15.05.2013 Views

revista concluida - Fapese

revista concluida - Fapese

revista concluida - Fapese

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

R e s u m o<br />

A Carcinicultura no Espaço Litorâneo Sergipano*<br />

Márcia Eliane Silva Carvalho**<br />

Aracy Losano Fontes***<br />

Revista da <strong>Fapese</strong>, v.3, n. 1, p. 87-112, jan./jun. 2007<br />

Opresente artigo visa caracterizar a carcinicultura no litoral<br />

sergipano, a partir da análise dos aspectos ambientais e<br />

socioeconômicos desta atividade, além da identificação dos<br />

sistemas de cultivo e as práticas de manejo utilizadas. Os estudos foram<br />

conduzidos, inicialmente, para a caracterização ambiental da zona costeira<br />

do estado de Sergipe, sendo realizados levantamentos bibliográficos,<br />

documentais e cartográficos. O instrumental metodológico da pesquisa<br />

empírica constou de um processo de investigação mediante a realização<br />

de ent<strong>revista</strong>s semi-estruturadas com uma amostra dos empreendedores<br />

e trabalhadores dos estabelecimentos analisados e com representantes<br />

dos órgãos ambientais locais. Oficialmente, foram identificados<br />

60 empreendimentos de carcinicultura em produção no estado<br />

(Sergipe, 2004), com área total de 636,87 hectares, distribuídos em cinco<br />

bacias hidrográficas, exceto na do rio Japaratuba. Com relação ao tamanho<br />

das unidades produtivas, 78,33% são de pequeno porte, 16,33%<br />

possuem porte médio e 5% são de grande porte. Além destes empreendimentos,<br />

outros 76 tramitam na ADEMA aguardando licenciamento. Constatou-se<br />

que o tipo de cultivo varia de semi-intensivo baixo a semi-intensivo<br />

alto e que não ocorre o manejo sustentável dos viveiros. Esta atividade<br />

revela relações ambientais, sociais e econômicas muito singulares<br />

pois, ao mesmo tempo em que alcança altos níveis de produtividade e<br />

rentabilidade, utiliza intensamente produtos primários, afetando diretamente<br />

o ambiente e apresentando uma distribuição desigual da renda<br />

entre as categorias de trabalho criadas por esta atividade.<br />

PALAVRAS-CHAVE: Carcinicultura; Zona Costeira; Estuários; Bacia<br />

hidrográfica<br />

* Síntese parcial da dissertação de mestrado intitulada “A Carcinicultura na<br />

Zona Costeira do Estado de Sergipe”, apresentada ao Núcleo de Pós-Graduação<br />

em Geografia da Universidade Federal de Sergipe, em dezembro de 2004.<br />

** Licenciada em Ciências Biológicas pela UFS, Especialista em Gestão de Recursos<br />

Hídricos e Meio Ambiente (UFS), Mestre em Geografia (NPGEO/UFS), Doutoranda<br />

em Geografia (NPGEO/UFS) e professora do Colégio de Aplicação (UFS). E-mail:<br />

marciacarvalho@ufs.br ; marciacarvalho@infonet.com.br<br />

*** Profª Drª do Departamento de Geografia e do Núcleo de Pós-Graduação em<br />

Geografia da UFS. E-mail: aracyfontes@yahoo.com.br<br />

87


88<br />

Márcia Eliane Silva Carvalho; Aracy Losano Fontes<br />

1. Introdução<br />

Por constituírem ambientes de formação geológica<br />

recente e de grande variabilidade natural, a zona costeira<br />

apresenta ecossistemas em geral fisicamente<br />

inconsolidados e ecologicamente imaturos e complexos.<br />

Essas circunstâncias lhe conferem características<br />

de vulnerabilidade e fragilidade que, aliadas a um consumo<br />

de recursos sempre crescente e com impactos<br />

previstos de mudanças climáticas, tendem a uma situação<br />

de desequilíbrio.<br />

Dentre as atividades localizadas na zona costeira, o<br />

cultivo de camarões em cativeiro, vem crescendo rapidamente<br />

nas áreas tropicais do mundo, devido à adaptabilidade<br />

da espécie ao ambiente de cultivo e ao alto<br />

valor de mercado que o camarão tem atingido, sendo<br />

considerado uma fonte importante de renda em muitas<br />

economias em desenvolvimento.<br />

Por outro lado, a carcinicultura utiliza de forma<br />

intensa os recursos naturais, tal como ocorre com as<br />

atividades agropecuárias, e, se implementado com<br />

deficiências no seu planejamento, na instalação da sua<br />

infra-estrutura produtiva e no manejo dos principais<br />

parâmetros químicos, físicos e biológicos que lhe dão<br />

sustentação, poderá causar impactos negativos no meio<br />

ambiente de sua área de influência (DPA/MA, 2001).<br />

De acordo com Wainberg e Câmara (1998), as<br />

interações da carcinicultura marinha com o meio ambiente<br />

podem ser categorizadas em cinco tipos: de ocupação<br />

do solo, com a água, biológicas, químicas e<br />

socioeconômicas. Estas interações podem causar impactos<br />

positivos ou negativos a depender do tipo de<br />

manejo utilizado nos empreendimentos.<br />

O Nordeste, em função das condições ambientais<br />

propícias para o desenvolvimento do camarão em cativeiro,<br />

destaca-se no contexto nacional em termos de<br />

produtividade e rentabilidade.<br />

O estado de Sergipe vem acompanhando o crescimento<br />

da carcinicultura brasileira, tendo aumentado<br />

sua área produtiva de 217ha em 2001 para 637ha em<br />

2004 e crescendo em 75% o número de empreendimentos<br />

de cultivo de camarão marinho no estado entre<br />

os anos citados (ABCC, 2004; Sergipe, 2004).<br />

Desta forma, considerando que estudos sistematizados<br />

sobre o cultivo de camarão marinho ainda são<br />

incipientes no estado, o objetivo principal deste trabalho<br />

foi o de analisar a carcinicultura no litoral sergipano<br />

a partir da caracterização ambiental da zona costeira do<br />

estado, da identificação e a distribuição geográfica dos<br />

estabelecimentos de cultivo de camarão marinho, além<br />

da análise dos sistemas de cultivo, das práticas de<br />

manejo utilizadas. Foram também analisados os aspectos<br />

socioeconômicos referentes aos trabalhadores diretamente<br />

envolvidos com esta atividade.<br />

Os estudos foram conduzidos para a caracterização<br />

física e biológica dos segmentos litorâneos –<br />

interface continental, planície costeira e interface marinha<br />

– da zona costeira do estado de Sergipe, sendo<br />

realizados levantamentos bibliográficos, documentais<br />

e cartográficos.<br />

Os dados temáticos foram extraídos dos seguintes<br />

documentos: mapa geológico do estado de Sergipe na<br />

escala de 1:250.000 (1998) e de 1:50.000 (1975), ambos<br />

do Departamento Nacional de Produção Mineral<br />

(DNPM); mapa de solos do estado de Sergipe na escala<br />

de 1:400.000 (EMBRAPA, 1975); mapa da Mata<br />

Atlântica e seus ecossistemas associados elaborado<br />

pela CODISE/DRM/CEPES (SERGIPE, 1997). A partir<br />

dessa base cartográfica foram integrados os estudos já<br />

realizados por Amâncio (2001), Fontes (1990a, 1990b,<br />

1991a, 1991b, 1997, 1998, 1999a e 1999b) e Mendonça<br />

Filho (1998) sobre a zona costeira do estado de<br />

Sergipe, além da utilização de documentação<br />

aerofotográfica do estado de Sergipe na escala e 1:25.000<br />

(SEPLANTEC/UNITUR, 2003).<br />

Os dados cadastrais referentes às áreas produtoras<br />

de camarão no estado foram obtidos através de consultas<br />

realizadas na Administração Estadual do Meio<br />

Ambiente (ADEMA), na Companhia de Desenvolvimento<br />

Industrial e dos Recursos Minerais de Sergipe<br />

(CODISE) e na Secretaria Especial de Aqüicultura e<br />

Revista da <strong>Fapese</strong>, v.3, n.1, p. 87-112 jan./jun. 2007


Pesca vinculada a Presidência da República (SEAP)<br />

do Ministério da Agricultura.<br />

Os trabalhos de campo foram realizados em treze<br />

empreendimentos de cultivo de camarão marinho,<br />

abrangendo os estuários dos rios São Francisco,<br />

Sergipe, Vaza-Barris, Piauí e Real. No estuário do<br />

Japaratuba, em função da existência da Reserva Biológica<br />

de Santa Isabel, não existem estabelecimentos de<br />

carcinicultura instalados.<br />

As atividades de campo, aliadas às ent<strong>revista</strong>s semiestruturadas<br />

