PAIXÃO DE ARTISTA - Crmpr.org.br
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C<<strong>br</strong> />
om certeza, depois da introdução<<strong>br</strong> />
do microcomputador, o<<strong>br</strong> />
processo de ensino-aprendizado<<strong>br</strong> />
da medicina nunca mais foi o<<strong>br</strong> />
mesmo. Nós, os professores um pouco<<strong>br</strong> />
mais velhos e acostumados a ensinar a<<strong>br</strong> />
medicina da maneira pela qual aprendemos,<<strong>br</strong> />
podemos muitas vezes sentir<<strong>br</strong> />
dificuldades para exercer a docência<<strong>br</strong> />
com um armamentário que revolucionou<<strong>br</strong> />
o acesso ao conhecimento e<<strong>br</strong> />
facilitou a sua multiplicação.<<strong>br</strong> />
Se isto é bom ou ruim, é difícil dizer.<<strong>br</strong> />
É tudo uma questão de ponto de vista.<<strong>br</strong> />
É formidável, ao discutir um caso<<strong>br</strong> />
clínico em sala de aula, perceber que a<<strong>br</strong> />
maioria dos alunos ‘saca do bolso’ um<<strong>br</strong> />
palm top e coloca com precisão a<<strong>br</strong> />
porcentagem de aparecimento de<<strong>br</strong> />
determinada complicação de uma<<strong>br</strong> />
doença ou a lista completa dos efeitos<<strong>br</strong> />
colaterais de um medicamento em uso.<<strong>br</strong> />
Por outro lado, é desesperador orientar<<strong>br</strong> />
um trabalho de pesquisa, quando o<<strong>br</strong> />
estudante chega, curvado sob o peso<<strong>br</strong> />
de uma enorme pilha de folhas de<<strong>br</strong> />
papel, que contem, nada mais, nada<<strong>br</strong> />
menos que 7.280 referências so<strong>br</strong>e o<<strong>br</strong> />
assunto a ser estudado.<<strong>br</strong> />
Não se trata de gostar ou não<<strong>br</strong> />
porque a presença do microcomputador<<strong>br</strong> />
na vida do estudante de<<strong>br</strong> />
medicina é fato consumado. Só nos<<strong>br</strong> />
resta nos acomodarmos à situação e<<strong>br</strong> />
aprender a trabalhar com ela.<<strong>br</strong> />
Ao refletir so<strong>br</strong>e as atitudes que um<<strong>br</strong> />
professor pode tomar frente à oferta de<<strong>br</strong> />
conhecimento a ser feita ao aluno nesta<<strong>br</strong> />
situação, temos muito a aprender com<<strong>br</strong> />
o sistema imune humano que, sabiamente,<<strong>br</strong> />
transforma a ameaça de um<<strong>br</strong> />
elemento agressor (antígeno) em anticorpos<<strong>br</strong> />
e células de defesa. Todavia,<<strong>br</strong> />
para que isto ocorra, é necessário que<<strong>br</strong> />
alguns quesitos sejam preenchidos.<<strong>br</strong> />
O primeiro deles é, sem dúvida, o<<strong>br</strong> />
fato de que nosso sistema imune responde<<strong>br</strong> />
a uma dose ideal de antígeno. Quantidades<<strong>br</strong> />
muitas baixas levam à anergia; as<<strong>br</strong> />
muito altas causam tolerância. É como<<strong>br</strong> />
se o sistema imune não se “preocupasse”<<strong>br</strong> />
em responder ao muito pouco e se<<strong>br</strong> />
rendesse de imediato ao excesso. Com o<<strong>br</strong> />
conhecimento, não é diferente. Muito<<strong>br</strong> />
pouco leva a superficialidade; excesso<<strong>br</strong> />
pode causar desânimo e sensação de<<strong>br</strong> />
impotência. Como saber a dose ideal?<<strong>br</strong> />
Nas pesquisas com palavras-chave, o uso<<strong>br</strong> />
de descritores muito específicos levam o<<strong>br</strong> />
aluno a artigos superespecializados que,<<strong>br</strong> />
muitas vezes, por enfocarem um aspecto<<strong>br</strong> />
particular de determinada doença, oferecem<<strong>br</strong> />
um conhecimento fragmentado e<<strong>br</strong> />
impedindo que ele tenha uma visão mais<<strong>br</strong> />
geral do assunto. Por outro lado, descritores<<strong>br</strong> />
mais abertos como, por exemplo,<<strong>br</strong> />
aqueles que designam diagnósticos sin-<<strong>br</strong> />
drômicos, trazem um número excessivo<<strong>br</strong> />
de referências. Talvez até 7.280. Uma<<strong>br</strong> />
