a pescaria da sardinha, uma prioridade da investigação - INRB
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IPIMAR Divulgação<br />
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vindo a ser consubstancia<strong>da</strong> de diversas formas,<br />
nomea<strong>da</strong>mente através do Plano de Recuperação<br />
<strong>da</strong> <strong>sardinha</strong> que conta com o envolvimento<br />
de to<strong>da</strong>s as Associações de Produtores<br />
com interesse nesta <strong>pescaria</strong>. Pretende-se ain<strong>da</strong><br />
incrementar os contactos entre investigadores e<br />
os diferentes agentes do sector <strong>da</strong> pesca através<br />
<strong>da</strong> recolha e análise dos conhecimentos e experiência<br />
dos pescadores do cerco e realizar en-<br />
FICHA TÉCNICA<br />
Edição e Proprie<strong>da</strong>de:<br />
Instituto de Investigação <strong>da</strong>s Pescas e do Mar - IPIMAR<br />
Av. de Brasília, 1449-006 LISBOA<br />
Telefone: 213 027 000 - Fax: 213 015 948<br />
Linha Azul: 213 015 899<br />
contros regulares sobre o progresso <strong>da</strong> <strong>investigação</strong><br />
dos recursos pelágicos.<br />
AGRADECIMENTOS<br />
Esta informação reflecte o trabalho desenvolvido<br />
por <strong>uma</strong> equipa de investigadores e técnicos<br />
do IPIMAR ao longo <strong>da</strong>s últimas duas déca<strong>da</strong>s.<br />
Agradecemos ain<strong>da</strong> ao colega Vítor Marques<br />
a cedência <strong>da</strong> figura 2.<br />
Março 1988 Março 1997<br />
Figura 3 - Distribuição de ovos de <strong>sardinha</strong> ao longo <strong>da</strong> costa portuguesa em Março de 1988 e Março de 1997.<br />
(Nota-se <strong>uma</strong> clara diminuição na área de desova <strong>da</strong> <strong>sardinha</strong> na zona norte do país nos anos recentes).<br />
X - Ausência de ovos; O - Presença de ovos.<br />
Internet: http://www.ipimar.pt<br />
Corpo Editorial: Carlos Costa Monteiro (Coordenador),<br />
Irineu Batista, Manuel Sobral, Manuela Falcão,<br />
Maria Hortense Afonso, Olga Moura<br />
e Teresa Gama Pereira<br />
Coordenadores de Edição: Anabela Farinha e Luís Catalan<br />
Impressão: Cromotipo, L<strong>da</strong>.<br />
Depósito Legal: 105529/96<br />
ISSN: 0873-5506<br />
Tiragem 1000 Exemplares<br />
Distribuição Gratuita<br />
A PESCARIA DA SARDINHA, UMA PRIORIDADE DA INVESTIGAÇÃO<br />
Yorgos Stratou<strong>da</strong>kis e Alexandra Silva<br />
A <strong>sardinha</strong> (Sardina pilchardus,Walbaum)<br />
é um dos recursos pesqueiros mais importantes<br />
de Portugal. Existem referências esporádicas sobre<br />
o impacte <strong>da</strong> pesca e comercialização <strong>da</strong><br />
<strong>sardinha</strong> no litoral de Portugal continental pelo<br />
menos desde o século XIV. Desde que se dispõe<br />
de informação quantitativa sobre a pesca, a<br />
<strong>sardinha</strong> constitui a<br />
principal espécie captura<strong>da</strong><br />
(mais de 40%<br />
<strong>da</strong>s capturas totais por<br />
ano), tendo atingido<br />
um máximo de 158 mil<br />
tonela<strong>da</strong>s em 1964<br />
(Fig. 1). Actualmente<br />
os desembarques de<br />
<strong>sardinha</strong>, em Portugal,<br />
ron<strong>da</strong>m as 70-80 mil<br />
tonela<strong>da</strong>s por ano e a<br />
<strong>pescaria</strong> envolve directamente<br />
um número aproximado de 3000<br />
pescadores (principalmente nas 140 traineiras)<br />
e cerca de 2500 trabalhadores na indústria<br />
transformadora (sobretudo conserveira). Em<br />
consequência dessa importância socio-<br />
-económica e <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de apoiar a<br />
administração na gestão do recurso, o estudo <strong>da</strong><br />
<strong>sardinha</strong> tem constituído tema central de<br />
<strong>investigação</strong> no IPIMAR.<br />
“A abundância do pescado era tal que além do consumo feito<br />
no país era exportado n<strong>uma</strong> grande quanti<strong>da</strong>de para o Levante<br />
(transportados 1200 milheiros de <strong>sardinha</strong>) e Reino de Aragão”<br />
Lobo CL, 1815 (referindo o período do reinado de D. João I)<br />
A <strong>sardinha</strong> tem <strong>uma</strong> ampla área de distribuição<br />
que se estende desde o sul de Marrocos/Mauritânia<br />
até ao Canal <strong>da</strong> Mancha/Mar <strong>da</strong><br />
Irlan<strong>da</strong> e desde os Açores até ao Mediterrâneo<br />
Oriental/Mar Negro. Ao longo desta zona, as<br />
