Grande, únicos bairros que existiam então, segundo parece.<br />

Continua-se, entretanto, a fazer uso dos nomes ou designações a que<br />

nos referimos há pouco.<br />

É desse tempo, ou antes, de 1758, o prédio sito na Praça João<br />

Lisboa, de propriedade, outrora, do Barão de Coroatá, e onde presentemente<br />

tem as suas oficinas a Pacotilha.<br />

– 76 –


– 77 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />

De um auto de arrematação de 12 de janeiro de 1772, que<br />

temos à vista, assinado por Joaquim de Mello e Póvoas, consta a<br />

existência de uma morada de casas, confiscada, entre outros bens,<br />

aos jesuítas proscritos, e sita na rua denominada do Quebra-Potes.<br />

O traslado do auto de inventário e avaliação diz: Uma morada de<br />

casas de taipa e pilão com dois quartos assobradados da parte sul e de pedra e cal<br />

até o sobrado, cobertas de telha sitas em doze braças de chão pouco mais ou menos,<br />

as quais por se acharem com todo o emadeiramento do ar e o assoalhado dos<br />

sobrados totalmente arruinados e muita parte deles podres, foram vistos e avaliados<br />

pelos ditos louvados em quatrocentos mil réis com que se vai, e se declara que<br />

as ditas casas são situadas na rua chamada Quebra-Potes – místicas pela parte<br />

do Norte com as da viúva Dona Luísa Maria de Assunção com quintais para o<br />

poente.<br />

Não nos foi possível saber a que rua corresponde, atualmente,<br />

essa que então tinha o nome de Quebra-Potes.<br />

De 1762 a 1764, mencionam já os livros do precioso Arquivo<br />

da Intendência Municipal desta Capital, ora confiado aos cuidados<br />

do muito zeloso funcionário o Sr. Francisco Joaquim Pereira Rego, a<br />

existência de mais três ruas: do Giz, Formosa e da Madre de Deus,<br />

segundo se vê dos seguintes termos de arrematação, constantes do<br />

Livro n.° 12 de Acórdãos de 1764-1767:<br />

1°) Termo de arrematação que faz Pedro de Souza Martins, da<br />

calçada da Rua do Giz, em 18 de maio de 1762 pela quantia de 170$000;<br />

2°) Idem, idem, que faz Felício Antônio Cordovil, mercador,<br />

morador na Rua Formosa, do contrato das aguardentes da terra, por<br />

tempo de três anos, que principia a correr a 18 de novembro de<br />

1763, pela quantia de 700$000;<br />

3°) Idem, idem, que faz Francisco Amândio Lansarote, da calçada<br />

da Rua da Madre de Deus, em 17 de setembro de 1764, pelo preço<br />

de 70$000.<br />

Até 1790, pouco além da igreja de São João estendia-se a cidade<br />

por esse lado, contando-se apenas, além do Quartel do Campo de


José Ribeiro do Amaral<br />

Ourique, então em construção, raríssimas e modestas habitações, aqui<br />

e ali dispersas. Vê-se isso de um ofício de 19 de novembro daquele<br />

ano, do ouvidor João Francisco Leal ao ministro do Ultramar.<br />

Finalmente, para se poder avaliar do que era a cidade, até quase<br />

meados do século XIX, basta saber que, ainda em 1837, era o<br />

Largo de João do Vale (mais tarde Praça da Assembléia e ora Praça<br />

Benedito Leite) tapado por uma cerca; e que nesse mesmo ano, por<br />

acórdão de 27 de outubro, concedia a Câmara a Antônio José Pereira<br />

Rego e a Francisco Ferreira de Carvalho, licença para tirarem terra<br />

no Largo da Sé por espaço de três meses, tal como se pratica atualmente<br />

nos barreiros do Caminho Grande.<br />

E isto, por mais que pareça estranho, dava-se ainda em 1837, e<br />

o que é mais, em pleno coração da cidade!<br />

(Vide Livro de acórdãos da Câmara Municipal de 1837-1841).<br />

– 78 –


11<br />

[Primitivas denominações de ruas]<br />

– 79 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />

ÉO LANÇAMENTO de 1837-1838, a que já tivemos ocasião<br />

de nos referir, o mais antigo e o mais seguro dos que se encontram<br />

no Tesouro do Estado, do tempo em que por esta<br />

repartição corria semelhante serviço.<br />

Por um Índice que lhe vem apenso, vê-se que tinha São Luís,<br />

então, as seguintes ruas, travessas, becos, praias, largos, praças, frentes,<br />

barracas, trapiches, etc.<br />

Ruas: de São João, São João da Praia, São João da Divisão, da<br />

Fonte das Pedras, da Cruz, Ferreiros, do Ribeirão, Manga, Egito,<br />

Formosa, do Estaleiro, da Palma, Desterro, Giz, Calçada, Estrela,<br />

Rua Velha, do Machado, do Sá Vedra, Santo Antônio, Alecrim, Barqueiros,<br />

Barrocas, Violas, do Nazaré, Sol, Barbeiros, Paz,<br />

Quebra-Costas, Grande, Relação, Covoca, Direita, Fundão, Açougue,<br />

Cascata, Precipício, Barraquinhas, Poço, Flores, Madre de Deus,<br />

Craveiros, São Pantaleão, Forca Velha, Portão, Pespontão, Deserto,<br />

Santa Rita, Santaninha, Norte, Remédios, Passeio, Hortas, Alegria,<br />

Prazeres, do Moinho do Vento, Retiro, Tapada, da Praia de Santo<br />

Antônio, Viração, Galhofa, Rua Cortada, Campo de Ourique, Afogados,<br />

Sant’Ana, Mocambo, Inveja, Cajazeiras e Santiago.<br />

Travessas: da Passagem, do Sineiro, do Pontal, Couto, Barqueiros,


José Ribeiro do Amaral<br />

Escura, da Lapa, Cruz, Rancho, Laranjeiras, Cotovia, Palha e São<br />

Pantaleão.<br />

Becos: do Desterro, da Alfândega, Feliz e do Caela.<br />

Praias: do Prego, Caju, Pequena, da Fonte das Pedras, do Estaleiro<br />

e de Santo Antônio.<br />

Largos: do Carmo, de João do Vale, de Santo Antônio e de Palácio.<br />

Praças: do Açougue.<br />

Frentes: da Alfândega, da Rua do Giz, e dos Barbeiros.<br />

Barracas.<br />

Trapiches: da Boquinha e do José dos Reis.<br />

Sob todos os aspectos, é a Rua Grande, incontestavelmente, a<br />

primeira de todas as nossas vias públicas.<br />

Situada no centro, no coração da cidade, daí como que se irradiam<br />

o movimento, a vida para todos os pontos, ainda os mais extremos,<br />

de São Luís.<br />

Strada maestra (estrada principal) é assim ela designada na planta<br />

da cidade (1641) que acompanha a obra do notável carmelitano<br />

descalço frei José de Santa Teresa, sobre a Invasão Holandesa, parecendo<br />

advir-lhe daí o nome que desde o começo lhe foi dado e que,<br />

inalteravelmente, ainda hoje o guarda, mesmo porque, como ele, nenhum<br />

outro tão bem lhe quadra.<br />

Das duas ruas da Paz e Sol, que paralelas lhe correm, não nos<br />

foi dado, até agora, encontrar vestígios dos motivos que presidiram a<br />

imposição destes nomes, parecendo-nos terem-no eles sido aproveitados<br />

ou imitados das de outras capitais européias.<br />

Quanto, porém, à Rua de Santana, que corre no mesmo sentido,<br />

não se dá outro tanto. Teve ela, outrora, três nomes distintos, ao<br />

mesmo tempo, ou antes, estava como que dividida em três trechos,<br />

sendo um continuação do outro. Assim, da esquina da Rua da Estrela<br />

à da Rua Formosa (Canto Pequeno), teve primitivamente o nome de<br />

– 80 –


– 81 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />

Rua do Hospital Velho, ou simplesmente Hospital, assim chamada<br />

por ter sido nela instalada, na casa onde ora funciona a Repartição de<br />

Higiene, o primeiro hospital regimental que aqui houve. Esta casa<br />

foi propriedade dos jesuítas, passando, por confiscação dos bens deles,<br />

ao domínio da Coroa. Com este nome figura, ainda, em um livro<br />

do Lançamento da receita da décima dos prédios urbanos da freguesia da Senhora<br />

da Vitória desta cidade, do ano de 1821 que temos à vista.<br />

Com a instalação do Tribunal de Relação neste prédio, em<br />

novembro de 1813, foi esse trecho da rua perdendo pouco a pouco<br />

o seu primeiro nome, passando daí em diante a ser mais conhecido<br />

pelo de Rua da Relação, como se vê do documento que segue, que é<br />

uma guia de recolhimento de dinheiro:<br />

Rs. 13.500 – Com que entra para a Tesouraria de Fazenda o major de<br />

engenheiros José Joaquim Rodrigues Lopes (falecido marechal-de-campo e Barão<br />

de Matoso), por mão do abaixo assinado, importância da décima urbana de sua<br />

casa da Rua do Hospital ou da Relação, que pertenceu aos herdeiros do falecido<br />

