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O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong>
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Ltda.<br />
Carlos Alberto Vieira Gama<br />
UNIHOSP – Serviços e Saúde Ltda.<br />
Antônio Gaspar
José Ribeiro do Amaral<br />
(1853 – 1927)
José Ribeiro do Amaral<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />
Artigos de Jornal<br />
(1911 - 1912)<br />
reunidos por<br />
Luiz de Mello<br />
Coleção <strong>Geia</strong> de Temas Maranhenses<br />
São Luís / 2003
© Copyright by<br />
Direitos desta edição reservados em nome de<br />
<strong>Instituto</strong> <strong>Geia</strong><br />
COLEÇÃO GEIA DE TEMAS MARANHENSE<br />
Volume 1<br />
Revisão de Texto<br />
Sebastião Moreira Duarte<br />
Editoração Eletrônica<br />
Fabiano Pestana<br />
Capa<br />
Albani Ramos e Jorge Murad<br />
FICHA CATALOGRÁFICA<br />
Amaral, José Ribeiro do<br />
O <strong>Maranhão</strong> histórico – Artigos de jornal (1911-1912) /<br />
José Ribeiro do Amaral. São Luís: <strong>Instituto</strong> <strong>Geia</strong>, 2003.<br />
128p. (Coleção <strong>Geia</strong> de Temas Maranhenses, v. 1)<br />
1. História do <strong>Maranhão</strong>. 2. História de São Luís. 1. Título.<br />
CDU 981.21
SUMÁRIO<br />
Explicação – Luiz de Mello ....................................................... 11<br />
A Título de Prefácio ................................................................... 13<br />
1. Primitivas explorações feitas nas costas do Norte do<br />
Brasil. Primeiras tentativas de colonização para o<br />
<strong>Maranhão</strong>. João de Barros, Fernão d’Álvares e Aires da<br />
Cunha. Versões diversas sobre a verdadeira origem da<br />
palavra <strong>Maranhão</strong>. Fundação da povoação Nazaré, na<br />
Ilha da Trindade (<strong>Maranhão</strong>). Segunda expedição.<br />
Naufrágio de Luís de Melo da Silva. Vestígios da<br />
primeira expedição. .............................................................. 17<br />
2. Bequimão e seus descendentes........................................... 23<br />
3. Os franceses no <strong>Maranhão</strong> ................................................. 29<br />
4. Caráter, fins, meios e resultados da Ocupação Francesa<br />
em paralelo com a Invasão Holandesa .............................. 33<br />
5. Fundação do <strong>Maranhão</strong>....................................................... 39<br />
6. Vestígios da Ocupação Francesa. A igreja de Santo<br />
Antônio .................................................................................. 47<br />
7. Convento de Santo Antônio ............................................... 53<br />
8. Qual será a população atual de São Luís? ......................... 59
9. A cidade de São Luís por ocasião da Invasão<br />
Holandesa .............................................................................. 71<br />
10.Disposições diversas, relativas à cidade de São Luís.<br />
Como eram, primitivamente, conhecidas as suas ruas,<br />
ou, antes, como se diferenciavam umas das outras.<br />
Quando começaram a ter nomes próprios. Ruas,<br />
praças, travessas, praias e fortes de São Luís: origem<br />
dos nomes de algumas delas e mudanças por que têm<br />
passado. Ruas com mais de um nome ao mesmo<br />
tempo...................................................................................... 75<br />
11.[Primitivas denominações de ruas] ..................................... 79<br />
12.O convento de Nossa Senhora do Carmo ......................... 87<br />
13.A imprensa no <strong>Maranhão</strong>: Jornais, revistas<br />
e outras publicações periódicas de 1821 a 1908................ 97<br />
14.A imprensa no interior do <strong>Maranhão</strong> ............................... 113<br />
15.A Imprensa no <strong>Maranhão</strong> (Codó) ..................................... 121
Explicação<br />
Pesquisando, durante anos, em velhos periódicos maranhenses, aconteceu-me<br />
encontrar estes artigos do historiador José Ribeiro do Amaral,<br />
publicados entre 1911 e 1912, no Diário Oficial – Estado do <strong>Maranhão</strong>,<br />
jornal então dirigido por Domingos Barbosa.<br />
Agradou-me a idéia de restituí-los à publicação, certo de estar prestando<br />
serviço de geral interesse, seja pelos temas tratados, seja pela autoridade<br />
de quem o faz, bastando lembrar que algumas partes dos textos aqui<br />
reunidos o próprio autor as ampliou e incluiu em seu livro A fundação<br />
do <strong>Maranhão</strong>, de 1912.<br />
Em particular, agrada-me ver que estes escritos vêm a público no ano<br />
em que se comemora o sesquicentenário de nascimento de Ribeiro do Amaral,<br />
a quem muito devemos por seu zelo incomparável pelas coisas de nossa<br />
terra, sua competência de mestre e sua liderança intelectual, agitador de<br />
idéias e organizador de instituições que perduram até os nossos dias.<br />
Uma carta do historiador ao diretor do jornal abre a série publicada<br />
e explica o “plano da obra”. Servirá de prefácio do livro, cujo título é o<br />
mesmo que encabeça os diferentes artigos, publicados regularmente às sextas-feiras.<br />
Por motivos que os leitores logo perceberão, foi ligeiramente alterada,<br />
nesta publicação, a seqüência original de datas em que estes trabalhos<br />
apareceram na imprensa.<br />
Agradecendo ao <strong>Instituto</strong> <strong>Geia</strong> ter acolhido a reunião destas páginas<br />
para dar início à Coleção <strong>Geia</strong> de Temas Maranhenses, registro que<br />
são de Jomar Moraes as notas de pé-de-página que trazem informação<br />
atualizada sobre alguns fatos e figuras mencionados por Ribeiro do Amaral.<br />
Luiz de Mello
A Título de Prefácio<br />
Meu caro Domingos Barbosa:<br />
– 13 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />
São Luís, 12 de outubro de 1911<br />
ACUSO recebida sua prezadíssima cartinha de ontem, que<br />
só hoje me foi entregue, na qual teve a gentileza de pedirme<br />
a minha humilde colaboração para o jornal, hoje confiado<br />
à sua superior orientação, designando-me, para esse fim, as sextas-feiras<br />
de cada semana, e lembrando-me, como feitio a dar a essa<br />
mesma colaboração, a necessidade de escrever alguma coisa sobre a<br />
nossa São Luís, isto é, sobre a história dos seus mais antigos e notáveis<br />
edifícios, públicos e particulares, tais como o Palácio do Governo,<br />
a Catedral, templos, conventos, quartéis, fortalezas, e dos últimos,<br />
para não ir mais longe, essa mesma casa da Rua da Estrela,<br />
onde ainda agora funciona a Imprensa Oficial, e que tão conhecida<br />
se tornou, não só nos tempos coloniais, mas ainda nos que se seguiram<br />
à Independência.<br />
Satisfazendo os seus desejos, que, bem sabe, para mim são ordens,<br />
aqui me tem, e aqui me terá sempre: não sei se com isso aproveitarão<br />
os leitores do Diário Oficial. Tudo farei para corresponder à sua<br />
confiança. Se tal, porém, não acontecer, absolver-me-á a solicitude com<br />
que, prestes, acudi ao seu chamado.
José Ribeiro do Amaral<br />
E, já agora, se me permitisse, pedir-lhe-ia, ou, antes, lembrarlhe-ia<br />
a conveniência de fazermos uma ligeira alteração no plano<br />
cuja execução se dignou de confiar-me, alteração que em nada o prejudica,<br />
tornando, pelo contrário, o trabalho mais metódico, a qual é a<br />
seguinte:<br />
Pareceu-me mais acertado, antes de escrever qualquer coisa<br />
sobre os nossos vetustos edifícios, algo dizer, ainda que em traços<br />
gerais, sobre as primeiras expedições que para aqui se encaminharam<br />
– portugueses, franceses e holandeses; fundação do primeiro estabelecimento<br />
colonial que aqui houve, nome que primitivamente tinha<br />
o lugar onde foi ele situado, e que teve com a fundação, e por quê;<br />
diversas fases por que passou; o que era a cidade por ocasião da<br />
Invasão Holandesa, em extensão, população e riqueza; aspecto geral<br />
da pequena cidade por aquele tempo, com inclusão dos edifícios públicos<br />
que já então existiam; progressivo desenvolvimento que daí<br />
em diante foi tendo; fontes públicas existentes na cidade, até 1592, e<br />
seus nomes; como se designavam as ruas até 1733, quando ainda não<br />
tinham nomes; quando começaram a ser mencionadas com nomes<br />
próprios; a mesma rua dividida em três trechos, com três nomes;<br />
primeiro lançamento predial; ruas que então existiam e seus nomes;<br />
quem primeiro deu começo ao calçamento da cidade; São Luís em<br />
1822, primitivos costumes dos seus habitantes; diversos gêneros de<br />
moeda, etc., etc.<br />
Como vê, meu amigo, vasto é o campo e rica é a seara. Para<br />
mim, nada de mais atraente e agradável conheço que conversar com<br />
o passado, onde a gente como que se sente bem, sem correr o risco<br />
de ofender a quem quer que seja, nem despertar suscetibilidades; e<br />
nem só para mim, não só o único a assim pensar, pois lembra-me de<br />
haver lido, não há muito, n’A Notícia, do Rio, talhados em semelhantes<br />
moldes, notáveis artigos do Dr. Vieira Fazenda, que tão grande<br />
interesse conseguiram despertar no espírito público e não pequeno<br />
renome deram àquele jornal; e ainda agora n’A Ilustração Brasileira,<br />
outros do mesmo gênero estão a sair, porventura de não menos subido<br />
valor, firmados pelo ilustre Dr. Pires de Almeida.<br />
– 14 –
– 15 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />
É esta a pequena modificação a que me referi no começo. Propondo-a,<br />
julgo que assim melhor servirei ao fim que, ambos, temos<br />
em mira.<br />
Se lhe merecer ele, o plano assim organizado, a sua aprovação,<br />
conquanto em coisas do <strong>Maranhão</strong> não me sinta eu com aquela competência<br />
tão notoriamente conhecida dos dois ilustres brasileiros acima<br />
referidos, sobre coisas fluminenses, tudo farei para ser agradável<br />
aos leitores do Diário Oficial, e assim corresponder à sua expectativa.<br />
E até sexta-feira.<br />
Creia-me sempre<br />
Seu am°. e menor servo<br />
José R. do Amaral<br />
(Diário Oficial, 20.10.1911)
1<br />
Primitivas explorações feitas nas costas do Norte do<br />
Brasil. Primeiras tentativas de colonização para o <strong>Maranhão</strong>.<br />
João de Barros, Fernão d’Álvares e Aires da<br />
Cunha. Versões diversas sobre a verdadeira origem da<br />
palavra <strong>Maranhão</strong>. Fundação da povoação Nazaré,<br />
na Ilha da Trindade (<strong>Maranhão</strong>). Segunda expedição.<br />
Naufrágio de Luís de Melo da Silva. Vestígios da<br />
primeira expedição.<br />
– 17 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />
SÃO DE 1535 as primeiras tentativas de colonização para o<br />
<strong>Maranhão</strong>. Não quer isto dizer, porém, que, anteriormente,<br />
outras explorações não se houvessem realizado já, para o norte<br />
do Cabo de São Roque.<br />
Conquanto vagas e escassas as notícias a semelhante respeito,<br />
sabe-se que, por estas bandas andaram, no primeiro decênio do século<br />
XVI, navios de Portugal, sendo de um deles, piloto, João de<br />
Lisboa, que deu até seu nome a um dos rios aquém do <strong>Maranhão</strong>.<br />
Em 1514 (e aqui já se vão tornando mais claras as notícias),<br />
por uma carta de Estêvão de Fróis ao rei Dom Manuel, escrita da<br />
ilha de São Domingos em 30 de julho, sabemos que, algum tempo<br />
antes, percorrera parte da costa um João Coelho, das Portas da Cruz,<br />
em Lisboa, e que os índios haviam morto o arauto Diogo Ribeiro,
José Ribeiro do Amaral<br />
que, com o alvará régio, andavam, um e outro, a fazer descobrimentos.<br />
Como, porém, essas explorações não eram completas, isto é,<br />
não se estendiam a toda essa costa, limitando-se os exploradores a<br />
traficar nas imediações das paragens onde aportavam, tanto em Portugal<br />
como em Castela estiveram, por algum tempo, na crença de<br />
que não havia, por aí, mais que um único grande rio entrando pela<br />
terra adentro; pois os que conheciam o verdadeiro <strong>Maranhão</strong> (diz o<br />
Visconde de Porto Seguro) não conheciam o Amazonas atual e viceversa;<br />
donde se originou confusão acerca destes dois rios, vindo ambos<br />
a ser designados com o nome de <strong>Maranhão</strong>; de modo que o<br />
próprio Pinzón, descobridor, não do verdadeiro <strong>Maranhão</strong>, cuja descoberta<br />
se deve a Diogo de Lepe, mas sim da boca do grande rio de<br />
Santa Maria do Mar Doce, ou atual Amazonas, não duvidou assegurar<br />
a Oviedo haver sido o descobridor do Marañon.<br />
De tudo isto resultou que, tendo, mais tarde, Orellana baixado<br />
o mesmo Amazonas, não pôde fazer acreditar que não era o Marañon<br />
o rio por que baixara, acrescenta Herrera, e, para voltar ao mesmo<br />
rio, chegava a desejar pilotos portugueses, “porque eram os únicos<br />
conhecedores da costa que continuamente navegavam.”<br />
Em 1531, aproando ao Porto de Pernambuco, Martim Afonso<br />
que, já, nas suas imediações, apresara três naus francesas, resolve,<br />
talvez em virtude de ordens que recebera, mandar duas delas para as<br />
bandas do <strong>Maranhão</strong>, sob o comando de Diogo Leite, a fim de fazer<br />
explorar por aí a costa, e de colocar nela padrões em sinal de posse.<br />
Percorrendo o litoral na direção leste-oeste, em virtude das<br />
ordens que recebera, chegou pelo menos até a baía por algum tempo<br />
denominada Abra de Diogo Leite, hoje conhecida pelo nome<br />
de Gurupi.<br />
Como rico e precioso vestígio desta expedição, um mapa, em pergaminho,<br />
existe de toda aquela costa, feito por Gaspar Viegas em 1534,<br />
no qual se lê, já, aquele primitivo nome, vendo-se também, nele, designada<br />
mais a oeste a Baía de São João, parecendo assim, diz o ilustre<br />
Visconde de Porto Seguro, ter Diogo Leite chegado a ela no dia deste<br />
santo (24 de junho), depois de haver entrado a 25 de março na Baía de<br />
– 18 –
– 19 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />
São José, e, a 19 de abril, na de São Marcos, se é que estes nomes não<br />
haviam sido anteriormente dados por Diogo de Lepe, em 1500.<br />
Não obstante, porém, todas estas expedições e muitas outras,<br />
encaminhadas para o litoral sul do Brasil, as quais, por não ser isso<br />
do nosso programa, aqui não as mencionamos, trinta longos anos<br />
passaram-se sem que a esta parte do Novo Mundo dispensassem os<br />
monarcas lusitanos a atenção e os cuidados que parecia ela naturalmente<br />
solicitar-lhes, organizando um serviço de colonização sério.<br />
A notícia, porém, de que corsários de diversas nações infestavam<br />
já a terra descoberta, tentando nela estabelecer-se, despertou<br />
afinal a atenção de Dom João III, até então presa nos esplendores do<br />
Oriente, e fê-lo empreender alguma coisa em favor desta parte dos<br />
seus domínios.<br />
Assim pois, dividiu o Brasil em porções desiguais de território,<br />
a que denominou de capitanias, distribuindo-as em seguida por<br />
vassalos beneméritos, sob condição de as povoarem, cultivarem e<br />
civilizarem, concedendo-lhes, demais, todos os poderes reais, exceto<br />
o de cunhar moeda e o de impor pena de morte.<br />
A que recebeu o nome de <strong>Maranhão</strong>, constituída por uma doação<br />
mista de cerca de duzentas e vinte e cinco léguas de costa, coube,<br />
em parte, ao glorioso historiador das Décadas, João de Barros, que<br />
convidou para companheiros na empresa Fernão d’Álvares de<br />
Andrade, tesoureiro-mor do Reino, e Aires da Cunha, formando assim<br />
uma associação trina, e alcançando da Coroa, como doação especial,<br />
o ouro e a prata, que na terra descobrissem, no que tiveram<br />
mais favor que todos os demais donatários.<br />
Organizada a expedição sob o mando do terceiro, que consigo<br />
trazia dois filhos de Barros1 e um delegado de confiança do segundo,<br />
1 Essa versão, corrente na época e durantes anos depois, está hoje contestada por diversas<br />
pesquisas que desfizeram equívocos provavelmente provindos de Gândavo. Da primeira<br />
expedição, ao comando de Aires da Cunha, não participaram os filhos de João de Barros.<br />
Vd., de Rafael Moreira e William M. Thomas, Desventuras de João de Barros, primeiro<br />
colonizador do <strong>Maranhão</strong>; o achado da nau de Aires da Cunha naufragada em 1536.<br />
In Oceanos (Lisboa), p. 101-111. N?. 27, julho/setembro de 1996. JM.
José Ribeiro do Amaral<br />
desferrou a grande armada do porto de Lisboa em novembro de<br />
1535, com novecentos homens, dos quais cento e treze de cavalo,<br />
em dez navios, rumo de Pernambuco, onde aportou com felicidade,<br />
recebendo do donatário dessa capitania, Duarte Coelho Pereira, que<br />
muito pareceu interessar-se pelo bom êxito de tão luzida expedição,<br />
línguas ou intérpretes, e uma fusta de remos para ir adiante, sondando<br />
as paragens menos conhecidas e exploradas.<br />
Com tão bons auspícios, deixou o porto de Pernambuco a expedição,<br />
à qual, daí em diante, estava reservada toda a sorte de desditas.<br />
Chegada que foi à barra do <strong>Maranhão</strong>, depois de haver inutilmente<br />
tentado Aires da Cunha fundar uma colônia no rio Baquipe,<br />
hoje Ceará-Mirim, devido à oposição dos potiguares aliados aos franceses,<br />
e de ter-se desgarrado a fusta de remos, chegando a andar<br />
perdida e já sem mantimentos, deu a expedição, devido à quase nenhuma<br />
prática que ainda tinham os pilotos, daquelas paragens, em<br />
uns baixios que se encontravam à entrada, por espraiar ali muito o<br />
mar, perdendo-se toda a armada e perecendo miseravelmente os que<br />
escaparam, inclusive o próprio chefe da expedição, Aires da Cunha.<br />
E assim malogrou-se a primeira tentativa séria de colonização<br />
que se encaminhou para o <strong>Maranhão</strong>.<br />
É daí, do malogro desta expedição que, no pensar quase unânime<br />
dos melhores historiadores, vem a origem deste nome, dado à<br />
região que constituía a doação de João de Barros; ou porque ao naufragar<br />
supusessem os da expedição se encontrar na embocadura do<br />
imenso rio, quando realmente se encontravam a mais de cem léguas<br />
ao sul, perto da ilha em que se salvaram os sobreviventes, e que ora,<br />
graças a este erro, é conhecida pelo nome de <strong>Maranhão</strong>; ou porque,<br />
como querem alguns, para enobrecer a sua desgraça, dissessem os<br />
náufragos haver-se dado o desastre na boca do grande rio (Amazonas),<br />
também conhecido por Marañon (<strong>Maranhão</strong>).<br />
Como quer que seja, o certo é que o nome se perpetuou, transmitindo-se,<br />
com o correr dos tempos, à região toda.<br />
A esta ilha (do <strong>Maranhão</strong>), deram os sobreviventes o nome de<br />
– 20 –
– 21 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />
Trindade, ou porque já se encontrasse ela com tal nome no mapa de<br />
Diogo Ribeiro, em 1529, ou porque melhor devia caber-lhe agora,<br />
pela associação dos três donatários; e procuraram, com as relíquias<br />
do naufrágio, nela estabelecer-se, fundando uma pequena povoação<br />
que recebeu o nome de Nazaré, a qual de efêmera duração foi, pois<br />
os índios, com a sua proverbial volubilidade de amigos, que a princípio<br />
se tinham mostrado, pouco tardaram em se levantar, queimando<br />
e destruindo as plantações e sementeiras e chegando a pôr em apertado<br />
sítio a povoação e a tomar-lhes a água das fontes de beber, de<br />
sorte que, reduzidos à última penúria e havendo perdido já muita<br />
gente, viram-se os que restavam ainda forçados a abandonar a terra<br />
para onde haviam partido todos, tão cheios de esperanças.<br />
Nada mais se tem podido adiantar até hoje sobre a história desta<br />
pequena colônia, sendo para lamentar, como diz ainda o ilustre Visconde<br />
de Porto Seguro, que João de Barros no-la não deixasse escrita,<br />
o que teria feito com tanto vigor, como viva era a lembrança que perpetuamente<br />
conservou desta para ele tão malfadada empresa.<br />
Desacorçoado e profundamente arruinado com o insucesso<br />
desta gigantesca expedição, a maior que os nossos mares tinham visto<br />
até então em poder naval, tão grande e que tanto ruído fez que,<br />
pelos seus preparativos, chegou a fazer acreditar ao embaixador espanhol,<br />
Sarmiento, que era mandada pelo governo português contra<br />
os recentes estabelecimentos castelhanos do Rio da Prata, abriu João<br />
de Barros mão do seu privilégio, 2 tendo-se ainda por muito feliz em<br />
poder reaver, à custa de muitos trabalhos e despesas, seus dois filhos,<br />
mandados reter na Ilha de São Domingos.<br />
Em 1554, segunda expedição organizou-se, sob o mando de<br />
Luís de Melo da Silva, 3 a quem el-rei transferira, intacto, o privilégio<br />
2 Equívoco a que foi levado o autor, seguindo autores de seu tempo. Em 1561, conf. fonte<br />
retrocitada (p. 111), Jerônimo, filho mais velho de João de Barros, obteve, pelo alvará<br />
régio de 5 de março, a revalidação dos direitos de seu pai. JM.<br />
3 Luís de Melo da Silva, não como donatário, mas na condição de contratado por João de<br />
Barros ou a ele associado, viajou pela primeira vez ao <strong>Maranhão</strong> em 1554. Em 1573,<br />
provavelmente já na qualidade de titular da capitania do <strong>Maranhão</strong>, por compra aos filhos<br />
de João de Barros (falecido em 1570), Luís de Melo da Silva fez sua segunda viagem ao
José Ribeiro do Amaral<br />
de João de Barros; mas, tão infeliz como a primeira, naufragou em<br />
uns baixios que se presume serem os dos Atins, salvando-se apenas<br />
uma das caravelas, em que os desventurados náufragos conseguiram<br />
se recolher à Pátria.<br />
Ao malogro destas duas expedições sucede um período de cerca<br />
de quarenta anos de completa inação e abatimento, completamente<br />
perdidos, durante os quais não consta que, por parte da Metrópole<br />
ou de particulares, tivesse havido qualquer outra tentativa de colonização<br />
para o <strong>Maranhão</strong>.<br />
Não nos deixou (que saibamos) nenhuma destas duas expedições<br />
o mais ligeiro vestígio, sequer, de sua passagem por esta terra,<br />
conquanto frei Marcos de Guadalajara, trasladando a Simão Estácio<br />
da Silveira, se refira à existência de uma fortaleza, levantada no<br />
Boqueirão pelos sobreviventes da expedição de Aires da Cunha, na<br />
qual se conheciam pedras brancas de Alcântara. 4<br />
Não nos parece ser isto exato, e já o historiador Berredo, escrevendo<br />
cerca de duzentos anos atrás e em condições, portanto, de<br />
melhor poder apurar a verdade histórica, dizia nos seus Anais que<br />
nem da fortaleza, nem das pedras de Alcântara com que o capitão<br />
Simão Estácio a dava por fabricada, havia a menor tradição do antigo<br />
Estado do <strong>Maranhão</strong>, quando mal pode crer-se que no espaço só<br />
de oitenta anos (que não se contam mais desde o de 1535, em que foi<br />
o naufrágio de Aires da Cunha, até o de 1615, em que Jerônimo de<br />
Albuquerque se estabeleceu na Ilha de São Luís) tivesse já o tempo<br />
consumido uma obra de tanta duração, e com tamanho estrago, que<br />
nem lhe deixasse os fundamentos para memória dela.<br />
– 22 –<br />
(27.10.1911)<br />
<strong>Maranhão</strong>, na qual pereceu. Entre a primeira e a segunda expedição de Luís de Melo da<br />
Silva, houve a dos filhos de João de Barros, Jerônimo e João, que no <strong>Maranhão</strong> se demoraram<br />
de 1556 a 1561, fazendo diversas explorações na região. JM.<br />
4 A Alcântara aí referida é a então vila dos arredores de Lisboa, hoje bairro da capital<br />
portuguesa. A primitiva Tapuitapera, atual cidade maranhense de Alcântara, foi assim<br />
denominada só em meados do século XVII. JM.
