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Roteiro de Estudo para Iniciantes em Oclusão _ Cap 05

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Em uma oclusão fisiológica ou orgânica,<br />

no final do fechamento mandibular, a<br />

ação dos músculos elevadores promove o<br />

assentamento dos côndilos nas fossas<br />

mandibulares do osso t<strong>em</strong>poral, <strong>de</strong>nominado<br />

posição <strong>de</strong> relação cêntrica (RC),<br />

coinci<strong>de</strong>nte com o máximo <strong>de</strong> contatos<br />

<strong>de</strong>ntários posteriores bilateral, <strong>de</strong>nominado<br />

máxima intercuspidação (MI) ou oclusão<br />

<strong>de</strong>ntária. Como resultado a mandíbula<br />

assume posição estável <strong>de</strong>nominada oclusão<br />

<strong>em</strong> relação cêntrica (ORC), na dimensão<br />

vertical <strong>de</strong> oclusão (DVO). Em seguida<br />

o relaxamento dos músculos elevadores<br />

gera a dimensão vertical <strong>de</strong> repouso<br />

(DVR). Nos movimentos excursivos da<br />

mandíbula, os <strong>de</strong>ntes posteriores <strong>de</strong>v<strong>em</strong><br />

<strong>de</strong>socluir pela ação da guia anterior e das<br />

guias laterais, <strong>em</strong> perfeita harmonia com<br />

os <strong>de</strong>mais componentes do aparelho<br />

estomatognático (AE), fig. 01.<br />

Fig. 01 - Desenho esqu<strong>em</strong>atico<br />

da distribuição da força<br />

oclusal ao longo do <strong>de</strong>nte.<br />

Porém, freqüent<strong>em</strong>ente os pacientes<br />

apresentam-se com RC não coinci<strong>de</strong>nte<br />

com a MI, impedindo o fechamento fisiológico<br />

da mandíbula <strong>em</strong> ORC, po<strong>de</strong>ndo ser<br />

resultado da presença <strong>de</strong> distúrbios oclusais<br />

(pr<strong>em</strong>aturida<strong>de</strong>s) <strong>em</strong> todos os <strong>de</strong>ntes,<br />

<strong>em</strong> todos os planos do espaço, <strong>de</strong>sviando o<br />

fechamento mandibular <strong>em</strong> todas as dire-<br />

DISTÚRBIOS OCLUSAIS<br />

Alfredo Julio Fernan<strong>de</strong>s Neto, et al. Univ. Fed. Uberlândia - 2006<br />

ções, (vertical, protrusivo, e lateroprotrusivamente),<br />

levando-a a instabilida<strong>de</strong> na<br />

posição <strong>de</strong> máxima intercuspidação habitual<br />

(MIH), que foi adquirida e habituada.<br />

É importante ressaltar que o sist<strong>em</strong>a neuromuscular<br />

do paciente geralmente <strong>de</strong>svia a<br />

mandíbula das pr<strong>em</strong>aturida<strong>de</strong>s, tornando<br />

difícil sua <strong>de</strong>tecção.<br />

A auto observação da RC po<strong>de</strong> ser<br />

realizada pelo próprio paciente, o que lhe<br />

propiciará o entendimento <strong>de</strong> fatores não<br />

fisiológicos, tais como os distúrbios oclusais<br />

que geram discrepância entre RC e<br />

MIH.<br />

Para realizar a auto observação,<br />

incline a cabeça <strong>para</strong> trás, com o objetivo<br />

<strong>de</strong> contrair os músculos do pescoço, relaxe<br />

os ombros e os braços, posicione a mandibula<br />

na DVR, <strong>em</strong> seguida, abra e feche a<br />

mandíbula suav<strong>em</strong>ente, <strong>de</strong>ntro dos limites<br />

do espaço funcional livre (EFL), s<strong>em</strong><br />

contatar os <strong>de</strong>ntes por seis vezes, <strong>em</strong><br />

seguida feche-a suav<strong>em</strong>ente simulando a<br />

<strong>de</strong>glutição fisiológica até sentir o contato<br />

<strong>de</strong>ntário.<br />

Se neste caso ocorrer um único<br />

contato <strong>de</strong>ntário, po<strong>de</strong> ser pr<strong>em</strong>aturida<strong>de</strong>.<br />

Confirme sua localização repetindo o<br />

movimento <strong>de</strong> abertura e fechamento.<br />

Caso a reprodução confirme a mesma<br />

localização do contato, essa será a posição<br />

<strong>de</strong> RC da mandíbula.<br />

A seguir, feche a mandíbula a partir<br />

da pr<strong>em</strong>aturida<strong>de</strong> e observe se ela <strong>de</strong>sliza<br />

protrusiva ou lateroprotrusivamente guiada<br />

pelos <strong>de</strong>ntes que apresentam a pr<strong>em</strong>aturida<strong>de</strong>,<br />

assumindo a posição <strong>de</strong> MIH. O<br />

<strong>de</strong>slize entre a pr<strong>em</strong>aturida<strong>de</strong> <strong>em</strong> RC e a<br />

MIH é <strong>de</strong>nominado discrepância <strong>em</strong><br />

cêntrica.


Distúrbios Oclusais Fernan<strong>de</strong>s Neto, A J.. et .al. Univ. Fed. Uberlândia –-2006<br />

Quando surg<strong>em</strong> alterações na conformação,<br />

estrutura e/ou função das partes do<br />

AE, as <strong>de</strong>mais inter-relacionadas experimentam<br />

alterações da mesma natureza <strong>para</strong><br />

absorver e dissipar as forças anormais<br />

criadas, conforme a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resistência<br />

ou <strong>de</strong> adaptação biológica <strong>de</strong> cada<br />

tecido envolvido. Essas alterações po<strong>de</strong>rão<br />

produzir compensações fisiológicas ou<br />

patologias. O principal fator etiológico da<br />

patologia funcional do SE é representado<br />

pelas alterações da oclusão <strong>de</strong>ntária, distúrbios<br />

oclusais, cujas seqüelas patológicas<br />

são o trauma periodontal, a abrasão oclusal<br />

acentuada, o bruxismo, as alterações do<br />

mecanismo neuromuscular e/ou das<br />

ATMs.<br />

Os distúrbios oclusais se apresentam<br />

na forma <strong>de</strong> trauma oclusal, contato oclusal<br />

pr<strong>em</strong>aturo ou <strong>de</strong>flectivo, interferência<br />

oclusal, ausência <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> oclusal<br />

e/ou <strong>de</strong> guia anterior e alteração da dimensão<br />

vertical.<br />

Trauma <strong>de</strong> oclusão<br />

É a lesão no periodonto <strong>de</strong> sustentação<br />

e/ou outros componentes do aparelho<br />

estomatognático, causada por forças oclusais<br />

que exce<strong>de</strong>m a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adaptação<br />

<strong>de</strong>ste aparelho (Fig. 01), po<strong>de</strong>ndo ser<br />

classificado <strong>em</strong>:<br />

• Primário<br />

• Secundário<br />

O trauma <strong>de</strong> oclusão po<strong>de</strong> ser<br />

<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ado a partir <strong>de</strong> força oclusal<br />

fisiológica ou excessiva, caracterizando<br />

contato pr<strong>em</strong>aturo. Dentro <strong>de</strong> certos limites<br />

é possível adaptação fisiológica. Po<strong>de</strong>,<br />

no entanto, ocorrer lesão no periodonto <strong>de</strong><br />

sustentação, tornando fundamental no tratamento<br />

oclusal o equilíbrio <strong>de</strong>sta força e a<br />

verificação da ausência <strong>de</strong> interferência<br />

<strong>de</strong>ntro dos limites dos movimentos mandibulares.<br />

A não observância <strong>de</strong>ste aspecto<br />

po<strong>de</strong> levar ao aparecimento <strong>de</strong> iatrogenias.<br />