<strong>pescaria</strong>s mais importantes estão situa<strong>da</strong>s na<br />
costa Marroquina (cujos desembarques ultrapassaram<br />
um milhão de<br />
tonela<strong>da</strong>s no início <strong>da</strong><br />
déca<strong>da</strong> de 90) e na<br />
Península Ibérica (100<br />
– 250 mil tonela<strong>da</strong>s<br />
por ano). Nesta última<br />
área (desde a fronteira<br />
franco-espanhola no<br />
Golfo <strong>da</strong> Biscaia até<br />
ao Golfo de Cádiz) tem-<br />
-se considerado, para<br />
efeitos de gestão, como<br />
um único stock 1 de<br />
<strong>sardinha</strong> nas águas <strong>da</strong> União Europeia, designado<br />
por stock Ibero-Atlântico. O estudo deste<br />
recurso tem sido realizado pelo CIEM (Conselho<br />
Internacional para a Exploração do Mar),<br />
do qual Portugal e Espanha fazem parte, e tem<br />
em vista propor as medi<strong>da</strong>s de gestão mais adequa<strong>da</strong>s,<br />
em função <strong>da</strong> abundância (Fig. 2) e dos<br />
níveis de exploração estimados anualmente.<br />
Considera-se que o stock apresenta, actual-<br />
1 Conjunto de indivíduos <strong>da</strong> mesma espécie com características biológicas homogéneas, reduzi<strong>da</strong> mistura com outros grupos de<br />
indivíduos <strong>da</strong> mesma espécie e capaci<strong>da</strong>de de auto-renovação.
IPIMAR Divulgação<br />
2<br />
Figura 1 - Evolução dos desembarques de <strong>sardinha</strong> em Portugal a partir de 1947.<br />
mente, um baixo nível de abundância, está intensamente<br />
explorado e muito dependente <strong>da</strong><br />
entra<strong>da</strong> anual de novos indivíduos (recrutamento).<br />
Como outros pequenos pelágicos, a<br />
<strong>sardinha</strong> alimenta-se de plâncton e as suas populações<br />
estão associa<strong>da</strong>s às principais zonas de<br />
afloramento 2 , suportando importantes <strong>pescaria</strong>s<br />
costeiras. A abundância de <strong>sardinha</strong> é eleva<strong>da</strong><br />
nestas zonas, sendo afecta<strong>da</strong> não só pelo regime<br />
de exploração mas também fortemente pelas<br />
condições ambientais. Um exemplo recente<br />
desta dinâmica é <strong>da</strong>do pela <strong>sardinha</strong> do Japão<br />
cujas capturas, sendo quase inexistentes no início<br />
<strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 70, atingiram o elevado valor<br />
de 5,5 milhões de tonela<strong>da</strong>s em 1988 e diminuíram<br />
drasticamente para 0,3 milhões de<br />
tonela<strong>da</strong>s em 1996.<br />
Nas águas portuguesas, a <strong>sardinha</strong> vive<br />
cerca de 8 anos podendo, no final do primeiro<br />
ano de vi<strong>da</strong>, atingir 15-16 cm de comprimento e<br />
reproduzir-se pela primeira vez. Tem fecundi<strong>da</strong>de<br />
eleva<strong>da</strong>, efectuando múltiplas posturas<br />
principalmente entre Outubro e Março.Tanto os<br />
<strong>da</strong>dos de capturas do século passado como os<br />
levantamentos de historiografia pesqueira dos<br />
últimos sete séculos apontam para variações<br />
apreciáveis na abundância de <strong>sardinha</strong> na costa<br />
portuguesa. Tradicionalmente, a zona norte de<br />
Portugal, local de intensa activi<strong>da</strong>de hidrológica<br />
com fenómenos regulares de afloramento<br />
costeiro, constitui o epicentro <strong>da</strong>s capturas portuguesas<br />
de <strong>sardinha</strong> e, desde que existe informação<br />
científica, sabe-se que é também <strong>uma</strong><br />
área importante de postura e concentração de<br />
juvenis.<br />
Análises recentes, comparando <strong>da</strong>dos <strong>da</strong>s<br />
últimas duas déca<strong>da</strong>s nesta zona, mostraram<br />
<strong>uma</strong> diminuição <strong>da</strong>s capturas, <strong>da</strong> área de distribuição<br />
e de postura <strong>da</strong> <strong>sardinha</strong> desde o início<br />
dos anos 90 (Fig. 3). Esta redução foi ain<strong>da</strong><br />
mais acentua<strong>da</strong> na zona <strong>da</strong> Galiza, mas imperceptível<br />
no resto de Portugal e no Golfo de<br />
Cádiz, reflectindo-se mesmo assim num decréscimo<br />
de 50% nas capturas totais do stock<br />
Ibero-Atlântico desde 1985. Refira-se, a este<br />
propósito, que alterações na abundância e distribuição<br />
de outras espécies pelágicas têm<br />
vindo também a ser regista<strong>da</strong>s na costa portuguesa,<br />
designa<strong>da</strong>mente <strong>da</strong> cavala, boga e<br />
