IDENTIFICAÇÃO DE ESPÉCIES EM PRODUTOS DA PESCA - INRB
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IPIMAR Divulgação<br />
4<br />
laboratórios de diversos países europeus.<br />
Numa segunda fase, procedeuse<br />
ao estudo da influência da variação<br />
geográfica no perfil electroforético de<br />
algumas espécies (Fig. 3) e ainda ao estudo<br />
da identificação de misturas de<br />
pescado. Os resultados deste trabalho<br />
constam de uma página na Internet<br />
(www.rivo.dlo.nl/mktv/project-advancedmethods/home.htm)<br />
onde foi sumariada a informação disponível<br />
sobre as metodologias de<br />
análise e os parâmetros físicos (ponto<br />
iso-eléctrico e/ou peso molecular) das<br />
proteínas usadas na identificação de<br />
espécies. Esta base de dados de referência<br />
e outras existentes na Internet<br />
(www.cfsan.fda.gov/~frf/rfe0.html) contêm informação<br />
sobre pescado fresco e congelado<br />
(Fig. 4) e ainda sobre pescado<br />
processado termicamente e produtos<br />
derivados, de modo a permitir a rápida<br />
identificação de amostras desconhecidas<br />
sem a necessidade de obter e<br />
empregar amostras de referência.<br />
Embora os estudos iniciais de<br />
separação de proteínas recorrendo a<br />
técnicas electroforéticas datem de finais<br />
dos anos 60, subsistem ainda diversas<br />
questões que resultam do aparecimento de<br />
novos tipos de equipamento de análise e da<br />
necessidade de harmonizar metodologias entre<br />
laboratórios. É nestas áreas que o IPIMAR irá<br />
desenvolver actividade, passando ainda pela<br />
FICHA TÉCNICA<br />
Edição e Propriedade:<br />
Instituto de Investigação das Pescas e do Mar - IPIMAR<br />
Av. de Brasília, 1449-006 LISBOA<br />
Telefone: 213 027 000 - Fax: 213 015 948<br />
Linha Azul: 213 015 899<br />
Figura 4 - Página de base de dados de referência da<br />
Food and Drug Administration.<br />
resolução das dificuldades de identificação que<br />
subsistem no caso de algumas espécies filogeneticamente<br />
próximas e pela quantificação das<br />
proporções relativas de diferentes espécies incorporados<br />
em produtos de pescado.<br />
Internet: http://www.ipimar.pt<br />
Corpo Editorial: Carlos Costa Monteiro (Coordenador),<br />
Irineu Batista, Manuel Sobral, Manuela Falcão,<br />
Maria Hortense Afonso, Olga Moura<br />
e Teresa Gama Pereira<br />
Coordenadores de Edição: Anabela Farinha e Luís Catalan<br />
Impressão: Cromotipo, Lda.<br />
Depósito Legal: 105529/96<br />
ISSN: 0873-5506<br />
Tiragem 1000 Exemplares<br />
Distribuição Gratuita<br />
Divulgação Divulgação<br />
<strong>I<strong>DE</strong>NTIFICAÇÃO</strong> <strong>DE</strong> <strong>ESPÉCIES</strong> <strong>EM</strong> <strong>PRODUTOS</strong> <strong>DA</strong> <strong>PESCA</strong><br />
A importância da identificação e distinção<br />
das espécies de pescado que sofrem qualquer<br />
tipo de transformação, tem vindo a aumentar<br />
consideravelmente como forma de combater a<br />
fraude e defender o interesse do consumidor.<br />
Muitas das espécies de pescado vendidas<br />
em todo o mundo são transaccionadas sem<br />
processamento. Todavia, uma parte significativa<br />
das capturas,<br />
em particular as<br />
que são obtidas<br />
em zonas distantes<br />
dos países<br />
onde são<br />
consumidas, são<br />
processadas a<br />
bordo ou após<br />
descarga (despeladas,filetadas,<br />
congeladas).<br />
Assim, os caracteresnormalmente<br />
usados na<br />
identificação do<br />
pescado (cabeça, barbatanas, órgãos internos,<br />