Trauma <strong>de</strong> oclusão primário<br />

É o que provoca lesão por forças<br />

oclusais excessivas, sobre o periodonto <strong>de</strong><br />

sustentação ou <strong>de</strong> inserção íntegro, ainda<br />

não comprometido pela doença periodontal<br />

inflamatória. Neste tipo <strong>de</strong> lesão não<br />

ocorre perda <strong>de</strong> inserção. Portanto a lesão<br />

é reversível e geralmente po<strong>de</strong> ser corrigida<br />

pela eliminação da causa, a força<br />

oclusal excessiva, fig. 02.<br />

63<br />

Fig. 02 - Desenho<br />

esqu<strong>em</strong>ático <strong>de</strong> trauma<br />

oclusal primário.<br />

Trauma <strong>de</strong> oclusão secundário<br />

É o que provoca lesão por forças<br />

oclusais fisiológicas ou excessivas sobre o<br />

periodonto <strong>de</strong> sustentação ou <strong>de</strong> inserção<br />

já comprometido pela doença periodontal<br />

inflamatória. Este tipo <strong>de</strong> lesão ocorre<br />

freqüent<strong>em</strong>ente nos casos <strong>de</strong> periodontites<br />

avançadas cujos <strong>de</strong>ntes já apresentam<br />

inserções reduzidas, fig. 03.<br />

Fig. 03 - Desenho esqu<strong>em</strong>ático<br />

<strong>de</strong> trauma oclusal<br />

secundário.<br />

Contato oclusal<br />

O termo contato oclusal é <strong>em</strong>pregado<br />

<strong>para</strong> expressar o contato que ocorre entre<br />

as superfícies oclusais dos <strong>de</strong>ntes antagonistas<br />

ao final do movimento <strong>de</strong> fechamento<br />

da mandíbula, po<strong>de</strong>ndo ser:


Distúrbios Oclusais Fernan<strong>de</strong>s Neto, A J.. et .al. Univ. Fed. Uberlândia –-2006<br />

• Contato oclusal cêntrico<br />

• Contato oclusal pr<strong>em</strong>aturo<br />

• Contato oclusal <strong>de</strong>flectivo<br />

Contato oclusal cêntrico<br />

É o contato oclusal fisiológico que<br />

dá estabilida<strong>de</strong> à mandíbula no fechamento<br />

<strong>em</strong> ORC.<br />

Contato oclusal pr<strong>em</strong>aturo<br />

É o contato oclusal não fisiológico<br />

que dificulta ou impe<strong>de</strong> o completo fechamento<br />

mandibular <strong>em</strong> ORC s<strong>em</strong> causar<br />

<strong>de</strong>svio, no entanto causando instabilida<strong>de</strong> à<br />

mandíbula.<br />

Ocorre s<strong>em</strong>pre que houver contato<br />

oclusal pr<strong>em</strong>aturo entre cúspi<strong>de</strong> e fossa ou<br />

entre cúspi<strong>de</strong> e crista marginal (<strong>em</strong>brasura)<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntes antagonistas, fig. 04.<br />

Fig. 04 - Desenho esqu<strong>em</strong>ático do contato oclusal<br />

pr<strong>em</strong>aturo: A - cúspi<strong>de</strong> versus crista marginal; B -<br />

cúspi<strong>de</strong> versus fossa.<br />

Tal contato promove instabilida<strong>de</strong><br />

aos côndilos, hiperativida<strong>de</strong> muscular e<br />

estresse ao periodonto, fig. <strong>05</strong>.<br />

Fig. <strong>05</strong> - Desenho esqu<strong>em</strong>ático do contato oclusal<br />

pr<strong>em</strong>aturo, transmitido ao periodonto e ao sist<strong>em</strong>a<br />

nervoso central, promovendo hiperativida<strong>de</strong><br />

muscular.<br />

Contato oclusal <strong>de</strong>flectivo<br />

É o contato oclusal não fisiológico<br />

que dificulta ou impe<strong>de</strong> o completo fechamento<br />

mandibular <strong>em</strong> OCR, <strong>de</strong>sviando a<br />

mandíbula <strong>de</strong> sua trajetória normal, gerando<br />

então o <strong>de</strong>slize <strong>em</strong> direção:<br />

• anterior<br />

• à linha média da face<br />

• contrária à linha média da face<br />

Deslize da mandíbula <strong>em</strong> direção anterior<br />

Acontece s<strong>em</strong>pre que ocorrer contato<br />

oclusal <strong>de</strong>flectivo entre a estrutura oclusal<br />

mesial (aresta longitudinal, vertente triturante<br />

ou crista marginal) do <strong>de</strong>nte superior<br />

e a estrutura oclusal distal do <strong>de</strong>nte inferior,<br />

fig. 06. Tal contato promove o <strong>de</strong>slize<br />

dos côndilos <strong>para</strong> anterior, <strong>em</strong> posição <strong>de</strong><br />

protrusão <strong>em</strong> relação à fossa mandibular,<br />

causando hiperativida<strong>de</strong> muscular e relação<br />

<strong>de</strong> forças laterais entre os <strong>de</strong>ntes<br />

antagonistas, o que po<strong>de</strong> comprometer a<br />

harmonia da guia anterior.<br />

Fig. 06 - Desenho esqu<strong>em</strong>ático entre a estrutura<br />

oclusal mesial do <strong>de</strong>nte superior e a estrutura<br />

oclusal distal do <strong>de</strong>nte inferior.<br />

Deslize da mandíbula <strong>em</strong> direção à linha<br />

média<br />

Acontece s<strong>em</strong>pre que ocorrer contato<br />

oclusal <strong>de</strong>flectivo entre a vertente lisa <strong>de</strong><br />

uma cúspi<strong>de</strong> funcional (palatina superior e<br />

vestibular inferior) e a vertente triturante<br />

<strong>de</strong> uma cúspi<strong>de</strong> não funcional (vestibular<br />

superior e lingual inferior), fig. 07. Tal<br />

contato promove o <strong>de</strong>slize do côndilo do<br />

lado do contato <strong>para</strong> a posição <strong>de</strong> balanceio<br />

e do côndilo do lado oposto <strong>para</strong> a<br />

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Distúrbios Oclusais Fernan<strong>de</strong>s Neto, A J.. et .al. Univ. Fed. Uberlândia –-2006<br />

posição <strong>de</strong> trabalho, resultando <strong>em</strong> hiperativida<strong>de</strong><br />

muscular e relação <strong>de</strong> forças<br />

laterais entre os <strong>de</strong>ntes antagonistas, que<br />

po<strong>de</strong> comprometer a harmonia da guia<br />

canina ou da função <strong>em</strong> grupo.<br />

Fig. 07 - Desenho esqu<strong>em</strong>ático do contato oclusal<br />

<strong>de</strong>flectivo entre a vertente lisa <strong>de</strong> uma cúspi<strong>de</strong><br />

funcional (palatina superior) e a vertente triturante<br />

<strong>de</strong> uma cúspi<strong>de</strong> não funcional (lingual inferior),<br />

causando <strong>de</strong>slize <strong>em</strong> direção à linha média.<br />