com os trabalhadores locais e com o empreendedor<br />

e/ou responsável técnico ou administrativo<br />

constituíram a base para identificar o nível de desenvolvimento<br />

tecnológico dos sistemas de cultivo<br />

utilizados, as práticas de manejo adotadas, além dos<br />

aspectos socioeconômicos e dos aspectos ligados à produção<br />

e comercialização do camarão cultivado<br />

O recorte espacial em estudo compreende a zona<br />

costeira do estado de Sergipe que possui, aproximadamente,<br />

163 km de extensão. As coordenadas geográficas<br />

limites dessa área de transição são as latitudes<br />

de 10 o 30’ e 11 o 25’S e longitudes 36 o 25’ e 37 o 20’W,<br />

sendo interrompida apenas pelos estuários dos rios<br />

São Francisco (ao norte), Japaratuba, Sergipe, Vaza-<br />

Barris, Piauí e Real (ao sul) (Figura 01).<br />

A área em estudo está inserida na Mesorregião do<br />

Leste Sergipano compreendendo os municípios costeiros<br />

de Aracaju, Barra dos Coqueiros, Pacatuba, Estância<br />

e Itaporanga d’Ajuda e os municípios estuarinos<br />

de Santo Amaro das Brotas, São Cristóvão, Indiaroba<br />

e Nossa Senhora do Socorro<br />

A Carcinicultura no Espaço Litorâneo Sergipano<br />

2. Caracterização Ambiental da Zona Costeira<br />

Sergipana<br />

89<br />

Segundo a classificação de Ab’Saber (2001), a zona<br />

costeira do estado de Sergipe pertence ao Litoral Leste<br />

brasileiro, estando incluído no contexto da unidade<br />

geotectônica Bacia Sedimentar Sergipe/Alagoas e na<br />

feição estrutural rasa denominada Plataforma de Estância.<br />

Nestes domínios são encontrados os seguintes<br />

conjuntos litológicos: a) rochas do Complexo<br />

Granulítico de idade Arqueana; b) rochas do grupo<br />

Estância de idade Proterozóica; c) rochas da Bacia<br />

Sedimentar de Sergipe de idade Mesozóica, pertencentes<br />

à formação Serraria e aos grupos Baixo São Francisco<br />

e Sergipe; d) sedimentos do grupo Barreiras de<br />

idade Pliocênica e Pleistocênica; e) sedimentos marinhos,<br />

fluviomarinhos, eólicos, fluviolagunares, alúviocoluvionares<br />

e halomórficos de mangue, de idade<br />

Quaternária.<br />

Em relação às condições climatológicas, o estado<br />

de Sergipe, localizado na porção oriental da região<br />

Nordeste, está sob a influência das massas de ar Tropical<br />

Atlântica (mTa) e Equatorial Atlântica (mEa) e<br />

de sistemas frontológicos que se individualizam na<br />

Frente Polar Atlântica (FPA) e nas Correntes Perturbadas<br />

de Leste (Ondas de Leste) que são decisivas na<br />

manutenção de um regime pluviométrico caracterizado<br />

por chuvas mais abundantes no período outono/<br />

inverno.<br />

Os ventos alísios oriundos do centro de alta pressão<br />

do Atlântico Sul atuam durante todo o ano, variando<br />

de SE para NE, a depender do próprio deslocamento<br />

do Anticiclone.<br />

Revista da <strong>Fapese</strong>, v.3, n.1, p. 87-112, jan./jun. 2007


90<br />

Márcia Eliane Silva Carvalho; Aracy Losano Fontes<br />

Figura 1 – Localização da área de estudo.<br />

Fonte: Mapa hidrográfico de Sergipe, 1974. Adaptado de Amâncio, 2001.<br />

Revista da <strong>Fapese</strong>, v.3, n.1, p. 87-112 jan./jun. 2007


Segundo França (1998), o litoral norte é menos<br />

úmido apresentando, anualmente, de três a cinco meses<br />

secos, enquanto no litoral sul ocorre um ou dois<br />

meses secos. As maiores incidências de chuvas têm<br />

sido registradas nos municípios de Aracaju, São Cristóvão,<br />

Itaporanga d’Ajuda e Estância, com<br />

pluviosidade variando entre 1.100 mm e 1.500 mm.<br />

De acordo com Amâncio (2001), ocorrem no litoral<br />

sergipano duas estações bem definidas: uma chuvosa<br />

de abril a agosto, concentrando, geralmente, mais de<br />

70% das precipitações, e outra em que o período de<br />

estiagem ocorre de setembro a março.<br />

O regime térmico sazonal é quase uniforme, em se<br />

tratando de médias mensais, com variações térmicas<br />

pouco expressivas. Assim, ao contrário da temperatura,<br />

a pluviosidade constitui o principal elemento<br />

diferenciador do clima em Sergipe. No litoral, as brisas<br />

marítima e terrestre conferem conforto térmico nessa<br />

região de baixa altitude.<br />

A vegetação predominante dos estuários sergipanos<br />

é o manguezal que há muitos anos vem sendo convertido<br />

em salinas e posteriormente adaptado para<br />

criatório de peixes. Atualmente, estas áreas têm sido<br />

utilizadas como viveiros para aqüicultura, principalmente<br />

para cultivo de camarões.<br />

Segundo o projeto RADAM-BRASIL (1981), os<br />

manguezais recobrem cerca de 5,14% da superfície do<br />

estado de Sergipe, sendo a vegetação predominante<br />

dos estuários, podendo adentrar até 25km a partir da<br />

linha da costa.<br />

De acordo com estudos realizados pela ADEMA<br />

(1984), os bosques de Sergipe são classificados como<br />

do tipo Ribeirinho, altamente produtivos, pois os fluxos<br />

de água são intensos, aliados a grandes quantidades<br />

de nutrientes. Neste tipo de bosques, não existe<br />

problema com relação à acumulação de sais ou falta de<br />

nutrientes, já que os fluxos de água são contínuos.<br />

O segmento litorâneo sergipano compreende três<br />

setores – interface continental, planície costeira e<br />

A Carcinicultura no Espaço Litorâneo Sergipano<br />

91<br />

interface marinha – que correspondem a divisões transversais<br />

à linha de costa.<br />

- Interface Continental<br />

A interface continental está constituída, basicamente,<br />

pelos depósitos continentais do grupo Barreiras, e<br />

de forma secundária por rochas sedimentares<br />

mesozóicas da Bacia Sedimentar e do Complexo Cristalino<br />

do pré-Cambriano.<br />

A sedimentação detrítica do grupo Barreiras, de<br />

grande incidência na paisagem brasileira (do Pará ao<br />

Rio de Janeiro), é considerada por Bigarella e Andrade<br />

(1964) como o principal documento do limite pliopleistocênico<br />

no Brasil servindo, portanto, como ponto<br />

de partida para a datação relativa dos acontecimentos<br />

verificados no Quaternário.<br />

Esta interface de relevo plano a ondulado com declive<br />

regional na direção leste, corresponde ao domínio<br />

geomorfológico dos tabuleiros costeiros, modelados<br />

nos sedimentos do grupo Barreiras que se<br />

superpõem ao embasamento cristalino e aos sedimentos<br />

mesozóicos da Bacia Sedimentar SE/AL.<br />

Os tabuleiros apresentam um nível mais conservado,<br />

referente à superfície tabular, que apresenta altitudes<br />

cimeiras de 100 a 200m, onde mais incisivos são<br />

os efeitos da erosão linear pelos rios e riachos que<br />

drenam esta unidade geomorfológica. Em decorrência<br />

da presença da estrutura calcária exposta ou coroada<br />

pelo grupo Barreiras e, ainda, das condições climáticas,<br />

os tabuleiros localmente estão dissecados em colinas<br />

de topos convexos e planos, eventualmente aguçados.<br />

O contato dos tabuleiros costeiros com a planície<br />

costeira processa-se através de linha de falésia fóssil<br />

de altitude variável definindo, assim, sua condição de<br />

borda de tabuleiro entalhada. A litologia e os processos<br />

morfoclimáticos atuais e pretéritos condicionaram<br />

os processos de esculturação das encostas, não excluindo<br />

o efeito dos falhamentos e basculamentos que<br />

ocorreram na área da Bacia Sedimentar.<br />

Revista da <strong>Fapese</strong>, v.3, n.1, p. 87-112, jan./jun. 2007


92<br />

Márcia Eliane Silva Carvalho; Aracy Losano Fontes<br />

As condições gerais do relevo e o substrato<br />

sedimentar favoreceram a formação de solos minerais,<br />

não hidromórficos, onde dominam o latossolo vermelho-amarelo<br />

de baixa fertilidade natural, o argissolo<br />

vermelho-amarelo que se destaca pelo horizonte B<br />

textural e o neossolo quartzarênico, com predominância<br />

de quartzo na sua composição mineralógica. De<br />

modo geral, os solos são porosos e ácidos, de baixa<br />

fertilidade natural e textura variável, com dominância<br />

arenosa.<br />

- Planície Costeira<br />

Desenvolvendo-se a leste dos tabuleiros costeiros<br />

esculpidos no grupo Barreiras, a planície costeira que<br />

integra a zona costeira do estado de Sergipe segue o<br />

modelo clássico das costas que avançam em direção<br />

ao oceano, em decorrência do acréscimo de sedimentos<br />

mais novos, em que cada crista de praia representa<br />

depósito individualizado associado a uma antiga linha<br />

de praia (Dominguez et.al, 1992).<br />

Este segmento litorâneo ocupa uma faixa<br />

descontínua, assimétrica e alongada no sentido NE –<br />

SE ao longo do litoral e tem maior expressão areal na<br />

dependência do recuo dos tabuleiros costeiros. Ao<br />

norte do estado é mais ampla, condicionada pela feição<br />

deltaica do rio São Francisco.<br />

Os domínios ambientais – terraços marinhos, dunas<br />

costeiras e estuários – refletem as influências dos<br />

processos de origem marinha, eólica e fluviomarinha<br />

em decorrência das condições ambientais variáveis<br />

durante o Quaternário.<br />

Ocupando a parte mais interna da planície costeira<br />

são encontrados os terraços marinhos<br />

pleistocênicos, associados a um importante episódio<br />

transregressivo do mar, denominado por Martin et al<br />

(1980) de Penúltima Transgressão. Esses terraços<br />

apresentam, na superfície, vestígios de cordões litorâneos,<br />

remanescentes de antigas cristas de praia,<br />

parcialmente retrabalhados pela ação eólica ou<br />

semifixados pela vegetação herbáceo-arbustiva de<br />

restinga.<br />

A granulométrica dos sedimentos que constituem<br />

esses terraços de 6 a 8 m de altitude está representada<br />

em função de três componentes: areias médias, finas e<br />

muito finas, de intervalos 1-2, 2-3 e 3-4 Æ, respectivamente<br />

(Fontes, 1987; 1988; 1990ª; 1998; Mendonça<br />

Filho, 1998). Esta superfície arenosa expande-se lateralmente,<br />

chegando a alcançar os vales dos rios<br />

Japaratuba, Sergipe, Vaza Barris e Piauí, sendo ocupada<br />

por coqueirais produtivos.<br />

Em alguns locais os terraços são interrompidos por<br />

cursos de água sazonais que sulcam os flancos dos<br />

tabuleiros, indo alimentar as lagoas e a baixada pantanosa<br />

adjacente. Seccionando esses terraços mais antigos<br />

são encontrados ainda paleocanais de maré parcialmente<br />

colmatados, onde atualmente predomina a<br />

vegetação de pântano.<br />

Os terraços holocênicos, com altitudes variando de<br />

alguns centímetros até cerca de 4 metros acima do nível<br />

médio atual do mar, formam uma faixa praticamente<br />

contínua na margem oceânica, interrompendose<br />

apenas nas desembocaduras dos rios e riachos que<br />

drenam a planície costeira., Muito embora os cordões<br />

litorâneos ocorram nesta formação holocênica, sua<br />

continuidade é interrompida pela mobilidade das dunas<br />

litorâneas ativas que avançam para o interior em<br />

faixas de largura variável e pela ação antrópica.<br />

Apoiados na plataforma continental, os cordões litorâneos<br />

mostram progressivo desenvolvimento que conduz<br />

ao alargamento dos perfis longitudinais dos rios, criando<br />

problemas para a drenagem da planície costeira.<br />

Completam a paisagem dos terraços marinhos<br />

pleistocênicos e holocênicos as dunas sub-atuais<br />

mantidas por uma vegetação psamófila, que<br />

obstaculariza os efeitos da defleção eólica e as dunas<br />

sub-recentes, ainda ativas, respectivamente. Na aba sul<br />

da feição deltaica do rio São Francisco e no litoral sul<br />

do estado os campos de dunas costeiras são mais notáveis.<br />

Os solos mais característicos desses sub-ambientes<br />

são o neossolo quartzarênico e o espodossolo,<br />

que são excessivamente drenados, extremamente ácidos<br />

e de baixa fertilidade natural.<br />