2<br />
Bequimão e seus descendentes<br />
– 23 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />
COMEMORANDO a Pátria Maranhense neste dia, de tão tristes<br />
e saudosas recordações para todos, o 226° aniversário da<br />
execução deste grande patriota, cujas últimas palavras, ao subir<br />
ao patíbulo, foram de afeto, de amor para esta terra, interrompemos,<br />
por hoje, o programa que traçamos, para alguma coisa dizer<br />
sobre os descendentes deste grande homem e de seu irmão, Tomás<br />
Bequimão.<br />
Assim procedendo, julgamos prestar ao Grande Supliciado de<br />
1685 a maior e melhor de todas as nossas homenagens, contribuindo,<br />
de nossa parte, para que de sorte alguma se possa extinguir a<br />
memória de seu nome.<br />
Teve a família Bequimão dois ramos aqui no <strong>Maranhão</strong> – Manuel<br />
– o grande e glorioso mártir de 1685; e Tomás – seu irmão mais<br />
novo e, como ele, considerado cidadão de São Luís.<br />
Do primeiro ficaram a viúva e duas filhas, não constando das<br />
crônicas do tempo que houvesse deixado filho varão algum, a menos<br />
que alguma das suas filhas, casando-se, não houvesse dado a descendente<br />
seu o apelido de seu pai, para assim perpetuar-lhe o nome.<br />
Outro tanto, porém, não se deu com o segundo, cuja descendência,<br />
numerosíssima, veio até os nossos dias, com variantes diversas
José Ribeiro do Amaral<br />
nos seus apelidos, tais como: Bequimão, Beckman e até Bequimanz.<br />
Nesta nossa faina de percorrer arquivos e conversar com o<br />
passado, não poucas são as vezes que nos tem sido dado deparar<br />
com autógrafos de diversos membros desta família.<br />
O de todos mais antigo que conhecemos é a sua assinatura em<br />
um acórdão em vereação da Câmara de São Luís, cuja data não temos<br />
agora presente.<br />
Nele vê-se, em um tipo de letra bem claro, bem conservado e<br />
perfeitamente legível, o nome do chefe desta família, o malogrado<br />
autor da Revolução de 1685 – Manuel Bequimão.<br />
Trinta e dois anos depois do desfecho deste movimento revolucionário,<br />
encontramos pela primeira vez este nome em uma carta<br />
régia de 20 de novembro de 1717, da qual consta haver representado o<br />
governador para a Corte que, fazendo o ouvidor-geral da Capitania do Pará, em<br />
1715, o pelouro dos oficiais que tinham de servir no Senado, mais por indústria<br />
que por conformidade de votos, metera nele o nome de Roque, filho de Tomás e<br />
sobrinho de Manuel Bequimão, cuja turbulência (dizia o governador na sua<br />
representação) lhe passara como herança, pois havia feito na mencionada capitania<br />
muitas inquietações escandalosas, a que o dito ouvidor deixara de atender,<br />
escolhendo-o para juiz ordinário.<br />
A estas considerações respondeu el-rei que, se Roque Bequimão,<br />
durante o ano do seu juizado, que já devia estar findo, tivesse dado ocasião a<br />
alguma perturbação, do que os povos recebessem desprazer e escândalo, nunca<br />
mais fosse admitido na Câmara, registrando-se, entretanto, aquela ordem para a<br />
todo o tempo constar.<br />
Oito anos depois, em 1725, encontramos Manuel Inocêncio<br />
de Bequimanz (com o apelido já modificado) que por essa ocasião<br />
alcançou sentença para poder servir de procurador da Câmara de<br />
São Luís, alegando que só poderia ser considerado inábil por infame se seu pai<br />
fosse cristão-novo, ou tivesse sido justiçado, o que não sucedera, pois Manuel<br />
Bequimão, que o fora, era apenas seu tio.<br />
Este, como se vê, era, ao que parece, filho de Tomás Bequimão,<br />
havendo já servido como escrivão do Juízo Eclesiástico na célebre<br />
– 24 –
– 25 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />
ação cominatória que os frades capuchos intentaram às saúvas para<br />
as fazer despejar da cerca do seu convento, cuja posse mansa e pacífica<br />
turbavam contra todo o direito. 5<br />
Além destes, possuímos autógrafos dos seguintes descendentes<br />
desta família:<br />
Inácio de Loyola Beckman – Vivia ainda, nos últimos anos do século<br />
XVIII, nesta capital, onde era tabelião e exercia o cargo de síndico<br />
dos religiosos de Santo Antônio, segundo se vê de documentos que<br />
temos à vista, de seu próprio punho, com datas de 1783 e 1789.<br />
Dr. Bernardo Bequimão – Promotor do Juízo Eclesiástico em<br />
1779 e cura da Sé. Existia ainda em 1792.<br />
José João Beckman – Temos, deste, dois documentos, todos do<br />
próprio punho; são duas certidões passadas “como pároco da freguesia<br />
de Nossa Senhora da Vitória da Igreja Catedral do <strong>Maranhão</strong><br />
por apresentação régia e instituição canônica” – uma de 1790, outra<br />
de 1803. Era também vigário-geral da Diocese.<br />
João Antônio Beckman – Foi administrador das diversas rendas<br />
nacionais e inspetor da Alfândega de Parnaíba, de 1835 a 1841.<br />
Tenente Tomás Raimundo Beckman – Em novembro de 1858, era<br />
presidente da Câmara Municipal e juiz de órfãos por lei, na cidade de<br />
Alcântara e seu termo.<br />
Consta isso de uma guia de recebimento de dinheiro de órfãos<br />
na importância de Rs. 54:631$000.<br />
Miguel Eliseu Beckman – Capelão da catedral em 1859. Encontramos<br />
este nome em uma Relação das perdas dos empregados da Catedral<br />
no mês de abril daquele ano. E – coisa singular! – entre os empregados<br />
cujos nomes figuram nessa folha, encontra-se o do então capelão<br />
Luís Raimundo da Silva Brito, atualmente arcebispo de Olinda. 6<br />
5 O Processo das Formigas é fato real. Correu no Juízo Eclesiástico do <strong>Maranhão</strong> em<br />
1712-1714, segundo cópias parciais que dele existem no <strong>Instituto</strong> <strong>Histórico</strong> e Geográfico<br />
Brasileiro (Rio de Janeiro), sob código Lata 467, Documento 6. JM.<br />
6 Não se perca de vista a data de publicação deste artigo, que é de fins de 1911. D. Luís<br />
Raimundo da Silva Brito, nascido em 1840, faleceu em 1921. JM.
José Ribeiro do Amaral<br />
Érico Pedro Beckman – Carcereiro da Cadeia Pública da capital,<br />
em 1860, e mais tarde sargento-vago-mestre do Corpo de Polícia,<br />
vivia ainda em 1879; era magro e de estatura bastante elevada.<br />
João Batista da Silva Beckman – Era delegado de Polícia na cidade<br />
de Vigia, província do Pará, em 1868. O documento que com a sua<br />
assinatura possuímos é um atestado em que ele declara que o vapor<br />
Odorico Mendes, da Companhia de Navegação a Vapor do <strong>Maranhão</strong>,<br />
entrou no porto daquela cidade, procedente dos portos do Sul em<br />
11, seguiu para o Norte na mesma data e voltou em 14, tudo de abril<br />
daquele mesmo ano.<br />
Francisco Xavier Beckman – Faleceu sendo chefe de seção do<br />
Tesouro Público Provincial em 1869. Era um caráter respeitabilíssimo.<br />
Violinista exímio, era tido aqui como o primeiro de seu tempo, tendo<br />
sido professor de Leocádio Rayol e regente da orquestra do Teatro<br />
São Luís durante muitos anos.<br />
Tomás Raimundo Beckman Júnior – Escrivão de órfãos da cidade<br />
de Alcântara e seu termo. O documento que isto nos comprova é<br />
uma guia de recebimento do dinheiro daquele juízo, visada em 7 de<br />
dezembro de 1870 pelo então juiz de órfãos daquela comarca, Dr.<br />
Segismundo Antônio Gonçalves, que mais tarde se retirou para<br />
Pernambuco onde, com o advento da República, foi governador, e<br />
atualmente é senador.<br />
Casemiro Francisco Beckman – Atual escrivão de um dos cartórios<br />
da cidade de Alcântara.<br />
Em nossos dias, disse João Lisboa, existiram, e existem ainda no<br />
<strong>Maranhão</strong>, alguns membros desta antiga família, já com o nome de Beckman<br />
restituído à sua genuína ortografia estrangeira, e temos ouvido que em época não<br />
muito afastada, um deles, que exercia o emprego de escrivão da Câmara, querendo,<br />
quanto em si estava, delir todas as memórias de um fato, que reputava injurioso,<br />
a fim de que ninguém mais o conhecesse por neto ou descendente do enforcado,<br />
subtraiu do Arquivo e do ventre dos livros todas as folhas que tinham relação<br />
com o mesmo fato.<br />
– 26 –
– 27 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />
O certo é que daqueles memoráveis acontecimentos não se encontram ali<br />
senão referências casuais muito posteriores, faltando tudo quanto é relativo aos<br />
dois anos em que eles tiveram lugar.<br />
Não sabemos quais as razões e testemunhos em que se baseou<br />
o nosso grande historiador para assim pensar.<br />
Quer-nos parecer, porém, com a devida vênia que a sua autoridade<br />
nos inspira, que muito outra é a causa da lacuna por ele apontada<br />
nos livros da Câmara.<br />
Quando, em comissão do ministro do Império, Visconde de<br />
Monte Alegre por aqui andou, em julho de 1851, o nosso ilustre<br />
poeta Antônio Gonçalves Dias a proceder a “exames nos arquivos<br />
dos mosteiros e das repartições públicas para a coleção dos documentos<br />
históricos relativos ao <strong>Maranhão</strong>”, retirou-nos daqui, entre<br />
muitos livros e documentos do Arquivo da Secretaria do Governo,<br />
doze da Câmara Municipal, segundo se vê da nota, apensa ao seu<br />
relatório, que diz: Livros da Câmara Municipal do <strong>Maranhão</strong> que vão remetidos<br />
para o Arquivo do Rio:<br />
1°. Registro de 1639-1664<br />
2°. Registro de 1654-1663<br />
3°. Registro de 1647-1668<br />
4°. Registro de 1668-1669<br />
5°. Registro de 1671-1676<br />
6°. Registro de 1685-1690<br />
7°. Registro de 1702-1710<br />
8°. Registro de 1732-1753<br />
9°. Registro de 1720-1809<br />
10°. Cartas régias 1648-1798
José Ribeiro do Amaral<br />
11°. Acórdãos 1628-1662<br />
12°. Acórdãos 1675-1683<br />
– 28 –<br />
<strong>Maranhão</strong>, 10 de julho de 1851<br />
(Assinado)<br />
Antônio Gonçalves Dias<br />
Como se vê, os livros que daqui foram retirados, para o Arquivo<br />
do Rio de Janeiro nada valem, estão lá abandonados, se existirem ainda,<br />
para nós são de um valor inestimável, insubstituível: representam a<br />
história de toda a nossa vida colonial até princípios do século XIX.<br />
Pela simples inspeção das datas, fácil é de ver que neles se deve<br />
encontrar tudo quanto diz respeito à Invasão Holandesa, às lutas<br />
com os jesuítas, à revolução de Bequimão, etc., cuja falta tanto lamenta<br />
Lisboa.<br />
E já que nos ocupamos disto, é ocasião de fazer aqui um apelo<br />
ao honrado Sr. Governador do Estado, 7 que tão carinhoso é por<br />
tudo quanto diz respeito a esta terra.<br />
Procure S. Exa. reaver estes livros que daqui nos levaram, que<br />
são nossos, que representam o esforço dos nossos antepassados pelo<br />
<strong>Maranhão</strong>; não consinta que permaneçam eles por mais tempo fora<br />
do lugar onde estavam e de onde nunca deveriam ter saído.<br />
Queira, como costuma querer, e não pequeno serviço terá prestado<br />
a esta terra que tanto lhe deve.<br />
(3.11.1911)<br />
7 Luís Antônio Domingues da Silva, governador do <strong>Maranhão</strong> no quadriênio 1910-1914. JM.
3<br />
Os franceses no <strong>Maranhão</strong><br />
– 29 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />
QUARENTA anos eram já passados do naufrágio de Luís de<br />
Melo e, com ele, do malogro da última tentativa de colonização,<br />
sem que a Portugal fosse dado, durante todo esse tempo,<br />
lançar suas vistas para esta parte de seus domínios, preocupado,<br />
como se achava então, a princípio com as guerras da África, que lhe<br />
consumiam o melhor de suas forças, e mais tarde, com a dolorosa<br />
passagem da Coroa ao domínio espanhol, quando, em 1594, um francês<br />
de nome Jacques Rifault, armador de Dieppe, andando a piratear<br />
pelas costas do Brasil, acossado por tremenda tempestade, de que<br />
lhe resultou a perda de seu melhor navio, veio, com os dois que lhe<br />
restavam, ter ao <strong>Maranhão</strong>.<br />
Aqui, abrindo relações com os selvagens, e ganhando a afeição<br />
do principal deles, o cacique Ovirapive, conseguiu fundar um<br />
pequeno estabelecimento, cuja administração confiou a Carlos des<br />
Vaux, que, depois de uma permanência de cerca de dois anos, em<br />
que logrou a posse de toda a Ilha e a amizade dos tupinambás, seus<br />
habitadores, partiu para a França a fim de obter de Henrique IV o<br />
apoio e proteção para fundar aí um estabelecimento permanente.<br />
Tais foram as informações que, dos recursos e riquezas naturais<br />
da nova terra, levou ao rei, que este determinou mandar explorála<br />
à custa da Coroa, fazendo voltar na mesma ocasião des Vaux,
José Ribeiro do Amaral<br />
acompanhado de Daniel de La Touche, Senhor de La Ravardière,<br />
que vinha desempenhando as funções de comissário régio.<br />
Chegados ao <strong>Maranhão</strong>, demoraram-se seis meses.<br />
Exatíssimo era quanto des Vaux havia contado ao rei; voltaram<br />
à França.<br />
Mas, nesse ínterim, Henrique IV acabava de cair sob o punhal<br />
de Ravaillac (1610), e as dissensões intestinas, civis e religiosas, que<br />
então consumiam aquele País, não permitiram a La Ravardière obter,<br />
de pronto, os auxílios que esperava da Coroa, e só depois de alguma<br />
delonga e não pequeno esforço, foi que conseguiu incorporar uma<br />
companhia, de parceria com Nicolau de Harlay, Senhor de Sancy e<br />
Barão de Molle e Gros Bois, e Francisco, Senhor de Rasily e Aumelles,<br />
aos quais, em nome de El-Rei Cristianíssimo, conferiu a Rainha Regente<br />
as cartas-patentes de tenentes-generais nas Índias Ocidentais e<br />
territórios do Brasil, fazendo-lhes, também por essa ocasião, doação<br />
de uma riquíssima bandeira com as armas da França em fundo azul<br />
celeste, tendo por divisa um navio no qual se via ela mesma ao leme,<br />
com o filho à proa, empunhando um ramo de oliveira que das mãos<br />
dela recebera, e por lema Tanti dux faemina facti.<br />
Organizada a expedição, composta de três navios – Regente,<br />
Carlota e Sant’Ana – com cerca de quinhentos homens, levantou ferro<br />
do porto de Cancale, aos 19 de março de 1612, vindo, depois de<br />
uma viagem das mais tormentosas, lançar âncora no <strong>Maranhão</strong>, aos<br />
26 de julho, na ilha então conhecida por Upaon-Mirim, à qual, em<br />
memória daquele dia, deram o nome de Santana, que ainda hoje dura.<br />
Aqui demoraram-se os expedicionários alguns dias, que não<br />
foram perdidos para a causa da catequese e civilização dos índios,<br />
chegando à Ilha Grande a 6 de agosto, depois de bem se haver de La<br />
Ravardière certificado, por intermédio de seu emissário Carlos des<br />
Vaux, da boa hospedagem que a todos reservavam os indígenas.<br />
Acompanhavam a expedição, a pedido de Maria de Médicis,<br />
regente da França, os padres capuchinhos Ivo d’Evreux, Cláudio de<br />
Abbeville, Arsênio de Paris e Ambrósio de Amiens, todos, pelas suas<br />
– 30 –
– 31 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />
virtudes, sendo os dois primeiros, particularmente Ivo d’Evreux, dos<br />
mais insignes religiosos que terras brasileiras têm pisado, acrescendo<br />
ainda a circunstância de haverem sido mais tarde os historiadores da<br />
missão, da qual bem podiam dizer que grande parte foram.<br />
Mas, a esse tempo, já à Metrópole haviam chegado vagos rumores<br />
da ocupação francesa, e então, só então, como que tornando a<br />
si do abandono a que havia deixado cair esta tão rica porção das suas<br />
possessões, foi que a corte de Madri se decidiu afinal a empreender a<br />
conquista do <strong>Maranhão</strong>.<br />
Aparelhada para esse fim a esquadra, que se compunha de dois<br />
navios redondos, uma caravela e cinco caravelões, com uma<br />
equipagem de menos de cem homens de mar e guerra, desferrou do<br />
porto do Recife aos 23 de agosto de 1614, ao mando de Diogo de<br />
Campos Moreno, que deveria em viagem juntar-se a Jerônimo de<br />
Albuquerque, dali saído desde 22 de junho com algumas embarcações,<br />
e já então na Fortaleza do Rio Grande.<br />
Reunidas as duas pequenas expedições, fez-se de vela, deste<br />
último porto, a armada, no dia 5 de setembro, sob o mando supremo<br />
do segundo, já investido no cargo de capitão-mor da conquista do<br />
<strong>Maranhão</strong>; e depois de uma derrota trabalhosa e difícil, deu fundo<br />
no dia 26 de outubro no sítio denominado Guaxenduba, onde, apenas<br />
desembarcados, trataram apressadamente todos de levantar fortificações,<br />
a fim de, assim, melhor resistirem a qualquer ataque por<br />
parte dos dominadores da ilha que lhes ficava fronteira.<br />
E não se iludiram.<br />
Acobertados pelas últimas sombras da madrugada de 19 de<br />
novembro, e cosidos com o mangue quanto lhes permitiam as canoas<br />
em que iam, começaram os franceses a despejar gente em terra,<br />
ferindo-se dentro em pouco a ação, que é conhecida pelo nome de<br />
Guaxenduba – do sítio em que teve ela lugar, e que é uma das páginas<br />
mais brilhantes e mais gloriosas de toda a nossa história colonial.<br />
As minguadas forças portuguesas, tendo à sua frente os dois<br />
velhos guerreiros – Jerônimo de Albuquerque, encanecido nas guerras
José Ribeiro do Amaral<br />
irregulares do Brasil, decidido e arrojado; e Diogo de Campos, o veterano<br />
de Flandres, calmo e imperturbável, cobriram-se, nesse dia, de<br />
glória, obrando excessos de energia, praticando gentilezas de valor,<br />
lutando enfim contra um inimigo dez vezes superior em número!<br />
Prolongou-se esta famosa jornada das dez horas da manhã até<br />
quase ao cair da noite, quando, repelidos por toda a parte, entregaram-se<br />
os franceses à mais desordenada fuga, abandonando o campo<br />
aos vencedores.<br />
No mapa da Provincia del Maragnone que acompanha a obra Istoria<br />
delle guerre del Regno del Brazile accadute tra la Corona di Portogallo, e la<br />
Republica di Olanda, composta, ed offerta alla sagra reale maestà di Pietro Secondo<br />
re di Portogallo, etc., dal P. P. Gio. Giuseppe di Santa Teresa, Carmelitano<br />
Scalzo. Parte Prima Anno MDCXCVIII. In Roma, nella Stamperia degl’Eredi<br />
del Corbelletti, nesse mapa, que se encontra entre as páginas 24 e 25 da<br />
referida obra, vem já assinalado o sítio onde feriu-se tão gloriosa<br />
peleja, a quatro léguas do Rio Munim, representado por um hexágono<br />
perfeito com a inscrição – Forte de Santa Maria, assim chamado<br />
(diz Diogo de Campos, Jornada do <strong>Maranhão</strong> por ordem de Sua Majestade<br />
feita o ano de 1614), por haverem os padres capuchos lançado sortes<br />
ao nome da fortaleza e ter saído o Nascimento de Nossa Senhora.<br />
A este brilhante feito de armas seguiu-se um tratado de tréguas,<br />
que não foi respeitado por ter sido concluído com piratas, –<br />
disse-o a Corte de Lisboa, sendo então enviado Alexandre de Moura<br />
com uma nova expedição e ordens terminantes para ultimar a conquista<br />
do <strong>Maranhão</strong>.<br />
No dia 11 de novembro de 1615, apresentou-se na barra a<br />
armada portuguesa, e, no dia seguinte, intimado a render-se, assinou<br />
Ravardière um auto de entrega da Fortaleza de São Luís, bem como<br />
dos navios, com toda a artilharia, munições e petrechos bélicos, havendo<br />
durado a ocupação francesa, no <strong>Maranhão</strong>, cerca de três anos<br />
e quatro meses.<br />
– 32 –<br />
(10.11.1911)