Deslize da mandíbula <strong>em</strong> direção contrária<br />

à linha média<br />

Acontece s<strong>em</strong>pre que ocorrer contato<br />

oclusal <strong>de</strong>flectivo entre as vertentes triturantes<br />

<strong>de</strong> duas cúspi<strong>de</strong>s funcionais (palatina<br />

superior e vestibular inferior), fig. 08.<br />

Tal contato promove o <strong>de</strong>slize do côndilo<br />

do lado do contato <strong>para</strong> a posição <strong>de</strong> trabalho<br />

e o côndilo do lado oposto <strong>para</strong> a posição<br />

<strong>de</strong> balanceio, resultando <strong>em</strong> hiperativida<strong>de</strong><br />

muscular e relação <strong>de</strong> forças<br />

laterais entre os <strong>de</strong>ntes antagonistas, que<br />

po<strong>de</strong> comprometer a harmonia da guia<br />

canina ou da função <strong>em</strong> grupo.<br />

Fig. 08 - Desenho esqu<strong>em</strong>ático do contato oclusal<br />

<strong>de</strong>flectivo entre as vertentes triturantes <strong>de</strong> duas<br />

cúspi<strong>de</strong>s funcionais (palatina superior e vestibular<br />

inferior), causando <strong>de</strong>slize <strong>em</strong> direção contrária à<br />

linha média.<br />

Interferência oclusal<br />

O termo interferência oclusal é<br />

<strong>em</strong>pregado <strong>para</strong> expressar o contato<br />

oclusal não fisiológico que ocorre entre as<br />

superfícies oclusais antagonistas, dificultando<br />

ou impedindo os movimentos<br />

mandibulares excursivos <strong>de</strong>:<br />

• Protrusão, Trabalho e Balanceio.<br />

Interferência oclusal no movimento<br />

mandibular excursivo <strong>de</strong> protrusão<br />

Acontece s<strong>em</strong>pre que ocorrer interferência<br />

entre a estrutura oclusal mesial<br />

(aresta longitudinal, vertente triturante ou<br />

crista marginal) do <strong>de</strong>nte inferior e a<br />

estrutura oclusal distal do <strong>de</strong>nte superior,<br />

fig. 09. Tal contato promove instabilida<strong>de</strong><br />

condilar, hiperativida<strong>de</strong> muscular, relação<br />

<strong>de</strong> forças laterais entre os <strong>de</strong>ntes antagonistas<br />

e ausência da guia anterior.<br />

Fig. 09 - Desenho esqu<strong>em</strong>ático da interferência no<br />

movimento <strong>de</strong> protrusão, entre a estrutura oclusal<br />

mesial do <strong>de</strong>nte inferior e a estrutura oclusal distal<br />

do <strong>de</strong>nte superior.<br />

Interferência oclusal no movimento<br />

mandibular excursivo <strong>de</strong> trabalho<br />

Acontece s<strong>em</strong>pre que ocorrer interferência<br />

oclusal entre a vertente lisa <strong>de</strong><br />

uma cúspi<strong>de</strong> funcional (palatina superior e<br />

vestibular inferior) e a vertente triturante<br />

<strong>de</strong> uma cúspi<strong>de</strong> não funcional (vestibular<br />

superior e lingual inferior), fig. 10. Tal<br />

contato promove instabilida<strong>de</strong> condilar,<br />

hiperativida<strong>de</strong> muscular, relação <strong>de</strong> forças<br />

laterais entre os <strong>de</strong>ntes antagonistas e<br />

ausência da guia canina ou da função <strong>em</strong><br />

grupo.<br />

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Distúrbios Oclusais Fernan<strong>de</strong>s Neto, A J.. et .al. Univ. Fed. Uberlândia –-2006<br />

Fig. 10 - Desenho esqu<strong>em</strong>ático da interferência no<br />

movimento <strong>de</strong> trabalho, entre a vertente lisa <strong>de</strong> uma<br />

cúspi<strong>de</strong> funcional e a vertente triturante <strong>de</strong> uma<br />

cúspi<strong>de</strong> não funcional.<br />

Interferência oclusal no movimento<br />

mandibular excursivo <strong>de</strong> balanceio<br />

Acontece s<strong>em</strong>pre que ocorrer interferência<br />

oclusal entre as vertentes triturantes<br />

<strong>de</strong> duas cúspi<strong>de</strong>s funcionais (palatina<br />

superior e vestibular inferior), fig. 11. Tal<br />

contato promove instabilida<strong>de</strong> condilar,<br />

hiperativida<strong>de</strong> muscular, relação <strong>de</strong> forças<br />

laterais entre os <strong>de</strong>ntes antagonistas e<br />

ausência da guia canina ou da função <strong>em</strong><br />

grupo do lado <strong>de</strong> trabalho.<br />

Fig. 10 - Desenho esqu<strong>em</strong>ático da interferência no<br />

movimento <strong>de</strong> balanceio, entre as vertentes<br />

triturantes <strong>de</strong> duas cúspi<strong>de</strong>s funcionais (palatina<br />

superior e vestibular inferior).<br />

Os distúrbios oclusais freqüent<strong>em</strong>ente<br />

são causados por migrações <strong>de</strong>ntarias,<br />

restaurações <strong>de</strong>ntárias com contatos<br />

oclusais não fisiológicos ou ausentes e<br />

ausência <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntes (anteriores e/ou posteriores,<br />

superiores e/ou inferiores, uni ou<br />

bilateral).<br />

A seguir se encontram ilustrações<br />

esqu<strong>em</strong>áticas <strong>de</strong>sses possíveis distúrbios<br />

oclusais e suas conseqüências no arco<br />

<strong>de</strong>ntário.<br />

66<br />

Fig. 12 - Duas restaurações<br />

<strong>de</strong>ntárias <strong>em</strong> oclusão, on<strong>de</strong> as<br />

forças oclusais se dissipam<br />

<strong>para</strong>lelas ao longo eixo medio<br />

dos <strong>de</strong>ntes, não caracterizando<br />

distúrbio oclusal.<br />

Fig. 13 - A - molar superior com lesão <strong>de</strong> cárie e B<br />

- restaurado, porém a restauração está s<strong>em</strong> contatos<br />

oclusais, ficando estes nos planos inclinados das<br />

cúspi<strong>de</strong>s, o que direciona as forças oclusais<br />

obliquamente <strong>em</strong> relação ao longo eixo médio do<br />

<strong>de</strong>ntes, caracterizando distúrbio oclusal.<br />

A B C<br />

A B C<br />

Fig. 14 - A/A’ - relacionamento oclusal estável<br />

entre <strong>de</strong>ntes antagonistas íntegros; B/B’ – restaurações<br />

com contatos oclusais instáveis, <strong>de</strong>slizantes;<br />

C/C’ - restaurações com contatos oclusais estáveis.


Distúrbios Oclusais Fernan<strong>de</strong>s Neto, A J.. et .al. Univ. Fed. Uberlândia –-2006<br />

A B C<br />

Fig. 15 - A - molar superior com lesão <strong>de</strong> cárie; B -<br />

restauração s<strong>em</strong> contato oclusal; C - migração do<br />

antagonista <strong>em</strong> razão da ausência <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong><br />

oclusal.<br />

A B C<br />

Fig. 16 - A - molar inferior com lesão <strong>de</strong> cárie e o<br />

antagonista com extrusão; B - <strong>de</strong>marcação da<br />

extrusão a ser eliminada; C - extrusão eliminada e<br />

molar inferior corretamente restaurado.<br />

A B<br />

Fig. 17 - A - molar inferior com lesão <strong>de</strong> cárie e<br />

antagonista com extrusão; B - o molar inferior<br />

restaurado s<strong>em</strong> a prévia eliminação da extrusão do<br />

superior; C - interferência oclusal no movimento <strong>de</strong><br />

balanceio gerado pela restauração s<strong>em</strong> a eliminação<br />

da extrusão do antagonista, causando distúrbio<br />

oclusal interferente.<br />

Fig. 18 - 3º molar inferior s<strong>em</strong> antagonista e extruído,<br />

gerando interferência oclusal no movimento <strong>de</strong><br />

protrusão que leva instabilida<strong>de</strong> às ATMs e ausência<br />

<strong>de</strong> guia anterior, causando distúrbio oclusal.<br />

K<br />

C<br />

Fig 19 - 3º molar inferior extruído, tornando-se um<br />

contato pr<strong>em</strong>aturo (E) e alterando o fulcro (F) no<br />

movimento <strong>de</strong> fechamento da mandíbula, gerando<br />

instabilida<strong>de</strong> às ATMs e alteração da guia anterior.<br />

Fig 20 - Nesta ilustração vê-se que, por<br />

conseqüência da ausência <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntes posteriores<br />

inferiores e perda da estabilida<strong>de</strong> oclusal, houve a<br />

extrusão dos antagonistas, gerando um contato<br />

<strong>de</strong>flectivo (estrutura mesial do superior versus<br />

estrutura distal do inferior) com <strong>de</strong>slize mandibular<br />

<strong>para</strong> anterior.<br />

Fig 21 - Nesta ilustração, vê-se a ausência <strong>de</strong><br />

estabilida<strong>de</strong> oclusal do lado direito, o que permite a<br />

ação muscular M e M’ gerar instabilida<strong>de</strong> e estresse<br />

às ATMs, ao periodonto e aos <strong>de</strong>ntes r<strong>em</strong>anescentes.<br />