José Henriques Cottes, relativa ao ano de 1828.<br />

<strong>Maranhão</strong>, 16 de outubro de 1850<br />

Luís José Joaquim Rodrigues Lopes<br />

O segundo trecho desta rua, que ia daí, do Canto Pequeno à<br />

esquina da Rua da Cruz, tinha o nome de Rua dos Covões, por causa<br />

dos que ainda hoje existem entre os sobrados que foram outrora dos<br />

falecidos Dr. Frederico José Corrêa e Manuel da Costa Launé.<br />

Assim se lia, ainda, no lançamento de 1838.<br />

O terceiro, finalmente, e último trecho, que ia da esquina da Rua<br />

da Cruz à Praça da Alegria, também chamada de Sotero, era propriamente<br />

denominado Rua de Santana, da igreja deste orago, nome este<br />

que com o correr dos tempos tornou-se extensivo à rua toda.


José Ribeiro do Amaral<br />

Paralelamente, também, à Rua Grande, corre ainda a rua conhecida<br />

hoje em toda a sua extensão pelo nome de Afogados, outrora<br />

das Violas.<br />

Teve primitivamente esta rua o nome de Afogabugio. Vê-se<br />

isto de um ato da Câmara Municipal, representada por José da Costa<br />

Reis, como seu vereador mais velho, ato em que, a requerimento do<br />

cônego José Maciel Aranha, cedeu-lhe, a 19 de janeiro de 1784 um<br />

chão, no fim da Rua do Afogabugio, para edificação de uma capela à<br />

Senhora Santana.<br />

É a pequena igreja, conhecida vulgarmente hoje pelo nome de<br />

Santaninha.<br />

– 82 –<br />

(15.3.1912)<br />

* * *<br />

Outra das ruas nas condições da de Santana, isto é, dividida<br />

em três trechos, era a de São João.<br />

No índice que acompanha o Lançamento de décimas urbanas de<br />

1838, apresenta-se-nos ela com três nomes distintos: São João, São<br />

João da Praia e São João da Divisão, compreendendo, o primeiro<br />

trecho, a parte que ia da esquina desta rua com a de Santana até sair<br />

ao Largo de Santiago; o segundo, a que se dirigia da esquina da Rua<br />

Grande ao lugar vulgarmente conhecido por Canto do Manuel do Bico<br />

(Praia de Santo Antônio); e o terceiro e último, a que ficava entre as<br />

ruas Grande e Santana, assim chamado por ser ele o marco divisório<br />

das duas freguesias – da Conceição e Vitória – únicas então existentes<br />

nesta cidade.<br />

Das antigas ruas de São Luís, mencionadas neste lançamento,<br />

algumas há que, positivamente, não nos foi dado saber a que outras<br />

correspondem hoje, tal a mudança de nomes por que têm passado.


– 83 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />

Neste caso encontram-se as então conhecidas pelos nomes de<br />

Rua Velha, dos Ferreiros, Fundão, do Moinho do Vento, da Galhofa,<br />

do Tanguitá, Rua Cortada, do Navio, etc., e bem assim a Travessa do<br />

Pontal e a praia denominada do Estaleiro.<br />

A do Fundão, quase que podemos afirmar ser o trecho da atual Rua<br />

Direita, compreendido entre o Mercado Público e o Passo, vulgarmente<br />

conhecido pelo nome de Passo do Lapenberg, defronte do edifício da<br />

Escola Normal. Atendendo-se à configuração dessa parte da rua, vê-se<br />

que está ela perfeitamente de acordo com o nome que lhe puseram.<br />

Lê-se isto em documento do tempo.<br />

A do Moinho do Vento ficava por detrás da igreja dos Remédios,<br />

constando isso de um parecer da Assembléia Provincial, opinando<br />

para que se comprassem para o estabelecimento de um horto<br />

botânico, nesta província, “os terrenos do cidadão Manuel José de<br />

Medeiros, compreendidos entre a Rua Liberal, que é a frente da Casa<br />

de Prisão, com trabalhos, e a do Moinho do Vento, que é à baixa-mar<br />

a Rua da Independência, e a da Fonte do Marajá.”<br />

A da Galhofa, era, também, lá para o bairro dos Remédios. De<br />

uma sessão da Câmara Municipal, de 14 de agosto de 1843, vê-se que<br />

tinha ela princípio “da casa do cidadão Manuel Duarte do Vale e que<br />

vinha sair na Rua dos Remédios.”<br />

Ficava ainda para esse bairro a Rua do Navio. Quanto às ruas<br />

Velha, dos Ferreiros, Cortada, nada de positivo sabemos sobre a sua<br />

verdadeira situação, podendo porém afirmar que a Travessa do Pontal<br />

era ali pelas imediações do antigo Açougue Velho, e que a praia denominada<br />

do Estaleiro era no Desterro.<br />

Comparando-se os primitivos lançamentos com o atual vê-se que<br />

ainda há ruas cujos nomes se acham hoje de alguma forma alterados.<br />

Assim, diz-se atualmente da Savedra, de Nazaré, etc., quando<br />

os seus primitivos e verdadeiros nomes eram Rua do Sá Vedra, Rua<br />

do Nazaré, oriundos, naturalmente, de moradores mais conhecidos<br />

que nelas foram domiciliados.


José Ribeiro do Amaral<br />

Uma outra rua há, ainda, sobre cuja verdadeira situação mais<br />

de uma pessoa nos tem inquirido. É a conhecida nos documentos e<br />

lançamentos antigos pelo nome de Tanguitá.<br />

Em um edital da Mesa Administrativa da Santa Casa de Misericórdia<br />

desta cidade, de 7 de fevereiro de 1849, assinado pelo secretário<br />

Luís Miguel Quadros, em que se fazia público o fornecimento<br />

de diversos terrenos pertencentes a este estabelecimento de caridade,<br />

lê-se: Um na Rua do Tanguitá, que esteve aforado ao falecido major Joaquim<br />

Alves de Abreu Guimarães Picaluga, com 40 braças de frente para a rua<br />

que corre por detrás da Quinta do Monteiro.<br />

Ora, sabido que a Quinta do Monteiro, a que se refere o edital<br />

supra, é a chácara onde ora se acha instalado o Hospital Português,<br />

adquirida em 1868 pela Real Sociedade Humanitária 1° de Dezembro,<br />

claro está que a Rua do Tanguitá é uma daquelas três ruas ou<br />

travessas compreendidas entre a casa dos herdeiros do saudoso clínico<br />

Dr. Afonso Saulnier de Pierrelevée e a Rua Grande.<br />

– 84 –<br />

(22.3.1912)<br />

* * *<br />

Rua do Egito: é conhecida nos primeiros dias de nossa história,<br />

na história de nossas lutas com os holandeses, pelo nome de Rua<br />

Antônio Vaz, ou rua que ia ter às casas de Antônio Vaz, sendo essas<br />

casas, segundo o erudito senador Cândido Mendes (Memórias para a<br />

história do extinto Estado do <strong>Maranhão</strong>, tomo II) sitas então no canto<br />

