levante de mulheres famintas na cidade da ... - Itaporanga.net
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apedrejaram, resistiram. Não eram <strong>mulheres</strong> sindicalistas, eram <strong>mulheres</strong> <strong>famintas</strong> com<br />
crianças <strong>de</strong> colo, roupas rasga<strong>da</strong>s, corpos quase <strong>de</strong>snudos.<br />
Ao observar a “sublevação <strong>de</strong> <strong>mulheres</strong>” Lenil<strong>de</strong> Duarte Sá (1999), afirma que<br />
elas teriam agido a mando <strong>de</strong> grupos políticos. É certo que a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> vivia os<br />
preparativos para as eleições, porém, se houve a participação <strong>de</strong> políticos <strong>na</strong> atuação <strong>da</strong>s<br />
<strong>mulheres</strong> <strong>famintas</strong>, achamos pouco provável. No entanto, a autora levanta a hipótese <strong>de</strong><br />
que “aproveitando-se <strong>da</strong> guerra intesti<strong>na</strong> do Partido Liberal, e usando <strong>de</strong> má fé, um<br />
membro do partido conservador, ousou-se passar por um liberal, tentando assim,<br />
<strong>de</strong>sestabilizar o governo Gama Rosa” (SÁ, 1999, p. 96).<br />
Embora <strong>levante</strong>-se tal hipótese, reafirmamos achar improvável a cooptação dos<br />
políticos sejam eles conservadores ou liberais sobre as <strong>mulheres</strong> insurgentes. Seria o<br />
mesmo que afirmar a ausência <strong>de</strong> lutas por direitos por parte <strong>da</strong>s <strong>mulheres</strong>, tor<strong>na</strong>ndo-as<br />
passivas as imposições dos políticos locais. Seria o mesmo que acreditar, <strong>na</strong><br />
impossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>sse grupo popular em resistir diante <strong>da</strong> coerção dos po<strong>de</strong>res públicos.<br />
O corpo feminino é sem dúvi<strong>da</strong>, um centro <strong>de</strong> relação <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, on<strong>de</strong> sua<br />
aparência, sua beleza, suas formas, suas roupas, seus gestos, sua maneira <strong>de</strong> an<strong>da</strong>r, <strong>de</strong><br />
olhar, <strong>de</strong> falar e <strong>de</strong> rir são objetos <strong>de</strong> suspeita. Durante pouco tempo atrás, o corpo <strong>da</strong>s<br />
<strong>mulheres</strong> pareciam não lhes pertencer. Em alguns casos isolados, esses corpos se<br />
rebelavam, como <strong>na</strong> sublevação <strong>de</strong> <strong>mulheres</strong>, afora, tais corpos estariam presos a<br />
diversas formas <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r.<br />
Nas famílias, por exemplo, a mulher pertence a seu marido, que com virili<strong>da</strong><strong>de</strong> a<br />
toma, logo <strong>de</strong>pois, passam a pertencer aos filhos que as absorvem. Durante o século<br />
XIX, NN público an<strong>da</strong>m recobertas, no privado são absorvi<strong>da</strong>s pelo po<strong>de</strong>r dos filhos e<br />
maridos. Mesmo subjuga<strong>da</strong>s, sem direito a vez e voz, os corpos femininos se exaltavam<br />
<strong>na</strong> luta por direitos. Assim foi composto o movimento popular. Embora não fossem<br />
consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>dãs, lutavam contra a fome, um problema que não atingia ape<strong>na</strong>s o<br />
público feminino, mas quem em alguns momentos os homens silenciavam <strong>na</strong> vergonha<br />
<strong>de</strong> agir.<br />
Referências