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Distúrbios Oclusais Fernan<strong>de</strong>s Neto, A J.. et .al. Univ. Fed. Uberlândia –-2006<br />

Fig 22 - Nesta ilustração, vê-se como conseqüência<br />

da ausência <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> bilateral o estresse<br />

gerada às ATMs, <strong>de</strong>ntes e periodonto r<strong>em</strong>anescentes.<br />

Biomecânica das <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns oclusais<br />

A aplicação dos princípios biomecânicos<br />

no estudo dos estresses induzidos<br />

no aparelho estomatognático pelos distúrbios<br />

oclusais ilustra claramente o mecanismo<br />

pelo qual mudanças patológicas ocorr<strong>em</strong><br />

<strong>para</strong> produzir os sintomas reconhecidos<br />

pelo <strong>de</strong>ntista nas <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns oclusais.<br />

Duas condições oclusais que po<strong>de</strong>m resultar<br />

<strong>em</strong> <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m oclusal são:<br />

• Fulcro transverso ou arco cruzado<br />

• Fulcro antero-posterior.<br />

Nos estudos <strong>de</strong>stas duas condições,<br />

consi<strong>de</strong>rando a mandíbula como sendo um<br />

aparelho <strong>de</strong> alavanca, os músculos produz<strong>em</strong><br />

o esforço (E) e os <strong>de</strong>ntes e as ATMs<br />

funcionam como resistência (R) ou fulcro<br />

(F), <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo das relações interoclusais<br />

e dos tecidos estudados.<br />

As observações a seguir ilustram que<br />

as cúspi<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m funcionar como<br />

resistência ao estresse e também como<br />

fulcro, po<strong>de</strong>ndo resultar <strong>em</strong> efeitos danosos.<br />

Estes fulcros po<strong>de</strong>m conce<strong>de</strong>r a uma<br />

dada força muscular uma vantag<strong>em</strong><br />

mecânica, ampliando-a e repassando-a aos<br />

tecidos <strong>de</strong> forma danosa por longos<br />

períodos <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po, <strong>para</strong> melhor analisar o<br />

estresse <strong>de</strong>stas relações interoclusais, <strong>de</strong>vese<br />

consi<strong>de</strong>rar:<br />

• a magnitu<strong>de</strong> das forças<br />

• a direção das forças<br />

• a duração <strong>de</strong> aplicação.<br />

Fulcro transverso<br />

O fulcro transverso é representado<br />

por uma interferência no movimento <strong>de</strong><br />

balanceio. O termo biomecânico indica<br />

claramente a potencial <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m causada<br />

pelas relações interoclusais impróprias.<br />

A fig. 23, ilustra uma visão frontal<br />

da mandíbula, <strong>em</strong> uma posição <strong>de</strong> trabalho<br />

<strong>para</strong> a esquerda e o côndilo direito <strong>em</strong><br />

posição <strong>de</strong> balanceio (<strong>para</strong> baixo, <strong>para</strong><br />

frente e <strong>para</strong> <strong>de</strong>ntro). Existe uma interferência<br />

<strong>em</strong> balanceio nos segundos<br />

molares direitos e as cúspi<strong>de</strong>s do lado<br />

esquerdo estão <strong>de</strong>socluidas.<br />

2x<br />

R<br />

F<br />

Estresse sobre ATM<br />

Fig. 23 - Fulcro transverso, estresse os as ATMs.<br />

Para estudar as forças aplicadas a<br />

ATM direita, <strong>de</strong>ve-se supor que o paciente<br />

esteja aplicando uma força <strong>de</strong> quantida<strong>de</strong><br />

X sobre os músculos <strong>de</strong> fechamento no<br />

lado esquerdo, e apertando os segundos<br />

molares.<br />

Para analisar a magnitu<strong>de</strong> das forças<br />

aplicadas na ATM direita (R), consi<strong>de</strong>ramse<br />

os segundos molares como sendo o<br />

fulcro (F) e a força aplicado pelos<br />

músculos <strong>de</strong> fechamento do lado esquerdo<br />

o esforço (E), a disposição <strong>de</strong> R, F e E<br />

estabelece um aparelho <strong>de</strong> alavanca Classe<br />

I.<br />

Quando o comprimento do braço do<br />

esforço (E-F) for igual ao comprimento do<br />

braço <strong>de</strong> resistência (F-R) multiplicados<br />

pelo mesmo valor (E ou R) ter<strong>em</strong>os uma<br />

alavanca <strong>em</strong> equilíbrio (Lei das Alavancas).<br />

Consi<strong>de</strong>rando que neste caso <strong>em</strong><br />

questão a proporção entre o braço <strong>de</strong><br />

X<br />

E<br />

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Distúrbios Oclusais Fernan<strong>de</strong>s Neto, A J.. et .al. Univ. Fed. Uberlândia –-2006<br />

esforço (E-F) <strong>para</strong> o braço da resistência<br />

(F-R) é <strong>de</strong> 2:1; a resistência <strong>de</strong>ve ser duas<br />

vezes o valor do esforço <strong>para</strong> manter a<br />

alavanca <strong>em</strong> equilíbrio.<br />

A aplicação da Lei das Alavancas<br />

ilustra que a ATM do lado direito é então<br />

comprometida por uma força muscular<br />

duas vezes maior, que a pressiona e<br />

proprioceptivamente induz uma resposta<br />

recíproca nos músculos do lado direito da<br />

cabeça <strong>para</strong> aliviar o estresse induzido. Os<br />

sintomas po<strong>de</strong>m ser precipitados nos<br />

músculos recíprocos, na ATM, periodonto<br />

ou <strong>de</strong>ntes.<br />

Para analisar a magnitu<strong>de</strong> da força<br />

sobre os segundos molares, consi<strong>de</strong>re-se<br />

agora a ATM como sendo o fulcro (F) e os<br />

segundos molares como sendo a resistência<br />

(R) (Fig. 24). A disposição <strong>de</strong> E, R, e F<br />

estabelece um aparelho <strong>de</strong> alavanca Classe<br />

II.<br />

Consi<strong>de</strong>rando que neste caso <strong>em</strong><br />

questão a proporção entre o braço <strong>de</strong><br />

esforço (E-F) <strong>para</strong> o braço da resistência<br />

(F-R) é <strong>de</strong> 3:1; a resistência <strong>de</strong>ve ser três<br />

vezes o valor do esforço <strong>para</strong> manter a<br />

alavanca <strong>em</strong> equilíbrio, <strong>de</strong>sta maneira, uma<br />

força três vezes maior inci<strong>de</strong> sobre os<br />

segundos molares, induzindo estresse<br />

sobre os <strong>de</strong>ntes e periodonto ou irá<br />

proprioceptivamente induzir uma resposta<br />

antagônica nos músculos que movimentam<br />

a mandíbula, prevenindo uma sobre-carga<br />

oclusal aos segundos molares.<br />

2x<br />

3x<br />

F<br />

R<br />

3x<br />

Estresss sobre os <strong>de</strong>ntes<br />

Fig. 24 - Fulcro transverso, estresse sobre os<br />

<strong>de</strong>ntes.<br />

X<br />

E<br />

Em resumo, como foi visto, uma<br />

interferência oclusal po<strong>de</strong> introduzir na<br />

oclusão um fulcro que t<strong>em</strong> a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

conce<strong>de</strong>r a uma <strong>de</strong>terminada força uma<br />

vantag<strong>em</strong> mecânica, ampliando-a <strong>de</strong> duas<br />

a três vezes. Para registrar a magnitu<strong>de</strong><br />

média das forças aplicadas nesta análise do<br />

estresse, usa-se a média <strong>de</strong> duas vezes e<br />

meia (2,5).<br />

• Análise do estresse:<br />

• Magnitu<strong>de</strong>: 2,5 X<br />

• Direção:<br />

• Duração:<br />

Estas forças ten<strong>de</strong>m a <strong>de</strong>slocar o<br />

côndilo <strong>de</strong> sua cavida<strong>de</strong> e produzir uma<br />

carga lateral nos <strong>de</strong>ntes (Fig. 25). Esta<br />

direção da carga é no mínimo duas vezes<br />

mais patogênica que as cargas verticais<br />

sobre os <strong>de</strong>ntes ou as que ten<strong>de</strong>m assentar<br />

o côndilo <strong>em</strong> sua fossa.<br />

2x<br />

3x<br />

3x<br />

Direção<br />

Fig. 25 - Carga <strong>em</strong> direção lateral ao <strong>de</strong>ntes<br />