que hoje faz a rua que vai para Santo Antônio.<br />

Teve depois, com o correr dos tempos, o nome de Rua do Egito.<br />

Em 1865, em homenagem ao nosso glorioso historiador, foi,<br />

por acórdão da Câmara Municipal, denominada Rua João Lisboa,<br />

devido à circunstância de haver ele aí morado, em 1838, em um


– 85 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />

sobradinho de dois andares que nesse tempo tinha o n.° 12 e que<br />

ainda hoje ali se vê, contíguo ao <strong>Instituto</strong> Rosa Nina.<br />

Pouco durou essa denominação, sendo, como a de tantas outras,<br />

riscadas por deliberação da vereação que sucedeu àquela, voltando<br />

a chamar-se de novo Rua do Egito.<br />

Rua da Cruz: assim chamada, de uma cruz de madeira, de um<br />

metro de altura, pintada de preto, que há uns quarenta anos ainda se<br />

via no alto da parede de uma casa onde, em tempo, houve uma padaria,<br />

e que faz esquina para a Rua de Santo Antônio sob o n.° 37 –<br />

placa. O trecho desta rua, compreendido entre a Rua de Santana e a<br />

Fonte das Pedras, era mais vulgarmente conhecido pelo nome de<br />

Calçada da Zimbra.<br />

Rua da Mangueira: era primitivamente conhecida pelo nome<br />

de Rua da Forca Velha – e assim é encontrada nos lançamentos de<br />

1837 a 1839. Adveio-lhe este último nome do fato de ter aí sido<br />

levantada a forca no terreno, por muito tempo baldio, modernamente<br />

ocupado por um templo protestante. O trecho desta rua, entre as de<br />

Santana e Grande, é ainda hoje mais conhecido pelo nome de Beco<br />

das Águas Verdes.<br />

Travessa da Passagem: foi este, sempre, o seu verdadeiro nome,<br />

e assim se lê em todos os lançamentos de décimas urbanas desde<br />

1825; mas, pelo vulgo, era mais geralmente conhecida pela denominação<br />

de Beco do Panaca.<br />

Travessa do Teatro: seu primitivo nome era Travessa do Sineiro,<br />

oriundo de Manuel de Assunção Sineiro, que por aí morou. Conservou<br />

este nome até 1866, quando passou a denominar-se Travessa<br />

do Teatro. O trecho desta rua entre a de Santana e o Mercado foi<br />

sempre mais conhecido por Calçada do Açougue.<br />

Praia do Caju: a denominação de Praia do Caju por que é conhecida<br />

esta parte do litoral da cidade, adveio-lhe de Matias Correia<br />

Caju, primeiro a quem foi dado alvará de concessão daquela praia, e<br />

que ali habitou e construiu, segundo se vê do Livro Objetos diversos – n.°<br />

22, de 1820-1821, ofício 660, dirigido ao juiz de fora desta cidade.


José Ribeiro do Amaral<br />

Praia da Trindade: seu primitivo nome era Praia do Armazém, assim<br />

chamada por se acharem aí situados os grandes armazéns do Estanco.<br />

Era também conhecida pelo nome de Praia Pequena. Com o<br />

estabelecimento, porém, aí, de uma fábrica de arroz, de que ainda<br />

hoje se vêem as ruínas, foi pouco a pouco perdendo o seu primitivo<br />

nome, e sendo mais conhecida pelo da proprietária da referida fábrica,<br />

segundo se vê do seguinte aviso, inserto no jornal O Progresso, n.°<br />

2, de 5 de janeiro de 1850:<br />

Os herdeiros de D. Ana Tereza de Souza Trindade fazem público que em<br />

fevereiro de 1852 finda o contrato de arrendamento que a dita Trindade fizera a<br />

Francisco José Rabelo, da sua fábrica de socar arroz, sita na Praia Pequena para<br />

pagamento do mesmo Rabelo, como consta da escritura feita em fevereiro de 1837<br />

pelo tabelião Nunes, cujo débito fica pago e inteiramente extinto na data acima<br />

mencionada.<br />

É esta praia grandemente célebre na História do <strong>Maranhão</strong><br />

por haver aí sido suplicado Manuel Bequimão.<br />

Praia do Prego: veio-lhe o nome de Manuel José Prego, ali<br />

morador.<br />

Com a construção do Cais da Sagração, foram pouco a pouco<br />

desaparecendo todas essas praias, restando delas, hoje, apenas a tradição.<br />

Barracas: chamava-se assim a um quarteirão de casebres, denominados<br />

das Tulhas, fronteiro à Praça do Comércio e Arsenal de<br />

Marinha (hoje Armazém da Alfândega), situado no mesmo lugar onde<br />

ora existem as atuais barracas construídas pela Companhia Confiança<br />

Maranhense, e que, em virtude de contrato celebrado em 1855,<br />

são atualmente de propriedade da Municipalidade.<br />

Para dar uma idéia do que era esta parte da cidade naquele<br />

tempo, basta dizer que, então, aí se viam barracas portáteis de<br />

meaçabas velhas e podres, levantadas por licença da própria Câmara!<br />

– 86 –<br />

(29.3.1912)


12<br />

O convento de Nossa Senhora do Carmo<br />

– 87 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />

EM COMPANHIA de Alexandre de Moura, nomeado<br />

capitão-mor com poderes de governador, para restaurar o<br />

<strong>Maranhão</strong> do poder dos franceses, vieram, por capelães do<br />

presídio, os padres frei Cosme da Anunciação, pregador, e frei Daniel<br />

da Natividade, filhos da vigararia do Brasil, os quais chegando à Ilha<br />

de São Luís, aos cinco de outubro de 1615, foram, aos 2 de novembro<br />

seguinte, testemunhas da entrega das chaves do Forte de São<br />

Filipe (única fortaleza que então havia), solenemente feita pelo Senhor<br />

de La Ravardière ao referido capitão-mor.<br />

Restaurada a colônia da ocupação francesa, pediram-lhe os dois<br />

carmelitas sítio para fundar um convento, concedendo-lhes Alexandre<br />

de Moura uma pequena ilha defronte da barra, conhecida pelo nome<br />

de Ilha do Medo, com meia légua de terra, fundação que nunca teve<br />

efeito na dita ilha, e mais duas léguas em quadro da ponta da terra<br />

(Bonfim) para o sul. De tudo tomaram posse a 12 de dezembro do<br />

dito ano de 1615, segundo constava dos livros do mesmo convento.<br />

Foi esta a primeira doação de terras que aqui houveram os carmelitas,<br />

ficando livres para Sua Majestade (como rezavam então todas as cartas de<br />

data), todas as madeiras reais que nas ditas terras houvesse e que servir<br />

pudessem para o fabrico de embarcações e de engenhos de fazer açúcar.


José Ribeiro do Amaral<br />

Assumindo o governo da colônia o capitão-mor Jerônimo de<br />

Albuquerque, não só lhes confirmou em nome de Sua Majestade<br />

esta mercê, como lhes deu ainda “sessenta braças de terras para a<br />

fundação, e trinta braças mais para umas casas e quintal para o mesmo<br />

convento”, o que se vê da respectiva data, passada a 20 de fevereiro<br />

de 1616.<br />

De posse destas doações, vindos de Pernambuco, aqui<br />

aportaram no ano de 1624, em companhia de frei Cristóvão de Lisboa,<br />

dois frades da Ordem de Nossa Senhora do Carmo – Frei Francisco<br />

da Purificação, cronista desta província, mestre de cerimônias<br />

do convento de Lisboa, e que foi o primeiro prelado-maior que teve<br />

esta vigararia; e frei Gonçalo da Madre de Deus, natural da cidade do<br />

Porto, os quais em 1627 construíram o atual convento no sítio onde<br />

presentemente se lhe vê ainda, no lugar em que, segundo a tradição,<br />

havia então uma capela sob a invocação de Santa Bárbara, sendo seu<br />

primeiro prior, ou provincial, frei André da Natividade.<br />

Dizemos atual convento, porque o primitivo, o primeiro que<br />

aqui houve, foi levantado em 1615, no lugar então conhecido por<br />

Sítio de Monsieur de Pinau, onde atualmente se vê a igreja de Nossa<br />

Senhora do Rosário, que por muito tempo conservou ainda o<br />

nome de Carmo Velho.<br />

De livros de registros, existentes no Arquivo da Câmara Municipal,<br />

vê-se que não era pequeno o patrimônio da Ordem Carmelitana<br />

nesta província, o qual sucessivamente foi confirmado: em 1° de agosto<br />

de 1631, por Francisco Coelho de Carvalho, primeiro governador<br />

que foi do extinto Estado do <strong>Maranhão</strong>; em 11 de outubro de 1690,<br />

por Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho, que sucessivamente<br />