4<br />
Caráter, fins, meios e resultados<br />
da Ocupação Francesa em paralelo<br />
com a Invasão Holandesa<br />
– 33 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />
AQUEM ESTUDA a História do <strong>Maranhão</strong> e compara as<br />
duas invasões estrangeiras que logo nos seus começos se<br />
sucederam uma a outra com tão pequeno intervalo, não é<br />
possível (disse o nosso grande historiador) 8 que escape o pronunciado<br />
antagonismo do caráter, fins, meios e resultados de ambas.<br />
De fato, assim é.<br />
E, se não, vejamos, começando pelo próprio ato, em si, da invasão.<br />
Dos franceses não se pode propriamente dizer que invadiram<br />
– não, eles tomaram posse, ocuparam um território totalmente abandonado,<br />
cujas primeiras explorações lhes eram devidas, pois haviam<br />
sido feitas por armadores de Dieppe e datavam já de 1524, explorações<br />
completadas pelas navegações de Afonso de Chaintongeois até<br />
às bocas do Amazonas, em 1542.<br />
Foi de toda essa imensa extensão de território que, vinte e<br />
cinco anos mais tarde, Henrique IV fez doação a um bravo capitão<br />
da Religião Reformada, doação de que vamos encontrar de posse a<br />
8 Referência a João Francisco Lisboa. JM.
José Ribeiro do Amaral<br />
Daniel de La Touche, pelas cartas-patentes de julho de 1605, e que<br />
este conseguiu que lhe fosse renovada por Luís XIII em 1610, estendendo-se<br />
o seu domínio (dizia o texto da concessão renovada) desde o<br />
Rio do Amazonas até a Ilha da Trindade.<br />
Eram, portanto, os franceses portadores de um título, cuja legalidade<br />
não é aqui ocasião de apurar, que os habilitava a tomar posse<br />
de toda esta região.<br />
E ainda assim, como o fizeram?<br />
Procuraram a amizade e as alianças dos naturais do País, e,<br />
uma vez aqui estabelecidos, trataram de catequizá-los e civilizá-los,<br />
levando-os sempre pelos meios brandos, conseguindo, por esta forma,<br />
ganhar-lhes confiança tal, que não consta, durante o período de<br />
três anos e quatro meses, que tanto durou a Ocupação Francesa, ter<br />
havido qualquer ato de insurreição por parte dos indígenas.<br />
Era, portanto, a Missão Francesa uma missão toda de paz, toda<br />
no interesse da própria civilização.<br />
Dirigindo-se ao Brasil, procurando terras do <strong>Maranhão</strong>, certo<br />
não o haviam feito os franceses tão-somente no interesse ou por<br />
amor aos indígenas, não! Mais do que isso, para aqui os atraía e arrastava<br />
a idéia de arrancar de uma terra virgem tudo quanto ela lhes<br />
pudesse dar, e disso estavam mais que certos pelas afirmações de des<br />
Vaux; mas, enquanto por um lado assim pensavam e assim procediam,<br />
por outro, não descuravam um só instante dos índios, ativando<br />
por todos os meios a catequese e provendo ao seu bem-estar, atendendo-lhes<br />
assim às necessidades espirituais e temporais.<br />
Era Daniel de La Touche protestante. Não foi, entretanto, aos<br />
partidários de sua religião que se dirigiu ele para ser bem-sucedido<br />
nesta empresa.<br />
Pelo contrário, sem hesitar, entrou em conferência com católicos<br />
proeminentes, cuja lealdade perfeitamente conhecia, tais como: o<br />
almirante Francisco de Rasilly, uma das mais antigas glórias da França,<br />
e Nicolau de Harlay, uma de suas sumidades financeiras, conseguin-<br />
– 34 –
– 35 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />
do deles que se lhe associassem na exploração deste privilégio.<br />
Em todo o século XVII não conhecemos transação outra, entre<br />
católicos e protestantes, mais leal e desinteressada: foi, na verdade,<br />
uma empresa digna de contar em si o padre Ivo d’Evreux, tão<br />
sincero como justo.<br />
E dos holandeses, poderemos nós dizer outro tanto?<br />
Governava o <strong>Maranhão</strong> Bento Maciel Parente, quando, a 25<br />
de novembro de 1641, apresentou-se inopinadamente na barra poderosa<br />
esquadra holandesa, forte de dezoito velas, com cerca de dois<br />
mil homens de desembarque, a qual, recebida a princípio com salvas,<br />
como sói acontecer entre nações amigas, e logo em seguida com<br />
artilharia das baterias portuguesas, por mostrar intenções hostis, foi<br />
altaneiramente, transpondo o ancoradouro, dar fundo na Ponta do<br />
Desterro, no rio Bacanga.<br />
Aí, desembarcando metade de suas tropas, dispunha-se<br />
Lichthart a investir contra a fortaleza, quando Maciel por um emissário<br />
lhe fez notar a perfídia com que procurava senhorear-se de um<br />
território que só pertencia a El-Rei seu amo.<br />
Iludindo o velho governador com promessas falaces de um ajuste<br />
de tréguas, até que recebesse resposta dos Estados Gerais, a quem ia<br />
consultar nesse sentido, dirigiu-se João Cornelles à testa dos seus soldados<br />
para a fortaleza, que encontrou indefesa, e, prendendo a Bento<br />
Maciel, fez abater o pavilhão português e arvorar o holandês.<br />
Dar-se-á caso de maior perfídia?<br />
Colhida esta tão fácil vitória, entregaram-se os holandeses a<br />
toda a sorte de depredações, não respeitando sagrado nem profano.<br />
Pilharam as casas e os templos, levando mão sacrílega às imagens,<br />
que despedaçaram.<br />
Aterrados com este espetáculo, fugiram espavoridos os moradores<br />
para os matos, abandonando suas casas, ficando assim em pouco<br />
tempo a pequena cidade quase deserta; e não satisfeito ainda, fez<br />
João Cornelles prender a cento e cinqüenta dos mais importantes,
José Ribeiro do Amaral<br />
entre os quais se contava um sobrinho de Bento Maciel, atirando-os<br />
no porão de um navio, podre e inservível, que mandou sair barra<br />
fora, contando assim entregá-los a uma morte certa.<br />
Ainda mais. Fintou em cinco mil arrobas de açúcar os proprietários<br />
dos cinco únicos engenhos que havia nas margens do<br />
Itapecuru, reduzindo-os, por escárnio, a administradores ou feitores<br />
dos seus próprios estabelecimentos!<br />
E agora, que contraste entre uns e outros: entre o procedimento<br />
indigno de João Cornelles para com os pobres habitantes de<br />
uma pequena cidade, tomada à mão armada, à falsa fé, em plena paz,<br />
e abusando da fraqueza de um povo imbele e desarmado, não menos<br />
que das irresoluções de um velho setuagenário, e o cavalheiresco e<br />
nobre de Daniel de La Touche, logo após a Batalha de Guaxenduba,<br />
o qual, apesar de derrotado por Jerônimo de Albuquerque, não trepidou<br />
de mandar ao campo inimigo o seu cirurgião-mor e remédios<br />
para acudir aos feridos que, à míngua deles, faleciam!<br />
Convidado a jantar a bordo de um dos navios franceses pelo<br />
Senhor de La Ravardière, depois de haver sido recebido com termos<br />
muito corteses e de lhe terem sido prestadas todas as honras militares<br />
(é o próprio Diogo de Campos quem o diz) – observou que não<br />
faltava de comer, e música naval bem concertada, mostrando Ravardière na autoridade<br />
e no trato um vestígio honrado em que se enxergava despesa mais que<br />
ordinária. – Ao retirar-se o sargento-mor, salvaram os navios e fizeram-lhe<br />
todas as demais honras do estilo.<br />
Do pouco que aqui fica dito, conclui-se que:<br />
Os franceses levantaram, os holandeses derrubaram; os franceses<br />
deram começo à fundação da cidade e à construção dos primeiros<br />
edifícios que aqui houve, alguns dos quais ainda hoje duram; os holandeses<br />
incendiaram ou lançaram por terra esses mesmos edifícios; os<br />
franceses trouxeram para aqui não pequenos cabedais, inclusive alfaias<br />
para o convento de São Francisco (Santo Antônio), trabalhadas pelas<br />
próprias mãos da Duquesa de Guise; os holandeses arrebataram-nos<br />
tudo isso, como fintaram o açúcar de todos os engenhos e tudo o<br />
– 36 –
– 37 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />
mais que seus olhos cobiçosos viram, só não havendo feito o mesmo<br />
às pedras das casas das nossas fortalezas por lhes ser, de todo,<br />
impossível transportá-las nos seus já arruinados e imprestáveis navios.<br />
Eis por que na sua Introdução aos Anais históricos do <strong>Maranhão</strong>,<br />
por Berredo, dizia o nosso grande poeta9 que a expulsão dos franceses<br />
levara consigo tantas esperanças, e a invasão dos holandeses estragara<br />
tantas fortunas.<br />
9 Gonçalves Dias. JM.<br />
(17.11.1911)
5<br />
Fundação do <strong>Maranhão</strong><br />
– 39 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />
ACIDADE de São Luís, capital do Estado do <strong>Maranhão</strong>, é<br />
uma cidade de origem absolutamente francesa, ocupando,<br />
ainda hoje, o mesmo lugar escolhido por seus fundadores.<br />
Está situada a 2°30’44" de Lat. S. e 1°6’36" de Long., em arco<br />
do meridiano do Rio de Janeiro, em uma pequena península ao sul<br />
do Anil, a E. e N. do Bacanga, ligada à ilha do mesmo nome pela<br />
estrada do Caminho Grande, no lugar conhecido por Alto da Carneira.<br />
Foi na extremidade O. desta península, em um sítio previamente<br />
escolhido, a cavaleiro do ponto em que se dá a confluência<br />
dos dois já referidos rios – Anil e Bacanga – que, há 299 anos, lançaram<br />
os chefes da Missão Francesa os primeiros fundamentos de uma<br />
pequena cidade a que deram o nome de São Luís, em memória eterna<br />
de Luís XIII, rei da França e de Navarra, e ao fundeadouro que<br />
lhe ficava junto o de Porto de Santa Maria - em homenagem à Virgem<br />
Santíssima, cuja natividade se celebrava naquele memorável dia<br />
(8 de setembro), e também a Maria de Médicis, regente da França na<br />
menoridade de Luís XIII, como reconhecimento aos largos favores<br />
por ela dispensados à expedição.<br />
Vejamos agora como tudo isto teve lugar; como foram assentados<br />
os primeiros fundamentos da nossa querida São Luís.
José Ribeiro do Amaral<br />
Chegados ao <strong>Maranhão</strong> a 6 de agosto de 1612, guiados, como<br />
já vimos, por de Rasilly e de La Ravardière, trataram para logo os<br />
franceses de construir um forte que lhes pudesse dar a segurança da<br />
posse e conservação do território que acabavam de ocupar.<br />
Escolheram para esse fim (diz o padre Cláudio de Abbeville) uma<br />
bonita praça muito própria por ser numa alta montanha e na ponta de um<br />
rochedo inacessível, superior a todos os outros, e donde se descobre terreno a<br />
perder de vista, e, embora separada da terra firme, é inconquistável e muito<br />
forte, por estar cercada de dois rios profundos e largos que desembocam no mar<br />
ao pé do dito rochedo, onde é o único porto da Ilha do <strong>Maranhão</strong>, e nele podem<br />
fundear com toda a segurança navios de mil a mil e duzentas toneladas.<br />
Isto quanto à escolha do local para o forte.<br />
Vejamos agora como se construiu este, e onde e como se levantaram<br />
as primeiras habitações que contou a nascente cidade.<br />
Reconhecendo os índios a necessidade desse forte, por seu e nosso interesse<br />
(continua Cláudio d’Abbeville), principiaram a trabalhar logo nele com<br />
muita alegria e sinceridade, construindo muitas casas para os franceses, com<br />
pequenas árvores, que contavam de 12, 15 e 20 pés, conforme a altura que se<br />
desejava.<br />
Enterrando essas árvores no chão uma contra a outra, eles as prendiam<br />
com outros pedaços de paus atravessados com barrotes e cordas.<br />
Por cima de tudo estendiam ripas e cobriam com folhas de palmeira, chamadas<br />
em sua linguagem – pindoba –, e com tal arte que não deixava penetrar<br />
a chuva, e vista de dentro, notava-se curiosa disposição ou arranjo.<br />
Em pouco tempo edificaram muitas casas dessas, de um e dois andares<br />
com um grande armazém, onde arrumaram todos os gêneros que trouxemos, e<br />
que eles próprios foram buscar a bordo.<br />
Com auxílio dos franceses, montaram no dito forte, embora muito alto,<br />
vinte canhões grandes para sua defesa.<br />
Junto a este forte há uma praça cômoda e bonita: nela se encontram muito<br />
boas fontes e regatos, que são a alma de uma cidade, e aí existem todas as comodidades<br />
desejadas, como sejam paus, pedras, barro e outros materiais para a<br />
edificação sem muito dispêndio.<br />
– 40 –
– 41 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />
Tal é a singela descrição que nos faz o reverendo padre Cláudio<br />
de Abbeville do local preferido pelos chefes da Missão Francesa<br />
para a fundação da pequena cidade, local que, pelos termos claros e<br />
inconfundíveis por que o descreve, outro não é senão o outrora conhecido<br />
por Largo de Palácio, atualmente Avenida Maranhense.<br />
Abrangia, portanto, o estabelecimento francês, no seu começo,<br />
a área que se estende da Rampa até o lugar ocupado hoje pela<br />
Catedral e Palácio do Bispo, onde então havia, sob a invocação de<br />
São Luís, uma pequena capela provisória, à imitação das igrejas dos<br />
conventos dos capuchinhos de Paris, construída de madeira, cercada<br />
e coberta de ramos fortes, cortados de uma árvore chamada<br />
Acaiucantim.<br />
Era aí que, temporariamente, celebravam os religiosos capuchos<br />
todos os atos divinos, enquanto procediam à construção da capela<br />
de São Francisco do <strong>Maranhão</strong> (Santo Antônio).<br />
Aí, diz Ivo d’Evreux, celebrei missas, cantei vésperas, preguei e batizei<br />
catecúmenos.<br />
À tarde tocava o sino, todos se reuniam nesta capela onde se cantava a<br />
saudação angélica, implorava-se a graça divina, e depois cada um ia para<br />
onde queria.<br />
De um lado e de outro, isto é, ao norte e ao sul, era a praça<br />
ladeada pelas recentes habitações, às quais, com o correr dos tempos,<br />
outras melhores se foram naturalmente sucedendo, até o ponto<br />
em que a vemos hoje, tudo isto defendido por altas fortificações nas<br />
quais montaram os franceses vinte canhões grandes.<br />
Fala-nos também Cláudio de Abbeville, num dos tópicos da<br />
sua descrição a que nos referimos há pouco, de uma praça cômoda e<br />
bonita que havia junto ao forte, na qual se encontravam muito boas fontes e<br />
regatos, e existiam todas as comodidades desejadas tais como paus, pedras, barro<br />
e outros materiais para a edificação sem muito dispêndio.<br />
A praça a que alude aqui o ilustre capuchinho, pelas circunstâncias<br />
de que faz ele revestir a sua narração – “estar situada junto ao forte, e
José Ribeiro do Amaral<br />
existirem nela muito boas fontes e regatos”, outra certamente não é<br />
senão a em que, poucos anos depois, foi erigida a igreja de Nossa Senhora<br />
do Carmo, outrora Largo deste nome, hoje Praça João Lisboa,<br />
mesmo porque nenhuma outra existe nas condições acima apontadas.<br />
Quanto “às fontes e regatos” a que se refere a descrição, é<br />
tradição velha no <strong>Maranhão</strong> existirem, por aí assim, os grandes mananciais<br />
que fornecem toda essa água que, ininterruptamente, quer<br />
de verão, quer de inverno, vem ter à Fonte do Ribeirão e abastece, de<br />
há longos anos, a população que demora por aquelas imediações.<br />
E nem só tradição velha, não.<br />
Conhecemos, mesmo, documento positivo a semelhante respeito,<br />
e que vem em abono do que acabamos de dizer, o qual é o seguinte:<br />
Quando foi da sua construção, o que teve lugar em 1796, no<br />
governo de D. Fernando Antônio de Noronha, o encarregado da<br />
inspeção das obras que ali se praticavam, José Luís da Rocha, em<br />
ofício de 13 de fevereiro daquele ano, dirigido ao referido governador,<br />
com este instava para que mandasse avaliar e comprar um quintal de<br />
uma pequena casa de João Gomes Viana, porque sendo ele muito baixo e não<br />
dando saída por parte alguma às águas que nele se ajuntavam no inverno, ficavam<br />
encharcadas e iam filtradas pela terra ter à principal mãe-d’água da dita<br />
fonte que fica a mui pequena distância prejudicando-a com as suas impurezas<br />
e imundícies e tornando-se assim prejudiciais aos povos desta cidade.<br />
Mas voltemos ao fim principal da nossa conversa de hoje.<br />
Agasalhados nas suas habitações, depois de haverem todos, padres<br />
como soldados, passado as primeiras noites ao relento, sob o frondoso<br />
arvoredo que sombreava a beira-mar, trataram os da expedição francesa<br />
de marcar dia para a instituição solene da pequena cidade, ou antes, a posse<br />
oficial da terra ocupada em nome de El-Rei Cristianíssimo, sendo acordado,<br />
entre franceses e indígenas, que tal solenidade se realizaria a 8 de setembro,<br />
dia da Natividade da Virgem Santíssima.<br />
No dia aprazado estavam todos, logo bem cedo, com os franceses,<br />
e depois de haverem celebrado o santo sacrifício da missa na<br />
– 42 –
– 43 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />
capela de São Luís, de que já falamos, encaminharam-se todos<br />
processionalmente até o forte.<br />
Cedamos aqui a palavra a um dos historiadores da missão, o<br />
padre Cláudio de Abbeville. É tocante e belíssima a descrição que<br />
nos deixou o ilustre religioso, daquela memorável solenidade, a primeira<br />
que terras maranhenses viram, e tão ao sabor daquelas épocas<br />
de piedade, de fervor e de fé viva.<br />
Na frente, diz ele, ia um gentil-homem levando água benta, outro o<br />
incenso, outro o turíbulo.<br />
Atrás destes ia outro fidalgo conduzindo um lindo crucifixo, presente do<br />
Sr. Manoir, indo ao lado dele dois mancebos índios, filhos dos principais, carregando<br />
dois castiçais com tochas acesas alumiando a cruz.<br />
Chamava-se um destes moços Louy (depois Carlos, quando se batizou) e<br />
era filho de Japiaçu, principal de toda a Ilha, e o outro era o filho mais novo de<br />
Markoya-Pero, um dos maiores do lugar, chamava-se Patuá e era o mais pequeno<br />
dos seis rapazes que levamos para a França e, pouco antes de morrer, nas águas<br />
do batismo teve o nome de Tiago<br />
Estes dois meninos eram da mesma idade e foram pelo Sr. de Rasilly<br />
vestidos da mesma forma, e a ele entregues desde a nossa chegada ao <strong>Maranhão</strong>.<br />
Nós quatro religiosos, revestidos de sobrepelizes brancas, acompanhamos<br />
a cruz com ordens.<br />
Seguia-se depois o Sr. de Rasilly, loco-tenente-general de Suas Majestades,<br />
toda a nobreza e afinal os outros franceses, misturados com os índios.<br />
Principiamos a cantar a ladainha da Virgem Maria, como fizemos quando<br />
plantamos a cruz na Ilha de Santana.<br />
Chegando ao forte, no lugar escolhido para plantar-se a cruz, que era<br />
muito grande e aí se achava pronta, cantou um de nós o Te Deum Laudamus,<br />
e seguiram-se outras orações<br />
Em seguida teve lugar uma prática, acabada a qual o Sr. des Vaux fez<br />
compreender aos principais dos ditos índios, e a outros de sua nação, aí presentes,<br />
o motivo e o fim da ereção da cruz, que era como testemunho da aliança entre ele
José Ribeiro do Amaral<br />
e Deus, e solene protesto de abraçarem a nossa religião, desprezando inteiramente<br />
o maldito Jeropari que jamais podia existir diante dessa santa cruz, apenas abençoada,<br />
sendo forçado a deixar a terra, quando fosse erguido este símbolo da religião,<br />
pelo qual se obrigavam – em primeiro lugar, a deixar a má vida que tinham,<br />
e especialmente a não comer mais carne humana, embora de seus maiores<br />
inimigos; em segundo, a ser obedientes às leis e a tudo quanto lhes ensinassem os<br />
padres; e, finalmente, a combater com valor sob este glorioso estandarte, e mil vezes<br />
morrer antes que consentir fosse dali arrancada aquela cruz.<br />
Causou este discurso a mais funda impressão no ânimo dos índios, que<br />
exteriormente manifestaram a emoção que sentiam, assegurando que voluntária e<br />
satisfatoriamente acolhiam e abraçavam tudo quanto se lhes propunha, visto que,<br />
de há muito, desejavam conhecer o Deus que adoravam os franceses, e aprender<br />
como devia ser obedecido e adorado, protestando nunca faltar à promessa tão<br />
solenemente feita.<br />
Feito isto, de acordo com o cerimonial usado pela Igreja em ocasiões tais,<br />
procedeu-se à benção da cruz, que em seguida foi exposta à adoração de todos, a<br />
começar pelos sacerdotes, e depois por de Rasilly, pelos fidalgos e afinal por todos os<br />
franceses, uns após outros.<br />
A estes seguiram-se os indígenas, vindo, em primeiro lugar, os principais<br />
com particular devoção, como exemplo dado a todos os índios (diz o historiador<br />
da Missão).<br />
Estavam vestidos com bonitos sobretudos de cor azul-celeste, tendo por<br />
cima deles cruzes brancas adiante e atrás, que lhes foram dadas pelos loco-tenentes-generais<br />
para servirem nesta e noutras iguais solenidades, seguindo-se depois os<br />
velhos e pessoas antigas, e afinal todos os índios presentes, com ordem, sem confusão,<br />
uns após outros, os quais todos, assim como tinham visto os franceses fazerem,<br />
ajoelhavam-se perante a cruz, adoravam-na, beijavam-na com todo o respeito,<br />
humildade e devoção, como se houvessem, em toda a sua vida, sido educados à<br />
sombra do Cristianismo.<br />
Terminando este cerimonial todo, teve lugar a ereção da cruz (trabalho este<br />
exclusivamente feito pelos indígenas), procedendo-se em seguida à benção da Ilha<br />
ao troar da artilharia do forte e dos navios, em sinal de regozijo, dando, então, de<br />
Rasilly à fortaleza o nome de Forte de São Luís, e ao fundeadouro que lhe fica<br />
junto o de Porto de Santa Maria.<br />
– 44 –
– 45 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />
São decorridos 299 anos das cenas que, aqui, ligeiramente ficam<br />
descritas, mas ao percorrer ainda hoje aquelas páginas de Cláudio<br />
de Abbeville na sua História da missão dos padres capuchinhos na Ilha<br />
do <strong>Maranhão</strong>, como que nos parece vê-las renovarem-se aos nossos<br />
olhos, tão viva é a narração que delas nos deixou o venerável<br />
capuchinho, tão viva e tão verdadeira que pode e deve ser considerada<br />
como o auto da fundação da cidade<br />
À obra, a que acabamos de nos referir, acompanham sete finíssimas<br />
gravuras, das quais a primeira, na capa, representa o ato da elevação da<br />
cruz, e as outras seis, os retratos de seis indígenas transportados para a<br />
França. É raríssima (de 1614) e de inestimável valor. 10<br />
Não se sabe hoje, ao certo, precisamente, o lugar em que na<br />
antiga praça, ora Avenida Maranhense, foi erguido este primeiro<br />
monumento histórico pelos franceses.<br />
A cruz nunca foi renovada, e o tempo, que tudo gasta e consome,<br />
não nos deixou dela senão esta tradição.<br />
A julgar, porém, pelo que nos refere o historiador da Missão, parece-nos<br />
não andarmos muito longe da verdade, aventurando que ela deveria<br />
naturalmente ter sido hasteada na área que fica entre os edifícios ocupados<br />
hoje pela Capitania e Delegacia Fiscal, de modo que, mesmo ao longe,<br />
pudesse ser vista pelos que demandassem o porto.<br />
O nome de Forte de São Luís estendeu-se depois à nascente<br />
cidade, e, finalmente, a toda a ilha.<br />
E já agora não deixa de ser curioso saber os diversos nomes<br />
por que foi conhecida na História a ilha que habitamos.<br />
Pelos indígenas era chamada Upaon-Açu (Ilha Grande); pelos<br />
europeus Ilha dos Tupinambás, por serem estes os ocupadores de<br />
toda a costa, desde a foz do Jaguaribe até aqui.<br />
10 O autor faz referência à obra original, em francês (Paris: De l’Imprimerie de François<br />
Hvby, 1614. [7]. 394, [28], f. 7 il]. Dela, o historiador César Augusto Marques fez tradução<br />
em 1874 (São Luís: Typ. Do Frias, [6], cii, xvi, 456, [2], iii p.), e Sérgio Milliet em 1945<br />
[inicialmente, São Paulo: Livraria Martins, 196p. (Biblioteca Histórica Brasileira, 15; com<br />
introdução e notas de Rodolfo Garcia), com reedição em 1975 (Belo Horizonte: Itatiaia,<br />
297p.). Segunda edição de César Marques saiu recentemente em São Paulo (Siciliano,<br />
2002, 363p. Coleção <strong>Maranhão</strong> Sempre). JM.
José Ribeiro do Amaral<br />
Os portugueses denominaram-na Ilha das Vacas, e os sobreviventes<br />
da expedição de João de Barros – Ilha da Trindade.<br />
Os franceses que andavam a corso pelas costas do Brasil, deram-lhe<br />
o nome de <strong>Maranhão</strong>; alguns cosmógrafos o de Ilha de Ferro,<br />
pela suposição da existência de minas deste metal; os chefes da<br />
Missão Francesa o de Ilha de São Luís, e finalmente, Alexandre de<br />
Moura, após a capitulação assinada pelos franceses no Forte do Sardinha<br />
(São Francisco) o de Ilha de Todos os Santos.<br />
Foram todos estes nomes esquecidos, ficando somente o de<br />
São Luís, como uma compensação aos superiores intuitos da Missão<br />
Francesa.<br />
Completa o <strong>Maranhão</strong> a 8 de setembro do ano vindouro (1912)<br />
o tricentenário da sua fundação.<br />
Não deve este dia passar aqui despercebido, como a Minas,<br />
Ceará e outros Estados não passou, e, desde já, daqui apelamos para<br />
o honrado Sr. Governador do Estado, sempre pronto a ser o primeiro<br />
a dar o exemplo nestas comemorações cívicas, a fim de que seja<br />
colocado no local onde foi erigida a cruz, um padrão, uma pedra<br />
qualquer, por mais modesta que seja, rememorativa daquela<br />
imorredoura data.<br />
Bem pode essa pedra ter a forma simbólica de uma cruz em<br />
que sejam gravadas as armas da França naquela época e o escudo de<br />
hoje do <strong>Maranhão</strong>, com a seguinte inscrição:<br />
8 de setembro de 1612<br />
8 de setembro de 1912<br />
HOMENAGEM DO MARANHÃO<br />
AOS SEUS FUNDADORES<br />
– 46 –<br />
(24.11.1911)
6<br />
Vestígios da Ocupação Francesa.<br />
A igreja de Santo Antônio<br />
– 47 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />
DENTRE OS RAROS e preciosos vestígios dos três anos e<br />
quatro meses, que sob a Ocupação Francesa, tem, sob todos<br />
os títulos, o primeiro lugar, logo após o Forte de São Luís, é<br />
o convento de São Francisco (hoje Santo Antônio).<br />
A primeira notícia que a seu respeito encontramos é a que nos<br />
transmitiu Cláudio de Abbeville em sua obra, tantas vezes já por nós<br />
citada em artigos anteriores.<br />
Em distância de mil ou mil e duzentos passos (do Forte de São Luís)<br />
há um bonito lugar de recreio, diz o notável missionário, onde existe uma<br />
fonte, especial pela limpidez e bom gosto de sua água, viva e clara, que dela jorra<br />
e corre para o mar; é cercado de palmeiras, de guaiaco, de murtas e de outras<br />
árvores corpulentas e grandes, onde se vêem, muitas vezes, monos, macacos que<br />
vão ali beber água.<br />
Neste delicioso lugar os índios tupinambás derrubaram grande número de<br />
árvores e um pouco acima da fonte construíram uma grande e espaçosa casa para<br />
habitarmos, e outra a ela mística, para a celebração do Santo Sacrifício da Missa,<br />
servindo de capela.<br />
Demos a este lugar o nome de Convento de São Francisco.
