revista concluida - Fapese
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Márcia Eliane Silva Carvalho; Aracy Losano Fontes<br />
1. Introdução<br />
Por constituírem ambientes de formação geológica<br />
recente e de grande variabilidade natural, a zona costeira<br />
apresenta ecossistemas em geral fisicamente<br />
inconsolidados e ecologicamente imaturos e complexos.<br />
Essas circunstâncias lhe conferem características<br />
de vulnerabilidade e fragilidade que, aliadas a um consumo<br />
de recursos sempre crescente e com impactos<br />
previstos de mudanças climáticas, tendem a uma situação<br />
de desequilíbrio.<br />
Dentre as atividades localizadas na zona costeira, o<br />
cultivo de camarões em cativeiro, vem crescendo rapidamente<br />
nas áreas tropicais do mundo, devido à adaptabilidade<br />
da espécie ao ambiente de cultivo e ao alto<br />
valor de mercado que o camarão tem atingido, sendo<br />
considerado uma fonte importante de renda em muitas<br />
economias em desenvolvimento.<br />
Por outro lado, a carcinicultura utiliza de forma<br />
intensa os recursos naturais, tal como ocorre com as<br />
atividades agropecuárias, e, se implementado com<br />
deficiências no seu planejamento, na instalação da sua<br />
infra-estrutura produtiva e no manejo dos principais<br />
parâmetros químicos, físicos e biológicos que lhe dão<br />
sustentação, poderá causar impactos negativos no meio<br />
ambiente de sua área de influência (DPA/MA, 2001).<br />
De acordo com Wainberg e Câmara (1998), as<br />
interações da carcinicultura marinha com o meio ambiente<br />
podem ser categorizadas em cinco tipos: de ocupação<br />
do solo, com a água, biológicas, químicas e<br />
socioeconômicas. Estas interações podem causar impactos<br />
positivos ou negativos a depender do tipo de<br />
manejo utilizado nos empreendimentos.<br />
O Nordeste, em função das condições ambientais<br />
propícias para o desenvolvimento do camarão em cativeiro,<br />
destaca-se no contexto nacional em termos de<br />
produtividade e rentabilidade.<br />
O estado de Sergipe vem acompanhando o crescimento<br />
da carcinicultura brasileira, tendo aumentado<br />
sua área produtiva de 217ha em 2001 para 637ha em<br />
2004 e crescendo em 75% o número de empreendimentos<br />
de cultivo de camarão marinho no estado entre<br />
os anos citados (ABCC, 2004; Sergipe, 2004).<br />
Desta forma, considerando que estudos sistematizados<br />
sobre o cultivo de camarão marinho ainda são<br />
incipientes no estado, o objetivo principal deste trabalho<br />
foi o de analisar a carcinicultura no litoral sergipano<br />
a partir da caracterização ambiental da zona costeira do<br />
estado, da identificação e a distribuição geográfica dos<br />
estabelecimentos de cultivo de camarão marinho, além<br />
da análise dos sistemas de cultivo, das práticas de<br />
manejo utilizadas. Foram também analisados os aspectos<br />
socioeconômicos referentes aos trabalhadores diretamente<br />
envolvidos com esta atividade.<br />
Os estudos foram conduzidos para a caracterização<br />
física e biológica dos segmentos litorâneos –<br />
interface continental, planície costeira e interface marinha<br />
– da zona costeira do estado de Sergipe, sendo<br />
realizados levantamentos bibliográficos, documentais<br />
e cartográficos.<br />
Os dados temáticos foram extraídos dos seguintes<br />
documentos: mapa geológico do estado de Sergipe na<br />
escala de 1:250.000 (1998) e de 1:50.000 (1975), ambos<br />
do Departamento Nacional de Produção Mineral<br />
(DNPM); mapa de solos do estado de Sergipe na escala<br />
de 1:400.000 (EMBRAPA, 1975); mapa da Mata<br />
Atlântica e seus ecossistemas associados elaborado<br />
pela CODISE/DRM/CEPES (SERGIPE, 1997). A partir<br />
dessa base cartográfica foram integrados os estudos já<br />
realizados por Amâncio (2001), Fontes (1990a, 1990b,<br />
1991a, 1991b, 1997, 1998, 1999a e 1999b) e Mendonça<br />
Filho (1998) sobre a zona costeira do estado de<br />
Sergipe, além da utilização de documentação<br />
aerofotográfica do estado de Sergipe na escala e 1:25.000<br />
(SEPLANTEC/UNITUR, 2003).<br />
Os dados cadastrais referentes às áreas produtoras<br />
de camarão no estado foram obtidos através de consultas<br />
realizadas na Administração Estadual do Meio<br />
Ambiente (ADEMA), na Companhia de Desenvolvimento<br />
Industrial e dos Recursos Minerais de Sergipe<br />
(CODISE) e na Secretaria Especial de Aqüicultura e<br />
Revista da <strong>Fapese</strong>, v.3, n.1, p. 87-112 jan./jun. 2007