Revista da <strong>Fapese</strong>, v.3, n.1, p. 87-112 jan./jun. 2007


Neste segmento litorâneo são típicos os ambientes<br />

estuarinos do estado – São Francisco, Japaratuba,<br />

Sergipe, Vaza Barris, Piauí/Real, que se formaram durante<br />

a transgressão do mar no Holoceno e encerram<br />

em seus limites inferiores a interface marinha.<br />

Sistema Estuarino-Lagunar do rio São Francisco<br />

em Sergipe<br />

Esse sistema ou complexo indica ambiente de planície<br />

costeira composto por uma rede de canais interligados<br />

entre si e com o oceano recebendo descarga fluvial.<br />

Ocupando a faixa litorânea com largura de 5km e<br />

extensão de 25km entre a desembocadura do rio São<br />

Francisco e a localidade de Ponta dos Mangues (município<br />

de Pacatuba), parte da planície costeira holocênica<br />

é constituída por uma sucessão de ilhas – Arambipe,<br />

Sal, Capim, Cruz, Esperança, Cacimba, Flores, Feijão<br />

e Funil – destacadas do continente por canais de maré<br />

(Fontes, 1990a). No interior das ilhas são visualizados<br />

testemunhos antigos de pontais arenosos (spits), imobilizados<br />

pela propagação da linha de costa, que abrigam<br />

nas porções mais internas solos halomórficos sob<br />

a influência das marés, com vegetação característica<br />

de mangue.<br />

Flanqueando os canais de Parapuca e Poço ocorre<br />

maior desenvolvimento dos manguezais, que ocupam<br />

uma área de 21,68km2 . A Rhizophora mangle é a espécie<br />

dominante, adaptando-se bem a este ambiente por<br />

possuir raízes-escora que permitem a sua fixação em<br />

sedimentos fisicamente inconsolidados (Fontes, 1999b).<br />

Os canais de maré têm seu fluxo d’água regido,<br />

principalmente, pelo regime das mesomarés e um gradiente<br />

hialino crescente do canal de Parapuca (margem<br />

direita do rio São Francisco) em direção a Barra<br />

Nova (canal do Poço), por receber mais diretamente a<br />

influência das águas oceânicas.<br />

Parcela significativa dos manguezais desta região<br />

vem sendo desmatada para construção de viveiros (piscicultura<br />

e carcinicultura) e salinas, resultando em<br />

mudanças no padrão hidrodinâmico do manguezal.<br />

A Carcinicultura no Espaço Litorâneo Sergipano<br />

93<br />

Formando uma faixa praticamente contínua na<br />

margem oceânica holocênica, a ilha-barreira possui<br />

15km de extensão e largura média de 300m. A presença<br />

dessa barreira arenosa, com espessura de 126m,<br />

constituída por uma camada de areia de textura grossa,<br />

amarelada, hialina sobreposta a uma outra, formada<br />

por argila cinza, escura e plástica, conforme testemunho<br />

do poço 2–ARA–1– SE perfurado pela<br />

Petrobrás, isola o canal do Poço do oceano. Decorrente<br />

de suas características geomórficas, o canal apresenta<br />

comportamento hidrodinâmico semelhante ao de uma<br />

laguna (Fontes, 1990a).<br />

Estuário do rio Japaratuba<br />

A bacia estuarina do rio Japaratuba apresenta conexão<br />

restrita com o oceano adjacente, sendo influenciada<br />

pelo prisma de maré até 6km, que promove a<br />

mistura entre a água do mar e a água doce proveniente<br />

da drenagem terrestre, atestada pela vegetação de mangue<br />

e pela diminuição do volume de água na baixamar.<br />

De acordo com os eventos geológicos e geomorfólogicos<br />

que ocorreram durante a sua formação, o tipo<br />

fisiográfico do estuário é o construído por barra, segundo<br />

a classificação de Miranda et al. (2002).<br />

O sistema hidrográfico do rio Japaratuba, desenvolvido<br />

em rochas do complexo cristalino e da bacia<br />

sedimentar Sergipe/Alagoas, que alimenta esse estuário,<br />

apresenta descarga variável de acordo com as estações<br />

do ano, ocasionando alterações sazonais na geometria<br />

da entrada (barra), entre os municípios de Barra<br />

dos Coqueiros e Pirambu.<br />

A região estuarina, onde se inclui o canal do<br />

Pomonga que foi construído no século XIX, está ocupada<br />

em sua área de inundação pela planície de maré<br />

inferior, colonizada pela vegetação arbórea e/ou<br />

arborescente composta pelas angiospermas<br />

Rhizophora mangle, Laguncularia racemosa,<br />

Avicennia germinans e Conocarpus eretus, que ocupam<br />

área de 10,33km2 (Fontes, 1999b). Na planície<br />

de maré superior a vegetação herbácea restringe-se a<br />

pequenas manchas de Spartina sp e Sporobulus<br />

Revista da <strong>Fapese</strong>, v.3, n.1, p. 87-112, jan./jun. 2007


94<br />

Márcia Eliane Silva Carvalho; Aracy Losano Fontes<br />

virginicus, quase sempre presentes na área mais elevada,<br />

denominada apicum.<br />

A tensão antrópica nesse ecossistema manguezal é resultante<br />

da sua conversão para agricultura, estradas<br />

vicinais, habitações, aqüicultura – como observado ao longo<br />

do Canal do Pomonga (povoados Touro e Canal) – e poluição<br />

das águas pelas descargas de efluentes químicos.<br />

Estuário do rio Sergipe<br />

O estuário do rio Sergipe, definido em função dos<br />

níveis médios de penetração da maré e ocorrência de<br />

manguezal, abrange uma extensão de 44km a partir da<br />

confluência com o rio Jacarecica, no estuário superior,<br />

até a desembocadura, entre as cidades de Aracaju e<br />

Barra dos Coqueiros. É alimentado por mananciais<br />

afluentes do rio Sergipe, destacando-se, pela margem<br />

direita, os rios Cotinguiba, Sal, Poxim e Pitanga e, pela<br />

margem esquerda, os rios Pomonga, Parnamirim, Limoeiro,<br />

Babaçu e Ganhamoroba.<br />

Em decorrência da troca eficiente entre as águas do<br />

rio e a do mar, devido ao processo de difusão turbulenta,<br />

a estratificação de salinidade é diferente do tipo<br />

cunha salina em que esse processo é desprezível. A<br />

modulação quinzenal da maré, entre as fases de<br />

quadratura e de sizígia, submete os estuários parcialmente<br />

misturados a processos cíclicos de intensificação<br />

e relaxamento da estratificação vertical de<br />

salinidade, respectivamente (Miranda et al., 2002).<br />

A estrutura do manguezal predominante é a de<br />

bosque ribeirinho, ocupando área de 54,96km2 (Fontes,<br />

1999b), constituído pelas espécies Rhizophora<br />

mangle, de maior desenvolvimento na margem<br />

estuarina com declive suave dos rios, Laguncularia<br />

racemosa e Avicennia germinans, melhores adaptadas<br />

onde os sedimentos são mais arenosos e com menor<br />

freqüência de inundação pelas marés.<br />

Por localizar-se na região central da capital<br />

aracajuana, área densamente ocupada, vastas áreas de<br />

manguezal foram suprimidas em função da urbanização<br />

da capital.<br />

Além destes impactos destacam-se o desmatamento<br />

e os aterros para projetos imobiliários e de turismo,<br />

agricultura, aqüicultura (piscicultura e carcinicultura),<br />

salinas, estradas, dentre outros.<br />

Considerada como uma área inóspita colonizada<br />

por manguezais, a Coroa do Meio, denominação atribuída<br />

ao conjunto de solos criados em antigas coroas<br />

de depósitos fluviomarinhos no estuário inferior, a<br />

partir de 1975 sofreu alterações significativas no seu<br />

quadro ambiental a fim de ser integrada a cidade de<br />

Aracaju. No entanto, a urbanização planejada para o<br />

novo bairro não conseguiu harmonizar a intervenção<br />

humana e o meio ambiente estuarino.<br />

Estuário do rio Vaza Barris<br />

A bacia costeira do rio Vaza Barris abrange partes<br />

dos municípios de Itaporanga d’Ajuda, São Cristóvão<br />

e Aracaju, num total de 115km2 . Em relação à geologia,<br />

cobre o extremo sul da fossa tectônica que define<br />

a bacia Sergipe/Alagoas e o extremo nordeste da Plataforma<br />

de Estância. A falha de Itaporanga separa as<br />

duas feições estruturais e constitui, localmente, a mais<br />

forte evidência de tectonismo que afetou a região no<br />

Cretáceo Inferior.<br />

O estuário, com cerca de 20km de extensão, é alimentado<br />

por afluentes, destacando-se, pela margem<br />

direita, o rio Tejupeba e os riachos Água Boa e Paruí e,<br />

pela margem esquerda, o rio Santa Maria.<br />

O prisma de maré, ou seja, o volume de água do<br />

mar que entra no estuário durante a preamar, principalmente<br />

no verão, propiciou o desenvolvimento de<br />

diversas ilhas de tamanhos variados – Caramindó,<br />

Veiga, Góis, Grande, Pequena, Saco, Gameleira, Paiva,<br />

Cabras, Nova, Vagem, Mém de Sá, Jibóia, Fundão,<br />

Abrete e Urubu, colonizadas, em parte, pela vegetação<br />

de mangue (Fontes, 1988).<br />

Ao longo da bacia estuarina, o comportamento<br />

morfológico modifica-se caracterizando zonas distintas.<br />

As diferenças topográficas relacionadas com a largura,<br />

profundidade e a forma dos canais mostram di-<br />

Revista da <strong>Fapese</strong>, v.3, n.1, p. 87-112 jan./jun. 2007


ferentes níveis de atuação dos mecanismos dinâmicos<br />

do ambiente costeiro.<br />

No estuário inferior, onde se faz marcante a influência<br />

marinha, o vale é bastante amplo, ocupando toda a<br />

seção estuarina. A hidrodinâmica, com a ação das ondas<br />

e das correntes litorâneas presentes nesta porção<br />

mais aberta do estuário, inibe o desenvolvimento dos<br />

manguezais, acarretando uma mobilidade significativa<br />

dos bancos arenosos e erosão na sua desembocadura.<br />

Nas porções mediana e superior do estuário os canais<br />

vão ficando mais estreitos e rasos, adquirindo<br />

formas mais estabilizadas em resposta ao maior preenchimento<br />

sedimentar típico de um padrão “tidal”, assemelhando-se<br />

a um delta estuarial.<br />

Nesse ecossistema mixohalino ocorrem os<br />

manguezais em ambiente de planície de maré inferior<br />

(slikke), ocupando área de 59,37km2 (Fontes, 1999b) e<br />

o apicum, presente na planície de maré superior (shore),<br />

compreendido entre o nível médio das preamares de<br />

sizígia e o nível médio das preamares equinociais.<br />

Dentre as atividades antrópicas verificadas no sistema<br />

estuarino, chama a atenção a existência de viveiros<br />

e tanques para o cultivo de camarão nas franjas<br />

dos mangues e os desmatamentos ao longo das margens<br />

e no interior das ilhas, relacionados com os empreendimentos<br />

imobiliários, locações da Petrobrás,<br />

construção de acessos como os que ligam as terras<br />

altas formadas pelo grupo Barreiras e as terras baixas<br />

constituídas pelos terraços marinhos, na ilha do Veiga.<br />

O Sistema Estuarino Piauí/Real<br />

O rio Piauí, com 132km de extensão, abrange áreas<br />

das microrregiões geográficas do Agreste de Lagarto e<br />

Litoral Sul sergipano, desaguando entre os municípios<br />

de Estância (Sergipe) e Jandaíra (povoado Mangue<br />

Seco/Bahia), após a confluência com os rios Fundo,<br />

pela margem esquerda, e Real, pela margem direita.<br />

O complexo estuarino Piauí/Fundo/Real abrange<br />

partes dos municípios de Itaporanga d’Ajuda, Estân-<br />

A Carcinicultura no Espaço Litorâneo Sergipano<br />

95<br />

cia, Santa Luzia do Itanhy, Indiaroba e Jandaíra. Geologicamente<br />

está localizado, sobretudo, na feição estrutural<br />

rasa denominada Plataforma de Estância. Essa<br />

estrutura capeada por delgado pacote sedimentar do<br />

Cretáceo, Terciário e Quaternário corresponde a uma<br />

extensão do embasamento cristalino em posição estrutural<br />

alta em relação à fossa tectônica que caracteriza<br />

a Bacia Sedimentar Sergipe/Alagoas.<br />

De acordo com a ADEMA (1984), os estuários dos<br />

rios Piauí e Real podem ser analisadas em conjunto,<br />

pois se apresentam geograficamente próximos e com<br />

características ambientais semelhantes. Estes estuários<br />

são os mais ricos em termos de manguezais e produção<br />

pesqueira de peixes e caranguejo-uçá no estado<br />

de Sergipe.<br />

O ecossistema manguezal, com área de 75,53km2 (Fontes, 1999b), ocorre ao longo da bacia estuarina,<br />