foi governador do Rio de Janeiro, de Minas e de Angola; e finalmente,<br />

por Pedro II de Portugal, por carta de 24 de janeiro de 1698.<br />

Abrangia esse patrimônio, aqui na cidade, nada menos que o bairro<br />

que se chama hoje Rua do Egito, e até 1818 todo o terreno compreendido<br />

no quarteirão onde atualmente se acha situado o Teatro São Luís<br />

(outrora União), sendo que até aí se estendia a cerca do convento,<br />

– 88 –


– 89 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />

terreno este que, depois de grande oposição por parte dos prelados<br />

carmelitanos, por aforamento foi concedido a Eleutério Lopes da<br />

Silva Varela e Estêvão Gonçalves Braga para aquele fim, graças sobretudo<br />

aos esforços do governador e capitão-general, de então, Paulo<br />

José da Silva Gama, como em ofício de 3 de fevereiro daquele ano<br />

comunicou ele para a Metrópole.<br />

Contemporâneo da Invasão Holandesa, é o convento do Carmo<br />

o testemunho vivo das últimas lutas feridas entre colonos e invasores.<br />

Aí acastelaram-se os nossos antepassados. No adro que lhe<br />

corria em frente, hoje bela e espaçosa praça, deu-se o derradeiro e<br />

mais renhido encontro que decidiu a sorte da nascente colônia,<br />

resgatando-a de vez da dominação batava.<br />

Conquanto guardando as mesmas proporções, não é, todavia,<br />

a igreja do Carmo de hoje, a mesma dos primitivos tempos, sobretudo<br />

depois das grandes e importantíssimas transformações ali operadas,<br />

a golpes de trabalho e de coragem, pelos incansáveis e beneméritos<br />

capuchinhos lombardos.<br />

Descrevendo o convento e a igreja do seu tempo, dizia um<br />

cronista da Ordem: É o dito primeiro convento no meio da cidade de São Luís<br />

com o frontispício para o poente, tem duas torres, uma de cada banda, as janelas<br />

dos dormitórios são para a parte do mar, tem uma boa cerca povoada de muitas<br />

e várias plantas frutíferas, toda murada de pedra e cal.<br />

A igreja tem cento e sessenta palmos de comprido e cinqüenta de largo. A<br />

capela-mor é muito formosa, o seu comprimento são sessenta palmos, a largura<br />

trinta, a tribuna é de talha coberta de tintas, ouro, e é a melhor que há na cidade.<br />

Tem uma milagrosa imagem de Nossa Mãe Santíssima do Carmo, de seis palmos;<br />

da parte do Evangelho está o nosso protopatriarca Elias, e da parte da<br />

Epístola, nosso Padre Santo Eliseu. Nesta capela-mor há coro que tem duas<br />

ordens de cadeiras de pau de cedro curiosamente lavrado. Saindo da capela-mor,<br />

tem duas capelas colaterais: a da parte do Evangelho é de Santa Luzia, a da<br />

parte da Epístola é de Santo Amaro.<br />

Dentro do cruzeiro há duas capelas: a da parte do Evangelho tem a milagrosa<br />

imagem de Cristo Senhor Nosso com a cruz às costas, (hoje do Sagrado Coração


José Ribeiro do Amaral<br />

de Jesus), que está recolhido em uma perfeita tribuna; a principal nobreza desta<br />

terra serve a este Senhor em uma bem governada Irmandade.<br />

A da parte da Epístola é do Santíssimo Sacramento (hoje do Senhor<br />

dos Passos). Em uma tribuna está a Senhora da Piedade, e da parte de fora dela<br />

as imagens da Senhora da Penha de França e da Guia. É a Senhora festejada<br />

nestes títulos com grande solenidade.<br />

Tem o convento sua livraria com bastantes livros, assim de Padres Expositores,<br />

Concio-natórios, de uma e outra Teologia, e alguns de Filosofia. Nossa<br />

Senhora do Carmo é o título deste convento.<br />

(Vide Memórias históricas dos ilustríssimos arcebispos, bispos e escritores<br />

portugueses da Ordem de Nossa Senhora do Carmo, reduzidas a catálogo<br />

alfabético que entregou na Academia Real de História Portuguesa, e a seu Protetor<br />

Augustíssimo, el-rei D. João V, Nosso Senhor, oferece e dedica o Acadêmico<br />

Supranumerário Fr. Manuel de Sá, religioso da mesma Ordem da Província de<br />

Portugal – Lisboa Oriental, na Oficina Ferrerigana. – MDCCXXIV).<br />

Tal a descrição que, da primitiva igreja e convento do Carmo<br />

desta cidade, nos legou um dos cronistas da Ordem.<br />

Como se vê, do velho e tradicional templo, internamente, à<br />

exceção dos altares, quase que nada mais resta hoje, tal a transformação<br />

por que ultimamente passou.<br />

A imagem da Virgem do Carmelo foi substituída por uma outra,<br />

mandada vir da Itália pelos capuchinhos lombardos, conjuntamente<br />

com o belíssimo altar de mármore que no centro da capela-mor<br />

se ostenta.<br />

As duas bancadas da capela-mor, onde diariamente se reunia a<br />

comunidade para a recitação dos ofícios próprios do coro, no alto de<br />

uma das quais se lia a seguinte inscrição: Hinc est chorus – foram dali<br />

retiradas.<br />

Das duas capelas colaterais a que se refere o cronista da Ordem,<br />

e que, segundo as indicações deixadas nas suas Memórias históricas, se<br />

– 90 –


O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />

encontram ao sair da capela-mor, a de Santa Luzia, que fica à direita<br />

de quem vai para a sacristia, está hoje totalmente desmontada, mal<br />

deixando ver os vestígios do que foi; a de Santo Amaro, que jaz por<br />

debaixo do antigo consistório de Santa Filomena, de há muito que<br />

serve de capela mortuária.<br />

O antigo púlpito, pregado à parede, e as grades de comunhão,<br />

há muito que desapareceram.<br />

Manteve a Ordem Carmelitana, durante os tempos coloniais,<br />

sobretudo de 1814 até muito depois da Independência, cadeiras não<br />

só de Humanidades, mas ainda de todas as ciências morais e teológicas,<br />

tornando-se verdadeiramente notáveis pelo seu saber:<br />

– frei Inácio Caetano de Vilhena Ribeiro, latinista, helenista e<br />

hebraizante que teve como discípulos Manuel Odorico Mendes e<br />

Sotero dos Reis;<br />

– doutor frei Custódio Alves Serrão, natural de Alcântara, lente<br />

da antiga Escola Central, diretor do Jardim Botânico, falecido na<br />

Corte do Império a 10 de março de 1873, e de quem, fazendo o seu<br />

elogio fúnebre, disse o orador do <strong>Instituto</strong> <strong>Histórico</strong>, Dr. Joaquim<br />

Manuel de Macedo em admirável síntese: “Sábio, criado no gabinete<br />

de profundos e constantes estudos, eminente nas Ciências Físicas,<br />

na Botânica igual a Freire Alemão, que é um monumento, em política<br />

sempre liberal por convicção e por amor à Pátria, e nunca, em um<br />

só dia, por amor de si; de caráter independente até a resistência na<br />

guarda de seu direito, no culto da amizade tipo de dedicação e de<br />

fineza, em suas relações particulares angélica amabilidade, como lente<br />

a eloqüência abraçada com a lógica mais cerrada; como administrador<br />

o zelo mais inteligente fulgurando pelo esplendor de imaculada<br />

probidade; eis aí frei Custódio Alves Serrão.”<br />

– Doutor frei Antônio Bernardo da Encarnação e Silva, natural<br />

de Viana, que mais tarde obteve brevê de secularização e foi<br />

deputado-geral por esta Província na legislatura de 1838 a 1841,<br />

bem como cônego mestre-escola da catedral, examinador sinodal,<br />

professor de retórica e poética do Liceu Maranhense, comendador<br />

na Ordem de Cristo e cavaleiro na da Rosa, falecido em 1848;<br />

– 91 –


José Ribeiro do Amaral<br />

– e frei Antônio Julião da Costa Leite, professor de latim em<br />

Alcântara.<br />

Não pequenos foram ainda os serviços de outra ordem, prestados<br />

em todos os tempos pela Ordem Carmelitana a esta província.<br />

Por algum tempo esteve aí aquartelado o Corpo de Artilharia,<br />

até que na tarde de 7 de julho de 1829 foi transferido para o Armazém<br />

da Pólvora, mais tarde Casa dos Educandos Artífices, e hoje,<br />

Aprendizes Artífices.<br />

Por longos anos cedeu o andar térreo do seu convento para aí<br />

se estabelecer o quartel do Corpo de Polícia e as aulas régias de ensino<br />

secundário, até que, criado o Liceu na administração de Vicente<br />

Tomás Pires de Figueiredo Camargo, foi ele aí instalado, aí permanecendo<br />

durante o não pequeno período de cinqüenta e dois anos,<br />

quando teve lugar a sua trasladação para o prédio na Rua Formosa,<br />

onde presentemente se encontram a Escola Normal e a Escola Modelo<br />

Benedito Leite.<br />

No andar superior, e muito mais tarde, no interior do convento,<br />

na parte que dá para a Rua da Paz, funcionou a Biblioteca Pública,<br />

aí instalada em 1828.<br />

Em 1873, governando a Província o dr. Silvino Elvídio Carneiro<br />

da Cunha, cedeu-lhe ainda o convento do Carmo uma parte da<br />

sua cerca para a construção de uma escola, edifício este onde presentemente<br />