Para estabelecer o fator direção,<br />

multiplica-se o fator magnitu<strong>de</strong> previamente<br />

estabelecido <strong>em</strong> 2,5 pelo fator 2 que<br />

representa o aumento da patogenicida<strong>de</strong> da<br />

força lateral aplicada. O produto <strong>de</strong>stes<br />

dois fatores é 5.<br />

• Análise do estresse<br />

• Magnitu<strong>de</strong>: 2,5 X<br />

• Direção: x 2 = 5 X<br />

• Duração:<br />

Distúrbios oclusais po<strong>de</strong>m ampliar<br />

uma força muscular dada e induzir tais<br />

forças sobre os tecidos do aparelho<br />

estomatognático <strong>de</strong> maneira prejudicial,<br />

produzindo mudanças na ATM, nos <strong>de</strong>ntes<br />

e/ou no periodonto. Alternadamente, os<br />

E<br />

X<br />

69


Distúrbios Oclusais Fernan<strong>de</strong>s Neto, A J.. et .al. Univ. Fed. Uberlândia –-2006<br />

estresses induzidos po<strong>de</strong>m proprioceptivamente<br />

programar uma resposta muscular<br />

recíproca (tensão dinâmica) <strong>para</strong> inibir<br />

a sobre-carga nos tecidos envolvidos (fig.<br />

26). As tensões induzidas nos músculos<br />

<strong>para</strong> manter uma posição mandibular<br />

compensadora, adaptativa ou habituada<br />

<strong>para</strong> acomodar um distúrbio oclusal po<strong>de</strong>m<br />

induzir ao apertamento <strong>de</strong>ntário. Pesquisas<br />

têm mostrado que quando o apertamento<br />

<strong>de</strong>ntário está presente, os <strong>de</strong>ntes po<strong>de</strong>m ser<br />

mantidos <strong>em</strong> contato oclusal forçado por<br />

um longo período <strong>de</strong> quatro horas <strong>em</strong> uma<br />

única noite <strong>de</strong> sono, enquanto que todos os<br />

contatos oclusais que ocorr<strong>em</strong> durante as<br />

horas correntes como resultado das funções<br />

fisiológicas <strong>de</strong> mastigação, <strong>de</strong>glutição<br />

e fala totalizam menos <strong>de</strong> <strong>de</strong>z minutos por<br />

dia.<br />

2x<br />

Tensão<br />

dinâmica<br />

3x<br />

Fig. 26 - Tensão dinâmica<br />

3x<br />

Duração da<br />

resposta recíproca<br />

Hiperfunção<br />

Para refletir o maior período <strong>de</strong><br />

t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que o estresse é induzido sobre<br />

os componentes do aparelho estômatognático,<br />

multiplica-se o fator previamente<br />

estabelecido <strong>de</strong> 5 por um fator consi<strong>de</strong>rado<br />

<strong>de</strong> 4 que representa as funções <strong>de</strong><br />

apertamento <strong>de</strong>ntário como oponentes aos<br />

contatos oclusais intermitentes nas funções<br />

fisiológicas.<br />

• Análise do estresse<br />

• Magnitu<strong>de</strong>: 2,5 X<br />

• Direção: x 2 = 5 X<br />

• Duração: x 4 = 20 X<br />

O estresse induzido ao aparelho estomatognático<br />

no apertamento <strong>de</strong>ntário crônico<br />

po<strong>de</strong> exce<strong>de</strong>r <strong>em</strong>, no mínimo, 20 vezes ao<br />

produzido durante as funções fisiológicas<br />

<strong>de</strong> mastigação, <strong>de</strong>glutição e fala. Se o<br />

estresse induzido nos respectivos tecidos,<br />

alcançar ou exce<strong>de</strong>r, duas características<br />

individuais do paciente (hospe<strong>de</strong>iro) que<br />

<strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser consi<strong>de</strong>radas:<br />

• a suscetibilida<strong>de</strong> - tendência <strong>de</strong> sofrer<br />

influências ou contrair enfermida<strong>de</strong>s,<br />

• o limiar <strong>de</strong> tolerância - limite máximo<br />

<strong>de</strong> tolerância do indivíduo (tecidos) aos<br />

esforços a partir do qual um estímulo<br />

passa a produzir <strong>de</strong>terminada resposta,<br />

po<strong>de</strong>rá resultar <strong>em</strong> mudanças adaptativas<br />

e/ou proliferativas ou patológicas na ATM,<br />

<strong>de</strong>ntes, periodonto e músculos,.<br />

Quando da presença <strong>de</strong> distúrbios<br />

oclusais, estes são percebidos pelos próprioceptores<br />

(terminações nervosas sensitivas),<br />

especialmente os do periodonto,<br />

integrados ao sist<strong>em</strong>a nervoso central que<br />

<strong>em</strong>ite uma reação motora, <strong>de</strong>terminando<br />

uma hiperativida<strong>de</strong> dos agentes <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa<br />

do organismo e gerando disfunções ou<br />

<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns do aparelho estomatognático.<br />

Mudanças adaptativas próprioceptivamente<br />

induzidas pelas forças que<br />

ten<strong>de</strong>m a <strong>de</strong>slocar o côndilo <strong>de</strong> sua fossa<br />

ou sobrecarregar os <strong>de</strong>ntes po<strong>de</strong>m incluir<br />

contração crônica (tensão dinâmica) da<br />

porção superior do músculo pterigói<strong>de</strong>o<br />

lateral. Este músculo puxa o disco articular<br />

<strong>para</strong> frente, <strong>de</strong>slocando o côndilo <strong>para</strong><br />

baixo. Isto estabelece um suporte condilar<br />

<strong>para</strong> prevenir uma sobrecarga nos <strong>de</strong>ntes.<br />

As forças que ten<strong>de</strong>m a <strong>de</strong>slocar o<br />

côndilo <strong>de</strong> sua fossa po<strong>de</strong>m próprioceptivamente<br />

induzir uma resposta recíproca<br />

do feixe médio do músculo t<strong>em</strong>poral<br />

que contrai cronicamente <strong>para</strong> evitar o<br />

<strong>de</strong>slocamento do côndilo direito. Nesta<br />

situação, dois músculos potentes nos lados<br />

opostos da cabeça estão funcionando <strong>em</strong><br />

tensão dinâmica, fulcrando a mandíbula<br />

sobre o segundo molar. O principal<br />

sintoma do paciente po<strong>de</strong> ser dores <strong>de</strong><br />

cabeça t<strong>em</strong>poral freqüent<strong>em</strong>ente referidas<br />

como dor <strong>de</strong> cabeça <strong>de</strong> tensão.<br />

Mudanças proliferativas po<strong>de</strong>m<br />

incluir aposição óssea no côndilo e/ou<br />

fossa, osteite con<strong>de</strong>nsante da fossa,<br />

hiperc<strong>em</strong>entose, exostose do osso alveolar<br />

70


Distúrbios Oclusais Fernan<strong>de</strong>s Neto, A J.. et .al. Univ. Fed. Uberlândia –-2006<br />

e espessamento da lâmina dura e do ligamento<br />

periodontal.<br />

As mudanças patológicas ou <strong>de</strong>generativas<br />

induzidas no aparelho estomatognático<br />

pelos distúrbios oclusais são<br />

reconhecidas como <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns oclusais ou<br />