José Ribeiro do Amaral<br />
É, portanto, o convento de Santo Antônio uma das primeiras<br />
fundações francesas ocupando, segundo se infere dos termos claros<br />
e precisos da descrição acima, o lugar que primitivamente lhe fora<br />
assinalado pelos religiosos capuchinhos.<br />
A fonte a que se refere o historiador da Missão, todos o sabem,<br />
é o lugar conhecido por Tanque de Santo Antônio, na cerca do<br />
convento deste nome.<br />
Data a sua fundação de agosto de 1612, isto é, dos primeiros<br />
dias posteriores à chegada, aqui, da expedição francesa, havendo<br />
sido seus fundadores os reverendos padres capuchinhos da província<br />
de Paris, Cláudio de Abbeville, Arsênio de Paris e Ambrósio<br />
de Amiens, tendo como superior da Missão o venerável padre Ivo<br />
d’Evreux.<br />
Grandemente auxiliado pelos indígenas, que a trabalho algum<br />
se poupavam, tiveram os padres a rara ventura de ver acabada a sua<br />
capela na véspera de Natal, a 24 de dezembro, portanto, daquele mesmo<br />
ano, ou cerca de quatro meses, contados do dia em que à mesma<br />
haviam dado começo, e muito a propósito, (acrescenta um deles) pela devoção<br />
que sempre teve o seráfico padre São Francisco a quem era dedicada.<br />
Nessa noite, celebraram-se aí, pela primeira vez, atos do culto<br />
divino.<br />
Na verdade enchia-me de imenso prazer (diz Ivo d’Evreux in Viagem<br />
ao Norte do Brasil, feita em os anos de 1613 a 1614) vendo nessa capelinha,<br />
feita de madeira coberta de folhas de palmeiras, mais semelhante ao presépio de<br />
Belém do que a esses grandes e preciosos templos da Europa, os nossos compatriotas<br />
franceses cantarem os salmos e matinas desta noite, e depois, purificados pelo<br />
sacramento da Penitência, receberem o mesmo Filho de Deus no presépio dos seus<br />
corações, envolvido nas faixas do Santíssimo Sacramento do altar.<br />
Festejamos também o dia de Natal, à noite pregamos, o que sempre fizemos<br />
depois das festas e nos domingos, e com prazer, embora muito sofrêssemos no<br />
princípio; enquanto durou esta devoção corria o tempo tão depressa, que o dia<br />
parecia ter somente duas horas; e assim achando-se o nosso espírito preocupado<br />
com obras piedosas sentia a morte vir tão depressa.<br />
– 48 –
– 49 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />
Com a capitulação, porém, dos franceses, o que teve lugar no<br />
dia 2 de novembro de 1615, no Forte do Sardinha (São Francisco)<br />
após condições humilhantes, arrogantemente ditadas por Alexandre<br />
de Moura e vergonhosamente aceitas por la Ravardière, retiraram-se<br />
também os capuchos, sendo o modesto hospício, que com tanto<br />
desvelo haviam levantado, entregue aos cuidados de frei Cosme da<br />
Anunciação e frei Daniel da Natividade, ex-guardião do convento da<br />
Paraíba, e frei Manuel da Piedade, afamado teólogo, ambos para aqui<br />
vindos de Pernambuco com Jerônimo de Albuquerque.<br />
E é de notar como se revelaram, ainda uma vez mais, nobres e<br />
elevados os intuitos da Missão Francesa.<br />
Os capuchinhos, muito ao contrário do que seria de esperar,<br />
talvez, em se tratando de vencidos para com vencedores, em vez de<br />
levar consigo quanto da França haviam trazido e o mais que depois<br />
receberam durante a sua estada aqui, deixaram à nascente igreja tudo<br />
quanto a mesma já então possuía, constante de alfaias custosas, trabalhadas<br />
pelas próprias mãos da Duquesa de Guise, cálices, castiçais<br />
e muitos objetos outros, próprios de templos católicos, no valor de<br />
mais de vinte mil cruzados, o que para o lugar e tempo era uma soma<br />
já bastante avultada.<br />
E não somente isso: tudo o mais que lhes estava a vir de Paris!<br />
Entretanto, Deus sabe quanto não lhes teria isso custado.<br />
Assim procedendo, tornando-se superiores à própria desdita,<br />
engrandeceram-se os missionários franceses perante a História.<br />
A Missão acabou, terminou aqui seus dias, como havia começado.<br />
Havia então no convento frei Arcângelo de Pembré, comissário,<br />
com dois religiosos capuchos, – tão venerandos e de tais mostras, que<br />
pareciam santos, e como tais foram recebidos pelos religiosos portugueses.<br />
Quando se retiraram para a França, não podendo ser indiferentes<br />
à sorte da colônia que, durante três anos, lhes tinha sido a<br />
preocupação constante e única de todos os instantes, aqui deixaram
José Ribeiro do Amaral<br />
ainda dois frades e um clérigo de missa, todos franceses, para cuidarem<br />
dos católicos e de vinte mil índios que tinham cristianizado.<br />
É Diogo de Campos (quem o afirma), sargento-mor e autor<br />
da Jornada do <strong>Maranhão</strong>, feita por ordem de Sua Majestade o ano de 1614, o<br />
vencedor dos franceses em Guaxenduba, testemunho, portanto, de<br />
um valor único a semelhante respeito.<br />
Retirando-se os capuchinhos franceses, ponderaram os religiosos<br />
portugueses que tinham vindo substituí-los, que – sendo o sítio do<br />
convento pouco conveniente, e havendo necessidade de outro, em que morou Monsieur<br />
de Pinau, francês, com todas as suas águas vertentes para nele começarem o mosteiro<br />
da sua ordem, por isso o pediram e terminaram solicitando carta de data do<br />
referido terreno.<br />
A carta foi passada por Alexandre de Moura em 12 de dezembro<br />
de 1615, no Forte de São Luís, tendo lugar a demarcação a 15 de<br />
janeiro de 1616, falando-se nela em uma baixa que fazia aí o oiteiro para<br />
o Rio Cutim no teso da baixa da outra banda – parecendo ser o lugar onde<br />
está o Tanque.<br />
Nesse mesmo dia foram os frades empossados das terras, das<br />
águas e das árvores, figurando, entre outros, como testemunhas desta<br />
doação, Jerônimo de Albuquerque e Bento Maciel Parente, depois<br />
tão tristemente célebre, e, como escrivão na posse, Frutuoso Lopes,<br />
tabelião de toda esta conquista.<br />
Com a nomeação do primeiro governador que teve este Estado,<br />
Francisco Coelho de Carvalho, em 1624, para aqui veio em sua<br />
companhia o reverendo frei Cristóvão de Lisboa, como comissário,<br />
trazendo consigo um bom socorro de religiosos da província de Santo<br />
Antônio.<br />
Em chegando aqui, em agosto do mesmo ano deu princípio<br />
ao convento no lugar onde ainda hoje existe, tendo o prazer de vê-lo<br />
acabado.<br />
O templo, que, sob a denominação de igreja de Santo Antônio,<br />
ora conhecemos situado no Largo do mesmo nome, não é, precisamente,<br />
o mesmo que há uns sessenta anos ali existia.<br />
– 50 –
– 51 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />
Não era assim o primitivo.<br />
Baixo, acaçapado, de proporções acanhadas, não tinha torre<br />
alguma na frente, existindo uma, pequena e muito baixa, nos fundos,<br />
por detrás do lugar onde se vê hoje o altar de Nossa Senhora da<br />
Conceição.<br />
Acompanhando toda a extensão da parede que olha para o<br />
poente (frontispício) corria em frente e encostado à igreja, um alpendre,<br />
de regular altura, sobre o qual se via em um nicho, encravado<br />
na mesma parede, uma imagem do padroeiro da igreja, de proporções<br />
tais que facilmente era avistada ao longe pelos que do Largo do<br />
Rosário se dirigiam à igreja de Santo Antônio.<br />
Interiormente, mais que pobreza respirava o templo.<br />
Era isto em 1850.<br />
Notável era então a decadência das ordens religiosas. O seu<br />
pessoal, já tão desfalcado no Brasil, e aqui mais que em outra qualquer<br />
província, ia, dia a dia, desaparecendo, seja pelos incessantes<br />
golpes da morte, seja pelas continuadas secularizações.<br />
Foi nesse momento de desfalecimento e em que o velho e<br />
tradicional templo ameaçava próxima ruína, pois que por toda a parte<br />
desabava já, que um religioso houve que se encontrou à altura da<br />
situação, merecendo por isso que lhe relembremos aqui o nome.<br />
Esse foi frei Vicente de Jesus.<br />
Natural da província do Pará, para aqui veio em 1849,<br />
ordenando-se no ano seguinte, e sendo nomeado, logo em seguida,<br />
guardião do convento, por haver revelado, desde cedo, não vulgares<br />
qualidades administrativas.<br />
Moço, com vinte e cinco anos apenas, de um gênio ativo e<br />
empreendedor, lutando não só com a falta de meios, como, ainda<br />
mais, com a de um pessoal habilitado e capaz de reforma, não desanimou<br />
entretanto.<br />
E assim, confiado em si e na força de sua vontade, dirigiu-se à<br />
Assembléia Provincial, pedindo um auxílio pecuniário para ajudá-lo
José Ribeiro do Amaral<br />
na obra que tinha em plano.<br />
Felizmente todos o compreenderam, e não foi sem assombro<br />
que os incrédulos daquele tempo viram, de velhas e carcomidas paredes,<br />
levantar-se, soberba e majestosa, a igreja do convento de Santo<br />
Antônio, no gosto da arquitetura gótica.<br />
Não teve o incansável e saudoso religioso a ventura de ver<br />
realizados os seus tão ardentes desejos, mas, pelo que deixou feito,<br />
bem se pode avaliar de quanto seria ele capaz, se a morte, a terrível<br />
morte, não o houvesse arrebatado tão moço, aos 36 anos de idade,<br />
quando se propunha, após onze anos de um trabalho sem tréguas, a<br />
dar a última demão às obras que com tanto ardor empreendera.<br />
Faleceu o laborioso franciscano a 4 de agosto de 1862.<br />
Era frei Vicente de Jesus um espírito culto, tendo sido, com o<br />
arcediago Dr. Manuel Tavares da Silva, de quem era grande amigo,<br />
fundador e redator d’O Cristianismo, jornal exclusivamente voltado<br />
aos interesses da Igreja Católica e que aqui existiu de 1854 a 1855<br />
Com o desaparecimento de frei Vicente, foi nomeado guardião<br />
do convento frei Ricardo do Sepulcro, que, a muito pedir, obteve da<br />
Assembléia Provincial a consignação anual de 12:000$000 para a<br />
conclusão destas obras, sendo pela Presidência incumbido da direção<br />
delas o engenheiro Francisco César da Silva Amaral.<br />
As obras, porém, pouco andamento tiveram, estacionando, de<br />
vez, e talvez para sempre, com a morte deste que foi o último religioso<br />
que teve a Ordem franciscana no <strong>Maranhão</strong>.<br />
– 52 –<br />
(1°.12.1911)
7<br />
Convento de Santo Antônio<br />
– 53 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />
ÉO CONVENTO de Santo Antônio uma casa tradicionalmente<br />
histórica. Grandes e importantes acontecimentos aí<br />
se passaram desde os primeiros dias da sua fundação.<br />
Vejamos se conseguimos, de alguma forma, reconstituir esse<br />
longo e curioso passado.<br />
Comecemos remontando-nos ao tempo dos seus fundadores.<br />
Aí, nas suas primitivas celas que bem modestas deviam ser<br />
então, foram escritas pelos notáveis capuchinhos Cláudio de Abbeville<br />
e Ivo d’Evreux as duas primeiras obras que do <strong>Maranhão</strong> se ocuparam,<br />
obras de um valor único e tal que, ainda hoje, outras não se<br />
conhecem que possam substituí-las sobre a história naqueles primeiros<br />
tempos.<br />
Essas obras, a que mais de uma vez nos havemos referido já,<br />
nestes despretensiosos escritos, são:<br />
– Histoire de la Mission des Pères Capucins en l’Isle de Maragnan et terres<br />
circonvoisines (Brésil) où il est traicté des Singularitez admirables & des Meurs<br />
merueilleuses des Indiens habitants de ce pais. Avec les missions et aduis qui ont este<br />
enuoyez de nouveau. Avec titre gravé et 7 planches gravées par L. Gaultier, dont 6<br />
repres. les portraits de six indigenes qui furent transportés en France.<br />
A Paris, François Huby, 1614. Abbeville, Claude de (predicateur capucin).
José Ribeiro do Amaral<br />
– Voyage dans le nord du Brésil faít durant les années 1613 et 1614 par<br />
le père Ives d’Evreux, publié d’après l’exemplair unique conservé a la Biblioteque<br />
Imperiale de Paris, avec une introduction et des notes par M. Ferdinand Denis.<br />
1615.<br />
Para bem se poder ajuizar do valor delas, basta saber que, da<br />
primeira, os raríssimos exemplares que ainda hoje aparecem, são, a<br />
grande esforço, adquiridos a preço de 440 de marcos (cada um), sem<br />
contar outras despesas; e que, da segunda, um único exemplar apenas<br />
existe. 11<br />
E essas obras, de um valor incomparável hoje, pela verdade e<br />
sinceridade com que foram escritas, e minúcia de que se revestem<br />
em todas as suas descrições, a ponto de se poderem reconhecer ainda<br />
hoje os mesmos lugares e sítios a que se referiam os piedosos<br />
capuchinhos – aí tiveram origem, aí foram gravadas pelos abnegados<br />
superiores da Missão Francesa nos curtos instantes que lhes sobravam<br />
dos seus labores apostólicos.<br />
Sim, é o convento de Santo Antônio uma casa tradicionalmente<br />
histórica.<br />
Foi aí que, sob a presidência de Bequimão, reuniram-se pela<br />
última vez, na noite de 23 de fevereiro, véspera de uma sexta-feira<br />
de Passos, os conjurados de 1684, adversários dos assentistas e das<br />
11 A menção à raridade das obras remete, outra vez, ao original francês. Em nota anterior,<br />
apresentamos o roteiro editorial da obra de Claude d’Abbeville. Quanto à de Yves<br />
d’Evreux, saiu em 1615, com o título de Suíte de l’histoire des choses plus mémorables advunuës en<br />
Maragnan ès annes 1613 & 1614, e foi destruída, ainda na tipografia, por motivos políticos,<br />
salvando-se dois exemplares (e não apenas um, como diz o autor destes artigos) mutilados,<br />
de que Ferdinand Denis se serviu para fazer a edição moderna da obra, alterando-lhe o<br />
título, conforme acima referido. Note-se, no entanto, que sua edição é de 1864 (Leipzig;<br />
Paris: Librairie A. Franck, [10], xlvi, 456p. Bibliothèque Américaine. Collection d’Ouvrages<br />
Inédits ou Rares sur l’Amérique). César Marques também traduziu o livro de d’Evreux<br />
(<strong>Maranhão</strong> [São Luís]: [Typ. do Frias]. 1874. [6], xlv, [2], 424, iiip.). Sua tradução foi<br />
reeditada em 1929, em coleção dirigida por Humberto de Campos (Rio de Janeiro: Livraria<br />
Leite Ribeiro, 1929. 442p. Biblioteca Escritores Maranhenses). Terceira edição foi<br />
publicada em 2002 (São Paulo: Siciliano, 436p. Coleção <strong>Maranhão</strong> Sempre). É estranho<br />
que Ribeiro do Amaral não faça qualquer referência às traduções de César Marques, tanto<br />
de d’Evreux como de d’Abbeville. JM.<br />
– 54 –
– 55 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />
leis do estanco, dali saindo a depor o capitão-mor Baltazar<br />
Fernandes.<br />
E como se nos afigura ainda hoje, decorridos 228 anos, ver,<br />
nessa reunião, o vulto de Manuel Serrão de Castro – o ilhéu brutal e de<br />
pouca suposição (no dizer de João Lisboa) arrancando e brandindo a<br />
espada a exclamar furioso que, pois haviam chegado até ali, já agora<br />
não havia recuar do propósito começado com tanto perigo, e que o<br />
traidor que o contrário sustentasse ali mesmo acabaria às suas mãos!<br />
Foi aí nesse convento que houve o singular processo dos seus<br />
religiosos contra as formigas, narrado pelo padre Manuel Bernardo,<br />
no tomo I, tít. 6°. § 50 da Nova floresta.<br />
Serviram de base a este processo os roubos que “as formigas<br />
grandes e daninhas faziam na despensa da comunidade,<br />
minando-a e afastando a terra debaixo dos fundamentos, com o<br />
que ameaçava ruína.”<br />
Foi nomeado um curador da res ad litem, teve lugar o autuamento<br />
em 17 de janeiro de 1713, e depois de várias diligências, seguindo-se<br />
seis meses sem falar no feito, requereram os autores a reinstauração<br />
da instância perempta, e deferindo-lhes como pediam o vigário<br />
forâneo, o licenciado Manuel Homem, “foram as formigas citadas<br />
em sua pessoa” pelo escrivão do eclesiástico Joseph Guntardo de<br />
Bequimanz, em 19 de julho de 1714.<br />
Com o termo de vista dada aos autores no dia seguinte,<br />
terminou-se esta ridícula farsa.<br />
Por diversas vezes serviu este convento de abrigo aos perseguidos,<br />
ou aos que desejavam opor-se às ordens régias, ou às determinações<br />
das autoridades legitimamente constituídas.<br />
Nestas condições, aí recolheram-se, entre outros, em julho de<br />
1720, o ouvidor-geral Dr. Vicente Leite Ripado, para subtrair-se a<br />
prepotências do governador Bernardo Pereira de Berredo; e em 1792,<br />
o também ouvidor-geral, Dr. João Francisco Leal, por não se ter<br />
querido submeter à intimação de suspensão que lhe fora mandada<br />
fazer pelo governador Fernando Pereira Leite de Foyos.
José Ribeiro do Amaral<br />
Aí, do púlpito da primitiva igreja, em uma eloqüência inteiramente<br />
nova, mais de uma vez se fez ouvir o grande padre Antônio<br />
Vieira, da Companhia de Jesus.<br />
Aí, desapontado em suas esperanças e ferido no seu orgulho,<br />
com a notícia da provisão de 17 de outubro de 1653, pela qual eram<br />
consideravelmente modificadas as resoluções favoráveis à liberdade<br />
dos índios, cuja execução havia excitado os tumultos de 1652 – aí,<br />
dizemos, tomada subitamente a resolução de partir, pronunciou o<br />
insigne orador a sua famosa oração conhecida por Sermão aos Peixes,<br />
em dia de Santo Antônio, e a propósito da festa que se celebrava<br />
no respectivo convento.<br />
Daí, da parte do antigo convento, desde 1838 ocupado pelo<br />
Seminário Maior, saíram sacerdotes dos mais ilustres de que se pode<br />
honrar o clero de qualquer país católico, bastando citar, entre muitos<br />
cujos nomes não nos ocorrem agora, os do saudoso padre Raimundo<br />
Alves da Fonseca, do erudito monsenhor Dr. João Tolentino<br />
Guedelha Mourão, do grande educador que foi o cônego Raimundo<br />
da Purificação dos Santos Lemos, do Dr. Joaquim de Sampaio Castelo<br />
Branco, do padre João Manuel de Carvalho, de D. Luís Raimundo<br />
da Silva Brito e de D. Carlos Luís d’Amour, os dois últimos, arcebispos<br />
hoje: o primeiro da Sé de Olinda e o segundo da de Cuiabá. 12<br />
Foi o convento de Santo Antônio a residência de dois dos<br />
mais virtuosos antístites que tem contado a Diocese do <strong>Maranhão</strong>:<br />
Dom frei Joaquim de Nossa Senhora de Nazaré, o último dos bispos<br />
nomeados pelo governo português, e que nos últimos dias do<br />
domínio lusitano aqui foi presidente da Junta Governativa; e Dom<br />
Antônio Cândido de Alvarenga, removido mais tarde para São Paulo,<br />
onde faleceu.<br />
Finalmente, para encerrar estas linhas, aí na igreja do convento<br />
de Santo Antônio repousam os restos de muitos homens notáveis,<br />
ocorrendo-nos neste momento os nomes dos seguintes:<br />
12 Hoje: entenda-se, à época em que escrevia o autor. Dom Carlos Luís d’Amour, nascido em<br />
1836, foi o segundo bispo e o primeiro arcebispo de Cuiabá, onde faleceu em 1921. J. M.<br />
– 56 –
– 57 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />
– Padre Ambrósio de Amiens, um dos quatro membros da<br />
Missão Francesa, falecido a 9 de outubro de 1612;<br />
– Dr. Antônio Corrêa de Lacerda, grande botânico, que faleceu<br />
em 21 de julho de 1852, deixando por sua morte uns vinte e dois<br />
volumes manuscritos de diversas obras, algumas das quais apenas<br />
esboçadas, tornando-se sobre todas notável pela sua importância, e<br />
por se julgar completa, a que tem por título Matéria médica das províncias<br />
do Pará e <strong>Maranhão</strong>, acompanhada de mais de duzentas estampas, desenhadas<br />
e coloridas com esmero.<br />
– Dr. José Maria Barreto Júnior, formado pela Faculdade de<br />
Medicina do Rio de Janeiro, deputado à Assembléia Geral Legislativa<br />
pelo <strong>Maranhão</strong> e um dos vice-presidentes desta província; foi, também,<br />
por muitos anos, comandante superior da Guarda Nacional da<br />
Capital. Neste caráter, em 1865, espontaneamente ofereceu-se para<br />
marchar para a Guerra do Paraguai, o que teve lugar a 5 de agosto do<br />
mesmo ano, sendo mais tarde, em remuneração de tantos serviços,<br />
distinguido com o posto de brigadeiro honorário do Exército e o<br />
título de Barão de Anajatuba.<br />
E finalmente o padre Raimundo Alves da Fonseca, falecido<br />
em 1885, sacerdote insigne nas letras e virtudes.<br />
(19.1.1912)
8<br />
Qual será a população atual de São Luís?<br />
– 59 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />
DANDO COMEÇO a estas linhas, é com o mais vivo prazer<br />
que fazemos nosso o belíssimo artigo que, a este propósito,<br />
em o Almanack do <strong>Maranhão</strong> de 1860, segundo se crê, atribuído<br />
à pena de um dos homens de mais talento e gosto que já tivemos, e<br />
também mais cheio de serviços a esta terra, o benemérito Dr. Antônio<br />
Henriques Leal.<br />
A população, diz ele, é o centro para o qual convergem todos os materiais<br />
de uma estatística e donde partem os esclarecimentos que iluminam e dão-lhe o<br />
cunho da verdade e exatidão.<br />
Um país cuja população não é conhecida em suas condições sociais, diferenças<br />
de idade, de sexo, estado civil, classes, profissões, movimento e de desenvolvimento,<br />
não pode ser bem administrado, porque o governo tem necessidade de<br />
tomar por guia o arbítrio e o acaso.<br />
Nestas condições infelizmente estamos nós: os poderes do Estado, ainda<br />
quando tenham veemente desejo de acertar, erram e vexam a população, principalmente<br />
na distribuição dos impostos e nas divisões territorial, judiciária e<br />
eleitoral.<br />
Com empenho e tenacidade da parte das autoridades havia de conseguir-se<br />
muito, embora os obstáculos que lhes oporiam a ignorância, a incúria, as prevenções,<br />
os preconceitos, as más paixões e os interesses feridos de muitos.