com maior desenvolvimento no sistema hidrográfico<br />

Piauí/Fundo. A planície de maré superior (shore) ocorre<br />

no médio litoral superior e representa antigos domínios<br />

dos manguezais, que decorrente dos eventos<br />

progradantes deixaram de receber regularmente as<br />

águas das marés, sendo bastante influenciados pelas<br />

condições continentais. A vegetação herbácea restringe-se<br />

a pequenas manchas de Spartina sp que por vezes<br />

aparece na área mais frontal do mangue e<br />

Sporobulus virginicus, quase sempre presente na região<br />

mais alta denominada apicum, a exemplo da ilha<br />

da Tartaruga.<br />

Os fatores abióticos fundamentais neste<br />

microambiente de apicum são os elevados valores de<br />

salinidade intersticial, intensa evaporação e a forte<br />

desidratação dos sedimentos. Finas crostas de sal podem<br />

ser observadas nas folhas do Conocarpus eretus,<br />

na Ilha da Tartaruga.<br />

O ecossistema mixohalino, particular da planície<br />

de maré inferior, é individualizado pela associação<br />

vegetal halofítica, onde são encontradas as espécies<br />

Rhizophora mangle, Laguncularia racemosa e<br />

Avicennia germanis, sem uma zonação definida. Nesse<br />

ecossistema observa-se, ainda, uma zona despro-<br />

Revista da <strong>Fapese</strong>, v.3, n.1, p. 87-112, jan./jun. 2007


96<br />

Márcia Eliane Silva Carvalho; Aracy Losano Fontes<br />

vida de vegetação vascular (lavado) cujos limites são<br />

definidos entre o nível médio das baixamares extremas<br />

de sizígia e o nível médio das preamares de<br />

quadratura. A vegetação restringe-se a algas podendo,<br />

ocasionalmente, serem encontradas plântulas de<br />

mangue fixadas, mas que não conseguem atingir estágios<br />

de crescimento mais adiantados. O substrato é<br />

síltico-argiloso e forma uma faixa contínua no estuário<br />

inferior.<br />

Os manguezais desse sistema estuarino estão sujeitos<br />

a tensores naturais e antrópicos com conseqüências<br />

imediatas para a zona costeira. Dentre os principais<br />

tensores destaca-se o desmatamento dos bosques<br />

de mangue e a sua conversão para agricultura,<br />

infra-estrutura habitacional, viveiros para aqüicultura<br />

(piscicultura e carcinicultura), estradas etc, que causam<br />

mudanças no padrão hidrodinâmico do<br />

manguezal, com diminuição da produtividade e qualidade<br />

de vida da população dependente deste<br />

ecossistema.<br />

- Interface Marinha<br />

As margens continentais, que correspondem à<br />

interface marinha, representam a zona de transição<br />

entre os continentes e as bacias oceânicas e, do ponto<br />

de vista geológico, fazem parte do continente, muito<br />

embora situem-se abaixo do nível do mar.<br />

Na zona costeira do estado de Sergipe, a plataforma<br />

continental interna, entre os rios São Francisco e<br />

Real, apresenta grandes variações de largura devido a<br />

presença dos canyons do São Francisco, Sapucaia,<br />

Japaratuba, Vaza Barris e Real (Coutinho, 1995).<br />

Em decorrência do conjunto dessas feições<br />

erosivas, a plataforma continental interna do estado<br />

alarga-se de 22km, ao sul do rio São Francisco, para<br />

35km e logo em seguida fica reduzida a 12km devido a<br />

presença do canyon do Sapucaia, voltando a alargarse<br />

para 28km defronte a Aracaju. A partir da foz do<br />

rio Vaza Barris, até as proximidades de Salvador, a<br />

largura mantém-se em torno de 20km. Os valores mínimos<br />

da profundidade da linha de quebra da plata-<br />

forma correspondem às frentes dos canyons. A<br />

declividade média alcança o valor de 1:100 (10m/km)<br />

ao longo da zona costeira de Aracaju.<br />

A sedimentação na plataforma reflete a geologia da<br />

parte emersa adjacente, clima, drenagem e arcabouço<br />

estrutural. Os sedimentos terrígenos são relíquias<br />

oriundas da sedimentação continental em regime<br />

subaéreo com nível eustático abaixo do atual, exceto<br />

ao longo do rio São Francisco, onde ocorre a sedimentação<br />

moderna até 10km da costa (Coutinho, 1995).<br />

Os processos morfodinâmicos que atuam na linha<br />

de costa representados por ações naturais físicas são<br />

basicamente gerados pela ação das ondas, correntes<br />

costeiras e marés, que exercem influência na modelagem<br />

costeira, seja através da ação destrutiva (erosão)<br />

em determinados locais ou da ação construtiva em<br />

outros (deposição), como observado na orla marítima<br />

do estado. As ondas constituem um dos processos<br />

marinhos mais efetivos no selecionamento e<br />

redistribuição dos sedimentos depositados nas regiões<br />

costeiras e plataforma continental interna.<br />

A forma de arrebentação das ondas na zona costeira<br />

do estado depende do gradiente do fundo próximo<br />

à praia e da relação entre a altura e o comprimento da<br />

onda, conhecida como esbeltez da onda. As ondas de<br />

tempestade apresentam uma arrebentação progressiva<br />

em fundos com gradientes baixos (menor que 3o ).<br />

Quando as ondas aproximam-se da costa segundo<br />

um ângulo oblíquo, uma corrente paralela à costa desenvolve-se<br />

entre a praia e a zona de arrebentação e<br />

estabelece o transporte de sedimentos litorâneos paralelamente<br />

à linha de costa, conhecido como deriva litorânea.<br />

Por sua vez, as ondas ao aproximarem-se paralelamente<br />

à linha da costa, formam as correntes paralelas<br />

ou longitudinais (correntes longshore) e de retorno<br />

(rip), que se tornam perpendiculares ao litoral,<br />

nos locais onde as alturas das ondas são menores ou<br />

devido as irregularidades batimétricas do fundo. Essas<br />

correntes de retorno são responsáveis pelo transporte<br />

de sedimentos da praia para a região submarina<br />

adjacente.<br />

Revista da <strong>Fapese</strong>, v.3, n.1, p. 87-112 jan./jun. 2007


Outro processo efetivo de transporte de sedimentos<br />

paralelamente à costa ocorre diretamente na face<br />

de praia, pela ação do fluxo e refluxo das ondas (swash<br />

e backwash) em um padrão de zig-zag.<br />

Segundo o trabalho desenvolvido por Viana (1972),<br />

o transporte de sedimentos litorâneos ao longo da costa<br />

sergipana é de 790.000m 3 /ano, com cerca de 658.000<br />

m 3 /ano no sentido NE-SW e 132.000 m 3 /ano no senti-<br />

do inverso.<br />

Esse processo efetivo de transporte de sedimentos<br />

paralelamente à costa desenvolve-se melhor ao longo<br />

da linha de costa retilínea, como é o caso do estado de<br />

Sergipe, sendo de fundamental importância no planejamento<br />

do uso e ocupação do espaço costeiro. A interrupção<br />

da deriva litorânea através da construção de<br />

estrutura fixa, como o molhe na desembocadura do<br />

rio Sergipe (município de Barra dos Coqueiros) tem<br />

causado problemas de desequilíbrio ambiental em função<br />

do aprisionamento dos sedimentos à montante do<br />

molhe, causando a progradação artificial da planície<br />

costeira, e conseqüente déficit sedimentar a jusante,<br />

ocasionando erosão costeira na praia da Coroa do Meio.<br />

As marés que são observadas nas zonas costeiras<br />

resultam do empilhamento e amplificação das marés<br />

oceânicas, à medida que estas se movem sobre a plataforma<br />

continental e para o interior dos estuários e baías.<br />

Nestas áreas, movimentos horizontais da coluna<br />

d’água, na forma de correntes de maré, causam mudanças<br />

no nível das águas, resultando na inundação<br />

periódica das planícies de marés e manguezais.<br />

A Carcinicultura no Espaço Litorâneo Sergipano<br />

97<br />

As marés do litoral de Sergipe são semidiurnas,<br />

com dois picos de marés altas e baixas em um período<br />

de 24 horas e 50 minutos, e com amplitude entre 2 e<br />

4m (mesomarés). A máxima amplitude ocorre nos<br />

equinócios de março e setembro.<br />

3. Aspectos da Produtividade do Camarão<br />

Marinho em Sergipe:<br />

A produção comercial do camarão marinho em<br />

Sergipe teve início em meados de 1998. O tipo de cultivo<br />

é semi-intensivo e a espécie cultivada é Litopenaeus<br />

vannamei, espécie exótica adaptada às condições<br />

climatológicas locais.<br />

Segundo dados oficiais, até 2004 encontravam-se<br />

em fase de produção sessenta empreendimentos de<br />

carcinicultura em Sergipe, com área total em produção<br />

de 636,87 hectares, distribuídos em cinco bacias<br />

hidrográficas (Gráfico 01), exceto na bacia do rio<br />

Japaratuba, em virtude da existência da Reserva Biológica<br />

de Santa Isabel, conforme Resolução no 4 de 18<br />

de setembro de 1985.<br />

A bacia hidrográfica com maior número de empreendimentos<br />

de carcincicultura é a do rio Sergipe, com<br />

21 unidades produtoras de camarão cultivado, seguida<br />

pela bacia do São Francisco, com 17 unidades produtivas<br />

(Gráfico 2). Entretanto, os empreendimentos<br />

da bacia do rio Sergipe totalizam 163,1ha produtivos,<br />

enquanto na bacia do São Francisco a área produtiva<br />

encontra-se em torno de 269,27ha.<br />

Gráfico 1 - Área em produção por bacia hidrográfica em Sergipe.<br />

Fonte: CODISE, 2004. Organização: Márcia E. S. Carvalho.<br />

Revista da <strong>Fapese</strong>, v.3, n.1, p. 87-112, jan./jun. 2007


98<br />

Márcia Eliane Silva Carvalho; Aracy Losano Fontes<br />

Gráfico 2 - Empreendimentos de carcinicultura por bacia hidrográfica em Sergipe (2004).<br />

Fonte: CODISE, 2004. Organização: Márcia E. S. Carvalho.<br />

Com relação ao tamanho das unidades produtivas<br />

de camarão e tomando como base a Resolução 312/<br />

2002 do CONAMA, 78,5% dos empreendimentos são<br />

de pequeno porte (lâmina d’água inferior a 10ha);<br />

16,5% possuem porte médio (lâmina d’água entre 10 e<br />

50ha) e apenas 5% são empreendimentos de grande<br />

porte (acima de 50ha) (CODISE, 2004).<br />

Os municípios com maior número de empreendimentos<br />

de carcinicultura em produção são Pacatuba<br />

(14), Nossa Senhora do Socorro (10), Barra dos Coqueiros<br />

(8) e Itaporanga d’Ajuda (7).<br />

Por outro lado, até abril de 2004 existiam setenta e<br />

seis empreendimentos de carcinicultura marinha<br />

protocolados para avaliação ambiental do projeto, na<br />

Administração Estadual do Meio Ambiente (ADEMA).<br />

De acordo com ent<strong>revista</strong> realizada neste órgão, já foram<br />

realizadas vistorias em todos estes empreendimentos,<br />

mas ainda existem pendências em termos da legislação<br />

em vigor.<br />

Analisando o número de estabelecimentos em processo<br />

de licenciamento na ADEMA destaca-se o município<br />

sergipano de Nossa Senhora do Socorro com<br />

vinte e três processos, sendo a maioria de pequeno<br />

porte. Estância, São Cristóvão, Itaporanga d’Ajuda,<br />

Barra dos Coqueiros e Indiaroba são os outros municípios<br />

vários processos neste órgão. O município de<br />

Pacatuba, que se destaca em termos de área produtiva<br />

em Sergipe, possui apenas um empreendimento solicitando<br />

licenciamento.<br />

Dentre todos os empreendimentos citados, licenciados<br />

ou não, foram analisados treze estabelecimentos<br />

de carcinicultura no estado, abrangendo as bacias dos<br />

rios São Francisco, Sergipe, Vaza Barris, Piauí e Real<br />

(Quadro 1, Figura 2).<br />

De acordo com as ent<strong>revista</strong>s realizadas nestes<br />

empreendimentos, a produção em escala comercial é<br />

recente, a partir do ano 2000, exceto na SIBRA, que é<br />

pioneira no estado, tendo iniciado suas atividades<br />

produtivas há seis anos.<br />

Com relação ao tamanho dos empreendimentos<br />

analisados, 38,5% são de pequeno porte, ou seja, o<br />

espelho d’água em produção possui menos de 10ha;<br />

15,5% possuem porte médio (entre 10 e 50ha em produção)<br />

e 7,5% são de grande porte, com área produtiva<br />

superior a 50ha. Outros 38,5% não souberam informar<br />

a lâmina d’água produtiva.<br />

De acordo com as ent<strong>revista</strong>s realizadas, na maioria<br />

destes empreendimentos as áreas destinadas aos<br />

atuais viveiros de camarão eram utilizadas com piscicultura<br />

(38%) ou antigos coqueirais (31%) (Gráfico 3).<br />

Segundo os ent<strong>revista</strong>dos, a mudança para a<br />

carcinicultura ocorreu em função da maior<br />

lucratividade apresentada pelo cultivo do camarão.<br />

Revista da <strong>Fapese</strong>, v.3, n.1, p. 87-112 jan./jun. 2007


Quadro 1 - Empreendimentos de carcinicultura pesquisados em Sergipe (2004).<br />

A Carcinicultura no Espaço Litorâneo Sergipano<br />

Estuário Empreendimento Localidade Município Lâmina d’água No de Início da<br />

em produção viveiros produção<br />

São Francisco Sítio Boca da Barra Pov. Ponta dos Mangues Pacatuba Não informou 2 2003<br />

Ilha Chapéu Queimado Pov. Garatuba Pacatuba 8ha 2 2001<br />

Ilha do Lobato Pov. Garatuba Pacatuba 4ha 8 2000<br />

Sitio Porto do Sal Pov. Garatuba Pacatuba Não informou 3 2000<br />

Sergipe Fazenda Angelim Pov. Angelim Santo Amaro 8ha 1 2001<br />

das Brotas<br />

Fazenda Jatobá Não informada Barra dos 8ha 6 2001<br />

Coqueiros<br />

Sítio Esperança Não informada Barra dos 2ha 6 2001<br />

Coqueiros<br />

SIBRA Pov. Taiçoca de Fora N. Senhora 92ha 23 1998<br />

Empreendimentos S/A do Socorro<br />

Vaza Barris Fazenda Pedra Grande Pov. Costa do Pau d’Arco Itaporanga Não informou 4 2002<br />

d’Ajuda<br />

VIDAMAR Pov. Candeal São Cristóvão 32ha 12 2004<br />

Piauí Sítio Hawaí Pov. Farnaval Estância Não informou 2 2002<br />

Real Sítio Sobrado Pov. Cajueirinho Indiaroba Não informou 1 2003<br />

Fazenda Santa Bárbara Pov. Pontal Indiaroba 15ha 9 2002<br />

Fonte: Atividade de campo, 2004. Organização: Márcia E. S. Carvalho.<br />

99<br />

Revista da <strong>Fapese</strong>, v.3, n.1, p. 87-112, jan./jun. 2007


100<br />

Márcia Eliane Silva Carvalho; Aracy Losano Fontes<br />

Figura 2 – Localização dos empreendimentos de carcinicultura analisados no litoral sergipano.<br />