funciona a Biblioteca Pública do Estado.<br />

Com a morte, porém, em 9 de maio de 1891, do último religioso<br />

e provincial que foi frei Caetano de Santa Rita Serejo, alma<br />

boa e generosa, coração extremamente bondoso, e por isso geralmente<br />

benquisto de todos, foi o convento do Carmo incorporado<br />

aos bens da União, caindo então em abandono, chegando mesmo a<br />

ameaçar quase completa ruína, quando aí se instalou a Missão<br />

Capuchinha, chefiada por frei Carlos de São Martinho, um dos religiosos<br />

mais ilustres que aqui têm pisado, a qual não só acudiu ao<br />

convento, prestes a desmoronar-se, mas ainda transformou a velha e<br />

– 92 –


– 93 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />

arruinada igreja no belo e majestoso templo que todos vemos e admiramos,<br />

e isto à custa de muito esforço, de muito trabalho e de uma<br />

abnegação e perseverança sem limites.<br />

E já que falamos nos capuchinhos lombardos, injustiça fora,<br />

sendo eles os legítimos sucessores dos carmelitas na posse do velho<br />

convento, não registrar aqui os grandes e inestimáveis serviços de<br />

toda a sorte, por eles prestados à causa da religião e da civilização.<br />

Achava-se, nos últimos anos, de todo abandonado o serviço<br />

de colonização, catequese e civilização dos índios, quando em princípios<br />

de 1893 aqui chegaram os primeiros religiosos capuchinhos,<br />

tendo por superior ou prefeito o revmo. frei Carlos de São Martinho.<br />

Dominado de ardente zelo apostólico e do desejo de chamar à<br />

fé e à civilização cristãs tantos dos nossos infelizes patrícios que vagueiam<br />

ainda por essas matas, lançou o ilustrado e virtuoso sacerdote<br />

suas vistas para a comarca de Barra do Corda, onde, porventura,<br />

são eles encontrados em maior número, e aí deu começo à sua santa<br />

missão pela fundação de um instituto para educação de meninos indígenas;<br />

e, como se tanto não fosse bastante ainda, acabou o infatigável<br />

e modesto superior dos capuchinhos por prestar mais um assinalado<br />

serviço ao Estado, com a aquisição, pela quantia de Rs.<br />

15:000:000, de um importante estabelecimento de lavoura, denominado<br />

de Alto Alegre, com o fim único e altamente humanitário de<br />

chamá-los à vida social.<br />

Não se pode calcular, ao certo, o número de índios ainda hoje<br />

existentes em todo o Estado. Nas diversas aldeias, porém, de Barra<br />

do Corda, na ocasião em que as percorreu frei Carlos, afirmou-nos<br />

ele encontrarem-se para mais de 5.000, já domesticados e com tendências<br />

para adquirirem os hábitos de civilização.<br />

E tão relevante, tão humanitária considerou o Governo do<br />

Estado a obra de frei Carlos que, desde logo, lhe fez consignar no<br />

orçamento um subsídio de Rs. 2:000:000, que no ano seguinte elevou<br />

a Rs. 4:000:000 e por último a Rs. 12:000:000, sendo 6.000:000<br />

para o colégio de Barra do Corda e 6.000:000 para o de Alto Alegre.


José Ribeiro do Amaral<br />

Neste ínterim, ameaçando ruína iminente o convento, e talvez<br />

mais do que este a igreja do Carmo, requereram os missionários<br />

capuchinhos em 10 de setembro de 1894, ao inspetor da Alfândega<br />

neste Estado, que lhes fossem entregues as chaves de um e outro<br />

edifício, já então de propriedade da União, o que, sendo-lhes favoravelmente<br />

deferido, foi nomeado depositário dos mesmos o revmo.<br />

frei Carlos de São Martinho, fundador da Missão dos Capuchinhos<br />

Lombardos do Norte do Brasil e primeiro superior regular da mesma<br />

Missão pro tempore, com decretal generalício de 12 de maio de<br />

1894, fixando sua residência nesta capital.<br />

Obtido este primeiro favor, foi, pelos seus superiores de Roma,<br />

constituído chefe da missão o revmo. frei Carlos, que, espírito superior,<br />

antevendo nos seus grandiosos ideais um auspicioso porvir para<br />

o convento do Carmo, e desejando que fosse ele contínua habitação<br />

dos missionários capuchinhos, fez à Senhora do Carmo um voto<br />

que ainda hoje é respeitado pelos seus sucessores, a fim de alcançar,<br />

pelo patrocínio dela, esta pacífica posse.<br />

A frei Carlos sucedeu, no governo da Missão, com decretal de<br />

11 de agosto de 1897, o malogrado frei Reinaldo de Paulo, que foi uma<br />

das vítimas do massacre de Alto Alegre em 13 de março de 1901.<br />

Em 1900, voltou de novo frei Carlos ao governo da Missão,<br />

como superior regular, com decretal de 24 de abril.<br />

Em 1901, ano fatal para os capuchinhos lombardos pela conhecida<br />

hecatombe de Alto Alegre, profundamente ferido no seu<br />

coração e no seu espírito altamente criador, não pôde este venerável<br />

missionário resistir ao abalo produzido pelo desmoronamento de<br />

sua obra, tão paciente e sabiamente organizada; e assim, um tanto<br />

enfraquecido em suas faculdades mentais, foi, a conselho médico,<br />

forçado a procurar o doce clima de sua terra para se restabelecer,<br />

sendo substituído no governo da Missão, como vigário, por frei João<br />

Pedro de Sexto, que, nomeado pelo revmo. visitador-geral, frei Timóteo<br />

de Brescia, em 28 de junho de 1901, foi, por decretal generalício<br />

de 23 de abril de 1903, confirmado no mesmo governo, como supe-<br />

– 94 –


– 95 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />

rior regular, por um triênio, e reconfirmado por outro, por decretal<br />

de 3 de maio de 1906.<br />

O <strong>Maranhão</strong>, isto é, o convento do Carmo – Mater et Caput<br />

Missionís como é conhecido na Ordem – foi, desde o início da Missão,<br />

o lugar de residência do superior dos capuchinhos lombardos,<br />

até que sendo pela segunda vez eleito frei Carlos, que se achava então<br />

no Pará, ali determinou este fixar, como superior regular, sua nova<br />

residência, que permaneceu por bem sete anos.<br />

Nomeado superior regular da Missão, por decretal de 10 de<br />

julho de 1909, transferiu o revmo. frei Estevão de Sexto a residência<br />

para o <strong>Maranhão</strong>.<br />

Amando profundamente esta terra, bem compreendeu o ilustre<br />

capuchinho que, tendo aqui sido o primeiro e hospitaleiro asilo<br />

seu e dos seus companheiros, aqui deveria ser também a Casa Mater.<br />

Tornando-se, pelo desaparecimento do último religioso, como<br />

já vimos, propriedade da Fazenda Nacional o convento do Carmo,<br />

foi ele, pela segunda vez, em julho de 1911, posto em hasta pública,<br />

apresentando-se por essa ocasião os seguintes proponentes:<br />

Os Revmos. Padres Capuchinhos, pela quantia de Rs.<br />

16:500:000;<br />

Os Srs. Lisboa Machado & Companhia, pela de Rs. 15:000:000;<br />

E a Liga do Livre Pensamento, pela de 10:000:000, tendo sido<br />

preferida a primeira, por mais vantajosa à Fazenda Pública.<br />

A transmissão de propriedade, feita pelo poder competente ao<br />

superior, frei Estevão de Sexto, que para esse fim fora ao Rio de<br />

Janeiro, teve lugar nessa mesma capital, em 21 de agosto de 1911, na<br />

Procuradoria Geral da Fazenda Pública, sendo registrada aqui no<br />

<strong>Maranhão</strong>, no livro competente, em 11 de novembro do mesmo ano.<br />