José Ribeiro do Amaral<br />
A falta de instrução é a causa principal de todos os obstáculos de um<br />
registro de censo, por isso que a maior parte da população, não sabendo ler, não<br />
compreende as suas vantagens, evita-o ou falseia-o com números inferiores, por<br />
julgar que é feito para o fim de recrutar, de criar novos impostos, etc.<br />
A estes obstáculos acrescem os erros cometidos pelas autoridades incumbidas<br />
de sua organização, que para forrarem-se a trabalhos puníveis fazem mapas<br />
de sua imaginação: o cálculo inexato das idades, negando-as ou alterando-as muitos<br />
indivíduos, principalmente do sexo feminino, declarações incertas das profissões, e<br />
mais que tudo o movimento perpétuo das populações. Com tempo, porém, e repetidas<br />
e variadas operações, chegar-se-ia ao conhecimento da verdade, havendo boa<br />
vontade e dedicação.<br />
É um dos trabalhos que se procura executar com mais exatidão nos países<br />
civilizados, por ser de seu conhecimento que se pode inferir o crescimento e decrescimento<br />
da população, o seu estado de civilização, prosperidade, salubridade, etc.<br />
Isto que, com tanta ponderação e critério, escrevia o Dr. Antônio<br />
Henriques Leal em 1860, reproduz-se infelizmente ainda hoje,<br />
decorridos cinqüenta e dois anos.<br />
E como é triste, no meio de tudo isto, confessar que não conhece<br />
o Estado as forças de que dispõe; que não temos um censo,<br />
mesmo imperfeito, da nossa população!<br />
Um dos últimos recenseamentos a que, nos termos do art. 13<br />
do Regulamento de 30 de dezembro de 1871, se procedeu na Província,<br />
na administração do Dr. Augusto Olímpio Gomes de Castro,<br />
falecido senador da República, excluídas as paróquias de São Félix<br />
de Balsas, São Pedro de Alcântara da Carolina e Santa Teresa da Imperatriz,<br />
cujos trabalhos não foram enviados, deu para o <strong>Maranhão</strong><br />
uma população de 335.325 almas.<br />
Que este resultado não era a expressão da verdade, disse-o o<br />
próprio presidente no relatório com que a 18 de maio de 1874 passou<br />
a administração da Província ao seu sucessor:<br />
O conhecimento que tenho de grande parte da Província habilita-me a<br />
duvidar da exatidão dos dados colhidos pelas comissões.<br />
– 60 –
– 61 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />
Estou convencido de que a nossa população é muito mais numerosa. E<br />
nem era de esperar que fosse a expressão da verdade a primeira tentativa de<br />
recenseamento de uma população derramada por um território tão vasto, como é o<br />
nosso, cortado de rios e quase privado de estradas.<br />
Deu este recenseamento à capital da Província 27.817 habitantes,<br />
com 4.210 fogos em 3.898 casas habitadas; e à Ilha toda, 34.923<br />
almas, o que era simplesmente irrisório.<br />
Remontemo-nos, agora, um pouco ao passado, e procuremos<br />
estudar desde os seus começos o desenvolvimento gradual e progressivo<br />
que foi tendo a população na Ilha do <strong>Maranhão</strong>.<br />
Em 1612, por ocasião da ocupação francesa, existiam, segundo<br />
o padre Cláudio de Abbeville, em toda a Ilha, 27 aldeias com<br />
cerca de 12.000 almas.<br />
Em 1648, era a sua população, exclusive os índios, de 400 colonos<br />
portugueses e 80 soldados, não sendo maior, por se ressentir,<br />
ainda, a pequena cidade dos desastrosos efeitos produzidos pela Invasão<br />
Holandesa.<br />
Em 1683 havia já, só em São Luís, para mais de 1.000 habitantes.<br />
Em carta de 23 de maio de 1661, escrita por D. Pedro de Melo<br />
ao padre Antônio Vieira, na qual lhe referia o levante em que foram<br />
presos os jesuítas pela primeira vez, diz: “O tumulto do povo deviam<br />
de ser mais de seiscentas almas.” (Berredo, Anais, n.° 1041).<br />
Ora, para que a esse tumulto se pudessem achar presentes 600<br />
pessoas, era preciso que a população da cidade fosse, então, aproximadamente<br />
de cinco a seis mil almas.<br />
Manuel Guedes Aranha no seu Papel político sobre o Estado do<br />
<strong>Maranhão</strong>, apresentado ao Sr. D. Pedro II no ano de 1685, referindo-se à<br />
cidade daquele tempo, diz: Compõe-se a cidade de mil e tantos vizinhos, em<br />
que há muita nobreza e gente boa, mas muita pobreza, uma matriz, quatro conventos,<br />
uma Misericórdia, uma igreja de São João e uma ermida de Nossa Senhora do<br />
Desterro em um retiro sobre o mar, todas as tardes freqüentado de devotos. O<br />
<strong>Maranhão</strong> com Tapuitapera tem hoje o melhor de dois mil homens de armas.
José Ribeiro do Amaral<br />
Ora, não sendo admissível a hipótese de que todos os habitantes<br />
de São Luís fossem guerreiros, e dando-se ao <strong>Maranhão</strong> mil e<br />
quinhentos dos dois mil homens de armas que contava com<br />
Tapuitapera, devia a população da cidade ser, então, pelo menos de<br />
seis mil habitantes.<br />
Descrevendo a cidade do seu tempo, dizia Teixeira de Moraes<br />
(Relação política, parte 1ª., cap. 1°. e 4°., 1692): A cidade de São Luís tem<br />
quinhentas casas e oitocentos homens capazes de tomar armas, cuja maior parte<br />
vive nas suas lavouras e só vem à cidade pela quaresma e festas do ano.<br />
No princípio, as paredes e tetos da cidade, tudo era de pindoba, de que<br />
ainda hoje restam algumas renovadas, mas agora as fabricam de taipa de pilão<br />
com sua telha-vã sobre mal polida madeira.<br />
Frei Domingos Teixeira, na Vida de Gomes Freire de Andrade,<br />
parte 2ª., publicada em 1727, e já depois do falecimento do autor,<br />
tratando da revolta de Bequimão que, como se sabe, teve lugar de<br />
1684 a 1685, dá a cidade de São Luís habitada por quinhentos vizinhos.<br />
Não se pode saber, ao certo, em que acepção tomava o cronista,<br />
aqui, a palavra vizinhos, não sendo de presumir que fosse no sentido de<br />
habitantes, pois é de todo impossível que em princípios do século XVIII<br />
tão reduzido fosse ainda o número de moradores de São Luís.<br />
Continuando a descrever a cidade, fala ainda frei Domingos<br />
Teixeira na sua pobreza, autorizada nas construções dos seus edifícios, alguns<br />
dos quais eram de madeira, cobertos de folhas de palmeiras, e outros de barro de<br />
taipa e adobos, cobertos de telha-vã.<br />
A cidade, estendida por espaçosas ruas, é cercada de espessas matas pela<br />
parte de terra.<br />
Berredo, nos Anais, usa da mesma expressão, quando dá pouco<br />
mais de mil vizinhos à cidade de São Luís.<br />
O padre João Felipe Bettendorf, na sua História da missão da<br />
Companhia de Jesus no Estado do <strong>Maranhão</strong> (1699), é mais positivo quando<br />
dá à cidade de São Luís uma população de mais de seiscentas<br />
– 62 –
– 63 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />
famílias, pela maior parte pobres, o que equivale a uma população de<br />
cerca de seis mil almas.<br />
Em 1788, segundo um arrolamento então procedido pelo vigário<br />
da única freguesia da cidade (Nossa Senhora da Vitória), era a<br />
população de São Luís bem numerosa já, contando-se 16.580 habitantes<br />
e 1.482 fogos.<br />
Em 1819, segundo se lê na Poranduba maranhense, de frei Francisco<br />
de Nossa Senhora dos Prazeres, era a população da cidade 16.000<br />
almas, não entrando nesse número os índios. Só no ano de 1817 –<br />
continua este ilustre religioso – vieram para o <strong>Maranhão</strong> 8.000 escravos.<br />
Se não morressem tantos como morrem todos os anos (uma grande parte por<br />
causa do mau trato e da triste lembrança de se verem separados para sempre de<br />
sua pátria e parentes) existiria agora na Província extraordinário número deles.<br />
(2.2.1912)<br />
* * *<br />
Prosseguindo nas ligeiras considerações que até aqui havemos<br />
feito, relativamente ao progressivo desenvolvimento que foi tendo a<br />
população em São Luís, daremos começo hoje a estas linhas com o<br />
testemunho de Raimundo José de Sousa Gaioso.<br />
Descrevendo a cidade do seu tempo (1814), dizia o autor do<br />
Compêndio histórico-político dos princípios da lavoura do <strong>Maranhão</strong>: A cidade de<br />
São Luís do <strong>Maranhão</strong> se pode dividir em dois bairros, a saber: o da Praia Grande,<br />
ou freguesia de Nossa Senhora da Vitória, que é o de maior povoação, ainda que<br />
menos extenso do que o segundo. Tem muitos sofríveis edifícios, e com muita comodidade;<br />
mas a desigualdade do terreno lhes tira uma parte de sua formosura, e algumas<br />
ruas mal calçadas fazem a sua serventia bastante incômoda.<br />
A liberdade que cada qual tem de edificar como lhe parece faz que tudo é irregular.<br />
A Praça do Comércio nada tem que admire, à exceção da ponte de pedra<br />
e cal que se está fazendo para o desembarque das fazendas. O Palácio do Governo,<br />
mandado edificar pelo governador Joaquim de Melo, é uma enfiada de casas
José Ribeiro do Amaral<br />
sem acomodação alguma, apesar de ocupar um terreno suficiente para fazer um<br />
edifício suntuoso. Por baixo fica a Contadoria da Fazenda e a casa em que a<br />
Junta faz as suas sessões. A do bispo, que foi antigo colégio dos jesuítas, e mística<br />
à igreja Catedral, se acha hoje com melhores acomodações, mas sem nobreza<br />
alguma. A Casa da Câmara que também fica no mesmo bairro, e a Cadeia<br />
Pública só têm de particular a nova capela que há poucos anos se edificou e se acha<br />
sem exercício.<br />
O segundo bairro é o da freguesia nova de Nossa Senhora da Conceição, e<br />
se é mais extenso, também é mais miúda e diminuta a sua povoação em geral;<br />
porém, há de pelo tempo adiante ser considerável, por ainda compreender muitos<br />
terrenos por edificar. Neste bairro fica o quartel militar, denominado de Campo<br />
de Ourique. É um edifício na figura de um paralelogramo, edificado no tempo do<br />
governador D. Fernando Antônio de Noronha, com todas as acomodações e oficinas<br />
necessárias, porém muito úmido, apesar das diligências que se têm feito para<br />
igualar o terreno dos lados e fundo com o da frente, que era mais baixo, e suposto<br />
se ache concluído aparentemente, porque nem se formou a casa para os conselhos<br />
de guerra, que devia ser por cima do portão da entrada, nem se guarneceu o<br />
edifício com a custosa cantaria que se mandou vir de Lisboa, por não poderem as<br />
paredes com tanto peso. Toda esta cantaria se acha ainda na praça fronteira ao<br />
dito quartel, e a maior parte já encoberta pela terra que as enxurradas precipitam<br />
sobre ela.<br />
Fora da cidade se acham vários sítios de recreio e frutíferos, sendo o mais<br />
principal de todos, o do comendador José Gonçalves da Silva (atual Quinta das<br />
Laranjeiras ou do Barão) cujas incansáveis e dispendiosas diligências da arte<br />
não têm podido emendar os obstáculos da natureza.<br />
A povoação da cidade, (conclui o historiador Gaioso) conforme as<br />
notícias que tenho dos últimos numeramentos feitos pelos róis da desobriga, não<br />
chegava a trinta mil almas; mas como do ano de 1808 para diante ela tem<br />
acrescido, talvez que hoje complete esse número.<br />
O coronel de engenheiros Antônio Bernardino Pereira do Lago,<br />
que aqui serviu no governo do marechal Bernardo da Silveira Pinto<br />
(1819-1822), e que tanto se notabilizou por serviços de toda a sorte<br />
prestados ao <strong>Maranhão</strong>, notadamente pelo levantamento da Carta<br />
– 64 –
– 65 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />
geral da Província, trabalho este que ainda hoje serve de base e de guia<br />
aos que se abalançam a empresas tais, pela segurança e escrúpulo<br />
com que foi feito – o coronel Lago, dizemos, no Mapa geral da população<br />
da Província do <strong>Maranhão</strong> do ano de 1821, que acompanha a sua obra<br />
Estatística histórico-geográfica da Província do <strong>Maranhão</strong>, fazendo a distribuição<br />
da população da antiga colônia, por freguesias, dava às duas<br />
em que se dividia a cidade a seguinte população: Nossa Senhora da<br />
Vitória – 1.458 fogos, com 11.713 almas; Conceição – 1.256 com<br />
7.808, o que perfazia para a cidade daquele tempo um total de 2.714<br />
fogos, com 19.611 habitantes, o que aproximadamente equivalia a<br />
uma média de 8 para cada fogo.<br />
De 1840 em diante, raro é o relatório de presidente que não se<br />
ocupe deste importantíssimo ramo de serviço público.<br />
No Jornal da Sociedade Filomática Maranhense, junho de 1847, número<br />
2, p. 85 e 86, sob a epígrafe Movimento da População da Capital,<br />
1840-1845, encontra-se o seguinte judiciosíssimo artigo que da<br />
máxima autoridade se reveste, por ser firmado pelo notável médico<br />
maranhense Dr. José da Silva Maia, um dos redatores daquele jornal:<br />
Pelos mapas que ora oferecemos ao público (diz este ilustre clínico), vêse<br />
que se enterraram no cemitério desta cidade nos anos que decorreram de 1840-<br />
1845 – 7.722 pessoas, o que dá para cada ano, termo médio – 1.287, e que no<br />
mesmo tempo batizaram-se, em ambas as freguesias (Vitória e Conceição) 4.168,<br />
o que dá para cada ano, termo médio – 694, havendo uma diferença dos<br />
enterramentos sobre os batizados de 593 pessoas anualmente.<br />
Ora, se tivéssemos de julgar do movimento da população da nossa cidade<br />
pelo que mostram os mapas, não eram precisos muitos anos para que ela desaparecesse<br />
completamente; entretanto, é sabido que, se a população não vai em grande<br />
aumento, como nos primeiros anos, pelo menos conserva-se estacionária.<br />
Convém, pois, averiguar a causa de tamanha diferença e mostrar ao mesmo<br />
tempo que existem erros nos dados estatísticos que apresentamos.<br />
É na Capital que grande parte dos doentes vem procurar os socorros da<br />
medicina que lhes faltam por lá e que infelizmente raras vezes aproveitam, porque
José Ribeiro do Amaral<br />
quando a isso se resolvem é já tarde, e quase sempre sucumbem; ao passo que<br />
ninguém vem aqui batizar seus filhos, e nem dá-los à luz; o número dos óbitos por<br />
conseguinte deve crescer, e muito mais ainda nos seis anos de que tratamos, porque<br />
nesse tempo reuniu-se dentro da capital quase toda a população branca da Província,<br />
que fugia da rebelião; e porque de outro lado grassou uma desastrosa<br />
epidemia de sarampo durante os três primeiros anos, que foi causa de não pequena<br />
mortandade, com especialidade nas crianças, no de 1841.<br />
O número dos enterramentos no Cemitério da Misericórdia, sendo aliás o<br />
único que temos, não representa o número exato dos óbitos, porquanto todas as<br />
crianças que nascem mortas, ou que morrem logo depois que nascem, sem o sacramento<br />
do batismo, são enterradas nos quintais das casas, o que mostra o grande<br />
atraso das nossas leis policiais, higiênicas e administrativas.<br />
E isto basta para provar igualmente que na nossa cidade não é possível<br />
atualmente conhecer-se o número exato dos nascimentos; além disso muitos batizados<br />
deixam de ser inscritos nos livros das respectivas freguesias, e muitos outros se<br />
fazem em casas particulares de que os párocos não têm notícia, uns por padres, e<br />
outros por qualquer pessoa – em artigo de morte; e finalmente costumam os<br />
vigários a confiar o assento a sacristãos que os fazem com bem pouco cuidado.<br />
Assim, pois, algumas certidões de idade se têm requerido, que não se encontram<br />
nos competentes livros.<br />
O senador Cândido Mendes de Almeida no seu Atlas do Império<br />
do Brasil, trabalho que, no seu gênero, até hoje ainda não foi igualado,<br />
quanto mais excedido, dava, em 1868, à capital da Província,<br />
35.000 almas.<br />
No meio de opiniões tantas, diversas e tão desencontradas algumas,<br />
sem documentos nem dados oficiais, nada se pode afirmar,<br />
de certo, sobre a população atual de São Luís. Não obstante,<br />
parece-nos não estar longe da verdade dizer que é ela, presentemente,<br />
superior a 50.000 almas.<br />
É o que procuraremos demonstrar em subseqüente artigo.<br />
– 66 –<br />
(9.2.1912)
* * *<br />
– 67 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />
Ao encerrar o nosso último artigo, dissemos parecer-nos não<br />
estar longe da verdade dar à população atual de São Luís um cômputo<br />
superior a 50.000 almas; diremos mais: pode, desassombradamente,<br />
avaliar-se em 60.000 habitantes.<br />
É o que procuraremos demonstrar nas linhas seguintes.<br />
Pelo lançamento de 1836-1837, o mais antigo e um dos mais<br />
regulares dos que se encontram no Tesouro do Estado, do tempo<br />
em que por esta repartição corria semelhante serviço, e que nos demos<br />
ao trabalho de minuciosamente examinar, havia na capital da<br />
Província 2.199 casas habitadas, e, com pequena diferença, o mesmo<br />
número de praças, travessas, ruas, etc., das atualmente existentes, sendo<br />
a sua população, segundo os melhores cálculos, avaliada então em<br />
25.000 almas.<br />
Pelo lançamento de 1895-1896, posterior àquele sessenta anos,<br />
trabalho que corre hoje por conta do Município, verificou-se contar<br />
a cidade, na direção E.-O., 2.546 casas, e na N.-S., 2.752, o que perfaz<br />
um total de 5.298 casas habitadas, distribuídas por 74 ruas, 16 praças,<br />
21 travessas e 2 becos, sendo considerados como seus pontos mais<br />
culminantes: o Campo de Ourique, a 32m, 692 acima do nível médio<br />
das marés; Largo de São João, a 29m, 418; e Largo do Carmo, a 22m,<br />
876.<br />
Finalmente, pelo último lançamento, conta a cidade, em números<br />
redondos, segundo informações colhidas na Intendência, 6.000<br />
casas habitadas, não incluídas nessa cifra cerca de 1.000, derramadas<br />
por diversos lugares nas proximidades da Estação, Cemitério, etc. –<br />
mas compreendidas todas no perímetro da Capital.<br />
Se, em 1814, levado pelos últimos numeramentos feitos pelos<br />
róis da desobriga, dava o historiador Gaioso, segundo já ficou dito no<br />
nosso último artigo, uma população aproximada de 30.000 almas à
José Ribeiro do Amaral<br />
cidade do seu tempo; se, em 1814, quando a cidade para o rumo de<br />
L., pouco além da matriz da Conceição se estendia, e havia muitos<br />
terrenos por edificar ainda, como ele próprio o refere, sendo considerado<br />
sítio de recreio, e já fora da cidade, o do comendador José<br />
Gonçalves da Silva (atual Quinta do Barão ou das Laranjeiras); se,<br />
em 1821, davam-lhe o autor da Poranduba e o coronel Lago uma população<br />
de 20.000 almas; se, pelo lançamento de 1836-1837,<br />
contavam-se-lhe 2.199 casas habitadas, com uma população<br />
presumível de 25.000, não é muito dar-se-lhe, atualmente, uma população<br />
de 60.000 habitantes, depois das grandes e numerosas<br />
edificações que se vêem por toda a parte, hoje que tem ela mais do<br />
triplo das casas que tinha em 1836.<br />
Àqueles, porém, a quem parecer exagerada esta nossa afirmativa,<br />
bastará lembrar que na direção S., para além de São Pantaleão,<br />
encontra-se hoje uma cidade inteiramente nova, composta, é verdade,<br />
de pequenas e modestas habitações, mas que enchem a grande<br />
área compreendida entre esta igreja, o Largo de Santiago, Hospital<br />
Militar, Cemitério Municipal e Rua Senador João Pedro.<br />
Na época, a que acabamos de nos referir, isto é, em 1836, existiam<br />
já aí os cemitérios dos Ingleses e o da Misericórdia (o cemitério<br />
velho) e o primeiro Hospital dos Lázaros, por detrás deste, ambos<br />
não há muito arrasados, e bem se compreende que edifícios tais não<br />
seriam levantados nos lugares em que, até há pouco, ainda eram vistos,<br />
se já então se derramasse a cidade para além deles.<br />
O que parece certo é que, à exceção do Hospital Militar, Quinta<br />
da Boa Hora, que primitivamente pertenceu ao cirurgião-mor José<br />
Maria Barreto (atual Fábrica de Tecidos São Luís) e de uma outra que<br />
foi do falecido comendador João Gualberto da Costa (atual Fábrica<br />
Cânhamo), e que são as construções mais antigas do bairro, raríssimas<br />
edificações deveriam então por ali haver.<br />
E tanto isto assim é, que as ruas de São Pantaleão e da Madre<br />
Deus, que por aquele lançamento (1836-1837) tinham 63 casas cada<br />
uma, possuem presentemente, a primeira, 279 prédios, e a segunda,<br />
172, não compreendidos neste número os por concluir.<br />
– 68 –
– 69 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />
Estudando a cidade na direção E., chegaremos ainda ao mesmo<br />
resultado: veremos toda essa área, hoje, coberta de grandes e pequenas<br />
habitações; destas, numerosíssimas choupanas, sobretudo nos lugares<br />
conhecidos por Baixinha, Vila Timon, João Força, etc, etc.<br />
Da boca do Caminho Grande ao lugar denominado Dois<br />
Leões, que é a continuação ainda da Rua Grande, e onde chega<br />
atualmente o perímetro da cidade, contavam-se, ainda não há muitos<br />
anos, apenas as seguintes Quintas: de Carlos Rocha, ocupada<br />
hoje pelo major Francisco da Costa Rodrigues; do Lapenberg (atual<br />
Fabril Athletic Club); Educandos (antigo Armazém da Pólvora<br />
até 1818, quando foi incorporado à Fazenda Provincial); do Barão<br />
de Turiaçu (propriedade atual do coronel Manuel Inácio Dias Vieira);<br />
ltamacaca, do Lamarão, (Empresa Ferro-Carril) do major Inácio<br />
José Ferreira, do Dr. Felipe Joaquim Gomes de Macedo, do Dr.<br />
Roberto Frebourg, do desembargador Viriato Bandeira Duarte, do<br />
Monteiro e uma ou outra casinha muito rara. Entretanto, vê-se hoje<br />
inteiramente edificado todo o leito dessa estrada, não só até ao<br />
Dois Leões, mas ainda até o Anil.<br />
O Cemitério dos Passos, hoje fechado, construído por acórdão<br />
tomado em mesa geral da mesma irmandade, de 3 de outubro de<br />
1841, bem mostra que a cidade, por esse lado, até então, quando<br />
muito, até aí se estendia.<br />
A Rua Grande, que pelo lançamento de 1836 tinha 126 prédios,<br />
conta hoje 330 habitados, ou o triplo dos que então possuía!<br />
Até 1844, segundo se vê de uma planta da cidade desse tempo,<br />
estava ainda esta cercada de trincheiras no Alto da Carneira, trincheiras<br />
cujos flancos se apoiavam nos rios Bacanga e Anil, e que eram os<br />
restos das que, em 1839, foram levantadas por ocasião da Balaiada.<br />
Se lançarmos as vistas para a direção N.E., apresentar-nos-á a<br />
cidade o mesmo espetáculo, chegaremos ainda à mesma conclusão:<br />
ruas que, de vias públicas só tinham o nome, hoje já se acham calçadas<br />
e edificadas, havendo quase que desaparecido esses numerosos<br />
terrenos baldios que até bem pouco tempo por ali se viam.