<strong>para</strong>funções (figs. 27, 28, 29).<br />

Fig. 27 - Parafunções, segundo Guichet.<br />

Po<strong>de</strong>m incluir dores <strong>de</strong> cabeça crônica,<br />

<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns na ATM (perfuração do menisco,<br />

osteoporose da fossa), <strong>de</strong>sgaste pr<strong>em</strong>aturo<br />

dos <strong>de</strong>ntes, fratura <strong>de</strong> cúspi<strong>de</strong>, pulpites,<br />

dor facial, dor no pescoço e ombro,<br />

espasmos musculares, reabsorção do osso<br />

alveolar, reabsorção do rebordo sob a prótese<br />

e <strong>de</strong>sarranjo periodontal.<br />

Parafunções<br />

Dor articular<br />

Estalido<br />

Doença articular<br />

<strong>de</strong>generativa<br />

Dor miofascial<br />

Hipertrofia<br />

muscular<br />

Dentes quebrados<br />

Fig. 28 - Parafunções, segundo Mohl.<br />

Ativida<strong>de</strong>s<br />

<strong>para</strong>funcionais<br />

pulpite<br />

mobilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ntal<br />

<strong>de</strong>sgaste<br />

<strong>de</strong>ntal<br />

Dor <strong>de</strong> cabeça por<br />

contração muscular<br />

Destruição do<br />

trabalho<br />

odontológico<br />

Desgaste<br />

<strong>de</strong>ntal<br />

Abrasão<br />

<strong>de</strong>ntal<br />

Perda <strong>de</strong> osso<br />

alveolar<br />

(MOHL, M.D., 1989)<br />

Má oclusão<br />

Dor <strong>de</strong> cabeça<br />

Dor no ouvido<br />

Dor na ATM<br />

Dor nos músculos<br />

mastigatórios<br />

(OKESON, J.P., 1992)<br />

Fig. 29 - Parafunções, segundo Okeson.<br />

No tratamento, as <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns oclusais<br />

<strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser r<strong>em</strong>ovidas da oclusão. Quando<br />

estes são r<strong>em</strong>ovidos, como ilustrado na<br />

figura 30, a guia lateral esquerda entra <strong>em</strong><br />

função.<br />

Fig. 30 - Tratamento das <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns oclusais.<br />

Nesta situação, uma força <strong>de</strong> fechamento<br />

aproximada <strong>de</strong> X no lado esquerdo<br />

do paciente será distribuída entre as ATMs<br />

direita e esquerda e a guia lateral esquerda.<br />

Esta força ten<strong>de</strong> a assentar o côndilo<br />

direito do paciente <strong>em</strong> sua fossa ao<br />

contrário <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocá-lo. As tensões previamente<br />

induzidas no músculo t<strong>em</strong>poral<br />

direito serão aliviadas à medida que sua<br />

função não mais será necessária <strong>para</strong><br />

manter o côndilo <strong>em</strong> posição. As forças<br />

que previamente atuaram sobre o segundo<br />

molar direito do paciente e no seu<br />

periodonto são aliviadas porque não<br />

exist<strong>em</strong> mais forças laterais. Logo que a<br />

guia lateral esquerda entra <strong>em</strong> função, ela<br />

se torna a resistência da alavanca (R), a<br />

ação muscular o esforço (E) e a ATM, o<br />

fulcro (F). Assim a resistência da alavanca<br />

é duas vezes maior, enquanto que o<br />

esforço é a meta<strong>de</strong>, assim como a força<br />

efetuada pelo músculo sobre as cúspi<strong>de</strong>s<br />

esquerdas. Esta disposição <strong>de</strong> R, E e F<br />

constitui uma alavanca Classe III; os<br />

músculos estão <strong>em</strong> uma <strong>de</strong>svantag<strong>em</strong><br />

mecânica <strong>para</strong> realizar cargas acentuadas<br />

sobre os <strong>de</strong>ntes anteriores.<br />

A eliminação do fulcro do arco<br />

transverso sobre os segundos molares<br />

direitos com a interferência no balanceio,<br />

pelo estabelecimento da guia lateral<br />

esquerda, como ilustrado na figura 31,<br />

assegura uma vantag<strong>em</strong> mecânica aos<br />

<strong>de</strong>ntes e os músculos ficam <strong>em</strong> <strong>de</strong>svan-<br />

71


Distúrbios Oclusais Fernan<strong>de</strong>s Neto, A J.. et .al. Univ. Fed. Uberlândia –-2006<br />

tag<strong>em</strong> <strong>para</strong> efetuar danos no aparelho<br />

estomatognático.<br />

O <strong>de</strong>ntista t<strong>em</strong> a habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

redirecionar o grau e a direção das forças<br />

aplicadas sobre o aparelho estomatognático<br />

através da mudança da localização<br />

dos contatos <strong>de</strong>ntários <strong>em</strong> várias posições<br />

mandibulares. Esta redução do estresse<br />

po<strong>de</strong> interceptar o apertamento <strong>de</strong>ntário e a<br />

duração da aplicação das forças é drásticamente<br />

reduzida, aliviando o estresse sobre<br />

os tecidos do aparelho estomatognático.<br />

Fulcro ântero-posterior<br />

A figura 31 ilustra uma pr<strong>em</strong>aturida<strong>de</strong><br />

cêntrica sobre os segundos molares<br />

direitos. Os côndilos estão <strong>em</strong> relação<br />

cêntrica. Se o paciente apertar os <strong>de</strong>ntes, a<br />

mandíbula será <strong>de</strong>slocada <strong>para</strong> anterior.<br />

Quais são as possíveis conseqüências se as<br />

pressões <strong>de</strong> apertamento for<strong>em</strong> aplicadas<br />

sobre esta pr<strong>em</strong>aturida<strong>de</strong> cêntrica?<br />

Força aplicada<br />

A E<br />

Fulcro<br />

ântero-posterior<br />

Fig. 31 - pr<strong>em</strong>aturida<strong>de</strong> cêntrica sobre os segundos<br />

molares direitos<br />

O músculo t<strong>em</strong>poral se insere no<br />

processo coronói<strong>de</strong>, assim, avaliando todas<br />

as ações das forças musculares agindo<br />

sobre a mandíbula (incluindo masséter,<br />

pterigói<strong>de</strong>o lateral e medial, bucinador) e<br />

representando-as por um vetor <strong>de</strong> força<br />

simples, ele será provavelmente posicionado<br />

no ponto E, área do segundo prémolar<br />

e primeiro molar. Pesquisas odontológicas<br />

mostram que as maiores forças <strong>de</strong><br />

mordida po<strong>de</strong>m ser efetuadas nesta mesma<br />

área e a aplicação <strong>de</strong> força nesta área<br />

po<strong>de</strong>ria resultar <strong>em</strong> um efeito <strong>de</strong> fulcro ao<br />

redor da pr<strong>em</strong>aturida<strong>de</strong> cêntrica, ten<strong>de</strong>ndo<br />

a <strong>de</strong>slocar o côndilo <strong>de</strong> sua fossa. Além do<br />

que, o contato inclinado sobre o segundo<br />

molar inferior quando do fechamento<br />

mandibular ten<strong>de</strong>ria a <strong>de</strong>slocar o segundo<br />

molar superior distalmente abrindo o<br />

contato proximal mesial, po<strong>de</strong>ndo levar a<br />

impacção alimentar, cárie <strong>de</strong>ntal, irritação<br />

gengival, formação <strong>de</strong> bolsa, <strong>de</strong>sgaste<br />

pr<strong>em</strong>aturo dos <strong>de</strong>ntes, fratura <strong>de</strong> cúspi<strong>de</strong>s e<br />

pulpite.<br />

A figura 32 ilustra uma pr<strong>em</strong>aturida<strong>de</strong><br />

cêntrica sobre o primeiro pré-molar<br />

superior, nesta situação, a aplicação <strong>de</strong><br />

força muscular ten<strong>de</strong> assentar o côndilo na<br />

fossa ao invés <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocá-lo.<br />