Fonte: Mapa hidrográfico de Sergipe, 1974. Atividade de campo (2004).<br />

Revista da <strong>Fapese</strong>, v.3, n.1, p. 87-112 jan./jun. 2007


4. Produtividade nos Estuários Sergipanos:<br />

Estuário do rio São Francisco<br />

De acordo com CODISE (2004) existem 17 estabelecimentos<br />

de produção de camarão cultivado neste<br />

estuário, dos quais 14 localizam-se no município de<br />

Pacatuba, totalizando 259,77ha produtivos, e 3 em<br />

Brejo Grande, com um total de 9,5ha. Estes empreendimentos<br />

correspondem a maior área produtiva do<br />

estado, totalizando 41,20% da área em produção. No<br />

entanto, apenas um empreendimento, localizado no<br />

povoado Carapitinga, município de Pacatuba, possui<br />

processo na ADEMA solicitando licenciamento.<br />

Estuário do rio Sergipe<br />

Este estuário é o segundo maior em área produtiva<br />

de camarão cultivado ocupando 25,60% dos hectares<br />

produtivos. São 21 empreendimentos de<br />

carcinicultura, sendo 10 localizadas no município de<br />

Nossa Senhora do Socorro, 8 na Barra dos Coqueiros,<br />

2 em Santo Amaro das Brotas e 1 em Aracaju.<br />

O município com maior área em produção é Nossa<br />

Senhora do Socorro, com 125,5ha de lâmina d’água<br />

produtiva, seguido pelo município de Barra dos Coqueiros,<br />

com 24,6ha produtivos.<br />

Outros trinta e oito empreendimentos de<br />

carcinicultura encontram-se com processo na ADEMA,<br />

totalizando 50% dos estabelecimentos que estão soli-<br />

A Carcinicultura no Espaço Litorâneo Sergipano<br />

Gráfico 3 - Utilização anterior das áreas destinadas aos viveiros de camarão.<br />