Tem tido o convento do Carmo nesta sua nova fase, isto é,<br />

depois que chegou a Missão Lombarda, os seguintes superiores, aqui<br />

residentes:


José Ribeiro do Amaral<br />

1°) Frei Carlos de São Martinho, 1894-1897. Vice-superior –<br />

frei Mansueto da Perseverança;<br />

2°) Frei Reinaldo de Paulo, 1897-1900. Vice-superior – Frei<br />

João Pedro de Sexto<br />

3°) Frei João Pedro de Sexto, 1900-1901.<br />

4°) Frei Agostinho de Milão, 1901-1903<br />

5°) Frei Estêvão de Sexto, 1903 até o presente, tendo tido,<br />

durante o seu superiorado, sucessivamente, como vice-superiores,<br />

os reverendos frei Roberto de Castelança e frei Miguel de Origgio; o<br />

primeiro, de 1909 a 1910; o segundo, daí até esta data.<br />

Tal é, em traços gerais, a história da Missão Lombarda no<br />

<strong>Maranhão</strong> durante estes últimos dezoito anos, havendo durante esse<br />

tempo passado por não pequena transformação o convento e a igreja<br />

que lhe fica anexa, isto à custa de avultadas despesas de que todo o<br />

povo desta terra é testemunha, e a imprensa por mais de uma vez o<br />

tem registrado.<br />

– 96 –<br />

(16.4.1912)