Estresse potencial<br />

4 5 2 2<br />

Fig. 32 - pr<strong>em</strong>aturida<strong>de</strong> cêntrica sobre o primeiro<br />

pré-molar superior<br />

Supondo que existam bons contatos<br />

entre todos os <strong>de</strong>ntes neste quadrante superior,<br />

um <strong>de</strong>slocamento distal do primeiro<br />

pré-molar é resistido pelo grupo <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntes<br />

distais a ele, resultando <strong>em</strong> 13 unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

suporte. Para <strong>de</strong>slocar o primeiro prémolar<br />

superior distalmente, a ação <strong>de</strong><br />

escoramento do segundo pré-molar, dos<br />

primeiro e segundo molares <strong>de</strong>ve ser<br />

superada. Os números acima dos <strong>de</strong>ntes<br />

superiores representam unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

suporte <strong>de</strong> estresse.<br />

Para fazer uma análise com<strong>para</strong>tiva<br />

das duas condições <strong>de</strong>scritas acima (Figs.<br />

31 e 32), suponha-se que o paciente tenha<br />

uma dada força muscular: ao mover<br />

anteriormente a alavanca mandibular <strong>para</strong><br />

a posição B, como ilustrado na figura 34, a<br />

força aplicada torna-se menor e movendo<br />

distalmente <strong>para</strong> a posição A, a força<br />

aplicada torna-se maior. Se a função<br />

E<br />

13<br />

B<br />

72


Distúrbios Oclusais Fernan<strong>de</strong>s Neto, A J.. et .al. Univ. Fed. Uberlândia –-2006<br />

muscular está produzindo uma força <strong>de</strong><br />

quantida<strong>de</strong> x no ponto B, produzirá uma<br />

força <strong>de</strong> 2x na posição A. Esta força maior<br />

<strong>de</strong> 2x é resistida por somente 4 unida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> suporte do estresse sobre o segundo<br />

molar, enquanto que uma força menor <strong>de</strong> x<br />

na posição B é resistida por 13 <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> suporte do estresse.<br />

Força aplicada<br />

Fig. 33 - Alavanca A e B<br />

A<br />

4<br />

Fulcro<br />

ântero-posterior<br />

4 5 2 2<br />

E<br />

13<br />

B<br />

2x 1x<br />

Para com<strong>para</strong>r as duas condições, um<br />

<strong>de</strong>nominador comum <strong>de</strong>ve ser estabelecido.<br />

Para isto, divi<strong>de</strong>-se o 2x da posição A<br />

por dois, <strong>para</strong> resultar <strong>em</strong> um <strong>de</strong>nominador<br />

comum 1x (Fig. 34). Deve-se também<br />

dividir as quatro unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> suporte na<br />

posição A por 2, resultando <strong>em</strong> 2 unida<strong>de</strong>s<br />

<strong>de</strong> suporte do estresse. Desta maneira, 13<br />

por 2, a pr<strong>em</strong>aturida<strong>de</strong> cêntrica sobre o<br />

segundo molar é 6,5 vezes potencialmente<br />

mais patogênica que a pr<strong>em</strong>aturida<strong>de</strong> sobre<br />

o primeiro pré-molar (assumindo que não<br />

há terceiro molar <strong>para</strong> apoiar o segundo<br />

molar).<br />

Fig. 34 - Potencial patogênico da <strong>para</strong> função<br />

Em razão disso, o cirurgião <strong>de</strong>ntista,<br />

nos procedimentos <strong>de</strong> exame oclusal, <strong>de</strong>ve<br />

<strong>de</strong>tectar não somente o <strong>de</strong>svio mandibular<br />

que ocorre no fechamento <strong>em</strong> relação<br />

cêntrica, mas também <strong>em</strong> quais <strong>de</strong>ntes<br />

ocorre o contato pr<strong>em</strong>aturo.<br />

As pr<strong>em</strong>aturida<strong>de</strong>s que produz<strong>em</strong><br />

<strong>de</strong>slocamento anterior da mandíbula são<br />

potencialmente mais patogênicas sobre os<br />

<strong>de</strong>ntes posicionados mais distalmente no<br />

arco <strong>de</strong>ntal que as pr<strong>em</strong>aturida<strong>de</strong>s s<strong>em</strong>elhantes<br />

nos <strong>de</strong>ntes posicionados mais<br />

anteriormente, supondo que exista contato<br />

entre todos os <strong>de</strong>ntes no quadrante <strong>em</strong><br />

máxima intercuspidação.<br />

Finalizando, sabe-se que o potencial<br />

da oclusão <strong>de</strong> induzir estresse sobre os<br />

tecidos do aparelho estomatognático induz<br />

tensões dinâmicas sobre os músculos que<br />

funcionam cronicamente <strong>para</strong> manter as<br />

ATMs <strong>em</strong> uma posição adaptativa, evitando<br />

os distúrbios oclusais. As tensões<br />

induzidas pelos distúrbios geram reflexos<br />

protetores <strong>para</strong> evitar danos ao aparelho.<br />

Portanto, se as tensões for<strong>em</strong> suficient<strong>em</strong>ente<br />

intensas, po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>senvolver sintomas<br />

na musculatura e nas ATMs. Em<br />

alguns pacientes com apertamento, os<br />

sintomas da <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m oclusal po<strong>de</strong>m,<br />

também, se <strong>de</strong>senvolver nos <strong>de</strong>ntes e<br />

periodonto. Sabe-se também que quando o<br />

apertamento é induzido, as cúspi<strong>de</strong>s<br />

po<strong>de</strong>m funcionar como fulcro. Estes<br />

fulcros têm a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conferir a uma<br />

força muscular dada, uma vantag<strong>em</strong><br />

mecânica que amplia seu efeito sobre os<br />

tecidos <strong>de</strong> maneira prejudicial por longos<br />

períodos <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po. Tanto o fulcro ânteroposterior<br />

quanto o fulcro transverso do<br />

arco po<strong>de</strong>m produzir uma <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m<br />

oclusal, gerando uma oclusão traumática.<br />

A observação da presença <strong>de</strong> sinais e<br />

sintomas <strong>de</strong> distúrbios oclusais durante a<br />

anamnese e exame do paciente fornece<br />

importantes meios <strong>para</strong> se chegar a um<br />

diagnóstico.<br />

Usualmente, há mais <strong>de</strong> um sinal ou<br />

sintoma presente nestes indivíduos. Os<br />

sintomas típicos <strong>de</strong>stes distúrbios se manifestam<br />

no aparelho estomatognático como<br />

dor ou <strong>de</strong>sconforto periodontal, hipersensibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ntária, dor e/ou hipertonicida<strong>de</strong><br />

muscular, mobilida<strong>de</strong> e/ou migração <strong>de</strong>nta-<br />

73


Distúrbios Oclusais Fernan<strong>de</strong>s Neto, A J.. et .al. Univ. Fed. Uberlândia –-2006<br />

ria patológica, dor nas ATMs, impacção<br />

alimentar, gerando <strong>de</strong>sconforto gengival.<br />

Os pacientes relatam estes sintomas como<br />

uma mudança na posição dos <strong>de</strong>ntes, como<br />

uma migração patológica do <strong>de</strong>nte incisivo,<br />

uma mudança na mordida, uma reclamação<br />

<strong>de</strong> impacção alimentar ou dolorimento<br />

gengival, rangimento e apertamento<br />

noturno dos <strong>de</strong>ntes, dolorimento dos <strong>de</strong>ntes<br />

e músculos ao acordar, irregularida<strong>de</strong><br />

do movimento e travamento da ATM. Isso<br />

tudo é indicativo <strong>de</strong> que probl<strong>em</strong>as relacionados<br />

com a oclusal po<strong>de</strong>m estar<br />

presentes.<br />

Os sinais do trauma oclusal são<br />

mobilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntal, padrões atípicos <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>sgaste <strong>de</strong>ntal, migração patológica dos<br />