Fonte: Atividade de campo, 2004. Organização: Márcia E. S. Carvalho.<br />

101<br />

citando licenciamento para cultivar camarão. Destes,<br />

60,5% localizam-se no município de Nossa Senhora<br />

do Socorro, 21% na Barra dos Coqueiros, 13,2% em<br />

Santo Amaro e 5,2% em Aracaju.<br />

Estuário do rio Vaza Barris<br />

O estuário do Vaza Barris ocupa a terceira posição<br />

em termos de área produtiva no estado, com 16,80%<br />

de lâmina d’água destinada aos viveiros de camarão.<br />

Sete empreendimentos localizam-se em Indiaroba, somando<br />

37 hectares de produção, enquanto São Cristóvão<br />

apresenta apenas uma fazenda, que, no entanto,<br />

possui 70ha em produção<br />

Na ADEMA, tramitam outros 17 empreendimentos,<br />

o que corresponde a 22,4% do total dos processos<br />

que atualmente solicitam licenciamento para esta<br />

atividade.<br />

Estuário do rio Piauí<br />

Na bacia do rio Piauí existem nove unidades produtivas<br />

de camarão cultivado, ocupando o 4o lugar em<br />

termos de área produtiva do estado, com 8,25% hectares<br />

de espelho d’água em produção. Dos 52,70ha em<br />

produção, 34,5ha estão localizados no município de<br />

Estância e 18,2ha em Santa Luzia do Itanhy.<br />

Treze empreendimentos localizados neste estuário encontram-se<br />

em fase de licenciamento: dez com sede no<br />

município de Estância e três em Santa Luzia. Estas unidades<br />

totalizam 17,1% dos processos de todo o estado.<br />

Revista da <strong>Fapese</strong>, v.3, n.1, p. 87-112, jan./jun. 2007


102<br />

Márcia Eliane Silva Carvalho; Aracy Losano Fontes<br />

Estuário do rio Real<br />

O município de Indiaroba concentra os cinco empreendimentos<br />

de carcinicultura desta bacia,<br />

totalizando 52ha em produção, o que equivale a 8,15%<br />

da lâmina d’água em produção no estado.<br />

Outros sete empreendimentos aguardam o<br />

licenciamento da ADEMA, localizados no município<br />

de Indiaroba, perfazendo 9,2% dos processos para<br />

implantação de unidades produtivas de camarão cultivado<br />

no estado.<br />

5. Produção e Comercialização de Camarões Marinhos<br />

Cultivados nos Empreendimentos de<br />

Carcinicultura Estudados:<br />

Os fatores que influenciam na produtividade de um<br />

empreendimento de carcinicultura estão relacionados<br />

com as condições ambientais e de infra-estrutura da<br />

localidade onde se situa o empreendimento; adequada<br />

estrutura física do estabelecimento produtivo; suporte<br />

tecnológico e manejo sustentável da produção.<br />

As condições ambientais que interagem com a<br />

carcinicultura são as condições climáticas,<br />

hidrobiológicas e topográficas. Toda a zona costeira<br />

do Nordeste brasileiro, onde se inclui a sergipana,<br />

apresenta grande potencial para o cultivo do camarão<br />

marinho, pois possui clima quente praticamente o ano<br />

inteiro, apresentando ricos e extensos estuários propícios<br />

ao desenvolvimento do camarão.<br />

Com relação aos aspectos de infra-estrutura, a maioria<br />

dos empreendimentos sergipanos analisados possui<br />

sistema de energia elétrica para a instalação das<br />

bombas hidráulicas. O acesso ocorre por estradas<br />

vicinais de piçarra, que em época chuvosa dificulta o<br />

fluxo de transporte do camarão após despesca.<br />

Em nenhum dos estabelecimentos existe<br />

beneficiamento do camarão após despesca, por isso o<br />

mesmo deve ser rapidamente escoado, acondicionado<br />

em caixas de isopor com gelo, para os centro<br />

revendedores que, na maioria das vezes, localiza-se<br />

fora do estado.<br />

Com relação à estrutura física de uma unidade de<br />

cultivo de camarão marinho para engorda são necessários<br />

viveiros bem estruturados, tanques berçários e<br />

um local apropriado para armazenar a ração, insumos<br />

e demais equipamentos utilizados.<br />

Em geral, os viveiros de carcinicultura sergipanos<br />

seguem o padrão do formato retangular. A média de<br />

profundidade dos viveiros analisados é de 1m a 1,50m,<br />

exceto no empreendimento VIDAMAR que varia de<br />

2m a 2,20m. No outro extremo, situam-se os empreendimentos<br />

localizados no município de Pacatuba, onde<br />

os viveiros parecem valas, pois no seu centro a profundidade,<br />

às vezes, não passa de apenas 0,50m, sendo<br />

que nas proximidades das bordas alcançam profundidades<br />

entre 1m e 1,50m.<br />

Em 54% dos empreendimentos analisados, a unidade<br />

produtiva localiza-se em uma área em que não<br />

ocorre inundação pela maré, sendo o abastecimento<br />

dos viveiros realizado via bombeamento. O abastecimento<br />

em função da maré ocorre no município de<br />

Pacatuba, totalizando 31% dos estabelecimentos. Nos<br />

municípios de Estância e Itaporanga o abastecimento<br />

é misto, correspondendo a 15% dos empreendimentos<br />

avaliados.<br />

O abastecimento por bombeamento é mais oneroso,<br />

mas permite um maior controle físico químico da<br />

água do viveiro e conseqüente manejo sustentável do<br />

mesmo.<br />

Quando as larvas provêm de outros estados é necessário<br />

que inicialmente sejam acondicionadas em<br />

tanques berçários para reduzir o estresse do transporte,<br />

sendo possível avaliar a sua sanidade, permitindo<br />

a aclimatação ao ambiente de engorda (Nunes, 2000).<br />

A existência de berçários somente foi diagnosticada<br />

em dois empreendimentos – SIBRA e VIDAMAR. A<br />

fase pela qual as larvas passam no berçário representa<br />

mais um passo no desenvolvimento tecnológico pro-<br />

Revista da <strong>Fapese</strong>, v.3, n.1, p. 87-112 jan./jun. 2007


dutivo do camarão cultivado. No entanto, este procedimento<br />

não é aplicado pela maioria dos empreendimentos<br />

sergipanos pesquisados.<br />

Em Sergipe, o tipo de cultivo varia de semi-intensivo<br />

baixo, com variação da taxa de estocagem de 5 a<br />

14 camarões/m2 (em 46% dos empreendimentos analisados),<br />

a semi-intensivo alto, com densidade entre 25<br />

até 70 camarões/m2 (23% dos estabelecimentos analisados).<br />

Em 31% dos empreendimentos não foi informado<br />

qual a densidade utilizada.<br />

Os produtores do nordeste obtêm até 2,5 ciclos<br />

produtivos por ano, pois o tempo de engorda varia<br />

entre 90 e 120 dias, podendo o camarão alcançar entre<br />

11g e 14g. A taxa de sobrevivência varia de 55% a<br />

70%, sendo que a produtividade aumenta de 550 para<br />

até 4.000kg/ha/ciclo quando ocorre a aplicação de técnicas<br />

mais modernas com taxa de estocagem alta<br />

(Nunes, 2000).<br />

A produtividade no município de Pacatuba, onde<br />

o nível de tecnificação é baixo, encontra-se em torno<br />

de 550kg/ha/ciclo ao contrário do que foi diagnosticado<br />

nos outros empreendimentos que operam com maior<br />

nível tecnológico de produção, como é o caso da Fazenda<br />

Santa Bárbara, da SIBRA, e da VIDAMAR, cuja<br />

produtividade encontra-se variando de 3 a 6 toneladas<br />

por hectare produtivo.<br />

O ciclo produtivo do camarão marinho cultivado<br />

no Brasil envolve as fases de maturação, larvicultura e<br />

engorda. Em Sergipe somente foram diagnosticadas<br />

unidades produtivas de engorda de camarão da espécie<br />

Litopenaeus vannamei.<br />

Devido à inexistência de larviculturas em Sergipe,<br />

a maioria dos empreendedores ent<strong>revista</strong>dos (70%)<br />

adquire as larvas da LUSOMAR, empresa baiana, localizada<br />

no município de Jandaíra, próximo ao município<br />

sergipano de Indiaroba. Esta empresa encontrase<br />

há vários anos no mercado possuindo em sua estrutura<br />

unidades de larvicultura, engorda e<br />

beneficiamento do camarão por ela cultivado e/ou proveniente<br />

de outros empreendimentos. Possui também<br />

A Carcinicultura no Espaço Litorâneo Sergipano<br />

103<br />

um comprovado sistema de qualidade na produção<br />

das larvas que serão utilizadas nas unidades de engorda<br />

destinadas, principalmente, para a região Nordeste.<br />

Outros 20% dos empreendimentos analisados adquirem<br />

as larvas da NETUNO (sediada em Recife) e<br />

10% compram tanto da MARICULTURA, com sede<br />

no estado da Bahia, quanto da AQUAMAR do Rio<br />

Grande do Norte.<br />

Em todos os empreendimentos analisados são colocadas<br />

telas para impedir a fuga dos espécimes cultivados,<br />

bem como para inibir a entrada de predadores<br />

naturais de camarões. No entanto, este procedimento<br />

não impede que no momento da despesca ocorra a<br />

fuga de camarões cultivados para o ambiente externo<br />

ao viveiro. As conseqüências para este fato ainda não<br />

foram diagnosticadas.<br />

A avaliação do estado sanitário do plantel ocorre<br />

mediante análise do comportamento dos camarões e<br />

através da realização da biometria, que consiste em<br />

uma amostragem das espécies por viveiros para serem<br />

pesadas e medidas sendo então possível avaliar o grau<br />

de desenvolvimento e o estado sanitário dos camarões.<br />

A biometria deve ocorrer semanalmente para avaliar<br />

o crescimento do camarão, bem como seu estado de<br />

saúde. Segundo os proprietários e responsáveis técnicos<br />

e/ou administrativos ent<strong>revista</strong>dos, este procedimento<br />

é realizado nos médios e grandes empreendimentos<br />

sergipanos analisados. Nos pequenos empreendimentos<br />

a biometria somente é realizada no último<br />

mês de engorda, visando apenas avaliar se o camarão<br />

já está apto para ser comercializado em função do peso.<br />

Este fato demonstra um manejo inadequado do cultivo,<br />

que poderá trazer conseqüências negativas tanto<br />

para o cultivo e consumo quanto para o estuário adjacente.<br />

A utilização de aeração artificial traz como benefícios<br />

uma maior estabilização dos parâmetros<br />

hidrobiológicos; redução da taxa de renovação da água<br />

Revista da <strong>Fapese</strong>, v.3, n.1, p. 87-112, jan./jun. 2007


104<br />

Márcia Eliane Silva Carvalho; Aracy Losano Fontes<br />

dos viveiros, favorecendo o equilíbrio com o ambiente<br />

estuarino; e intensificação dos cultivos, sem correr o<br />

risco de provocar depleção do oxigênio (Rocha, 1998).<br />

O uso de aeração artificial somente foi diagnosticado<br />

em 38,5% dos empreendimentos que operam com<br />

densidades superiores a 15camarões/m2 . Nas demais<br />

unidades produtivas não ocorre a aeração artificial. fato<br />

relacionado com a baixa densidade de estocagem e pelo<br />

fato dos aeradores terem um custo muito elevado.<br />

Outro aspecto fundamental, relacionado ao manejo<br />

sustentável de um cultivo aqüícola, refere-se a forma<br />

de alimentação da espécie. Em cativeiro, visando o<br />

crescimento rápido do camarão, é utilizada ração como<br />

principal fonte alimentar.<br />

O arraçoamento, ou seja, o oferecimento da ração,<br />

pode ser realizado por voleio, onde o alimento é lançado<br />

diretamente no viveiro, ou através de bandejas<br />

ou comedouros fixos na proporção de uma bandeja/<br />

ha para cada um camarão/m2 , no qual a ração é depositada<br />

e levada para o fundo do viveiro, diminuindo o<br />

excesso de ração e conseqüente processo de<br />

eutrofização do viveiro (Nunes, 2003).<br />

Entre os empreendimentos ent<strong>revista</strong>dos, 54% fazem<br />

o arraçoamento misto, ou seja, através de voleio e<br />

por bandejas; 31% oferecem a ração por voleio e apenas<br />

15% fazem o arraçoamento através de bandejas.<br />

Estes dados demonstram a não adoção de técnicas mais<br />

modernas de cultivo que visam a sustentabilidade do<br />

mesmo.<br />

A ração utilizada por 70% dos empreendimentos é<br />

proveniente da empresa SIBRA, cuja fábrica localizase<br />

no município sergipano de Propriá, fato relacionado<br />

com o menor custo da ração, por localizar-se no<br />

mesmo estado e por confiarem nesta empresa, pioneira<br />

no ramo da carcinicultura no estado.<br />

Com relação a despesca, esta deve ser realizada<br />

preferencialmente à noite, pois as temperaturas estão<br />

mais amenas, reduzindo o estresse dos animais e o<br />

risco de mortalidade em função do sol (Rocha, 1998;<br />

Saint-Brisson, 1999). No entanto, nos estabelecimentos<br />

analisados somente 15,4% realizam despesca à<br />

noite, pois evita uma possível morte do camarão em<br />

função do calor. Em 8,0% dos estabelecimentos a<br />

despesca ocorre em qualquer horário independente<br />

da maré vazante. Nos demais empreendimentos o horário<br />

da despesca é variável, não importando o sol,<br />

mas sim o horário da maré vazante.<br />

As análises dos parâmetros físico-químicos<br />

objetivam manter a qualidade da água do viveiro adequada<br />

ao desenvolvimento do camarão, corrigindo os<br />

excessos ou carências dos fatores analisados. Dentre<br />

eles, devem ser analisados diariamente o pH, a temperatura,<br />

a salinidade, a transparência e o oxigênio dissolvido.<br />

Semanalmente deve-se avaliar a concentração<br />

de nitrato, nitrito e amônia (DPA/MA, 2001).<br />

As unidades produtoras de camarão analisadas<br />

nesta pesquisa, de médio e grande porte, avaliam os<br />

parâmetros citados acima, mas em nenhuma delas foi<br />

possível obter estes dados. De acordo com o técnico<br />

da SIBRA ent<strong>revista</strong>do, a área onde este empreendimento<br />

se localiza é imprópria para o cultivo de camarão,<br />

pois a poluição do rio do Sal, afluente da margem<br />

direita do rio Sergipe, influencia diretamente na qualidade<br />

da água captada para os viveiros. Em determinadas<br />

épocas do ano, segundo o ent<strong>revista</strong>do, a quantidade<br />

de amônia é tão alta que é necessário parar o<br />

bombeamento da água e utilizar somente os aeradores<br />

para oxigenar os viveiros. Na Fazenda Santa Bárbara e<br />

na VIDAMAR o principal problema está relacionado<br />

com a depleção do oxigênio, que é monitorado quatro<br />

vezes por dia, estando os aeradores ligados constantemente.<br />

O tratamento dos efluentes provenientes dos viveiros<br />

necessita de um manejo responsável a fim de<br />

que sejam preservadas a qualidade ambiental e a proteção<br />

a saúde pública no empreendimento e no estuário<br />

na qual está inserido.<br />

Somente em dois estabelecimentos (SIBRA e<br />

VIDAMAR) foi identificada a existência de bacias de<br />

sedimentação, ou seja, tanques ou lagoas de decanta-<br />

Revista da <strong>Fapese</strong>, v.3, n.1, p. 87-112 jan./jun. 2007


ção. Nos demais empreendimentos, que correspondem<br />

a 84,6% dos analisados, os efluentes são liberados<br />

diretamente no estuário. A eliminação direta dos<br />

efluentes pode vir a acarretar modificações nos<br />

parâmetros hidrobiológicos dos estuários.<br />

A legalização dos empreendimentos de<br />

carcinicultura no estado é um problema evidente. Os<br />

empreendimentos já existentes e os em fase de execução<br />

necessitam adequar-se a Resolução no12, de 26 de<br />

agosto de 2002, do Conselho Estadual de Controle do<br />

Meio Ambiente em Sergipe, que dispõe sobre o<br />

licenciamento e o disciplinamento dos empreendimentos<br />

carcinicultores no estado, visando à legalização e<br />

normatização dos vários empreendimentos irregulares<br />

no estado, bem como instituindo normas para a<br />

implementação de novos estabelecimentos de<br />

carcinicultura, e a Resolução do CONAMA 312, de 10<br />

de outubro de 2002, de âmbito nacional que dispõe<br />

sobre o licenciamento da carcinicultura.<br />

Esta última veda a prática da carcinicultura em<br />

ecossistemas de manguezal (Artigo 2 o ) e no Artigo 3 o<br />

fica determinado que a construção, a instalação, a<br />

ampliação e funcionamento das fazendas de cultivo<br />

de camarão na zona costeira dependem de<br />

licenciamento ambiental.<br />

Os empreendimentos de pequeno porte poderão<br />

ser licenciados mediante procedimento de<br />

licenciamento ambiental simplificado. Os demais empreendimentos<br />

necessitam apresentar Estudos de Impacto<br />

Ambiental, devidamente acompanhados de um<br />

Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA). Porém,<br />

todos os empreendimentos deverão solicitar inicialmente<br />

a licença prévia (LP), em seguida apresentar<br />

outra documentação para solicitar a licença de instalação<br />

(LI) e ao final do processo a licença de operação<br />

(LO). Os documentos mínimos exigidos para cada uma<br />

destas fases encontram-se no Anexo A.<br />

Todos os ent<strong>revista</strong>dos afirmaram que o processo<br />

de licenciamento da atividade de carcinicultura é moroso,<br />

dispendioso e ocorre uma falta de clareza com<br />

relação à documentação exigida para licenciar. Por isso,<br />

A Carcinicultura no Espaço Litorâneo Sergipano<br />

105<br />

muitos dos empreendimentos em questão ainda não<br />

se encontram licenciados, exceto a VIDAMAR. O Sítio<br />

Esperança e a SIBRA encontram-se com suas licenças<br />

de operação vencidas e em fase de renovação.<br />

Segundo as ent<strong>revista</strong>s realizadas nos empreendimentos<br />

de carcinicultura sergipanos analisados, licenciados<br />

ou não, o camarão cultivado é vendido principalmente<br />

para os estados da Bahia (empresa<br />

LUSOMAR), Recife (empresa NETUNO), Rio Grande<br />

do Norte (empresa AQUAMAR), Rio de Janeiro e São<br />

Paulo. Em menor proporção é vendido na capital<br />

aracajuana, no Mercado Central.<br />

Os principais impactos ambientais relacionados<br />

com a carcinicultura referem-se a supressão do<br />

ecossistema manguezal; mudanças no padrão de circulação<br />

hídrica do estuário e eutrofização do estuário,<br />

com as descargas dos efluentes dos viveiros sem tratamento<br />

prévio (Wainberg e Câmara, 1998).<br />

Em Sergipe, a supressão do manguezal foi constatada<br />

na maioria dos empreendimentos analisados, nas<br />

atividades de campo, bem como através de fotografias<br />

aéreas verticais na escala de 1:25.000 (SEPLANTEC/<br />

UNITUR, 2003). Estes empreendimentos foram instalados<br />

antes de entrar em vigor a Resolução 312/2002 do<br />

CONAMA, que proíbe a estruturação de estabelecimentos<br />

de carcinicultura em áreas de manguezal. Em função<br />

deste fato tramita no Ministério Público o Termo de<br />

Ajustamento de Conduta para estes empreendimentos<br />

já instalados indevidamente em áreas de manguezal.<br />

Com relação a eutrofização e as possíveis mudanças<br />

no padrão de circulação hídrico dos estuários sergipanos,<br />

nos quais encontram-se instalados os empreendimentos<br />

de carcinicultura, são necessários estudos específicos<br />

sobre os parâmetros hidrobiológicos e físico-químicos<br />

para avaliar o real impacto do cultivo de camarão.<br />

No entanto, foi possível diagnosticar que na maioria<br />

dos empreendimentos analisados, não há tratamento<br />

adequado dos resíduos dos viveiros antes que sejam<br />

lançados no estuário adjacente, bem como a modificação<br />

estrutural das áreas no entorno dos estuários vi-<br />

Revista da <strong>Fapese</strong>, v.3, n.1, p. 87-112, jan./jun. 2007


106<br />

Márcia Eliane Silva Carvalho; Aracy Losano Fontes<br />

sando à construção dos canais de abastecimento e dos<br />

próprios viveiros de engorda, embora haja preocupação<br />

de parte dos empreendedores de manter certas<br />

áreas do manguezal preservadas.<br />

Um ponto fundamental no ordenamento de atividades<br />

potencialmente impactantes, como a carcinicultura<br />

na zona costeira, é a realização do Zoneamento Ecológico<br />

Econômico, que tem como objetivo geral organizar<br />

as decisões de agentes públicos e privados no tocante<br />

às atividades que utilizem intensamente os recursos<br />

naturais, adotando medidas de proteção ambiental destinadas<br />

a assegurar a qualidade ambiental, o desenvolvimento<br />

sustentável e a melhoria das condições de vida<br />

da população (Decreto no 4.297/2002).<br />

No estado de Sergipe, encontra-se em fase de elaboração<br />

o zoneamento da aptidão da carcinicultura, desenvolvido<br />

pela empresa de consultoria GEOTEC e a<br />

CODISE. Este estudo tem como objetivo identificar as<br />

potencialidades e limitações da atividade de cultivo de<br />

camarão no litoral sul do estado e faz parte da atualização<br />

do Zoneamento Ecológico Econômico Costeiro sergipano.<br />

6. Aspectos socioeconômicos do cultivo de<br />

camarão marinho no estado<br />

A análise dos aspectos socioeconômicos dos trabalhadores<br />

dos empreendimentos de carcinicultura estudados<br />

em Sergipe permitiu identificar questões referentes<br />

ao gênero, faixa etária, grau de instrução, condições<br />

de trabalho, atividade principal, renda obtida,<br />

número de empregos gerados, dentre outras.<br />

A prática da carcinicultura, como toda atividade produtiva<br />

envolvendo capital e trabalho, cria categorias de<br />

trabalho. Nos empreendimentos analisados em Sergipe<br />

foi possível identificar as seguintes categorias: a categoria<br />

do trabalhador fixo designado, na maioria dos empreendimentos<br />

de pequeno porte, a realizar todas as<br />

atividades relacionadas com o cultivo de camarão; e a<br />

do trabalhador temporário, morador das circunvizinhanças,<br />

contratado como diarista na época da despesca ou<br />

para alguns serviços de manutenção dos viveiros.<br />

Dentre os quinze trabalhadores ent<strong>revista</strong>dos, a<br />

maioria, 93,5%, são do sexo masculino e apenas 6,5%<br />

representam o sexo feminino. Esta tendência a ser uma<br />

atividade estritamente masculina provavelmente devese<br />

ao fato de ser considerada, segundo os ent<strong>revista</strong>dos,<br />

como bastante árdua e por isso requeira mão-deobra<br />

mais resistente em termos de desgaste físico.<br />

Com relação à faixa etária, Guzenski (2000) ressalta<br />

que a identificação da idade em uma determinada comunidade<br />

permite conhecer diferentes interesses e<br />

necessidades vinculadas ou não aos recursos disponíveis<br />

no ambiente onde nasceram ou residem, permitindo<br />

ainda avaliar os possíveis movimentos de<br />

êxodo na busca por locais que possam oferecer melhores<br />

alternativas de vida e renda.<br />

A idade predominante dos trabalhadores oscila entre a<br />

faixa de 21 a 30 anos e de 41 a 50 anos, totalizando 66,5%<br />

dos ent<strong>revista</strong>dos. Trabalhadores com menos de 20 anos<br />

ou com mais de 50 anos representam igualmente 13,4%<br />

dos ent<strong>revista</strong>dos. A faixa etária predominante corresponde<br />

