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levante de mulheres famintas na cidade da ... - Itaporanga.net

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mas também ao comércio privado, que se sentia ameaçado, pois, a qualquer momento,<br />

po<strong>de</strong>ria ser atacado.<br />

É sabido que o motivo que levou a origi<strong>na</strong>r a “sublevação <strong>de</strong> <strong>mulheres</strong> 4 ” foi, sem<br />

dúvi<strong>da</strong>, a fome, a sobrevivência <strong>de</strong>las e <strong>de</strong> seus filhos. Nossa análise não tem por<br />

objetivo enfocar problemas sociais como a fome, mas a forma como o corpo é exposto<br />

nessa agitação. Os documentos sobre o fato não <strong>de</strong>screvem com <strong>de</strong>talhes os<br />

movimentos e ações particulares <strong>de</strong>ssas <strong>mulheres</strong>, <strong>de</strong>ixando para a imagi<strong>na</strong>ção a ação<br />

histórica 5 .<br />

Num bando relativamente numeroso, as <strong>mulheres</strong> seguem pelas ruas em direção<br />

ao Varadouro. A situação <strong>de</strong> pobreza faz com que tais corpos sejam i<strong>de</strong>ntificados com<br />

aqueles que ema<strong>na</strong>m odores e medos, são os associados com os lugares sombrios, sujos,<br />

fechados. Os corpos, em sua maioria, são sujos, talvez não pela idéia <strong>de</strong> imundície, mas<br />

pela falta <strong>de</strong> condições, e, principalmente, por uma escassa conscientização por parte<br />

dos profissio<strong>na</strong>is <strong>da</strong> saú<strong>de</strong>, ou até mesmo pela inexistência <strong>de</strong> uma repartição <strong>de</strong> higiene<br />

pública. A sujeira dos corpos se juntava com a <strong>da</strong>s ruas.<br />

Sobre a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Parahyba no fi<strong>na</strong>l do século XVIII Lenil<strong>de</strong> Duarte Sá (1999)<br />

afirma que os excrementos animais e humanos passaram cientificamente a entor<strong>na</strong>r o<br />

caldo pavoroso que os miasmas impunham aos viventes. O outro passa a ser visto como<br />

si<strong>na</strong>l <strong>de</strong> perigo pela falta <strong>de</strong> higiene <strong>de</strong> seu corpo, que, pelo mau odor, <strong>de</strong>nuncia ou<br />

prenuncia a doença.<br />

São corpos sujos, doentes, maltratados pela pobreza, malicentos, esquálidos.<br />

Assim eram os corpos armados que <strong>de</strong>sciam as ruas <strong>da</strong> capital para o assalto à Diretoria<br />

Geral <strong>de</strong> Socorros Públicos. A presença <strong>da</strong> imundície era um fato, os corpos eram<br />

ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iros súditos <strong>da</strong> sujeira, já não exalavam odores agradáveis.<br />

Os homens chegaram para mais um longo dia <strong>de</strong> trabalho. Os barcos já estavam<br />

atracados no porto. O trabalho era árduo. A força utiliza<strong>da</strong> era a braçal. Pesados fardos<br />

4 Nome <strong>da</strong>do pelo jor<strong>na</strong>l Gazeta <strong>da</strong> Parahyba ao movimento que agitou a Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Parahyba durante<br />

quatro dias, <strong>na</strong> busca <strong>de</strong> alimento para matar a fome.<br />

5 A imagi<strong>na</strong>ção é uma característica <strong>da</strong> Nova História Cultural que se distingue <strong>da</strong> História Intelectual,<br />

sugerindo uma ênfase em mentali<strong>da</strong><strong>de</strong>s, suposições e sentimentos e não em idéias ou sistema <strong>de</strong><br />

pensamento. Enquanto a História Intelectual é mais séria e precisa, a Nova História Cultural é mais vaga,<br />

contudo, também mais imagi<strong>na</strong>tiva. Ver BURKE, Peter. O que é história cultural? Rio <strong>de</strong> Janeiro: Zahar,<br />

2008.

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