<strong>de</strong>ntes, hipertonicida<strong>de</strong> dos músculos da<br />

mastigação, formação <strong>de</strong> abscesso periodontais,<br />

ulceração gengival e mudanças na<br />

ATM.<br />

Uma série completa <strong>de</strong> radiografias<br />

periapicais da boca fornece meios <strong>para</strong><br />

análise dos tecidos duros do periodonto. O<br />

trauma oclusal compromete mais que uma<br />

área ou um <strong>de</strong>nte.<br />

Os sinais radiográficos do distúrbio<br />

oclusal envolv<strong>em</strong> mais comumente a<br />

lâmina dura e o espaço da m<strong>em</strong>brana<br />

periodontal, mas po<strong>de</strong> também envolver<br />

hiperc<strong>em</strong>entose, <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> maior do osso<br />

alveolar, calcificação pulpar e fratura<br />

<strong>de</strong>ntal.<br />

Após um diagnóstico <strong>de</strong>stes distúrbios,<br />

o exame das características da oclusão<br />

do paciente ajudará na <strong>de</strong>finição do<br />

tratamento apropriado.<br />

Consi<strong>de</strong>rando o limiar <strong>de</strong> tolerância<br />

e a suscetibilida<strong>de</strong> dos pacientes, as<br />

disfunções t<strong>em</strong>poromandibulares geradas<br />

ao aparelho estomatognático se manifestam<br />

<strong>em</strong> distintos grupos <strong>de</strong> pacientes, tais<br />

como:<br />

• Grupo I - Disfunção neuromuscular -<br />

DNM. (Disfunção mandibular).<br />

• Grupo II - Disfunção t<strong>em</strong>poromandibular.<br />

(Distúrbios t<strong>em</strong>poromandibular).<br />

• Grupo III - Disfunção <strong>de</strong>ntária. (Lesões<br />

não cariosa das estruturas <strong>de</strong>ntária).<br />

• Grupo IV - Disfunção periodontal.<br />

(Mobilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntal ou migração<br />

patológica dos <strong>de</strong>ntes).<br />

• Grupo V - Ausência Disfunção.<br />

(Acomodação).<br />

O quadro I faz um com<strong>para</strong>tivo das características dos pacientes, <strong>em</strong> função e <strong>em</strong><br />

disfunção ou <strong>para</strong>função:<br />

FATOR FUNÇÃO PARA-FUNÇÃO<br />

Duração dos contatos <strong>de</strong>ntários Curtos e intermitentes Prolongados<br />

Duração dos contatos <strong>de</strong>ntários<br />

<strong>em</strong> 24 hs.<br />

De 4 a 10 minutos 4 horas<br />

Magnitu<strong>de</strong> da força aplicada 9 a 18 Kg/pol 2 Acima <strong>de</strong> 165 Kg/pol 2<br />

Direção da força aplicada Vertical (aceitável) Horizontal/ Lateral (injuriante)<br />

Alavanca Classe III (às vezes classe II) Classe II ou I<br />

Contração muscular Isotônica Isométrica<br />

Influência ou proteção Arco adaptável. O reflexo Arco esquelético. Mecanismo<br />

proprioceptiva<br />

condicionado evita a<br />

<strong>de</strong> proteção neuromuscular<br />

interferência <strong>de</strong>ntária ausente<br />

Posição <strong>de</strong> fechamento <strong>Oclusão</strong> <strong>em</strong> relação cêntrica - Excêntrica – máxima<br />

mandibular<br />

ORC<br />

intercuspidação habitual - MIH<br />

Efeitos patológicos Nenhum ou ao menos mínimo Ocorr<strong>em</strong> mudanças patológicas<br />

variáveis a cada paciente<br />

Quadro I - Com<strong>para</strong>tivo das características dos pacientes, <strong>em</strong> função e <strong>em</strong> disfunção ou <strong>para</strong>função:<br />

74


Distúrbios Oclusais Fernan<strong>de</strong>s Neto, A J.. et .al. Univ. Fed. Uberlândia –-2006<br />

Uma apreciação dos efeitos dos<br />

microrganismos e das <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns oclusais<br />

sobre a população adulta po<strong>de</strong> ser vista no<br />

quadro II.<br />

Microrganismos<br />

(Higiene ina<strong>de</strong>quada)<br />

a- Cárie <strong>de</strong>ntal (principalmente na<br />

infância)<br />

b- Gengivite<br />

Desequilíbrio oclusal<br />

(Maloclusão)<br />

a- Dor no ombro e pescoço<br />

b- Doença periodontal avançada<br />

c- Dor <strong>de</strong> cabeça<br />

d- Dor facial<br />

e- Desgaste pr<strong>em</strong>aturo<br />

f- Pulpites<br />

g- Periodontite apical<br />

h- Disfunção da ATM<br />

i- Prótese <strong>de</strong>sconfortável<br />

j- Audição prejudicada<br />

k- Reabsorção radicular<br />

l- Mordidas nos lábios e bochecha<br />

m- Dor <strong>de</strong> garganta<br />

n- Dor referida<br />

Quadro II - efeitos dos microrganismos e das<br />

<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns oclusais sobre a população adulta<br />

Algumas das terminologias usadas<br />

ao longo da história por vários autores <strong>para</strong><br />

se referir<strong>em</strong> aos distúrbios funcionais do<br />

aparelho estomatognático são:<br />

• “Síndrome <strong>de</strong> Costen”, Costen, J. B.<br />

1934.<br />

• “Síndrome da Disfunção da<br />

Articulação T<strong>em</strong>poromandibular”,<br />

Shore N. A. 1959.<br />

• “Síndrome da Dor-Disfunção T<strong>em</strong>poro-Mandibular”,<br />

Schwartz, l. 1959.<br />

• “Síndrome da Disfunção com Dor”,<br />

Voss, R. 1964.<br />

• “Síndrome da Dor-Disfunção Mio-<br />

Fasial”, Laskin, O. M. 1969.<br />

• “Distúrbios Funcionais da Articulação<br />

T<strong>em</strong>poromandibular”, Ramfjord, S. P.,<br />

Ash, M. M. 1971.<br />

• “Distúrbios Ocluso-Mandibular”,<br />

Gerber, A. 1971.<br />

• “Mioartropatia da Articulação T<strong>em</strong>poro-Mandibular”,<br />

Graber, G. 1971.<br />

• “Desor<strong>de</strong>ns Craniomandibulares”,<br />

McNeill, C. 1980.<br />

• “Desor<strong>de</strong>ns T<strong>em</strong>poromandibulares”,<br />

Bell, W. Z. 1982.<br />

• “Desor<strong>de</strong>ns T<strong>em</strong>poromandibulares”,<br />

Laskin, d., ADA. 1983. Okeson, J. P.<br />

1992.<br />

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oclusão funcional. Traduzido por José dos<br />

Santos Jr. Guarulhos S. P: Parma, 1987. 276 p.<br />

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tratamento dos probl<strong>em</strong>as oclusais. 2 ed.<br />

Traduzido por Silas Cunha Ribeiro. São Paulo:<br />

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California: Denar Corp., 1977. 117 p.<br />

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MOHL, M . D. et. al. Fundamentos <strong>de</strong> oclusão.<br />

Traduzido por Milton Edson Miranda. São<br />

Paulo: Quintessence, 1989. 449 p.<br />

OKESON J. P. Fundamentos <strong>de</strong> <strong>Oclusão</strong> e<br />

<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns t<strong>em</strong>poromandibulares. 2. ed.<br />

Traduzido por Milton Edson Miranda. São<br />

Paulo: Artes Médicas, 1992. 449 p.<br />

PAIVA, H. J. et. al. <strong>Oclusão</strong>: Noções e<br />

conceitos básicos. São Paulo: Ed. Santos,<br />

1997. 336 p.<br />

RAMFJORD, S. P. & ASH, M. M. <strong>Oclusão</strong>. 3.<br />

edição, Trad. Dioracy Fonterrada Vieira. Rio<br />

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Tradução por Fernando Luiz Brunetti<br />

Montenegro. São Paulo: Editora Santos, 1993.<br />

191p.<br />

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SCHLUGER, S., YUODELIS, R. R., PAGE,<br />

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tratamento e inter-relação oclusais e restauradores.<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro: Interamericana, 1981.<br />

701 p.<br />

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