José Ribeiro do Amaral<br />
Para não ir mais longe, basta citar a Companhia de Fiação e<br />
Tecidos Maranhense (Camboa) com as construções que lhe ficam<br />
adjacentes; a do Chumbo, as edificações feitas na cerca do convento<br />
de Santo Antônio, em frente à Rua do Pespontão, etc.<br />
E se, ao que fica dito, se acrescentar ainda a grande corrente<br />
da imigração síria que para aqui se tem encaminhado nestes últimos<br />
anos; que, como hoje, não eram então ocupados os baixos<br />
dos sobrados e que não havia essas construções de nova espécie,<br />
mais vulgarmente conhecidas pelos nomes de cortiços, tão prejudiciais<br />
à saúde e moralidade públicas e em que grande é a aglomeração<br />
de indivíduos de toda a casta, teremos que é, mais que racional,<br />
o cômputo acima.<br />
– 70 –<br />
(23.2.1912)
9<br />
A cidade de São Luís por ocasião<br />
da Invasão Holandesa<br />
– 71 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />
Começado em 1615 por Jerônimo de Albuquerque, que, com<br />
rara habilidade, se soubera aproveitar das primitivas construções<br />
francesas, pouco mais de vinte e cinco anos contava, em<br />
1641, por ocasião da Invasão Holandesa, o pequeno estabelecimento<br />
português de São Luís, que, então, tinha por governador a Bento<br />
Maciel Parente, o feliz e opulento donatário da Capitania do Cabo<br />
do Norte.<br />
Da narração de Berredo (Anais históricos, Livro XI), claramente<br />
se vê terem os holandeses dado o desembarque no Desterro, onde a<br />
terra faz volta para o Portinho, acrescenta o Visconde de Porto Seguro,<br />
e daí guiado para a cidade, atacando e tomando, já à entrada<br />
desta, uma de suas portas que, em vão, tentara valorosamente defender<br />
o capitão Paulo Soares de Avelar.<br />
Mas, o que era a cidade daquele tempo?<br />
Entre as páginas 44 e 45, parte segunda e livro segundo da<br />
Istoria delle guerre del Regno del Brasile accadute tra la Corona di Portogallo e la<br />
Republica di Olanda dal P. P. Gio. Giuseppe di Santa Teresa, Carmelitano<br />
Scalzo, impressa em Roma no ano de 1698, ornada de numerosas<br />
estampas, cartas geográficas, etc., etc., gravadas em aço, delineadas
José Ribeiro do Amaral<br />
por Andréas Antonius Horatius e esculpidas por Benedictus Fariat,<br />
obra esta raríssima hoje, e por isso mesmo de um valor único,<br />
encontram-se a planta e a perspectiva da cidade de São Luís por<br />
ocasião da Invasão Holandesa.<br />
Comparando a planta e desenhos feitos então (1641) pelos<br />
holandeses com a cidade atual, vê-se, pela planta, que a cidade, naquele<br />
tempo, estendia-se na direção S., quase sem interrupção até o<br />
Desterro, existindo já, com muitas casas, as ruas que mais tarde vieram<br />
a receber os nomes de Formosa (Afonso Pena), da Palma, do<br />
Giz (28 de Julho) e Estrela, cortadas por outras que, pela mesma<br />
planta, evidentemente se vê serem as atuais de Santana, Direita, da<br />
Saúde e Cascata (Jacinto Maia).<br />
Sob os números 6, 7 e 15, respectivamente, assinala ainda a<br />
planta, nos mesmos sítios onde ainda hoje se encontram as igrejas<br />
do Carmo (Chiesa della Madona del Carmine) – que, pela sua configuração,<br />
nos pareceu ser o maior edifício da cidade de então; a de São<br />
João (S. Giovanni), a curta distância, por detrás desta, e de Santo Antônio<br />
(Convento di S. Francesco), que se achava já fora da cidade, no<br />
meio dos matos (boschi), como diz a planta.<br />
Examinando a planta na direção L., vê-se que tinha a cidade<br />
cinco vias principais. A primeira, e mais extensa de todas com algumas<br />
casas já, e que corre à esquerda da igreja do Carmo, é aí designada<br />
pelo nome de strada maestra (Rua Grande), parecendo-nos, assim,<br />
vir daí este nome que ainda hoje conserva.<br />
Correndo paralelamente a esta, vêem-se perfeitamente as outras<br />
quatro: da Paz, Sol, Afogados, que parte de detrás do Colégio<br />
dos Jesuítas, e uma última que vai ter à igreja de Santo Antônio, e que<br />
outra não é senão a rua deste nome. Em frente e por detrás da igreja<br />
de São João, duas outras correm paralelas, verificando-se pela disposição<br />
atual da cidade serem essas a rua deste nome, e a das Flores,<br />
esta com algumas casas dispersas.<br />
A ermida, ou pequena igreja do Desterro, vem aí mencionada<br />
sob o n° 5, com o nome de Igreja de São Jorge – Chiesa di S.<br />
– 72 –
– 73 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />
Giorgio, e parecendo-nos assim ter sido esta a sua primitiva invocação.<br />
Do que não resta a menor dúvida, pois que isto claramente se<br />
vê da planta, é que esse bairro era então, da cidade, a parte mais<br />
populosa, ou a em que a população se achava mais condensada, o<br />
que naturalmente se explica pela maior proximidade em que se encontrava<br />
do litoral.<br />
A área hoje ocupada pela Avenida Maranhense, antigo Largo<br />
de Palácio, toda coberta de fortificações, formava, então, uma como<br />
cidadela para a qual se entrava por uma porta situada pouco mais ou<br />
menos na altura do prédio onde ora funciona a Administração dos<br />
Correios.<br />
Dentro dessa área, além do convento dos Jesuítas, exatamente<br />
no lugar hoje ocupado pelo Paço Episcopal e de grande número de<br />
habitações, vê-se bem distintamente, no centro, uma figura assinalando<br />
o sítio onde, pelos capuchinhos franceses, fora, em 1612, elevada<br />
a primeira cruz e celebrada, pela vez primeira, o santo sacrifício<br />
da missa nestas terras.<br />
Fora das fortificações, mas bem próximo delas, na esquina da<br />
Rua de Nazaré com a 28 de Julho, vê-se, isolado, um edifício, o qual,<br />
pela vetustez que ainda hoje apresenta, outro certamente não é senão<br />
o vulgarmente conhecido por Palácio dos Holandeses.<br />
Isto quanto à planta.<br />
Pela perspectiva, vê-se a cidade de São Luís com suas casas,<br />
igrejas, fortes, etc.<br />
No antigo Largo de Palácio descortina-se perfeitamente a residência<br />
dos governadores, circulada de fortificações e diversos edifícios<br />
outros, entre os quais, distintamente, a primitiva igreja da Misericórdia,<br />
fronteira ao Palácio, e com a frente voltada para o mar.<br />
Em um plano inferior a este, um pouco abaixo das fortificações<br />
a que nos referimos acima, vê-se uma como linha de trincheiras,<br />
apoiada em dois pequenos fortes ou redutos, a qual nada mais é<br />
que o atual Forte de São Luís, com os seus dois baluartes de São
José Ribeiro do Amaral<br />
Cosme e São Damião que, conquanto desmontados hoje, existem<br />
ainda nas duas extremidades desta fortaleza,<br />
Na planta, tem esta fortificação o nome de Castelo de São<br />
Felipe, vendo-se logo em seguida, no lugar hoje ocupado pela guarda-moria<br />
e diversos outros prédios fronteiros ao Tesouro do Estado,<br />
os armazéns onde eram recolhidos os gêneros vindos da Metrópole<br />
e os de produção da Colônia; e, mais adiante ainda, uma bateria na<br />
saliência que fica entre as extremas das ruas de Santana e Direita.<br />
Traz ainda a planta, sob a denominação de fango (lama), uma<br />
faixa de terreno que, pela posição que se lhe assinala, é precisamente<br />
o atual Apicum, com uma casinha solitária ao lado.<br />
Abrange, também, a planta a margem direita do Rio Anil, fronteira<br />
a essa parte da cidade, já então habitada.<br />
Aí destacam-se duas pontas.<br />
Em uma delas, a que fica mais próxima, e que, inconfundivelmente<br />
é a de São Francisco, vê-se, no alto, uma pequena igreja com a<br />
sua cruz, voltada para o mar, e algumas casas derramadas pela encosta;<br />
e embaixo, na praia, uma bateria ou fortim.<br />
Na outra, um pouco mais afastada, e que nos pareceu ser a<br />
Ponta d’Areia, mas muito mais alta do que atualmente é, há ainda<br />
uma outra igreja com a frente para o Boqueirão, deixando ver pela<br />
parte posterior do seu lado direito o princípio de um forte.<br />
Será a atual Fortaleza ou Reduto de Santo Antônio da Barra<br />
com a sua capelinha, há pouco incendiada?<br />
Tal era a cidade de São Luís quando, a 25 de novembro de 1641,<br />
insidiosamente, se apresentou a esquadra holandesa diante do porto.<br />
– 74 –<br />
(1°.3.1912)
10<br />
Disposições diversas, relativas à cidade de São Luís.<br />
Como eram, primitivamente, conhecidas as suas ruas,<br />
ou, antes, como se diferenciavam umas das outras.<br />
Quando começaram a ter nomes próprios. Ruas, praças,<br />
travessas, praias e fortes de São Luís: origem dos<br />
nomes de algumas delas e mudanças por que têm passado.<br />
Ruas com mais de um nome ao mesmo tempo.<br />
– 75 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />
EM VEREAÇÃO de 6 de outubro de 1646 delibera a Câmara<br />
de São Luís que, visto as casas da cidade ou as mais delas<br />
serem de pindoba, ninguém trouxesse ou desse fogo senão em<br />
panela para se evitarem os incêndios, pena de mil réis pagos na cadeia.<br />
A princípio eram de pindoba as paredes e tetos das casas, mas<br />
com o correr dos tempos, sobretudo de 1692 em diante, foi essa<br />
edificação sendo substituída por outra mais de acordo com o progressivo<br />
desenvolvimento que foi tendo a cidade. Passaram então as<br />
casas a ser construídas de taipa de pilão com telha-vã sobre mal polida<br />
madeira. Por aquele tempo tinha São Luís quinhentas casas.<br />
Em 1665, deliberou a Câmara de São Luís mandar fazer caminho<br />
de carro da cidade até o Cutim, caminho que, segundo se verifica<br />
de um termo de vereação de 1691, se consertava anualmente, sendo<br />
os moradores obrigados a concorrer para isso com seus escravos,
José Ribeiro do Amaral<br />
que se reuniam em princípios do mês de julho, atrás da igreja de São<br />
João, onde começava a estrada.<br />
Até 1733 ainda não tinham nomes as ruas. Designavam-se,<br />
geralmente, ou pelos pontos a que iam ter, ou pelas casas por que<br />
passavam, ou, finalmente, pelo nome de uma ou outra pessoa distinta<br />
ou mais conhecida que nelas morava. Assim, era muito comum,<br />
por exemplo, o dizer-se rua que vai ter à Olaria, à Fonte da Telha, à<br />
Forca, etc.<br />
Em 1692, além das duas fontes supramencionadas, havia também<br />
a das Pedras, sendo então a Rua de Amaro Reis a mais freqüentada<br />
do povo e procissões.<br />
E nada há de estranho nisso – nesse modo de assim designar<br />
as ruas, pois ainda em nossos dias, muito comum era entre nós o<br />
dizer-se, por exemplo: Canto das Frazoas, querendo indicar a casa<br />
de construção antiqüíssima, habitada por uma das mais importantes<br />
e respeitáveis famílias da Província (a família Frazão), e que há uns<br />
bons vinte anos se via ainda na Rua do Sol, esquina da de São João,<br />
hoje inteiramente reconstruída; Canto do Lambão, Canto dos Quadros,<br />
Beco do Papo Roto, etc. etc.<br />
Em 1746, começam já os terrenos a ter valor, vendendo-se<br />
por seis mil réis um de cinco e meia braças de frente, sito na rua que<br />
vai das Mercês para a Olaria.<br />
Em 1756, arremata-se o conserto de quarenta e seis braças de<br />
calçada da Praia Grande por 111$000.<br />
Em vereação de 8 de janeiro de 1757, mencionam-se já as ruas<br />
do Desterro, do Carmo, de Santo Antônio, de São João e da Praça da<br />
Praia Grande, únicos bairros que existiam então, segundo parece.<br />
Continua-se, entretanto, a fazer uso dos nomes ou designações a que<br />
nos referimos há pouco.<br />
É desse tempo, ou antes, de 1758, o prédio sito na Praça João<br />
Lisboa, de propriedade, outrora, do Barão de Coroatá, e onde presentemente<br />
tem as suas oficinas a Pacotilha.<br />
– 76 –
– 77 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />
De um auto de arrematação de 12 de janeiro de 1772, que<br />
temos à vista, assinado por Joaquim de Mello e Póvoas, consta a<br />
existência de uma morada de casas, confiscada, entre outros bens,<br />
aos jesuítas proscritos, e sita na rua denominada do Quebra-Potes.<br />
O traslado do auto de inventário e avaliação diz: Uma morada de<br />
casas de taipa e pilão com dois quartos assobradados da parte sul e de pedra e cal<br />
até o sobrado, cobertas de telha sitas em doze braças de chão pouco mais ou menos,<br />
as quais por se acharem com todo o emadeiramento do ar e o assoalhado dos<br />
sobrados totalmente arruinados e muita parte deles podres, foram vistos e avaliados<br />
pelos ditos louvados em quatrocentos mil réis com que se vai, e se declara que<br />
as ditas casas são situadas na rua chamada Quebra-Potes – místicas pela parte<br />
do Norte com as da viúva Dona Luísa Maria de Assunção com quintais para o<br />
poente.<br />
Não nos foi possível saber a que rua corresponde, atualmente,<br />
essa que então tinha o nome de Quebra-Potes.<br />
De 1762 a 1764, mencionam já os livros do precioso Arquivo<br />
da Intendência Municipal desta Capital, ora confiado aos cuidados<br />
do muito zeloso funcionário o Sr. Francisco Joaquim Pereira Rego, a<br />
existência de mais três ruas: do Giz, Formosa e da Madre de Deus,<br />
segundo se vê dos seguintes termos de arrematação, constantes do<br />
Livro n.° 12 de Acórdãos de 1764-1767:<br />
1°) Termo de arrematação que faz Pedro de Souza Martins, da<br />
calçada da Rua do Giz, em 18 de maio de 1762 pela quantia de 170$000;<br />
2°) Idem, idem, que faz Felício Antônio Cordovil, mercador,<br />
morador na Rua Formosa, do contrato das aguardentes da terra, por<br />
tempo de três anos, que principia a correr a 18 de novembro de<br />
1763, pela quantia de 700$000;<br />
3°) Idem, idem, que faz Francisco Amândio Lansarote, da calçada<br />
da Rua da Madre de Deus, em 17 de setembro de 1764, pelo preço<br />
de 70$000.<br />
Até 1790, pouco além da igreja de São João estendia-se a cidade<br />
por esse lado, contando-se apenas, além do Quartel do Campo de
José Ribeiro do Amaral<br />
Ourique, então em construção, raríssimas e modestas habitações, aqui<br />
e ali dispersas. Vê-se isso de um ofício de 19 de novembro daquele<br />
ano, do ouvidor João Francisco Leal ao ministro do Ultramar.<br />
Finalmente, para se poder avaliar do que era a cidade, até quase<br />
meados do século XIX, basta saber que, ainda em 1837, era o<br />
Largo de João do Vale (mais tarde Praça da Assembléia e ora Praça<br />
Benedito Leite) tapado por uma cerca; e que nesse mesmo ano, por<br />
acórdão de 27 de outubro, concedia a Câmara a Antônio José Pereira<br />
Rego e a Francisco Ferreira de Carvalho, licença para tirarem terra<br />
no Largo da Sé por espaço de três meses, tal como se pratica atualmente<br />
nos barreiros do Caminho Grande.<br />
E isto, por mais que pareça estranho, dava-se ainda em 1837, e<br />
o que é mais, em pleno coração da cidade!<br />
(Vide Livro de acórdãos da Câmara Municipal de 1837-1841).<br />
– 78 –
11<br />
[Primitivas denominações de ruas]<br />
– 79 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />
ÉO LANÇAMENTO de 1837-1838, a que já tivemos ocasião<br />
de nos referir, o mais antigo e o mais seguro dos que se encontram<br />
no Tesouro do Estado, do tempo em que por esta<br />
repartição corria semelhante serviço.<br />
Por um Índice que lhe vem apenso, vê-se que tinha São Luís,<br />
então, as seguintes ruas, travessas, becos, praias, largos, praças, frentes,<br />
barracas, trapiches, etc.<br />
Ruas: de São João, São João da Praia, São João da Divisão, da<br />
Fonte das Pedras, da Cruz, Ferreiros, do Ribeirão, Manga, Egito,<br />
Formosa, do Estaleiro, da Palma, Desterro, Giz, Calçada, Estrela,<br />
Rua Velha, do Machado, do Sá Vedra, Santo Antônio, Alecrim, Barqueiros,<br />
Barrocas, Violas, do Nazaré, Sol, Barbeiros, Paz,<br />
Quebra-Costas, Grande, Relação, Covoca, Direita, Fundão, Açougue,<br />
Cascata, Precipício, Barraquinhas, Poço, Flores, Madre de Deus,<br />
Craveiros, São Pantaleão, Forca Velha, Portão, Pespontão, Deserto,<br />
Santa Rita, Santaninha, Norte, Remédios, Passeio, Hortas, Alegria,<br />
Prazeres, do Moinho do Vento, Retiro, Tapada, da Praia de Santo<br />
Antônio, Viração, Galhofa, Rua Cortada, Campo de Ourique, Afogados,<br />
Sant’Ana, Mocambo, Inveja, Cajazeiras e Santiago.<br />
Travessas: da Passagem, do Sineiro, do Pontal, Couto, Barqueiros,
José Ribeiro do Amaral<br />
Escura, da Lapa, Cruz, Rancho, Laranjeiras, Cotovia, Palha e São<br />
Pantaleão.<br />
Becos: do Desterro, da Alfândega, Feliz e do Caela.<br />
Praias: do Prego, Caju, Pequena, da Fonte das Pedras, do Estaleiro<br />
e de Santo Antônio.<br />
Largos: do Carmo, de João do Vale, de Santo Antônio e de Palácio.<br />
Praças: do Açougue.<br />
Frentes: da Alfândega, da Rua do Giz, e dos Barbeiros.<br />
Barracas.<br />
Trapiches: da Boquinha e do José dos Reis.<br />
Sob todos os aspectos, é a Rua Grande, incontestavelmente, a<br />
primeira de todas as nossas vias públicas.<br />
Situada no centro, no coração da cidade, daí como que se irradiam<br />
o movimento, a vida para todos os pontos, ainda os mais extremos,<br />
de São Luís.<br />
Strada maestra (estrada principal) é assim ela designada na planta<br />
da cidade (1641) que acompanha a obra do notável carmelitano<br />
descalço frei José de Santa Teresa, sobre a Invasão Holandesa, parecendo<br />
advir-lhe daí o nome que desde o começo lhe foi dado e que,<br />
inalteravelmente, ainda hoje o guarda, mesmo porque, como ele, nenhum<br />
outro tão bem lhe quadra.<br />
Das duas ruas da Paz e Sol, que paralelas lhe correm, não nos<br />
foi dado, até agora, encontrar vestígios dos motivos que presidiram a<br />
imposição destes nomes, parecendo-nos terem-no eles sido aproveitados<br />
ou imitados das de outras capitais européias.<br />
Quanto, porém, à Rua de Santana, que corre no mesmo sentido,<br />
não se dá outro tanto. Teve ela, outrora, três nomes distintos, ao<br />
mesmo tempo, ou antes, estava como que dividida em três trechos,<br />
sendo um continuação do outro. Assim, da esquina da Rua da Estrela<br />
à da Rua Formosa (Canto Pequeno), teve primitivamente o nome de<br />
– 80 –
– 81 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />
Rua do Hospital Velho, ou simplesmente Hospital, assim chamada<br />
por ter sido nela instalada, na casa onde ora funciona a Repartição de<br />
Higiene, o primeiro hospital regimental que aqui houve. Esta casa<br />
foi propriedade dos jesuítas, passando, por confiscação dos bens deles,<br />
ao domínio da Coroa. Com este nome figura, ainda, em um livro<br />
do Lançamento da receita da décima dos prédios urbanos da freguesia da Senhora<br />
da Vitória desta cidade, do ano de 1821 que temos à vista.<br />
Com a instalação do Tribunal de Relação neste prédio, em<br />
novembro de 1813, foi esse trecho da rua perdendo pouco a pouco<br />
o seu primeiro nome, passando daí em diante a ser mais conhecido<br />
pelo de Rua da Relação, como se vê do documento que segue, que é<br />
uma guia de recolhimento de dinheiro:<br />
Rs. 13.500 – Com que entra para a Tesouraria de Fazenda o major de<br />
engenheiros José Joaquim Rodrigues Lopes (falecido marechal-de-campo e Barão<br />
de Matoso), por mão do abaixo assinado, importância da décima urbana de sua<br />
casa da Rua do Hospital ou da Relação, que pertenceu aos herdeiros do falecido<br />
José Henriques Cottes, relativa ao ano de 1828.<br />
<strong>Maranhão</strong>, 16 de outubro de 1850<br />
Luís José Joaquim Rodrigues Lopes<br />
O segundo trecho desta rua, que ia daí, do Canto Pequeno à<br />
esquina da Rua da Cruz, tinha o nome de Rua dos Covões, por causa<br />
dos que ainda hoje existem entre os sobrados que foram outrora dos<br />
falecidos Dr. Frederico José Corrêa e Manuel da Costa Launé.<br />
Assim se lia, ainda, no lançamento de 1838.<br />
O terceiro, finalmente, e último trecho, que ia da esquina da Rua<br />
da Cruz à Praça da Alegria, também chamada de Sotero, era propriamente<br />
denominado Rua de Santana, da igreja deste orago, nome este<br />
que com o correr dos tempos tornou-se extensivo à rua toda.
José Ribeiro do Amaral<br />
Paralelamente, também, à Rua Grande, corre ainda a rua conhecida<br />
hoje em toda a sua extensão pelo nome de Afogados, outrora<br />
das Violas.<br />
Teve primitivamente esta rua o nome de Afogabugio. Vê-se<br />
isto de um ato da Câmara Municipal, representada por José da Costa<br />
Reis, como seu vereador mais velho, ato em que, a requerimento do<br />
cônego José Maciel Aranha, cedeu-lhe, a 19 de janeiro de 1784 um<br />
chão, no fim da Rua do Afogabugio, para edificação de uma capela à<br />
Senhora Santana.<br />
É a pequena igreja, conhecida vulgarmente hoje pelo nome de<br />
Santaninha.<br />
– 82 –<br />
(15.3.1912)<br />
* * *<br />
Outra das ruas nas condições da de Santana, isto é, dividida<br />
em três trechos, era a de São João.<br />
No índice que acompanha o Lançamento de décimas urbanas de<br />
1838, apresenta-se-nos ela com três nomes distintos: São João, São<br />
João da Praia e São João da Divisão, compreendendo, o primeiro<br />
trecho, a parte que ia da esquina desta rua com a de Santana até sair<br />
ao Largo de Santiago; o segundo, a que se dirigia da esquina da Rua<br />
Grande ao lugar vulgarmente conhecido por Canto do Manuel do Bico<br />
(Praia de Santo Antônio); e o terceiro e último, a que ficava entre as<br />
ruas Grande e Santana, assim chamado por ser ele o marco divisório<br />
das duas freguesias – da Conceição e Vitória – únicas então existentes<br />
nesta cidade.<br />
Das antigas ruas de São Luís, mencionadas neste lançamento,<br />
algumas há que, positivamente, não nos foi dado saber a que outras<br />
correspondem hoje, tal a mudança de nomes por que têm passado.
– 83 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />
Neste caso encontram-se as então conhecidas pelos nomes de<br />
Rua Velha, dos Ferreiros, Fundão, do Moinho do Vento, da Galhofa,<br />
do Tanguitá, Rua Cortada, do Navio, etc., e bem assim a Travessa do<br />
Pontal e a praia denominada do Estaleiro.<br />
A do Fundão, quase que podemos afirmar ser o trecho da atual Rua<br />
Direita, compreendido entre o Mercado Público e o Passo, vulgarmente<br />
conhecido pelo nome de Passo do Lapenberg, defronte do edifício da<br />
Escola Normal. Atendendo-se à configuração dessa parte da rua, vê-se<br />
que está ela perfeitamente de acordo com o nome que lhe puseram.<br />
Lê-se isto em documento do tempo.<br />
A do Moinho do Vento ficava por detrás da igreja dos Remédios,<br />
constando isso de um parecer da Assembléia Provincial, opinando<br />
para que se comprassem para o estabelecimento de um horto<br />
botânico, nesta província, “os terrenos do cidadão Manuel José de<br />
Medeiros, compreendidos entre a Rua Liberal, que é a frente da Casa<br />
de Prisão, com trabalhos, e a do Moinho do Vento, que é à baixa-mar<br />
a Rua da Independência, e a da Fonte do Marajá.”<br />
A da Galhofa, era, também, lá para o bairro dos Remédios. De<br />
uma sessão da Câmara Municipal, de 14 de agosto de 1843, vê-se que<br />
tinha ela princípio “da casa do cidadão Manuel Duarte do Vale e que<br />
vinha sair na Rua dos Remédios.”<br />
Ficava ainda para esse bairro a Rua do Navio. Quanto às ruas<br />
Velha, dos Ferreiros, Cortada, nada de positivo sabemos sobre a sua<br />
verdadeira situação, podendo porém afirmar que a Travessa do Pontal<br />
era ali pelas imediações do antigo Açougue Velho, e que a praia denominada<br />
do Estaleiro era no Desterro.<br />
Comparando-se os primitivos lançamentos com o atual vê-se que<br />
ainda há ruas cujos nomes se acham hoje de alguma forma alterados.<br />
Assim, diz-se atualmente da Savedra, de Nazaré, etc., quando<br />
os seus primitivos e verdadeiros nomes eram Rua do Sá Vedra, Rua<br />
do Nazaré, oriundos, naturalmente, de moradores mais conhecidos<br />
que nelas foram domiciliados.