A imprensa no <strong>Maranhão</strong>: Jornais, revistas e outras<br />

publicações periódicas de 1821 a 1908<br />

– 97 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />

CATÁLOGO organizado por ocasião da celebração do centenário<br />

da imprensa no Rio de Janeiro:<br />

1821 – O Conciliador do <strong>Maranhão</strong><br />

1822 – A Folha Medicinal do <strong>Maranhão</strong><br />

Palmatória Semanal<br />

Gazeta da Verdade<br />

1823 – Gazeta Extraordinária do Governo da Província<br />

Diário Eclesiástico Independente<br />

1824 – O Amigo do Homem<br />

1825 – O Argos da Lei<br />

O Censor, mais tarde, O Censor Maranhense<br />

1826 – O Piparote<br />

1827 – Minerva<br />

O Farol Maranhense<br />

A Bandurra<br />

13


José Ribeiro do Amaral<br />

1828 – O Despertador Constitucional<br />

1829 – A Estrela do Norte do Brasil<br />

A Cigarra<br />

O Maranhense<br />

O Observador Constitucional<br />

O Poraquê<br />

O Azorrague dos Corcundas<br />

1830 – O Brasileiro<br />

Semanário Oficial<br />

O Almanack Mercantil<br />

O Clarim<br />

A Segunda Estrela do Norte do Brasil<br />

1831 – O Publicador Oficial<br />

O Constitucional<br />

O Jornal dos Anúncios<br />

A Bússola da Liberdade<br />

A Opinião<br />

Foguete da Nova Luz Jurjuba<br />

1832 – O Brasileiro<br />

O Correio do Conselho Provincial<br />

O Mentor Liberal<br />

O Escudo da Verdade<br />

O Rondante Político<br />

1833 – O Publícola Brasileiro<br />

A Sentinela Maranhense<br />

Atalaia dos Caiporas?<br />

1834 – Eco do Norte<br />

O Berro do Norte<br />

O Correio Semanal<br />

– 98 –


O Publicador da Relação<br />

Reformatório<br />

1835 – O Investigador Maranhense<br />

O Justiceiro<br />

Correio da Assembléia Provincial<br />

1836 – Cacambo<br />

O Americano<br />

1837 – Sete de Setembro<br />

O Momborré<br />

O Correcionador dos Abusos<br />

O Paraense<br />

A Tábua de Salvação<br />

A Temperança ou O Moralista Maranhense<br />

1838 – O Investigador Constitucional<br />

A Sentinela<br />

Crônica Maranhense<br />

O Bem-te-vi<br />

Crônica dos Cronistas<br />

Caçador de Bem-te-vis<br />

O Amigo do Povo<br />

O Despertador<br />

Correio d’Anúncios<br />

28 de Julho<br />

O Recopilador de Anedotas<br />

1839 – A Revista<br />

O Militar<br />

O Recreio dos Maranhenses<br />

O Amigo do País<br />

Buscapé<br />

– 99 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong>


José Ribeiro do Amaral<br />

1840 – O Moralista<br />

O Cometa<br />

O Legalista<br />

O Astro Maranhense<br />

O Jornal Maranhense<br />

O Guajajara<br />

O Raio<br />

1841 – O Imperialista<br />

Vinte e Oito de Julho<br />

1842 – Publicador Maranhense<br />

O Correio Maranhense<br />

O Dissidente<br />

A Opinião Maranhense<br />

O Caboclo Maranhense<br />

O Pica-pau<br />

O Museu Maranhense<br />

1843 – O <strong>Maranhão</strong><br />

O Diário<br />

Eco da Oposição<br />

Liberal<br />

A Figa<br />

1844 – A Malagueta Maranhense<br />

Tapy Ouaissú<br />

Vigilante da Liberdade<br />

Foguete<br />

1845 – Jornal da Instrução<br />

O Almazém<br />

A Rabeca<br />

O Atleta Piauiense<br />

Tribuna do Povo<br />

– 100 –


1846 – O Unitário<br />

O Arquivo<br />

Jornal da Sociedade Filomática Maranhense<br />

A Palmatória<br />

A Matraca<br />

O Arre e Irra<br />

O Patusco<br />

O Azorrague<br />

O Cacete<br />

1847 – O Homem do Povo<br />

O Estudante<br />

O Observador<br />

O Bem-te-vi<br />

O Bem-te-vi Maranhense<br />

Correio Maranhense<br />

O Barrete<br />

O Progresso<br />

1848 – Diário Maranhense<br />

O Tribuno do Norte<br />

O Verdadeiro Patriota<br />

Voz do Bacanga<br />

1849 – A Sentinela da Liberdade<br />

Revista Universal Maranhense<br />

O Porto Franco<br />

O Sulista<br />

A Época<br />

O Vulcão<br />

O Canela<br />

O Bem-te-vi Corcunda<br />

O Mexeriqueiro<br />

O Salvador do Povo<br />

O Salvador da Liberdade<br />

– 101 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong>


José Ribeiro do Amaral<br />

O Timbira<br />

O Luzia<br />

O Defensor do Povo<br />

1850 – A Marmota Maranhense<br />

1851 – Argos Maranhense<br />

Correio dos Anúncios<br />

O Constitucional<br />

O Infante<br />

1852 – O Novo Farol<br />

O Globo<br />

O Despertador<br />

O Eclesiástico<br />

A Marmotinha<br />

Jornal de Tímon<br />

Argos da Cena Maranhense<br />

O Propugnador Católico<br />

O Universal<br />

1853 – O Estandarte<br />

O Conciliador<br />

O Apreciador Dramático<br />

O Bem-te-vi<br />

1854 – O Cristianismo<br />

O Botão de Ouro<br />

1855 – Diário do <strong>Maranhão</strong><br />

A Sentinela<br />

O Suspiro<br />

A Saudade<br />

1856 – A Nova Época<br />

A Conciliação<br />

– 102 –


Regeneração Política<br />

A Saudade<br />

1857 – A Moderação<br />

A Imprensa<br />

A Estrela da Tarde<br />

O Espelho<br />

Jornal dos Jovens<br />

1858 – O Iguaçu<br />

O Globo<br />

Jornal do Comércio<br />

Correio Maranhense<br />

O Japi<br />

A Tentativa<br />

A Aurora do Norte<br />

Álbum Maranhense<br />

O Guaraciaba<br />

1859 – Correio da Tarde<br />

O Século<br />

A Estrela Maranhense<br />

O Conservador<br />

Eco da Verdade<br />

1860 – Ordem e Progresso<br />

A Verdadeira Marmota<br />

O Estudante<br />

A Jararaca<br />

A Tulipa<br />

1861 – A Opinião Pública<br />

Clarim da Monarquia<br />

O Jardim dos Maranhenses<br />

O Comércio<br />

– 103 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong>


José Ribeiro do Amaral<br />

O Porto Livre<br />

Caldo de Boi<br />

O Pirilampo<br />

1862 – Revista Jurídica<br />

O Artista<br />

A Coalição<br />

O Fórum<br />

O Insulano<br />

Heraclia<br />

O Ramalhete<br />

1863 – O País<br />

A Situação<br />

O Constitucional<br />

Ginásio Literário<br />

O Eco da Pátria<br />

1864 – A Aurora Maranhense<br />

O Trevo<br />

O Trovador<br />

A Fé<br />

O Eco da Juventude<br />

A Lanterna de Diógenes<br />

Palestra Militar<br />

A Verdade<br />

Satanás<br />

Boletim Comercial<br />

O Janota<br />

1865 – A Tribuna<br />

A Exposição Evangélica<br />

O Passatempo<br />

1866 – O Futuro<br />

O Apreciável<br />

– 104 –


Primavera<br />

Revista Comercial<br />

Tifon<br />

1867 – Semanário Maranhense<br />

1868 – O Artista<br />

O Liberal<br />

A Sensitiva<br />

1869 – Juvenilia<br />

A Atualidade<br />

A Nação<br />

O Fantasma<br />

O Represador<br />

1870 – O Formigão<br />

A Situação<br />

O 14 de Janeiro<br />

A Opinião Pública<br />

Monitor<br />

Vinte e Oito de Julho<br />

O Estudante<br />

A Esperança<br />

O Chicote<br />

1871 – O Telégrafo<br />

O Forte<br />

O Represador<br />

1872 – A Brisa<br />

O Domingo<br />

– 105 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />

(15.12.1911)


José Ribeiro do Amaral<br />

1873 – Diário do <strong>Maranhão</strong><br />

1874 – A Instrução<br />

O Justo<br />

1875 – Jornal da Lavoura<br />

A Mocidade<br />

1876 – Revista Juvenil<br />

Gazeta do Povo<br />

Jornal para Todos<br />

A Floresta<br />

1877 – Província<br />

Revista de Instrução e Recreio<br />

O Amigo do Povo<br />

O Telégrafo<br />

1878 – O Tempo<br />

Escola<br />

O Timbira<br />

O Democrata<br />

O Progresso<br />

1879 – A Flecha<br />

O Regenerador<br />

1880 – Pacotilha<br />

O Tribuno<br />

Civilização<br />

Cartas aos Maçons do <strong>Maranhão</strong><br />

O Pensador<br />

A Lei<br />

O Malho<br />

Idália França<br />

– 106 –


1881 – Pacotilha<br />

O Futuro<br />

Antônio Pedro<br />

1882 – Lúcia Avalle<br />

1883 – Gazeta de Notícias<br />

O Domingo<br />

Atualidade<br />

Lidador Maranhense<br />

1884 – O Cruzeiro<br />

O Pigmeu<br />

Aurora<br />

Carapuça<br />

Jornal da Tarde<br />

Tribuno<br />

O Abolicionista<br />

1885 – Gazeta do Povo<br />

A Província<br />

O Repolho<br />

O Sorriso<br />

Voz do Povo<br />

O Estudante<br />

Porvir<br />

A Evolução<br />

O Abolicionista<br />

1886 – O Liberal<br />

O Mensageiro<br />

A Luz<br />

O Eco<br />

O Protesto<br />

O Repórter<br />

– 107 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong>


José Ribeiro do Amaral<br />

A Federação<br />

O Meteoro<br />

Homenagem do Comércio a Retalho ao Dr. João Henrique<br />

1887 – Revista Maranhense<br />

O Binóculo<br />

O Estudante<br />

Campeão Português<br />

A Semana<br />

1888 – O Novo Brasil<br />

Eco do Norte<br />

Vibração Suave<br />

1889 – O Globo<br />

A República<br />

Correio de Anúncios<br />

Luso-Brasileiro<br />

O Século<br />

A Luz<br />

O Povo<br />

Homenagem ao Presidente da República dos Estados Unidos<br />

1890 – A Aurora Maranhense<br />

O Corisco<br />

O Domingo<br />

O Vulcão<br />

O Ensaio<br />

A Cruzada<br />

O Nacional<br />

1891 – O Estado do <strong>Maranhão</strong><br />

A Escola<br />

A Luta<br />

– 108 –


O Canudo<br />

O Cruzeiro<br />

1892 – O Federalista<br />

A Cruzada (2ª. fase)<br />

28 de Julho<br />

O Operário<br />

Revista Elegante<br />

O Novidades<br />

1893 – A Idéia<br />

A União Postal<br />

Diário de Notícias<br />

O Estudante<br />

O Bisturi<br />

A Infância<br />

Atenas<br />

1894 – Pierrô<br />

O Mefistófeles<br />

1895 – A Alvorada<br />

O Estudante<br />

O Porvir<br />

Filomatia<br />

1896 – O Membi<br />

A Liberdade<br />

Camélia<br />

O Canudo<br />

1897 – O Argos<br />

O Centro Caixeiral<br />

O Estudante<br />

– 109 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong>


José Ribeiro do Amaral<br />

1898 – O Atenas<br />

Regeneração<br />

O Piaga<br />

O Ideal<br />

O Papagaio<br />

O Pau<br />

O Abelhudo<br />

O Filomático<br />

A Vassoura<br />

1899 – O Imparcial<br />

A Sogra<br />

A Vassoura<br />

1900 – Jornal da Manhã<br />

Os Novos<br />

O Atleta<br />

A Atualidade<br />

A Tesoura<br />

1901 – O Domingo<br />

A Revista do Norte<br />

A Propagadora<br />

O Anúncio<br />

Avante<br />

A Renascença<br />

Jornal dos Artistas<br />

A Crise<br />

O Carnaval de 1901<br />

La Tourterelle<br />

1902 – O Apito<br />

O Porvir<br />

A Escola<br />

A Campanha<br />

– 110 –


1903 – Nova Atenas<br />

O Rouxinol<br />

A Fenda<br />

As Pastorinhas<br />

João Braga<br />

O Domingo<br />

1904 – A Faísca<br />

Corneta de Ouro<br />

1905 – Amor às Letras<br />

1906 – A Notícia<br />

A Imprensa<br />

Diário Oficial<br />

O Combate<br />

O Chicote<br />

<strong>Maranhão</strong> Moderno<br />

Revista Musical<br />

A Mocidade<br />

Correio da Moda<br />

Verdade e Paz<br />

1907 – Jornal do Comércio<br />

O <strong>Maranhão</strong><br />

Mensageiro Diocesano<br />

A Avenida<br />

Revista Tipográfica<br />

O Moleque<br />

O Corsário<br />

O Falador<br />

O Brasil<br />

O Mensageiro<br />

O Progresso<br />

– 111 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong>


José Ribeiro do Amaral<br />

1908 – A Pátria<br />

Primavera<br />

Jornal dos Artistas<br />

A Via Láctea<br />

A Sentinela<br />

A Boa Nova<br />

O Boré<br />

O Futuro<br />

Revista da Associação Comercial do <strong>Maranhão</strong><br />

O Sentinela<br />

A Negrada<br />

O Condor<br />

– 112 –<br />

(22.12.1911)