à população economicamente ativa que, em sua maioria,<br />

dedica-se a esta atividade por motivos financeiros.<br />

Sobre o grau de escolaridade, constatou-se que 80%<br />

dos ent<strong>revista</strong>dos possuem o ensino fundamental incompleto<br />

e 13,5% apresentam o ensino superior completo<br />

em engenharia de pesca, sendo os responsáveis<br />

técnicos pelos empreendimentos onde trabalham. Um<br />

dos ent<strong>revista</strong>dos (6,5%) é analfabeto funcional, pois<br />

apesar de nunca ter freqüentado a escola, sabe assinar<br />

o nome e resolver cálculos diários.<br />

A escolaridade dos trabalhadores ent<strong>revista</strong>dos é<br />

baixa, não apresentando em sua maioria o ensino fundamental<br />

completo. Este fato incide sobre o tipo de<br />

emprego que possuem, repercutindo diretamente sobre<br />

sua qualidade de vida.<br />

Com relação às mudanças para a comunidade local,<br />

constatou-se que os benefícios da carcinicultura<br />

são poucos e estão diretamente relacionados aos empregos<br />

temporários na época da despesca ou para<br />

manutenção dos viveiros.<br />

Revista da <strong>Fapese</strong>, v.3, n.1, p. 87-112 jan./jun. 2007


O município sergipano que apresentou mudanças<br />

expressivas em função da carcinicultura foi Indiaroba.<br />

Embora sua área produtiva de camarões cultivados seja<br />

pequena, este município sofre influência direta da<br />

empresa LUSOMAR, localizada em Jandaíra, Bahia.<br />

Esta empresa é classificada como de grande porte, exportando<br />

entre 70 e 90% de sua produção para a Europa<br />

e Estados Unidos. Em função da proximidade<br />

desta empresa com Indiaroba, 69% dos seus funcionários<br />

são provenientes deste município. Atualmente,<br />

esta atividade representa a segunda maior fonte de<br />

emprego para a referida localidade (Carvalho, 2004).<br />

Nas fazendas de cultivo de camarões existem múltiplas<br />

funções a serem realizadas, como a manutenção<br />

da bomba e dos viveiros, alimentar os camarões, realizar<br />

a limpeza dos viveiros, etc (Rocha, 1998; Saint-<br />

Brisson, 1999; DPA/MA, 2001).<br />

No entanto, o Gráfico 4 evidencia que a maior parte<br />

dos trabalhadores ent<strong>revista</strong>dos concentra todas as<br />

funções, sendo que alguns ainda são responsáveis por<br />

outras atividades existentes no próprio empreendimento.<br />

Concentrando todas as funções relacionadas ao<br />

cultivo de camarão, o trabalhador tende a se tornar<br />

A Carcinicultura no Espaço Litorâneo Sergipano<br />

107<br />

insatisfeito e cansado, o que pode trazer como conseqüência<br />

o manejo incorreto dos viveiros.<br />

No caso específico de alimentar os camarões, Nunes<br />

(2003) alerta que a função de arraçoador exige treinamento<br />

técnico, paciência, tempo e resistência física,<br />

pois é necessário estacionar o caiaque nos pontos de<br />

alimentação, içar a bandeja, liberar as sobras, inserir<br />

nova quantidade de alimento e descê-la até o fundo<br />

do viveiro sem virá-la. Trabalhadores com múltiplas<br />

tarefas, inclusive a de arraçoar e sem incentivo econômico<br />

podem provocar perdas de ração e comprometer<br />

a qualidade da água do viveiro.<br />

Com relação à renda obtida, 46,5% dos ent<strong>revista</strong>dos<br />

recebem entre R$240,00 e R$320,00; 15,5% possuem uma<br />

renda entre R$400,00 e R$500,00; outros 23% não informaram<br />

o valor recebido e 15,5% são trabalhadores temporários,<br />

recebendo pela diária em torno de R$15,00.<br />

Os trabalhadores ent<strong>revista</strong>dos afirmaram que as<br />

condições de trabalho são satisfatórias, embora seja<br />

necessário um aumento na renda obtida, face ao árduo<br />

trabalho de lidar diariamente com o camarão, em<br />

média oito horas por dia.<br />

Gráfico 4 - Funções dos trabalhadores das unidades produtivas de camarão.<br />

Fonte: Atividade de campo, 2004. Organização: Márcia E. S. Carvalho.<br />

Revista da <strong>Fapese</strong>, v.3, n.1, p. 87-112, jan./jun. 2007


108<br />

Márcia Eliane Silva Carvalho; Aracy Losano Fontes<br />

Trabalhar nos estabelecimentos de carcinicultura<br />

sergipanos é visto como complemento de renda para<br />

86,5% dos ent<strong>revista</strong>dos. Os outros 13,5% trabalham<br />

como técnicos atuando, portanto, na área de formação<br />

escolhida.<br />

Conforme Wainberg e Câmara (1998), os benefícios<br />

socioeconômicos da carcinicultura estão diretamente<br />

ligados à geração de emprego e renda, que vem crescendo<br />

em função da sua modernização, criando novos<br />

postos de trabalho e conseqüentemente de emprego de<br />

mais mão-de-obra. A relação de funcionários por hectare<br />

passou de 0,2-0,3/ha para 0,7/ha, após a disseminação<br />

da utilização de bandejas de alimentação.<br />

Em Sergipe ainda não está consolidada a cadeia<br />

produtiva da espécie cultivada. Nos empreendimentos<br />

de pequeno porte analisados (com menos de 10ha<br />

de lâmina d’água produtiva), 38,5% geram um emprego<br />

fixo para todo o estabelecimento; 15,5% empregam<br />

dois trabalhadores fixos e 15,5% geram três empregos<br />

fixos. Em 7,5% dos estabelecimentos que possuem<br />

porte médio são gerados nove empregos fixos. Nos<br />

estabelecimentos que empregam tecnologia mais moderna<br />

e que operam com o cultivo do tipo semi-intensivo<br />

alto, são gerados entre 38 e 52 empregos fixos.<br />

Estes empreendimentos totalizam 15,5% dos estabelecimentos<br />

analisados, sendo um de médio porte e outro<br />

de grande porte (acima de 50ha produtivos). Nos<br />

demais 7,5% não há geração de empregos.<br />

Em 61,5% dos estabelecimentos de carcinicultura<br />

analisados foi informada a lâmina d’água em produção,<br />

mediante ent<strong>revista</strong> com o proprietário ou responsável<br />

técnico/administrativo. A área destes empreendimentos<br />

totaliza 169ha, que geram 108 empregos<br />

fixos, o que equivale a 0,6 empregos/ha, média considerada<br />

baixa em comparação com outras atividades<br />

do setor produtivo primário.<br />

O número de empregos temporários é variável a<br />

depender da área produtiva e do nível tecnológico utilizado<br />

no empreendimento. Em geral, para serviços<br />

gerais e na época da despesca, que ocorre em média<br />

de 3 em 3 meses, são gerados nos empreendimentos<br />

de pequeno porte analisados, entre dois a oito empregos<br />

temporários, e de dezoito a vinte nos empreendimentos<br />

de médio e grande porte analisados.<br />

Desta forma, constata-se nos empreendimentos<br />

analisados que a carcinicultura tem gerado poucas<br />

oportunidades de emprego pois, em média, é gerado<br />

apenas um emprego fixo para cada dois a três hectares<br />

produtivos, fato que contribui para a marginalização<br />

das comunidades locais. Por outro lado, apenas 5%<br />

dos empreendimentos em produção no estado são de<br />

grande porte, 16,5% de médio porte e 78,5% são de<br />

pequeno porte demonstrando que a atividade de<br />

carcinicultura em Sergipe é socialmente expressiva.<br />

Foi constatado nas atividades de campo uma<br />

reorientação das atividades desenvolvidas em parte<br />

do litoral sergipano. As fazendas de produção de coco,<br />

áreas de apicuns e de manguezais, antigos viveiros de<br />

peixes e algumas salinas estão sendo paulatinamente<br />

convertidas em empreendimentos de carcinicultura.<br />

Este fato ocorre principalmente em função do alto valor<br />

de mercado que o camarão possui e do seu rápido<br />

desenvolvimento, pois entre 3 e 4 meses está apto a<br />

ser comercializado.<br />

7. Considerações Finais<br />

O espaço geográfico de interesse neste trabalho – a<br />

zona costeira – tem sido palco para o desenvolvimento<br />

da carcinicultura mundial, pois apresenta características<br />

ambientais que favorecem o cultivo do camarão,<br />

principalmente em regiões tropicais onde as condições<br />

climáticas, hidrobiológicas e topográficas predominantes<br />

criam um potencial para o seu desenvolvimento.<br />

A carcinicultura mundial é na atualidade um<br />

agronegócio com mercado nacional e internacional em<br />

plena expansão, colocando o camarão marinho cultivado<br />

como um importante produto gerador de divisas.<br />

Sergipe está inserido neste contexto, pois seus espaços<br />

litorâneos antes ocupados por viveiros de pei-<br />

Revista da <strong>Fapese</strong>, v.3, n.1, p. 87-112 jan./jun. 2007


xes, coqueirais, manguezais e apicuns estão sendo paulatinamente<br />

convertidos em viveiros para o cultivo do<br />

camarão, cuja produção é destinada, principalmente,<br />

para os mercados nacional – Bahia, Pernambuco, Rio<br />

Grande do Norte, Rio de Janeiro e São Paulo – e internacional<br />

– Europa e Estados Unidos.<br />

O aperfeiçoamento das técnicas de cultivo tem permitido<br />

atingir alta rentabilidade produtiva com baixo<br />

índice de impacto ambiental. Esta modernização nas<br />

técnicas de cultivo está relacionada com o conhecimento<br />

do ciclo biológico da espécie cultivada e com o<br />

aperfeiçoamento das técnicas de manejo sustentável<br />

dos viveiros.<br />

No entanto, nível de tecnificação da produção da<br />

maioria dos empreendimentos analisados no estado é<br />

baixo, com poucos estabelecimentos que empregam<br />

tecnologia moderna.<br />

Em Sergipe, algumas destas contradições referentes<br />

ao segmento social são evidentes, demonstrando<br />

ser uma atividade lucrativa para o dono do empreendimento<br />

e não para o trabalhador braçal que recebe em<br />

média entre duzentos e quatrocentos reais mensais.<br />

Em empreendimentos de pequeno porte, o trabalhador<br />

concentra várias funções diárias, desde o oferecimento<br />

da alimentação, três vezes ao dia, limpeza e<br />

manutenção do mesmo, até a função de vigilante dos<br />

viveiros. Ocorre também um aumento no número de<br />

trabalhadores temporários, com diárias variando entre<br />

dez e quinze reais e sem a perspectiva de nenhum<br />

vínculo empregatício. Nos médios e grandes empreendimentos<br />

analisados, as atividades dos trabalhadores<br />

são mais específicas, como a de arraçoador, bombeiro,<br />

eletricista, vigilante, dentre outras, não sobrecarregando<br />

o funcionário com diversas atividades.<br />

No tocante às questões ambientais relacionadas com<br />

a carcinicultura sergipana, alguns aspectos merecem<br />

destaque, pois o manejo sustentável dos viveiros ainda<br />

não é aplicado corretamente na maioria dos empreendimentos<br />

analisados.<br />

A Carcinicultura no Espaço Litorâneo Sergipano<br />

109<br />

Dentre eles, o ecossistema de manguezal é o mais<br />

diretamente impactado pelo cultivo de camarão em viveiros,<br />

pois embora não mensurada a área suprimida<br />