José Ribeiro do Amaral<br />
Uma outra rua há, ainda, sobre cuja verdadeira situação mais<br />
de uma pessoa nos tem inquirido. É a conhecida nos documentos e<br />
lançamentos antigos pelo nome de Tanguitá.<br />
Em um edital da Mesa Administrativa da Santa Casa de Misericórdia<br />
desta cidade, de 7 de fevereiro de 1849, assinado pelo secretário<br />
Luís Miguel Quadros, em que se fazia público o fornecimento<br />
de diversos terrenos pertencentes a este estabelecimento de caridade,<br />
lê-se: Um na Rua do Tanguitá, que esteve aforado ao falecido major Joaquim<br />
Alves de Abreu Guimarães Picaluga, com 40 braças de frente para a rua<br />
que corre por detrás da Quinta do Monteiro.<br />
Ora, sabido que a Quinta do Monteiro, a que se refere o edital<br />
supra, é a chácara onde ora se acha instalado o Hospital Português,<br />
adquirida em 1868 pela Real Sociedade Humanitária 1° de Dezembro,<br />
claro está que a Rua do Tanguitá é uma daquelas três ruas ou<br />
travessas compreendidas entre a casa dos herdeiros do saudoso clínico<br />
Dr. Afonso Saulnier de Pierrelevée e a Rua Grande.<br />
– 84 –<br />
(22.3.1912)<br />
* * *<br />
Rua do Egito: é conhecida nos primeiros dias de nossa história,<br />
na história de nossas lutas com os holandeses, pelo nome de Rua<br />
Antônio Vaz, ou rua que ia ter às casas de Antônio Vaz, sendo essas<br />
casas, segundo o erudito senador Cândido Mendes (Memórias para a<br />
história do extinto Estado do <strong>Maranhão</strong>, tomo II) sitas então no canto<br />
que hoje faz a rua que vai para Santo Antônio.<br />
Teve depois, com o correr dos tempos, o nome de Rua do Egito.<br />
Em 1865, em homenagem ao nosso glorioso historiador, foi,<br />
por acórdão da Câmara Municipal, denominada Rua João Lisboa,<br />
devido à circunstância de haver ele aí morado, em 1838, em um
– 85 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />
sobradinho de dois andares que nesse tempo tinha o n.° 12 e que<br />
ainda hoje ali se vê, contíguo ao <strong>Instituto</strong> Rosa Nina.<br />
Pouco durou essa denominação, sendo, como a de tantas outras,<br />
riscadas por deliberação da vereação que sucedeu àquela, voltando<br />
a chamar-se de novo Rua do Egito.<br />
Rua da Cruz: assim chamada, de uma cruz de madeira, de um<br />
metro de altura, pintada de preto, que há uns quarenta anos ainda se<br />
via no alto da parede de uma casa onde, em tempo, houve uma padaria,<br />
e que faz esquina para a Rua de Santo Antônio sob o n.° 37 –<br />
placa. O trecho desta rua, compreendido entre a Rua de Santana e a<br />
Fonte das Pedras, era mais vulgarmente conhecido pelo nome de<br />
Calçada da Zimbra.<br />
Rua da Mangueira: era primitivamente conhecida pelo nome<br />
de Rua da Forca Velha – e assim é encontrada nos lançamentos de<br />
1837 a 1839. Adveio-lhe este último nome do fato de ter aí sido<br />
levantada a forca no terreno, por muito tempo baldio, modernamente<br />
ocupado por um templo protestante. O trecho desta rua, entre as de<br />
Santana e Grande, é ainda hoje mais conhecido pelo nome de Beco<br />
das Águas Verdes.<br />
Travessa da Passagem: foi este, sempre, o seu verdadeiro nome,<br />
e assim se lê em todos os lançamentos de décimas urbanas desde<br />
1825; mas, pelo vulgo, era mais geralmente conhecida pela denominação<br />
de Beco do Panaca.<br />
Travessa do Teatro: seu primitivo nome era Travessa do Sineiro,<br />
oriundo de Manuel de Assunção Sineiro, que por aí morou. Conservou<br />
este nome até 1866, quando passou a denominar-se Travessa<br />
do Teatro. O trecho desta rua entre a de Santana e o Mercado foi<br />
sempre mais conhecido por Calçada do Açougue.<br />
Praia do Caju: a denominação de Praia do Caju por que é conhecida<br />
esta parte do litoral da cidade, adveio-lhe de Matias Correia<br />
Caju, primeiro a quem foi dado alvará de concessão daquela praia, e<br />
que ali habitou e construiu, segundo se vê do Livro Objetos diversos – n.°<br />
22, de 1820-1821, ofício 660, dirigido ao juiz de fora desta cidade.
José Ribeiro do Amaral<br />
Praia da Trindade: seu primitivo nome era Praia do Armazém, assim<br />
chamada por se acharem aí situados os grandes armazéns do Estanco.<br />
Era também conhecida pelo nome de Praia Pequena. Com o<br />
estabelecimento, porém, aí, de uma fábrica de arroz, de que ainda<br />
hoje se vêem as ruínas, foi pouco a pouco perdendo o seu primitivo<br />
nome, e sendo mais conhecida pelo da proprietária da referida fábrica,<br />
segundo se vê do seguinte aviso, inserto no jornal O Progresso, n.°<br />
2, de 5 de janeiro de 1850:<br />
Os herdeiros de D. Ana Tereza de Souza Trindade fazem público que em<br />
fevereiro de 1852 finda o contrato de arrendamento que a dita Trindade fizera a<br />
Francisco José Rabelo, da sua fábrica de socar arroz, sita na Praia Pequena para<br />
pagamento do mesmo Rabelo, como consta da escritura feita em fevereiro de 1837<br />
pelo tabelião Nunes, cujo débito fica pago e inteiramente extinto na data acima<br />
mencionada.<br />
É esta praia grandemente célebre na História do <strong>Maranhão</strong><br />
por haver aí sido suplicado Manuel Bequimão.<br />
Praia do Prego: veio-lhe o nome de Manuel José Prego, ali<br />
morador.<br />
Com a construção do Cais da Sagração, foram pouco a pouco<br />
desaparecendo todas essas praias, restando delas, hoje, apenas a tradição.<br />
Barracas: chamava-se assim a um quarteirão de casebres, denominados<br />
das Tulhas, fronteiro à Praça do Comércio e Arsenal de<br />
Marinha (hoje Armazém da Alfândega), situado no mesmo lugar onde<br />
ora existem as atuais barracas construídas pela Companhia Confiança<br />
Maranhense, e que, em virtude de contrato celebrado em 1855,<br />
são atualmente de propriedade da Municipalidade.<br />
Para dar uma idéia do que era esta parte da cidade naquele<br />
tempo, basta dizer que, então, aí se viam barracas portáteis de<br />
meaçabas velhas e podres, levantadas por licença da própria Câmara!<br />
– 86 –<br />
(29.3.1912)
12<br />
O convento de Nossa Senhora do Carmo<br />
– 87 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />
EM COMPANHIA de Alexandre de Moura, nomeado<br />
capitão-mor com poderes de governador, para restaurar o<br />
<strong>Maranhão</strong> do poder dos franceses, vieram, por capelães do<br />
presídio, os padres frei Cosme da Anunciação, pregador, e frei Daniel<br />
da Natividade, filhos da vigararia do Brasil, os quais chegando à Ilha<br />
de São Luís, aos cinco de outubro de 1615, foram, aos 2 de novembro<br />
seguinte, testemunhas da entrega das chaves do Forte de São<br />
Filipe (única fortaleza que então havia), solenemente feita pelo Senhor<br />
de La Ravardière ao referido capitão-mor.<br />
Restaurada a colônia da ocupação francesa, pediram-lhe os dois<br />
carmelitas sítio para fundar um convento, concedendo-lhes Alexandre<br />
de Moura uma pequena ilha defronte da barra, conhecida pelo nome<br />
de Ilha do Medo, com meia légua de terra, fundação que nunca teve<br />
efeito na dita ilha, e mais duas léguas em quadro da ponta da terra<br />
(Bonfim) para o sul. De tudo tomaram posse a 12 de dezembro do<br />
dito ano de 1615, segundo constava dos livros do mesmo convento.<br />
Foi esta a primeira doação de terras que aqui houveram os carmelitas,<br />
ficando livres para Sua Majestade (como rezavam então todas as cartas de<br />
data), todas as madeiras reais que nas ditas terras houvesse e que servir<br />
pudessem para o fabrico de embarcações e de engenhos de fazer açúcar.
José Ribeiro do Amaral<br />
Assumindo o governo da colônia o capitão-mor Jerônimo de<br />
Albuquerque, não só lhes confirmou em nome de Sua Majestade<br />
esta mercê, como lhes deu ainda “sessenta braças de terras para a<br />
fundação, e trinta braças mais para umas casas e quintal para o mesmo<br />
convento”, o que se vê da respectiva data, passada a 20 de fevereiro<br />
de 1616.<br />
De posse destas doações, vindos de Pernambuco, aqui<br />
aportaram no ano de 1624, em companhia de frei Cristóvão de Lisboa,<br />
dois frades da Ordem de Nossa Senhora do Carmo – Frei Francisco<br />
da Purificação, cronista desta província, mestre de cerimônias<br />
do convento de Lisboa, e que foi o primeiro prelado-maior que teve<br />
esta vigararia; e frei Gonçalo da Madre de Deus, natural da cidade do<br />
Porto, os quais em 1627 construíram o atual convento no sítio onde<br />
presentemente se lhe vê ainda, no lugar em que, segundo a tradição,<br />
havia então uma capela sob a invocação de Santa Bárbara, sendo seu<br />
primeiro prior, ou provincial, frei André da Natividade.<br />
Dizemos atual convento, porque o primitivo, o primeiro que<br />
aqui houve, foi levantado em 1615, no lugar então conhecido por<br />
Sítio de Monsieur de Pinau, onde atualmente se vê a igreja de Nossa<br />
Senhora do Rosário, que por muito tempo conservou ainda o<br />
nome de Carmo Velho.<br />
De livros de registros, existentes no Arquivo da Câmara Municipal,<br />
vê-se que não era pequeno o patrimônio da Ordem Carmelitana<br />
nesta província, o qual sucessivamente foi confirmado: em 1° de agosto<br />
de 1631, por Francisco Coelho de Carvalho, primeiro governador<br />
que foi do extinto Estado do <strong>Maranhão</strong>; em 11 de outubro de 1690,<br />
por Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho, que sucessivamente<br />
foi governador do Rio de Janeiro, de Minas e de Angola; e finalmente,<br />
por Pedro II de Portugal, por carta de 24 de janeiro de 1698.<br />
Abrangia esse patrimônio, aqui na cidade, nada menos que o bairro<br />
que se chama hoje Rua do Egito, e até 1818 todo o terreno compreendido<br />
no quarteirão onde atualmente se acha situado o Teatro São Luís<br />
(outrora União), sendo que até aí se estendia a cerca do convento,<br />
– 88 –
– 89 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />
terreno este que, depois de grande oposição por parte dos prelados<br />
carmelitanos, por aforamento foi concedido a Eleutério Lopes da<br />
Silva Varela e Estêvão Gonçalves Braga para aquele fim, graças sobretudo<br />
aos esforços do governador e capitão-general, de então, Paulo<br />
José da Silva Gama, como em ofício de 3 de fevereiro daquele ano<br />
comunicou ele para a Metrópole.<br />
Contemporâneo da Invasão Holandesa, é o convento do Carmo<br />
o testemunho vivo das últimas lutas feridas entre colonos e invasores.<br />
Aí acastelaram-se os nossos antepassados. No adro que lhe<br />
corria em frente, hoje bela e espaçosa praça, deu-se o derradeiro e<br />
mais renhido encontro que decidiu a sorte da nascente colônia,<br />
resgatando-a de vez da dominação batava.<br />
Conquanto guardando as mesmas proporções, não é, todavia,<br />
a igreja do Carmo de hoje, a mesma dos primitivos tempos, sobretudo<br />
depois das grandes e importantíssimas transformações ali operadas,<br />
a golpes de trabalho e de coragem, pelos incansáveis e beneméritos<br />
capuchinhos lombardos.<br />
Descrevendo o convento e a igreja do seu tempo, dizia um<br />
cronista da Ordem: É o dito primeiro convento no meio da cidade de São Luís<br />
com o frontispício para o poente, tem duas torres, uma de cada banda, as janelas<br />
dos dormitórios são para a parte do mar, tem uma boa cerca povoada de muitas<br />
e várias plantas frutíferas, toda murada de pedra e cal.<br />
A igreja tem cento e sessenta palmos de comprido e cinqüenta de largo. A<br />
capela-mor é muito formosa, o seu comprimento são sessenta palmos, a largura<br />
trinta, a tribuna é de talha coberta de tintas, ouro, e é a melhor que há na cidade.<br />
Tem uma milagrosa imagem de Nossa Mãe Santíssima do Carmo, de seis palmos;<br />
da parte do Evangelho está o nosso protopatriarca Elias, e da parte da<br />
Epístola, nosso Padre Santo Eliseu. Nesta capela-mor há coro que tem duas<br />
ordens de cadeiras de pau de cedro curiosamente lavrado. Saindo da capela-mor,<br />
tem duas capelas colaterais: a da parte do Evangelho é de Santa Luzia, a da<br />
parte da Epístola é de Santo Amaro.<br />
Dentro do cruzeiro há duas capelas: a da parte do Evangelho tem a milagrosa<br />
imagem de Cristo Senhor Nosso com a cruz às costas, (hoje do Sagrado Coração
José Ribeiro do Amaral<br />
de Jesus), que está recolhido em uma perfeita tribuna; a principal nobreza desta<br />
terra serve a este Senhor em uma bem governada Irmandade.<br />
A da parte da Epístola é do Santíssimo Sacramento (hoje do Senhor<br />
dos Passos). Em uma tribuna está a Senhora da Piedade, e da parte de fora dela<br />
as imagens da Senhora da Penha de França e da Guia. É a Senhora festejada<br />
nestes títulos com grande solenidade.<br />
Tem o convento sua livraria com bastantes livros, assim de Padres Expositores,<br />
Concio-natórios, de uma e outra Teologia, e alguns de Filosofia. Nossa<br />
Senhora do Carmo é o título deste convento.<br />
(Vide Memórias históricas dos ilustríssimos arcebispos, bispos e escritores<br />
portugueses da Ordem de Nossa Senhora do Carmo, reduzidas a catálogo<br />
alfabético que entregou na Academia Real de História Portuguesa, e a seu Protetor<br />
Augustíssimo, el-rei D. João V, Nosso Senhor, oferece e dedica o Acadêmico<br />
Supranumerário Fr. Manuel de Sá, religioso da mesma Ordem da Província de<br />
Portugal – Lisboa Oriental, na Oficina Ferrerigana. – MDCCXXIV).<br />
Tal a descrição que, da primitiva igreja e convento do Carmo<br />
desta cidade, nos legou um dos cronistas da Ordem.<br />
Como se vê, do velho e tradicional templo, internamente, à<br />
exceção dos altares, quase que nada mais resta hoje, tal a transformação<br />
por que ultimamente passou.<br />
A imagem da Virgem do Carmelo foi substituída por uma outra,<br />
mandada vir da Itália pelos capuchinhos lombardos, conjuntamente<br />
com o belíssimo altar de mármore que no centro da capela-mor<br />
se ostenta.<br />
As duas bancadas da capela-mor, onde diariamente se reunia a<br />
comunidade para a recitação dos ofícios próprios do coro, no alto de<br />
uma das quais se lia a seguinte inscrição: Hinc est chorus – foram dali<br />
retiradas.<br />
Das duas capelas colaterais a que se refere o cronista da Ordem,<br />
e que, segundo as indicações deixadas nas suas Memórias históricas, se<br />
– 90 –
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />
encontram ao sair da capela-mor, a de Santa Luzia, que fica à direita<br />
de quem vai para a sacristia, está hoje totalmente desmontada, mal<br />
deixando ver os vestígios do que foi; a de Santo Amaro, que jaz por<br />
debaixo do antigo consistório de Santa Filomena, de há muito que<br />
serve de capela mortuária.<br />
O antigo púlpito, pregado à parede, e as grades de comunhão,<br />
há muito que desapareceram.<br />
Manteve a Ordem Carmelitana, durante os tempos coloniais,<br />
sobretudo de 1814 até muito depois da Independência, cadeiras não<br />
só de Humanidades, mas ainda de todas as ciências morais e teológicas,<br />
tornando-se verdadeiramente notáveis pelo seu saber:<br />
– frei Inácio Caetano de Vilhena Ribeiro, latinista, helenista e<br />
hebraizante que teve como discípulos Manuel Odorico Mendes e<br />
Sotero dos Reis;<br />
– doutor frei Custódio Alves Serrão, natural de Alcântara, lente<br />
da antiga Escola Central, diretor do Jardim Botânico, falecido na<br />
Corte do Império a 10 de março de 1873, e de quem, fazendo o seu<br />
elogio fúnebre, disse o orador do <strong>Instituto</strong> <strong>Histórico</strong>, Dr. Joaquim<br />
Manuel de Macedo em admirável síntese: “Sábio, criado no gabinete<br />
de profundos e constantes estudos, eminente nas Ciências Físicas,<br />
na Botânica igual a Freire Alemão, que é um monumento, em política<br />
sempre liberal por convicção e por amor à Pátria, e nunca, em um<br />
só dia, por amor de si; de caráter independente até a resistência na<br />
guarda de seu direito, no culto da amizade tipo de dedicação e de<br />
fineza, em suas relações particulares angélica amabilidade, como lente<br />
a eloqüência abraçada com a lógica mais cerrada; como administrador<br />
o zelo mais inteligente fulgurando pelo esplendor de imaculada<br />
probidade; eis aí frei Custódio Alves Serrão.”<br />
– Doutor frei Antônio Bernardo da Encarnação e Silva, natural<br />
de Viana, que mais tarde obteve brevê de secularização e foi<br />
deputado-geral por esta Província na legislatura de 1838 a 1841,<br />
bem como cônego mestre-escola da catedral, examinador sinodal,<br />
professor de retórica e poética do Liceu Maranhense, comendador<br />
na Ordem de Cristo e cavaleiro na da Rosa, falecido em 1848;<br />
– 91 –
José Ribeiro do Amaral<br />
– e frei Antônio Julião da Costa Leite, professor de latim em<br />
Alcântara.<br />
Não pequenos foram ainda os serviços de outra ordem, prestados<br />
em todos os tempos pela Ordem Carmelitana a esta província.<br />
Por algum tempo esteve aí aquartelado o Corpo de Artilharia,<br />
até que na tarde de 7 de julho de 1829 foi transferido para o Armazém<br />
da Pólvora, mais tarde Casa dos Educandos Artífices, e hoje,<br />
Aprendizes Artífices.<br />
Por longos anos cedeu o andar térreo do seu convento para aí<br />
se estabelecer o quartel do Corpo de Polícia e as aulas régias de ensino<br />
secundário, até que, criado o Liceu na administração de Vicente<br />
Tomás Pires de Figueiredo Camargo, foi ele aí instalado, aí permanecendo<br />
durante o não pequeno período de cinqüenta e dois anos,<br />
quando teve lugar a sua trasladação para o prédio na Rua Formosa,<br />
onde presentemente se encontram a Escola Normal e a Escola Modelo<br />
Benedito Leite.<br />
No andar superior, e muito mais tarde, no interior do convento,<br />
na parte que dá para a Rua da Paz, funcionou a Biblioteca Pública,<br />
aí instalada em 1828.<br />
Em 1873, governando a Província o dr. Silvino Elvídio Carneiro<br />
da Cunha, cedeu-lhe ainda o convento do Carmo uma parte da<br />
sua cerca para a construção de uma escola, edifício este onde presentemente<br />
funciona a Biblioteca Pública do Estado.<br />
Com a morte, porém, em 9 de maio de 1891, do último religioso<br />
e provincial que foi frei Caetano de Santa Rita Serejo, alma<br />
boa e generosa, coração extremamente bondoso, e por isso geralmente<br />
benquisto de todos, foi o convento do Carmo incorporado<br />
aos bens da União, caindo então em abandono, chegando mesmo a<br />
ameaçar quase completa ruína, quando aí se instalou a Missão<br />
Capuchinha, chefiada por frei Carlos de São Martinho, um dos religiosos<br />
mais ilustres que aqui têm pisado, a qual não só acudiu ao<br />
convento, prestes a desmoronar-se, mas ainda transformou a velha e<br />
– 92 –
– 93 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />
arruinada igreja no belo e majestoso templo que todos vemos e admiramos,<br />
e isto à custa de muito esforço, de muito trabalho e de uma<br />
abnegação e perseverança sem limites.<br />
E já que falamos nos capuchinhos lombardos, injustiça fora,<br />
sendo eles os legítimos sucessores dos carmelitas na posse do velho<br />
convento, não registrar aqui os grandes e inestimáveis serviços de<br />
toda a sorte, por eles prestados à causa da religião e da civilização.<br />
Achava-se, nos últimos anos, de todo abandonado o serviço<br />
de colonização, catequese e civilização dos índios, quando em princípios<br />
de 1893 aqui chegaram os primeiros religiosos capuchinhos,<br />
tendo por superior ou prefeito o revmo. frei Carlos de São Martinho.<br />
Dominado de ardente zelo apostólico e do desejo de chamar à<br />
fé e à civilização cristãs tantos dos nossos infelizes patrícios que vagueiam<br />
ainda por essas matas, lançou o ilustrado e virtuoso sacerdote<br />
suas vistas para a comarca de Barra do Corda, onde, porventura,<br />
são eles encontrados em maior número, e aí deu começo à sua santa<br />
missão pela fundação de um instituto para educação de meninos indígenas;<br />
e, como se tanto não fosse bastante ainda, acabou o infatigável<br />
e modesto superior dos capuchinhos por prestar mais um assinalado<br />
serviço ao Estado, com a aquisição, pela quantia de Rs.<br />
15:000:000, de um importante estabelecimento de lavoura, denominado<br />
de Alto Alegre, com o fim único e altamente humanitário de<br />
chamá-los à vida social.<br />
Não se pode calcular, ao certo, o número de índios ainda hoje<br />
existentes em todo o Estado. Nas diversas aldeias, porém, de Barra<br />
do Corda, na ocasião em que as percorreu frei Carlos, afirmou-nos<br />
ele encontrarem-se para mais de 5.000, já domesticados e com tendências<br />
para adquirirem os hábitos de civilização.<br />
E tão relevante, tão humanitária considerou o Governo do<br />
Estado a obra de frei Carlos que, desde logo, lhe fez consignar no<br />
orçamento um subsídio de Rs. 2:000:000, que no ano seguinte elevou<br />
a Rs. 4:000:000 e por último a Rs. 12:000:000, sendo 6.000:000<br />
para o colégio de Barra do Corda e 6.000:000 para o de Alto Alegre.