CAXIAS<br />

A imprensa no interior do <strong>Maranhão</strong><br />

1845 – Brado de Caxias<br />

1846 – Jornal Caxiense<br />

O Tigre de Caxias<br />

1847 – Marimbondo<br />

O Telégrafo<br />

O Povo<br />

1848 – O Pescador<br />

O Correio dos Municípios<br />

O Analítico<br />

1849 – O Lidador<br />

A Água Benta<br />

O Bem-te-vi Caxiense<br />

A Aurora<br />

1850 – O Farol<br />

14<br />

– 113 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong>


José Ribeiro do Amaral<br />

1851 – O Eco Caxiense<br />

O Pelourinho<br />

1853 – A Crônica<br />

1854 – O Correio Caxiense<br />

1859 – A Imprensa Caxiense<br />

O Pugnador<br />

1862 – O Álbum Caxiense<br />

1864 – A Rosa<br />

1866 – O Justiceiro<br />

1867 – O Cabo d’Esquadra<br />

1870 – Jornal de Caxias<br />

1871 – Semanário Caxiense<br />

1873 – O Lidador Caxiense<br />

1874 – O Beija-flor<br />

A Cruz<br />

O Comércio de Caxias<br />

1876 – A Luz<br />

1877 – A Situação<br />

1880 – A Tarrafa<br />

1881 – O Observador<br />

– 114 –


1883 – O Xixixi<br />

Crisálida<br />

1884 – Eco Liberal<br />

1886 – O Brado<br />

1887 – Gazeta<br />

Artista Caxiense<br />

1891 – O Pirilampo<br />

1893 – Gazeta Caxiense (2ª. fase)<br />

1895 – Jornal de Caxias<br />

1898 – O Timbira<br />

Cidade de Caxias<br />

1899 – O Lábaro<br />

1900 – O Trepa<br />

O Caxiense<br />

1901 – O Zéfiro<br />

1903 – O País<br />

Correio do Sertão<br />

Parnaso<br />

1904 – O Porvir<br />

O Janota<br />

1905 – Jornal do Comércio<br />

Liberdade<br />

– 115 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong>


José Ribeiro do Amaral<br />

1907 – O Binóculo<br />

A Luz<br />

O Independente<br />

O <strong>Maranhão</strong><br />

A Luz<br />

1908 – O Partenon<br />

Gruta de Lourdes<br />

COROATÁ<br />

Em 1867, apareceu nesta vila um pequeno jornal, denominado<br />

Coroataense, impresso em Caxias e destinado à defesa dos interesses<br />

locais. Efêmera foi a sua duração. Com ele desapareceu, até hoje,<br />

a imprensa naquela localidade.<br />

VIANA<br />

1876 – O Vianense<br />

Alavanca<br />

A Violeta<br />

1878 – O Guanambi<br />

1879 – O Domingo<br />

1880 – Recreio Juvenil<br />

A Reforma<br />

1881 – A Ordem<br />

1884 – Atualidade<br />

– 116 –


BREJO<br />

– 117 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />

Jornal Imparcial do Brejo – Foi este o primeiro periódico que<br />

teve esta localidade. De cor política, apareceu em agosto de 1865.<br />

Depois de um intervalo de cerca de quarenta anos, apareceu em 1906<br />

O Anapuru.<br />

ALCÂNTARA<br />

1893 – Gazeta Alcantarense<br />

1906 – O Alcantarense<br />

ROSÁRIO<br />

No dia 8 de abril de 1855, circulou pela primeira vez na vila do<br />

Rosário um jornalzinho intitulado O Baluarte do Povo. Era impresso<br />

na Capital, na tipografia do Bem-te-vi, e tinha como redator o falecido<br />

major João da Matta de Moraes Rego, a quem deve a imprensa da<br />

província os mais relevantes serviços. Saíram apenas 18 números.<br />

Após um intervalo de 55 anos, apareceu em<br />

1903 – O Rosariense<br />

1904 – O Ser<br />

PICOS 13<br />

1895 – O Município<br />

1896 – O Carapuceiro<br />

13 Atualmente, Colinas. J. M.


José Ribeiro do Amaral<br />

O Republicano<br />

1897 – A Estrela<br />

1898 – A Época<br />

A Imprensa<br />

1899 – O Juvenil<br />

1903 – Gazeta de Picos<br />

1906 – Filolítera<br />

BARRA DO CORDA<br />

1888 – O Norte<br />

Fundado em 1888, pelo inolvidável dr. Isaac Martins dos Reis,<br />

tinha este jornal, principalmente, por fim a propaganda das idéias<br />

republicanas. Com a proclamação da República e desaparecimento<br />

do seu fundador, assumiu a direção desta folha o intemerato jornalista<br />

Frederico Figueira, que continua a prestar os mais relevantes<br />

serviços, especialmente à zona sertaneja do Estado.<br />

– O Novo Mundo<br />

1897 – O Porvir<br />

1898 – O Guarani<br />

– 118 –


FLORES 14<br />

1906 – O Trabalho<br />

LORETO<br />

1904 – O Ideal<br />

SÃO FRANCISCO<br />

1905 – O Lírio<br />

SÃO BENTO<br />

1902 – O São Bento (manuscrito)<br />

14 Atualmente, Timon. J. M.<br />

– 119 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />

(29.12.1911)


15<br />

A Imprensa no <strong>Maranhão</strong><br />

(Codó)<br />

– 121 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />

NO FINAL de 1869, veio à luz o primeiro número do Aristarco,<br />

primeiro jornal que teve Codó, periódico de pequeno forma<br />

to, de quatro páginas de duas colunas, contidas em meia folha<br />

de papel genovês ou almaço.<br />

Foi impresso na primeira tipografia havida naquela localidade,<br />

sendo seu redator o ilustre Dr. Antônio de Aguiar e Silva, pai do<br />

distinto Sr. major Alcebíades de Aguiar, atual congressista do Estado,<br />

a quem pertencia a referida tipografia.<br />

Apareceu cerca de um ano, e semanalmente.<br />

Desejando aumentar-lhe o formato, suspendeu o major<br />

Alcebíades a publicação do Aristarco, obteve novo material e em seguida<br />

(1870) fez circular O Codó, que não logrou ir além de 1871.<br />

Mais tarde, essa tipografia, que ficara guardada em uma casa<br />

próxima à margem do Rio Itapecuru, foi sepultada sob as ruínas da<br />

mesma, em conseqüência do desmoronamento produzido pela grande<br />

enchente de 1875.<br />

Em 1880 ou 1881, reunido a outros companheiros de luta, fez<br />

o major Alcebíades aquisição, no Piauí, de outra tipografia, nela pu-


José Ribeiro do Amaral<br />

blicando A Voz do Povo, de que era redator o coronel Aristides Lobão,<br />

então residente naquela cidade, onde estreou sua vida pública, e que<br />

mais tarde, com rara competência, desempenhou as funções de inspetor<br />

do Tesouro do Estado.<br />

A tipografia foi montada na própria residência dele, e sob sua<br />

imediata direção corria o jornal, que contava, entre outros, ao major<br />

Alcebíades como dos principais colaboradores.<br />

Essa tipografia passou depois, gratuitamente, às mãos do tenente<br />

Pedro Marques de Sousa, que fez dela surgir um número único<br />

de um jornal intitulado Codouara, sob os auspícios do finado Dr. Lucas<br />

da Silva Antunes, então juiz municipal naquele termo.<br />

A falta de meios do novo periódico não lhe permitiu ir além,<br />

obrigando-o a vendê-la novamente para o Piauí, onde em 1902 existia<br />

ainda.<br />

Batalhador infatigável, não podendo nem sabendo conservar-se<br />

inativo, montou ainda o major Alcebíades pela quarta vez, em 1890,<br />

nova oficina tipográfica naquela cidade, adquirindo para esse fim o<br />

material do periódico A Luta, que aparecia então na capital do Estado.<br />

Dela fez surgir, enquanto seu proprietário, a Gazeta do Codó,<br />

em 6 de novembro de 1892, a qual teve duas fases, suspendendo em<br />

1894, passando em seguida a novo proprietário, o Sr. Antônio<br />

Rodrigues de Oliveira Sobrinho.<br />

Este fez dela aparecer o Monitor Codoense, em agosto de 1894,<br />

que passou por diversas fases, à proporção que a tipografia mudava<br />

de proprietários, desaparecendo finalmente em 1908.<br />

Por esta ocasião fez dela aquisição o Sr. Ulisses de Jesus, que a<br />

vendeu a uma sociedade de cinco companheiros, entre os quais se<br />

achava ainda o major Alcebíades, vindo, por último, a tipografia chegar<br />

às mãos de Raimundo Viana, que dela fez sair em 14 de abril de<br />

1901 a Gazeta Codoense.<br />

Em conclusão, depois de tantas mudanças de proprietários,<br />

foi esta tipografia, por derradeiro, adquirida pelo ilustre Sr. coronel<br />

– 122 –


– 123 –<br />

O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />

Manuel Ferreira Bayma, que fez dela sair, em 9 de fevereiro de 1902,<br />

o primeiro número do Comarca, jornal que ainda circula e que desde<br />

o seu aparecimento grandes e importantes benefícios tem prestado<br />

àquela localidade.<br />

Além destes que acabamos de mencionar, viram mais a luz da<br />

publicidade em Codó, entre outros cuja existência talvez desconheçamos,<br />

os seguintes jornaizinhos:<br />

A Lâmpada – em 1°. de março de 1893;<br />

A Primavera – em 10 de dezembro de 1896;<br />

O Martelo – em 10 de dezembro de 1908;<br />

O Marimbondo;<br />

A Gazeta das Moças – em março de 1882, sendo seu principal<br />

redator Alípio de Castro Marques.<br />

(5.12.1912)

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