apara-lápis.<br />
Actualmente, <strong>uma</strong> <strong>da</strong>s linhas de <strong>investigação</strong><br />
no IPIMAR consiste na descrição e explicação<br />
<strong>da</strong>s alterações observa<strong>da</strong>s na última déca<strong>da</strong><br />
no ecossistema pelágico, identificando<br />
mecanismos de interligação entre o ambiente<br />
2 Afastamento para o largo de águas superficiais costeiras (devido a ventos que sopram do Norte) que são substituí<strong>da</strong>s por massas de água<br />
profun<strong>da</strong>s mais frias e ricas em nutrientes. Na costa portuguesa este fenómeno ocorre, sobretudo, no período de Maio a Setembro.<br />
marinho, o clima e o ciclo de vi<strong>da</strong> dos recursos<br />
pelágicos. No caso específico <strong>da</strong> <strong>sardinha</strong>, estu<strong>da</strong>-se<br />
a relação entre o afloramento costeiro e<br />
a subsequente força do recrutamento, através<br />
<strong>da</strong> influência <strong>da</strong>s condições hidrológicas na sobrevivência<br />
dos ovos e larvas e na disponibili<strong>da</strong>de<br />
alimentar para os juvenis.Tenta-se também<br />
estabelecer correlações entre a abundância do<br />
recurso e as condições ambientais no último<br />
século, que possam ser incorpora<strong>da</strong>s para melhorar<br />
as previsões em termos de abundância.<br />
A revisão <strong>da</strong> delimitação do stock Ibero-<br />
-Atlântico de <strong>sardinha</strong> é outra linha de <strong>investigação</strong><br />
em curso no IPIMAR. A actual definição<br />
do stock foi estabeleci<strong>da</strong> com base num conjunto<br />
de conhecimentos biológicos, tipo de exploração<br />
e considerações administrativas. Durante<br />
a déca<strong>da</strong> de 80 esta delimitação não foi<br />
questiona<strong>da</strong>, mas as mu<strong>da</strong>nças<br />
observa<strong>da</strong>s nos anos 90, não homogéneas<br />
ao longo <strong>da</strong> área do<br />
stock, e a acumulação de informação<br />
adicional sobre a<br />
distribuição e abundância de<br />
<strong>sardinha</strong> em zonas adjacentes<br />
(França, Marrocos e Mediterrâneo<br />
Oeste) voltaram a pôr em<br />
causa a delimitação inicial. O<br />
IPIMAR está a desenvolver estudos<br />
para clarificar as ligações entre<br />
populações de <strong>sardinha</strong> no<br />
Atlântico noroeste, com base em<br />
estudos de genética, morfometria,<br />
crescimento e reprodução,<br />
usando amostras recolhi<strong>da</strong>s<br />
desde o sul <strong>da</strong> Irlan<strong>da</strong> até Marrocos<br />
e dos Açores ao Golfo de<br />
Leão.<br />
A par destas linhas de <strong>investigação</strong>,<br />
o IPIMAR está a completar<br />
a informação histórica sobre<br />
a <strong>sardinha</strong> e sua <strong>pescaria</strong><br />
(capturas e esforço de pesca, informação<br />
biológica e resultados<br />
de campanhas de <strong>investigação</strong>) e<br />
a melhorar os programas de<br />
monitorização (amostragem dos<br />
desembarques nas lotas, campa-<br />
nhas acústicas e de ictioplâncton). Os resultados<br />
destas activi<strong>da</strong>des serão gradualmente integrados<br />
nos modelos matemáticos que descrevem a<br />
dinâmica do stock Ibero-Atlântico de <strong>sardinha</strong>.<br />
Para além <strong>da</strong> redefinição dos limites do stock, <strong>da</strong><br />
descrição <strong>da</strong>s alterações espacio-temporais <strong>da</strong><br />
distribuição do recurso e <strong>da</strong> revisão <strong>da</strong> informação<br />
de base, é igualmente importante incorporar<br />
nos cálculos os erros inerentes aos <strong>da</strong>dos<br />
e aos pressupostos dos modelos. Para isso, estão<br />
a ser desenvolvidos modelos alternativos aos actualmente<br />
usados, tanto para a avaliação dos<br />
níveis históricos de abundância e exploração do<br />
recurso como para as previsões dos níveis de<br />
captura sustentáveis a curto e médio prazo.<br />
A colaboração com o sector produtivo é<br />
um factor fun<strong>da</strong>mental no estudo de qualquer<br />
recurso e, no caso particular <strong>da</strong> <strong>sardinha</strong>, tem<br />
Figura 2 -Distribuição e abundância relativa <strong>da</strong> <strong>sardinha</strong> na costa<br />
continental portuguesa e no Golfo de Cádiz (<strong>da</strong>dos obtidos<br />
na campanha de rastreio acústico, Novembro 2000).<br />
IPIMAR Divulgação<br />
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