do manguezal nos empreendimentos analisados, durante<br />

as atividades de campo foi constatado que esta<br />

vegetação foi retirada para a construção dos viveiros.<br />

A forma de alimentação das espécies em cativeiro<br />

não segue o padrão desenvolvido para evitar excesso<br />

de ração no fundo dos viveiros ocorrendo, conseqüentemente,<br />

excesso de matéria orgânica na água.<br />

Na maioria dos estabelecimentos, os dejetos dos<br />

viveiros são lançados diretamente nos estuários o que<br />

futuramente, com o aumento dos lançamentos destes<br />

efluentes, poderá causar eutrofização destes corpos<br />

d’água.<br />

Deve-se ressaltar que desde que sejam seguidas as<br />

normas de manejo tanto para instalação quanto para a<br />

operação de um empreendimento de carcinicultura, a<br />

atividade pode ser desenvolvida com um mínimo de<br />

impacto ambiental e social. O uso sustentável, respeitando<br />

as áreas onde as populações ribeirinhas tiram<br />

seu sustento, contratando trabalhadores para atividades<br />

específicas nos empreendimentos, visando reduzir<br />

o acúmulo de funções, adotando medidas de controle<br />

da água dos viveiros e de tratamento dos efluentes<br />

antes de liberá-los para o estuário, são alguns pontos<br />

que contribuem para o desenvolvimento da<br />

carcinicultura sustentável. Para tal é necessário também<br />

que haja clareza na regulamentação legal da atividade<br />

junto aos órgãos ambientais, bem como os empreendedores<br />

sigam um código de conduta ambiental<br />

responsável.<br />

Diante do exposto, a carcincicultura no litoral sergipano<br />

revela relações ambientais, sociais e econômicas<br />

muito singulares. Ao mesmo tempo em que demonstra<br />

alcançar altos níveis de produtividade e rentabilidade,<br />

utiliza intensamente produtos primários<br />

(água e solo) afetando diretamente o ambiente e apresentando<br />

uma distribuição desigual da renda entre as<br />

categorias de trabalho criadas por esta atividade.<br />

Revista da <strong>Fapese</strong>, v.3, n.1, p. 87-112, jan./jun. 2007


110<br />

Márcia Eliane Silva Carvalho; Aracy Losano Fontes<br />

ABCC. Associação Brasileira de Criadores de Camarão.<br />

Carcinicultura brasileira. Disponível em: http://<br />

www.abccam.com.br. Acesso em: 18/01/04.<br />

AB’SABER, Aziz Nacib. Litoral do Brasil. São Paulo:<br />

Metavídeo SP Produção e Comunicação LTDA, 2001.<br />

ADEMA. Levantamento da flora e caracterização dos<br />

bosques de mangue do estado de Sergipe. Governo do<br />

Estado de Sergipe. Convênios: FINEP – Financiadora<br />

de estudos e projetos, SUDEPE – Superintendência<br />

do desenvolvimento da pesca e SUDENE – Superintendência<br />

do desenvolvimento do Nordeste. 1984.<br />

134p.<br />

_______. Empreendimentos de carcinicultura em processo<br />

de licenciamento. Abril, 2004.<br />

AMÂNCIO, Suely Gleyde. Influência da evolução costeira<br />

holocênica na ocupação da costa do estado de<br />

Sergipe por Grupos Sambaquieiros. Salvador: IGEO/<br />

UFBA, 2001 (Dissertação de Mestrado).<br />

CARVALHO, Nelson H. M. de. Lusomar: contribuição<br />

socioeconômica para o desenvolvimento de<br />

Indiaroba (1993-2003). Universidade Federal de<br />

Sergipe. São Cristóvão. 2004. 61p. (Monografia de<br />

Bacharelado).<br />

CONAMA. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução<br />

nº 312, de 10 de outubro de 2002. Dispõe sobre o<br />

licenciamento ambiental na zona costeira. Diário Oficial<br />

da República Federativa do Brasil, no 203, Seção 1, em 18<br />

de outubro de 2002. Disponível: http://www.ibama.gov.br/<br />

legislaçãoambiental. Acesso em 20/01/2004.<br />

CONDESE/ITPS. Levantamento dos Recursos Hídricos<br />

de Superfície do Estado de Sergipe. Aracaju, 1974.<br />

COUTINHO. Paulo da N. (coord.). Programa REVIZEE.<br />

Levantamento do estado da arte da pesquisa dos re-<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

cursos vivos marinhos do Brasil. Oceanografia Geológica<br />

da região Nordeste. MMA/SMA, 1995-2000.<br />

BRASIL. Decreto no 4.297/2002. Dispõe sobre o<br />

Zoneamento Ecológico Econômico do território. Disponível:<br />

http://www.ibama.gov.br/legislaçãoambiental.<br />

Acesso em 23/11/2004.<br />

DEPARTAMENTO NACIONAL DE PRODUÇÃO MI-<br />

NERAL. Mapa geológico do estado de Sergipe, na escala<br />

de 1:250.000, 1998.<br />

_____. Mapa geológico do estado de Sergipe, na escala<br />

de 1:50.000, 1975.<br />

DOMINGUEZ, José M.L.; BITTENCOURT, Abílio<br />

C.S.P.; MARTIN, Louis. Sobre a validade de utilização<br />

do termo delta para designar planícies costeiras associadas<br />

as desembocaduras dos grandes rios brasileiros.<br />

In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 32.,<br />

1992, Salvador. Anais. Salvador: AGB, 1992, p.49-58.<br />

DPA/MA. Departamento de Pesca e Aqüicultura/Ministério<br />

da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Plataforma<br />

Tecnológica do Camarão Marinho Cultivado.<br />

Brasília. 2001.<br />

EMBRAPA. Levantamento exploratório – reconhecimento<br />

dos solos do estado de Sergipe. Brasília:<br />

EMBRAPA, 1975.<br />

FONTES, A. L.; ALMEIDA, Maria do Carmo B. Evolução<br />

geomorfológica da bacia inferior do Mangue Seco<br />

(rios Piauí-Fundo-Real). Sergipe/Bahia. In: CONGRES-<br />

SO DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ESTUDOS<br />

DO QUATERNÁRIO, 1., 1987, Porto Alegre. Anais.<br />

Porto Alegre: Associação Brasileira de Estudos do<br />

Quaternário, 1987.<br />

FONTES, A. L. O Cenozóico na bacia inferior do rio<br />

Vaza Barris (SE) – estudo geomorfológico. In: CON-<br />

Revista da <strong>Fapese</strong>, v.3, n.1, p. 87-112 jan./jun. 2007


GRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, XXXV., 1988,<br />

Belém. Anais. Belém: AGB, 1988.<br />

_____. Aspectos da geomorfologia costeira no norte<br />

do estado de Sergipe. In: SIMPÓSIO DE<br />

ECOSSISTEMAS DA COSTA SUL E SUDESTE BRA-<br />

SILEIRA, II., Águas de Lindóia, 1990. Anais. Águas<br />

de Lindóia, 1990a.<br />

_____. Aspectos geológicos e geomorfológicos da planície<br />

costeira entre os estuários dos rios Sergipe e<br />

Japaratuba. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEO-<br />

LOGIA, XXXVII., 1990, Natal. Anais. Natal: AGB,<br />

1990b.<br />

_____. Caracterização ambiental do estuário do rio<br />

Japaratuba (SE). In: SIMPÓSIO DE GEOGRAFIA FÍSI-<br />

CA APLICADA, 1991, Porto Alegre. Anais. Porto Alegre:<br />

Universidade Federal do Rio Grande do Sul,<br />

1991a.<br />

_____. Aspectos geológicos e geomorfológicos da planície<br />

costeira entre os estuários dos rios Sergipe e Vaza<br />

Barris. In: CONGRESSO DA ASSOCIAÇÃO BRASI-<br />

LEIRA DE ESTUDOS DO QUATERNÁRIO, 4., 1991,<br />

Belo Horizonte. Anais. Belo Horizonte: Universidade<br />

Federal de Minas Gerais, 1991b.<br />

_____. Caracterização geoambiental da bacia do rio<br />

Japaratuba (SE). Instituto de Geociências e Ciências<br />

Exatas, Universidade Estadual Paulista. Rio Claro. 1997<br />

(Tese de doutorado).<br />

_____. O Baixo São Francisco Sergipano e o aproveitamento<br />

de suas potencialidades turísticas. In: ENCON-<br />

TRO NACIONAL DE TURISMO COM BASE LOCAL,<br />

1998, Fotaleza. Anais. Fortaleza: UFCE, 1998. p. 48.<br />

_____. Aspectos evolutivos atuais do litoral norte do<br />

estado de Sergipe. In: CONGRESSO DA ABEQUA,<br />

VII., 1999, Porto Seguro. Anais. Porto Seguro:<br />

ABEQUA, 1999a.<br />

_____. Distribuição dos manguezais no litoral<br />

sergipano. Informação verbal. 1999b.<br />

A Carcinicultura no Espaço Litorâneo Sergipano<br />

111<br />

FRANÇA, A.M.C. Geomorfologia da margem continental<br />

brasileira e da bacia oceânica adjacente. Rio<br />

de Janeiro. Projeto REMAC, v.7, 1998. p.93-127.<br />

GEOTEC / CODISE. Zoneamento da aptidão da<br />

carcinicultura no litoral sul de Sergipe. No prelo. 2004.<br />

GOVERNO DO ESTADO DE SERGIPE. Companhia<br />

de Desenvolvimento Industrial e dos Recursos Minerais<br />

de Sergipe – CODISE. Centro de Pesquisas Espaciais<br />

de Sergipe – CEPES. Mapeamento da mata atlântica<br />

e seus ecossistemas associados em Sergipe: uma<br />

metodologia para monitoramento através das técnicas<br />

de sensoriamento remoto e geoprocessamento. Aracaju:<br />

CODISE, 1997. 20p.<br />

GOVERNO DO ESTADO DE SERGIPE. Secretaria de<br />

Estado da Indústria e do Comércio – SEIC. Companhia<br />

de Desenvolvimento Industrial e de Recursos<br />

Minerais de Sergipe – CODISE. Estudo de Áreas Potenciais<br />

para o Cultivo de Camarão Marinho em Sergipe.<br />

Aracaju: CODISE, 2004. 15p.<br />

GUZENSKI, Ana L. C. S. Diagnóstico socioeconômico<br />

dos trabalhadores das fazendas de cultivo de camarões<br />

marinhos do município de Laguna/SC. Universidade<br />

Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2000. 201p.<br />

(Dissertação de Mestrado).<br />

MARTIN, Louis; SUGUIO, Kenitiro.; FLEXOR, João<br />

M. et.al. Le quaternaire Marin brésilien (litoral pauliste,<br />

sud fluminense et bahianais). Paris: Cah. ORSTOM,<br />

v.11, n.1, 1980. p. 96-125.<br />

MENDONÇA FILHO, Cláudio J. M. Análise ambiental<br />

da planície costeira entre as desembocaduras dos rios<br />

Sergipe e Vaza Barris (SE). São Cristóvão: DGE/UFS.<br />

1998. (Monografia de Bacharelado).<br />

MIRANDA, Luiz B.; CASTRO, Belmiro M. de;<br />

KJERFVE, Björn. Princípios de oceanografia física dos<br />

estuários. São Paulo: Editora da USP, 2002.<br />

RADAM-BRASIL. Levantamento de recursos naturais.<br />

Sergipe. 1972/1981.<br />

Revista da <strong>Fapese</strong>, v.3, n.1, p. 87-112, jan./jun. 2007


112<br />

Márcia Eliane Silva Carvalho; Aracy Losano Fontes<br />

ROCHA, Itamar de Paiva. Agronegócio do camarão<br />

cultivado – uma nova ordem econômica-social para<br />

o litoral nordestino. In: AQUACULTURA BRA-<br />

SIL’98, 1998, Recife. Anais. Recife. 1998. p. 213-<br />

235.<br />

SAINT-BRISSON, Solange C. de. Cultivo de camarões<br />

marinhos. Rio de Janeiro: Illustration Info & Graph.<br />

1999.<br />

SERGIPE. Cobertura aerofotográfica do estado de<br />

Sergipe na escala de 1:25.000. Aracaju: SEPLANTEC/<br />

UNITUR, 2003.<br />

VAN BERCKEL, F.L. On the origin of submarine<br />

canyons. Geologie en Mijnbonw. Culember, 55 (1/2):<br />

7-17, 1976.<br />

VIANA, J.B. Estimativa do transporte litorâneo em torno<br />

da embocadura do rio Sergipe. Belo Horizonte: Instituto<br />

de Pesquisas Hidroviárias, 1972.<br />

WAINBERG, A. A.; CAMARA, M. R. Carcinicultura<br />

no litoral oriental do estado do Rio Grande do Norte,<br />

Brasil: interações ambientais e alternativas mitigadoras.<br />

In: AQUACULTURA BRASIL’98, 1998, Recife. Anais.<br />

Recife. 1998. 527-544p.<br />

Revista da <strong>Fapese</strong>, v.3, n.1, p. 87-112 jan./jun. 2007

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!