etc.) são muitas vezes removidos durante o<br />
processamento e as espécies deixam de poder<br />
ser identificáveis.<br />
Em virtude das espécies de pescado,<br />
mesmo as que são filogeneticamente 1 relacionadas,<br />
poderem ter diferentes preços de mercado,<br />
é do interesse, tanto do industrial que rea-<br />
Rogério Mendes<br />
1 Espécies aparentadas, pertencentes a grupos taxonómicos próximos.<br />
ISSN 0873-5506<br />
Nº. 20 / NOV. 2001<br />
liza o seu processamento como do consumidor<br />
final, conhecer qual a espécie que estão a comprar.<br />
A adulteração dos produtos da pesca é hoje<br />
uma realidade incontornável em muitas partes<br />
do mundo e os consumidores são enganados<br />
com a substituição de espécies valiosas por alternativas<br />
mais baratas. Para agravar esta situação,<br />
as capturas das espécies de maior valor<br />
têm diminuído nos últimos anos, o que tem levado<br />
ao seu aumento<br />
de preço,<br />
tornando a sua<br />
substituição<br />
mais apetecível.<br />
Podem referir-se<br />
como exemplos<br />
as substituições<br />
de espadarte<br />
(Xiphias<br />
gladius), de tamboril<br />
(Lophius spp.)<br />
e de linguado<br />
(Solea vulgaris)<br />
por espécies muito<br />
semelhantes importadas do Pacífico e ainda<br />
as trocas que ocorrem com tunídeos e crustáceos.<br />
Outra situação é a que se verifica com<br />
os cefalópodes, cuja distinção entre lulas<br />
(género Loligo) e potas (género Illex) não oferece<br />
dificuldades, quando os exemplares se<br />
encontram inteiros, mas que se torna impossível<br />
nos produtos transformados (argolas, mantos<br />
ou conservas).
IPIMAR Divulgação<br />
2<br />
Os indivíduos<br />
de uma mesma<br />
espécie são caracterizados<br />
pela sua<br />
composição genética,<br />
a qual determina<br />
a existência<br />
de um conjunto<br />
característico de<br />
proteínas. Este facto<br />
levou a que a<br />
maioria dos métodos<br />
utilizados na diferenciação e identificação<br />
de espécies de pescado recorra a vários tipos<br />
de análise de proteínas. As técnicas electroforéticas<br />
constituem as ferramentas mais frequentemente<br />
usadas na análise de proteínas<br />
para identificação de espécies, revelando-se<br />
fiáveis e fáceis de aplicar pelos laboratórios<br />
de controlo de qualidade, sendo até ao presente,<br />
muito mais baratas do que os métodos<br />
de análise do DNA, apesar destes últimos<br />
representarem o futuro neste domínio.<br />
A técnica a aplicar depende do tipo de<br />
produto a analisar, pois o pescado pode ter sido<br />
submetido a diferentes tipos de processamento,<br />
o qual pode ter alterado a estrutura nativa das<br />
proteínas de forma diferenciada. No caso do<br />
pescado fresco e congelado, a electroforese e<br />
a focagem isoeléctrica são as técnicas de identificação<br />
de espécies mais utilizadas. Na focagem<br />
isoeléctrica as proteínas, ao serem submetidas<br />
a um campo eléctrico num gradiente de pH,<br />
migram até ao seu ponto isoeléctrico onde se<br />
Figura 1 - Equipamento usado em electroforese e focagem<br />
isoeléctrica. Padrão de distribuição de proteínas<br />
de várias espécies de pescadas. PNZ - Pescada da<br />
Novazelândia; PAS - Pescada da África do Sul;<br />
PA - Pescada do Atlântico; PSA - Pescada do<br />
Sudoeste Africano.<br />
imobilizam, permitindo assim a sua separação<br />
com grande resolução, isto é, obtém-se um<br />
padrão de distribuição das proteínas num<br />
