Programa do Festival de Mafra. - Sapo

Domingo, 2 de Outubro, 17h00
JOHANN SEBASTIAN BACH
Variações Goldberg, BWV 988
CHRISTIAN RIEGER, cravo
Concerto associado a uma visita ao
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Vértice da produção de tecla de Bach e resumo de toda a sua arte
como compositor, as Variações Goldberg fecham o ciclo das quatro
colecções dos “Clavier Übung” e podem ser vistas como ponto de
partida das grandes composições especulativas do final da sua vida:
a Oferenda Musical, as Variações Canónicas e A Arte da Fuga. Tal
como disse Alberto Basso, em livro dedicado ao compositor, estas
situam-se a meio caminho entre “ars” e “scientia”, entre a “musica
pratica” e a “musica theoretica”. Bach completou esta exploração
sistemática da escrita para teclado e iniciou o seu testamento
musical com estas obras, inteiramente centradas na ideia da
variação no seu sentido mais amplo, levando à completa exaustão as
possibilidades do tema, ao mesmo tempo que levava até às últimas
consequências a arte da escrita polifónica, em especial do cânone.
De facto, a variação é talvez o género que melhor se adapta ao seu
ideal intelectual e espiritual da unidade dentro da diversidade. Nos
seus dez últimos de vida, Bach parece ter-se aproximado mais do
que nunca dessa ideia da arte musical como ciência (recorde-se o
quadrivium medievo, onde a música surgia ao lado da aritmética,
geometria e astronomia), isolando-se numa espécie de torre de
marfim, preenchida com alusões cabalísticas, enigmas e números
secretos. Combinando o prazer lúdico com a lógica musical numa
grandiosa síntese, Bach reúne todas as possibilidades virtuosísticas
e contrapontísticas que oferece um cravo de dois teclados evocando,
de forma admirável, os principais géneros e estilos da música de
todo o período barroco, edificando uma das mais geniais obras
artísticas de todos os tempos.