maneira de reduzi-las é ensinar o aluno a<<strong>br</strong> />
procurar inicialmente por artigos de revisão<<strong>br</strong> />
e, à medida que o assunto é<<strong>br</strong> />
dominado, partir para a pesquisa mais<<strong>br</strong> />
especializada.<<strong>br</strong> />
Uma segunda lição a aprender com<<strong>br</strong> />
o sistema imune é a de que a rota de<<strong>br</strong> />
administração do antígeno é importante<<strong>br</strong> />
para a sua imunogenicidade. Assim,<<strong>br</strong> />
como as vias subcutânea, oral, aérea ou<<strong>br</strong> />
intradérmica levam a maior ou menor<<strong>br</strong> />
eficiência do processo imunológico, as<<strong>br</strong> />
rotas de pesquisa na internet também<<strong>br</strong> />
trazem diferentes maneiras de se abordar<<strong>br</strong> />
o conhecimento. Pesquisas feitas em<<strong>br</strong> />
sistemas não médicos de busca como<<strong>br</strong> />
google, yahoo, etc... podem levar o aluno<<strong>br</strong> />
a páginas particulares ou mesmo de<<strong>br</strong> />
indivíduos leigos, cujo conteúdo tem<<strong>br</strong> />
valor científico duvidoso. É importante<<strong>br</strong> />
ensinar o estudante a verificar as fontes<<strong>br</strong> />
de seu material de pesquisa dando preferência<<strong>br</strong> />
àquelas que se originam em<<strong>br</strong> />
ensino<<strong>br</strong> />
universidades e órgãos de classe.<<strong>br</strong> />
Por último, é bom lem<strong>br</strong>ar que<<strong>br</strong> />
nem todos os antígenos têm capacidade<<strong>br</strong> />
de despertar a atividade imunogênica<<strong>br</strong> />
no hospedeiro. Aqueles polímeros<<strong>br</strong> />
repetitivos, mesmos grandes e<<strong>br</strong> />
de alto peso molecular não despertam<<strong>br</strong> />
o sistema imune, ao passo que, pequenas<<strong>br</strong> />
substâncias como os haptenos, que<<strong>br</strong> />
precisam se ligar a proteínas carreadoras<<strong>br</strong> />
próprias do <strong>org</strong>anismo, conseguem<<strong>br</strong> />
respostas formidáveis. Da mesma<<strong>br</strong> />
maneira, páginas maravilhosas e com<<strong>br</strong> />
alto teor científico nem sempre conseguirão<<strong>br</strong> />
despertar no aluno o interesse<<strong>br</strong> />
desejado. Todavia, aquelas que exigem<<strong>br</strong> />
um pouco da participação pessoal ou<<strong>br</strong> />
tocam n’alguma forma de interesse<<strong>br</strong> />
individual, conseguem fazê-lo. De<<strong>br</strong> />
nada adianta um maravilhoso atlas de<<strong>br</strong> />
dermatologia com fotografias de alta<<strong>br</strong> />
resolução para um aluno cujo interesse<<strong>br</strong> />
no momento é ortopedia. Entretanto,<<strong>br</strong> />
se as complicações ortopédicas estudadas<<strong>br</strong> />
resultam, por exemplo, de<<strong>br</strong> />
hanseníase, esta pode ser vista com<<strong>br</strong> />
olhos diferentes. É necessário que o<<strong>br</strong> />
professor saiba mostrar um “link”<<strong>br</strong> />
entre os assuntos nem sempre percebido<<strong>br</strong> />
pela simples visitação do local.<<strong>br</strong> />
Assim como o sistema imune pode<<strong>br</strong> />
transformar a estimulação antigênica<<strong>br</strong> />
em vacina para seu próprio proveito<<strong>br</strong> />
ou em doenças de autoimunidade,<<strong>br</strong> />
causando agressões ao corpo humano,<<strong>br</strong> />
na dependência da composição, volume<<strong>br</strong> />
e rota de administração de antígeno,<<strong>br</strong> />
também a oferta de conhecimento<<strong>br</strong> />
necessita ser dosada, selecionada e<<strong>br</strong> />
processada da maneira correta. O professor<<strong>br</strong> />
deve estar atento para que o aluno<<strong>br</strong> />
de medicina consiga apanhar aquele<<strong>br</strong> />
conhecimento oferecido na internet,<<strong>br</strong> />
selecioná-lo, incorporá-lo e transformálo<<strong>br</strong> />
de teoria em boa prática de medicina.<<strong>br</strong> />
Dr.ª Thelma L. Skare (PR).<<strong>br</strong> />
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