José Ribeiro do Amaral<br />
Neste ínterim, ameaçando ruína iminente o convento, e talvez<br />
mais do que este a igreja do Carmo, requereram os missionários<br />
capuchinhos em 10 de setembro de 1894, ao inspetor da Alfândega<br />
neste Estado, que lhes fossem entregues as chaves de um e outro<br />
edifício, já então de propriedade da União, o que, sendo-lhes favoravelmente<br />
deferido, foi nomeado depositário dos mesmos o revmo.<br />
frei Carlos de São Martinho, fundador da Missão dos Capuchinhos<br />
Lombardos do Norte do Brasil e primeiro superior regular da mesma<br />
Missão pro tempore, com decretal generalício de 12 de maio de<br />
1894, fixando sua residência nesta capital.<br />
Obtido este primeiro favor, foi, pelos seus superiores de Roma,<br />
constituído chefe da missão o revmo. frei Carlos, que, espírito superior,<br />
antevendo nos seus grandiosos ideais um auspicioso porvir para<br />
o convento do Carmo, e desejando que fosse ele contínua habitação<br />
dos missionários capuchinhos, fez à Senhora do Carmo um voto<br />
que ainda hoje é respeitado pelos seus sucessores, a fim de alcançar,<br />
pelo patrocínio dela, esta pacífica posse.<br />
A frei Carlos sucedeu, no governo da Missão, com decretal de<br />
11 de agosto de 1897, o malogrado frei Reinaldo de Paulo, que foi uma<br />
das vítimas do massacre de Alto Alegre em 13 de março de 1901.<br />
Em 1900, voltou de novo frei Carlos ao governo da Missão,<br />
como superior regular, com decretal de 24 de abril.<br />
Em 1901, ano fatal para os capuchinhos lombardos pela conhecida<br />
hecatombe de Alto Alegre, profundamente ferido no seu<br />
coração e no seu espírito altamente criador, não pôde este venerável<br />
missionário resistir ao abalo produzido pelo desmoronamento de<br />
sua obra, tão paciente e sabiamente organizada; e assim, um tanto<br />
enfraquecido em suas faculdades mentais, foi, a conselho médico,<br />
forçado a procurar o doce clima de sua terra para se restabelecer,<br />
sendo substituído no governo da Missão, como vigário, por frei João<br />
Pedro de Sexto, que, nomeado pelo revmo. visitador-geral, frei Timóteo<br />
de Brescia, em 28 de junho de 1901, foi, por decretal generalício<br />
de 23 de abril de 1903, confirmado no mesmo governo, como supe-<br />
– 94 –
– 95 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />
rior regular, por um triênio, e reconfirmado por outro, por decretal<br />
de 3 de maio de 1906.<br />
O <strong>Maranhão</strong>, isto é, o convento do Carmo – Mater et Caput<br />
Missionís como é conhecido na Ordem – foi, desde o início da Missão,<br />
o lugar de residência do superior dos capuchinhos lombardos,<br />
até que sendo pela segunda vez eleito frei Carlos, que se achava então<br />
no Pará, ali determinou este fixar, como superior regular, sua nova<br />
residência, que permaneceu por bem sete anos.<br />
Nomeado superior regular da Missão, por decretal de 10 de<br />
julho de 1909, transferiu o revmo. frei Estevão de Sexto a residência<br />
para o <strong>Maranhão</strong>.<br />
Amando profundamente esta terra, bem compreendeu o ilustre<br />
capuchinho que, tendo aqui sido o primeiro e hospitaleiro asilo<br />
seu e dos seus companheiros, aqui deveria ser também a Casa Mater.<br />
Tornando-se, pelo desaparecimento do último religioso, como<br />
já vimos, propriedade da Fazenda Nacional o convento do Carmo,<br />
foi ele, pela segunda vez, em julho de 1911, posto em hasta pública,<br />
apresentando-se por essa ocasião os seguintes proponentes:<br />
Os Revmos. Padres Capuchinhos, pela quantia de Rs.<br />
16:500:000;<br />
Os Srs. Lisboa Machado & Companhia, pela de Rs. 15:000:000;<br />
E a Liga do Livre Pensamento, pela de 10:000:000, tendo sido<br />
preferida a primeira, por mais vantajosa à Fazenda Pública.<br />
A transmissão de propriedade, feita pelo poder competente ao<br />
superior, frei Estevão de Sexto, que para esse fim fora ao Rio de<br />
Janeiro, teve lugar nessa mesma capital, em 21 de agosto de 1911, na<br />
Procuradoria Geral da Fazenda Pública, sendo registrada aqui no<br />
<strong>Maranhão</strong>, no livro competente, em 11 de novembro do mesmo ano.<br />
Tem tido o convento do Carmo nesta sua nova fase, isto é,<br />
depois que chegou a Missão Lombarda, os seguintes superiores, aqui<br />
residentes:
José Ribeiro do Amaral<br />
1°) Frei Carlos de São Martinho, 1894-1897. Vice-superior –<br />
frei Mansueto da Perseverança;<br />
2°) Frei Reinaldo de Paulo, 1897-1900. Vice-superior – Frei<br />
João Pedro de Sexto<br />
3°) Frei João Pedro de Sexto, 1900-1901.<br />
4°) Frei Agostinho de Milão, 1901-1903<br />
5°) Frei Estêvão de Sexto, 1903 até o presente, tendo tido,<br />
durante o seu superiorado, sucessivamente, como vice-superiores,<br />
os reverendos frei Roberto de Castelança e frei Miguel de Origgio; o<br />
primeiro, de 1909 a 1910; o segundo, daí até esta data.<br />
Tal é, em traços gerais, a história da Missão Lombarda no<br />
<strong>Maranhão</strong> durante estes últimos dezoito anos, havendo durante esse<br />
tempo passado por não pequena transformação o convento e a igreja<br />
que lhe fica anexa, isto à custa de avultadas despesas de que todo o<br />
povo desta terra é testemunha, e a imprensa por mais de uma vez o<br />
tem registrado.<br />
– 96 –<br />
(16.4.1912)
A imprensa no <strong>Maranhão</strong>: Jornais, revistas e outras<br />
publicações periódicas de 1821 a 1908<br />
– 97 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />
CATÁLOGO organizado por ocasião da celebração do centenário<br />
da imprensa no Rio de Janeiro:<br />
1821 – O Conciliador do <strong>Maranhão</strong><br />
1822 – A Folha Medicinal do <strong>Maranhão</strong><br />
Palmatória Semanal<br />
Gazeta da Verdade<br />
1823 – Gazeta Extraordinária do Governo da Província<br />
Diário Eclesiástico Independente<br />
1824 – O Amigo do Homem<br />
1825 – O Argos da Lei<br />
O Censor, mais tarde, O Censor Maranhense<br />
1826 – O Piparote<br />
1827 – Minerva<br />
O Farol Maranhense<br />
A Bandurra<br />
13
José Ribeiro do Amaral<br />
1828 – O Despertador Constitucional<br />
1829 – A Estrela do Norte do Brasil<br />
A Cigarra<br />
O Maranhense<br />
O Observador Constitucional<br />
O Poraquê<br />
O Azorrague dos Corcundas<br />
1830 – O Brasileiro<br />
Semanário Oficial<br />
O Almanack Mercantil<br />
O Clarim<br />
A Segunda Estrela do Norte do Brasil<br />
1831 – O Publicador Oficial<br />
O Constitucional<br />
O Jornal dos Anúncios<br />
A Bússola da Liberdade<br />
A Opinião<br />
Foguete da Nova Luz Jurjuba<br />
1832 – O Brasileiro<br />
O Correio do Conselho Provincial<br />
O Mentor Liberal<br />
O Escudo da Verdade<br />
O Rondante Político<br />
1833 – O Publícola Brasileiro<br />
A Sentinela Maranhense<br />
Atalaia dos Caiporas?<br />
1834 – Eco do Norte<br />
O Berro do Norte<br />
O Correio Semanal<br />
– 98 –
O Publicador da Relação<br />
Reformatório<br />
1835 – O Investigador Maranhense<br />
O Justiceiro<br />
Correio da Assembléia Provincial<br />
1836 – Cacambo<br />
O Americano<br />
1837 – Sete de Setembro<br />
O Momborré<br />
O Correcionador dos Abusos<br />
O Paraense<br />
A Tábua de Salvação<br />
A Temperança ou O Moralista Maranhense<br />
1838 – O Investigador Constitucional<br />
A Sentinela<br />
Crônica Maranhense<br />
O Bem-te-vi<br />
Crônica dos Cronistas<br />
Caçador de Bem-te-vis<br />
O Amigo do Povo<br />
O Despertador<br />
Correio d’Anúncios<br />
28 de Julho<br />
O Recopilador de Anedotas<br />
1839 – A Revista<br />
O Militar<br />
O Recreio dos Maranhenses<br />
O Amigo do País<br />
Buscapé<br />
– 99 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong>
José Ribeiro do Amaral<br />
1840 – O Moralista<br />
O Cometa<br />
O Legalista<br />
O Astro Maranhense<br />
O Jornal Maranhense<br />
O Guajajara<br />
O Raio<br />
1841 – O Imperialista<br />
Vinte e Oito de Julho<br />
1842 – Publicador Maranhense<br />
O Correio Maranhense<br />
O Dissidente<br />
A Opinião Maranhense<br />
O Caboclo Maranhense<br />
O Pica-pau<br />
O Museu Maranhense<br />
1843 – O <strong>Maranhão</strong><br />
O Diário<br />
Eco da Oposição<br />
Liberal<br />
A Figa<br />
1844 – A Malagueta Maranhense<br />
Tapy Ouaissú<br />
Vigilante da Liberdade<br />
Foguete<br />
1845 – Jornal da Instrução<br />
O Almazém<br />
A Rabeca<br />
O Atleta Piauiense<br />
Tribuna do Povo<br />
– 100 –
1846 – O Unitário<br />
O Arquivo<br />
Jornal da Sociedade Filomática Maranhense<br />
A Palmatória<br />
A Matraca<br />
O Arre e Irra<br />
O Patusco<br />
O Azorrague<br />
O Cacete<br />
1847 – O Homem do Povo<br />
O Estudante<br />
O Observador<br />
O Bem-te-vi<br />
O Bem-te-vi Maranhense<br />
Correio Maranhense<br />
O Barrete<br />
O Progresso<br />
1848 – Diário Maranhense<br />
O Tribuno do Norte<br />
O Verdadeiro Patriota<br />
Voz do Bacanga<br />
1849 – A Sentinela da Liberdade<br />
Revista Universal Maranhense<br />
O Porto Franco<br />
O Sulista<br />
A Época<br />
O Vulcão<br />
O Canela<br />
O Bem-te-vi Corcunda<br />
O Mexeriqueiro<br />
O Salvador do Povo<br />
O Salvador da Liberdade<br />
– 101 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong>
José Ribeiro do Amaral<br />
O Timbira<br />
O Luzia<br />
O Defensor do Povo<br />
1850 – A Marmota Maranhense<br />
1851 – Argos Maranhense<br />
Correio dos Anúncios<br />
O Constitucional<br />
O Infante<br />
1852 – O Novo Farol<br />
O Globo<br />
O Despertador<br />
O Eclesiástico<br />
A Marmotinha<br />
Jornal de Tímon<br />
Argos da Cena Maranhense<br />
O Propugnador Católico<br />
O Universal<br />
1853 – O Estandarte<br />
O Conciliador<br />
O Apreciador Dramático<br />
O Bem-te-vi<br />
1854 – O Cristianismo<br />
O Botão de Ouro<br />
1855 – Diário do <strong>Maranhão</strong><br />
A Sentinela<br />
O Suspiro<br />
A Saudade<br />
1856 – A Nova Época<br />
A Conciliação<br />
– 102 –
Regeneração Política<br />
A Saudade<br />
1857 – A Moderação<br />
A Imprensa<br />
A Estrela da Tarde<br />
O Espelho<br />
Jornal dos Jovens<br />
1858 – O Iguaçu<br />
O Globo<br />
Jornal do Comércio<br />
Correio Maranhense<br />
O Japi<br />
A Tentativa<br />
A Aurora do Norte<br />
Álbum Maranhense<br />
O Guaraciaba<br />
1859 – Correio da Tarde<br />
O Século<br />
A Estrela Maranhense<br />
O Conservador<br />
Eco da Verdade<br />
1860 – Ordem e Progresso<br />
A Verdadeira Marmota<br />
O Estudante<br />
A Jararaca<br />
A Tulipa<br />
1861 – A Opinião Pública<br />
Clarim da Monarquia<br />
O Jardim dos Maranhenses<br />
O Comércio<br />
– 103 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong>
José Ribeiro do Amaral<br />
O Porto Livre<br />
Caldo de Boi<br />
O Pirilampo<br />
1862 – Revista Jurídica<br />
O Artista<br />
A Coalição<br />
O Fórum<br />
O Insulano<br />
Heraclia<br />
O Ramalhete<br />
1863 – O País<br />
A Situação<br />
O Constitucional<br />
Ginásio Literário<br />
O Eco da Pátria<br />
1864 – A Aurora Maranhense<br />
O Trevo<br />
O Trovador<br />
A Fé<br />
O Eco da Juventude<br />
A Lanterna de Diógenes<br />
Palestra Militar<br />
A Verdade<br />
Satanás<br />
Boletim Comercial<br />
O Janota<br />
1865 – A Tribuna<br />
A Exposição Evangélica<br />
O Passatempo<br />
1866 – O Futuro<br />
O Apreciável<br />
– 104 –
Primavera<br />
Revista Comercial<br />
Tifon<br />
1867 – Semanário Maranhense<br />
1868 – O Artista<br />
O Liberal<br />
A Sensitiva<br />
1869 – Juvenilia<br />
A Atualidade<br />
A Nação<br />
O Fantasma<br />
O Represador<br />
1870 – O Formigão<br />
A Situação<br />
O 14 de Janeiro<br />
A Opinião Pública<br />
Monitor<br />
Vinte e Oito de Julho<br />
O Estudante<br />
A Esperança<br />
O Chicote<br />
1871 – O Telégrafo<br />
O Forte<br />
O Represador<br />
1872 – A Brisa<br />
O Domingo<br />
– 105 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />
(15.12.1911)
José Ribeiro do Amaral<br />
1873 – Diário do <strong>Maranhão</strong><br />
1874 – A Instrução<br />
O Justo<br />
1875 – Jornal da Lavoura<br />
A Mocidade<br />
1876 – Revista Juvenil<br />
Gazeta do Povo<br />
Jornal para Todos<br />
A Floresta<br />
1877 – Província<br />
Revista de Instrução e Recreio<br />
O Amigo do Povo<br />
O Telégrafo<br />
1878 – O Tempo<br />
Escola<br />
O Timbira<br />
O Democrata<br />
O Progresso<br />
1879 – A Flecha<br />
O Regenerador<br />
1880 – Pacotilha<br />
O Tribuno<br />
Civilização<br />
Cartas aos Maçons do <strong>Maranhão</strong><br />
O Pensador<br />
A Lei<br />
O Malho<br />
Idália França<br />
– 106 –
1881 – Pacotilha<br />
O Futuro<br />
Antônio Pedro<br />
1882 – Lúcia Avalle<br />
1883 – Gazeta de Notícias<br />
O Domingo<br />
Atualidade<br />
Lidador Maranhense<br />
1884 – O Cruzeiro<br />
O Pigmeu<br />
Aurora<br />
Carapuça<br />
Jornal da Tarde<br />
Tribuno<br />
O Abolicionista<br />
1885 – Gazeta do Povo<br />
A Província<br />
O Repolho<br />
O Sorriso<br />
Voz do Povo<br />
O Estudante<br />
Porvir<br />
A Evolução<br />
O Abolicionista<br />
1886 – O Liberal<br />
O Mensageiro<br />
A Luz<br />
O Eco<br />
O Protesto<br />
O Repórter<br />
– 107 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong>
José Ribeiro do Amaral<br />
A Federação<br />
O Meteoro<br />
Homenagem do Comércio a Retalho ao Dr. João Henrique<br />
1887 – Revista Maranhense<br />
O Binóculo<br />
O Estudante<br />
Campeão Português<br />
A Semana<br />
1888 – O Novo Brasil<br />
Eco do Norte<br />
Vibração Suave<br />
1889 – O Globo<br />
A República<br />
Correio de Anúncios<br />
Luso-Brasileiro<br />
O Século<br />
A Luz<br />
O Povo<br />
Homenagem ao Presidente da República dos Estados Unidos<br />
1890 – A Aurora Maranhense<br />
O Corisco<br />
O Domingo<br />
O Vulcão<br />
O Ensaio<br />
A Cruzada<br />
O Nacional<br />
1891 – O Estado do <strong>Maranhão</strong><br />
A Escola<br />
A Luta<br />
– 108 –
O Canudo<br />
O Cruzeiro<br />
1892 – O Federalista<br />
A Cruzada (2ª. fase)<br />
28 de Julho<br />
O Operário<br />
Revista Elegante<br />
O Novidades<br />
1893 – A Idéia<br />
A União Postal<br />
Diário de Notícias<br />
O Estudante<br />
O Bisturi<br />
A Infância<br />
Atenas<br />
1894 – Pierrô<br />
O Mefistófeles<br />
1895 – A Alvorada<br />
O Estudante<br />
O Porvir<br />
Filomatia<br />
1896 – O Membi<br />
A Liberdade<br />
Camélia<br />
O Canudo<br />
1897 – O Argos<br />
O Centro Caixeiral<br />
O Estudante<br />
– 109 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong>
José Ribeiro do Amaral<br />
1898 – O Atenas<br />
Regeneração<br />
O Piaga<br />
O Ideal<br />
O Papagaio<br />
O Pau<br />
O Abelhudo<br />
O Filomático<br />
A Vassoura<br />
1899 – O Imparcial<br />
A Sogra<br />
A Vassoura<br />
1900 – Jornal da Manhã<br />
Os Novos<br />
O Atleta<br />
A Atualidade<br />
A Tesoura<br />
1901 – O Domingo<br />
A Revista do Norte<br />
A Propagadora<br />
O Anúncio<br />
Avante<br />
A Renascença<br />
Jornal dos Artistas<br />
A Crise<br />
O Carnaval de 1901<br />
La Tourterelle<br />
1902 – O Apito<br />
O Porvir<br />
A Escola<br />
A Campanha<br />
– 110 –
1903 – Nova Atenas<br />
O Rouxinol<br />
A Fenda<br />
As Pastorinhas<br />
João Braga<br />
O Domingo<br />
1904 – A Faísca<br />
Corneta de Ouro<br />
1905 – Amor às Letras<br />
1906 – A Notícia<br />
A Imprensa<br />
Diário Oficial<br />
O Combate<br />
O Chicote<br />
<strong>Maranhão</strong> Moderno<br />
Revista Musical<br />
A Mocidade<br />
Correio da Moda<br />
Verdade e Paz<br />
1907 – Jornal do Comércio<br />
O <strong>Maranhão</strong><br />
Mensageiro Diocesano<br />
A Avenida<br />
Revista Tipográfica<br />
O Moleque<br />
O Corsário<br />
O Falador<br />
O Brasil<br />
O Mensageiro<br />
O Progresso<br />
– 111 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong>
José Ribeiro do Amaral<br />
1908 – A Pátria<br />
Primavera<br />
Jornal dos Artistas<br />
A Via Láctea<br />
A Sentinela<br />
A Boa Nova<br />
O Boré<br />
O Futuro<br />
Revista da Associação Comercial do <strong>Maranhão</strong><br />
O Sentinela<br />
A Negrada<br />
O Condor<br />
– 112 –<br />
(22.12.1911)
CAXIAS<br />
A imprensa no interior do <strong>Maranhão</strong><br />
1845 – Brado de Caxias<br />
1846 – Jornal Caxiense<br />
O Tigre de Caxias<br />
1847 – Marimbondo<br />
O Telégrafo<br />
O Povo<br />
1848 – O Pescador<br />
O Correio dos Municípios<br />
O Analítico<br />
1849 – O Lidador<br />
A Água Benta<br />
O Bem-te-vi Caxiense<br />
A Aurora<br />
1850 – O Farol<br />
14<br />
– 113 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong>
José Ribeiro do Amaral<br />
1851 – O Eco Caxiense<br />
O Pelourinho<br />
1853 – A Crônica<br />
1854 – O Correio Caxiense<br />
1859 – A Imprensa Caxiense<br />
O Pugnador<br />
1862 – O Álbum Caxiense<br />
1864 – A Rosa<br />
1866 – O Justiceiro<br />
1867 – O Cabo d’Esquadra<br />
1870 – Jornal de Caxias<br />
1871 – Semanário Caxiense<br />
1873 – O Lidador Caxiense<br />
1874 – O Beija-flor<br />
A Cruz<br />
O Comércio de Caxias<br />
1876 – A Luz<br />
1877 – A Situação<br />
1880 – A Tarrafa<br />
1881 – O Observador<br />
– 114 –
1883 – O Xixixi<br />
Crisálida<br />
1884 – Eco Liberal<br />
1886 – O Brado<br />
1887 – Gazeta<br />
Artista Caxiense<br />
1891 – O Pirilampo<br />
1893 – Gazeta Caxiense (2ª. fase)<br />
1895 – Jornal de Caxias<br />
1898 – O Timbira<br />
Cidade de Caxias<br />
1899 – O Lábaro<br />
1900 – O Trepa<br />
O Caxiense<br />
1901 – O Zéfiro<br />
1903 – O País<br />
Correio do Sertão<br />
Parnaso<br />
1904 – O Porvir<br />
O Janota<br />
1905 – Jornal do Comércio<br />
Liberdade<br />
– 115 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong>
José Ribeiro do Amaral<br />
1907 – O Binóculo<br />
A Luz<br />
O Independente<br />
O <strong>Maranhão</strong><br />
A Luz<br />
1908 – O Partenon<br />
Gruta de Lourdes<br />
COROATÁ<br />
Em 1867, apareceu nesta vila um pequeno jornal, denominado<br />
Coroataense, impresso em Caxias e destinado à defesa dos interesses<br />
locais. Efêmera foi a sua duração. Com ele desapareceu, até hoje,<br />
a imprensa naquela localidade.<br />
VIANA<br />
1876 – O Vianense<br />
Alavanca<br />
A Violeta<br />
1878 – O Guanambi<br />
1879 – O Domingo<br />
1880 – Recreio Juvenil<br />
A Reforma<br />
1881 – A Ordem<br />
1884 – Atualidade<br />
– 116 –
BREJO<br />
– 117 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />
Jornal Imparcial do Brejo – Foi este o primeiro periódico que<br />
teve esta localidade. De cor política, apareceu em agosto de 1865.<br />
Depois de um intervalo de cerca de quarenta anos, apareceu em 1906<br />
O Anapuru.<br />
ALCÂNTARA<br />
1893 – Gazeta Alcantarense<br />
1906 – O Alcantarense<br />
ROSÁRIO<br />
No dia 8 de abril de 1855, circulou pela primeira vez na vila do<br />
Rosário um jornalzinho intitulado O Baluarte do Povo. Era impresso<br />
na Capital, na tipografia do Bem-te-vi, e tinha como redator o falecido<br />
major João da Matta de Moraes Rego, a quem deve a imprensa da<br />
província os mais relevantes serviços. Saíram apenas 18 números.<br />
Após um intervalo de 55 anos, apareceu em<br />
1903 – O Rosariense<br />
1904 – O Ser<br />
PICOS 13<br />
1895 – O Município<br />
1896 – O Carapuceiro<br />
13 Atualmente, Colinas. J. M.
José Ribeiro do Amaral<br />
O Republicano<br />
1897 – A Estrela<br />
1898 – A Época<br />
A Imprensa<br />
1899 – O Juvenil<br />
1903 – Gazeta de Picos<br />
1906 – Filolítera<br />
BARRA DO CORDA<br />
1888 – O Norte<br />
Fundado em 1888, pelo inolvidável dr. Isaac Martins dos Reis,<br />
tinha este jornal, principalmente, por fim a propaganda das idéias<br />
republicanas. Com a proclamação da República e desaparecimento<br />
do seu fundador, assumiu a direção desta folha o intemerato jornalista<br />
Frederico Figueira, que continua a prestar os mais relevantes<br />
serviços, especialmente à zona sertaneja do Estado.<br />
– O Novo Mundo<br />
1897 – O Porvir<br />
1898 – O Guarani<br />
– 118 –
FLORES 14<br />
1906 – O Trabalho<br />
LORETO<br />
1904 – O Ideal<br />
SÃO FRANCISCO<br />
1905 – O Lírio<br />
SÃO BENTO<br />
1902 – O São Bento (manuscrito)<br />
14 Atualmente, Timon. J. M.<br />
– 119 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />
(29.12.1911)
15<br />
A Imprensa no <strong>Maranhão</strong><br />
(Codó)<br />
– 121 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />
NO FINAL de 1869, veio à luz o primeiro número do Aristarco,<br />
primeiro jornal que teve Codó, periódico de pequeno forma<br />
to, de quatro páginas de duas colunas, contidas em meia folha<br />
de papel genovês ou almaço.<br />
Foi impresso na primeira tipografia havida naquela localidade,<br />
sendo seu redator o ilustre Dr. Antônio de Aguiar e Silva, pai do<br />
distinto Sr. major Alcebíades de Aguiar, atual congressista do Estado,<br />
a quem pertencia a referida tipografia.<br />
Apareceu cerca de um ano, e semanalmente.<br />
Desejando aumentar-lhe o formato, suspendeu o major<br />
Alcebíades a publicação do Aristarco, obteve novo material e em seguida<br />
(1870) fez circular O Codó, que não logrou ir além de 1871.<br />
Mais tarde, essa tipografia, que ficara guardada em uma casa<br />
próxima à margem do Rio Itapecuru, foi sepultada sob as ruínas da<br />
mesma, em conseqüência do desmoronamento produzido pela grande<br />
enchente de 1875.<br />
Em 1880 ou 1881, reunido a outros companheiros de luta, fez<br />
o major Alcebíades aquisição, no Piauí, de outra tipografia, nela pu-
José Ribeiro do Amaral<br />
blicando A Voz do Povo, de que era redator o coronel Aristides Lobão,<br />
então residente naquela cidade, onde estreou sua vida pública, e que<br />
mais tarde, com rara competência, desempenhou as funções de inspetor<br />
do Tesouro do Estado.<br />
A tipografia foi montada na própria residência dele, e sob sua<br />
imediata direção corria o jornal, que contava, entre outros, ao major<br />
Alcebíades como dos principais colaboradores.<br />
Essa tipografia passou depois, gratuitamente, às mãos do tenente<br />
Pedro Marques de Sousa, que fez dela surgir um número único<br />
de um jornal intitulado Codouara, sob os auspícios do finado Dr. Lucas<br />
da Silva Antunes, então juiz municipal naquele termo.<br />
A falta de meios do novo periódico não lhe permitiu ir além,<br />
obrigando-o a vendê-la novamente para o Piauí, onde em 1902 existia<br />
ainda.<br />
Batalhador infatigável, não podendo nem sabendo conservar-se<br />
inativo, montou ainda o major Alcebíades pela quarta vez, em 1890,<br />
nova oficina tipográfica naquela cidade, adquirindo para esse fim o<br />
material do periódico A Luta, que aparecia então na capital do Estado.<br />
Dela fez surgir, enquanto seu proprietário, a Gazeta do Codó,<br />
em 6 de novembro de 1892, a qual teve duas fases, suspendendo em<br />
1894, passando em seguida a novo proprietário, o Sr. Antônio<br />
Rodrigues de Oliveira Sobrinho.<br />
Este fez dela aparecer o Monitor Codoense, em agosto de 1894,<br />
que passou por diversas fases, à proporção que a tipografia mudava<br />
de proprietários, desaparecendo finalmente em 1908.<br />
Por esta ocasião fez dela aquisição o Sr. Ulisses de Jesus, que a<br />
vendeu a uma sociedade de cinco companheiros, entre os quais se<br />
achava ainda o major Alcebíades, vindo, por último, a tipografia chegar<br />
às mãos de Raimundo Viana, que dela fez sair em 14 de abril de<br />
1901 a Gazeta Codoense.<br />
Em conclusão, depois de tantas mudanças de proprietários,<br />
foi esta tipografia, por derradeiro, adquirida pelo ilustre Sr. coronel<br />
– 122 –
– 123 –<br />
O <strong>Maranhão</strong> <strong>Histórico</strong><br />
Manuel Ferreira Bayma, que fez dela sair, em 9 de fevereiro de 1902,<br />
o primeiro número do Comarca, jornal que ainda circula e que desde<br />
o seu aparecimento grandes e importantes benefícios tem prestado<br />
àquela localidade.<br />
Além destes que acabamos de mencionar, viram mais a luz da<br />
publicidade em Codó, entre outros cuja existência talvez desconheçamos,<br />
os seguintes jornaizinhos:<br />
A Lâmpada – em 1°. de março de 1893;<br />
A Primavera – em 10 de dezembro de 1896;<br />
O Martelo – em 10 de dezembro de 1908;<br />
O Marimbondo;<br />
A Gazeta das Moças – em março de 1882, sendo seu principal<br />
redator Alípio de Castro Marques.<br />
(5.12.1912)