suporte que é característico de cada espécie<br />
(Fig. 1). No que se refere à electroforese, as<br />
proteínas migram numa solução tampão a pH<br />
e força iónica constantes e a sua separação<br />
é função, basicamente, da massa molecular.<br />
No caso particular dos produtos que<br />
foram sujeitos a processamento térmico, a identificação<br />
torna-se especialmente difícil em virtude<br />
das proteínas terem sofrido uma desnaturação<br />
e precipitarem como resultado da formação<br />
entre elas de ligações químicas mais<br />
fortes. Neste caso tem que se recorrer a extracções<br />
com soluções desnaturantes em conjunto<br />
com agentes redutores para se conseguir<br />
a ruptura dessas ligações. O mesmo se passa<br />
quando o pescado é sujeito a um processo de<br />
esterilização, como o verificado no fabrico das<br />
conservas, em que as proteínas sofrem uma<br />
desnaturação mais acentuada com formação de<br />
SDS-PAGE com ExcelGel<br />
Marcador<br />
ligações muito resistentes. Quando o<br />
processamento térmico não é muito<br />
drástico é ainda possível a identificação<br />
da espécie, recorrendo a<br />
metodologias electroforéticas específicas<br />
(Fig. 2).<br />
A identificação da espécie a<br />
partir da análise do extracto aquoso<br />
do músculo pode ser efectuada por<br />
comparação directa com fotografias<br />
de géis de focagem isoeléctrica de<br />
amostras de referência. Contudo, em<br />
situações que suscitem dúvida é<br />
necessária a comparação da amostra<br />
desconhecida com amostras de referência<br />
analisadas no mesmo gel. Estas<br />
amostras de referência deverão ser<br />
retiradas de exemplares inteiros, previamente<br />
identificados por um especialista<br />
pelos seus caracteres morfológicos<br />
Granadeiro da Patagónia - Padrão<br />
Fish finger A<br />
Fish finger B<br />
Marcador<br />
Escamudo do Alasca - Padrão<br />
Fish finger C<br />
Fish finger D<br />
Marcador<br />
Granadeiro azul - Padrão<br />
Fish finger D<br />
Marcador<br />
Pescada argentina- Padrão<br />
Fish finger E<br />
Marcador<br />
Pota do Norte - Padrão<br />
Pré-frito A<br />
Marcador<br />
Pota da Novazelândia - Padrão<br />
Pré-frito B<br />
Marcador<br />
Figura 2 - Padrões de distribuição de proteínas de espécies<br />
conhecidas e de produtos transformados.<br />
externos. Este material certificado<br />
pode servir como referência durante<br />
pelo menos um ano em congelado,<br />
sem perda significativa de bandas<br />
proteicas diagnosticantes.<br />
A actividade desenvolvida no<br />
IPIMAR nesta área inscreve-se no<br />
âmbito do controlo de qualidade do<br />
pescado e visa apoiar os industriais do<br />
sector de transformação e comercialização<br />
e as actividades de inspecção,<br />
bem como, contribuir para melhorar<br />
e padronizar as técnicas analíticas.<br />
Neste sentido e no âmbito de projectos<br />
nacionais e europeus de investigação,<br />
foram desenvolvidas metodologias<br />
específicas para o pescado fresco<br />
e congelado e, igualmente, para os<br />
diferentes tipos de produtos derivados<br />
do pescado, sujeitos a processamento<br />
térmico.<br />
Todas estas metodologias foram<br />
numa, primeira fase, objecto de uma<br />
rigorosa avaliação no decurso da realização<br />
de exercícios de intercalibração<br />
que contaram com a colaboração de<br />
Figura 3 - Padrões de proteínas de linguado de diferentes<br />
proveniências geográficas.<br />
IPIMAR Divulgação<br />
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